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A O Rio entre o Céu e o Inferno

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Academic year: 2021

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1 Economia fluminense: superando a perda de dinamismo?

O Rio entre o Céu e o Inferno

Adair Rocha

A finitude acena cada vez mais para os limites, na medida em que as contradições se explicitam. O que, por outro lado, é indica- dor das possibilidades. Assim, a Cidade Maravilhosa recebe calor de todos os lados, temperada pela circunstância oceânica e pela transversalidade humana que preenche o seu cotidiano.

A Revista Rio de Janeiro tem o escopo de ir além do que a conjuntura exala e, para isso, está tendo o cuidado de revirar as vísceras da história do Rio de Janeiro, e do seu presente. A atualidade deste número convive de perto com as atrocidades das segundas, terças, quartas, quintas e sextas sem lei, impostas pela tráfico de drogas e fortalecidas pelos boatos. E, enquanto se verifica a tensão deixada por esse curso dos acontecimentos, pode-se vislumbrar a volta ou o nascimento, em muitos casos, de blocos carnavalescos às ruas, especialmente na Zona Sul do Rio.

A fervura latente nas capitais, nas grandes e médias cidades, revela o deslocamento de territorialidade do rural para o urbano, atualmente na casa dos 80% do contingente populacional. Fator decisivo para a criação do Ministério das Cidades. Vetor ainda definidor da escolha do tema desta edição: planejamento das cidades.

Neste número 9, flui o andamento de estudos que querem tornar pú- blicas algumas dimensões, tais como a da reforma urbana, a do desenvol- vimento local, a dos mecanismos de produção da pobreza e da fome, a da habitação, a do saneamento, a da implementação dos recursos públicos.

Aliás, torna-se impossível compreender o Rio de Janeiro atual sem relacio- nar beleza e espontaneidade às agruras da fome, da miséria e do crime.

O Dossiê Temático, a entrevista com o Ministro Olívio Dutra e a seção Mediações marcam a diversidade de enfoques nos diálogos que interpe- lam os modelos urbanos vigentes e as possíveis saídas pelo caminho da

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democracia e da participação - que aproximam e convergem movimentos sociais -, como analisam Grazia de Grazia e Evaniza Rodrigues. Somando a essa análise mais geral, o artigo de Fania Fridman e Eduardo Cezar Siqueira focaliza a dialética global/local, indicando como a globalização interfere nas formas gestão do espaço urbano. Em linha complementar, Rose Compans estuda o processo de fundação das cidades e os desafios de sua regularização fundiária, apontando dificuldades e algumas solu- ções, entre as quais a aplicação do usucapião urbano especial coletivo. Há também o artigo que trata da infra-estrutura, em geral não percebida, mas sentida no cotidiano: Carlos José Saldanha Machado reflete sobre a política de águas, isto é, a administração e a cobrança no plano mais geral do aproveitamento dos recursos hídricos. Esse conjunto dos temas abordados aqui foi comentado pelo Ministro das Cidades, tanto na entrevista que nos concedeu quanto na Conferência proferida no III Fórum Social Mundial de Porto Alegre-2003, não só na coincidência de constatações, mas, sobretu- do, na orientação político-administrativa do Ministério das Cidades.

Ao mesmo tempo, os temas tratados pelos autores estão consoantes com o lugar que o Rio de Janeiro assume diante das dimensões econômi- ca, social, política, cultural e até mesmo psicanalítica. Nesse sentido, o artigo de Junia de Vilhena indica monstros adormecidos a partir da divisão da cidade, que aparentemente se resolvia com a doutrina de segurança; a cultura do medo invade o território formador de subjetividade e, portanto, o conceito de cidade. Maria Josefina Gabriel Sant’Anna, por sua vez, exa- mina a marca do pensamento sobre a cidade, destacando as idéias de pensadores clássicos da sociologia, entre os quais Karl Marx e Max Weber.

Inaugurando a seção Pesquisa, Maria Cristina Ortigão Sampaio Schiller e Fabiana Valença de Lima estudam o aglomerado comercial de moda íntima de Nova Friburgo, cujo impacto traz modificações para o desenvol- vimento do município, o que sinaliza a necessidade de adoção de novas políticas públicas.

A seção Memória, enfim, de importância sistêmica para a nossa revista, republica o interessante trabalho de Sydney Sérgio F. Solis e Marcus Venicio T. Ribeiro, que mostra as lacunas deixadas pela empresa mercantil coloni- al, bem como pela industrialização do antigo Distrito Federal, com sua

Editorial

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3 Economia fluminense: superando a perda de dinamismo?

urbanização baseada em uma perspectiva excludente quanto às classes sociais de menor poder aquisitivo, que não tinham acesso ao capital e, como conseqüência imediata, crescem na direção da pobreza, da fome e do crime.

O Rio passou por dois grandes impactos no início do século XX. Pri- meiro, o resultado da Guerra de Canudos, que trouxe para a cidade os soldados envolvidos na luta e suas famílias, para os quais estavam prome- tidas moradias, o que não se realizou, redundando, assim, em uma das possibilidades de surgimento das favelas. Segundo, do ponto de vista da questão urbana, a reforma implementada por Pereira Passos (1903-1906) foi a de maior repercussão. Ao mesmo tempo em que respondia aos apelos do progresso, testemunhava uma inversão: a favelização passou a ser considerada a forma mais imediata que a população empobrecida encontrou para resolver o problema habitacional.

Deparamo-nos, então, de um lado, com a experiência do acúmulo de reflexão dos movimentos sociais e das instituições públicas na direção da reforma urbana e, de outro, com a sobrevivência aos conflitos e crises que transformam a segurança na principal bandeira política, como manifesta- ção de sintoma da falta de políticas públicas. Enfim, enfrentar e solucionar esses problemas é o grande desafio da sociedade, especialmente a carioca e fluminense.

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