• Nenhum resultado encontrado

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP"

Copied!
152
0
0

Texto

(1)

Luciene Pazinato da Silva

A política de comunicação televisiva no Brasil e na Espanha

Doutorado em Ciências Sociais

São Paulo

2016

(2)

Luciene Pazinato da Silva

A política de comunicação televisiva no Brasil e na Espanha

Doutorado em Ciências Sociais

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de DOUTORA em Ciências Sociais, área de concentração Política, sob orientação da profa. Dra. Vera Lúcia Michalany Chaia.

São Paulo

2016

(3)

Banca Examinadora

(4)

Dedico este trabalho aos que lutam por justiça social.

(5)

Agradeço o apoio institucional da CAPES, pelo qual pude realizar meu doutorado-sanduíche na Universidade de Valladolid, Espanha, no segundo semestre de 2014, processo no.

99999.006352/2014-6. Igualmente, o apoio institucional da FUNDASP, no período de 2013 a

2016.

(6)

Às minhas orientadoras, professoras doutoras Vera Lúcia Michalany Chaia, da PUC-SP, e professora doutora Eva Maria Campos Domínguez, da Universidade de Valladolid, Espanha;

Às professoras e professores da Universidade de Valladolid;

às professoras e professores da UTFPR e da UFPR;

aos profissionais da RTVE, sede Madri, Espanha;

ao professor doutor Laurindo Leal Filho, da TV Brasil, São Paulo;

à jornalista Rita Freire, presidenta do Conselho Curador da EBC;

aos colegas da PUC-SP e Unibrasil;

aos colegas, funcionários e funcionárias da Residência Universitária de Postgrado Reyes Católicos, Valladolid;

aos profissionais de revisão, tradução e edição dessa tese;

ao apoio carinhoso de Andréa Contin e Marise Manoel;

e, em especial, à minha família.

(7)

RESUMO

O objetivo desta tese é compreender o papel da televisão no contexto social e político na Espanha e no Brasil, assim como o processo constitutivo da informação pública veiculada nos canais públicos de televisão sobre os movimentos sociais, considerando o enquadramento dado pelos telejornais quanto à visibilidade dos atores sociais e políticos nas manifestações.

Para isso, realizou-se uma análise comparativa da comunicação pública entre Espanha e Brasil, tomando como objeto de pesquisa a cobertura jornalística realizada pelos noticiários do telejornal Telediario 2, do Canal La 1, da Televisão Pública Espanhola – RTVE, sobre o Movimento 15-M, os “Indignados”, ocorrido nas principais praças das capitais das Comunidades Autônomas da Espanha, nos meses de maio e junho de 2011, e a cobertura do telejornal Repórter Brasil, da televisão pública brasileira TV Brasil, durante as manifestações de junho de 2013, no Brasil, que ocorreram nas principais ruas, avenidas e praças das capitais do país, durante as quatro semanas daquele mês. Considerou-se a contribuição dos teóricos contemporâneos da comunicação política, dos movimentos sociais, das discussões sobre televisões públicas. Foi utilizada a metodologia de enquadramento da mídia para o estudo empírico, resultando, nas análises das matérias veiculadas, a predominância da limitada visibilidade dada aos movimentos sociais.

Palavras-chave: comunicação pública televisiva, movimentos sociais, visibilidade.

(8)

ABSTRACT

The aim of the current thesis is to understand the role of the television into the social and political context in Brazil and in Spain, as well as the constitutive process of public information broadcasted on the public TV channels about the social movements, considering the framing (or background) given by the news channels in relation to the visibility of the social actors, and of the politicians during the manifestations. In order to do so, a comparative analysis of the public communication between Spain and Brazil was conducted, and the research aim was on the press coverage performed by the following TV news programs:

Telediario 2, Canal La 1, Spanish Public TV – RTVE, about 15-M Movement, “Indignados”

(“The Outraged”), which took place at the main squares of the Capitals of the Autonomous Communities of Spain, in the months of May and June of 2011, and the news broadcast of Repórter Brasil, of the Brazilian public TV, TV Brasil, during the manifestations that took place on the main streets, avenues and squares of the capitals in Brazil during the four weeks of June 2013. We considered the contribution given by the contemporaneous theoreticians of the political communication, as well as the social movements themselves, and the discussions about public TV. The methodology of media framing was used for the empirical study, and it resulted in the analyses of the matters broadcasted, and in the predominance of the limited visibility given to the social movements.

Key words: public TV communication, social movements, visibility.

(9)

RESUMEN

El objetivo de esta investigación es comprender el papel de la televisión en el contexto social y político de España y de Brasil, así como también el proceso constitutivo de la información veiculada en los canales públicos de televisión sobre los movimientos sociales, considerando el abordaje de los telediarios en cuanto a la visibilidad de los actores sociales y políticos en las manifestaciones. Para ello, se ha realizado un análisis comparativo de la comunicación pública entre España y Brasil, tomando como objeto de estudio: la cobertura periodística realizada por los noticieros del Telediario 2, Canal La 1, de la Televisión Pública Española RTVE, sobre el Movimiento 15-M, los Indignados, ocurrido en las principales plazas de las capitales de las Comunidades Autónomas de España, en los meses de mayo y junio del año 2011; y la cobertura del telediario Repórter Brasil, de la televisión pública brasileña TV Brasil, durante las manifestaciones de junio del 2013, en Brasil, que tuvieron lugar en las principales calles, avenidas y plazas de las capitales del país, durante las cuatro semanas de aquel mes. Se ha considerado la contribución de los teóricos contemporáneos de la comunicación política, de los movimientos sociales y de las discusiones sobre televisiones públicas. Fue utilizada la metodología del marco mediático para el estudio empírico, que ha demostrado, en los análisis de los artículos veiculados, el predominio de la limitada visibilidad de los movimientos sociales.

Palabras clave: Comunicación pública televisiva. Movimientos sociales. Visibilidad.

(10)

15-M Movimiento 15 de Mayo

ANCOP Coordenação Nacional do Comitê Popular da Copa BACEN Banco Central

CEIM Confederación Empresarial Independiente de Madrid de la Pequeña, Mediana y Gran Empresa

CEOE Confederación Española de Organizações Empresariais COCEM Confederación de Comércio de Madrid

CTB Código Brasileiro de Telecomunicações CUT Central Única dos Trabalhadores

DRY! Democracia Real Ya!

EBC Empresa Brasil de Comunicação ERE Expediente de Regulación de Empleo FGV Fundação Getúlio Vargas

FPE Fundo de participação dos Estados

G-8 Grupo dos 08 países mais ricos e influentes do mundo

GAECO Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBOPE Instituto Brasileiro de Pesquisa

IEA-USP Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo IU Partido Izquierda Unida

LGBT Movimento Lésbicas Gays, Bissexuais e Transexuais MPL Movimento Passe Livre

MST Movimento dos Sem Terra OAB Ordem dos Advogados do Brasil PDT Partido Democrático Trabalhista PEC Proposta de Emenda à Constituição

PMDB Partido do Mobilização Democrático Brasileiro PP Partido Popular

PSOE Partido Socialista Obrero de España PT Partido dos Trabalhadores

RTVE RadioTelevisión Española SPTRans São Paulo Transporte S.A.

STF Supremo Tribunal Federal

UNE União Nacional dos Estudantes

USP Universidade de São Paulo

(11)

Figura 01 – Democracia real Ya! ... 110

Figura 02 – 15-M na Praça Catalunha, Barcelona ... 113

Figura 03 - Assembleia dos acampados em Madri ... 116

Figura 04 - Puerta del So, durante o dia de 03 de junho de 2011, Madri ... 116

Figura 05 - Puerta del Sol, durante a noite de 03 de junho de 2011, Madri ... 117

Figura 06 - Reunião dos porta-vozes de todos os acampados do 15-M da Espanha ... 118

Figura 07 - Passeata organizada pelos “Indignados” ... 121

Figura 08 - Primeira imagem do telejornal das manifestações de transporte coletivo 127 Figura 09 - Primeira imagem das manifestações em São Paulo ... 127

Figura 10 - Presidenta Dilma Rousseff falando sobre as manifestações em Marco Regulatório da Mineração em Brasília ... 134

Figura 11 - Rampa do Congresso Nacional, em Brasília, durante a Marcha do Vinagre ... 134

Figura 12 - Comemoração na Av. Paulista da revogação da passagem de ônibus... 135

Figura 13 - Imagem de fundo do telejornal Repórter Brasil sobre as manifestações... 135

Figura 14 - Imagem de fundo do telejornal Repórter Brasil sobre as manifestações... 136

Figura 15 - Quadro Pauta das ruas, do telejornal ... 141

Figura 16 - Reunião da presidenta com líderes do MPL ... 141

Figura 17 - Presidenta Dilma em reunião com governadores e prefeitos ... 142

Figura 18 - Presidenta em reunião com representantes de movimentos sociais ... 142

(12)

Gráfico 01 - Share das cadenas de televión 1999-2015... 57

Gráfico 02 - Produção de conteúdos da EBC para a TV Brasil – 2015 ... 73

Gráfico 03 - Tempo do 15-M no telejornal La 1 em 04 semanas ... 107

Gráfico 04 - Tempo das manifestações de junho de 2013 no telejornal Repórter

Brasil em 04 semanas ... 125

(13)

Ilustração 01 – Orçamento anual EBC – 2015 ... 71

Ilustração 02 - Convocatória do DRY! nas redes sociais ... 111

Ilustração 03 - Cálculo da passagem de ônibus em São Paulo... 129

(14)

Quadro 01- Financiación de los medios publico en Europa ... 54 Quadro 02 – Share das cadenas de televión 1999-2015 - en porcentajens ... 57 Quadro 03 - Canal La 1, telejornal Telediario 2 – Inserções do Movimento 15-M, os

“Indignados”, Espanha – maio/ junho de 2011 ... 98

Quadro 04 - Canal TV Brasil, telejornal Reporte Brasil – Manifestações junho de

2013 no Brasil. ... 99

Quadro 05 - Enquadramento do/a apresentador/ra no telejornal LA 1, RTVE ... 106

Quadro 06 - Enquadramento da matéria no telejornal LA 1, RTVE ... 106

Quadro 07 - Enquadramento do/a apresentador/ra no telejornal Repórter Brasil, TV

Brasil ... 125

Quadro 08 - Enquadramento da matéria no telejornal Repórter Brasil, TV Brasil ... 125

(15)

Introdução ... 17

Capítulo 1- Produção da imagem pública ... 23

1.1. A comunicação e a visibilidade pública ... 23

1.2. A política midiática contemporânea ... 28

Capítulo 2- A televisão e a política de comunicação pública na Espanha ... 39

2.1. Estrutura do sistema de televisão pública da Espanha - a RTVE ... 39

2.1.1. A Radiotelevisión española – RTVE ... 39

2.1.2. Sobre a estrutura da rádio e televisão da Corporação RTVE ... 40

2.1.3. História política, social e econômica da RTVE ... 41

Capítulo 3- A televisão e a política de comunicação pública no Brasil ... 59

3.1. Estrutura do sistema de televisão pública no Brasil ... 59

3.1.1. História da televisão pública brasileira ... 60

3.1.2. A demanda crescente por TV pública ... 64

3.1.3. A televisão no âmbito da Empresa Brasil de Comunicação ... 66

Capítulo 4- Comunicação pública no Brasil e na Espanha ... 81

4.1. Contexto dos movimentos sociais contemporâneos ... 84

4.2. Metodologia da cobertura dos noticiários sobre as manifestações ... 93

4.2.1. Análise da pesquisa empírica ... 96

4.3. O Movimento 15-M- Os “indignados” da Espanha ... 99

4.3.1. Análise dos noticiários do 15-M no Telediario 2- TVE ... 105

4.3.1.1. Primeira semana: explicações sobre o 15-M ... 107

4.3.1.2. Segunda semana: retirar o 15-M de la Puerta del Sol ... 111

4.3.1.3. Terceira semana: tentativa de retirar o Movimento 15-M das praças 113 4.3.1.4. Quarta semana: 15-M seguem pelas ruas, deixam as praças ... 117

4.4. As manifestações de junho de 2013 no Brasil ... 121

4.4.1. Análise dos noticiários das Manifestações de junho de 2013 no telejornal Repórter Brasil – TV Brasil ... 123

4.4.1.1. Primeira fase: início de junho, pouca visibilidade ... 126

4.4.1.2. Segunda fase: reação das autoridades em São Paulo ... 127

4.4.1.3. Terceira fase: expansão das manifestações pelo país ... 129

4.4.1.4. Quarta fase: visibilidade dos poderes públicos ... 136

Considerações finais ... 143

Referências bibliográficas e digitais ... 148

(16)

Introdução

A partir do final do século XX, a institucionalização de canais de televisão pelo Estado recoloca a questão sobre o papel da televisão pública na sociedade contemporânea e sobre o modo pelo qual, nela, as informações que envolvem demandas da população ganham centralidade. Para compreender esse cenário, são necessárias pesquisas aprofundadas para o detalhamento do modo como se dá o debate político sobre a esfera pública, mediado pela televisão.

Esta pesquisa busca realizar uma análise comparativa dos processos políticos e da comunicação pública na Espanha e no Brasil, tomando como objeto de pesquisa a cobertura jornalística realizada pelos noticiários do telejornal Telediario 2, do Canal La 1, da Televisão Pública Espanhola – RTVE, sobre o Movimento 15-M, os “Indignados”, ocorrido nas principais praças das capitais das Comunidades Autônomas da Espanha, nos meses de maio e junho de 2011, e a cobertura do telejornal edição da noite do Repórter Brasil, da televisão pública brasileira TV Brasil, durante as manifestações de junho de 2013, no Brasil, que ocorreram nas principais ruas, avenidas e praças das capitais do país, durante as quatro semanas daquele mês.

Com os resultados desta investigação, busca-se compreender não só o papel da televisão no contexto social e político, presente nessas democracias, como também o processo constitutivo da informação pública veiculada nos canais públicos de televisão sobre esses movimentos sociais. Dessa forma, serão aprofundadas as pesquisas comparativas sobre o modelo de funcionamento da mídia televisiva pública, especificamente com relação aos processos políticos envolvidos naqueles episódios de 2011 na Espanha e de 2013 no Brasil.

Visando contribuir para os estudos da comunicação política, esta tese propõe analisar comparativamente as informações de caráter político, social, cultural e econômico veiculadas pela televisão pública espanhola e pela televisão pública brasileira quanto à visibilidade dos atores sociais e políticos nos contextos atuais.

Nesta investigação, parte-se da hipótese de que as mudanças políticas e sociais

ocorridas na Espanha e no Brasil, nas últimas décadas do século XX, alteraram,

significativamente, o modelo de televisão pública que os países vinham produzindo até aquele

momento, o que demandou um novo modelo de veiculação de informação e conteúdo

condizente com a realidade histórica e política em processo.

(17)

O período de transição política da Espanha, de 1975 a 1982, da ditadura para a democracia, significou uma ruptura do modelo de televisão pública – que terá um papel importante em favor da transição democrática – naquele país. No Brasil, nos anos de 1980, período que se inicia o processo de redemocratização, a retomada do tema sobre a comunicação pública televisiva é pauta da agenda de profissionais da área, cuja ideia é o debate da informação pública.

Porém, neste início do século XXI, um novo fenômeno social será observado, tanto na Espanha quanto no Brasil, contribuindo para uma nova ruptura política: as manifestações de rua. Esses movimentos sociais buscam questionar e legitimar não só um debate mais participativo e efetivo da população sobre as formas de democracia representativa presentes nesses países, como também a maneira pela qual os respectivos governos têm realizado suas agendas públicas.

Assim, propõe-se refletir, a partir da pesquisa, de que forma os noticiários dos telejornais dos canais públicos de televisão La 1, na Espanha, e TV Brasil, no Brasil, abordaram as lutas desses movimentos sociais. Qual a visibilidade dada no enquadramento da mídia televisiva sobre os movimentos nos telejornais? Nesse aspecto, é importante compreender a forma de organização e estruturação do conteúdo mediático, veiculado nesses canais públicos de televisão. Para desenvolver tais discussões, no âmbito da comunicação política, estruturou-se a tese da seguinte forma:

O capítulo 1 – “Produção da imagem pública” – aprofunda as análises sobre a investigação na comunicação política, discorrendo sobre visibilidade, mídia e política, os meios de comunicação de massa, a autocomunicação de massa e a prática política, esfera pública, cujas referências são os estudos de Thompson (1998), Castells (1999), Rubim (2000), Miguel (2002) e Gomes (2004). Esses autores discutem a visibilidade dada aos atores políticos como um imperativo das comunicações, considerando o campo político profundamente modificado pela presença da mídia nas democracias contemporâneas. É nesse momento que se assiste a uma crise de legitimação midiática e crise do poder político, de acordo com Ramonet (2013).

Nas democracias contemporâneas, a visibilidade política na mídia televisiva tem sido

transformada pela presença da Internet e tem ocasionado uma ruptura no modelo de

comunicação de massa, a que Castells (2009 e 2009b) chama de autocomunicação,

ressignificando a esfera pública e, consequentemente, a produção da visibilidade – paradigma

propiciado pela cultura da convergência, com as transformações midiáticas advindas das

mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais, de acordo com Jenkins (2009).

(18)

O capítulo 2 – “A televisão e a política de comunicação pública na Espanha” – e o Capítulo 3 – “A televisão e a política de comunicação no Brasil” – terão enfoque comparativo, apresentando semelhanças e diferenças, no que diz respeito ao funcionamento de cada um desses canais, com o objetivo de debater os processos midiáticos televisivos de ambos os países e o papel desses processos na esfera pública. Consideram-se, para esta análise, o histórico dos canais e os processos sociais, econômicos e políticos decorrentes de cada país. Enfoca-se, também, a própria transformação da televisão diante do contexto atual.

Para essa análise, os autores de referência que abordam a RTVE são: Giordano &

Zeller (1999), Valente (2009), Bustamante (2006 e 2012), Martín Jimenez (2013), Gutiérrez (2013), Fernandez (2016). No Brasil, são eles: Jambeiro (2008), Valente (2009), Bucci (2015) e Cruvinel (2016). Além desta bibliografia, foram realizadas entrevistas com professores e especialistas da área, que serviram para ampliar o debate sobre o papel das televisões públicas de acordo com cada país. Também foram usadas informações da página da internet dos canais de televisão.

O capítulo 4 – “Comunicação pública no Brasil e na Espanha” – foi assim estruturado:

inicia-se com os estudos dos sistemas midiáticos de Hallin & Mancini (2008) que apresentam, comparativamente, os diferentes modelos de desenvolvimento dos meios de comunicação e dos sistemas políticos de determinadas regiões da Europa e América do Norte. Dentre esses modelos, destacamos o Pluralista Polarizado ou Mediterrâneo, no qual está inserida a Espanha, que aponta para o paralelismo político entre os meios de comunicação e os partidos políticos e o grau e a natureza da intervenção estatal no sistema de meios de comunicação. As descrições abordadas pelos autores contribuíram para o perfil de desenvolvimento da comunicação na Espanha.

O modelo Pluralista Polarizado ou Mediterrâneo é também um modelo possível de ser aplicável à América Latina, em função tanto dos padrões de difusão cultural quanto do desenvolvimento histórico dos meios de comunicação e dos sistemas políticos (HALLIN &

MANCINI, 2008). É essa aplicabilidade, inclusive, que permite justificar a importância de se aproximarem realidades tão distintas e necessárias para o estudo da comunicação política entre Espanha e Brasil. Destacou-se, por isso, a forma de representação política entre os dois países.

A Espanha é uma democracia parlamentarista, garantida desde a Constituição de 1978.

Em 2011, quando iniciaram as manifestações do 15-M, o país estava em pleno período pré-

eleitoral, em campanha para as eleições municipais das 17 comunidades autônomas. Um dos

objetivos do 15-M, como será mostrado, era levar à população uma reflexão do que seria de

(19)

fato uma democracia representativa. O Brasil, por sua vez, é uma democracia representativa presidencialista, garantida pela Constituição de 1988. Em 2013, na época das manifestações de junho, o país não estava em período eleitoral, mas havia discussões dos manifestantes sobre o direito do transporte público urbano, como importante debate à agenda política.

Uma vez descrita a representação política dos dois países e considerando o modelo Pluralista polarizado ou Mediterrâneo, buscaram-se aproximações para a análise que apontassem semelhanças e diferenças entre esses dois países. Assim, no item 4.1 – “Contexto dos movimentos sociais contemporâneos”–, foram explicadas as manifestações que passaram a ocupar o cenário mundial a partir do início do século XXI, ao trazerem uma nova forma de organização em suas contestações, sob o ponto de vista dos estudos de Sampedro (2004), Alves (2012), Maricato (2013), Castells (2013 e 2015), Lima (2013), Gohn e Bringuel (2014), Falero (2014), Pinto (2014) e das obras Occupy (2012) e Cidades Rebeldes (2013) – incluindo-se também informações da página oficial dos movimentos sociais analisados.

No item 4.2 – “Metodologia da cobertura dos noticiários sobre as manifestações”–, é mostrada a estrutura da pesquisa das fontes. Na pesquisa empírica do 15-M, os “Indignados”, foram analisadas as edições na íntegra do telejornal Telediario 2, Canal La 1, TVE, da página da internet da Rádio e Televisión Espanhola - RTVE 1 , durante as quatro semanas, de 15 de maio a 12 de junho de 2011, período dos acampamentos do 15-M nas principais praças públicas das cidades da Espanha. A cobertura telejornalística da RTVE durou 29 dias, com aproximadamente sessenta e cinco minutos cada edição da noite do telejornal, variando o tempo das inserções de 17 segundos a 13 minutos sobre o movimento. Foram acompanhadas um total de 1 hora, 49 minutos e 08 segundos de noticiários nas edições transmitidas de domingo a domingo. Na pesquisa empírica das Manifestações de junho de 2013, ocorridas no Brasil, foram analisadas as edições na íntegra do telejornal Repórter Brasil, da página da internet da TV Brasil 2 , durante as quatro semanas do mês de junho de 2013, num total de 24 dias. As notícias do telejornal Repórter Brasil da noite estão divididas e organizadas de forma aleatória e fragmentada. Foram assistidas a um total de 119 inserções de notícias sobre as manifestações, cujo tempo de cada inserção variava entre 19 segundos a 43 minutos. Foram acompanhados um total de 4 horas, 03 minutos e 28 segundos de noticiários nas edições transmitidas de segunda a sábado 3 .

1 Disponível em http://www.rtve.es/alacarta/videos/telediario/telediario-21-horas-15-05-11

2 Disponível em http://tvbrasil.ebc.com.br/reporterbrasil/videos?data=20130601&edicao=noite

3 O leitor poderá acessar as gravações dos noticiários analisados dos telejornais nos DVDs que acompanham esta

tese. São três DVDs: dois com acesso aos noticiários do telejornal Repórter Brasil, da TV Brasil, e um com

acesso aos noticiários do telejornal do Canal La 1, da RTVE.

(20)

Para o levantamento da cobertura dos noticiários dos telejornais dos canais de televisão pública sobre os movimentos sociais 15-M, os “Indignados” e as Manifestações de junho de 2013, no Brasil, foi utilizada a metodologia de enquadramento – entendidos como recursos que organizam o discurso através de práticas específicas (seleção, ênfase, exclusão) e que acabam por construir uma determinada interpretação dos fatos –, desenvolvida e recuperada por Porto (2004) 4 – que demonstra a importância dos estudos desenvolvidos sobre os enquadramentos da mídia no sentido de aprimoramento do conceito e sua aplicação em estudos empíricos.

Dessa forma, foi utilizada como referência as informações contidas na planilha do Projeto Temático “Mídia, campanha e comportamento político em São Paulo 2000”, (Anexo 2, Relatório PUC-SP, 2004), que foram adaptadas para a planilha de análise das notícias do telejornal do Canal La 1, da Espanha intitulada: “Mídia e aparição de Zapatero no Canal TVE – Telediario 21h Planilha 2011”, e uma segunda planilha para a análise das notícias do telejornal do canal do Brasil intitulada: “Mídia e aparição de Dilma Rousseff do canal TV Brasil – Repórter Brasil 21h Planilha 2013”.

Nos itens 4.3 –“O Movimento 15-M – os “Indignados” da Espanha”– e 4.4 – “As Manifestações de junho de 2013”, foram investigadas as coberturas das televisões públicas da Espanha e do Brasil com relação aos enquadramentos dos noticiários dos telejornais

“Telediario 2”, Canal La 1, da televisão espanhola TVE, e Repórter Brasil, edição da noite, da TV Brasil. Depois de serem contextualizados os movimentos sociais ocorridos na Espanha e no Brasil e descrito o processo de formação e desenvolvimento em que ocorreram tais fenômenos sociais e vendo as respectivas televisões públicas como meio de visibilidade das manifestações, foi discutida como essas mídias fizeram a cobertura dos eventos, tendo como referência as planilhas, observando-se a frequência dos campos “Enquadramento da matéria”,

“Enquadramento do Presidente/a” e “Declarações” no conteúdo das matérias com relação ao enquadramento dado pelos noticiários dos telejornais. Além disso, foram transcritos, na análise dos telejornais, trechos dos diferentes depoimentos dos atores sociais trazidos nos noticiários, bem como imagens coletadas dos telejornais consideradas relevantes.

Após esse levantamento, as análises dos enquadramentos foram agrupadas por semana, totalizando quatro semanas em cada telejornal. Dessa forma, foi possível verificar

4 Esta metodologia foi também desenvolvida no Projeto de Pesquisa Temático “Mídia, Campanha Eleitoral e Comportamento Político em São Paulo/Relatório do Subprojeto da PUC-SP Telejornalismo e Radiojornalismo nas Eleições de 2000 e 2002”, pesquisa coordenada pela profa. Dra. Vera Michalany Chaia, com financiamento

da FAPESP e publicado em 2004. Disponível em:

http://www.pucsp.br/neamp/downloads/relatorio_final_midia_campanha_eleitoral_comportamento_politico_SA

O_PAULO.pdf.

(21)

que o número de inserções nos telejornais sobre os movimentos mudava a cada semana, o que permitiu comparar a relação do número de inserções por edição nos noticiários dos telejornais com a demanda dos movimentos.

Quando os movimentos sociais iniciaram suas manifestações, deixaram, de modo

geral, a mídia televisiva estagnada diante da apropriação dos manifestantes em tão pouco

tempo, seja pelas ruas ou praças. Estudiosos, pensadores e comentaristas da grande mídia, em

geral, não conseguiam traduzir esse novo cenário de mobilização política. Porém, ao observar

com mais criticidade, essas manifestações, com a tomada de consciência dos integrantes do

Movimento 15-M e Manifestações de junho de 2013, já vinham ocorrendo em determinados

momentos, como no caso das mobilizações da Plataforma Democracia Real ya! – DRY e das

mobilizações do Movimento Passe Livre –MPL. Dentro da perspectiva metodológica do

enquadramento dado pelos noticiários dos telejornais, entretanto, foi possível compreender

como se viabilizou e se concretizou a comunicação pública televisiva na Espanha e no Brasil,

no contexto de um novo período de mudanças históricas e sociais entre comunicação pública

e movimentos sociais e a visibilidade desses movimentos da esfera pública na mídia

televisiva.

(22)

Capítulo 1

Produção da imagem pública

Toda política es mediática.

Manuel Castells (2009b)

A presença da televisão, no âmbito da política contemporânea, principalmente a partir da segunda metade do século XX, alterou, de modo significativo, a relação do poder político com a esfera civil, trazendo importantes mudanças na esfera pública. Dentre as transformações decorrentes desse processo, potencializou-se a visibilidade pública dos atores políticos na democracia de massa. Porém, se a televisão, como importante meio de comunicação de massa, fez surgir intensa produção no campo de estudos entre comunicação e política, já no início do século XXI, como os demais meios de massa tradicionais, ela será ressignificada pela presença e uso da rede Internet. Isso ocasionará um importante debate entre manutenção e ruptura das relações de poder nas democracias atuais. Dessa forma, ressignificará a própria televisão na esfera política.

1.1 A comunicação e a visibilidade pública

Na concepção de Thompson (1998), o exercício do poder político, na atualidade, é submetido a um novo tipo de arena global mediada. Uma nova relação entre publicidade e visibilidade mediada surge com a televisão, devido à sua riqueza visual e simbólica. Essa visibilidade, a partir da segunda metade do século XX, obrigou políticos de sociedades libero- democratas a se submeterem, por sua vez, à lei da visibilidade compulsória, numa relação administrada entre governo e mídia.

A visibilidade mediada, porém, trouxe um novo tipo de fragilidade da esfera política:

gafes, escândalos, vazamentos e outras fontes de problema, difíceis de controlar, vão

enfraquecendo governos e atividades políticas, comprometendo negativamente o sentimento

dos cidadãos com relação a políticos e instituições políticas estabelecidas. (THOMPSON,

1998).

(23)

A esse novo tipo de arena global mediada, Thompson (1998, p.131-3) chama de

“escrutínio global”, termo para “se referir ao regime de visibilidade criado por um crescente sistema de comunicação globalizado no qual a televisão desempenha um papel central”.

Trata-se de um sistema estruturado pelas organizações da mídia, com significativo desenvolvimento histórico, tanto para os líderes políticos que atuam numa determinada arena, como para os receptores que veem e experimentam ações e eventos como nunca foi possível antes.

Nessa linha de preocupações, é possível refletir sobre uma sociedade estruturada e ambientada pela comunicação num momento a que Rubim (2000) chama de “Idade Mídia”. A relação entre política e comunicação na contemporaneidade, na análise de Rubim (idem), apresenta-se potencializada na mediação de novas circunstâncias sociais, como a “revolução”

das comunicações, com a convergência entre comunicação, telecomunicações e informática.

O autor antevê o século XXI como um tempo de profundas transformações nas comunicações e na sociabilidade. No interior dessa relação, a chamada “crise” da política está

conformada hoje no desinvestimento pessoal e social na atuação coletiva como alicerce das decisões públicas, na indiferença, na fragilidade aparentemente inerente à representatividade, no esgotamento das energias utópicas, na emergência de novas modalidades e atores políticos, ainda não plenamente conformados (RUBIM, 2000, p. 08).

Na modernidade, afirma Rubim (idem), a conformação de uma esfera política (Max Weber), ou de um campo político (Pierre Bourdieu), com as devidas instituições, legitimou a democracia de massas. Esse alargamento, que potencializou o caráter público da política e viu acrescida sua dimensão publicizada, criou, simultaneamente, um fosso entre política institucionalizada e participação política mais ampliada. São dimensões contemporâneas que requerem um novo funcionamento da política.

Há, portanto, um lugar destacado da comunicação, na versão midiática, a Idade Mídia, conforme Rubim (2000). Assim, a mídia em rede constrói uma outra e nova dimensão constitutiva da sociabilidade contemporânea, a telerrealidade, (MUNIZ SODRÉ apud RUBIM, 2002, p. 40-46). Trata-se de uma nova formatação da realidade, integrada em rede eletrônica, que se transforma em dimensão pública e privada (tele)vivida planetariamente, publicamente compartilhada, e se constitui no verdadeiro campo de luta de poder, redimensionando e ressignificando a política.

Um aspecto retomado por Rubim (2000) é o conceito de “Videopolítica” de Giovanni

Sartori (1989 apud RUBIM, 2000, p. 52-53) que, através do poder da imagem, provoca

(24)

radical transformação do “ser político” e do “gerir a política”. Para Rubim, esse termo deve ser tomado como expressão do videopoder, emergência associada ao surgimento da televisão e à primazia da imagem no mundo atual. A videopolítica, para Oscar Landi (1992, apud RUBIM, 2000, p. 54), é um fenômeno aberto, pouco compreendido e importa não só que o audiovisual tenha se tornado a “língua franca” da contemporaneidade, mas que a televisão, e por extensão a mídia, possa ser considerada um cenário privilegiado da videopolítica, e retenha uma outra face, essencial, de ator político na atualidade.

Em suma, Rubim (2000, p. 56-59) enfatiza que a telepolítica faz emergir um conjunto de novos ingredientes que se agregam e passam a compor o campo político atual e que devem ser compreendidos sob o impacto desse ambiente de comunicação: a Idade Mídia, ocupando, assim, a telerrealidade. Trata-se de uma adequação na qual o poder de governar necessita de visibilidade pública. O campo da comunicação, com seus inúmeros mecanismos, por interferir no dia a dia, portanto, garantirá a governabilidade.

Um aspecto imprescindível para a democracia contemporânea é a representação – na Idade Mídia aparece reivindicada pela mídia –, numa transição de “representação virtual” para uma situação de representação política, cujo conceito de “cenário de representação política”

(CR-P)”, explicitado por Venício Lima (1994 apud RUBIN, 2000, p. 77-79), sublinha a comunicação midiatizada, em especial a televisão, que emerge como a fonte principal de representação social da política.

Nessas novas circunstâncias sociais e históricas de comunicação midiatizada, finaliza Rubim (2000, p. 79-90), a representação da política apresenta-se como núcleo de poder, possibilitando a gravitação do campo da comunicação. Em outras palavras, o campo da política busca manipular e controlar a publicização e, para isso, aciona os mais diversos dispositivos ao seu alcance. Essas circunstâncias, no contexto da globalização, passam a ser estruturadas como acesso e presença cotidiana de fluxos e estoques culturais. Nesse sentido, é importante que governos acompanhem antigos e novos direitos e neles intervenham, em nível universal, numa cidadania planetária. Essas práticas, porém, concernem às políticas contemporâneas e às mutações entre política e comunicação.

Miguel (2002) reforça a importância da televisão como meio de comunicação de

massa dominante no século XX. Na atividade política, aprofundou as transformações no

discurso político com apelo imagético. Trata-se, portanto, de um progresso para a democracia

contemporânea, em que o desafio é alcançar uma representação mais equânime dos diferentes

interesses sociais nas esferas de decisão. Para entender a relação entre mídia e política,

utilizou-se o conceito de “campo político” de Pierre Bourdieu (apud MIGUEL, 2000, p. 166):

(25)

[Campo político é] o lugar em que se geram, na concorrência entre os agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos, entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de ‘consumidores’, devem escolher.

Todo campo define-se, nesse ponto de vista, pela imposição de critérios próprios com autonomia. Na visão de Miguel (2002, p. 166-168), isso impõe limites, o que torna difícil entender a complexidade das relações entre mídia e política, pois, sendo dois campos diferentes, guardam autonomia, e a influência de um sobre o outro não é absoluta nem livre de resistências.

Outro aspecto refere-se ao fato de o campo da mídia ser tensionado por sua inserção no campo econômico, levando-se em conta que a influência dos meios de comunicação e a visibilidade na mídia sobre o campo político está na formação do capital político (MIGUEL, 2002, p. 168-170). Para o autor, a mídia não possui o monopólio ou distribuição desse capital, pois o campo político a limita pela desvalorização simbólica associada aos meios de comunicação.

Da mesma forma, a definição da agenda pela mídia é a base da centralidade dos meios de comunicação no processo político contemporâneo. Assim, os agentes situados na periferia, em determinados momentos, rompem a indiferença, incluindo um novo item na agenda pública. Os agentes de maior capital político orientam a agenda pública. A influência dos meios de comunicação de massa sobre a produção do capital político e sobre a definição de agenda, entretanto, não deve obscurecer a força das instituições políticas estabelecidas.

MIGUEL (2002, p. 170-174).

Se a luta política é uma luta de “classificações” de “visão e divisão”, do mundo social, como diz Bourdieu (apud MIGUEL, 2002, p. 174), os meios de comunicação tendem a uma adaptação imediata à política, pois a tarefa de definir o campo político pertence a seus próprios agentes. A mídia se submete, portanto, às definições do campo político. Essa relação se altera quando se trata do discurso político, ao qual os meios eletrônicos impuseram transformações com o predomínio da televisão. Não é uma imposição técnica da televisão, enfatiza Miguel (idem), mas fruto dos usos que se fizeram dela.

A compreensão da relação entre o campo da mídia e o campo político, portanto, é

fundamental para a política contemporânea. Há uma tensão de embate entre lógicas do campo

mediático e do campo político, necessária de ser observada em detalhe e dentro de sua

complexidade. Essa relação torna-se mais complexa na medida em que o campo da mídia não

(26)

é autônomo, pois incorpora objetivos derivados do campo econômico. Desvendar o jogo político, então, passa pela inter-relação entre esses três campos. Miguel (2002, p. 181)

Nessa linha de análise, em que a atividade política na democracia foi redimensionada em função da comunicação e da cultura de massa, Gomes (2004) alerta que, com os novos fenômenos, subestima-se o que dura na sociedade democrática e que certos aspectos novos são apenas uma versão de uma dimensão permanente da política. A política transforma-se e se proclama a nova política midiática, ou espetacular.

Nos debates da teoria política, há autores que defendem a ideia de que os modelos de representação política estão apoiados nos partidos, sem discutir a prática política, e de que a política se manteve idêntica ao que sempre foi. Isso, para Gomes (2004, p. 418-419), seria uma teoria política incapaz de se beneficiar do esforço interdisciplinar de comunicação política.

A alteração num dos sistemas da política reflete-se sobre a totalidade do campo político e da atividade política que esse comporta. Portanto, a nova política – ou política midiática – é um dos sistemas de práticas, de habilitações, de atores e de representações pelos quais se realiza a atividade política contemporânea, em relação estreita com a comunicação social – particularmente, a televisão, que assume um lugar central no qual se constrói um conjunto de valores, decisivos para o ingresso na circulação da representação política, para se chegar e continuar no poder (GOMES, 2004, p. 421-423).

Dessa forma, toda atividade política funciona com, pelo menos, dois conjuntos de programas de ação, de sistemas de práticas, explica Gomes (2004, p. 425-426): um, cumpre as funções internas na esfera política – ad intra, relativas à produção da decisão política; outro, a interação entre o interior e o exterior da esfera política – ad extra do campo político, relativo à sua visibilidade e legitimidade – a administração dos fluxos de comunicação política da esfera pública para a sociedade e o controle da opinião pública e da imagem. São sistemas que convivem em níveis variados de interfaces e não podem ser dispensados, mas trabalham complementarmente.

A política ad extra, porém, tem sido redimensionada, “hipertrofiada”, uma vez que a

sociedade foi se tornando centrada na comunicação de massa menos dependente dos sistemas

voltados para o funcionamento interno do jogo político. No sistema da arena comunicacional

da política, como chama Gomes (2004, p. 428-429), há que se lidar com outros sujeitos

sociais que lutam para se impor. A massa tem à sua disposição informação produzida pela

indústria da comunicação, devido à demanda de consumo de informação, por causa do tempo

(27)

livre, da educação formal e da “alfabetização televisual” além da relação com a esfera civil, meios industriais de comunicação independentes dos partidos.

A política midiática ou da comunicação é a nova habilidade da política ad extra – nova, pois já houve outros modelos até chegarmos às formas típicas das democracias de massa da segunda metade do século XX. O jogo político, praticado no interior da esfera política, sofre hoje grande influência de fatores associados à cena política midiática. Há, portanto, formas da prática política relacionadas ao que está fora da esfera política, principalmente da esfera civil. A onipresença da cultura e comunicação de massa interfere em praticamente todos os sistemas de prática política, mas o centro é ocupado pela política ad extra, reforça Gomes (idem, p. 431-432), que tem basicamente dois papéis: reagir à esfera civil, produzindo uma configuração da política; e agir sobre a esfera civil, dirigindo e controlando a opinião pública. Ambas as operações correm juntas, e isso constitui a política midiática contemporânea, que passa a realizar funções socialmente indispensáveis. Nesse sentido, a política mudou muito e muito pouco.

1.2 A política midiática contemporânea

A esfera política contemporânea tem vivenciado ampla reconfiguração, com a transformação da visibilidade política, decorrente do uso dos meios de comunicação de massa. Na relação entre política e comunicação, enfatiza-se o papel da televisão, a partir da segunda metade do século XX, que alargou esse enlace. Ao ampliar o debate sobre política e comunicação, na perspectiva da relação entre esfera civil e as formas de participação política contemporânea, com as profundas transformações nas interações dos sujeitos políticos e os meios de comunicação, configura-se um novo modo a que Castells (1999, p. 497) denomina de “sociedade em rede”: “redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades. A difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura”.

O autor já debatia o tema do uso intensivo e extensivo da rede mundial de

comunicação, a Internet, ao final do século XX, uma vez que os meios de comunicação,

impulsionados por esse novo processo comunicativo ressignificaram os diversos campos das

atividades humanas. Um aspecto importante, conforme os autores apresentados anteriormente,

é o fluxo midiático de comunicação, ou seja, a produção, circulação e apropriação da

informação transformando a esfera da visibilidade política.

(28)

Com a Internet, então, foi exposta uma nova forma de visibilidade política que transcende o controle do debate político mediático dos meios de comunicação tradicionais, aqui entendida como a televisão. Porém, a nova visibilidade, a partir da sociedade em rede, expõe não só a imagem, a visibilidade pública de atores políticos, mas múltiplos e desconhecidos atores. Esses atores são cidadãos, organizações e coletivos até então à margem da participação política formal, mas que passaram a estar presentes na interação do espaço em rede.

Para uma maior aproximação sobre esse tema, convém apresentar uma análise de como as interações, a partir da comunicação em rede, a Internet, vêm modificando o modo de vida das sociedades contemporâneas.

A produção, circulação e apropriação da informação neste início do século XXI tem sido denominada, na concepção de Jenkins (2009) como “cultura da convergência”, considerado um novo paradigma vivenciado hoje a partir das transformações midiáticas decorrentes das mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais, resultado da indústria do entretenimento:

Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam (JENKINS, 2009, p. 29).

Ao tratar da relação dos conceitos convergência midiática, cultura participativa e inteligência coletiva, Jenkins (2009, p. 30-33) expõe que o processo de circulação de conteúdos mediáticos depende fortemente da participação ativa dos consumidores no novo sistema de mídia. Na cultura participativa, produtores e consumidores interagem de acordo com um novo conjunto de regras ainda incompleto. Essa convergência ocorre no cérebro de consumidores individuais e suas interações sociais extraídas do fluxo midiático, e, transformada em recursos, conferem sentido à vida cotidiana.

O consumo converteu-se em um processo coletivo, no sentido da “inteligência

coletiva” (Pierre Lévy), uma fonte alternativa de poder midiático, vivenciado nas interações

diárias da cultura da convergência. Essa produção coletiva de significados, na cultura popular,

está começando a mudar o funcionamento das instituições sociais. Na visão de Jenkins

(idem), os celulares tornaram-se fundamentais no processo de convergências das mídias, e a

convergência torna-se uma referência para a indústria do entretenimento, um ponto

(29)

importante de interação, e não de substituição, entre as velhas e as novas empresas, cada vez mais complexas.

Apesar de Jenkins (2009, p. 38-40) abordar a convergência na cultura popular norte- americana, seu objetivo é esclarecer como a convergência está provocando impactos no consumo diário, ou na produção industrial das mídias. Dessa forma, o autor, mais do que criticar as mídias, descreve um universo de diferentes públicos que se apropriam dessas mídias emergentes e documenta as perspectivas enfrentadas sobre a mudança midiática.

A convergência, entretanto, está em processo, pois mudanças culturais, batalhas legais e fusões empresariais alimentam a convergência midiática e precedem mudanças na infraestrutura tecnológica. Esses processos determinam o equilíbrio de poder na era subsequente dos meios de comunicação. Outro aspecto é o barateamento de produção e distribuição dos canais, ampliando aos consumidores a possibilidade de colocar em circulação os conteúdos midiáticos. Esse ambiente mais livre de ideias e conteúdos, em que “os consumidores estão lutando pelo direito de participar mais plenamente de sua cultura”, torna- os migratórios, leais às redes e aos meios de comunicação (JENKINS, 2009, p. 45-46).

Ao abordar a ideia de convergência numa perspectiva da campanha presidencial nos EUA em 2004, o autor passa da discussão de cultura popular para a cultura pública; explora o que talvez seja necessário para tornar a democracia mais participativa, em que cidadãos foram melhor servidos pela cultura popular do que pelo noticiário ou pelo discurso político.

(JENKINS, 2009, p. 51-53). Dessa forma, a obra de Jenkins (idem) discute a educação para a reforma midiática e para a cidadania democrática. A cultura da convergência representa uma primeira mudança nas relações com a cultura popular, habilidades que têm implicações em nossa maneira de aprender, trabalhar, participar do processo político e no modo de conectar-se com outras pessoas do mundo.

Outro debate importante com relação à influência da interatividade da rede Internet é trazido por Ramonet (2013), a respeito da crise da informação veiculada hoje nos meios de comunicação de massa tradicionais que tem possibilitado a criação de novas formas de acesso e produção de conteúdos significativos na rede. A crise de credibilidade da informação que não atende de maneira satisfatória aos cidadãos, devido aos interesses dos grupos midiáticos,

“e de outro as transformações estruturais do jornalismo, entre eles a Internet, fazem com que os meios sejam menos fiáveis e menos úteis à cidadania” (RAMONET, 2013, p. 53).

Esse processo vem ocorrendo nos últimos dez ou quinze anos, devido à perda de

credibilidade da imprensa, afirma Ramonet (2013, p. 53-56), para quem houve um

rompimento com o processo de identificação política dispensada pelos meios de comunicação

(30)

de massa – na lógica de seduzir o conjunto dos cidadãos, desvirtuando sua linha editorial, tornando as características dos produtos idênticas. Os meios de comunicação, portanto, vivem essa crise, desprendendo-se de sua identidade.

Com a aceleração da informação atingindo um limite intransponível, o jornalismo foi afetado com velocidade dominante, do imediatismo, sem que o jornalista pudesse ter tido tempo de análise suficiente. O papel do correspondente se manteve, porque fez com que o cidadão comum acreditasse que “eles [soubessem] porque [estavam] lá”. Aceleração e translação causaram uma multiplicação de erros, criando uma “insegurança informativa”, pois o excesso informativo produziu pouca confiabilidade. Para a maioria das pessoas, uma informação é verdadeira quando todos os meios afirmam que é.

Ainda de acordo com Ramonet (2013, p. 59-63), os meios de comunicação são cada vez menos independentes do poder político, e sobretudo, do poder econômico. Com as megacorporações transnacionais da comunicação, não há grande variedade de informações.

Os cidadãos têm uma oferta muito limitada. Estando nas “mãos de indivíduos que poderíamos chamar de oligarquia”, surgem para ganhar influência, ter um projeto ideológico, político dominante –muitos jornais, bem como a maioria dos meios de comunicação, pertencem a grupos que têm atividade econômica relevante.

Esses conglomerados midiáticos, na visão de Ramonet (idem), são grandes atores do mercado e difundem “ideologias” que promovem uma visão de mundo, uma maquete do mundo, um mundo ideal – é o que os meios de comunicação fazem. Hoje a imprensa e os meios de comunicação têm a missão de ser a ferramenta ideológica da globalização. Não há, portanto, um único poder, continua o autor. Ele não é apenas financeiro, mas sim econômico- financeiro e midiático. Na vitória neoliberal, é preciso convencer o vencido a participar da vitória. A missão dos meios de comunicação é domesticar as sociedades, mas os cidadãos estão percebendo que as benesses do poder midiático não passam de dissimulação e, assim, aceitam-nas cada vez menos.

Uma democracia não pode funcionar sem os meios de comunicação, sem a opinião pública, um agente indispensável. Por isso, o chamado quarto poder é uma espécie de contrapoder, um contrapeso aos poderes legítimos na democracia, enfatiza Ramonet (2013, p.

65-68). Os meios midiáticos, entretanto, foram confiscados pelo poder econômico e

financeiro, e o quarto poder não está cumprindo sua missão de contrapoder. Além de ser o

único na democracia que não admite crítica, é o único sem um contrapoder; portanto, não é

democrático.

(31)

Muitos cidadãos estão percebendo que o funcionamento dos meios de comunicação não é bem o que eles gostariam, e a Internet teve uma grande influência para essa percepção.

O ecossistema midiático, que hoje está explodindo, permite a volta do sonho da democratização da informação, da informatização democratizada. Essa é a grande crise midiática atual, o surgimento de um personagem novo que entra em concorrência com os meios de comunicação: o cidadão.

Trata-se de um “cidadão informante”, sendo um amador, a Internet permite o auge da massificação de um novo tipo de amador especialista – e os especialistas têm estado na primeira linha desde o aparecimento da chamada blogosfera. Há, portanto, uma concorrência entre os especialistas e os jornais profissionais.

Com a dinâmica da cultura da convergência apontada por Jenkins (2008) e a análise de Ramonet (2013) sobre a interação do cidadão na interação com o fluxo de informação possibilitada hoje pela Internet, discutir-se-ão os processos da comunicação em rede no âmbito da arena política contemporânea.

Visando a essa interpretação, Castells (2009), em sua obra Comunicación y poder, trata da estrutura social que caracteriza a sociedade do início do século XXI, construída, mas não determinada, pelas redes digitais de comunicação global. Na sociedade em rede, como o autor a denomina, as relações de poder transformam-se radicalmente e se fundam no sistema de processamento de símbolos fundamentais de nossa época. Esse ambiente é constituído dos meios de comunicação multimodais, como as redes de horizontais interativas criadas em torno da Internet e a comunicação móvel, a que Castells denomina “autocomunicação de massas”, que incrementa, de forma decisiva, a autonomia dos sujeitos, na medida em que os usuários se convertem em emissores e receptores de mensagens.

Portanto, Castells (2009, p. 33-36) inicia sua obra discorrendo sobre o fato de o poder ser o processo fundamental da sociedade, pois permite a um ator social influir, de forma assimétrica, nas decisões de outros atores sociais. Assim, onde há poder, há contrapoder;

quando há resistência, as relações de poder transformam-se.

Nesse sentido, há um processo de mudança institucional ou estrutural, dependendo da

amplitude e transformação das relações de poder. Se essa dominação ocorre pela legitimação,

no sentido weberiano, processo-chave para estabilizar o exercício da dominação, a

legitimação depende da construção de significados compartilhados. A legitimação pode

ocorrer por distintos procedimentos, entre os quais a democracia constitucional (Habermas),

sendo um a mais.

(32)

Mas, continua Castells (idem), se o estado intervém na esfera pública em nome de interesses concretos, induz-se uma crise de legitimação. A legitimação depende, em grande medida, do consentimento obtido mediante a construção de significados compartilhados – significado que se constrói na sociedade por meio do processo da ação comunicativa.

Se a estabilidade institucional se baseia na capacidade para articular diferentes interesses e valores, o exercício democrático do poder depende da capacidade para transformar o significado gerado pela ação comunicativa nos princípios do consenso constitucional, conforme afirma Castells (2009, p. 36):

Así pues, la capacidad de la sociedad civil para proporcionar contenido a la acción estatal a través de la esfera publica – “una red para comunicar información y puntos de vista” - es lo que garantiza la democracia y, en última instancia, crea las condiciones para el ejercicio legítimo del poder: el poder como representación de los valores e intereses de los ciudadanos expresados mediante su debate en la esfera pública. Así pues, la estabilidad institucional se basa en la capacidad para articular diferentes intereses y valores en el proceso democrático mediante redes de comunicación.

Na contemporaneidade, o estado segue sendo o elemento estratégico para o exercício do poder por diferentes meios. Nesse aspecto, Castells (2009, p. 40-4) enfatiza o atual contexto histórico, no qual a sociedade em rede está formada por configurações concretas de redes globais, nacionais e locais, em um espaço multidimensional de interação social, que apresenta um novo tipo especial de estrutura social com distintas relações de poder e contrapoder.

O que caracteriza as sociedades do século XXI é “la proliferación de aparatos portátiles que proporcionan una capacidade informática y de comunicación ubicada sin cables” – tecnologias pelas quais a sociedade pode transcender os limites históricos, territoriais e institucionais das redes, como forma de organização e interação social, mediante uma comunicação significativa codificada por uma rede global, por uma cultura global. Essa sociedade funciona de maneira a incluir e excluir os atores sociais, pois são programadas e reprogramadas constantemente pelos poderes existentes, pelas instituições dominantes.

Conforme Castells (p. 50-5), a influência mais importante no mundo de hoje é a transformação da mentalidade das pessoas, organizada a partir de mensagens e imagens que chegam por oligopólios globais.

Portanto, as relações de poder na sociedade em rede estão imbricadas na construção social do espaço e do tempo em que se redefinem, instalando uma transitoriedade estrutural.

A própria cultura, múltipla em históricos e contextos, torna-se uma cultura global, uma

(33)

cultura da comunicação para a comunicação, uma rede aberta de significados culturais que podem interagir e se modificar mutuamente sobre a base desse intercâmbio (CASTELLS, 2009, p. 67-8).

A relação de decisões políticas opera em rede de interações entre diversas instituições locais e globais que alcança as organizações da sociedade civil. É uma nova forma de estado a que Castells (idem, p. 70-5) chama “o estado rede”. A relação entre governos e cidadãos, dessa forma, é alterada e passa a enfrentar um problema ideológico: coordenar uma política comum, com idioma comum e um conjunto de valores.

Portanto, projetos e interesses serão definidos por determinados atores, em ação conjunta, que transcendem as alianças até se converterem em uma nova forma de sujeito. As organizações e redes que se encarregam desse processo, portanto, são os âmbitos decisivos em que se criam os projetos de programação e se formam os apoios desses projetos – que, graças à sua posição na estrutura social da rede, exercem o poder para criar redes, explica Castells (idem).

Mas há também processos de resistência ao poder. Existe uma relação simbiótica, característica tanto das dinâmicas de dominação como de resistência. Nesse ambiente, o poder se redefine, dominação e resistência à dominação mudam de caráter, segundo a estrutura social específica em que se originam e que se modificam com sua ação. O poder governa, o contrapoder combate. (CASTELLS, 2009, p. 77-9).

Entender as relações de poder na sociedade em rede global é entender as duas formas principais de mudanças: a primeira é constituída ao redor da articulação entre o global e o local e está organizada, principalmente, em redes, não em unidades individuais. A estrutura espacial de nossa sociedade é uma grande fonte de estruturação das relações de poder.

Castells (idem, 81-5). O poder dentro das redes e pelas redes é exercido pela capacidade de conectar diferentes redes, processo fundamental para reproduzir a dominação institucionalizada do estado. A dominação estável requer uma negociação complexa que contribua para melhorar os objetivos assinados em cada rede por seus respectivos programas.

Os discursos de poder proporcionam os objetivos substantivos para os programas das redes a

partir de uma cultura global, que somem as identidades culturais específicas em lugar de

substituí-las. Para que haja globalização, a rede tem que afirmar um discurso disciplinar capaz

de marcar as culturas específicas. Os meios concretos de conexão e programação determinam,

em grande medida, as formas de poder e contrapoder na sociedade em rede, de acordo com

Castells (idem). Esse processo requer uma interface cultural e organizativa, um idioma

comum, um meio comum, o apoio de um valor universalmente aceito: o valor de troca.

(34)

A segunda forma, para entender as relações de poder na sociedade em rede em geral, é a capacidade de programação das redes – capacidade de gerar, difundir e pôr em prática os discursos que marcam a ação humana. Os discursos, em nossa sociedade, moldam a mente, influem no comportamento individual e coletivo. A programação das redes de comunicação é a fonte decisiva dos materiais culturais que alimentam os objetivos programados de qualquer outra rede. Por conectarem o local e o global, os códigos que se difundem nessas redes têm um alcance global.

En la sociedad red, los discursos se generan, difunden, debaten, internalizán y finalmente incorporan en la acción humana, en el âmbito de la comunicación socializada construido en torno a las redes locales-globales de la comunicación digital multimodal, incluyendo los medios de comunicación en Internet. El poder en la sociedad red es el poder de la comunicación (CASTELLS, 2009, p. 85).

Estabelecidos os determinantes estruturais da relação entre poder e comunicação na sociedade em rede, Castells (2009) analisa como o poder funciona atuando sobre a mente por meio das mensagens, de que forma a mente processa essas mensagens e a maneira pela qual se traduz esse processo no âmbito político. Para o autor, a convergência mais importante se produz dentro do cérebro dos consumidores individuais, através de sua interação social, conforme a ideia anteriormente apresentada por Jenkins (2009).

Com a difusão da Internet, uma nova forma de comunicação interativa surge – a autocomunicação de massas –, capaz de produzir, em único meio, a convergência de recursos de comunicação e, fundamentalmente, possibilitar interação com os conteúdos das mensagens. Para se chegar a essa convergência, houve uma série de transformações da comunicação, e das relações de poder, nas mudanças para a comunicação multimodal e multidimensional global.

Esse é um elemento fundamental da atual transformação, afirma Castells (2009, p.

144-5), pois suas consequências reais, no campo da comunicação, dependem das decisões políticas – resultantes dos debates e conflitos propiciados pelas empresas e grupos de interesses sociais e políticos que pretendem estabelecer o regime regulador em que atuam empresas e pessoas.

A evolução das políticas reguladoras é resultado de estratégias de construção de poder

por meio da articulação de interesses empresariais e políticos. Esse processo levou à difusão

global de novas formas de comunicação, incluída a autocomunicação de massas. Além disso,

alterou a audiência dos meios de comunicação, que se transformaram em um sujeito

comunicador com maior capacidade para redefinir os processos com os quais a comunicação

Referências

Documentos relacionados

A cultura material e o consumo são contextualizados com o design, e são demonstradas estratégias de sustentabilidade no ciclo de vida nos produtos de moda.. Por fim, são

Deve possuir mecanismos para notificação configuráveis de acompanhamento de acordo de níveis de serviços, por exemplo, elementos gráficos que permitam a visualização rápida

Conclui-se que a Ds c IHO não necessariamente restringe o crescimento radicular ou rendimento de culturas sob plantio direto; a carga de 1600 kPa no teste de compressão uniaxial é

Nesse caso, a proposta do presente estudo foi avaliar e comparar a função autonômica cardíaca em mulheres jovens (GJ: 21 a 30 anos) e de meia idade pós- menopausa (GMI: 45 a 60

A estimativa da geração de gás metano no estado de Pernambuco nos anos de 2014 a 2032 pode servir como base de dados para estudos de aproveitamento de biogás nos aterros, que

A démarche gerada na sociologia pragmática permite recolocar o questionamento sobre a participação numa abordagem renovada da política, reconsiderada a partir

Não é admissível que qualquer material elétrico não tenha este tipo de verificação, ainda mais se tratando de um produto para uso residencial... DI SJ UN TO RE S RE SI DE NC IA

Avraham (Abraão), que na época ainda se chamava Avram (Abrão), sobe à guerra contra os reis estrangeiros, livrando não apenas seu sobrinho Lot, mas também os reis