Prof. Célio Luiz Banazeski
GESTÃO DE CONTRATOS E CONVÊNIOS EM SERVIÇOS DE SAÚDE
AULA 5
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CONVERSA INICIAL
Dois aspectos importantes na Gestão de Contratos e Serviços de Saúde se referem à Política Nacional de Humanização e à Cogestão Participativa na administração dos convênios. Desse modo, faz-se necessário conhecer os aspectos normativos e práticos dessa relação.
Antes de começar, acesse o material on-line e confira a videoaula com os comentários iniciais do professor Célio.
CONTEXTUALIZANDO
Abordaremos alguns temas importantes, os quais você confere a seguir:
Política Nacional de Humanização
os seus princípios, alguns conceitos referentes à política, os resultados esperados e os parâmetros para a implementação de ações na atenção hospitalar.
Cogestão
TEMA 1 – POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO
A Política Nacional de Humanização foi apresentada em 2003 e tem por objetivo estabelecer os princípios norteadores do Sistema Único de Saúde (SUS), com o pressuposto de melhorar a qualidade do atendimento, da assistência e do modo de gestão.
Desse modo, propõe estimular o diálogo entre as diversas partes interessadas, como gestores, colaboradores e os usuários do sistema, a fim de aprimorar as relações decorrentes da atividade de atendimento da saúde no Brasil pelos prestadores de serviço do SUS.
Princípios
Os princípios da Política Nacional de Humanização são:
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Transversalidade
No conceito de transversalidade, a Política Nacional de Humanização se propõe a estar incluída em diversas formas de políticas governamentais afetas ao SUS.
Assim, procura aprimorar a forma e o modelo de trabalho com maior comunicação entre as partes envolvidas, independentemente do cargo ou da situação em que se encontra.
Indissociabilidade
A tomada de decisão por parte da gestão pode interferir diretamente no tipo de assistência ou atenção prestada. Sendo assim, colaboradores, pacientes e familiares devem ter em mente a busca por conhecimento em relação ao modo de funcionamento do modelo de gestão do SUS e de sua rede, como também ter participação efetiva nos processos de decisão.
Protagonismo
O protagonismo das mudanças no modelo de gestão e na assistência é mais forte e duradoura, além de ser elaborada com autonomia e decisão das pessoas envolvidas no processo, compartilhando, assim, as diversas responsabilidades.
Transversalidade Indissociabilidade Protagonismo
A interdisciplinaridade e o contato com as necessidades dos pacientes devem proporcionar um melhor estado de saúde.
Por isso o tipo de cuidado e o tipo de assistência prestada ao paciente não é restrita à equipe de saúde, mas, sim, à comunidade a que pertence.
Desse modo, o usuário do sistema passa a ter forma participativa nas decisões, pois o SUS humanizado tem por objetivo reconhecer que cada cidadão pode melhorar o sistema de
saúde.
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Ainda podemos citar mais alguns princípios definidos no documento base para gestores e trabalhadores do SUS (2006):
Valorização da dimensão subjetiva, coletiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, destacando-se o respeito às reivindicações de gênero, cor/etnia, orientação/expressão sexual e de segmentos específicos (populações negras, do campo, extrativistas, povos indígenas, remanescentes de quilombos, ciganos, ribeirinhos, assentados etc.);
Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, fomentando a transversalidade e a grupalidade;
Apoio à construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde e com a produção de sujeitos;
Construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos implicados na rede do SUS;
Corresponsabilidade desses sujeitos nos processos de gestão e atenção;
CONCEITOS Acolhimento
Considera-se acolhimento o fato de reconhecer no usuário do sistema as suas necessidades de saúde. Serve como base para que hospitais e suas equipes sustentem as diversas relações entre os usuários e os prestadores de serviço.
É operacionalizada por meio de um sistema qualificado de atendimento ao cliente/paciente, possibilitando oportunidade e acesso a serviços e tecnologias adequadas às suas necessidades.
Cogestão
Conceitualmente, cogestão é a devida inclusão de novos atores nas atividades de análise e decisão. É operacionalizada por meio de dois grupos de atuação:
um que diz respeito à organização de um espaço comum de gestão, que possibilite o acordo entre necessidades e interesses de pacientes, colaboradores e gestores do sistema; outro que se refere àqueles ligados às ferramentas que podem garantir a participação de pacientes e familiares no dia a dia das instituições ou unidades que atendam ao SUS.
Ambiência
A ambiência é o fato de elaborar estruturas acolhedoras e com conforto para respeitar a privacidade, propiciando, assim, alterações no modo de trabalho para contribuir para reuniões e encontro de pessoas.
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Clínica compartilhada
É uma espécie de ferramenta teórica e prática que tem por objetivo melhorar a abordagem da assistência dos pacientes quando em adoecimento. É implantada por meio da utilização de recursos para o aprimoramento dos sistemas de diagnósticos e na forma de diálogo entre os atores de gestão do sistema.
Resultados esperados
Segundo o documento base para gestores e trabalhadores do SUS (2006), os resultados esperados com o Programa Nacional de Humanização são:
As unidades de saúde garantirão os direitos dos usuários, orientando-se pelas conquistas já asseguradas em lei e ampliando os mecanismos de sua participação ativa, e de sua rede sociofamiliar nas propostas de intervenção, acompanhamento e cuidados em geral;
As unidades de saúde garantirão gestão participativa aos seus trabalhadores e usuários, com investimento na educação permanente dos trabalhadores, na adequação de ambiência e espaços saudáveis e acolhedores de trabalho, propiciando maior integração de trabalhadores e usuários em diferentes momentos (diferentes rodas e encontros);
Serão implementadas atividades de valorização e cuidado aos trabalhadores da saúde.
Para estabelecer os resultados esperados pelo programa, são necessários alguns dispositivos determinados pelo Documento Base para Gestores e Trabalhadores do SUS (2006):
Acolhimento com classificação de risco;
Equipes de referência e de apoio matricial;
Projeto terapêutico singular e projeto de saúde coletiva;
Projetos de construção coletiva da ambiência;
Colegiados de gestão;
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Contratos de gestão;
Sistemas de escuta qualificada para usuários e trabalhadores da saúde: gerência de “porta aberta”, ouvidorias, grupos focais e pesquisas de satisfação;
Projeto “Acolhendo os Familiares/Rede Social Participante”: visita aberta, direito de acompanhante e envolvimento no projeto terapêutico;
Programa de Formação em Saúde e Trabalho e Comunidade Ampliada de Pesquisa;
Programas de qualidade de vida e saúde para os trabalhadores da saúde;
Grupo de trabalho de humanização.
Para se obter esses resultados, o Documento Base para Gestores e Trabalhadores do SUS (2006) também recomenda uma série de parâmetros de orientação para a estruturação de ferramentas de gestão:
Ampliação de diálogos entre trabalhadores e a população: a ideia é proporcionar um aumento significativo no processo de participação na gestão das comunidades em que o sistema esteja inserido;
Fortalecimento de grupos de trabalho: com o incentivo no aumento da participação de grupos de trabalhos multidisciplinares, com gestores e atores da comunidade o plano de trabalho passa a ter maior chance de eficiência;
Estimular ações de atenção compartilhadas: com estímulo a ações multidisciplinares para melhor utilização de recursos, tais como medicamentos, insumos e equipamentos;
Sensibilização contra a violência: motivar e sensibilizar as equipes de saúde dos diversos níveis para o problema social da violência, tais como:
violência contra mulher
violência contra idoso
violência contra a criança
manifestações de preconceitos (raça, sexo, religião etc.)
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Adequação à cultura do paciente: respeitar os aspectos culturais do paciente e de seus familiares, assim como nas questões de dignidade, respeito e privacidade.Parâmetros para implementação de ações na atenção hospitalar
Segundo o Documento Base para Gestores e Trabalhadores do SUS (2006), existem alguns parâmetros a serem implementados:
1) Parâmetros para o Nível B:
Existência de Grupos de Trabalho de Humanização (GTH) com plano de trabalho definido;
Garantia de visita aberta, pela presença do acompanhante e de sua rede social, respeitando a dinâmica de cada unidade hospitalar e peculiaridades das necessidades do acompanhante;
Mecanismos de recepção com acolhimento aos usuários;
Mecanismos de escuta para a população e trabalhadores;
Equipe multiprofissional (minimamente com médico e enfermeiro) que se estabeleça como referência para os pacientes internados, com horário pactuado para atendimento à família e/ou sua rede social;
Existência de mecanismos de desospitalização, visando alternativas às práticas hospitalares como as de cuidados domiciliares;
Garantia de continuidade de assistência, com ativação de redes de cuidados para viabilizar a atenção integral;
Garantia de participação dos trabalhadores em atividades de educação permanente;
Promoção de atividades de valorização e de cuidados aos trabalhadores da saúde, contemplando ações voltadas para a promoção da saúde e qualidade de vida no trabalho;
Organização do trabalho com base em metas discutidas coletivamente e com definição de eixos avaliativos, avançando na implementação de contratos internos de gestão.
2) Parâmetros para o Nível A:
Grupo de Trabalho de Humanização (GTH) com plano de trabalho implantado;
Garantia de visita aberta, pela presença do acompanhante e de sua rede social, respeitando a dinâmica de cada unidade hospitalar e peculiaridades das necessidades do acompanhante;
Ouvidoria funcionando;
Equipe multiprofissional com médico e enfermeiro, com apoio matricial de psicólogos, assistentes sociais, psicoterapeutas, terapeutas ocupacionais, farmacêuticos e nutricionistas, que se estabeleça como referência para os pacientes internados, com horário pactuado para atendimento à família e/ou sua rede social;
Existência de mecanismos de desospitalização, visando alternativas às práticas hospitalares como as de cuidados domiciliares;
Garantia de continuidade de assistência, com ativação de redes de cuidados para viabilizar a atenção integral;
Conselho de gestão participativa, com funcionamento adequado;
Existência de acolhimento com avaliação de risco nas áreas de acesso (pronto atendimento, pronto-socorro, ambulatório, serviço de apoio diagnóstico e terapia);
Atividades sistemáticas de capacitação, compondo um projeto de educação permanente para os trabalhadores, contemplando diferentes temáticas permeadas pelos princípios e conceitos da Política Nacional de Humanização (PNH);
Promoção de atividades de valorização e de cuidados aos trabalhadores da saúde, contemplando ações voltadas para a promoção da saúde e qualidade de vida no trabalho;
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Organização do trabalho com base em metas discutidas coletivamente e com definição de eixos avaliativos, avançando na implementação de contratos internos de gestão.
TEMA 2 – COGESTÃO
Para implementar a cogestão, é necessário acompanhar que a Política Nacional de Humanização define dois grandes grupos de trabalho:
No grupo de organização do espaço coletivo de gestão, é necessário que existam diversos acordos entre as diferentes vontades e interesses dos pacientes e seus familiares e, também, dos gestores e profissionais envolvidos.
Para o grupo de garantia de participação efetiva e ativa dos pacientes, familiares e comunidade no dia a dia das unidades de saúde, a fim de estreitar as relações de gestão, necessidades e realidade, permitindo, de certa forma, a participação e a interação de familiares nos projetos terapêuticos, também como forma de aprimorar a garantia de direitos.
Esses grupos devem ser elaborados segundo a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS, no seu Manual de Gestão Participativa e Cogestão (2009), onde os principais são:
Grupos de Trabalho de Humanização (GTH): devem ter as seguintes características: Participativos e democráticos
Política de resgate de valores:
universalidade
integralidade
equidade
Proativo (benefícios para as partes envolvidas) Organização
do espaço
Mecanismos de garantia
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Difusão das bases da humanização, pesquisa de pontos críticos
Promoção do trabalho multiprofissional
Propor melhorias nos processos e na comunicação
Colegiados gestores de hospital, de distritos sanitários e secretarias de saúde: é formado por diversos profissionais envolvidos com o sistema, tais como coordenadores ou gestores ligados ao atendimento do paciente e seus familiares, representantes do setor público como secretários de saúde etc. Desse modo, têm a responsabilidade de confeccionar o Projeto Diretor do Município em integração com o hospital envolvido no atendimento. Deve sobretudo, definir os quais são os investimentos, os projetos e os recursos prioritários das diversas unidades, além de prestar contas aos Conselhos Gestores.
Colegiado Gestor da Unidade de Saúde: tem conforme o Manual de Gestão participativa e cogestão (2009) as seguintes atribuições: Elaborar o projeto de ação
Atuar no processo de trabalho da unidade
Responsabilizar os envolvidos
Acolher e encaminhar as demandas dos usuários; criar e avaliar os indicadores
Sugerir e elaborar propostas e criar estratégias para o envolvimento de todos os membros e equipes do serviço
Mesa de negociação permanente: são os diversos tipos de fóruns ou colegiados de discussão que, em reunião com os diversos participantes do processo (colaboradores, comunidade, paciente, familiares etc.), com o escopo de administrar os diversos interesses em relação ao serviço prestado;
Contratos de gestão: normalmente, são elaborados entre diversas instâncias de governo e unidades de saúde e/ou hospitais, onde são definidas metas nas seguintes áreas: Ampliação do acesso, qualificação e humanização da atenção
Valorização dos trabalhadores, implementação de gestão participativa
Garantia de sustentabilidade da unidade
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TROCANDO IDEIAS
Com base nos vídeos a que você assistiu no acervo digital da Rede Humaniza SUS, verifique com seus familiares e amigos se eles têm conhecimento desse programa.
NA PRÁTICA
Ainda com base nos vídeos do acervo digital da Rede Humaniza SUS e no que aprendeu nesta aula, tente verificar com amigos, parentes ou familiares, ou mesmo nos órgãos públicos de sua cidade, se há algum dos requisitos propostos para o atendimento humanizado do SUS e a cogestão.
Com base nessa pesquisa de campo e com as informações aqui expostas, como você avalia, agora, sua capacidade de acompanhar o atendimento do SUS no quesito humanização e cogestão?
SÍNTESE
Para realizarmos um serviço de qualidade na saúde e, principalmente, no SUS, são necessárias uma série de ações que permitam uma gestão compartilhada, a fim de que o paciente e seus familiares tenham um atendimento humanizado.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Carta dos direitos dos usuários da saúde. 3.
ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
_____. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Humaniza SUS: documento base para gestores e trabalhadores do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. 3. ed. Brasília:
Ministério da Saúde, 2006.
_____. Ministério da saúde. Secretaria de atenção à saúde. Política nacional de Humanização da atenção e Gestão do SUS: Gestão participativa e cogestão / Ministério da saúde, secretaria de atenção à saúde, Política nacional de Humanização da atenção e Gestão do SUS. Brasília: Ministério da saúde, 2009.
_____. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Regulação Avaliação e Controle de Sistemas. Manual de orientações para contratação de serviços do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Regulação Avaliação e Controle de Sistemas. Brasília:
Ministério da Saúde, 2007.
_____. Constituição (1988). Constituição: República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado Federal, 1998.
_____. Portaria n. 1.820, de 13 de agosto de 2009. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 ago. 2009. Dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde.
_____. Manual das Organizações Prestadoras de Serviço de Saúde. Brasília:
Organização Nacional de Acreditação, 2014.
DONABEDIAN, A. A. Gestão da Qualidade Total na Perspectiva dos Serviços de Saúde. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1994.