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Análise do perfil regional do programa bolsa família no território Goiano / Analysis of the regional profile of the bolsa família program in Goiano territory

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Análise do perfil regional do programa bolsa família no território Goiano

Analysis of the regional profile of the bolsa família program in Goiano territory

DOI:10.34117/bjdv6n6-007

Recebimento dos originais: 08/05/2020 Aceitação para publicação: 01/06/2020

Renato Augusto Souza Gomes

Formação acadêmica: Mestrando do programa de pós-graduação em Geografia

Instituição: Instituto de Estudos Socioambientais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO. E-mail: renatoaugusto1967@gmail.com.

RESUMO

O presente trabalho parte de um projeto de pesquisa sobre os programas de transferências de renda direta em Goiás: “Transferência de renda direta e economia urbana: Análise do impacto da Aposentadoria Rural e do Bolsa Família nos municípios goianos” com financiamento do CNPq. Assim, por meio deste artigo pretende-se analisar as diferentes características regionais existentes no território goiano, mediante a espacialização dos recursos provenientes do Programa Bolsa Família (PBF) ano de 2017. Os procedimentos metodológicos basearam-se em mapeamento e comparação dos valores absolutos e relativos de famílias beneficiárias nos municípios goianos (MDS, 2016;2017;2018;2019). A análise do perfil regional do PBF nos municípios goianos, correlacionados com a formação e dinâmica econômica do território goiano, evidencia o perfil regional das transferências do PBF e permite construir tipologias geográficas, econômicas e sociais para facilitar a compreensão do padrão espacial de distribuição dos recursos, o que demonstra a contribuição que o conhecimento geográfico possui na elaboração e execução de políticas sociais focalizadas.

Palavras-chave: Transferência de renda; PBF; pobreza. ABSTRACT

The present work is part of a research project on the direct income transfer programs in Goiás: “Transferência de renda direta e economia urbana: Análise do impacto da Aposentadoria Rural e do Bolsa Família nos municípios goianos” with financing from CNPq. Thus, this article intends to analyze the different regional characteristics existing in Goiás territory, through the spatialization of resources from the Programa Bolsa Família (PBF) in 2017. The methodological procedures were based on mapping and comparing absolute and of beneficiary families in the municipalities of Goiás (MDS, 2016, 2017, 2018; 2019). The analysis of the regional profile of the PBF in the municipalities of Goiás, correlated with the formation and economic dynamics of the goiano territory, shows the regional profile of PBF transfers and allows the construction of geographic, economic and social typologies to facilitate the understanding of the spatial pattern of resource distribution , which demonstrates the contribution that geographic knowledge has in the elaboration and execution of focused social policies.

Key words: Transfer of income; PBF; poverty. 1- INTRODUÇÃO

Com o governo Luís Inácio Lula da Silva (2003–2011), uma nova lógica de transferência de renda entra em ação no território brasileiro, funcionando em uma dinâmica de parceria entre as três

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esferas do governo. O Programa Bolsa Família (PBF) se institucionaliza com a conversão da MP nº 132 para a Lei nº 10.836 de 9 de Janeiro de 2004, surgindo da unificação dos programas de proteção social do Governo Federal já existentes: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Programa Nacional de Acesso à Alimentação e o Auxílio Gás (BRASIL, 2003).

O PBF é um programa de transferência de renda focalizado e tem como alvo famílias com filhos em situação de pobreza e extrema pobreza, seleção que é determinada pela renda per capita familiar, o que inclui comunidades rurais e comunidades urbanas. O recorte espacial é o estado de Goiás, que no ano de 2018 teve 305.220 famílias beneficiadas e um repasse de R$566.468.568,00.

O trabalho apresentará um panorama introdutório de um projeto sobre os programas de transferência de renda em Goiás, focando no perfil regional que os municípios e as regiões do estado apresentam, levando em consideração suas especificidades geográficas, econômicas, demográficas e sociais, com o intuito de facilitar a compreensão do padrão espacial de distribuição os recursos do PBF.

2- A CAPILARIDADE DESIGUAL DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

Nesta seção será abordado um panorama em escala nacional da distribuição e alcance que o PBF no Brasil, evidenciando a diferença regional que o programa apresenta no território brasileiro, em relação às cinco regiões.

A tabela 01 indica dados do PBF considerando as cinco regiões brasileiras. Do ponto de vista regional, Pochmann (2012) ressalta que a distribuição dos benefícios pelo governo federal não é homogênea porque atende às necessidades locais com o objetivo de reequilibrar as diferenças regionais. O Nordeste possui 28% da população brasileira e recebe mais da metade dos benefícios, afirmando que o estado coloca mais recursos na proporção inversa ao tamanho da população porque ali existem mais famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, como indicado por Arrais (2016). A relevância da Região Nordeste em relação aos recursos do programa é evidente, apresentando mais da metade do percentual de famílias e valor repassado das regiões brasileiras.

Tabela 01: Número de famílias e valor repassado das cinco regiões do Brasil.

Fonte: Dados trabalhados pelo autor a partir de MDS (2017) Região Famílias % do Total de Famílias % do valor total Repassado Valor Repassado Centro- Oeste 689.062 1.319.095.355,00 5% 4,8% Nordeste 6.808.782 14.825.628.086,00 50% 52% Norte 1.685.137 3.722.308.369,00 13% 13% Sudeste 3.513.971 6.693.659.416,00 25% 24% Sul 872.624 1.664.145.408,00 7% 6% BRASIL 13.569.576 28.506.185.141,00 100% 100%

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Atualmente, o PBF possui um quadro com seis tipos benefícios1. O Cadastro Único para Programas Sociais, criado no governo de Fernando Henrique Cardoso, no ano de 2001, funciona como um importante instrumento de coleta de dados e informações, buscando identificar todas às famílias consideradas de baixa renda no país e elegíveis para o PBF e outros programas de assistência social, como o Beneficio de Prestação Continuada (BPC).

A obra “Atlas da exclusão social do Brasil” (POCHMANN, 2003) tornou-se uma ferramenta de análise e discussão frente ao debate sobre a exclusão social no Brasil, e acabou fornecendo subsídios para a ação governamental, nos diversos aspectos, principalmente na gestão das políticas sociais. Pochmann (2003) nomeia como “trópico da exclusão social”, região em que podemos distinguir claramente a concentração de municípios com maior problema de exclusão social. As regiões Norte e Nordeste são historicamente conhecidas por possuírem essas características, diferentemente das regiões Sul e Sudeste, a vulnerabilidade de origem antiga pode ser percebida atualmente, com acesso restrito a educação, à alimentação, ao mercado de trabalho entre outros mecanismos de geração de emprego e renda. Pochmann (2003) conclui que alterar a configuração geoeconômica do Brasil não é uma questão simples de estimular a produção, estimulando o aparelhamento da lógica industrial no nordeste e norte brasileiros, e sim enfrentar e eliminar velhas práticas políticas e implementar ações sociais que resgatem a cidadania da população excluída, dando-lhe condições para a sua emancipação econômica e social. Na seguinte seção adentraremos no estudo específico da dinâmica do PBF no estado de Goiás.

3- O PERFIL REGIONAL DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA EM GOIÁS

De acordo com o MDS (2018), a região Centro-Oeste, com a menor população das cinco regiões brasileiras, 15.442.232 habitantes (IBGE, 2015), representou 5% do número de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família, com o total de 673.652 famílias beneficiadas. O estado de Goiás ganha destaque na região Centro-Oeste, por representar o maior percentual (46%) da

1 São eles i)Benefício Básico: concedido às famílias em situação de extrema pobreza (com renda mensal de até R$ 89,00 por pessoa). O auxílio é de R$ 89,00 mensais. i)Benefício Variável: para famílias pobres e extremamente pobres, que tenham em sua composição gestantes, nutrizes (mães que amamentam), crianças e adolescentes de 0 a 16 anos incompletos. O valor de cada benefício é de R$ 41,00 e cada família pode acumular até 5 benefícios por mês, chegando a R$ 205,00. iii)Benefício Variável à Gestante (BVG): Destinado às famílias que tenham em sua composição gestante. Podem ser pagas até nove parcelas consecutivas a contar da data do início do pagamento do benefício, desde que a gestação tenha sido identificada até o nono mês. O valor do benefício é de R$ 41,00. iv) Benefício Variável Nutriz (BVN): Destinado às famílias que tenham em sua composição crianças com idade entre 0 e 6 meses. O valor do benefício é de R$ 41,00.v)Benefício Variável Jovem (BVJ): Destinado às famílias que se encontrem em situação de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua composição adolescentes entre 16 e 17 anos. O valor do benefício é de R$ 48,00 por mês e cada família pode acumular até dois benefícios, ou seja, R$ 96,00. vi)Benefício para Superação da Extrema Pobreza(BSP): Destinado às famílias que se encontrem em situação de extrema pobreza. Cada família pode receber um benefício por mês. O valor do benefício varia em razão do cálculo realizado a partir da renda por pessoa da família e do benefício já recebido no Programa Bolsa Família (BRASIL, 2016).

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quantidade de famílias (308.885) da região, seguido pelos Estados do Mato Grosso (23%), do Mato Grosso do Sul (19%), e do Distrito Federal (12%).

O território goiano possui diferentes características socioeconômicas e tem experimentado nos últimos anos, um elevado nível de desenvolvimento econômico e social, consolidando o crescimento dos vários setores produtivos, Goiás foi divido em dez regiões de planejamento, conhecida como: Regiões de Planejamento do Estado de Goiás. Uma metodologia adotada para a espacialização dos benefícios do PBF no estado, em escala regional, elaborando uma correlação da transferência de renda com os aspectos demográficos, econômicos e sociais, as regiões de planejamento do estado, por apresentar critérios de divisão que leva em consideração aspectos como a homogeneidade em termos de condições socioeconômicas e espaciais, estratégia de planejamento para investimentos governamentais tendo em vista minimizar os desequilíbrios regionais e os principais eixos rodoviários do estado, como podemos observar na tabela 02, o eixo da análise de distribuição dos recursos do PBF no estado. Diante da figura 02 podemos ressaltar alguns dados de grande importância na nossa análise de distribuição da quantidade de famílias beneficiárias e dos valores repassados do PBF em Goiás.

Tabela 02: Quantidade de famílias beneficiárias e valor repassado nas 10 regiões de planejamento do estado de Goiás.

Fonte: Dados trabalhados pelo autor a partir MDS(2017) e IBGE (2015)

A região do Entorno do Distrito Federal possui cinco municípios com mais de 100 mil habitantes, Luziânia (196.864), Águas Lindas de Goiás (191.499), Valparaíso de Goiás (156.419), Formosa (114.036) e Novo Gama (108.410) (IBGE, 2016), representando 18,3% da população do estado. Por situar- se próximo ao Distrito Federal, a população dos municípios desta região, tem como característica famílias que imigram para o Distrito Federal, mas devido ao alto custo de vida, sua

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renda familiar não é suficiente para se manter na cidade, logo, buscam esses municípios por apresentarem baixos custos, principalmente no loteamento e na moradia, sendo consideravelmente inferiores ao do Distrito Federal, esse fator contribui para o aumento da segregação socioespacial, da vulnerabilidade social, acarretando no aumento da pobreza e a necessidade dos recursos do PBF. A situação do município de Águas Lindas de Goiás é descrita por Batista; França; Berdet, (2016) no

seguinte trecho:

Trata-se de um município que depende do ponto de vista do trabalho/emprego, educação, saúde etc. do Distrito Federal. É resultado do processo de metropolização de Brasília, caracterizado por segregar espacialmente a população e excluí-la socialmente. As migrações intrametropolitanas indicam o êxodo permanente das pessoas para além do Distrito Federal, na fronteira com o estado de Goiás, devido, em grande parte, à especulação imobiliária no Distrito Federal que impacta nas possibilidades de sobrevivência dos trabalhadores e trabalhadoras menos favorecidos e os obriga a essa migração, cada vez mais distante das oportunidades de trabalho/ emprego, e dos serviços básicos existentes. (BATISTA; FRANÇA ; BERDET, 2016, p.453)

O Cadastro Único divide as famílias cadastradas em quatro classes que vai da renda per capita de R$ 0,00 a R$ 89,00, até famílias com renda per capita acima de ½ salário mínimo. O município de Águas Lindas de Goiás localizado na região de planejamento do Entorno do Distrito Federal, em Maio de 2019, teve 31.788 famílias cadastradas, sendo que, 62% dessas famílias cadastradas estão na classe de renda per capita familiar de R$ 0,00 a R$ 89,00, a classe mais baixa de renda, dados que comprovam o elevado índice de pobreza no município. Águas Lindas de Goiás, no ano de 2018 teve a segunda maior quantidade de famílias beneficiárias e o maior valor repassado do estado, 19.850 famílias e R$ 41.643.030,00 (MDS, 2018), ficando atrás apenas da capital do estado, Goiânia (27.416 famílias). Por Águas Lindas de Goiás ser o sexto município com maior população do estado e o segundo com maior número de famílias beneficiárias, percebe-se o perfil regional de pobreza do município fazendo uma relação com sua condição sociespacial.

Outro ponto que vale destacar na figura 02 é o alto percentual de famílias beneficiárias por habitante que a região do Nordeste Goiano, 11%, valor bem superior às demais regiões, que teve o Sudoeste Goiano, com 3,6%, o menor percentual. O Norte Goiano aparece em segundo lugar 7,7% de famílias beneficiárias em relação a sua população, dadas que nos da competência para identificar um perfil regional especifico que as regiões Norte e Nordeste Goiano apresentam diante do PBF.

Dos 45 municípios goianos que apresentam um percentual de famílias superior a 10% em relação a sua população, 60% estão localizados nas regiões Norte e Nordeste do estado, a região Norte com 11 municípios, Campos Verdes (21%), Amaralina (17,5%), Santa Terezinha de Goiás (15,1%), Montividiu do Norte (14,8%), Campinaçu (14,1%), Formoso (13,1%), Novo Planalto (12,6%), Uirapuru (11,5%), Trombas (10,8 %), Mundo Novo (10,4%) e Mutunópolis (10,2%). Já a região Nordeste se destaca com 16 municípios, representando 37% to total dos municípios com percentual superior a 10% de famílias beneficiárias em relação a sua população, os municípios com os maiores

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percentuais da região são: Divinópolis de Goiás (16,6 %), Damianópolis (15,9%), Guarani de Goiás (15,1%), Simolândia (14,4%), Mambaí (13,4), Iaciara (13,4%), Monte Alegre de Goiás (13,4%), Colinas do Sul (13%), Nova Roma (12,5%), Sítio D´abadia (12,5%), Teresina de Goiás (11,9%), Alvorada do Norte (10,6), Buritinópolis (10,6%), Campos Belos (10,6%), São Domingos (10,4%) e Flores de Goiás (10,1%).

A partir destes dados da região Nordeste de Goiás, é interessante destacar que 80% dos 20 municípios da região Nordeste, possuem o percentual de famílias beneficiárias em relação à população superior a 10%, correlacionado esse dado com os índices de pobreza da região evidenciou a importância que uma transferência de renda como o PBF tem para as famílias, e para economia local desses municípios, sabendo que os empregos formais dessas localidades são caracterizados por possuírem maiores estoques de empregos públicos relacionados à administração pública do executivo municipal, tendo as transferências de renda (Aposentadoria rural, BPC e PBF) como um importante fator de acréscimo de renda perene que circula nessas redes urbanas pouco densas, logo, esse aspecto assume uma grande importância na diferenciação, desse perfil de município das regiões metropolitanas.

A região Nordeste de Goiás é destacada por apresentar os maiores índices de pobreza relativa e absoluta do estado de Goiás. Dados do IBGE (2010), sobre o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), dos municípios goianos mostram os municípios do Nordeste goiano nas últimas posições entre os 246 municípios do estado, o IDH-M da região foi de 0,664, o mais baixo das dez regiões de planejamento do estado de Goiás. De acordo com Arrais (2013) o processo de integração econômica presenciado no território goiano demonstra enorme desigualdade, enquanto o Sul do estado teve como advento da modernização a ferrovia, que proporcionou uma integração com a região Sudeste do Brasil, que se encontrava em um momento de crescimento econômico, a ferrovia trouxe o desenvolvimento para os municípios goianos dessas região, como a urbanização e a industrialização, processo que não ocorreu na região Nordeste do estado. Na figura 03 observa-se a espacialização da quantidade de famílias beneficiárias do PBF em relação à população em escala municipal, assim, podemos evidenciar no mapa os maiores percentuais nos municípios do Norte e Nordeste do estado.

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Figura 03: Percentual de famílias beneficiárias do PBF em relação à população, no estado de Goiás.

4- OS GRUPOS POPULACIONAIS TRADICIONAIS E ESPECÍFICOS

De acordo com os Relatório de Informações (RI) do Bolsa Família e Cadastro Único, plataforma que apresenta dados mais recentes de gestão de cada município e estado, tais como

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famílias e pessoas no Cadastro Único e famílias atendidas pelo Bolsa Família, o Cadastro Único para Programas Sociais permite identificar famílias pertencentes a 17 grupos populacionais tradicionais e específicos, assim considerados por suas especificidades socioculturais e econômicas. Os dados de cadastramento dos grupos populacionais tradicionais e específicos foram agrupados de forma esquemática, de acordo com suas características e modos de vida semelhantes, para permitir a comparação entre os grupos familiares semelhantes.

Os Grupos populacionais tradicionais e específicos são classificados em quatro principais, subdivididos em tipos de famílias representantes da cada grupo sendo eles os Grupos de origem

étnica: famílias quilombolas, famílias indígenas, famílias ciganas e famílias pertencentes a

comunidades de terreiro, os grupos relacionados ao meio ambiente: famílias extrativistas, famílias de pescadores artesanais e famílias ribeirinhas, os grupos relacionados ao meio rural: famílias de agricultores familiares, famílias assentadas da reforma agrária, famílias beneficiárias do programa nacional de crédito fundiário e famílias acampadas e os grupos em situações conjunturais: famílias atingidas por empreendimentos de infraestrutura, famílias com pessoa presa no sistema carcerário, famílias em situação de rua, famílias de catadores de material reciclável e famílias em situação de trabalho infantil.

De acordo com Arrais (2016), no ano de 2015, o total desses grupos atingiu 1.431.803 famílias, representando 10,25% do total de famílias beneficiadas no Brasil. Estes dados deixam bem claro que o PBF é um programa majoritariamente urbano. Em determinadas regiões do Brasil esses grupos específicos vão se destacar mais, como o grupo relacionado ao meio ambiente, que vai ter uma maior predominância na região Norte, devido ao maior número de famílias que pertencem a comunidades tradicionais cuja subsistência baseia-se no extrativismo de recursos oferecidos pela natureza, seja nas florestas, rio, manguezal, mar ou demais ambiente similar, presentes nessa região. No estado de Goiás, 14.216 famílias beneficiárias do PBF fazem parte dos grupos populacionais tradicionais e específicos, representando 5,3% do total de famílias. O percentual do total dos grupos tradicionais e específicos em Goiás, conforme a figura 04 fica da seguinte forma: Rural 69%, Étnico 26%, Conjuntural 5% e Meio ambiente 1%.

Figura 04: Percentual do total das famílias dos Grupos populacionais tradicionais e específicos no estado de Goiás.

Fonte: Dados trabalhados pelo autor a partir de Relatório de Informações (RI) do Bolsa Família e Cadastro Único (2016). 69% 26% 5% 1% Rural Étnico Conjuntural Meio ambiente

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Alguns municípios goianos apresentaram mais de 40% dos seus benefícios destinados a famílias pertencentes aos grupos populacionais tradicionais e específicos: étnico e rural. Conforme a figura 05, podemos citar um caso bem relevante no grupo rural (famílias de agricultores familiares, famílias assentadas da reforma agrária, famílias beneficiárias do programa nacional de crédito fundiário e famílias acampadas) que é o município de Baliza, do total de 379 famílias beneficiárias em todo o município, 245 fazem parte deste grupo, ou seja, 64%.

Figura 05: Municípios goianos que apresentam mais de 40% de famílias beneficiadas pertencentes ao grupo específico rural.

Fonte: Dados trabalhados pelo autor a partir de Relatório de Informações (RI) do Bolsa Família e Cadastro Único (2016).

De acordo com o Incra (2016), de todos os assentamentos de reforma agrária criados em Goiás, mais de 73% estão localizados nas regiões Norte, Oeste e Noroeste, que representa mais de 10.000 famílias assentadas. Sendo que dos municípios goianos que apresentam mais de 40% do total de famílias beneficiadas representantes do grupo específico rural, apenas Flores de Goiás não se encontra em nenhuma das regiões que representam mais de 73% dos assentamentos. Baliza que tem 64% das suas famílias beneficiárias do PBF pertencentes ao meio rural, também possui o maior assentamento do estado de Goiás, o assentamento Oziel Alves Pereira, com 38.559 hectares e 526 famílias assentadas (INCRA, 2016), confirmando um importante fator que leva o município a apresenta um percentual tão alto de famílias do meio rural recebendo os benefícios do PBF.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Baliza Flores de Goiás

Amarialina Cavalcante Bonópolis

64%

59%

50% 47%

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Figura 05: Municípios goianos que apresentam mais de 40% do total de famílias beneficiadas pertencentes ao grupo específico étnico.

Fonte: Dados trabalhados pelo autor a partir de Relatório de Informações (RI) do Bolsa Família e Cadastro Único (2017).

A figura 05 apresenta dados dos municípios goianos que representaram mais de 40% do total de famílias beneficiárias do PBF, representantes de Grupo Étnico (Famílias Quilombolas, Famílias Indígenas, Famílias Ciganas e Famílias pertencentes a Comunidades de Terreiro). O município de Cavalcante possui 54% das suas famílias beneficiárias no grupo étnico. O cerrado brasileiro, onde se localiza o estado de Goiás, é composto por mais de 80 etnias diferentes. Uma dessas etnias são os “Calungas”, segundo Neiva (2008) os Calungas são descendentes de escravos fugidos e libertos das minas de ouro do Brasil central que formaram comunidades autossuficientes e que viveram mais de duzentos anos isolados em regiões remotas próximas à Chapada dos Veadeiros. Das três comunidades Kalungas de Goiás duas estão em municípios como Terezinha de Goiás que do total de 415 famílias beneficiarias, 203 fazem parte dos grupos étnicos, representando 48% do seu total e Cavalcante município com 9.660 habitantes (IBGE, 2016), que abriga grande parte da comunidade calunga no Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, com 1.029 famílias beneficiárias, 558 fazem parte do grupo étnico. Assim, percebe-se a importância dos Grupos tradicionais e específicos na identificação do perfil dos municípios.

5- CONCLUSÃO

Podemos concluir que é de tamanha importância o conhecimento das diferenças regionais existentes no território e os diversos grupos tradicionais existentes, que por muitas vezes são negligenciados pelo estado, em busca de tornar mais eficiente as políticas sociais focalizadas em famílias pobres e extremamente pobres. A pesquisa aborda geograficamente uma temática fundamental da agenda de política pública brasileira, especialmente diante do atual quadro de

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Cavalcante Terezinha de Goiás Barro Alto

54%

48%

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instabilidade pelo qual passa o país e que reforça a necessidade de análises rigorosas sobre os efeitos do PBF no território. É de grande importância que a sociedade tenha conhecimento do resultado dessa investigação, pois as transferências de renda têm sua importância no enfrentamento da pobreza e as desigualdades sociais. Assim, contribuindo para o conhecimento geográfico no estado de Goiás, no campo das políticas sociais.

REFERÊNCIAS

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http://www.revistas.usp.br/r…/article/download/125168/122267>. Acesso em: 21 jun. 2019

BATISTA, Analía Soria; FRANÇA, Karla Christina Batista; BERDET, Marcelo. Metropolização, homicídios e segurança pública na área metropolitana de Brasília: o município de Águas Lindas de Goiás. Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 2, n. 31, p.433-457, maio 2016. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/se/v31n2/0102-6992-se-31-02-00433.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2019 BRASIL.MDS.2018. Disponível em: http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi-data/misocial/tabelas/mi_social.php.Acesso em: 29.jun.2019

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NEIVA, Ana Cláudia Gomes Rodrigues. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA COMUNIDADE QUILOMBOLA KALUNGA E PROPOSTA DE REINTRODUÇÃO DO

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BOVINO CURRALEIRO COMO ALTERNATIVA DE GERAÇÃO DE RENDA. 2009. 156 f. Tese (Doutorado) - Curso de Medicina Veterinária, Evz, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2009. Cap. 1. Disponível em: <http://ppgca.evz.ufg.br/up/67/o/Tese2009_Ana_Claudia.pdf>. Acesso em: 20.jun.2019

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Tabela 01: Número de famílias e valor repassado das cinco regiões do Brasil.
Tabela 02: Quantidade de famílias beneficiárias e valor repassado nas 10 regiões de planejamento  do estado de Goiás
Figura 03: Percentual de famílias beneficiárias do PBF em relação à população, no estado de Goiás
Figura 04: Percentual do total das famílias dos Grupos populacionais tradicionais e específicos no estado de Goiás
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