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MOVIMENTO ESTUDANTIL SECUNDARISTA: AS OCUPAÇÕES NAS ESCOLAS DO PARANÁ COMO RESISTÊNCIA À POLÍTICAS EDUCACIONAIS IMPOSTAS

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ISSN 2176-1396

PARANÁ COMO RESISTÊNCIA À POLÍTICAS EDUCACIONAIS IMPOSTAS Renata Bento Leme 1 - UEL Maria José Ferreira Ruiz 2 - UEL Eixo– Políticas Públicas e Gestão da Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

O Movimento Estudantil Secundarista (MES) esteve presente ao longo da história interligada ao Movimento Estudantil Universitário. Tendo isso em vista, esta pesquisa tem o objetivo de buscar informações sobre a organização do Movimento Estudantil Secundarista, resgatando a memória do movimento, desde o período da Ditadura Civil-Militar até a atualidade. Tem como hipótese que o MES tem caráter contestatório e por isso se posiciona contrário às políticas austeras que tendem a retirar direitos dos trabalhadores. Na época da Ditadura Civil- Militar, o movimento se organizou e fez parte das manifestações que reivindicavam a volta da democracia, o fim da repressão e perseguição política, além de lutar pela educação pública e gratuita. No período atual, o Movimento Estudantil Secundarista fez um levante contra as políticas impostas pelo governo interino, a Reforma do Ensino Médio, presente na Medida Provisória n. 746/16, foi uma das principais causas das ocupações das escolas públicas do Estado do Paraná. Neste estudo, parte-se da questão: Como o Movimento Estudantil Secundarista tem se organizado contra políticas impostas? Com base no referencial teórico de análise dos documentos da política recente, foi feita a busca por informações sobre o período ditatorial em estudos de Ferreira; Bittar (2008) e tendo como referência as discussões feitas por Freitas (2016) e Frigotto(2016) em relação à Reforma do Ensino Médio.Trata-se de pesquisa de cunho qualitativo, cujos percursos envolverão levantamento bibliográfico em bases de dados de informações importantes sobre as definições e importância do Movimento Estudantil Secundarista no Estado do Paraná, desde a época das políticas ditatoriais à atualidade.

Palavras-chave: Políticas educacionais.Movimento Estudantil Secundarista. Ditadura Civil- Militar.

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Mestranda: Mestrado em Educação no Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Pesquisadora colaboradora do Grupo de Pesquisa “Estado, políticas públicas e gestão da educação (UEL). E-mail: rb.leme@yahoo.com.br.

2

Pós Doutora em Educação pela UFRGS. Professora da Universidade Estadual de Londrina. Pesquisadora e Líder do Grupo de Pesquisa “Estado, políticas públicas e gestão da educação (UEL). E-mail:

mjfruiz@gmail.com.

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Introdução

De forma bastante genérica, pode-se entender que, historicamente, o levante do Movimento Estudantil se dá em prol da conquista da qualidade do ensino público e gratuito.

A qualidade de ensino está relacionada à posição do sujeito na sociedade, especificamente na nossa sociedade, dividida em classes sociais antagônicas, há tipologias divergentes em relação à palavra qualidade. O que é qualidade de ensino para um, pode não ser para o outro. A qualidade é relativa e está intrinsecamente ligada à visão de mundo de cada sujeito ou grupo social. Em se tratando de educação há vários pontos a serem analisados no que se refere à qualidade de ensino. Para alguns educadores há um ideário de educação emancipatória, uma educação que proporcione senso crítico ao aluno para que este perceba a relação de poder de nossa sociedade e o que isso influencia em sua vida, a partir disso pode ser um sujeito capaz de transformar a sociedade em que vive. No entanto, a qualidade de educação emancipatória, desejada pelos movimentos sociais da área da educação, não é a mesma qualidade desejada pelos detentores do poder, ou do capital.

Na relação de classes, a classe dominante almeja e coloca em prática uma educação precária que visa formação do sujeito como mão de obra para o mundo social do trabalho. A escola torna-se assim um local preparatório para atender as necessidades do mercado. O Estado, muitas vezes a serviço da classe dominante, coloca em prática políticas educacionais que proporcionem uma educação tecnicista.

Após o golpe de 1964 que levará ao poder os militares, que instauraram uma Ditadura Civil-Militar que durou vinte e um anos, foi reforçado o caráter técnico e fragmentado da educação, voltado para formação de mão obra. Na atualidade, o governo interino apresentou uma proposta de reformulação do ensino médio, sem manter diálogo com a comunidade escolar. A Medida Provisória n. 746/16, ao flexibilizar o currículo do ensino médio, pode favorecer a desqualificação de conteúdos das disciplinas da área de humanas e não alcançar os objetivos de uma educação crítica e emancipatória, mas, sim uma educação com caráter técnico voltada para a formação de mão de obra para o mercado de trabalho.

No período da Ditadura Civil-Militar houve grandes manifestações contra o governo

autoritário. Descontente com a educação que era ofertada, o Movimento Estudantil

Secundarista se juntou aos Movimentos Sociais para lutarem por uma sociedade democrática,

pelo fim da repressão política e pela qualidade na educação ofertada nas escolas públicas e

gratuitas. No período atual, houve manifestações dos alunos de várias partes do país contra a

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Medida Provisória 746/2016, contra o projeto de lei intitulado “Escola sem Partido” e contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, 55 que limita os gastos em vários setores sociais, inclusive na oferta da educação.

O Movimento Estudantil Secundarista passou por períodos inconstantes de ascensão e refluxo de mobilizações, ele esteve/está presente em momentos em que o Estado retira direitos dos cidadãos trabalhadores. Apesar de ser um Movimento transitório, pois, em condição juvenil, seus militantes ainda recebem instruções e formação para o ingresso no mundo social do trabalho, podemos indicar que é um movimento social contestatório que tem interesses próximos aos movimentos da classe trabalhadora. Por ter o caráter contestatório, acaba muitas vezes sendo criminalizado perante a sociedade. O que pretendemos com a pesquisa que ainda está em curso é discutir sobre sua organização e suas principais reivindicações, tentando entender o meio de resistência às medidas de um governo que impõe suas decisões e retira direitos da classe trabalhadora.

Políticas Educacionais impostas: a resistência do Movimento Estudantil

As lutas e reivindicações do Movimento Secundarista não acontecem de forma abstrata, ou seja, inserem-se em um contexto real e histórico, no qual o direito à educação pública e de qualidade é constante e reiteradamente reivindicada, pelos movimentos sociais da área da educação.

Ao longo da história brasileira o processo educacional alia aos interesses políticos e econômicos dos setores dominantes da sociedade. Em alguns períodos, como o da Ditadura Civil-Militar, a educação passou a ser organizada com caráter mais tecnicista e fragmentada, reforçando, assim, tendências históricas de ofertar tipos distintos de ensino, conforme a classe social atendida.

A institucionalização do ensino profissionalizante teve suas bases em Leis promulgadas no período ditatorial. De acordo com Ferreira e Bittar (2008, p. 336) as Leis nº 5.540/68 e nº 5.692/71 são frutos da necessidade produtiva vivenciada pelo país como: a formação de mão de obra e do desenvolvimento produtivo e tecnocrático do sistema capitalista implantado no país, assim, “foram reformas educacionais que estavam inseridas num contexto histórico de transição de uma sociedade agrária para uma sociedade urbano- industrial, cujas transformações societárias se desenrolavam desde 1930.”

No período da Ditadura Civil-Militar, o 2º grau oferecia cursos técnicos

profissionalizantes, o que atingiu as disciplinas científicas que passaram a ser aplicadas sem

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grandes preocupações em relação à compreensão do meio, mas somente como base para atingir os próximos níveis de ensino. Desse modo, era aplicada a “Ciência” baseada na instrumentalização, na neutralidade e observação, objetivava-se que o conhecimento produzido sobre a realidade natural e social fosse objetivo, ou seja, conhecimentos técnicos.

Durante a Ditadura Civil-Militar a educação teve um momento conturbado.

Disciplinas como História e Geografia, por exemplo, perdem espaço nessa época, para uma valorização de uma formação mais tecnicista o qual prevalecem disciplinas de campo mais delimitado. Outras disciplinas, como Sociologia e Filosofia, foram retiradas do currículo, enquanto foram inseridas a disciplina de Educação Moral e Cívica e Iniciação Técnica ao Trabalho.

Passado mais de 50 anos do golpe militar, o governo interino, que assumiu o poder em 2016, anunciou várias medidas que em sua totalidade retira direitos dos trabalhadores e das classes sociais mais baixas. A Medida Provisória 746/16 traz implícitos os processos de privatização mais avançados na educação básica, junto a outras propostas das medidas que envolvem a PEC 241 (55) que visa a reorganização do orçamento público em prol dos interesses privados e que em suma se apresentam contra as políticas sociais e a educação pública gratuita. A Medida Provisória 746/2016 foi anunciada em 23 de setembro de 2016, trazendo reformas para o ensino médio sem ao menos dialogar com a comunidade escolar.

A MP 746/16, na prática, instaura a contrarreforma do Ensino Médio e compromete todo o sistema educacional brasileiro. Entre as mudanças estão: a não obrigatoriedade do ensino de algumas disciplinas; uma carga horária mínima anual do ensino médio, que deverá ser progressivamente ampliada para 1.400 horas; deixar a cargo do estudante a escolha das disciplinas a cursar; e, ainda, que profissionais sem licenciatura ou formação específica sejam contratados para ministrar aulas. Em resposta a posição antidemocrática do governo, dezenas de protestos, paralisações, aulas públicas e ocupações vem sendo realizadas desde o anúncio da medida, em 23 de setembro.

(ANDES, S/N)

Para que seja colocado em prática um ensino de tempo integral seria necessário

analisar as condições que a escola pública teria para tal oferta, pois, colocar alunos

enfileirados em locais que pouco lhes traga sentido e por um período excessivo de carga

horária obrigatória a ser cumprida, não é ofertar ensino de qualidade. É preciso que sejam

levadas em consideração as condições desses estudantes e as condições dos espaços escolares,

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incluindo aqui, os profissionais: professores, diretores, funcionários e todos que constituem a comunidade escolar. Contudo, o MEC institui esta forma de organização no currículo do Ensino Médio, como é possível observar na citação abaixo.

Explicação da Ementa: Promove alterações na estrutura do ensino médio, última etapa da educação básica, por meio da criação da Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. Amplia a carga horária mínima anual do ensino médio, progressivamente, para 1.400 horas. (BRASIL, 2016)

A profissionalização no ensino médio pode trazer o mesmo problema da educação tecnicista adotada durante a Ditadura Civil-Militar (1964-1985), ou seja, um ensino técnico voltado para a formação de mão de obra para o mercado de trabalho e, além disso, a contenção dos alunos das escolas públicas em cursos superiores. A formação profissional nas escolas públicas, que hoje conta com poucos recursos para oferta do ensino básico, poderá beneficiar a questão da privatização da educação básica. De acordo com Freitas (2016, S/N):

“a profissionalização como uma das opções formativas resultará em uma forma indiscriminada e igualmente precária de formação técnico-profissional acentuada pela privatização por meio de parcerias.”

Com efeito, por rezarem e serem co-autores da cartilha dos intelectuais do Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio, etc., seu compromisso não é com direito universal a educação básica, pois a consideram um serviço que tem que se ajustar às demandas do mercado. Este, uma espécie de um deus que define quem merece ser por ele considerado, num tempo histórico de desemprego estrutural. O ajuste ou a austeridade que se aplica à classe trabalhadora brasileira, da cidade e do campo, pelas reformas da previdência, reforma trabalhista e congelamento por vinte anos na ampliação do investimento na educação e saúde públicas, tem que chegar à escola pública, espaço onde seus filhos estudam. (FRIGOTTO, 2016, S/N)

O currículo com menos conteúdo traz a questão da formação aligeirada e continuamos sem a educação de qualidade que visa à formação integral do sujeito.

O argumento de que há excesso de disciplinas esconde o que querem tirar do currículo – filosofia, sociologia e diminuir a carga de história, geografia, etc.

E o medíocre e fetichista argumento que hoje o aluno é digital e não aguenta

uma escola conteudista mascara o que realmente o aluno desta, uma escola

degradada em seus espaços, sem laboratórios, sem auditórios de arte e

cultura, sem espaços de esporte e lazer e com professores esfacelados em

seus tempos trabalhando em duas ou três escolas em três turnos para

comporem um salário que não lhes permite ter satisfeitas as suas

necessidades básicas. (FRIGOTTO, 2016, S/N)

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Vale ressaltar que a Reforma do Ensino Médio que está sendo apresentada não parece ser uma preocupação sobre currículo ou concepção de ensino, mas sim uma medida para atender aos interesses do mercado. Desde a década de 1990, e com certa intensidade com o Compromisso Todos Pela Educação de 2007, já houve uma abertura para que organizações atuassem na educação o que acabou viabilizando uma atuação específica para Fundações Filantrópicas ligadas às grandes empresas e setores financeiros. Os chamados grupos empresariais da educação (FREITAS, 2012). Estes, atualmente, são os mais ativos nas políticas públicas voltadas a interesses próprios, ou seja, tornar a educação uma mercadoria. É neste contexto conturbado que se insere o aparente levante atual do Movimento Estudantil Secundarista no Estado do Paraná, que será melhor investigado no decorrer do estudo em nível de Mestrado em Educação.

METODOLOGIA:

Trata-se de pesquisa de cunho qualitativo que pretende compreender o objeto estudado, cujo percurso principal envolverá: levantamento bibliográfico em bases de dados de informações importantes sobre as definições do Movimento Estudantil Secundarista do Paraná no período da Ditadura Civil-Militar (1964-1985) e as ocupações estudantis nos dias atuais. Em um primeiro momento será realizado levantamento bibliográfico nos acervos digitais dos catálogos de algumas das principais Universidades do país, para um maior aprofundamento do tema e ampliação da bibliografia a ser lida e sistematizada. O estudo também utilizará de pesquisa documental.

RESULTADOS PARCIAIS:

No período ditatorial o Movimento Estudantil Secundarista procurava defender interesses coletivos, junto a outros Movimentos Sociais. No Estado do Paraná o movimento era representado pela União Paranaense dos Estudantes 3 (UPE) criada em 1939. Entretanto, havia a necessidade de organização dos alunos secundaristas, assim foi criada a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) em 1948, a UBES representava alunos do ensino básico, profissionalizante, ensino técnico e o pré-vestibular de todo território nacional.

O Movimento Estudantil Secundarista teve intensa participação na luta contra a Ditadura

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Há varias instituições que representam o Movimento Estudantil, são elas: União Nacional dos Estudantes

(UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). No Estado do Paraná: União Paranaense dos

Estudantes (UPE) e União Paranaense de Estudantes Secundaristas (UPES).

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Civil-Militar, os estudantes se posicionavam contra as medidas autoritárias do governo, o que fez com que o movimento fosse visto como subversivo e assim sofreu perseguição dos agentes da repressão, até que foi posto na ilegalidade na década de 1970.

É preciso destacar que o Movimento Estudantil era representado por entidades nacionais, estaduais e municipais, todos liderados pela União Nacional dos Estudantes (UNE), que manteve a coerência das pautas de todos os estudantes, tanto universitários quanto os secundaristas. Marcou assim um movimento heterogêneo de estudantes de diversas camadas sociais, mas com objetivos comuns, a luta pela democracia, o fim da repressão, a defesa de um ensino público e gratuito. A UNE e a UBES, representantes nacionais dos estudantes, procuravam atuar de forma coesa.

Vale ressaltar que o ME, organizado pela UNE e demais entidades estudantis estaduais e ou/ municipais, foi um grupo heterogêneo de estudantes com relação à classe social a qual pertenciam e também pelo nível de escolaridade, médio e superior, mas que manteve certa coerência de idéias do pré-golpe militar até o ano de 1968, estabelecendo um norte de ação e discussãoque almejava a conquista de benefícios para todos os brasileiros, tendo como parâmetro a democracia. (SCHMITT, 2011, p.19)

Como meio de extinguir o ME, o governo militar aprova a Lei n. 4.464/64, conhecida como Lei Suplicy, tinha como objetivo reorganizar as instituições que representavam os estudantes e vetar ações e propagandas políticas e partidárias. Além disso, a lei viabilizava os acordos MEC-USAID que vinham sendo estabelecidos desde a década de 1950, acordos que foram base para as reformas educacionais implementadas pela Lei n. 5.692/71 que institucionalizava o ensino profissionalizante compulsório na última etapa da educação básica.

Foram vários os acordos realizados entre MEC e a Usaid e eles visavam que a escolha dos currículos, dos métodos didáticos, dos programas de pesquisa e dos serviços de orientação e formação dos estudantes gerassem o máximo de eficiência na obtenção das categorias desejadas de elementos de formação universitária e estivessem voltados para o interesse do capital. (SCHMITT, 2011, p. 45)

Em 1968 foi aprovada a Lei n. 5.540/68 que trazia a reforma universitária voltada para interesses da classe dominante, segundo Shiroma essa lei:

[...] talvez tenha sido um dos mais contraditórios empreendimentos do

regime militar. Promoveu uma reforma no ensino superior brasileiro,

extinguiu a cátedra – suprimindo o que se considerava ser o bastião do

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pensamento e do comportamento conservadores na universidade -, introduziu o regime de tempo integral e dedicação exclusiva aos professores, criou a estrutura departamental, dividiu o curso de graduação em duas partes, ciclo básico e ciclo profissional, criou sistema de créditos por disciplinas, instituiu a periodicidade semestral e o vestibular eliminatório. (SHIROMA, 2007, p. 32)

Ao instituir o vestibular eliminatório, o governo militar e seus defensores, acreditavam estar eliminando o problema da oferta do ensino superior, pois havia um grande número de alunos excedentes na lista de aprovados, isto acabou por aglutinar estudantes no ME em busca de reivindicações por vagas nas Universidades. Acabou sendo uma das principais bandeiras do movimento, pois havia a necessidade de criação de novas vagas para o acesso dos estudantes ao ensino superior. “Isso, por sua vez, também mobilizou os secundaristas, naturalmente prestes a ingressar no ensino superior”. (SCHMITT, 2011, p. 49)

A defesa da escola pública e gratuita sempre foi uma das bandeiras principais dos alunos secundaristas, o movimento atual se organizou, pois:

Após o golpe deflagrado parecia que não havia “luz no fundo do túnel”, mas de repente, além dos movimentos sociais e sindicatos nas ruas e dos artistas, quem chama os holofotes para a resistência ativa são os estudantes secundaristas, contra a PEC 241 (55) que limita o teto dos gastos públicos por 20 anos. Suas principais bandeiras de luta em defesa de uma educação pública e de qualidade são: por uma reforma do ensino médio com ampla participação dos estudantes (em contraposição a MP 761 da reforma do Ensino Médio); contra a Escola sem Partido; contra a PEC 241 (atualmente PEC 55). No Estado do Paraná, eles chegaram a ocupar 850, das 2.114 escolas estaduais, além de 14 universidades. O balanço das escolas ocupadas mostra que os protestos abrangem 19 estados mais o Distrito Federal e abarca mais de mil escolas. (SILVA; PIRES; PEREIRA, 2016, p. 9)

Os alunos secundaristas tiveram a iniciativa de ocupação tomada por uma assembléia, a mobilização começou no dia 30 de setembro de 2016 logo após o governo anunciar a reforma do Ensino Médio. A MP foi vista pelos estudantes, e muitos educadores, como uma política imposta e que não é capaz de suprir as reais necessidades de mudanças que o sistema de ensino do país precisa.

A mobilização chamada de “Ocupa Paraná” contou com as instituições que

representam os estudantes secundaristas como a UBES, UPES e a UPE que estiveram à frente

da organização do movimento. Nas ocupações ocorriam debates, aulas de determinadas áreas,

rodas de conversa, oficinas e atividades que não existem na grade curricular atual, muitas

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dessas eram doadas por professores que ofereciam um tempo para conversar com esses alunos.

Os jovens secundaristas estão dando exemplo de resistência contra o neoconservadorismo e lógica neoliberal, que ameaçam às políticas públicas, sociais educacionais. Eles colocaram na prática concreta o conceito de

“resistência ativa”. Ela deve ser compreendida como uma “atividade teórico- prática ou forma de luta consciente, que reflete uma estratégia ou uma arma de luta contra as políticas públicas educacionais de caráter neoliberal que predominam no cenário atual”. Trata-se de uma organização coletiva e de caráter propositivo; uma forma de resistência que procura ultrapassar o âmbito do direito de apenas discordar (resistência passiva). A resistência ativa representa a efetiva participação dos trabalhadores para resistirem à tendência dominante, mas formulando e apresentando alternativa concreta de mudança social, política e econômica. Essa forma de resistência tem suas raízes na pedagogia crítica e representa uma possibilidade de reverter à situação, pelo conteúdo e pela forma de mobilização. (SILVA; PIRES;

PEREIRA, 2016, p.9)

O Movimento Estudantil Secundarista tem se organizado, mas passado por momentos inconstantes, ora em ascensão, ora em refluxo de mobilizações que estão intrinsecamente ligadas às políticas adotadas pelos governos, mais especificamente, a retirada de direitos da classe trabalhadora. No período da Ditadura Civil Militar, o Movimento Estudantil lutava por mais vagas em Universidades, além de pedir políticas democráticas e o fim da repressão no país. Nos últimos anos tivemos mais uma vez o Movimento Estudantil Secundarista a frente de reivindicações que tanto implicavam em mudanças no sistema educacional, como se posicionando contra as medidas impopulares do governo atual.

A reforma de ensino médio proposta pelo bloco de poder que tomou o Estado brasileiro por um processo golpista, jurídico, parlamentar e midiático, liquida a dura conquista do ensino médio como educação básica universal para a grande maioria de jovens e adultos, cerca de 85% dos que frequentam a escola pública. Uma agressão frontal à constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes da Educação Nacional que garantem a universalidade do ensino médio como etapa final de educação básica. (FRIGOTTO, 2016, S/N) O Movimento Estudantil vai ganhando força e formas diferentes em cada período histórico. Nos dois períodos mais representativos, Ditadura Civil-Militar e o período da democracia representativa, a luta estudantil teve como principal bandeira a defesa da escola pública e estatal e gratuita.

REFERÊNCIAS

ANDES, Nota de repúdio à Contrarreforma do Ensino Médio imposta pela MP 746/16.

Brasília. 2016. Disponível em:

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> http://www.andes.org.br/andes/print-ultimas-noticias.andes?id=8379< Acesso em: 19 maio 2017.

BRASIL, Medida Provisória nº 746, De 22 de Setembro de 2016. Disponível em:

>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Mpv/mpv746.htm< . Acesso em:

19 maio 2017.

BRASIL, Leinº 13.415, De 16 De Fevereiro De 2017. Disponível em:

>http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaTextoSigen.action?norma=602639&id=14374947&

idBinario=15657824&mime=application/rtf< Acesso em: 19 maio 2017.

FERREIRA, A.; BITTAR, M “EDUCAÇÃO E IDEOLOGIA TECNOCRÁTICA NA DITADURA MILITAR”. Cad. Cedes, Campinas, Vol. 28, n. 76, p. 333-355, 2008.

FREITAS, L. C. Os reformadores empresariais da educação: da desmoralização do magistério à destruição do sistema público de educação. Educação e Sociedade, Campinas, v. 33, n.

119, p. 379-404, 2012

FREITAS, L. C. Manifesto do Movimento Nacional em defesa do Ensino Médio. 2016.

Disponível em: https://avaliacaoeducacional.files.wordpress.com/2016/09/manifesto-do- movimento-nacional-em-defesa-do-ensino-mc3a9dio-sobre-a-medida-provisc3b3ria.pdf . Acesso em: 28 maio 2017.

FRIGOTTO, G. Segregação aprofundada. 2016. Disponível em:

>https://avaliacaoeducacional.com/2016/09/23/frigotto-segregacao-aprofundada/< . Acesso em 28 maio 2017.

SCHMITT, S. L. Encontros e Desencontros do Movimento Estudantil Secundarista Paranaense (1964-1985), UNIOESTE, Cascavel/PR. 2011

SHIROMA, E.; MORAES, M.; EVANGELISTA, O. Política educacional. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.

SILVA, M.R., PIRES, G.L., PEREIRA, R.S. Da “perfeição” perversa da antipolíticade Fora Temer à resistência ativa da“ocupação das escolas” pelos jovensda “Primavera Secundarista”.

Florianópolis/SC. 2016.

UBES, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. 2017. Disponível em:

https://ubes.org.br/memoria/historia/#resistencia-ditadura

Referências

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