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Uma nova maneira de fazer televisão: o caso do Canal 180

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Academic year: 2020

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Uma nova maneira de fazer televisão:

O caso do Canal180

Sof

ia Isabel Dias Alv

es

Uma no

va maneira de fazer tele

visão: O caso do Canal1

80

Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

Sofia Isabel Dias Alves

outubro de 2014

UMinho|20

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Trabalho realizado sob a orientação da

Professora Doutora Sandra Marinho

Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

Sofia Isabel Dias Alves

outubro de 2014

Relatório de Estágio

Mestrado em Ciências da Comunicação

Área de Especialidade em Audiovisual e Multimédia

Uma nova maneira de fazer televisão:

O caso do Canal180

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Agradecimentos

Antes de mais quero agradecer a todos aqueles que me acompanharam e ajudaram durante o meu percurso académico. Quero agradecer e dedicar este trabalho aos meus pais e à minha irmã por todo o apoio que me deram.

Quero também agradecer ao Canal180 e a toda a equipa pela oportunidade que me proporcionaram para ganhar experiência na área e por toda a ajuda que me deram durantes os três meses e mesmo depois enquanto preparava este relatório.

Por fim, quero agradecer à minha orientadora Sandra Marinho pelo esforço e dedicação que demonstrou, seguindo, auxiliando e corrigindo todas as fases deste relatório.

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“Uma nova maneira de fazer televisão:

O caso do Canal180”

Resumo

O presente Relatório de Estágio é baseado na minha experiência de estágio de três meses no Canal180. Um canal totalmente diferente dos restantes canais de televisão portugueses, um canal inteiramente dedicado às artes e à criatividade e um canal em que qualquer pessoa pode participar (open source).

Durante os três meses em que estive no Canal180, tive a oportunidade de passar pelas diferentes áreas e de fazer um pouco de tudo. As minhas tarefas passaram pela procura de novos conteúdos para televisão e para a página de facebook do canal, bem como pela produção multimédia, pela edição de peças televisivas para o programa MAG, um magazine cultural diário. Com esta experiência apercebi-me que a televisão está a mudar, principalmente depois de entrarmos na chamada “era digital”. Com esta alteração tecnológica a televisão passa a estar

também nos nossos telemóveis, computadores e tablets. Para se conseguir atrair um maior

número de pessoas nestas diferentes plataformas é preciso repensar os conteúdos e a forma como os transmitimos. Esta grande diversidade de meios de comunicação permite que haja uma maior especialização da mensagem para cada segmento da audiência, portanto “devido à diversidade dos media e à possibilidade de visar um público-alvo, podemos afirmar que no novo sistema dos media, a mensagem é o meio. Quer dizer, as características da mensagem hão-de moldar as características do meio” (Castells,2003:447).

Este relatório foca-se na forma inovadora de fazer televisão do Canal180, principalmente

pelo facto de este ser um canal open source, e de funcionar através de parcerias com sites

(Archdaily, Pitchfork, Cranetv, Guestalten, Fubiz entre outros) e com criadores (Boris Hoppek, David Wilson, Vincent Moon, Bret Novak, Hiro Murai, Mac de Marco entre muitos outros). Para além de que é um canal low cost que funciona com apenas duas câmaras DSLR e o software de emissão é o mais barato a nível nacional.

Todos os trabalhos desenvolvidos durante o período de estágio serão apresentados neste relatório, bem como uma pesquisa mais profunda sobre as mudanças que a “caixa mágica” tem sofrido nos últimos tempos, com o aparecimento das novas tecnologias que vão alterando a

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“A new way of making Television:

The case of Canal180”

Abstract

The present internship report is based on my experience of three month in Canal180. A totally different channel from the others Portuguese television channels, a channel entirely devoted to the arts and creativity and a channel in which anyone can participate (open source).

During the three months that I was in Canal180, I had the opportunity to go through the different areas and to do a bit of everything. My duties were to look for new content for television and for the facebook page of the channel, as well as some multimedia production, editing television pieces for the “MAG” program, a daily cultural magazine. With this experience I realized that television is changing, especially after we entered the so-called “digital era”. In the digital era, television starts to be in our cell phones, computers and tablets. To be able to attract a greater number of people in these different platforms is necessary to rethink the content and the way we transmit it. This great diversity of media allows for greater specialization of the message for each audience segment, so “due to the diversity of the media and the possibility of targeting an audience, we can say that in the new media system, the message is the medium. Which means, the characteristics of the message will shape the characteristics of the environment” (Castells, 2003: 447).

This report focuses on the innovative way of making television of the Canal180, mainly because this is an open source channel, and because it works through partnerships with websites (Archdaily, Pitchfork, Cranetv, Guestalten, Fubiz entre outrso) and creators (Boris Hoppek, David Wilson, Vincent Moon, Bret Novak, Hiro Murai, Mac de Marco entre muitos outros). Apart from that this is a “low cost” channel that works with only two DSLR cameras and the software of emission is the cheapest nationwide.

All works developed during the internship period will be presented in this report, as well as a deeper study of the changes that the “magic box” has endured in recent times, with the appearance of new technologies that will change the audiovisual language.

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Índice

Introdução ... 10 1. O Canal180 ... 13 1.1 A empresa ... 13 1.2 O Canal180 ... 13 1.3 Missão e Público-alvo ... 15

1.4 Operação tecnológica e modelo de negócio ... 16

1.5 Programação e conteúdos ... 16 1.6 Parcerias e colaborações ... 18 1.7 Prémios obtidos ... 19 2. A experiência de estágio ... 21 2.1 Realização e filmagens ... 22 2.2 Produção ... 22 2.3 Pós-Produção ... 23 2.4 Escolha de conteúdos ... 24 2.5 Traduções e legendagem ... 24

2.6 Entrevistas e voz off ... 24

2.7 Avaliação/Reflexão da experiência de estágio ... 25

3. A televisão generalista e a televisão segmentada ... 27

3.1 Um breve enquadramento da história da televisão ... 27

3.2 Interatividade e participação das audiências na televisão ... 31

3.2.1 Problemas da televisão generalista... 31

3.2.2 A Internet, o digital e a difusão de conteúdos televisivos ... 35

3.2.3 A interatividade na televisão tradicional e generalista ... 38

3.2.4 O aparecimento do Canal180 ... 40

3.3 Interdisciplinaridade e transversalidade dos profissionais de comunicação ... 47

3.4 Internet como difusora dos conteúdos 180 ... 51

4. Considerações sobre as entrevistas e sobre a programação dos canais generalistas e do 180…. ... 53

4.1 Metodologia ... 53

4.2 Considerações sobre as entrevistas ... 53

4.3 Considerações sobre a programação cultural ... 54

5. Considerações finais ... 57

6. Referências Bibliográficas ... 60

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7.1 Guião das entrevistas ... 64

7.1.1 Guião da entrevista a João Vasconcelos (Diretor executivo do Canal180) ... 64

7.1.2 Guião da entrevista com Nuno Alves (Diretor de programação) ... 64

7.1.3 Guião da entrevista a Rita Moreira (Coordenadora editorial) ... 64

7.2 Links para alguns dos trabalhos produzidos durante o estágio ... 65

7.2.1 Peças criadas para o MAG ... 65

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Índice de Tabelas

Tabela 1 Uso da interatividade na televisão portuguesa em 2004 ... 39 Tabela 2 Salas de espetáculo em Portugal ... 41 Tabela 3 Espetáculos ao vivo em Portugal ... 42

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Índice de Figuras

Figura 1 Logo empresa ... 13

Figura 2 Logo Canal180 ... 13

Figura 4 Página do facebook do Canal180 ... 14

Figura 3 Página do Youtube do Canal180 ... 14

Figura 5 Website Canal180 ... 14

Figura 6 Oferta Nacional VS Oferta Internacional ... 15

Figura 7 Design Tecnológico ... 16

Figura 8 Grelha de programas ... 18

Figura 9 Parcerias e colaborações ... 19

Figura 10 Prémio atribuído ao canal pelo seu design inovador ... 20

Figura 11 Prémio que permitiu a criação do canal ... 20

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Introdução

Como todos já nos apercebemos, a televisão ou como muitos ainda lhe chamam a “caixa mágica”, está a mudar. Quando apareceu, a televisão provocou uma alteração na sociedade, pois veio alterar a forma como se comunicava e veio juntar a imagem, ao som e à escrita. Esta assumiu o papel de mais importante meio de comunicação, e tinha como funções informar, entreter, publicitar e educar toda a sociedade, “todos os processos que se pretendem comunicar à sociedade em geral, da política aos negócios, do desporto à arte. A televisão modela a linguagem da comunicação em sociedade” (Castells,2002:442). Apesar de se ter tornado mais comercial e de o número de canais ter aumentado muito, a informação que cada canal oferece não difere muito. Para além disto os interesses da audiência são postos de lado, visto que existe muito pouca participação da mesma. Isto deixa transparecer que a televisão, mesmo tendo avançado na técnica e na quantidade de pessoas que atinge, estagnou no que respeita à criatividade, todos estão a fazer o mesmo (Jeanneney,1996:25).

Consequência deste estagnamento da televisão, ou como forma de chegar individualmente a cada pessoa, entramos na era digital: o aparecimento dos computadores e internet. Assim, como refere Jenkins (cit. por Macnamara,2010: 25) “as indústrias dos média estão a passar por outra mudança de paradigma”.

Com a introdução da era digital, a chegada do computador e da internet, entramos num período de mudança revolucionária nas tecnologias de comunicação o que provocou uma mudança na perspetiva e compreensão humana e, em consequência, nos meios de comunicação de massas. Isto porque o computador fez evoluir todos os processos de comunicação humana e tornou mais fácil a transmissão de conteúdos.

Para além do aumento de plataformas de transmissão de conteúdos (computador, smartphone e tablet) verificamos também um aumento no que respeita a atividades e oferta cultural. Todos os dias estreiam novas peças de teatro, novos filmes, novas exposições e novos concertos, mesmo a nível nacional. Isto, juntamente com o facto de haver pouca oferta televisiva no que respeita à oferta cultural, justificou o aparecimento do Canal180, o primeiro canal português deste género.

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Com o aparecimento deste projeto, surgiu no mercado português uma nova maneira de

fazer televisão. Como já referi este é um canal open source, em que qualquer pessoa pode

participar e em que grande parte dos programas resulta de parcerias com outras televisões ou sites. São poucos os programas originais, e os que existem têm normalmente a participação do público. Mesmo tendo poucos recursos, o facto de os conteúdos serem estritamente culturais e a existência de participação por parte da audiência, tornam este canal bastante apelativo ao público, principalmente o jovem. Todos os programas e vídeos são pensados ao pormenor e depois publicados nas redes sociais do canal (onde têm maior visibilidade).

Este relatório é, então, baseado na minha experiência de três meses no Canal180. O Canal180, é o primeiro canal português dedicado à cultura, criatividade e artes. Foi criado pela empresa OSTV (Open source television) e tem já uma rede de colaboradores nacionais e

internacionais que vão desde empresas, sites e televisões (Archdaily, Pitchfork, Cranetv,

Guestalten, Fubiz entre outros) e ainda criadores (Boris Hoppek, David Wilson, Vincent Moon, Bret Novak, Hiro Murai, Mac de Marco entre muitos outros). São estas colaborações, mais a participação do público, que fazem com que seja possível a existência deste canal.

A fundamentação deste relatório é feita, principalmente, através da experiência e do conhecimento adquirido durante os três meses (Janeiro a Abril de 2014). No entanto, torna-se crucial que esta experiência seja suportada por conceitos teóricos e por autores relevantes da área. É ainda importante para este trabalho perceber com funciona a empresa e como decorreu a experiência de estágio, pois só assim poderei estabelecer a relação entre as tarefas desenvolvidas e a fundamentação teórica.

Com este estágio apercebi-me que a televisão está a mudar, e que cada vez vai mudar mais. Daí surge a questão que vou aprofundar: Por que é que um canal de televisão deve apostar na internet como principal meio para a difusão dos seus conteúdos?

Este relatório começa com a apresentação da empresa e com uma breve reflexão sobre o que aconteceu durantes os três meses de estágio na mesma. Depois, achei relevante fazer um breve enquadramento teórico no que respeita a história da televisão no mundo e, particularmente, em Portugal.

Para a total compreensão do Canal180 e as diferenças em relação aos canais generalistas o capítulo teórico, baseado nas opiniões de diferentes autores da área, fala do aumento da

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interatividade e da participação das audiências, da interdisciplinaridade e transversalidade dos profissionais de comunicação e ainda da utilização da internet como principal difusora de conteúdos 180. Temas que despertaram a minha atenção devido à experiência do estágio.

O último capítulo aborda a metodologia utilizada (entrevistas a elementos do Canal180), bem como breves considerações sobre a programação 180 e a programação cultural dos canais generalistas portugueses (RTP, SIC, TVI).

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1. O Canal180

No capítulo introdutório deste relatório vou fazer uma apresentação da empresa, o Canal180. Vou falar de todas as opções que foram tomadas para criar o primeiro canal cultural em Portugal: qual a missão e o público-alvo, qual a opção tecnológica, a programação e os conteúdos, as parcerias e os prémios que obtiveram até agora. Toda a informação apresentada neste capítulo

surge da minha experiência de estágio, de informações retiradas do site da empresa, mas

principalmente de entrevistas que realizei a três elementos do canal: o diretor executivo, a coordenadora editorial e o diretor de programação.

1.1 A empresa

O Canal180 é parte integrante da empresa OSTV (Open Source Television), uma sociedade criada em Janeiro de 2010, que tem como principal objetivo o exercício da atividade televisiva, a produção de conteúdos audiovisuais e multimédia e ainda a prestação de serviços de auditoria.

A empresa está dividida em três áreas: marketing e vendas, operações e conteúdos. O fundador e diretor executivo da OSTV é João Vasconcelos que é responsável pelo departamento de marketing e vendas, que trata das relações internacionais, da gestão da marca e inovação. Nuno Alves, diretor de programação, trata das operações, departamento responsável pelo planeamento, transmissão, produção executiva e

desenvolvimento tecnológico. Os conteúdos ficam a cargo de Rita Moreira, que é ainda editora do programa MAG, que se encarrega de desenvolver a oferta e abordagem criativa do canal, bem como a realização e a publicação.

1.2 O Canal180

O Canal180 é o primeiro canal português dedicado às artes e à criatividade, com uma programação inteiramente cultural. Para além disto, o Canal180 reclama também o título de ser o primeiro canal de televisão do mundo open source (qualquer pessoa pode participar na programação). O canal, que ocupa a posição 180 da NOS (daí ter surgido o nome), conta com emissões regulares desde

Figura 2 Logo Canal180 Figura 1 Logo empresa

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25 de Abril de 2011 e pode ainda ser acompanhado através de outras plataformas digitais:

 Website: http://canal180.pt/

 Youtube: https://www.youtube.com/user/canal180

 Facebook: https://www.facebook.com/canal180

 Aplicação para mobile (smartphone e tablets)

A OSTV lançou este canal devido ao generoso aumento de produção cultural que se tem verificado nos últimos anos. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Ministério da Cultura, os espetáculos de dança duplicaram, os de teatro triplicaram e as salas de espetáculo do país cresceram 300%. No entanto, os meios de comunicação tradicionais não foram capazes de acompanhar este crescimento.

Figura 3 Página do facebook do Canal180 Figura 4 Página do Youtube do Canal180

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Este canal tenta mudar a forma como se vê e como se faz televisão nos dias de hoje, e a principal preocupação é a de proporcionar ao espectador uma nova experiência televisiva, bem como a difusão e promoção do talento e criatividade.

1.3 Missão e Público-alvo

O Canal180 tem como missão oferecer uma alternativa televisiva a quem procura novos conteúdos audiovisuais, num contexto cultural que está cada vez mais fragmentado. O canal pretende orientar os jovens e jovens-adultos para uma vida mais ligada à cultura, promovendo gostos que não se prendam apenas com a música, mas que abranjam também o cinema, o teatro, a dança, a pintura, entre outras temáticas com menor projeção. Outro objetivo deste projeto é descobrir e incentivar uma nova geração de talentos, promovendo estas atividades mais criativas e culturais como fator de competitividade e de criação de valor não só social como económico.

Sendo um canal especializado em cultura não consegue atingir todas as faixas etárias. O público-alvo do canal180, segundo o diretor executivo, é: os jovens adultos, informados e qualificados, culturalmente ativos e audiências com consumo elevado e fragmentado de conteúdos em todos os suportes digitais.

Figura 6 Oferta Nacional VS Oferta Internacional Fonte: OSTV

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1.4 Operação tecnológica e modelo de negócio

A operação tecnológica do Canal está pensada como resposta ao desafio de tornar as plataformas mais permeáveis e horizontais, de uma forma organizada e relevante. O que significa criar um produto editorial com mais capacidade de inovação e originalidade e que consiga sobreviver em diversas plataformas de comunicação integrada. Este é o tipo de competitividade de que os novos

media precisam para arrecadar novas audiências. Por isto, os conteúdos são produzidos ou escolhidos tendo em atenção a sua capacidade de se sustentarem em televisão, mas de igual forma nas redes socias e nas aplicações para Ipad e Iphone.

Baseado num modelo de negócio low cost, o Canal180 funciona num pequeno escritório, com alguns computadores para edição e um para transmissão. Existem duas câmaras DSLR e uma de qualidade 4k (adquirida enquanto eu estava em estágio). Não há estúdios nem régies. Não há apresentadores, só voz off. A equipa é pequena, mesmo contando com os estagiários. Ainda assim conseguem fazer uma emissão de 24h.

O software de emissão foi criado exclusivamente para o Canal, pelo Nuno Alves (atual diretor de programação), e é a nível nacional a emissão televisiva mais barata.

1.5 Programação e conteúdos

Quando foi lançado, a 25 de Abril de 2011, o Canal180 apenas tinha emissão seis horas por dia, das 20h às 02h, isto porque pretendia-se atingir o público mais jovem. No entanto, passados seis meses, a emissão passou a ser das 8h00 às 02h00. Neste momento, o Canal180 já transmite 24 horas por dia.

No início, da programação destacava-se o MAG (magazine180), depois começou-se a apostar em documentários, minidocs, programas inteiramente dedicados a música e parcerias com criadores.

Os conteúdos do Canal180 privilegiam os movimentos culturais nacionais e internacionais, o que envolve vários tipos de programas e documentários sobre: música, dança, teatro, artes visuais e urbanas. Neste momento, na sua grelha televisiva apresenta programas originais como:

Figura 7 Design Tecnológico Fonte: OSTV

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 MAG (magazine180) – é um programa diário que funciona como um magazine

cultural. Dá a conhecer tudo o que se passa a nível nacional e internacional relacionado com a cultura, vai da música ao cinema passando por exposições e instalações artísticas. O material utilizado nas peças de magazine vem de diversas fontes, como por exemplo dos próprios artistas;

 I Like – este programa foi criado para mostrar os trabalhos que inspiram os Like

Architects, um grupo de arquitetos do Porto que tem intervenções artísticas em vários países. Através de uma parceria com o ArchDaily, este programa passou no Brasil e nos Estados Unidos;

 Minidoc/ID – Documentários de curta duração que dão a conhecer artistas de

diferentes áreas;

 180 segundos – Têm a mesma função dos minidoc, mas duram apenas 180

segundos;

 No enemies de Boris Hoppek- uma série criada durante o Creative Camp 2013.

Podemos seguir os passos deste artista durante a semana que passou na cidade de Abrantes e ver as reações dos munícipes às suas intervenções artísticas;

 Oliva sessions - Uma série de concertos secretos que aconteceram na renovada

fábrica Oliva, em Santa Maria da Feira; Conta ainda com:

 Trip – Um programa sobre viagens criado pelo Canal180, mas cujo conteúdo

provém de colaborações internacionais. Qualquer pessoa pode enviar conteúdos sobre as suas viagens;

 Bodyspace – Produzido pelo 180 em parceria com o site português Bodyspace.

É dedicado à música independente;

 Banda do Dia – Um programa diário que apresenta uma banda. Para além dos

vídeos musicais, o programa contém entrevista e concertos da banda; A programação inclui então programas de outros criadores, nacionais e internacionais, como:

 Petites Planètes, um exclusivo do realizador francês Vincent Moon para o Canal

180. Uma série de documentários que apresentam as diferentes musicalidades que este jovem realizador vai encontrando nos quatro cantos do mundo;

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 The Avant Garde diaries – É uma série sobre o talento que existe no mundo.

Jovens realizadores procuram as melhores histórias sobre arte, ciência, desporto e cozinha;

 Gestalten tv – Uma parceria com o site alemão Gestalten. Pequenos episódios

sobre artistas inovadores e líderes culturais que se atrevem a mudar a paisagem artística dos dias de hoje;

 The wild honey pie - Uma parceria com o site com o mesmo nome. Cada episódio

é um espetáculo ao vivo de uma banda.

Estes são apenas alguns dos programas que o Canal180 apresenta, principalmente devido às parcerias que conseguiu até agora.

1.6 Parcerias e colaborações

A produção de conteúdos não é prioritária para o Canal, mas antes a modelação e a reconstrução dos mesmos através do material em bruto enviado para a equipa, e as parcerias que vai estabelecendo com sites e com artistas.

Durante os três anos de existência, o Canal180 já criou diversas parcerias, quer a nível comercial como institucional.

A nível comercial podemos distinguir as parcerias com instituições e marcas. Das instituições distinguem-se as parcerias com Serralves, a Fundação Gulbenkian, Casa da Música, Centro Cultural Vila Flor, Bienal de Cerveira, Teatro Nacional de São João e Fundação Cidade de Guimarães (no âmbito de Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012). Para estas instituições o

Figura 8 Grelha de programas Fonte: Site Canal180

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Canal180 faz vídeos promocionais que serão utilizados pelas mesmas. A nível das marcas o Canal180 tem parcerias com a Optimus (agora NOS), o IKEA, a Redbull, o McDonalds entre outros.

As parcerias institucionais têm resultado em programas de estágio, através da Universidade do Minho, Universidade do Porto, Universidade Católica Portuguesa entre outras. Para além disto o Canal180 tem estabelecido parcerias com outros sites e empresas, o que traz novos conteúdos para a programação do Canal. Parcerias com os Like Architects, que resultou no programa I LIKE, com o site Bodyspace, com a Música Portuguesa a Gostar dela própria e mais recentemente com sites internacionais como CraneTV, GestaltenTV, Petite Planéte, Focus Forward entre muitas outros. É preciso ainda falar das parcerias criadas com os próprios artistas e criadores, que resultam, por exemplo, em programas como 180 segundos ou MiniDoc. Entre os criadores destacam-se: David Wilson, Vincent Moon, El Guincho, Boris Hoppek, Brett Novak, Hiro Murai, Mac De Marco, Ana Aragão, Sam the Kid entre muitos outros.

Figura 9 Parcerias e colaborações Fonte: Site Canal180

Todas estas parcerias são fundamentais para a produção de conteúdos para o MAG e mesmo para o funcionamento do Canal180. Sendo um canal open source funciona muito com materiais não próprios.

1.7 Prémios obtidos

O Canal180 recebeu, em 2010, o prémio Nacional Indústrias Criativas Unicer/ Serralves 2010. Foi este prémio que tornou possível a existência do Canal. Mais recentemente, em 2012, foi distinguido com um leão de Bronze no festival de Cannes, na categoria de Design, um reconhecimento da sua identidade gráfica.

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Figura 10 Prémio atribuído ao canal pelo seu design inovador

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2. A experiência de estágio

Antes de falar da experiência de trabalhar numa televisão durante três meses, é importante dizer que fiquei bastante surpreendida com os escritórios do Canal180. Em nada se comparavam com os escritórios de uma televisão: não havia um único estúdio de gravação, tinham apenas 10 pessoas a trabalhar e todo o material parecia bastante simples. Apesar de eu saber que não gravavam nenhum programa televisivo, nem um estúdio para gravação de voz off tinham. No início achei que teriam uma outra sala, mas rapidamente me apercebi que não, que tudo o que eles produziam era trabalhado naquele pequeno escritório.

Logo aí percebi que havia uma nova maneira de fazer televisão. Já nem um estúdio é preciso, basta uma ideia, uma câmara, uma equipa de três elementos e um computador com um programa de edição. Claro que isto é possível apenas para canais mais especializados, ou para canais regionais. Nos canais generalistas o caso muda totalmente de figura com a existência de grandes estúdios e de material profissional.

Durante os três meses (Janeiro a Abril) que estagiei no Canal180, as tarefas desenvolvidas foram muitas e diversificadas. Apesar de a equipa fixa não ter mais que 10 elementos, no período em que lá estive chegaram bastantes estagiários da mesma área que eu, o que fez com que o trabalho fosse mais dividido, e permitiu passar pelas diferentes áreas do canal. Ainda assim, foi-me dada total independência e responsabilidade nas tarefas que realizei, apesar de contar sempre com o apoio e orientação de qualquer membro da equipa.

Outra coisa de que me apercebi durante este estágio, e que me parece fundamental, é a transversalidade dos profissionais de comunicação. Hoje em dia, um operador de câmara já não sabe fazer só isso: ele realiza, ele filma, ele edita. Um jornalista não faz apenas as perguntas, é também capaz de editar e filmar uma peça televisiva. Para além de muitas outras áreas a que nós, profissionais de comunicação, nos temos de adaptar. Foi o que me aconteceu durante este estágio.

Enquanto estagiária de audiovisual e multimédia, as minhas funções incluíam: produção, pós-produção (edição), escolha de conteúdos, traduções e legendagem. Para além disto também tive a oportunidade de fazer algumas entrevistas.

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Como já disse, durante o estágio foi-me possível trabalhar nas diferentes correntes audiovisuais (guionismo, produção, realização e produção), dando especial atenção à pós-produção, ou seja, a edição de imagens para criação de um vídeo.

2.1 Realização e filmagens

A realização ficava a cargo dos membros da equipa, no entanto tive a oportunidade de fazer algumas filmagens para algumas peças de magazine. Antes disso, foi-nos dado um pequeno workshop sobre a maneira, muito específica, como o Canal180 faz as filmagens. Joana Domingues, um dos membros mais antigos da equipa, mostrou-nos como trabalhar com a câmara

e como filmar uma exposição, um concerto ou uma entrevista. Este pequeno workshop foi

fundamental para percebermos como filmar em situações mais específicas e em cenários diversos. Eu não tinha noção de como filmar com diferentes tipos de luz e por isso ajudou-me bastante. No entanto, poucas foram as oportunidades que tive para filmar, pois eram muitos os estagiários nessa área.

Ainda assim, participei nas filmagens da exposição “ Mira Schendel” em Serralves, que abriu a 1 de Março, na peça de rua sobre downhill, e tirei algumas imagens da cidade do porto.

2.2 Produção

Relativamente à corrente audiovisual da produção, foi-me dada a oportunidade de fazer parte da equipa de produção do vídeo de apresentação do festival Optimus Primavera Sound 2014. As filmagens foram feitas no Palacete Pinto Leite, no Porto, e demoraram duas noites, 6 e 7 de Fevereiro. Eu fiz parte da equipa dos cenários, a minha função era preparar e arranjar tudo o que era necessário antes da filmagem da cena seguinte e arrumar o que já não era preciso.

Participei também na produção da festa de aniversário de três anos do canal180, em que fiquei encarregue de uma das salas da festa: a sala das fotografias. Eu e três colegas decorámos a sala com o logotipo do Canal, para servir de photoboot, ou seja, os convidados iam lá para tirarem uma foto.

Gostei bastante desta área do audiovisual, pois tive a oportunidade de participar em dois eventos totalmente distintos. Foram muitas horas a trabalhar para que tudo corresse bem, mas foi bastante gratificante ver o trabalho final.

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2.3 Pós-Produção

A corrente audiovisual em que mais incidiu o meu estágio foi a da pós-produção, ou seja, o tratamento das imagens e vídeos. Esta é também a mais importante área de trabalho no Canal180, pois sendo um canal open source, os vídeos são enviados para a equipa e é necessário tratá-los e editá-los de modo a poderem ser colocados na emissão.

Durante o estágio curricular fiz a edição de algumas peças de magazine, bem como de algumas promos para novos programas ou filmes que iriam passar no canal. Das peças para o Magazine180 que editei destaco a peça sobre a Bienal Ilustrarte 2014 (enviaram-me os vídeos em bruto e eu editei) e Pinturas Intermitentes de Rita Melo (foi uma equipa filmar à galeria e depois eu editei). Depois fiz também a edição da promo de um novo programa, “ArchDaily”, e de uma série de filmes que ia passar no canal, a série Vende-se Filmes que era composta por três filmes: “Bué Sabi”, “Orquestra geração” e “Li Ke Terra”.

Ao editar as peças é preciso ter em atenção o volume do som, pois o Canal180 tem o som a um nível superior, em relação aos restantes canais portugueses. É importante que todas as peças estejam iguais a nível sonoro, quer na música quer na voz off. A música também é uma parte importante da edição, é fundamental escolher uma música que se enquadre com o tema e o ritmo da peça.

Senti algumas dificuldades na edição, pois o Canal180 tem também uma forma bastante específica de editar as suas peças. No entanto tive sempre a ajuda dos membros da equipa que me iam dando dicas sobre o que alterar e como tornar a peça mais apelativa. Fui para este estágio com pouca experiência em edição e saí de lá muito mais segura nesta área. Em relação ao som também tive algumas dificuldades, pois é bastante complicado conciliar o som do voz off com o das entrevistas e com a música, que é fundamental para o sucesso da peça.

Dentro da pós-produção estão também os grafismos. Depois de a peça estar editada é preciso colocar os grafismos, que tinham o nome da peça, e outras informações relevantes como: o autor, a cidade, o porquê e o interesse. Na altura do meu estágio o Canal180 estava a mudar todos os grafismos. Como estavam a ser alterados os grafismos, havia muitas peças que precisavam de ser alteradas e por isso todos os estagiários tiveram de aprender a colocá-los. Tive

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a oportunidade de aprender a colocar esses novos grafismos, e por isso de trabalhar um pouco mais na área da multimédia.

2.4 Escolha de conteúdos

Para além da parte audiovisual o meu estágio passou também pela escolha de conteúdos para programas que iriam passar no Canal. Dentro das parcerias que o canal tinha com diferentes sites, eu tive de escolher os episódios que mais interesse tinham para o público 180. Escolhi episódios de “Música Portuguesa a gostar dela própria”, “Cranetv”, “Gestaltentv”, “The Wild Honey Pie” e “Bodyspace”. Este tipo de programas constitui a maioria da programação do canal.

Gostei bastante desta escolha de conteúdos, pois são séries com bastante interesse a nível cultural,artístico e musical. Esta escolha passava por visualizar os episódios (a maioria tinha apenas três minutos) e escolher aqueles que mais se enquadravam com a programação do canal e com o que eu achava que mais ia interessar ao público-alvo do canal.

2.5 Traduções e legendagem

Uma parte importante do canal são as traduções e legendagens dos episódios. Foi-me pedido que traduzisse e legendasse alguns episódios das séries estrangeiras (a maioria em inglês e algumas em espanhol), para poderem ser colocadas em emissão. Para a legendagem tive de aprender a trabalhar com um programa específico.

Fiquei ainda responsável por traduzir um programa produzido pelo Canal: o “I like” um programa sobre arquitetura. Os episódios tinham uma voz off em português, mas como o site internacional ArchDaily fez uma parceria com o canal, foi necessário fazer a legendagem para inglês.

Este tipo de trabalho acabou por se tornar um pouco aborrecido e demorado. Apesar de os episódios não serem grandes, foi preciso traduzir uma grande quantidade de episódios. É um trabalho pouco apelativo, mas que tem muita importância para a programação.

2.6 Entrevistas e voz off

Durante os três meses tive ainda a oportunidade de fazer algumas entrevistas para peças de magazine. Entrevistei o skater de downhill Nuno Pereira, para a peça Downhill Skate Vila Nova De Gaia. Para além disto gravei a voz off de algumas promos de programas e de alguns projetos comerciais do canal.

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O meu estágio era em audiovisual e multimédia, no entanto, também gostei de entrar na parte jornalística do canal, que não é muita.

Foi também muito interessante gravar a voz off de algumas promos e de outros projetos comerciais do canal. Tive a oportunidade de aprender a trabalhar melhor com a voz e a gravar para diferentes tipos de projetos. É diferente a maneira como se grava um anúncio comercial da maneira como se faz a promo de um programa de televisão.

Gravei o anúncio de uma empresa de desportos radicais, que passou na Sic Notícias, Sic Mulher e Sic Radical, e gravei as promos de programas como: Trips e Bodyspace. Nesta área tive sempre o acompanhamento da Rita Moreira, que é a voz do canal.

2.7 Avaliação/Reflexão da experiência de estágio

Devo dizer que considero esta experiência de estágio bastante positiva e enriquecedora quer a nível profissional quer a nível pessoal. Como a estrutura da empresa é pequena, foi-me possível dar ideias, opiniões e sugestões que foram tomadas em consideração. Tive a oportunidade, como já referi, de passar e de aprender diversas áreas da comunicação, o que me fez perceber que um profissional desta área tem de ser polivalente e versátil.

Apesar de ter sempre alguém disponível para orientar, foi-me dada total liberdade e responsabilidade em determinadas tarefas, o que tornou o trabalho mais cativante e desafiador, pois se nós não fizermos determinadas tarefas, mais ninguém as fará. Acabamos por sentir que o nosso trabalho tem valor para a empresa.

Toda a equipa da OSTV, bem como todos os estagiários que por lá foram passando, são enriquecedores por si só. São pessoas jovens de diferentes áreas e culturas, o que torna o ambiente da empresa muito acolhedor e, por isso, é bastante fácil trabalhar na empresa.

Durante os três meses foram surgindo várias dúvidas e problemas que tive que resolver rapidamente, o que me obrigou a ser criativa e a ter de pensar. No entanto todos os membros da equipa estão disponíveis para ajudar, ficamos totalmente à vontade para fazer perguntas.

Apesar de eu achar que os restantes estagiários foram fundamentais para o enriquecimento desta experiência, acho que o canal devia restringir um pouco mais o número de estagiários que tem em cada período de tempo. Quando eu lá cheguei não havia mais estagiários,

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mas foram chegando quase todas as semanas. Nos últimos tempos em que lá estive era quase impossível encontrar uma secretária para nos sentarmos.

Como já referi, fiquei muito surpreendida ao chegar aos escritórios do 180 e ao aperceber-me da diferente forma como faziam um canal de televisão: com tão pouco do que estamos habituados. Foi daí, acompanhada de toda a experiência durante os três meses, que me surgiu o tema a aprofundar. Na parte teórica deste relatório, vou tentar perceber quais as diferenças do canal180 em relação aos canais tradicionais, as consequências de se optar pelo open source em televisão e ainda o porquê se utilizar a internet como o principal meio para a difusão de conteúdos. No último capítulo vou fazer um resumo das entrevistas que realizei a três membros do Canal180 e vou ainda fazer umas considerações acerca da programação cultural dos canais generalistas em Portugal.

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3. A televisão generalista e a televisão segmentada

Com este capítulo pretendo fazer um breve enquadramento da história da televisão. Desde as primeiras tentativas de Alexander Bain, até aos dias de hoje com a televisão digital e interativa. Vou falar também da entrada na era digital e consequente aparecimento da internet.

3.1 Um breve enquadramento da história da televisão

Apesar de a “caixa mágica” só surgir como agora a conhecemos nos anos 30, desde o século XIX que os homens sonhavam em transmitir imagens à distância. Primeiro o objetivo era enviar imagens fixas, o que conseguiu Alexander Bain, em 1842, ao executar um projeto de envio telegráfico de uma imagem.

Segundo Jean-Noel Jeanneney (1996:24) “a televisão nasce das descobertas da fotoeletricidade, isto é a capacidade que determinados corpos possuem para transformar uma radiação de eletrões de energia elétrica em energia luminosa”. No ano de 1920, John Logie Baird empregou os diversos princípios já desenvolvidos para esse tipo de tecnologia e montou um dos primeiros modelos de televisão de que se tem notícia. Apesar de outras tentativas, este foi o primeiro estudioso que conseguiu melhorar muito a nitidez da imagem e do som. A partir deste momento a televisão foi sendo aprimorada até ter maior viabilidade comercia (Jeanneney,1996).

Durante o período pré 2ª Grande Guerra, quatro países são responsáveis pelo maior número de experiências relativas à televisão: a Grã-Bretanha, os Estados Unidos, a França e a Alemanha. A Grã-Bretanha lança, a 2 de Novembro de 1936, através da BBC, as primeiras emissões públicas. Mais tarde, em1939, são realizadas as primeiras reportagens no exterior. Nos Estados-Unidos quem domina é o sector privado. A primeira firma a produzir um televisor a escala industrial é a RCA, que em 1931 instala um emissor no topo do Empire State Building. Em França, dois engenheiros são fundamentais para os avanços tecnológicos da televisão: René Barthélemy e Henri de France, este último inventor da televisão a cores, versão francesa. Em 1932, Barthélemy lança um programa experimental, o primeiro a ser emitido uma hora por semana (Jeanneney,1996). Na Alemanha, o principal acontecimento televisivo acontece em 1936, com a transmissão dos Jogos Olímpicos de Berlim para seis cidades alemãs. Segundo Jean-Noel Jeanneney (1996:57), “os jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, constituem o momento fundador,

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o acontecimento que vem cristalizar aos olhos do público a aparição do novo meio de comunicação social”.

Apesar de todos estes avanços, o aparecimento da 2ª Guerra mundial congela todas as experiências e é necessário esperar pelo pós guerra para que a televisão tenha um novo começo. “É um facto que a televisão tenha nascido primeiro como uma espécie de apêndice insignificante da rádio. Exatamente no momento em que, crescendo rapidamente, perturbou o equilíbrio, a influência, a glória e as paixões” (Jeanneney,1996:45).

Após 1945, com o fim da guerra, é que se dá o verdadeiro começo da televisão. Apesar de começar do zero, rapidamente a televisão “retomaria a dinâmica abandonada há sete anos atrás” (Cádima,1996:24).

Os Estados-Unidos, muito menos enfraquecidos, conseguem avanços notáveis: “Em 1948, dá-se a grande “explosão” popular da televisão: em Janeiro de 1950 existem já 97 estações de televisão em 36 cidades…” (Cádima,1996:40), para além da cor que surge em 1953, quando o número de estações atingia os 200. Foi também aqui que mais cresceu o mercado publicitário. Contrariamente, na Europa, as coisas não avançaram tão rapidamente.

No entanto, na década de 50, verificou-se o aparecimento dos canais nacionais de televisão, por toda a Europa. Os anos 60 vieram intensificar a ideia de que o mundo era uma comunidade planetária, que se veio a concretizar com a chamada “mundovisão”: uma ligação em direto entre os Estados-Unidos e a Europa. Em 69, aconteceu a a emissão televisiva do século: os primeiros passos do homem na lua, em direto (Cádima,1996).

Em Portugal tudo aconteceu muito mais lentamente. A televisão portuguesa, RTP (canal estatal) surge em 1957 com emissões regulares, 30 anos depois das emissões regulares em Inglaterra. Estando Portugal num período de ditadura, imposta pelo Estado Novo, a televisão portuguesa tinha regras diferentes das restantes, pois estava sob o controlo da censura: “Primeiro com Salazar, e mais tarde com Marcelo Caetano, a RTP foi sempre, designadamente através dos seus boletins noticiosos regulares, o principal porta-voz da política do Estado Novo” (Cádima,1996:68). Em 1974, após a Revolução do 25 de Abril, verificou-se a nacionalização da RTP, e a sua transformação em empresa pública. Mais tarde, em 1992 e 1993, surgem os primeiros canais de televisão privados em Portugal, a SIC e a TVI, respetivamente (Cádima,1996).

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De acordo com Cádima (1996), é na década de 70 que a televisão se afirma como um meio de comunicação de massas no mundo, “…se ainda nos anos 60 havia um pouco a ideia de que o fenómeno televisivo era, por assim dizer, um “milagre”, rapidamente esse mistério se perde: os anos 70 transformaram, em definitivo, a televisão em eletrodoméstico, em objeto de grande consumo”.

Apesar de, maioritariamente, cada país apenas ter duas ou três estações televisivas nacionais, com a proliferação dos satélites e das antenas parabólicas, era cada vez mais fácil ver canais de qualquer país do mundo (Cádima,1996).

Os anos 80 e 90 ficaram marcados pela necessidade de desenvolver a indústria europeia de programas de televisão devido à entrada, nesse mesmo mercado, dos programas americanos, que nessa altura já se encontravam bastante desenvolvidos e diversificados. Foi durante estas décadas que se verificaram maiores avanços tecnológicos no campo audiovisual e multimédia, com inúmeras tentativas de melhoramento da definição da imagem e do som. No entanto, o problema dos conteúdos dos programas televisivos continuava sem solução: “… o esforço do melhoramento incidiu exclusivamente nas questões tecnológicas de aperfeiçoamento da imagem e do som, mas o problema dos conteúdos ficou por resolver. Aliás, esta incapacidade de atacar a questão dos conteúdos demonstra o estado de falência de ideias da televisão tradicional, que esgotou a sua panóplia de seduções,…” (Correia,1998:41).

Com todos os avanços tecnológicos na televisão, e não só, verificou-se a entrada na chamada era da televisão digital terrestre. Para além de mais melhorias a nível de imagem (passagem para o HD) e som, isto veio aumentar o número de canais. Assim, os conteúdos estão cada vez mais segmentados e os canais vão sendo mais temáticos. Nesta altura, o espetador deixa de ser um espetador passivo e passa a ser um espetador ativo, visto que tem maior possibilidade de escolher o que quer ver e quando quer ver: “É a era dos self-media, dos media que se destinam aos utilizadores individuais – PC, fax, telemóvel, bip, etc.- e que interactuam através de redes celulares e de redes interactivas (RDIS, Internet, “auto-estradas da informação”, por exemplo)” (Cádima,1996:78).

Atualmente, os meios de comunicação desde a imprensa escrita, rádio, televisão, multimédia, jogos e cinema têm a migração do analógico para o digital feita quase na totalidade para plataformas tecnológicas digitais (Looms,2006). O digital tende a impulsionar todos os concorrentes de comunicação, operadores privados e públicos, à criação de novos conteúdos mais

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atrativos, criando uma maior diversidade de serviços. Verifica-se também maior encorajamento aos produtores independentes e ao aparecimento de novos produtores na criação de novos conteúdos.

A internet veio permitir a maior difusão de conteúdos audiovisuais e também de serviços de programas televisivos, sendo esta considerada por muitos teóricos como uma rede global de comunicação: “A internet é o primeiro meio de comunicação global e interativo, à escala global, totalmente digital” (Amaral,2008:20). Ao podermos aceder a diversos tipos de conteúdos, a internet, tornou-se também numa nova plataforma de difusão de canais e formatos televisivos.

Depois deste breve enquadramento da história da televisão importa falar: sobre os problemas e desafios impostos à televisão generalista e tradicional, sobre o aparecimento dos canais especializados e regionais e ainda sobre a utilização da internet para difusão de conteúdos. No próximo ponto vou também aprofundar a ideia da interatividade e participação das audiências nos diferentes tipos de televisão, tentando perceber quais são as principais diferenças entre os canais generalistas e os canais segmentados como o Canal180.

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3.2

Interatividade e participação das audiências na televisão

Como referi no início, este relatório baseia-se na minha experiência de três meses no Canal180, e tem como objetivo dar a entender quais as diferenças na maneira de fazer televisão do 180, relativamente às televisões generalistas portuguesas. Assim, ao longo deste ponto vou falar sobre os desafios que a televisão tradicional tem vindo a sofrer e sobre as condições que favoreceram o aparecimento de um canal cultural em Portugal.

3.2.1 Problemas da televisão generalista

Quando apareceu, a televisão provocou uma alteração na sociedade, pois veio juntar a imagem, ao som e à escrita: “De uma forma impressiva todos sentimos o impacto daquela pequena janela aberta ao mundo, que rasgou horizontes, modificou hábitos alterou a organização familiar, impôs padrões de consumo e, em alguns casos, reformulou ideários políticos, religiosos e morais” (Correia,1998:33).

Depois da 2ª Grande Guerra Mundial, a televisão roubou o protagonismo à rádio e assumiu o papel de mais importante meio de comunicação no mundo. Denis McQuail (2003) carateriza este meio de comunicação de massas como:

Figura 12 A televisão como meio Fonte: McQuail (2003)

No entanto, e como já referi, foram várias as mudanças provocadas pela televisão, mesmo no que toca à sua influência na sociedade. Apesar de ir crescendo a nível comercial e de, atualmente, a maioria das pessoas ter mais do que um aparelho televisivo em casa, este já não é um meio de comunicação capaz de fidelizar os espetadores (Correia,1998): “Nos próximos anos, a televisão generalista continuará inevitavelmente a perder público, não só para as suas mais

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diretas concorrentes temáticas – ou mesmo para canais nicho -, no satélite, no cabo, na paytv, para o VOD (vídeo on demand), mas sobretudo para a internet…” (Cádima,2011:9).

Entravámos então na era digital da televisão e dos restantes meios de comunicação. Pinto Balsemão (2000:14) define digital como: “Do digital sabemos todos que é uma técnica ou tecnologia fantástica que permite reduzir todo o tipo de informações a um código extremamente simples, suscetível de ser transmitido por vias muito diversas e de modo mais fácil e eventualmente mais barato do que os sistemas analógicos até agora dominantes”.

Com a entrada na era digital, de uma economia industrial passamos para uma economia de informação e de cultura, uma consequência da evolução tecnológica a partir do aparecimento dos computadores, da internet, da chegada dos serviços digitais de televisão e dos novos meios de comunicação.

Para Iosifidis (2007) a televisão pública deve estar presente em todas as plataformas de distribuição, garantindo os conteúdos digitais a todos os cidadãos, cumprindo o princípio da universalidade, que só será alcançado através da oferta do serviço em sinal aberto e gratuito.

Fruto da liberalização da Lei da televisão (1990) surgiram em Portugal os primeiros canais por cabo. O nascimento da CaboTv Portugal permitiu a entrada, no nosso país, de novos canais estrangeiros, tanto generalistas como temáticos (Cádima,1995). As emissões via satélite também proporcionaram uma maior diversidade na oferta de canais e serviços, alguns dos quais sujeitos a pagamento.

Apesar de o número de canais ter aumentado de uma forma bastante expressiva, o conteúdo das programações não difere substancialmente, talvez seja devido a uma televisão “cada vez mais oligopolista a nível planetário” (Castells,2002:448). Segundo Espada (1982) este meio de comunicação tornou-se apenas num instrumento, num simples objeto onde predomina a técnica sobre a criação e onde os espetadores não são tidos em conta, já que há falta de participação dos mesmos.

A televisão não conseguiu perceber que cobrir grandes distâncias não é suficiente para uma programação com conteúdos de qualidade e que não aborreça as audiências. Mesmo tendo feito grandes avanços tecnológicos, no que toca à criatividade as coisas estagnaram, tornando este meio bastante monótono. A maioria dos canais faz o mesmo, tem o mesmo tipo de programação: “De degrau a degrau, a televisão tradicional desce os degraus do pedestal da fama

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para se atolar na vulgaridade. Ao afrontar a dignidade humana, a televisão tradicional está a escrever, pelo seu próprio punho, a crónica do seu passamento." (Correia,1998:37).

Ainda que já existam alguns canais com programação diversificada, a televisão continua a ser um meio unidirecional, onde a única reação visível da audiência seja através do mercado e dos resultados obtidos. A audiência nota que a sua participação no processo televisivo é quase nula, os seus interesses não são tidos em conta, ou seja, existe uma desconexão quase total entre os emissores, cadeias televisivas e os recetores, as audiências (Cádima,2011).

Como já referi os meios de comunicação de massas foram criados como um meio unidirecional que tinha como objetivo fornecer informação às audiências, que a podiam utilizar ou não. No entanto, estes novos media são interativos e desagregam as audiências e integram o uso dos media na sua vida diária (Nightingale, 2011).

Depois de alcançadas as grandes audiências, parece cada vez mais necessário chegar e comunicar com o indivíduo singular. A era digital, em que nos encontramos, através da massificação do computador, do telemóvel e do tablet favorece esta proximidade: “A maioria que está em vias de abandonar a televisão tradicional, encontrou na internet uma alternativa diferente, mas válida para esquemas e modelos de programação que são alienígenas à sua mundividência e mundivivência” (Correia,1998:39).

Sobre esta nova era digital e a sua maior individualização, Cádima (2011:14) diz que:

“Se o dispositivo comunicacional da era da TV analógica tinha as especificidades próprias do modelo mass-mediático, o dispositivo digital emergente assenta numa lógica biunívoca, imersiva e participativa. Mas a pós-televisão e os conteúdos distribuídos pelas múltiplas extensões móveis remetem para uma cada vez maior individualização, para uma (híper) personalização da experiência de consumo audiovisual e multimédia…”.

Como já referi, as próprias pessoas começaram a exigir maior diversidade nos canais de televisão. Normalmente são precisos muitos anos para alterar os hábitos no que respeita o consumo dos media, mas nos jovens existe uma aceleração dos comportamentos na escuta e visualização. Por isso foram estes que se desligaram da televisão tradicional, pois para os mais idosos a programação da televisão tradicional continua a ser suficiente: “Aqueles que se afastaram dos modelos de programação da televisão tradicional são pessoas maioritariamente situadas em escalões etários jovens, com nível de instrução médio, ou acima da média e uma boa parte da

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chamada média alta e culta, com formação universitária” (Correia,1998:39). Estes são uma minoria com exigências mais sofisticadas no que respeita aos sistemas de comunicação.

Um outro desafio que a televisão tradicional tem vindo a atravessar, e que mostra o aborrecimento dos espetadores é o zapping. O zapping é a prática de rapidamente passar por diversos canais para tentar encontrar algo interessante para se ver: “As mudanças imprevistas de canal por parte de muitos espetadores são um dos sintomas claros da incapacidade do mass media em fidelizar audiências” (Correia,1998:34).

Esta prática é mais verificada na altura dos intervalos, devido à quantidade excessiva de publicidade que o espetador tem de ver. O espetador, cansado dos anúncios publicitários, vai mudando de canal até encontrar algo que lhe interesse, ou até se cansar e desligar totalmente a televisão:

“Os intervalos publicitários, impostos à margem da legislação em vigor, são longos períodos de rutura não anunciada. A carga publicitária é tão intensa que o ruído destas mensagens se sobrepõe aos conteúdos que elas veiculam. O zapping é, em muitos casos, uma forma de fuga ao massacre do “compre!”, “veja!”, “experimente!”, “vá!” – formas invariavelmente imperativas de ações apelando ao consumo” (Correia,1998:34).

Esta quantidade excessiva de publicidade que as estações impõem às suas audiências é, no entanto, fundamental para o crescimento económico das mesmas. A publicidade é das maiores fontes de rendimento das estações televisivas.

No entanto, nos últimos tempos, temos verificado um novo fenómeno no que toca à publicidade nas estações televisivas. Os extensos intervalos só de publicidade têm tendência para

diminuir pois, cada vez mais, está a ser usada a colocação do produto (product placement)e a

diminuição do tempo desses anúncios (Elliot,2010). Product Placement é uma técnica de

marketing que consiste em incluir ou fazer referência a um produto, ou a um serviço num programa de televisão, como por exemplo nas telenovelas. É uma estratégia muito direta e com maior eficácia do que os intervalos gigantescos. Para Cádima (2011:190) “na área da publicidade, procurava-se atingir os público-alvo de uma forma mais objetiva, tendo por exemplo, sido produzidos e testados anúncios de pequena duração, …, devidamente pensados para o novo suporte de forma a que houvesse uma maior adequação aos destinatário e, naturalmente, uma melhor visualização”.

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Para além desta nova técnica de marketing, hoje e dia, é bem mais fácil para os espetadores fugirem à imposição de publicidade nos intervalos, através de serviços que permitem

gravar ou recuperar programas antigos e fazer forward no intervalos, ou seja, passa-los à frente.

3.2.2

A Internet, o digital e a difusão de conteúdos televisivos

A internet é uma rede global de comunicações que liga redes de computadores que estão espalhados pelos mundo, e que utiliza tecnologias que nos permitem aceder a qualquer tipo de conteúdos desde multimédia, documentos, e até mesmo mundos virtuais, a partir de qualquer dispositivo digital (Marques,2009). Com a generalização do uso da internet, tornou-se fácil o acesso a diversos tipos de conteúdos, e por isso esta transformou-se também numa nova plataforma de difusão de canais e formatos televisivos.

Com o significativo aumento do número de utilizadores tornou-se num meio desejado pelos para os agentes de produção e difusão televisiva. O aumento da capacidade da rede e a evolução tecnológica permitiram, que na Internet, se verificasse a difusão do sinal de televisão em direto da emissão de um canal (Carvalho,2009).

Ainda por causa desse aumento no número de utilizadores da internet, apareceu o Youtube: um site de difusão de todo o tipo de vídeos. Foi no youtube que começaram a aparecer os primeiros vídeos de produção amadora tornando o utilizador em produtor e realizador de conteúdos, como vou falar mais à frente no caso do Canal180. Este site rapidamente atingiu um grande número de utilizadores. No primeiro trimestre de 2010 acederam a esta página web quase três milhões de portugueses, 68.4% do total de internautas nacionais (Marketest,2010a).

Com esta crescente utilização da internet, os operadores televisivos ganharam novos concorrentes, quer por grandes grupos de media, como a imprensa escrita e a rádio, disponibilizarem os seus serviços na internet, quer por disponibilizarem também uma forte componente audiovisual, quer pela sua especificidade disponibilizando conteúdos a qualquer momento (Carvalho,2009). Por isto, os grandes grupos audiovisuais sentiram a necessidade de desenvolver os seus sites, oferecer novos serviços interativos, fazendo com que esta plataforma se tornasse essencial para a sua estratégia de média.

“A televisão e a internet constituem hoje as duas principais tecnologias de mediação, disputando cada uma o centro de duas redes de interatividade diferenciadas, interligadas entre si

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através dos links oferecidos pelas diferentes tecnologias de comunicação interpessoal” (Cardoso,2006:10). A grande vantagem da internet é o facto de não existirem fronteiras em termos globais, no que toca ao consumo dos media, que é feito por todos os escalões e grupos sócio-profissionais (Cardoso,2006). Para outro autor, Carvalho (2009) a internet apresenta um conjunto de particularidades que merecem destaque:

 Exige a intervenção do utilizador através do computador ou telemóvel, implicando

consumo individualizado;

 Disponibiliza conteúdos a qualquer momento (o consumidor assume o controlo

de “O quê?”, “Quando?” e “Onde”);

 Integrada numa difusão cross media, exploração simultânea em várias

plataformas;

Os media tradicionais começaram então a aperceber-se da potencialidade da internet na expressão individual e no desenvolvimento de novas linguagens, novas narrativas convergentes (multimédia), à velocidade do momento e numa escala mundial (Zamith,2008). Portanto, a lógica dos conteúdos tradicionais tem de ser adaptada às novas lógicas de produção e de consumo. Por isto mesmo, os media tradicionais começaram a aumentar as suas produções audiovisuais na internet.

Com estas alterações mediáticas surgiu um novo fenómeno, o fenómeno da convergência mediática. Esta é uma tendência que se tem verificado muito nos últimos anos, e verifica-se na utilização da internet para a difusão dos conteúdos dos diferentes meios de comunicação (rádio, televisão e jornais impressos) (Jenkis,2008). Para Jenkins (2008) esta tendência designa o atual processo da construção da informação, pois estes novos media digitais permitem um cenário em que qualquer indivíduo tem condições para produzir e partilhar vídeos, imagens e sons. Para conseguirem competir neste novo universo tecnológico os jornais, as rádios e as televisões criam sites e páginas nas redes sociais, estando assim mais próximos dos seus espetadores.

Há alguns críticos que encaram esta convergência como uma inevitável conglomeração onde as grandes corporações acabam com os pequenos jornais ou estações televisivas, com cortes no número de profissionais e de perda de qualidade nos conteúdos transmitidos (Artwick,2004). No entanto, esta ideia parece estar errada, uma vez que esta tendência não implica a homogeneização das expressões culturais, nem o domínio completo de códigos por alguns emissores centrais, “é precisamente devido à sua diversificação, multimodalidade e

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versatilidade que o novo sistema de comunicação é capaz de abarcar e integrar todas as formas de expressão, inclusive a dos conflitos sociais, bem como a diversidade de interesses, valores e imaginações” (Castells,2003:491).

No entanto, estas alterações não significam que estamos perante uma tendência em que todos os media se tornem num só media, é normal a permanência de formas de comunicação heterogéneas e diferentes, uma vez que os meios são formas de comunicação humana profundamente codificados, com significados e valores que surgem e se alteram ao longo do tempo, não apenas porque as indústrias assim o decidiram (Dewdney et. Al,2006).

Os jornais online, em Portugal, começaram a 26 de Julho de 1995 com a inauguração da edição eletrónica do Jornal de Notícias, seguido depois pelos restantes jornais impressos (Granado,2002). As rádios também entraram na internet: a TSF a 17 de Setembro de 1996 foi a primeira; seguida de Antena 1, Antena 2 e Antena 3, Rádio Renascença e RFM em 1997 (Granado,2002).

Atualmente todos os meios de comunicação tradicionais já têm um site na internet, mais do que isso já criam os seus próprios elementos audiovisuais e multimédia. Mesmo as rádios e os jornais impressos já têm uma grande presença de vídeo nos seus sites online.

Com estes desenvolvimentos televisivos na internet, foi possível o aparecimento de canais com temas mais específicos e/ou regionais que apenas existiam na web. São as chamadas webTv, que com o passar dos anos passaram também a dar na Tvcabo. A primeira a aparecer foi a FamalicãoTV, em 2005. Nos anos seguintes foram nascendo por todo o país. Para Cádima (2011:22) a televisão regional tem uma grande importância política e cultural pelo “facto de só ela poder representar a realidade local, apresentar e interpretar a matéria informativa em função das especificidades e dos interesses locais/regionais e de realçar e dar visibilidade aos seus projetos e às relações que a região mantém com outras realidades do mesmo estado”.

A convergência entre a televisão tradicional, os serviços multimédia e a Internet é uma tendência, tendo as inovações tecnológicas e a interatividade como fator fundamental na evolução dos media.

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3.2.3

A interatividade na televisão tradicional e generalista

Com o passar dos anos verificou-se um aumento da interatividade entre a televisão tradicional e generalista com as audiências, e isso resulta numa melhor relação entre a televisão e o espetador. As novas tecnologias como a internet, os telemóveis e os tablets têm tido uma boa taxa de penetração, o que possibilita essa aproximação. A interatividade através destes diversos serviços digitais aproxima o espetador do conteúdo, envolvendo-o e fazendo-o parte ativa do programa (Cardoso,2006).

Para Cardoso (2006) a utilização da interatividade na televisão portuguesa é caraterizada essencialmente pelo seu recurso em programas do entretenimento sendo mais reduzida na dimensão informativa. A maioria das pessoas que interage com a televisão fá-lo para:

 Expressar uma opinião num assunto particular ou em votação;

 Comunicar com outras pessoas, através de mensagens enviadas para programas para

serem lidas por familiares, amigos - ou então para conversar através de sms ou outros interfaces comunicativos (forums e chats) oferecidos pela internet;

Como percebemos as formas mais comuns de interação no contexto digital são através do sms, e-mail, chat, telefone e telemóvel. A interatividade através destes serviços é mais verificada em programas de entretenimento e na procura de uma maior sociabilização.

As formas de interatividade têm sido aperfeiçoadas ao longo dos anos. No início era permitido a difusão, em rodapé, das mensagens recebidas pelos espetadores e depois começou a ser permitido a intervenção sobre o conteúdo apresentado, através do voto, quer no próprio estúdio onde assistem ao programa em direto quer pelo telefone (Carvalho,2009).

Na tabela que se segue podemos ver em que programas e de que maneira se verifica a interatividade entre as televisões e as audiências (Cardoso,2004). Vamos verificar que são os programas de entretenimento que mais interatividade permitem às audiências, através do envio de mensagens de telemóvel, das chamadas telefónicas e do envio de emails.

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Tabela 1 Uso da interatividade na televisão portuguesa em 2004

Tabela 1 Uso da interatividade na televisão portuguesa em 2004 Fonte: Projeto Internet e Mass Media, Cardoso et al (2004)

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40

Hoje em dia, são muitos os programas que contam com a participação das audiências, programas como “O Preço Certo” e o “Quem quer ser milionário” da RTP1 atingiram o sucesso, pois permitem que os espetadores tenham uma experiência muito parecida com a dos concorrentes em estúdio.

Para Cardoso (2006) a televisão assume-se como parte de uma maior rede de tecnologias de mediação, relacionando-se com outras tecnologias, não perdendo a sua caraterística de sucesso como modelo comunicacional de interatividade. Desta rede de tecnologias faz parte, claro está, a internet, que, como já referi tem tido uma crescente e próxima relação com a televisão.

De acordo com um estudo do IDATE (2010) as inovações em curso nos serviços de televisão, são parte de uma tendência a longo prazo da convergência gradual entre a televisão tradicional e a internet. São três as caraterísticas que explicam essa tendência:

 Em termos de padrões de consumo: mais tempo gasto e personalização dos conteúdos,

portabilidade de conteúdos, consumo que combina transmissão broadcast, pessoal e conteúdo web;

 Em termos de acesso: novas soluções de distribuição da imagem;

 Em termos de financiamento: fragmentação da receita de anúncios; disponibilidade de

conteúdo livre, o que dificulta gerar receitas para pagar programas:

3.2.4

O aparecimento do Canal180

Estes desafios pelos quais a televisão tem vindo a passar tornaram possível e viável o aparecimento de canais mais alternativos, participativos e interativos. Os Canais que estão

também presentes nos nossos telemóveis, computadores e tablets, através da internet. No

entanto, para se conseguir atrair um maior número de pessoas para estas diferentes plataformas é preciso repensar os conteúdos e a forma como estes são transmitidos.

Foram surgindo os canais temáticos de várias áreas diferentes. Estes canais “constituem um primeiro nível de especialização frente aos canais generalistas. São canais que se centram num só tema, mas abordam-no de várias perspetivas diferentes, de tal maneira que se mantêm com uma visão geral. Diferenciam-se claramente dos canais generalistas porque giram em torno de um só tema. Se se qualificam de temáticos gerais é porque abordam todas as possíveis

Imagem

Figura 3 Página do facebook do Canal180 Figura 4 Página do Youtube do Canal180
Figura 6 Oferta Nacional VS Oferta Internacional      Fonte: OSTV
Figura 8 Grelha de programas   Fonte: Site Canal180
Figura 10 Prémio atribuído ao canal pelo seu design inovador
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