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DE APOIO AOS PEREGRINOS NO CAMINHO PORTUGUÊS DE SANTIAGO DE COMPOSTELA

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Academic year: 2021

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ABRIGO MÍNIMO

DE APOIO AOS PEREGRINOS NO CAMINHO PORTUGUÊS DE SANTIAGO DE COMPOSTELA

José Manuel da Costa Pimenta

Orientadores

Álvaro Miguel do Céu Gramaxo Oliveira Sampaio Paulo David da Silva Simões

Projecto apresentado

ao Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, para obtenção do Grau de Mestre em Design e Desenvolvimento de Produto.

Dezembro, 2015

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ABRIGO MÍNIMO

DE APOIO AOS PEREGRINOS NO CAMINHO PORTUGUÊS DE SANTIAGO DE COMPOSTELA

José Manuel da Costa Pimenta

Orientadores

Álvaro Miguel do Céu Gramaxo Oliveira Sampaio Paulo David da Silva Simões

Dezembro, 2015

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José Manuel da Costa Pimenta jcostapimenta@gmail.com 253911333/962986497 CC nº 10540036 0 ZY7

Título do Projecto:

ABRIGO MÍNIMO

DE APOIO AOS PEREGRINOS NO CAMINHO PORTUGUÊS DE SANTIAGO DE COMPOSTELA

Orientadores:

Álvaro Miguel do Céu Gramaxo Oliveira Sampaio Paulo David da Silva Simões

Ano de conclusão: 2015

Designação do Curso de Mestrado:

Mestrado em Design e Desenvolvimento de Produto (MDDP)

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTE PROJECTO, APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, ______ / _____ / _________

Assinatura: ________________________________________________

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iii

RESUMO

Abrigo mínimo de apoio aos peregrinos no Caminho Português de Santiago de Compostela

A valorização da identidade humana, no Caminho de Santiago, resultante do relacionamento das reais necessidades (básicas) com a preservação dos recursos naturais é o desejo desta investigação. Este trabalho debruça-se no estudo da colocação de um abrigo mínimo (ou vários), concebido do necessário conforto utilitário, e das valências informativas e apelativas, de apoio aos peregrinos num percurso validado pela intensidade do uso e da procura, que rasga concelhos de sul a norte de Portugal.

Neste projecto de investigação apresenta-se a pertinência do estudo através de uma revisão da literatura, tentando especificar os aspectos mais relevantes e as acções que presentemente estão a ser tomadas na preservação e modernização deste Caminho. Seguidamente descreve- se como foi abordado o estudo em termos da sua metodologia e procedimento, na tentativa de investigar o percurso no seu contexto de uso, centrado na vontade de entender as necessidades que sentem os peregrinos, na caminhada a que se propõem, aquando de uma pausa breve.

Este objecto modelador e diferenciador no meio, relaciona-se com o espaço envolvente pela forma, pelos materiais, pela textura, cor e luz, simplicidade na concepção e na organização espacial. São estes os factores que influenciaram e fizeram sentido ao conceber este abrigo.

Outros estiveram presentes, tais como a procura pelo que é prático, de baixo custo, de fácil manutenção e conservação, e de resposta rápida, versatilidade, rentabilização e funcionalidade espacial. Estes últimos geram a multifuncionalidade e a flexibilidade pretendida para o abrigo, possibilitadas pela modelação da construção, potenciando o espaço mínimo, para responder à utilidade temporária para o qual foi definido.

Este abrigo desenha-se através de uma malha reticulada com efeito modular. Uma vez que possui esta regra, é possível desenhar as peças para a posterior montagem no local. Sendo viável a hipótese da necessária desmontagem, pelo motivo da modelação das peças integrais do objecto materializado. Permite, também, a fácil manutenção e a substituição de peças ou partes.

Palavras-chave: Peregrinação, Design, Ergonomia, Modelar, Abrigo

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iv

ABSTRACT

Minimum support shelter to pilgrims in the Portuguese road to Santiago de Compostela

The valorisation of the human identity, in the Santiago Way, as a result of the relationship between the real necessities (basic) and the preservation of the natural resources is the aim of this investigation. This work focuses on the placement of one (or several) minimal shelters, conceived from the required utilitarian Comfort, and also from the appealing and informative valences, which support the pilgrims in a route that is validated by the intensity of its usage and demand, crossing counties from south to north, in Portugal.

In this research, the relevance of this study is presented through a literature review, in the attempt to specify the most relevant aspects and the actions that are presently being taken, in order to preserve and modernize this Way. Next, it is described how the subject was approached, in terms of methodology and proceedings, in order to investigate the route in its usage context, centered in learning the necessities felt by the pilgrims, in the walk that they set themselves up to do, during their breaks.

This object, which is a modeller and differentiator in the environment, is related to the surrounding space by its shape, materials, texture, light and colour, simplicity in its conception and spatial organization. These are the factors that influenced and made sense while conceiving this shelter.

Others were also present, such as: the search for what’s most practical, low-cost, easy to maintain and preserve, having a fast response, versatility, profitability and spatial functionality.

These last ones generate the multifunctionality that is required for the shelter to have, enabled by the modelling of the construction, enabling the space to be minimal, in order to be the solution to the temporary utility which was the reason for its creation

This shelter is designed using a reticulated mesh with a modular effect. Since it has this rule, it is possible to design the pieces and then assembler them on the spot. The disassembling of the shelter is viable, as a reason for the modelling of the integral pieces of the object. It allows an easy maintenance and replacement of pieces or parts.

Keywords: Pilgrimage, Design, Ergonomics, Model, Shelter

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v

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à Ana Catarina Rodrigues, esposa, companheira e amiga sempre presente neste e noutros caminhos, na perseverança, alegria e motivação que impôs para o desenvolvimento, nas etapas do percurso, e finalização deste projecto. Como uma “seta” no Caminho!

À família de Barcelos (Pimenta) e à de Coimbra (Rodrigues), pela dedicação em oferecerem as melhores condições pessoais para a viabilização da caminhada nesta “viagem”.

Ao meu amigo Miguel Pereira, peregrino e investigador do Caminho, pela colaboração e cooperação na “viagem” a que nos propusemos. Sempre no Caminho. Pelo Caminho!

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”

Fernando Teixeira de Andrade, 1946 – 2008

"Actores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade, é aquele que a transforma.” Augusto Boal, 1931 – 2009

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AGRADECIMENTOS DO AUTOR

A todas as pessoas que contribuíram e colaboraram neste e para este projecto. A estas, sincera e humildemente quero agradecer.

Ao Professor Doutor Miguel Pereira, amigo, peregrino e investigador no (do) Caminho, pela colaboração no desenvolvimento das intenções que originaram a proposta e na abordagem, quanto às debilidades e potencialidades, desta temática. Fica, também, o registo das “linhas de orientação” e respeito pelo Caminho.

Ao Professor Doutor Álvaro Sampaio, pelo exemplo de sabedoria e humildade no enquadramento do tema, nos métodos e aplicações do design. Obrigado, também, pelo apoio técnico e pedagógico, no incentivo e orientação deste trabalho.

Ao Professor Mestre Paulo Simões, pela orientação e apoio deste trabalho, e incentivo nas apresentações, académicas e institucionais deste tema. Agradeço o alinhamento e coerência das (muitas) ideias e intenções resultantes deste projecto, apuradas na simplicidade da proposta.

À Associação Espaços Jacobeus (AEJ), pela oportunidade da exposição do tema desenvolvido neste trabalho no Fórum. A próxima abordagem será a apresentação de resultados e orientação dos passos futuros. O Caminho faz-se caminhando.

Este trabalho é dedicado, também, aos amigos que complementaram este trabalho com dicas, sugestões e pensamentos. E a todos os colaboradores dos Albergues de Rates, de Barcelos, da Recoleta em Tamel São Fins e de Ponte de Lima, bem como a todos os peregrinos, antes e depois das etapas em estudo, pela partilha de informações, no registo de opiniões e sugestões, e de momentos de companheirismo no genuíno envolvimento no ambiente de peregrinação. Ver e sentir, estar e respeitar.

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LISTA DE ABREVIATURAS

D. – Dom, Dona D.C. – Depois de Cristo Doc. (doc.) – documento km – quilómetro

m – metros lineares m² – metros quadrados N.º (n.º) – número p. – página pt – ponto

Proc. (proc.) – processo S. – São

Séc. (séc.) – século Sto. – Santo

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LISTA DE SIGLAS

AACS – Associação dos Amigos do Caminho de Santiago de Viana do Castelo AACSP – Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago do Porto

ACACS – Associação de Confrades e Amigos do Caminho de Santiago, São Paulo, Brasil AEJ – Associação Espaços Jacobeus, Portugal

AGACS – Asociación Gallega de Amigos del Camiño de Santiago, Espanha AMO Portugal - Associação Mãos à Obra Portugal

AUNRA – According to the United Nations Refugee Agency BM – Boletim Municipal

CAT – Campo Arqueológico de Tavira

CCDRN – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte CMB – Câmara Municipal de Barcelos

CPC – Caminho Português da Costa

CPIS – Caminho Português Interior de Santiago CS – Caminho de Santiago

CSC – Catedral de Santiago de Compostela GIS – Geographic Information System GPS –Global Positioning System GR – Grande Rota

IRICAS – Iniciativas para la Revitalizacion Integral de los Camiños de Santiago JN – Jornal de Notícias

NU – Nações Unidas

OAP – Oficina de Acogida al Peregrino OMT – Organização Mundial do Turismo ONG –Organizações não Governamentais ONU – Organização das Nações Unidas OPS – Oficina dos Peregrinos de Santiago ORG – Organizações (não governamentais) PDM – Plano Director Municipal

PE – Parlamento Europeu PP – Percursos Pedestres PR – Pequena Rota RR – Rádio Renascença

SIG –Sistema de Informação Geográfica UE – União Europeia

UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization VAN – Voluntary Architect’s Network

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Reconhecimento do Caminho: no percurso ... 21

Figura 2 - Reconhecimento do Caminho: com o peregrino ... 22

Figura 3 – Catedral de Santiago de Compostela (Via Lusitana, 2015) ... 27

Figura 4 – Planta da cidade de Compostela (900-1040) (Rodríguez, 2010)... 28

Figura 5 – A rede (estradas) de trilhos e calçadas romanas (El Pelegrino, 2014) ... 29

Figura 6 – Rede viária da Hispânia Romana nos Reinos (CAT, 2015) ... 31

Figura 7 – Rede de Caminhos de Santiago (Editorial Buen Camino, 2014) ... 33

Figura 8 – Traçado do Caminho Central Português (Via Lusitana, 2015)... 34

Figura 9 – Caminho para Fátima (azul) e para Santiago (amarelo) ... 37

Figura 10 – Rede de Caminhos em Portugal para Santiago (Via Lusitana, 2015)... 38

Figura 11 – Indicação do Caminho Central por Barcelos ... 39

Figura 12 – Credencial do Peregrino (desdobrável)... 41

Figura 13 – Carimbos na Credencial e preenchimento da Compostela (Peregrinos, 2015)... 41

Figura 14 – Símbolos no Caminho – a concha (vieira) e a seta amarela... 43

Figura 15 – Percentagem de peregrinos por género (OAP, 2015)... 45

Figura 16 – Meios de mobilidade usados pelos peregrinos (OAP, 2015) ... 45

Figura 17 – Idades dos peregrinos (OAP, 2015) ... 46

Figura 18 – Motivação dos peregrinos (OAP, 2015) ... 46

Figura 19 – Peregrinos de origem espanhola (OAP, 2015)... 47

Figura 20 – Nacionalidade dos peregrinos (OAP, 2015) ... 47

Figura 21 – 1ª fase do percurso – até ao ano de 1328 (Pereira, 2014) ... 53

Figura 22 – 2ª fase do percurso – 1328 até 1508 (Pereira, 2014) ... 54

Figura 23 – Referências históricas em Barcelos – ano de 1500 a 1515 (CMB, 2015) ... 54

Figura 24 – 3ª fase do percurso – 1508 até ao presente (Pereira, 2014) ... 55

Figura 25 – Percurso alternativo – Zona de Perigo (Pereira, 2014)... 55

Figura 26 – O Caminho de Santiago no concelho de Barcelos (2015) (s/escala)... 57

Figura 27 – Núcleos urbanos de Barcelinhos e de Barcelos (Pereira, 2014)... 58

Figura 28 – Ponte Medieval, Igreja Matriz e Paço dos Duques de Bragança ... 60

Figura 29 – Templo do Senhor da Cruz e o centro urbano e histórico... 60

Figura 30 – Sinalética – Santiago; Sinalética – Fátima ... 63

Figura 31 – Painel digital interactivo (cidade)... 63

Figura 32 – Localização da Casa da Azenha – Casa do Peregrino (Pereira, 2014)... 67

Figura 33 – Aplicação digital; Barcelos nos seus dedos (Pereira, 2007; CMB, 2015) ... 68

Figura 34 – Sinalização dos percursos (trilhos) pedestres (A caminho de Santiago, 2015)... 68

Figura 35 – Sinalética do Caminho e percursos pedestres (CMB, 2015) ... 69

Figura 36 – Demostração de incentivo ao peregrino... 71

Figura 37 – Brasão da Família Pimenta ... 73

Figura 38 – Abrigo de paragem de autocarro; Abrigo no Caminho (zona de Espanha) ... 74

Figura 39 – Abrigo de praia; Abrigo de miradouros; Abrigo de monte em trilhos... 74

Figura 40 – Abrigos temporários e permanentes (Shelterbox, 2015; Synek, 2014)... 75

Figura 41 – Hotel temporário e Contentor Hotel (Polkamp, 2015; BimbleHotel, 2015)... 75

Figura 42 – Primeiros esboços de estudo da proposta ... 77

Figura 43 – Esboços da referência humana no Caminho ... 78

Figura 44 – Esboço da estrutura e da composição do abrigo ... 78

Figura 45 – Esboços de estudo da proposta ... 79

Figura 46 – Forma e plasticidade; Desenho esquemático do abrigo ... 80

Figura 47 – Modelação perspéctica da proposta... 80

Figura 48 – Modelo do abrigo em estudo (s/escala) ... 81

Figura 49 – Enquadramento volumétrico e funcional ... 82

Figura 50 – Forma e função dos módulos (blocos) de apoio ... 83

Figura 51 – Modelação e volumetria (s/escala)... 83

Figura 52 – Modelação dos elementos da proposta (s/escala) ... 84

Figura 53 – Modelação virtual com o local (s/escala)... 85

Figura 54 – Freguesia de Balugães, Ponte das Tábuas (séc. XVI) e o peregrino ... 87

Figura 55 – Freguesia de Balugães, Caminho e envolvente rural e natural ... 87

Figura 56 – Conceitos deste trabalho ... 94

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Estrutura do trabalho em quatro momentos ... 21

Tabela 2 – Agosto, Setembro, Outubro e Novembro de 2015 (com 2014) (OAP, 2015)... 48

Tabela 3 – Número de peregrinos entre o ano de 1970 até 2014 (OAP, 2015)... 48

Tabela 4 – Localidades portuguesas nos Caminhos de Santiago (2013) (OAP, 2015)... 64

Tabela 5 – Caminho de Santiago e de Fátima (Credencial AEJ, 2015)... 70

Tabela 6 – Equipamentos de apoio aos peregrinos – Barcelos a Ponte de Lima (ACB, 2015).... 71

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ÍNDICE GERAL

RESUMO………... iii

ABSTRACT………... iv

DEDICATÓRIA……….. v

AGRADECIMENTOS DO AUTOR……….... vii

LISTA DE ABREVIATURAS………...……… ix

LISTA DE SIGLAS………... x

LISTA DE FIGURAS………...…. xi

LISTA DE TABELAS………...…………. xiii

CAPÍTULO I INTRODUÇÃO………..………... 17

1.1 INTRODUÇÃO E OBJECTIVIDADE DA PROPOSTA……….... 18

1.2 OBJECTIVOS DE INVESTIGAÇÃO………...……… 19

1.3 METODOLOGIA………..……….. 20

1.4 REVISÃO DA LITERATURA………..………. 23

CAPÍTULO II O CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA………..….. 25

2.1 CONTEXTO DOS PERCURSOS NO CAMINHO……….... 26

2.2 DESCRIÇÃO HISTÓRICA E GEOGRÁFICA………..………. 26

2.3 O CAMINHO CENTRAL – CAMINHO PORTUGUÊS………..………... 33

2.4 O TEMPO E O HOMEM NAS REFERÊNCIAS DO CAMINHO………... 40

CAPÍTULO III O CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA EM BARCELOS………..… 51

3.1 O CAMINHO NO CONCELHO DE BARCELOS – INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO…... 52

3.2 OS VALORES HISTÓRICOS, GEOGRÁFICOS E MORFOLÓGICOS…………..…….. 52

3.3 CONTEXTO SOCIAL, CULTURAL E TURÍSTICO………..……… 58

3.4 REFERÊNCIAS HUMANAS NO CAMINHO………..………... 59

CAPÍTULO IV O ABRIGO DE APOIO AOS PEREGRINOS COMO CASO DE ESTUDO………..….. 65

4.1 O ABRIGO: OBJECTO DE ESTUDO – INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO…………..…... 66

4.2 O PEREGRINO E A VIAGEM. INCENTIVOS E RECURSOS……..………. 66

4.3 O ABRIGO MÍNIMO INDIVIDUAL E SOCIAL; A MODELAÇÃO E A AGREGAÇÃO AO LOCAL………...……….. 73

4.4 LEVANTAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO; ETAPA DE BARCELOS A BALUGÃES………..……….. 85

(20)

xvi CAPÍTULO V

CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS ………..…………. 91

BIBLIOGRAFIA……… 97

ANEXOS…..……….. 103

ANEXO I – DADOS INFORMATIVOS E ESTATÍSTICOS DO CAMINHO………..…... 104

ANEXO II – APONTAMENTO FOTOGRÁFICO DE BARCELOS A BALUGÃES………..… 110

ANEXO III – APONTAMENTOS GRÁFICOS DO CAMINHO………….……….. 115

ANEXO IV – DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA DO ABRIGO………...………. 119

ANEXO V – APONTAMENTOS TÉCNICOS E DE EXECUÇÃO DO ABRIGO….…………. 126

ANEXO VI – ESBOÇOS DE ALGUMAS REFERÊNCIAS NO CAMINHO……….. 136

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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

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18 1.1 INTRODUÇÃO E OBJECTIVIDADE DA PROPOSTA

Com a notoriedade do Caminho Português de Santiago de Compostela, nas acções imediatas divulgadas pelas entidades e meios de comunicação, e pelo número crescente de peregrinos, a atenção volta-se, agora, para análise das necessidades (i.e., carências) que os utilizadores sentem e observam ao longo do percurso. Nesta avaliação surge a matéria para o presente projecto de investigação. No desenvolvimento esboçado, a principal acção é a de colmatar a carência de espaços (locais) que promovam a “pausa” na viagem até Santiago de Compostela.

O tema que se apresenta, incide na necessidade do estudo da colocação de um abrigo mínimo, ou vários, de concepção e integração minimalista, concebido das valências informativas e apelativas, e do necessário conforto utilitário, de apoio aos peregrinos, num percurso validado pela intensidade do uso e da procura, como é o Caminho Central Português de Santiago de Compostela, que rasga concelhos de sul a norte de Portugal, e apresenta-se como suporte e estudo deste trabalho. Como tal, foi importante entender as necessidades que sentem os peregrinos aquando de uma pausa, breve, na caminhada a que se propõem. Assim como, perceber os recursos e os meios existentes, disponíveis no percurso sinalizado, de apoio aos peregrinos. Desta forma, obtém-se como matriz a sequência de quatro correspondências fundamentais no âmbito da investigação: a relação entre o Homem (peregrino), a peregrinação (viagem), a natureza (local) e o abrigo (construção).

No seguimento dos pressupostos enunciados surgem quatro estratégias, que definiram este trabalho, assim, a primeira aparece como nota da intenção de elaborar um abrigo associado a um percurso-trajecto, envolvido num cenário, maioritariamente, natural e paisagístico, propiciando a interacção Homem-Local, como abordagem perceptível no usufruto da envolvente e do meio catalisador e inspirador. No sentido de que, e pressupõem-se, um abrigo deve ser mais que o conceito de protecção do Homem, deverá enquadrar-se no meio em que se insere, proporcionando experiências sensitivas e emocionais a quem dele usufrui. A necessidade de perceber essa relação, no contexto da definição das especificações do projecto, no resultado do estudo dos materiais e das soluções construtivas de ajuste ao local, surge uma outra focalizada na interacção Homem-Produto, como tratamento mais específico e técnico deste propósito. A intervenção do potencial utilizador foi importante, no complemento da metodologia projectual, para uma abordagem confiável das expectativas do produto quanto aos critérios de usabilidade, como também, na concepção da estrutura arquitectónica do local. Esta metodologia de design, bipartida com a arquitectura, pretende equacionar os critérios a serem incorporados no objecto de estudo relacionado com o local. Neste contexto, existiu a necessidade de visualizar e relacionar a peregrinação (viagem), o sentido e intenção presente na autodescoberta do Homem, enquanto peregrino, através de um percurso por ambientes naturais e patrimoniais num complemento gratificante ao propósito que o move. Foi importante conhecer, entender, interagir e trabalhar com as pessoas representativas deste contexto. Assim, como complemento deste estudo, registaram-se as motivações e intenções que levam os peregrinos a percorrer estes trilhos milenares, desprendidos, na maioria dos casos, do conforto a que estão habituados no

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seu dia-a-dia. Tal como perceber os hábitos e formas de peregrinar, os meios de suporte que existem e os recursos usados pelos peregrinos.

A segunda estratégia resulta da vontade de valorizar o Caminho, validando-o como merecido património intemporal. Gerando atitudes que potenciem a cultura, as tradições e costumes locais.

Tal como os valores naturais, sociais e humanos.

Numa abordagem mais teórica do conceito de lugar, paisagem e percurso, segundo Tuan (1983), o lugar não é o mesmo que espaço, pois este transforma-se devido ao tempo e às experiências que o Homem o dota e o define como seu lugar. “O espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e significado” (Tuan, 1983, p. 151).

Todos os lugares passaram por um processo de identificação e vivências, em circunstâncias muito próprias ao longo dos anos, que lhes conferiram a importância e o significado que possuem, em comunhão com os habitantes que as renovam e moldam constantemente.

“Quando o espaço nos é inteiramente familiar, torna-se lugar” (Tuan, 1983, p. 83).

Na terceira estratégia, de forma integrada com as ideias anteriores, tem-se como objectivo criar um abrigo, mínimo, modular, agregado e variado, que obedecerá a diversos desafios, através de uma simplicidade formal e material, facilmente adaptável e moldável a qualquer morfologia e topografia territorial, aliada a uma rápida construção e manutenção. Com potencial de mudança na perspectiva de ocupação do espaço em adaptação aos valores, em constante mudança, da sociedade actual. Desta forma, o modelo em estudo garante a liberdade das configurações e combinações, na agregação dos módulos e na versatilidade de uso do espaço. Molda-se, apropria-se e adapta-se a qualquer local no traçado do Caminho, pela flexibilidade e versatilidade do modelo conseguido. Dos requisitos e parâmetros do projecto, no âmbito da metodologia de design, teve-se em consideração as acções e dinâmicas, publicadas nos meios de comunicação, que valorizam e enquadram o tema aqui exposto.

Nestes acontecimentos verifica-se a necessidade de implementar uma gestão, concertada com as entidades e os intervenientes interessados, da informação e acções que garantam o desenvolvimento coerente dos traçados no Caminho.

A quarta e última estratégia, determina que a proposta pensada (i.e., a criação de um abrigo) será avaliada no propósito da minimização dos impactos nocivos para o meio ambiente. Assim, através deste exemplo, será mais fácil enquadrar e actualizar as propostas futuras que sejam benéficas para quem usa e desfruta em peregrinação.

Finaliza-se este projecto de investigação, através dos dados recolhidos e estudados, com os resultados obtidos, deixando em aberto a possibilidade da abordagem desta temática incitar novas e aprofundadas pesquisas e planos na mais-valia, equilibrada, da manutenção e valorização do Caminho Central Português de Santiago de Compostela.

1.2 OBJECTIVOS DE INVESTIGAÇÃO

Este projecto centra-se no objectivo de desenvolver uma proposta de abrigo, minimalista, que se enquadre na estrutura existente do Caminho Português de Santiago. O apontamento desta intenção, também, evidencia as motivações que levam os peregrinos a percorrer este percurso e

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a perceber as formas de peregrinar actualmente. Para tal, foi importante percorrer algumas vezes este percurso para memorizar todas as informações possíveis, profícuas à evolução deste trabalho, bem como abordar e interagir com os peregrinos, no estudo do conhecimento do utilizador e “figura” de relevância para o objectivo proposto.

De relevar que, também foi importante, conhecer as características geográficas e morfológicas dos pontos de referência, histórico-culturais, identificando as dificuldades e potencialidades de cada local. Para tal, com base na cartografia e no levantamento fotográfico, efectuou-se o reconhecimento necessário ao território, que envolve o Caminho, e mais em pormenor do local seleccionado com base na intenção da proposta mencionada.

Outra fase essencial, foi a pesquisa teórica através de referências bibliográficas tais como publicações em livros, revistas, jornais locais e nacionais, fontes de informação digital e sítios na internet, publicações de design e arquitectura e destaques de títulos sobre o tema desenvolvido neste trabalho. Estes suportes da investigação formataram a estrutura deste trabalho, distribuída por cinco capítulos, para um melhor entendimento relativo à inserção e concepção do tema objecto de estudo, no contexto adequado ao Caminho.

Neste fundamento, ampliam-se as palavras: intervir, desenho, ergonomia, modelar e enquadrar.

Com enfoque para a palavra morfologia, no sentido e na aplicação, como base reguladora das anteriores.

1.3 METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho obedece às quatro ideias fundamentais referidas na introdução.

Desta forma, a saber: a relação entre o Homem (peregrino), a natureza (local) e o abrigo (construção). Com estes propósitos, fundamentados pela realização dos estudos exploratórios in loco no território, quer através das fontes citadas no ponto anterior, acrescenta-se valor à identidade, muito própria, do Caminho de Santiago mencionado neste documento. Por último, a concretização final – a execução de um abrigo (ou mais) com desenho modular, adaptável ao terreno e ao local, e capaz de responder às necessidades básicas do homem e às características do meio paisagístico (cenário), social e cultural (raízes). A elaboração deste trabalho teve como componente fundamental, os estudos exploratórios no território, com a ajuda de plantas e mapas do traçado do Caminho, de levantamentos cartográficos dos troços em estudo, informação recolhida nas entidades oficiais e a pesquisa de referências bibliográficas e textos relacionados com o tema.

Teve-se em consideração os indicadores da arquitectura minimalista, da arquitectura modular e da habitação ocasional, como matriz esboçada do tema pretendido.

Estudar o Caminho de Santiago de Compostela sem o percorrer, não faria sentido e não se obteriam os resultados pretendidos. Assim, passou-se para a prática o significado das palavras da Associação Espaços Jacobeus (AEJ) (2013), “Não passes pelo Caminho, deixa antes que o Caminho passe por ti”. Percorreu-se o Caminho, no traçado delimitado a norte do concelho de Barcelos, e conheceu-se as características territoriais existentes e as referências humanas que se pretendiam (e necessárias) para o desenvolvimento deste trabalho.

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Foi importante esboçar um plano de acção, antes de ir para o terreno, que servisse de orientação aos estudos necessários (objectivos e assertivos) a efectuar nesse percurso, que teve o resultado das quatro estratégias, descritas nos pontos anteriores, com a incidência, também, em quatro momentos identificados no desenvolvimento deste trabalho, na tabela 1, com efeitos na proposta mencionada.

Tabela 1 – Estrutura do trabalho em quatro momentos

O Caminho foi feito a pé, no trilho que atravessa o concelho de Barcelos no sentido de Ponte de Lima, até à freguesia de Balugães, perfazendo um total de 30km. Este percurso foi primordial para os primeiros passos deste projecto, foi possível visualizar o rumo adequado para o desenvolvimento da ideia aqui exposta. Embora tivesse sido feito, algumas vezes, em bicicleta, realizá-lo a pé permitiu mais tempo para observar e identificar as referências culturais e sociais presentes no Caminho Central Português (Figura 1). Só desta forma é que seria possível obter a aproximação e a participação genuína dos peregrinos, como demonstra a figura 2, uma vez que tem-se como objectivo específico perceber as suas motivações. Os dados registados durante o percurso, como complemento à metodologia adoptada, foram importantes para perceber as motivações e os propósitos dos peregrinos, neste traçado em estudo do Caminho.

Figura 1 - Reconhecimento do Caminho: no percurso

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Figura 2 - Reconhecimento do Caminho: com o peregrino

No desenvolvimento deste processo teve-se em conta todo o tipo de informação visual e registo dos diálogos obtidos no terreno, dos quais foram formatados em análise qualitativa e os dados obtidos gráfica e digitalmente denominados de pesquisa quantitativa.

Segundo Chizzotti (2003), as pesquisas classificam-se de qualitativas, quando se fundamentam em informações recolhidas nas interacções interpessoais, analisadas a partir do significado que estas dão aos seus actos. Isto é, surge do contexto em que o investigador participa, compreende e interpreta. Já as pesquisas quantitativas são as que prevêem a mensuração de variáveis preestabelecidas, procurando verificar e explicar a influência sobre outras variáveis, mediante a análise da frequência de incidências e de correlações estatísticas. Aqui o papel do investigador é de escrever, explicar e de predizer.

Foi possível, através da pesquisa qualitativa, recolher a informação necessária no contexto natural, tal como observar a forma de estar e de interagir dos peregrinos com a estrutura existente do Caminho. Em relação à pesquisa quantitativa, no desenvolvimento deste projecto de investigação, analisaram-se as informações disponibilizadas pelas organizações e entidades oficiais que fazem a manutenção do Caminho e dão apoio aos peregrinos rumo a Santiago de Compostela.

A prática profissional, no âmbito do trabalho diário com aplicações e programas de desenho técnico de apoio à arquitectura, na idealização, concepção e na execução. O conhecimento como peregrino no Caminho, de Barcelos até Santiago de Compostela, em bicicleta e várias etapas a pé, nomeadamente o percurso em estudo para este projecto. Assim, a experiência pessoal, como geradora do saber e do querer, também foi, aliada ao gosto por todo o fenómeno do Caminho, a principal fonte de inspiração.

O plano de acção no terreno surgiu da metodologia adoptada, de acordo com a descrição detalhada do ponto anterior. Daqui salientam-se os trabalhos necessários ao desenvolvimento deste projecto numa abordagem qualitativa e quantitativa:

• Estudos exploratórios no território, resultando em apontamentos e registos gráficos;

• Informação recolhida nas organizações e entidades oficiais do território, como a Câmara Municipal de Barcelos, Juntas de freguesias e outras;

• Informação recolhida nas associações e albergues dos peregrinos;

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• Registo e enquadramento das sugestões e opiniões dos peregrinos, abordados no percurso em análise, no desenvolvimento deste projecto;

• Análise cartográfica e trabalho de campo na identificação dos elementos existentes;

• Percorrer o terreno e os locais de estudo, na etapa de Barcelos a Balugães;

• Situar e localizar locais possíveis para a colocação dos abrigos mínimos de apoio;

• Pesquisa e análise das referências bibliográficas apresentadas;

• Pesquisa e análise, dos conteúdos existentes do tema, na webgrafia apresentada.

1.4 REVISÃO DA LITERATURA

Destaca-se como exemplo, a notícia publicada no Jornal de Notícias (JN), (Vila-Chã, 2013), com o título: “Caminho de Santiago interactivo para quem passa por Barcelos”, onde descreve a aplicabilidade de um guia interactivo, desenvolvido pelo investigador Pereira (2007), que nos 30 km de troço está dotado de dados informativos e georreferenciados de apoio aos peregrinos (CMB, 2013). Desta notícia, verifica-se que existem equipamentos capazes de apoiar na actualização da informação circundante ao tema.

No sítio na internet da AEJ (2014) e da Rádio Renascença (RR) (2014), estão disponíveis textos complementares à temática aqui exposta. Destacam-se alguns títulos como “Caminho interior para Santiago já está devidamente tratado” e a “Renovação foi um pedido dos peregrinos. Resta concluir o sistema de alojamento” (RR, 2014). Outros títulos como o “Espaço Jacobeus inaugura espaço de apoio aos peregrinos de Santiago” (AEJ, 2014), “Projecto internacional promove o Caminho de Santiago” e “Caminhos de Santiago com cada vez mais peregrinos” (RR, 2014),

“Caminho de Santiago de Compostela terá marca única no mundo” (AEJ, 2014), entre outros que referem a responsabilidade da monotorização e manutenção de todos os percursos reconhecidos no Caminho (CMB, 2013). Nestes acontecimentos verifica-se a preocupação em implementar uma gestão, concertada com os vários intervenientes nas áreas da política, da cultura, da economia e da religião, da informação, das referências e dos recursos nas acções que garantam o desenvolvimento e promoção coerente do Caminho. Posto isto, no seguimento destas evidências, revela-se importante o ajuste do Caminho ao presente. Esta actualização implica associar à estrutura existente do Caminho, sem a desvirtuar, de intervenções e acções que vão ao encontro do peregrino “moderno”, informado e consciente das necessidades ao longo do percurso. Assim, seria mais fácil enquadrar, e actualizar, as propostas futuras que tragam mais- valias para quem usa e disfruta deste tipo de ocupação, caminhar e/ou peregrinar.

A inclusão das novas tecnologias no Caminho, tem ocupado gradualmente um lugar importante no acesso e partilha de informação, e verifica-se a maior aceitação por quem percorre este itinerário de peregrinação em bicicleta. Estes peregrinos usam-nas através dos ficheiros GPS, nos sítios na internet com conhecimento do território e nos fóruns, e redes sociais, das associações e particulares com interesse no Caminho (Pereira, 2014).

A pesquisa passou, também, pela avaliação das novas tecnologias de apoio ao Caminho de Santiago, resume-se ao acesso aos sítios na internet de instituições tais como: Associação Nacional Espaços Jacobeus, disponível em http://www.jacobeus.org; Fundação Xacobeo – Ano

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Xacobeo, disponível em http://www.xacobeo.es/pt-pt; Albergue Cidade de Barcelos, disponível em http://www.alberguedebarcelos.com. Todos foram consultados em Setembro, 2014.

Analisou-se, também, os fóruns de discussão e de sugestões, partilha das experiências, visualização e recolha de imagens, apontamentos e perspectivas futuras para o Caminho, através das redes sociais, nomeadamente no Facebook, como exemplo no sítio na internet, no enquadramento com conteúdos sobre o Caminho Central Português para Santiago. Disponível em http://www.facebook.com/groups/264432693667089/ e informações com os Peregrinos de Santiago de Compostela. Disponível em http://www.facebook.com/groups/CSantiago.

Consultados em Setembro de 2014.

Para a partilha de ficheiros GPS, com os diferentes itinerários de peregrinação Jacobeia, actualizações regulares e com grande definição. Disponível em http://www.gpsies.com e em http://en.wikiloc.com/wikiloc/home.do (Pereira, 2014).

Os peregrinos estão, gradualmente a demonstrar interesse pelas aplicações móveis disponibilizadas no sítio na internet da Câmara Municipal de Barcelos. Estas encontram-se disponíveis em http://www.cm-barcelos.pt, consultado em Setembro de 2015. Através dos separadores: Museu vivo do Caminho de Santiago; Barcelos nos seus dedos; Guia interactivo do Caminho Português de Santiago em Barcelos (SIG e Realidade aumentada em Turismo) (Pereira, 2007 e 2014).

A visualização, análise e interpretação destas informações, incluídas e disponíveis digitalmente, com o cruzamento dos dados estatísticos e de referência no terreno, e de fontes (gerais) tais como: Oficina do Peregrino de Santiago de Compostela e da Associação dos Espaços Jacobeus, e de índole mais local como o Posto de Turismo da Câmara Municipal de Barcelos e no Albergue de Peregrinos da Recoleta, na freguesia de Tamel São Pedro Fins, deste concelho. A análise teve efeito na percepção de três vertentes da informação disponível, em destaque: o primeiro guia conhecido dos Caminhos de Santiago – O Códex Calixtinus, desenvolvido no ponto 2.1 (desta investigação); os guias Internacionais, com novas edições e actualizações, dos Caminhos de Santiago (no presente); os guias interactivos, concebidos para dispositivos móveis com Realidade Aumentada (de futuro) (Pereira, 2014).

A revisão descrita, e a posterior validação no terreno, foram importantes para o estudo e elaboração do presente trabalho.

A proposta pensada (i.e., a criação de um abrigo) passará por colocar, em primeiro, toda esta informação organizada, por separadores, e fazer uma triagem que resulte na validação e evidência das que complementam esta ideia, e que a torne viável e exequível.

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CAPÍTULO II

O CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA

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26 2.1 CONTEXTO DOS PERCURSOS NO CAMINHO INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO

Este capítulo, através de uma exposição demonstrativa, de forma sintetizada, apresenta-se com o propósito de perceber o enquadramento histórico e geográfico, dos vários itinerários que compõem a rede de traçados, do Caminho de Santiago de Compostela. Na estrutura hierárquica desses traçados, pela influência no contexto deste trabalho, o Caminho Central Português estará em destaque como base, na análise das referências do Homem e da presença (no Tempo) da sociedade no Caminho.

2.2 DESCRIÇÃO HISTÓRICA E GEOGRÁFICA

A Península Ibérica fazia parte das terras em que o Apóstolo Santiago (São Tiago), “O Grande”, predicou o cristianismo, pela relação muito próxima de Jesus. Após a sua morte, em terras da Palestina, por volta do ano 44 D.C., foi levado num barco pelos seus discípulos até à Galiza. O sepulcro do Apóstolo Santiago só foi descoberto e identificado no início do século IX. A partir de então, ao longo da Idade Média, verificou-se uma enorme afluência de pessoas em peregrinação e adoração ao Santo, rumo ao local da descoberta, onde hoje é a cidade galega de Santiago de Compostela (Rocha, 1993).

A imagem do Apóstolo enquanto guerreiro, conhecido como Santiago “Mata-mouros”, teve a sua origem numa lenda, a qual conta o aparecimento miraculoso do Apostolo Cavaleiro combatendo os Muçulmanos ao lado das tropas de Ramiro I, na batalha de Clavijo, a 23 de Maio de 844.

Antes desta representação, também, referiu-se uma outra como Santiago Cavalgando nos céus.

Nestas duas variantes iconográficas, uma delas representa Santiago como cavaleiro celeste, enquanto a outra é um combatente na terra.

Numa crónica Espanhola, Peake (1919), refere que as peregrinações ao túmulo começaram no ano 849. Não há uma data concreta onde se situa a descoberta. Sob a cidade de Santiago de Compostela, foram encontradas ruínas de um mausoléu pagão datado do século I, à volta do qual foi construída uma vila romana com um cemitério cristão que foi utilizado até ao século VII.

A fundação da cidade é do ano 830, foi erigida uma capela com o objectivo de proteger a tumba (túmulo) do Apóstolo e o bispo mudou o centro episcopal para Santiago. A origem da palavra Compostela aponta para a descoberta das ruínas, e acredita-se que terá duas proveniências possíveis, tal como Campus Stellae (Campo das Estrelas) ou da derivação da palavra compositum (cemitério) (Rocha, 1993).

Todavia, segundo Rocha (1993), foi na abadia de Cluny, fundada em 910 pelo duque Guilherme da Aquitânia, que surgiu um dos principais centros dinamizadores das peregrinações jacobeias.

Os monges estabeleceram-se preferencialmente ao longo dos Caminhos de Santiago onde fundaram mosteiros, ergueram igrejas, estabeleceram refúgios, hospícios e outras casas ou instituições de assistência aos peregrinos. “Pode-se dizer que a ordem de Cluny foi a primeira agência de propaganda na Europa das peregrinações a Santiago" (Rocha, 1993, p. 103).

Segundo Mendes (2009), no reinado de Afonso III, Rei das Astúrias, em 899, começou a construção da nova basílica, que foi incendiada em 997 pelas tropas muçulmanas de Almançor.

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A reconstrução da basílica foi iniciada, em 1075, por iniciativa do Rei Afonso VI da Galiza e do bispo Diego Peláz. Este último, um antigo escriba do conde D. Raimundo de Borgonha, senhor da Galiza, eleito em 1102 arcebispo de Santiago de Compostela. Com a descoberta do túmulo de Santiago (São Tiago) as peregrinações popularizaram-se e transformam a cidade de Compostela num dos principais centros de peregrinação cristã, em alternativa maior às idas à Terra Santa (Jerusalém) e a Roma. A Catedral (O Templo) de Santiago surge como um dos pilares primordiais da religião cristã e onde se centram todas as atenções por guardar toda a história de fé no Santo Apóstolo ali depositado e venerado (Figura 3).

As peregrinações à cidade de Compostela eram constantes e enchiam as diversas rotas que iam surgindo de pessoas de diferentes camadas sociais. A cidade de Compostela, referenciada como Villa Sancti Iacobi no ano 900 ao de 1040 (adaptada de Rodríguez, 2010) (Figura 4) é de facto o último grande centro de peregrinação na Idade Média, e fulcral para o processo de reconquista cristã e da consequente evolução e desenvolvimento urbano (Rocha, 1993).

Os reis que mais apoiaram o Caminho, construindo uma série de infra-estruturas e locais de assistência aos peregrinos, foram Sancho III, o Grande, de Navarra e Afonso VI, o Valente (Rei de Leão entre 1065 e 1109, o Rei da Galiza entre 1071 e 1109 e o Rei de Castela entre 1072 e 1109). Por esta altura surgem algumas peregrinações a Compostela (Mendes, 2009).

Figura 3 – Catedral de Santiago de Compostela (Via Lusitana, 2015)

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Figura 4 – Planta da cidade de Compostela (900-1040) (Rodríguez, 2010)

A rede de trilhos e calçadas romanas (Figura 5), construídas há centenas de anos antes, canalizavam os peregrinos, sobretudo a Via Aquitânia, por território romano, dividido por províncias e cidades em zonas fortificadas (Mendes, 2009).

Ao longo da época medieval e a moderna, quem rumou a Santiago de Compostela em peregrinação, percorreu vias romanas remanescentes, que ao longo dos séculos se foram diversificando (Stellarum, 2009). Bueno (2004) classifica os Caminhos rumo a Santiago de Compostela como a “caminhada de cunho espiritual e místico” (p. 17). Para este autor, “a peregrinação consiste numa viagem a um lugar sagrado, um lugar de devoção e de culto, na esperança de obter uma graça divina.” (Bueno, 2004, p. 43).

As cidades francesas como Bordeaux, Vezelay, Le Puy, Paris e Arles, assim como as hispânicas Roncesvalles e Astorga, passaram a fazer parte do roteiro traçado para a peregrinação até ao túmulo do Apóstolo Santiago, pela interligação dos vários itinerários que proporcionavam o conhecimento de várias localidades e regiões, com o rumo ao mesmo destino (Rocha, 1993). De acordo com Stopani (1995), o novo trajecto nos montes Pirenéus margeava o curso do rio Arga e iria passar pelas povoações de Estella, Logroño e León, dando configuração praticamente idêntica à do actual trajecto conhecido por Caminho Francês, a rota mais trilhada pelos peregrinos até Santiago de Compostela.

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Figura 5 – A rede (estradas) de trilhos e calçadas romanas (El Pelegrino, 2014)

O primeiro guia conhecido, de apoio aos Caminhos de Santiago, rumo a Compostela, foi escrito pelo Papa Calixto II – O Códex Calixtinus (séc. XII), ou Códice Calixtino, composto por cinco livros, cada um tinha um tema específico numa vasta compilação de textos em Latim e iluminuras, formados por fólios em pergaminho com paginação em numeração romana, elaboradamente decorados com cabeçalhos de miniaturas, foram reunidos em Compostela durante o Arcebispado de Diego Gelmírez. E tinha como grande objectivo da promoção desse Arcebispado e dos roteiros de peregrinação. O exemplar mais antigo encontra-se na Catedral de Santiago com datação aproximada do ano de 1150 (Rocha, 1993).

O Códex Calixtinus é constituído pelo conjunto dos cinco livros com os seguintes títulos:

• Livro I – “Anthologia Liturgica”, é o maior de todo o Códex, possui uma vertente essencialmente litúrgica e clerical, de homenagem a Santiago;

• Livro II – “De miraculi Sancti Jacobi”, é constituído por uma compilação de vinte e dois milagres atribuídos ao Apóstolo Tiago, ocorridos em diversos pontos da Europa e nos Caminhos de Santiago (conhecido como Caminho Francês);

• Livro III – “Liber de translatione corporis Sancti Jacobi ad Compostellam”, constituído pelos relatos da Evangelização de Santiago pela Ibéria e todo o processo de transladação do seu corpo até terras Galegas;

• Livro IV – “Historia Karoli Magni et Rothalandi”, relata a história e conquistas de Carlos Magno e de Rolando, num ambiente épico. Carlos Magno como o descobridor do túmulo de Santiago e impulsionador da peregrinação a Compostela;

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• Livro V – “Iter pro Peregrinis ad Compostellam”, foi escrito entre 1135 e 1140 por Aymeric Picaud. Este livro é conhecido como o primeiro Guia de Peregrinação, e de contextualização da Cultural Europeia, numa Europa Teocêntrica Medieval, este livro reúne um conjunto de conselhos práticos para os peregrinos, com a descrição de todo o percurso, que corresponde ao actual Caminho Francês, com todos os relatos da experiência pessoal do autor, com descrições detalhadas dos lugares e das diferentes populações, até Compostela (Pereira, 2014, p. 116 - 117).

Segundo Pereira (2014), uma grande parte do Códex Calixtinus foi traduzido para Galego, no séc. XV, correspondendo aos relatos das histórias de Carlos Magno (Livro IV) e das descrições e apontamentos do peregrino-autor para o Guia da Peregrinação (Livro V).

Como referência ao Guia, quanto ao modelo da informação usada, em comparação à forma de peregrinar nos dias de hoje, “Volvidos alguns séculos, a estrutura dos actuais Guias Internacionais é bastante similar, para não dizer igual, à estrutura do Guia existente no Livro V do Códex Calixtinus.” (Pereira, 2014, p. 117).

Em muitos percursos do Caminho, os peregrinos podiam contar com acolhimento e ajuda ao longo da viagem. Assim, a importância fulcral que a noção de solidariedade tem para o sucesso do fenómeno da peregrinação medieval, ficou amplamente patenteada nos inúmeros preceitos emitidos a este respeito desde as mais altas esferas eclesiásticas e recolhidos, como não poderia ser de outro modo, no Códice Calistino (Apolinário, 2013).

O Códex Calixtinus define que quando o dia do Santo (25 de Julho) ocorre num domingo, o ano correspondente é um Ano Santo Jacobeu, com especiais bênçãos e privilégios espirituais para os peregrinos. A Igreja integrou a peregrinação a Finisterra, na tradição Jacobeia e na rota europeia de peregrinações, por indicações descritas no Livro III (Mendes, 2009).

Grupos de peregrinos começaram a chegar de toda a Europa, desenvolvendo os lugares, as cidades e territórios por onde passavam. Os percursos mais utilizados eram marcados como rotas importantes que ligavam as principais cidades (Figura 6), pois eram as antigas estradas medievais, redes viárias e territórios divididos em regiões consolidadas (Pereira, 2007).

Segundo Stopani (1995), o Caminho de Santiago, tal como relatado no Códex Calixtinus, é, em terra, o desenho da Via Láctea, que indica a direcção de Santiago de Compostela, servindo assim, na Idade Média, de orientação durante a noite aos peregrinos. Esta associação ao referido relato, deu ao Caminho o nome de “Caminho das Estrelas”, e fez com que a chuva de estrelas fosse um dos símbolos do culto Jacobeu.

Para as pessoas da Idade Média, a peregrinação foi uma forma de fugir à rotina da vida quotidiana e que lhes permitiu satisfazer a curiosidade da descoberta, e também aproveitavam para visitar outros locais religiosos (e.g., Jaca, Burgos, Ponferrada) localizados ao longo da rota até Compostela (Saucken, 1989). Na Idade Média, “a vida é vista como uma passagem pela terra, uma terra de exílio em que o homem é um perpétuo peregrino. São tantos os que, muito pouco, ou nada, possuem, que facilmente se põem a caminho” (Le Goff, 1995, p. 173).

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Figura 6 – Rede viária da Hispânia Romana nos Reinos (CAT, 2015)

A peregrinação não era fácil, e feita muitas vezes numa pobreza total de fome e doença, mas a devoção e a necessidade faziam querer que na viagem havia a busca da solução, e os peregrinos deixavam a família e as suas actividades e com poucos ou nenhuns recursos rumavam a Compostela. O apoio ao peregrino era dado ao longo do percurso nas igrejas, mosteiros, capelas e algumas casas particulares, desde a comida aos cuidados de saúde necessários. A motivação para a viagem é um elemento crucial que nos permite conhecer o peregrino, sendo mais fácil deduzir o comportamento numa presença individual, em grupo social ou relacionados com a necessidade psicológica ou deveres religiosos (Cipollone, 2003).

O santo Apóstolo personifica assim a peregrinação, a vida como sucessão de provas que devem ser ultrapassadas para alcançar, no final do caminho, a salvação. Uma peregrinação, contudo, que mesmo quando é empreendida com votos de penitência e devoção, não deixa de ter a aliciante dimensão lúdica, de descoberta, associada a qualquer viagem (Apolinário, 2013).

A compreensível representação do santo caminhante é o valor simbólico da caridade e da hospitalidade. Pois com a excepcional adesão que a Idade Média manifestou à prática da peregrinação, uma experiência pejada de dificuldades, nunca teria sido possível sem a consciência, por parte dos que empreendiam o caminho, de que poderiam contar com acolhimento e ajuda ao longo da viagem (Apolinário, 2013).

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De acordo com Cherubini (1998), desde a segunda metade do século XIV, as peregrinações eram feitas regularmente por famílias nobres, e é a partir de então que se verifica o uso da concha de vieira esculpida nos brasões notáveis dessas famílias, como forma de representação ostentada e orgulhosa dessas viagens e o devoto ao Santo, na composição com os símbolos (ornatos) heráldicos de referência à nobre geração.

As peregrinações a Santiago de Compostela popularizaram-se e tornaram-se um dos principais destinos de peregrinação dos católicos com a tomada de Jerusalém por Caliph Omar em 638.

Desde então, dirigiram-se a Santiago de Compostela pessoas famosas como reis, nobres e bispos, até à massa anónima do povo (Stellarum, 2009).

De registar que, segundo Mendes (2009), os três principais centros de culto da religião cristã são Jerusalém, Roma e Santiago de Compostela, a cada um destes locais é atribuído denominações diferentes tal como o peregrino é aquele que vai em peregrinação a Compostela, o palmeiro vai a Jerusalém e o romeiro a Roma.

Na definição das palavras, e na simbologia histórica, em Latim Iacobus refere-se a Santiago, de onde surge o termo Jacobeu, Xacobeu em Galego, estas são utilizadas para explicar algo referente ou pertencente ao Apóstolo e ao seu culto. Consequentemente à numerosa corrente de peregrinação surge uma densa rede de percursos (Rotas Jacobeias), de diversos pontos da Europa, onde se destaca o Caminho Francês (Figura 7), percurso a amarelo) e as ramificações, designando-se como os Caminhos de Santiago ou as Rotas Jacobeias (Cherubini, 1998).

A partir do século XIV, o Caminho entrou em declínio com a Peste Negra (Mendes, 2009).

A Reforma Protestante foi também fulcral para o declínio do Caminho. No início do século XVI, Martinho Lutero (1483-1546) abraçando as ideias dos pré-reformadores, iniciou o movimento reformista cristão contestando diversos pontos da doutrina da Igreja católica e propondo uma reforma no catolicismo (Pereira, 2007).

Alguns pensadores da Reforma Protestante, como João Calvino e Erasmo de Roterdão, opuseram-se à prática da peregrinação pois achavam que eram viagens inúteis, consideraram o culto das relíquias como idolatria e puseram em causa o significado das indulgências. O surgimento do protestantismo, e a Cisão da Cristandade (entre protestantes e católicos), afectou a vinda de peregrinos dos países que aderiram à Reforma (e.g., Inglaterra, muitas zonas de Alemanha, Países Baixos, Escandinávia, Países Bálticos). A Igreja Católica Romana respondeu com a Contra-Reforma, iniciada com o Concílio de Trento (1545-1563), e através da influência dos Jesuítas e da Inquisição, conseguiram evitar a divulgação dos ideais reformadores em países católicos como Portugal, Espanha e Itália. Embora a Reforma Protestante tenha feito arrefecer um pouco a devoção jacobeia, a partir do século XVII verifica-se um vigoroso renascimento das peregrinações nas rotas mais importantes, incluindo as de ligações por via marítima (Rocha, 1993).

Entretanto, nos séculos XVII e XVIII, as redes de comunicação mais importantes foram melhoradas e o Caminho recuperou, mas voltou a decair com a Revolução Francesa, a dissolução das congregações religiosas em 1790, e no século XIX com a Revolução Industrial e os progressos científicos e intelectuais (Pereira, 2007).

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Figura 7 – Rede de Caminhos de Santiago (Editorial Buen Camino, 2014)

2.3 O CAMINHO CENTRAL – CAMINHO PORTUGUÊS

Existem vários caminhos para Compostela, e os primeiros a serem documentados não passavam por Portugal. Uma das primeiras referências documentadas, datada do século XII, refere-se a uma viagem a Santiago de Compostela seguindo um itinerário português (Stellarum, 2009).

Nessa rede destaca-se o Caminho Português entre os mais conhecidos, e assume particular relevância como Caminho Central, com inicio em Lisboa em direcção ao Porto, até entrar em Galiza por Valença do Minho e segue até à cidade de Santiago de Compostela (Figura 8). Terá sido esta rota, o Caminho Central, que a Rainha Santa Isabel usou em peregrinação a Santiago de Compostela, no século XIV, misturada entre os peregrinos humildes (Pereira, 2007).

Já antes do nascimento da nacionalidade, a devoção a Santiago tinha raízes no território agora português. A localização geográfica, bem como as identidades histórica, cultural e religiosa portuguesa, geram proximidade com a Galiza (Rocha, 1993). O Reino de Portugal é fundado a

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partir da família reinante em Leão, na Galiza e em Castela, de ressalvar que o Santo Apóstolo Santiago, e o seu culto, eram de importância primordial para esses reinos cristãos. “A devoção Santiaguista manteve-se intacta quando o território portucalense foi doado ao conde D. Henrique, em atenção à sua mulher D. Teresa” (Moreno, 2009, p. 42).

Figura 8 – Traçado do Caminho Central Português (Via Lusitana, 2015)

Uma grande afinidade cultural entre os habitantes do território que veio a ser a Galiza e os do norte de Portugal, em virtude, nomeadamente, de todos falarem a mesma língua, que veio a ser definida como galego-português, e da qual proveio o português dos nossos dias. A primeira referência conhecida do culto de Santiago, em território hoje português, data do ano de 862, altura em que Portugal fazia parte integrante do reino asturiano, com a sagração e dedicação ao Apóstolo da igreja de Castelo de Neiva, concelho de Viana do Castelo, por iniciativa do bispo Nausto de Coimbra. Durante o reinado de Afonso III de Astúrias em 889 é doado o mosteiro de

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São Frutuoso de Montélius à igreja de Santiago e semelhantes doações são feitas nos anos seguintes (Mendes, 2009).

O Apóstolo aparece como o “patrono da reconquista” e à medida que vão sendo conquistados territórios aos mouros, surgem as primeiras igrejas dedicadas a Santiago.

Numerosas famílias portuguesas adoptaram a vieira e outros símbolos jacobeus no brasão das suas armas (desenvolvido no Ponto 4.2). O primeiro registo de uma peregrinação a Compostela aparece no ano de 1064 (Mendes, 2009).

Antes do cerco de Coimbra, reconquistada por Almançor em 987, Fernando Magno peregrina a Santiago para pedir ajuda ao Apóstolo. Após a conquista de Coimbra, Fernando Magno e Sesnando Davides, então governador da cidade e da região, “foram a Compostela agradecer ao Apóstolo tão importante vitória” (Cunha, 2006, p. 3).

De acordo com Mendes (2009), o Conde D. Henrique e a sua esposa D. Teresa, no ano de 1097, fizeram a peregrinação a Santiago de Compostela.

O processo de reconquista, e a paz que dele advém, acompanha a evolução da peregrinação.

Associado ao culto de Santiago, e às peregrinações em Portugal estão também os cultos de Santo Amaro, São Roque (peregrinos jacobeus segundo a tradição) e de São Cristóvão e São Gonçalo de Amarante, padroeiros dos caminhos, dos caminhantes e das travessias de rios.

Depois de formado o Reino de Portugal, os nossos monarcas demonstraram uma contínua devoção pelo Apóstolo. D. Afonso II peregrina a Compostela em 1220, o infante português Afonso de Bolonha faz o trajecto em 1243 e em 1244 segue-lhe os passos D. Sancho II. Por esta altura surgem também os primeiros registos da prática da peregrinação "por substituição", pagando a alguém para ir em seu nome ou deixando em testamento a atribuição de uma verba a quem fosse a “a Santiago da Galiza” em seu nome. Foi o caso de Dona Maria, filha de D. João I.

Isabel de Aragão foi a peregrina mais famosa que partiu de Portugal (Mendes, 2009).

A Rainha Santa Isabel peregrinou todo o percurso a pé, duas vezes, até Compostela, na primeira, em 1325, seis meses após a morte de D. Dinis, foi acompanhada de um séquito real, em 1335, numa abordagem mais modesta e de anonimato (Cunha, 2006).

Muitos monarcas, embora não tenham peregrinado a Santiago, contribuíram para a peregrinação com doações para mosteiros, hospitais e albergarias que cuidavam dos peregrinos no Caminho, já que a peregrinação era muito intensa no final da Idade Média. Foram os casos de Penajóia (Lamego), Canavezes, Vila Nova de Cerveira, Ponte de Lima, Guimarães e Chaves que tinham como principal obrigação o cuidado dos peregrinos. A ordem Militar de Santiago, que teve um papel tão importante na reconquista, foi introduzida em Portugal aproximadamente no ano de 1172, com a doação da Vila de Arruda à ordem por D. Afonso Henriques, mas tornou-se mais visível nos reinados de D. Afonso II e D. Sancho II. Teve como sede o Castelo de Palmela e mais tarde o de Alcácer do Sal. Com a conquista do Algarve em 1249, foi doada grande parte do Alentejo e do Algarve à ordem de Santiago, que foi responsável pela criação das paróquias e implementação de ermidas dedicadas ao Santo (Mendes, 2009).

Nos séculos XV e XVI, surgem as Irmandades e Confrarias de Santiago. A independência da ordem do mestre de Castela foi concedida em 1288 pelo papa Nicolau IV, revogada por Bonifácio

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VIII em 1295 e recuperada em 1314. Com a implantação da república no ano de 1910, a ordem é extinta em conjunto com todas as ordens honoríficas monárquicas. Em 1918, é restabelecida como ordem honorífica de Santiago da Espada. Santiago foi protector do exército português até à crise de 1383-1385, altura em que foi substituído por São Jorge, por influência inglesa. Para além da necessidade de chamar por um Santo diferente, esta adopção de São Jorge marca a necessidade de separação e independência de Castela. Por influência do tratado de Windsor, Portugal troca o patrono militar Santiago por São Jorge numa verdadeira atitude de

“anticastelhanismo”, nem por isso os portugueses esmoreceram na devoção ao Apóstolo, sendo numerosos os documentos que comprovativos de que as peregrinações continuaram (Rocha, 1993; Mendes, 2009). Rapidamente esta representação do Apostolo se espalhou por toda a Península Ibérica, de modo especial pelas regiões de fronteira com o domínio comummente designado como sarraceno, como por exemplo Évora, Elvas ou Santiago de Cacém. De tal forma, que existem no território português 184 paróquias dedicadas a Santiago e inúmeras misericórdias, albergarias, hospitais, igrejas e ermidas dedicadas ao Apóstolo espalhadas pelo nosso país. A própria toponímia portuguesa foi muito marcada pela sua influência, Santiago, São Tiago, Caminho, Albergaria e Hospital estão ainda presentes nos nomes de muitas localidades portuguesas.

Refira-se a título de exemplo: a cidade de Santiago do Cacém, Santiago da Guarda (Ansião) Santiago de Cassurrães (Mangualde), Santiago de Besteiros (Tondela), São Tiago de Custóias (Porto), São Tiago de Lobão (Santa Maria da Feira), S. Tiago de Silvalde (Espinho), entre outras.

Algumas destas localidades estão associadas à Ordem de Santiago (séc. XII) (Mendes, 2009).

Em Portugal os párocos são aconselhados a não enviar os fiéis em romaria, alertando-os para as tentações que os podem aguardar no Caminho (Cunha, 2006). Na prática, isto não faz diminuir o culto a Santiago, nem o número de peregrinos, retira-lhes apenas em teoria o aval eclesiástico, e mesmo este não é unânime. Surge em 1451 o relato mais antigo conhecido do Caminho Português de Nicolau Lanckman de Valckenstein, capelão e embaixador do imperador alemão.

Esta é de facto uma época muito fértil em termos de relatos e registos de peregrinos famosos, como são os casos de Leão de Rozmital, cunhado do rei da Boémia (1466), Rei D. Manuel I (1502), Damião de Góis (1533), D. Luís, acompanhado do pintor Francisco da Holanda (1549), Confalonieri, secretário do Núncio Apostólico em Lisboa (1594), Jacobo Sobieski, pai do Rei da Polónia (1607), Hakluytus Posthumus, editado por Samuel Purchas, (1625) onde consta um itinerário anónimo em inglês e em verso, Cosme III de Médicis, Grão-duque da Toscana (1669), Nicola Albani, napolitano (1743) entre muitos outros. A par dos peregrinos “famosos”, havia um sem número de peregrinos anónimos que rumavam a Santiago todos os anos. Alguns relatos permanecem nos registos paroquiais e hospitalares, como a narrativa de Frei Martín Sarmiento, erudito galego. Há registos de alguns desvios intencionais ao longo da rota, para visitar santuários, hospitais ou albergarias, cuja localização tinha bastante importância aquando da escolha do Caminho. A quebra nas peregrinações a nível eclesiástico surge com a Restauração da Independência em 1640. Quase nada do que era espanhol tinha boa fama, o Cabido de Lamego apontou aos seus cónegos que as romarias a Compostela e à Senhora de Guadalupe

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podiam ou deviam ser comutadas pelas da Senhora da Lapa ou de São Gonçalo (Cunha, 2006;

Mendes, 2009).

Há uma relação entre sentimento “nacional” e peregrinações, mas mesmo assim o fluxo de peregrinos não diminuiu. Apenas a partir do século XVIII se assiste a uma verdadeira quebra de popularidade de Santiago por terras lusas, causada pela instabilidade social e política causada pelas invasões francesas e pelo liberalismo (Cunha, 2006). Mas surpreendentemente no século XIX voltam a ganhar força, em 1852 peregrinam a Compostela D. Fernando e D. Maria II e, em 1884, o Papa Leão XIII confirma a autenticidade das relíquias. A criação de outros focos de peregrinação em Portugal, em especial em torno das aparições de Fátima (1917), é responsável pelo esquecimento em que caiu Santiago e a sua peregrinação. Fátima recebe cerca de quatro milhões de visitantes e cerca de 50 mil peregrinos a pé anualmente. Os peregrinos que rumam a pé para Fátima, seguem as indicações de uma simples seta pintada numa parede à cor azul- escuro (Figura 9). O número de peregrinos neste percurso é cinco vezes maior do que o número de peregrinos que vai a pé para Santiago. A devoção católica que movia os fiéis a Santiago foi substituída pela devoção Mariana (Caminho de Fátima), mas apesar disso os caminhos portugueses para Santiago não desapareceram, foram antes apropriados por outro tipo de peregrinos que não caminham apenas pela fé (Mendes, 2009; Pereira, 2003).

Figura 9 – Caminho para Fátima (azul) e para Santiago (amarelo)

Os caminhos percorridos pelos peregrinos portugueses eram muitos e variados. Em geral, eram escolhidos os caminhos mais comuns e mais frequentados, para evitar encontros indesejados com bandidos e salteadores. Em rigor, não é possível apontar apenas um Caminho Português.

Antes da marcação efectiva do Caminho no terreno, não havia nem início, nem um percurso definido. Historicamente, a partir de Lisboa, pode-se falar de dois grandes caminhos que atravessam o país de Sul a Norte, um na costa e um no interior (Figura 10).

Em 1992, em preparação para o ano Jacobeu de 1993, foi marcado pela Asociación Gallega de Amigos del Camiño de Santiago (AGACS), o Caminho Português na Galiza, partindo de Tui. Em 1995, em colaboração com as Câmaras Municipais de Valença e Ponte de Lima e com a Associação de Valença do Minho dos Amigos do Caminho de Santiago foi marcado o troço Ponte de Lima a Tui. A Associação dos Amigos do Caminho Português a Santiago de Ponte de Lima sinalizou o lanço entre Porto, Barcelos e Ponte de Lima nos anos seguintes. A sinalização a sul do Porto demorou cerca de 10 anos, completados com constantes debates entre as várias

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Associações de Amigos do Caminho, curiosos e historiadores, sobre qual seria o verdadeiro Caminho Português e o futuro do mesmo (Mendes, 2009; Sá, 2013).

Figura 10 – Rede de Caminhos em Portugal para Santiago (Via Lusitana, 2015)

Referências

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