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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 4/16.1ZCLSB - 3

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 4/16.1ZCLSB - 3

Relator: ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA Sessão: 06 Junho 2018

Número: RL

Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: RECURSO PENAL Decisão: NEGADO PROVIMENTO

DETENÇÃO - 48 HORAS PRIMEIRO INTERROGATÓRIO

MEDIDA DE COAÇÃO

Sumário

A detenção deverá ser, no mesmo prazo de 48 horas, sujeita a apreciação judicial, para restituição à liberdade ou imposição de medida de coacção adequada, ainda que esta apreciação se estenda ou prolongue para além das ditas 48 horas.

Limita-se com isto a possibilidade de privar alguém do direito à liberdade por via administrativa/ policial, limitando a detenção policial a 48 horas sendo apenas isso que o legislador pretende e não que o JIC tenha de proferir despacho dentro das tais 48 horas.

Se assim não fosse o JIC ficaria limitado no seu avaliar da situação para aplicação de medida de coação pela actuação mais ou menos, célere das polícias, implicando que teria de restituir muitas vezes á liberdade em vez de aplicar a prisão preventiva

Texto Integral

Acórdão proferido na 3ª secção do Tribunal da Relação de Lisboa

Nos presentes autos veio o arguido GK... recorrer do despacho judicial que, após realização do 1° interrogatório judicial, lhe aplicou a medida de coacção de prisão preventiva.

Apresentou para tanto as seguintes

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CONCLUSÕES que se resumem por demasiado extensas 1.

Considerou-se que:

existem fortes indícios de que o Arguido cometeu

1 (um) crime de falsificação de documento, p. e p. nos termos do disposto nos art.°s 255.°, n.° 1, al, a) e 256.°, n.° 1, als. e) e f) e n° 3 do Código Penai;

e 1 (um) crime de associação de auxílio à emigração ilegal, p. e p. pelo art°

183.°, n° 2 da Lei n° 23/2007, de 4 de Julho (e por verificar-se a existência de perigo de continuação da actividade criminosa e perigo de fuga quanto ao Arguido e aqui Recorrente) - em autoria material e na forma consumada;

e que se verifica a existência de perigo de continuação da actividade criminosa e perigo de fuga, quanto ao Arguido);

O aqui Arguido refuta ter praticado os aludidos crimes de falsificação de documento e/ou de associação de auxílio à emigração ilegal .

QUESTÃO PRÉVIA - DO 1.° INTERROGATÓRIO JUDICIAL EFECTUADO AO AQUI ARGUIDO:

o aqui Arguido foi constituído arguido no dia 05.03.2018, às 14h30 (cfr. Auto de Constituição de Arguido, elaborado pelo SEF, a fls. 6 e 7 dos autos); sendo que em hora anterior (às referidas 14h30) e no mesmo dia foi detido pelos Srs.

Agentes do SEF no Aeroporto de Lisboa;

De acordo com o Auto de Interrogatório efectuado ao aqui Arguido (cfr. fls. 94 a 99 dos autos), este prestou declarações (no dia 07.03.2018), perante o Digno Tribunal, às 15:44:09 (e até às 16:48:10).

Ora, prevê o art.° 141º3, n.° 1 do CPP ("Primeiro interrogatório judicial de arguido detido") que: "O arguido que não deva ser de imediato julgado é interrogado pelo juiz de instrução, no prazo máximo de quarenta e oito horas, logo que lhe for presente com a indicação circunstanciada dos motivos da detenção e das provas que a fundamentam."

Antes disso apenas ocorreu a identificação do Arguido (pelas 12:38:15 e com termo às 12:44:37 - a 07.03.2018), o que não corresponde a um interrogatório, em si (cfr. fls. 96 dos autos).

Verifica-se que o 1.° interrogatório judicial de arguido detido ocorreu depois de decorridas 48h da detenção do aqui Arguido;

Ou seja, o interrogatório, ao arguido, que deve ser efectuado pelo Mm.° JIC - e

que está previsto no art.° 141.°, n.° 1 do CPP -, ocorreu depois de terem sido

ultrapassadas as 48h da detenção do aqui Arguido.

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Deste modo, aquando do 1.° interrogatório do aqui Arguido junto do Digno Tribunal, o aqui Arguido encontrava-se ilegalmente detido.

Tal vício enferma também de vício o 1.° interrogatório judicial ocorrido quanto ao aqui Arguido, tendo, por inerência, ocorrido ilegalmente, sendo o mesmo nulo.

4. QUESTÃO PRÉVIA - DAS DECLARAÇÕES DO ARGUIDO PRESTADAS NO 1.

° INTERROGATÓRIO JUDICIAL EFECTUADO AO AQUI ARGUIDO E DO RESPECTIVO AUTO DE INTERROGATÓRIO:

Dos autos, consta que o Arguido afirmou que pretendeu prestar declarações perante o Digno Tribunal a quo - e que as mesmas ficaram registadas através do sistema de gravação áudio em uso no Digno Tribunal a quo, consignando-se que o seu início ocorreu pelas 15:44:09 horas e o seu termo pelas 16:48:10 horas.

Mais consta que lidas as declarações do aqui Arguido quanto aos seus

elementos de identificação, verificada a qualidade da gravação, e achando-se tudo o que do auto consta conforme, o aqui Arguido assinou o referido auto de interrogatório.

Ora, tais declarações do Arguido têm de ser obrigatoriamente efectuadas em auto escrito:

Face ao exposto, estamos perante uma nulidade, nos termos do disposto no art.° 120°, n°2, al.d) do CPP.

5. DA MOTIVAÇÃO DA DECISÃO RECORRIDA / OBJECTO E DELIMITAÇÃO DO RECURSO:

O Arguido encontra-se preso preventivamente, desde o dia 07 de Março de 2018, data da realização do primeiro interrogatório judicial de arguido detido.

No entanto, e conforme se demonstrará, in casu não há perigo de perigo de fuga; bem como, aliás, não há o mencionado perigo de continuação da actividade criminosa.

Mais uma vez, não foram tidas em conta as reais circunstâncias e elementos factuais do caso concreto, optando a Mm.a JIC por utilizar, em relação ao caso do aqui Arguido, factos circunstanciais e conceitos vagos e meramente

conclusivos - e sem fundamento bastante para o efeito - (os quais se reportam aos factos circunstanciais e conceitos também vagos utilizados pelo Digm.°

MP, no despacho de promoção deste), bem como a decisão da Mm.a JIC

constitui a uma mera adesão à proposta de aplicação de medida de coação por

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parte do MP, sem um juízo judicial devidamente fundamento para o efeito.

Não existiam motivos aparentes (e objectivos) para que ao Arguido, ora Recorrente, fosse aplicada a medida de coação de prisão preventiva.

O Recorrente, desde que foi detido e no seguimento do presente processo, teve a convicção que estava a ser alvo de tratamento ilegal e injusto por parte dos órgãos de polícia criminal (e por parte das entidades judiciais). No

entanto, ficou convencido que essa situação iria ser ultrapassada com o desenrolar da investigação e com a consequente descoberta da verdade dos factos.

I) E com a leitura do despacho de promoção do MP e com a notificação do despacho da Mm.a JIC que aplicou a medida de coação de prisão preventiva ao aqui Arguido, ficou o Recorrente com a certeza que estava a ser alvo de um claro tratamento ilegal, sem existirem (no caso) motivos para tal. Senão vejamos,

É posição do MP (à qual o Mm.° JIC adere, sem mais - reportando-se aos

seguintes factos constantes a fls. 95 a 98 dos autos), e conforme consta de fls.

94 a 102 dos autos, que:

"O arguido RF..., de nacionalidade brasileira, chegou ao Aeroporto de Lisboa no dia 5 de Março de 2018, pelas 07h00, num voo proveniente do rio de Janeiro, Brasil.

Apresentou-se no controlo de fronteiras, tendo apresentado o passaporte da República Federativa do Brasil, com o n° FK1..., emitido a 20/5/2014 e válido até 19/5/2019, tendo declarado que vinha a Portugal em turismo.

Por se terem suscitado dúvidas quanto aos verdadeiros motivos da sua vinda a Portugal, a sua bagagem foi objecto de revista, tendo sido nela encontrada um passaporte da República Federativa do Brasil, com o n° FU4..., emitido a

25/7/2017 e válido até 24/7/2027, emitido a favor de TJ..., mas tendo nela aposta a fotografia do arguido.

Suspeitou-se de imediato que tal documento era forjado, o que foi confirmado através do Relatório de Análise Documental n° 91/2018 da Unidade de

Identificação de Peritagem Documental (UIPD) do SEF junto do PF001 (cfr. fis.

41).

Confrontado com tal facto, o arguido revelou que tal passaporte lhe fora entregue no Brasil por um indivíduo que identificou por Júnior ou Junínho e que se deveria encontrar com um indivíduo que identificou pelo nome de Japão, que estaria à sua espera naquele Aeroporto, com a finalidade de o ajudar a obter documentos portugueses, em nome de TJ..., com os quais viajaria posteriormente para o Canadá.

Na sequência de tal informação, foi possível identificar, na zona das Chegadas

do referido aeroporto, o indivíduo referido como Japão, o qual se identificou

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perante os agentes do SEF como sendo GK..., cidadão luso-brasileiro, tendo exibido o passaporte da República Federativa do Brasil, com o n° F13....

O arguido GK... confirmou que lhe tinha sido encomendado o serviço, pelo referido indivíduo identificado como Júnior ou Juninho, entre outros, de encaminhar o arguido RF... à Conservatória do Registo Civil, sita no Campus de Justiça, em Lisboa, para ajudá-lo a obter um cartão de cidadão em nome de TJ....

Por tal serviço, este arguido iria receber a compensação monetária de 2.000 euros."

Ora, o Arguido refuta os factos que lhe são imputados pelo MP e pelo Mm.°

JIC, no sentido que pretendem imputar ao arguido a prática de qualquer crime;

O Arguido não colaborou - nem directa, nem indirectamente - com o arguido RF... para a elaboração e/ou obtenção de quaisquer passaporte de que o mesmo se fazia acompanhar;

O Arguido impugna tais factos, não sendo os mesmos verdadeiros - e da forma como o MP pretende imputar ao Arguido, bem como da forma como o Mm.°

JIC pretende imputar e indiciar ao Arguido;

11 A 05.03.2018, o Arguido deslocou-se ao Aeroporto de Lisboa, a pedido de uma pessoa de nome J..., no sentido de aguardar, como estafeta/despachante, a chegada de um cidadão (que não o conhecia e não o conhece) para

acompanhar apenas aquele à Conservatória do Registo Civil de Lisboa, sita no Campus de Justiça, em Lisboa, a fim de esse tal cidadão tratar, ele próprio (por ele), de documentação pessoal dele;

Tal intervenção do Arguido ocorreu, porque o trabalho do Arguido é estafeta/

despachante;

O Arguido auxiliava diversas pessoas (uma suas conhecidas, outras através de outras pessoas) no acompanhamento das mesmas junto de várias entidades (conservatórias, etc.), onde essas mesmas pessoas, elas próprias

(pessoalmente) tratariam dos assuntos que precisassem (requerendo o que necessitassem e exibindo documentos junto das respectivas entidades);

Mais consta a fls. 96 dos autos que "Efectuada revista pessoal ao arguido GK..., foi-lhe encontrada diversa documentação relativa a processos de

atribuição de nacionalidade portuguesa, a qual foi apreendida, por apresentar indícios de fraude (cfr. Auto de Revista e Apreensão de tis. 19 a 21);

Ora, desde logo, refira-se que tal alegação não é fundamentada, correspondendo a uma mera conclusão;

Quais os factos que permitem afirmar que a mencionada documentação

apresentava indícios de fraude?

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São desconhecidos, uma vez que o auto de interrogatório - e da exposição dos factos - é omisso quanto a essa identificação, que devia ser clara e objectiva;

Para além de que muitos dos documentos que o Arguido tinha na sua posse foram-lhe entregues por um indivíduo de nome J...; o qual requeria uma série de documentos e certidões junto de várias conservatórias (e chegou a entregar alguns ao aqui Arguido);

Mais consta a fls. 97 dos autos que: "Entre os documentos apreendidos, foi encontrado um ofício e Assento de nascimento 48... de 2017, referente a TJ..., que o mesmo iria apresentar junto da referida Conservatória do Registo Civil, com a finalidade da obtenção da nacionalidade portuguesa para o arguido RF...."

Para que fique claro, o Arguido não ia apresentar qualquer documento junto da Conservatória do Registo Civil, mas sim o tal cidadão que estava a chegar a Portugal (que o aqui Arguido, reforce-se, não conhece, nem nunca viu);

O Arguido apenas acompanharia tal cidadão à Conservatória, sendo que aí o mencionado cidadão trataria dos seus assuntos juntos da mesma (e de forma pessoal).

Dos elementos do processo que foram comunicados ao aqui Arguido, aquando do seu 1.° interrogatório judicial, foi referido um elemento do processo

correspondente a uma conclusão, nos seguintes termos:

"Tudo indica que a intenção ao arguido GK... foi a de ajudar a vinda ilegal do arguido RF... e a sua posterior permanência neste território, ao abrigo de uma documentação falsa, a troco de dinheiro."

Ora, o Arguido refuta tais factos.

O Arguido não teve a intenção identificada anteriormente

O Arguido não teve qualquer intenção de ajudar a alegada vinda ilegal do Arguido RF..., nem de ajudar qualquer permanência daquele neste território, ao abrigo de qualquer documentação falsa, a troco de dinheiro.

O Arguido presumia que a vinda do Arguido RF... era legal e desconhecia que o Arguido RF... tivesse ou não na posse de qualquer documentação falsa;

sendo que o próprio aqui Arguido tinha documentação na sua posse, mas decorrente da sua actividade profissional e a qual lhe foi entregue pelo tal indivíduo de nome J...;

Aliás, nem foi o aqui Arguido a requerer a documentação, mas sim o tal indivíduo de nome J...;

Nesse sentido, veja-se, por exemplo, o material apreendido sob o ponto 1. do Auto de revista e Apreensão (de fls. 19 a 21 dos autos):

"1. Uma mica contendo um Oficio e Assento de Nascimento 48... de 2017

referente a TJ... e remetido pela CRC de Ovar a DS....".

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29. Por tal motivo, o aqui Arguido foi sujeito a detenção (cfr. fls. 97 dos autos - Auto de interrogatório do aqui Arguido - o qual taxativamente indica que foi por esse facto que o aqui Arguido foi detido);

30. Mais consta dos presentes autos (cfr. fls. 97) que:

(...)

"Sabia o arguido GK... que o assento de Nascimento 48... de 2017, em nome de TJ..., que tinha consigo, era forjado, não se coibindo de o manter na sua posse, com a finalidade de o utilizar para posteriormente obter uma

nacionalidade e uma documentação falsa para o arguido RF..., com a qual o mesmo permaneceria ilegalmente em território nacional. Agiu o arguido livre e conscientemente, bem sabendo que a sua conduta era proibida e punida por lei."

31. Ora, o aqui Arguido impugna tais factos, da forma como lhe são imputados,

32. O aqui Arguido não sabia que tal documento (correspondente a tal Assento de Nascimento) era falso ou que possa ser falso, admitindo que o mesmo era, naturalmente, verdadeiro,

33. Acresce que o aqui Arguido não requereu tal documento, mas sim o referido Sr. J...,

34. Na posse desse documento (que, lembre-se, o aqui Arguido tinha como verdadeiro), o aqui Arguido não tinha qualquer intenção (como errada e infundadamente consta a fls. 97 dos autos) de posteriormente o utilizar para obter uma nacionalidade e documentação falsa para o Arguido RF..., com a qual o mesmo permaneceria ilegalmente em território nacional.

35. O aqui Arguido não agiu de tal forma, nem falsificou quaisquer documentos.

O Arguido não obteve também qualquer compensação, nos termos em que se pretende imputar ao Arguido por qualquer ilícito, mas apenas obteria pelo seu trabalho de estafeta/despachante (conforme supra mencionado);

O Arguido tem um trabalho, do qual obtém uma remuneração mensal, ainda que variável;

Nunca o Arguido recebeu qualquer quantia relacionada com os factos mencionados nos autos, de forma ilícita;

O Arguido não favoreceu, nem facilitou, de que forma fosse, o Arguido RF..., para entrada, permanência ou trânsito ilegal (de tal cidadão estrangeiro) em território nacional, nem com intenção lucrativa,

_quanto a tais factos o Arguido impugna os mesmos; uma vez que o Arguido

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não actuou de tal forma, declinando qualquer responsabilidade (para além de que o Arguido não forjou quaisquer documentos);

Se existem, por mera hipótese de raciocínio, alguns documentos nos autos que se conclua que possam ser forjados, nenhum deles teve a intervenção do aqui Arguido;

Simplesmente, o Arguido, como estafeta/despachante, encontrava-se a aguardar o outro Arguido no Aeroporto (de Lisboa) para o acompanhar à Conservatória do Registo Civil, sita no Campus da Justiça (em Lisboa) e o documento que tinha na sua posse era tido (e é) pelo aqui Arguido como verdadeiro (bem como os demais).

Neste sentido, o despacho de promoção do MP e no que se refere ao aqui Arguido, e sobre esta questão, é meramente circunstancial e não

fundamentado - padecendo, desta forma, de tal despacho, de vício de

fundamentação, uma vez que toda e qualquer decisão acusatória/indiciária, ou com esse intuito, deve ser fundamentada, sob pena de violação do disposto no art° 32.° da CRP, lesando o exercício de um direito fundamental como o

exercício do direito de defesa;

Quanto à matéria indiciária acusatória constante em tal despacho, o Arguido declina toda a sua responsabilidade sobre a mesma, uma vez que não

participou em tais factos, nem tem a responsabilidade que o MP pretende imputar ao Arguido - e, por inerência, o mesmo se verifica, salvo o devido respeito, quanto ao douto despacho do Mm.° JIC que aplicou a medida de coacção (de prisão preventiva) ao Arguido.

52. NO QUE CONCERNE AO CONTEXTO FAMILIAR, PROFISSIONAL E SOCIAL DO ARGUIDO:

Acresce que o Arguido tem família constituída;

o Arguido encontra-se inserido familiarmente;

o Arguido exerce actividade profissional remunerada como estafeta/

despachante;

o salário que o Arguido aufere pela prestação do seu trabalho constitui um meio de subsistência essencial para o seu agregado familiar e para si mesmo;

o Arguido encontra-se inserido profissionalmente;

para além desse facto, o Arguido encontra-se inserido socialmente;

o Arguido é primário, pela alegada prática dos mesmos factos em questão nos presentes autos;

53. NO QUE CONCERNE AO PERIGO DE FUGA:

O Arguido, quer colaborar com as autoridades e com o Tribunal para a

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descoberta da verdade;

Quanto ao aludido perigo de fuga (o qual é infundado), e tendo em conta que a medida de coacção de prisão preventiva, In casu, é manifestamente ilegal, mas se for de aplicar qualquer medida de coacção ao aqui Arguido, poderá a

mesma medida de coacção ser substituída pela medida de coacção de

permanência na habitação (sob vigilância electrónica) e na habitação onde o aqui Arguido pode residir, a de um seu amigo, Sr. Rodrigo de Paula Oliveira, com residência sita na Rua Leandro Braga, n° 27, 1° Esq.°, 1070-163 Lisboa.

Acresce, também, que tal medida, acrescida da medida de coacção de proibição de contactar o arguido RF..., acautelaria o perigo de fuga (que se pudesse, teoricamente, admitir);

À data dos factos, o Arguido encontrava-se em território nacional, não estava a sair do país e reside em Portugal desde 2016.

A ACTIVIDADE CRIMINOSA:

O Arguido encontrando-se sujeito a uma medida de coacção diversa da prisão preventiva não está em condição (a admitir-se, por mera hipótese de

raciocínio) de poder continuar qualquer actividade criminosa (que não a realizou, reforçe-se).

Saliente-se que o Arguido está profissionalmente inserido, auferindo o seu rendimento, que lhe permite sustentar, sem ter de recorrer a qualquer actividade criminosa.

2028

Para além do mais, depois do impacto sofrido, pelo aqui Arguido, com o

presente processo, a apreensão de bens, detenção e a sua prisão preventiva, a sua instabilidade emocional sempre o impediriam de praticar qualquer acto que fosse ilegal e que pudesse levar, novamente, a ser detido.

Saliente-se que o Recorrente é primário (nos termos anteriormente descritos) e está socialmente inserido.

vi. NO QUE CONCERNE À MEDIDA DE COACÇÃO APLICADA DE PRISÃO PREVENTIVA E À NECESSIDADE DE REVOGAÇÃO DE TAL MEDIDA:

A prisão preventiva só pode ser aplicada quando se revelar inadequada ou insuficiente as outras medidas de coacção, conforme estipula o art.° 193.°, n.°

2 do CP.

In caso, não foram mencionados factos suceptíveis de permitir a aplicação da medida de coacção aplicada ao Arguido, tendo a mesma assentado apenas em meros juízos abstratos, não concretizados em factos (devidamente

fundamentados), a não ser meramente circunstanciais - mas que não têm a

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consistência suficiente para se poder aplicar, ao Arguido, a medida de coacção mais grave, no caso, de prisão preventiva.

Mas, o que releva para esta situação é que o Recorrente, de acordo com o enunciado no despacho de promoção do MP e do que se retira dos autos, não resultam factos que se possam imputar ao Arguido como susceptíveis de se poder aplicar a medida de coacção de prisão preventiva.

Antes, e quanto muito, a aplicação de TIR ou de TIR juntamente com a obrigação de apresentações periódicas e/ou com a aplicação da medida de coação de proibição de contactar o outro arguido e/ou outras pessoas (prevista na al. c do ri.° 1 do art.° 200.° do CPP), e/ou de permanência na habitação (sujeito a vigilância electrónica) uma vez que são suficientes e adequadas para acautelar o, alegado, risco de continuação da atividade criminosa e/ou de perigo de fuga.

O Recorrente é primário (conforme supra exposto).

(...)

No caso concreto já se demonstrou supra que as medidas cautelares do presente processo poderão ser satisfeitas mediante a proibição de contactos com o outro arguido e/ou outras pessoas (cfr. previsto na alínea d), do n.° 1, do artigo 200.° do CPP), acompanhada da obrigação de apresentações periódicas junto de uma esquadra policial próxima da área de residência do Arguido (cfr.

art.° 198.° do CPP) e/ou de obrigação de permanência na habitação (sujeito a vigilância electrónica);

Podemos, assim, concluir que, na aplicação da prisão preventiva ora em causa, não foram observados os princípios e regras que lhe estão subjacentes,

designadamente, os princípios da necessidade, adequação, proporcionalidade e subsidiariedade, o que toma a mesma ilegal, por violação, entre outros, dos art.°s 13.°, 18.° n.° 2, 28.° n.° 2 e 32.° n.° 2 da CRP e dos art.°s 191.° n.° 1, 192.° n.° 2, 193.°, 202.°, 205.° do CPP.

(...)

Termos em que deve o despacho recorrido (proferido pelo Mm.° JIC) ser substituído por outro que revogue a medida de coacção aplicada ao aqui Recorrente e aplique a este outra medida de coacção que respeite os

princípios da necessidade, adequação e proporcionalidade, designadamente, e por ordem decrescente de gravidade, a obrigação de apresentação periódica e/ou a proibição e imposição de condutas (proibição de contactar o outro

arguido e/ou outros) ou obrigação de permanência na habitação com recurso a vigilância electrónica (dando, desde já, o Arguido, o seu consentimento para a mesma - para a residência de um seu amigo, Sr. Rodrigo de Paula Oliveira, com residência sita na Rua Leandro Braga, n.° 27, 1.° Esq.°, 1070-163 Lisboa).

FAZENDO-SE ASSIM A HABITUAL E SÃ JUSTIÇA.

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****

Respondeu o MP em 1ª Instância

Foi cumprido o prazo indicado no art° 141°, n° 1 do CPP, pois o arguido foi detido pelas 14h30 do dia 5 de Março de 2018 e o interrogatório judicial iniciou-se pelas 12h38 do dia 7 de Março de 2018.

O interrogatório não se iniciou durante a tarde, quando só nessa altura o arguido prestou declarações sobre os factos, pois as respostas do arguido à sua identificação já integram o interrogatório, ao contrário do sustentado pelo recorrente, pelo que não se verifica, assim, qualquer irregularidade ou

nulidade.

O arguido, ao defender que as suas declarações tinham de ser,

obrigatoriamente, sob pena de nulidade, efectuadas em auto escrito, desconhece o teor da actual redacção do nº 7 do art.° 141º do CPP, a qual impõe que, em regra (só assim não será se os meios técnicos não estiverem disponíveis, o que não é o caso do Juízo de Instrução Criminal de Lisboa, onde se realizou a diligência), o interrogatório do arguido é efectuado através do registo áudio ou audiovisual, só podendo ser utilizados outros meios,

designadamente estenográficos, quando ocorrer indisponibilidade de meios para o efeito.

Também, nesta parte, deverá improceder a alegada nulidade.

O arguido confessou no interrogatório judicial que não podia exercer a actividade de despachante e que vinha apoiando a actividade que outros

indivíduos (DS..., Altino, Leandro) vêm desenvolvendo em Portugal com vista à atribuição da nacionalidade a indivíduos brasileiros com utilização de

documentos falsos.

Ou seja, tudo o que o arguido agora vem alegar no recurso (a sua intervenção era só para acompanhar aquele outro arguido à Conservatória, onde o mesmo trataria da documentação pessoal dele; o seu trabalho é de estafeta/

despachante; não teve qualquer intenção de ajudar à alegada vinda ilegal do arguido RF..., ou à permanência deste a troco de dinheiro, os documentos que estavam na sua posse decorriam da sua actividade profissional e foram-lhe entregues por um indivíduo de nome Joseph) contradiz as suas declarações no referido interrogatório.

O arguido afirmou estar desempregado e que fazia "coisas"; que o DS... (e não Joseph, como agora menciona no recurso) lhe dissera que mexia com

documentos e lhe perguntara se podiam fazer alguma coisa juntos em

Portugal; que foi buscar o Rafael a mando do DS...; que a documentação que

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detinha lhe chegou do Brasil por correio e fora enviada por diversas pessoas;

que quem fez o processo do TJ... foi o DS...; que passara a "trabalhar" com o DS...; que o DS... lhe pediu para combinar com o Juninho encontrar-se com o Rafael, que ia ser o TJ..., e que com este trabalho ia ganhar mil euros.

Assim, face ao teor das declarações do arguido recorrente no 1º interrogatório judicial, a que acresceram as declarações do co-arguido RF..., bem como o teor dos documentos apreendidos a ambos, dúvidas não podem existir, nem se puseram ao Tribunal, em considerar como fortemente indiciada a prática pelo arguido GK... do crime de falsificação de documento, na sua forma agravada (p. e p. pelo n° 3 do art.° 2562 do C. Penal), por estar em causa a falsificação de passaportes e de assentos de nascimento.

Dúvidas também não existiram, por o arguido estar desempregado, que o mesmo estava em Portugal apenas para colaborar com terceiros na actividade ilícita em causa, relacionada com um grupo de indivíduos que vem

diligenciando, após obtenção de documentos falsificados no Brasil, pela entrega dos mesmos nas Conservatórios do Registo Civil com vista à

atribuição da nacionalidade portuguesa aos requerentes cidadãos brasileiros, os quais, a não ser por essa via, não reuniam os requisitos necessários a tal.

Não foi dito nos autos que era o arguido que falsificava os documentos em causa, o que foi referido é que o arguido permitia ou colaborava para o uso desses documentos, que detinha e facultava.

Tendo actuado com intenção de causar prejuízo ao estado Português e de obter quer para si, quer para terceiros, benefícios ilegítimos.

Existem, assim, fortes indícios da prática pelo arguido recorrente de crimes de falsificação de documento, p. e p. pelos art.° 256°, n° 1, alíneas e) e f) e 3 do C. Penal.

Ao contrário do que alega o arguido recorrente, foram indicados no despacho recorrido, quer directamente pela Mmª JIC, quer pela remissão para a

promoção do MP, onde também constavam, quais os fundamentos que levaram o tribunal a considerar que existia perigo de fuga e de continuação da

actividade criminosa em relação ao arguido ora recorrente.

Foi referido nos autos que o arguido encontrava-se apenas em Portugal com a finalidade de prestar colaboração na actividade ilícita em causa, sendo que a sua nacionalidade portuguesa também foi obtida de forma ilegal.

Também foi dito que o arguido é natural do Brasil, onde tem a família, e de, num curto período de tempo ter viajado para o Brasil e para a Holanda, fazem recear pelo perigo de fuga.

Por isso se considerou estarem verificados os perigos de continuação da

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actividade criminosa e de fuga.

Por outro lado, as medidas propostas pelo arguido no recurso (permanência na habitação e proibição de contactar o arguido RF...) não permitiriam, acautelar, como é bom de ver, quer o perigo de continuação da actividade criminosa, quer o perigo de fuga.

O arguido, mesmo obrigado a permanecer na sua habitação, sempre poderia continuar a aí receber os documentos em causa e a entrega-los aos

beneficiados, assim, continuando a colaborar na actividade.

E como é sabido a permanência na habitação não é susceptível de impedir, quer a fuga, quer a manutenção de contactos com outros intervenientes nos factos em investigação.

O que só a prisão preventiva permite acautelar.

Por conseguinte, as exigências cautelares verificadas impõem a manutenção do regime coactivo que foi imposto ao recorrente no despacho recorrido.

Assim, mostrando-se reunidos os pressupostos legais da aplicação ao arguido GK... da medida de coacção decretada pelo despacho recorrido, deverá ser negado provimento ao recurso, mantendo-se a douta decisão recorrida, como é de JUSTIÇA.

*****

Cumpre decidir:

Pretende o recorrente que:

Não praticou os factos de que o Tribunal entende existirem fortes indícios, a saber:

1 (um) crime de falsificação de documento, p. e p. nos termos do disposto nos art.°s 255.°, n.° 1, al, a) e 256.°, n.° 1, als. e) e f) e n° 3 do Código Penai;

e 1 (um) crime de associação de auxílio à emigração ilegal, p. e p. pelo art°

183.°, n° 2 da Lei n° 23/2007, de 4 de Julho (e por verificar-se a existência de perigo de continuação da actividade criminosa e perigo de fuga quanto ao Arguido e aqui Recorrente) - em autoria material e na forma consumada;

existência de perigo de continuação da actividade criminosa e perigo de fuga.

- DO 1.° INTERROGATÓRIO JUDICIAL EFECTUADO AO AQUI ARGUIDO:

O recorrente foi constituído arguido no dia 05.03.2018, às 14h30 (cfr. Auto de Constituição de Arguido, elaborado pelo SEF, a fls. 6 e 7 dos autos); sendo que em hora anterior (às referidas 14h30) e no mesmo dia foi detido pelos Srs.

Agentes do SEF no Aeroporto de Lisboa;

(14)

De acordo com a leitura que faz do auto de Interrogatório efectuado o arguido prestou declarações (no dia 07.03.2018), perante o Digno Tribunal, às

15:44:09 (e até às 16:48:10).

O Arguido foi interrogado pelo Mm.° Juiz de instrução às 15:44:09 do dia 07.03.2018 e logo que lhe foi presente com a indicação circunstanciada dos motivos da detenção e das alegadas provas que a pudessem sustentar.

O interrogatório, ao arguido, que deve ser efectuado pelo Mm.° JIC - e que está previsto no art.° 141.°, n.° 1 do CPP -, no caso (relativamente ao aqui Arguido), ocorreu depois de terem sido ultrapassadas as 48h da sua detenção . Defende o recorrente que aquando do 1.° interrogatório do aqui Arguido junto do Digno Tribunal, o aqui Arguido encontrava-se ilegalmente detido pelo que, no seu entender, tal vício enferma também de vício o 1.° interrogatório judicial ocorrido quanto ao aqui Arguido, tendo, por inerência, ocorrido ilegalmente, sendo o mesmo nulo.

Vejamos:

De acordo com o disposto no artº 28º da nossa Lei Fundamental a detenção será submetida, no prazo máximo de quarenta e oito horas, a apreciação judicial, para restituição à liberdade ou imposição de medida de coacção adequada, devendo o juiz conhecer das causas que a determinaram e comunicá-las ao detido, interrogá-lo e dar-lhe oportunidade de defesa.

O recorrente foi constituído arguido no dia 05.03.2018, às 14h30 (cfr. Auto de Constituição de Arguido, elaborado pelo SEF, a fls. 6 e 7 dos autos); sendo que em hora anterior (às referidas 14h30) e no mesmo dia foi detido pelos Srs.

Agentes do SEF no Aeroporto de Lisboa;

De acordo com o Auto de Interrogatório efectuado o arguido prestou declarações sobre os factos que se indiciam nos autos, no dia 07.03.2018, perante o Digno Tribunal, às 15:44:09 e até às 16:48:10 .

De acordo com o disposto no art ° 141º n ° 1 do CPP o arguido que não deva ser de imediato julgado é interrogado pelo juiz de instrução, no prazo máximo de quarenta e oito horas, e logo que lhe for presente com a indicação

circunstanciada dos motivos da detenção e das provas que a fundamentam.

O Arguido foi interrogado pelo Mm.° Juiz de instrução ( sobre os indícios), às 15:44:09 do dia 07.03.2018 e logo que lhe foi presente com a indicação

circunstanciada dos motivos da detenção e das alegadas provas que a pudessem sustentar.

Defende o recorrente que aquando do seu 1.° interrogatório junto do Digno

Tribunal, o aqui Arguido encontrava-se ilegalmente detido pelo que no seu

entender tal vício enferma também de vício o 1.° interrogatório judicial

(15)

ocorrido quanto ao aqui Arguido, tendo, por inerência, ocorrido ilegalmente, sendo o mesmo nulo.

A prisão preventiva sem culpa formada, seja a efectuada em flagrante delito, seja a ordenada em caso de fortes indícios de grave crime doloso, carece sempre de validação ou de confirmação pelo juiz em curto prazo de tempo (parecendo que esse prazo de 48 horas vale para a apresentação de detido ao juiz e também para a decisão deste), de modo a limitar ao máximo a privação do direito à liberdade por via administrativa (especialmente, policial). É ao juiz que compete decidir da pertinência e necessidade da prisão, confirmando-a, substituindo-a por outra medida ou fazendo libertar o detido.

Conclui-se assim que a detenção deverá ser, no mesmo prazo de 48 horas, sujeita a apreciação judicial, para restituição à liberdade ou imposição de medida de coacção adequada, ainda que esta apreciação se estenda ou prolongue para além das ditas 48 horas.

Limita-se com isto a possibilidade de provar alguém do direito à liberdade por via administrativa/ policial, limitando a detenção policial a 48 horas sendo apenas isso que o legislador pretende e não que o JIC tenha de proferir despacho dentro das tais 48 horas.

Se assim não fosse o JIC ficaria limitado no seu avaliar da situação para aplicação de medida de coação pela actuação mais ou menos, célere das polícias, implicando que teria de restituir muitas vezes á liberdade em vez de aplicar a prisão preventiva. Ora tal é óbvio que não pode ser, ou seja, a

aplicação de uma medida de coação não tem como requisito primeiro a necessidade de proferir em 48 horas despacho.

A actuação do JIC – juiz dos Direitos Liberdades e Garantias – está muito para além da contagem de prazos de detenção, ultrapassa a apreciação da

legalidade da detenção efectuada e a consideração das respectivas “causas”

no momento em que ela se efectivou.

A actuação do JIC reside, também e principalmente na aplicação de uma medida de coacção, e portanto na realização ou não de um juízo de prognose sobre a necessidade da prisão preventiva ou necessidade de libertação por razões que vão além do prazo de apresentação e do prazo para proferir o seu despacho.

O n. 1 do artigo 28º CRP visa pois e apenas, impor um prazo máximo de detenção administrativa, designadamente policial.

Nem o CPP nem a CRP define um prazo dentro do qual deve decorrer o 1º

Interrogatório judicial, apenas indica a lei que deve decorrer dentro do espaço

mais curto de tempo possível – arº 103º do CPP

(16)

Por outro lado acresce que esgotado que seja o período máximo de detenção sem que seja o detido presente ao juiz de instrução, a lei faculta ao mesmo um meio de reagir contra essa situação: o habeas corpus contra detenção ilegal, previsto no art.º 220.º, a dirigir ao JIC.

Não resulta dos autos que o detido tenha reagido como podia e devia se fosse como diz.

Entretanto prosseguiu a diligência e foi aplicada uma medida de coação que foi a mais gravosa é certo mas, há que ter em conta que a observação ou não do prazo para detenção não implica que não seja aplicada uma medida de coação.

Para terminar há que referir, sobre a realidade dos autos, que arguido não foi só apresentado ao JIC de tarde. Na verdade foi-o de manhã para garantir a legalidade da apresentação e da detenção e foi depois ouvido à tarde sobre os indícios constantes dos autos.

A situação ficou registada em sistema áudio para que não haja equívocos ou invocações de falsidades.

DAS DECLARAÇÕES DO ARGUIDO PRESTADAS NO 1.° INTERROGATÓRIO JUDICIAL EFECTUADO AO AQUI ARGUIDO E DO RESPECTIVO AUTO DE INTERROGATÓRIO:

Diz o recorrente que as declarações do Arguido têm de ser obrigatoriamente efectuadas em auto escrito.

Vejamos:

Concordamos com o MP quando diz e bem que, desconhece o recorrente o teor da actual redacção do nº 7 do art.° 141º do CPP, a qual impõe que, em regra (só assim não será se os meios técnicos não estiverem disponíveis, o que não é o caso do Juízo de Instrução Criminal de Lisboa, onde se realizou a

diligência), o interrogatório do arguido é efectuado através do registo áudio ou audiovisual, só podendo ser utilizados outros meios, designadamente estenográficos, quando ocorrer indisponibilidade de meios para o efeito.

Na verdade, tal não se verifica pelo que o registo áudio e a acta assinada pela Mmª Juíza são absolutamente suficientes para o que se pretende e são

suficientemente garantística dos direitos liberdades e garantias do recorrente.

Aliás, com a evolução da tecnologia, com a necessidade que há de recolher as

declarações da forma mais fidedigna, é assim que se compreende que seja.

(17)

Não procede o alegado pelo recorrente, não estamos perante nenhuma nulidade- art.° 120°, n°2, al.d) do CPP.

DA MOTIVAÇÃO DA DECISÃO RECORRIDA / OBJECTO E DELIMITAÇÃO DO RECURSO:

A Mm.a JIC que presidiu ao primeiro interrogatório, decidiu pela aplicação ao aqui Arguido da medida de coação de prisão preventiva, por reputar de

inadequada e insuficiente qualquer outra medida, atento o perigo de continuação da atividade criminosa e o perigo de fuga;

No caso dos presentes autos, ainda não foi formulada uma acusação mas tal não obsta à aplicação da medida em causa.

Vejamos:

Na verdade verifica-se claramente perigo de continuação da atividade criminosa e perigo de fuga.

Não nos parece haver exagero no decretado. Tenhamos em conta o tipo de ilícitos em relação aos quais existem indícios de prática, ao facto de o arguido ter família no Brasil, ao facto de não ter residência permanente e ao facto de não ser esta a primeira vez que vem para Portugal. Na verdade repare-se que o arguido “ anda lá e cá”.

Não se limitou a Mmª JIC a aderir á posição do MP. Os ilícitos indiciados são graves e o facto do arguido ser despachante não explica a restante actuação nem as contradições verificadas entre o 1ª Interrogatório e os posteriores.

A medida não é excessiva, desproporcional e desadequada. O Arguido, ora Recorrente, sente-se injustiçado e ouvimos que chorou durante o

interrogatório mas, isso não apaga todo o seu comportamento individual e global.

Dúvidas também não existiram que o mesmo estava em Portugal apenas para colaborar com terceiros na actividade ilícita em causa, relacionada com um grupo de indivíduos que vem diligenciando, após obtenção de documentos falsificados no Brasil, pela entrega dos mesmos nas Conservatórios do Registo Civil com vista à atribuição da nacionalidade portuguesa aos requerentes cidadãos brasileiros, os quais, a não ser por essa via, não reuniam os requisitos necessários a tal.

Embora não seja o arguido quem falsifica os documentos em causa, colabora para o uso desses documentos, que detinha e facultava.

Existem, assim, fortes indícios da prática pelo arguido recorrente de crimes de

falsificação de documento, p. e p. pelos art.° 256°, n° 1, alíneas e) e f) e 3 do

(18)

C. Penal.

Ao contrário do que alega o arguido recorrente, foram indicados no despacho recorrido, quer directamente pela Mmª JIC, quer pela remissão para a

promoção do MP, onde também constavam, quais os fundamentos que levaram o tribunal a considerar que existia perigo de fuga e de continuação da

actividade criminosa em relação ao arguido ora recorrente.

Encontra-se em Portugal com a finalidade de prestar colaboração na

actividade ilícita em causa, sendo que a sua nacionalidade portuguesa também foi obtida de forma ilegal.

É natural do Brasil, onde tem a família, e de, num curto período de tempo ter viajado para o Brasil e para a Holanda, fazem recear pelo perigo de fuga.

Por isso se considerou estarem verificados os perigos de continuação da actividade criminosa e de fuga e bem.

Também concordamos que a obrigação de permanência na habitação não obstaria a que o recorrente continuasse a colaborar na actividade.

Para além do mais sabemos que permanência na habitação não é susceptível de impedir, quer a fuga, quer a manutenção de contactos com outros

intervenientes nos factos em investigação.

As exigências cautelares verificadas impõem a manutenção do regime coactivo que foi imposto ao recorrente no despacho recorrido.

Mostram-se reunidos os pressupostos legais da aplicação ao arguido GK... da medida de coacção decretada pelo que, assim sendo

Nega-se provimento ao recurso mantendo a decisão recorrida

Custas fixando a taxa de justiça em 3 Ucs Dn

Ac elaborado e revisto pela relatora

Lisboa

Adelina Barradas de Oliveira

Jorge Raposo

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