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Análise das provas do exame da OAB e do ENADE dos Cursos de Direito do ano de 2012 à luz da taxonomia dos objetivos educacionais de Benjamin Bloom

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Academic year: 2018

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(1)

UNI V E R S I D A D E F E D E R A L D O C E A R Á

F A C UL D A DE D E E D UC A Ç Ã O

PR O G R A M A D E PÓS -G R A D UA Ç Ã O E M E D UC A Ç Ã O B R A SI L E I R A

A NT Ô NI O V A L D E NÍS I O B E Z E R R A J ÚNI O R

A NÁ L I S E D A S PR O V A S D O E X A M E D A O A B E D O E NA DE D OS C UR S O S D E

D I R E I T O D O A NO D E 2012 À L UZ D A T A X O NO M I A D O S O B J E T I V O S

E D UC A C I O NA I S D E B E NJ A M I N B L O O M .

F O R T A L E Z A

(2)

A NT Ô NI O V A L D E NÍS I O B E Z E R R A J ÚNI O R

A NÁ L I S E D A S PR O V A S D O E X A M E D A O A B E D O E NA DE D OS C UR S O S D E

D I R E I T O D O A NO D E 2012 À L UZ D A T A X O NO M I A D O S O B J E T I V O S

E D UC A C I O NA I S D E B E NJ A M I N B L O O M .

D issertaçã o apresentada ao Programa de PX

s-Graduaçã o em E ducaçã o B rasileira da

Universidade F ederal do C eará, como requisito

parcial à obtençã o do título de Mestre em

E ducaçã o B rasileira. Á rea de concentraçã o:

A valiaçã o do E nsino-A prendizagem.

Orientador: Prof. D r. R aimundo Hélio L eite.

F O R T A L E Z A

(3)

Biblioteca Universitária

Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

B469a Bezerra Júnior, Antônio Valdenísio.

Análise das Provas do Exame da OAB e do ENADE dos cursos de Direito do ano de 2012 à luz da taxonomia dos objetivos educacionais de Bnajmin Bloom / Antônio Valdenísio Bezerra Júnior. – 2016. 79 f. : il.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Fortaleza, 2016.

Orientação: Prof. Dr. Raimundo Hélio Leite.

1. Exame da OAB. 2. ENADE. 3. Taxonomia de Bloom. I. Título.

(4)

A NT Ô NI O V A L D E NÍS I O B E Z E R R A J ÚNI O R

A NÁ L I S E D A S PR O V A S D O E X A M E D A O A B E D O E NA DE D OS C UR S O S D E

D I R E I T O D O A NO D E 2012 À L UZ D A T A X O NO M I A D O S O B J E T I V O S

E D UC A C I O NA I S D E B E NJ A M I N B L O O M .

D issertaçã o apresentada ao Programa de PX

s-Graduaçã o em E ducaçã o B rasileira da

Universidade F ederal do C eará, como requisito

parcial à obtençã o do título de Mestre em

E ducaçã o B rasileira. Á rea de concentraçã o:

A valiaçã o do E nsino-A prendizagem.

A provado em: _ _ _ C_ _ _ C_ _ _ _ _ _ .

B A NC A E X A MINA D OR A

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

Prof. D r. R aimundo Hélio L eite (Orientador)

Universidade F ederal do C eará ( UF C )

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

Prof. D r. Nicolino T rompieri F ilho

Universidade F ederal do C eará ( UF C )

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

Profa. D ra. A na Maria F ontenelle C atrib

Universidade de F ortaleza (UNIF OR )

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

Prof. D r. J osé J úlio da Ponte Neto

(5)

“Man is apparently so constituted that he

cannot refrain from evaluating, judging,

appraising, or valuing almost everything

Rhich comes Rithin his purvieR.”

(B L OOM et al., 1956)

“A parentemente, o homem é formado de tal

modo que nã o pode deixar de avaliar, julgar,

estimar ou valorar.”

(6)

R E S UM O

A aprovaçã o no E xame da OA B é exigê ncia legalmente imposta a todos os bacharéis em

direito que almejem exercer a advocacia. D esde a sua imposiçã o, ela foi alvo de diversas

críticas acerca da sua legalidade, necessidade e, até mesmo, eficácia. E nquanto guardiã da

profissã o de advogado, a OA B , como já ocorre em outros países, utiliza uma prova como

mecanismo para selecionar apenas os candidatos que demonstram o conhecimento,

capacidade e habilidades indispensáveis ao exercício da advocacia. Por outro lado, a efetiva

avaliaçã o do ensino superior, em toda a sua totalidade, é tarefa precipuamente executada pelo

ME C através do S INA E S , sendo o E NA D E o componente utilizado para a avaliaçã o dos

estudantes. A presente pesquisa analisou as provas do E xame da OA B e do E NA D E à luz da

taxonomia dos objetivos educacionais de B enjamin B loom, através do mapeamento dos

objetivos educacionais exigidos nesses testes aplicados no ano de 2012. Os dados obtidos

indicaram que os E xames da OA B trabalham no nível da categoria do conhecimento, ao passo

que o E NA D E explora mais a categoria imediatamente superior, a da compreensã o.

(7)

A B S T R A C T

T he approval in the OA B exam is a legal requirement to all laR school bachelors that aim to

be a laRyer. S ince its adoption, it has undergone several critical about its legality, necessity

and even effectiveness. J ust like in other countries, the OA B , the guardian of the attorney’s

profession, uses a measurement test to select only candidates Rho demonstrate the essential

knoRledge, skills and abilities to the practice of laR. T he effective higher education’s

evaluation is a task performed by the ME C , through S INA E S , in Rhich E NA DE is the

component used to measure the student’s evaluation. T hrough B loom’s educational objectives

taxonomy, this research proposes to find the real nature of the OA B exam, in comparison to

E NA DE ’s one, by mapping the educational objectives required in both tests in the years of

2012. D ata obtained from the analysis of the instruments shoRs that the OA B exam Rorked in

the category of knoRledge, and the E NA D E focused on the next one, the comprehension.

(8)

L I S T A D E A B R E V I A T UR A S E S I G L A S

C A PE S C oordenaçã o de A perfeiçoamento de Pessoal de Nível S uperior

C E S PE CUnB C entro de S eleçã o e de Promoçã o de E ventos da Universidade de B rasília

E C A E statuto da C riança e do A dolescente

E NA DE E xame Nacional de D esempenho de E studantes

E NE M E xame Nacional do E nsino Médio

F GV F undaçã o Getúlio V argas

F IE S F undo de F inanciamento E studantil

INE P Instituto Nacional de E studos e Pesquisas E ducacionais A nísio T eixeira

ME C Ministério da E ducaçã o

NS A Nã o se aplica

OA B Ordem dos A dvogados do B rasil

PR OUNI Programa Universidade para T odos

PUC R S Pontifícia Universidade C atXlica do R io Grande do S ul

séc. S éculo

S INA E S S istema Nacional de A valiaçã o da E ducaçã o S uperior

S IS U S istema de S eleçã o Unificada

(9)

S UM Á R I O

1 I NT R O D UÇ Ã O ... 09

2 E S T UDO A NA L ÍT I C O D O E X A M E D A O A B E D O E NA D E ... 14

2.1 O E xame da O A B ... 14

2.1.1 C aracterizaçã o das provas do E xame da OA B ... 18

2.2 O E NA D E dos cur sos de dir eito ... 20

2.2.1 C aracterizaçã o das provas do E NA D E dos cursos de direito ... 24

3 A PO R T E S T E ÓR I C OS PA R A A C O NS T R UÇ Ã O D E I NS T R UM E NT O S D E A V A L I A Ç Ã O ... 27

3.1 C onstr uçã o e análise de instr umentos de avaliaçã o de r endi mento ... 27

3.2 A taxonomia dos obj etivos educacionais de B loom ... 30

3.2.1 C onhecimento ... 33

3.2.2 C ompreensã o ... 34

3.2.3 A plicaçã o ... 36

3.2.4 A nálise ... 37

3.2.5 S íntese ... 38

3.2.6 A valiaçã o ... 39

4 M E T O D O L O G I A … … … ...… … … . 41

4.1 C ar acter izaçã o da pesquisa … … … .… … 41

4.2 Pr ocedi mento de coleta e análise dos dados ...… … … ...… … . 41

5 A NÁ L I S E E D I S C US SÃ O D O S R E S UL T A DO S ... 44

5.1 A nálise das pr ovas do E xame da O r dem ... 44

5.2 A nálise da pr ova do E NA D E de dir eito ... 57

5.3 C ompar ativo entr e as pr ovas da O A B e do E NA D E ... 63

6 C O NC L US Ã O ... 66

R E F E R ÊNC I A S ... 67

A PÊND I C E A – F I C H A D E C O L E T A D E D A D O S PA R A C L A S S I F I C A Ç Ã O D A S Q UE S T Õ E S NA T A X O NO M I A D E B L O OM ... 73

(10)

A PÊND I C E C – C L A SS I F I C A Ç Ã O D A S Q UE S T Õ E S D O E X A M E D A

O A B 2012.1 D E A C O R D O C O M A T A X ONO M I A D E B L O O M ... 75

A PÊND I C E D – C L A SS I F I C A Ç Ã O D A S Q UE S T Õ E S D O E X A M E D A

O A B 2012.2 D E A C O R D O C O M A T A X ONO M I A D E B L O O M ... 76

A PÊND I C E E – C L A S S I F I C A Ç Ã O D A S Q U E S T Õ E S D O E X A M E D A

O A B 2012.3 D E A C O R D O C O M A T A X ONO M I A D E B L O O M ... 77

A PÊND I C E F – C L A S S I F I C A Ç Ã O D A S Q UE S T Õ E S D O

C O M PO NE NT E E S PE C ÍF I C O D O E NA D E D E D I R E I T O 2012 D E

(11)

1 I NT R O D UÇ Ã O

A procura pela graduaçã o em direito tem sido intensa, tanto que o curso figurou

como o segundo mais procurado no S istema de S eleçã o Unificada (S ISU), ediçã o 2015,

atingindo o expressivo número de 262.255 inscritos, segundo dados do Ministério da

E ducaçã o (B R A S IL , 2015, p. 11). T al procura é o resultado natural de uma cultura que

enxerga nos concursos públicos um dos poucos caminhos para se alcançar independê ncia e

estabilidade financeira, uma vez que sã o notXrios os atrativos salários prXprios das carreiras

jurídicas (SA NT OS ; GONÇ A L V E S , 2013), aliados ao alto prestígio social a elas inerente.

Por outro lado, o baixo custo relativo de funcionamento destes cursos e o

crescimento do acesso da populaçã o à s universidades, fomentado por programas do governo,

a exemplo do F undo de F inanciamento E studantil (F IE S ) e do Programa Universidade para

T odos (PR OUNI), tornaram o ensino jurídico um nicho bastante atrativo aos empresários que

investem na educaçã o superior. A ssim, essa alta procura aliada à facilidade de abertura dos

cursos sã o fatores que explicam também o expressivo salto no número de cursos de direito em

atividade no País, indo de 165 no ano de 1995 para impressionantes 1.306 no início de maio

de 2015 (GIE S E L E R , 2015b), ou seja, um crescimento de aproximadamente 692Ã em vinte

anos.

T al aumento desenfreado acarretou em medida extrema adotada pelo ME C que,

em 2013, deixou de autorizar a criaçã o de novos cursos de direito, em resposta aos anseios e

preocupações manifestados pela Ordem dos A dvogados do B rasil (OA B ) no que tange à s

repercussões sociais, educacionais e, certamente, mercadolXgicas dessa proliferaçã o. O acordo

firmado entre essas entidades (ME C e OA B) definiu que a suspensã o de novas autorizações

perduraria até o advento do marco regulatXrio do ensino jurídico no País (OR D E M D OS

A D V OGA D OS D O B R A S IL , 2013).

E ntretanto, a pressã o política exercida pelas faculdades privadas conseguiu

reverter a situaçã o e, em meados de 2015, o ME C voltou a autorizar a criaçã o de novos cursos

apXs a publicaçã o da Portaria Normativa nº 20C2014CME C (BR A S IL , 2014), mesmo sem a

aprovaçã o do aludido marco regulatXrio do ensino jurídico, o qual até o presente momento

ainda nã o foi editado.

D iante desse panorama, tornam-se ainda mais polê micos os resultados do tã o

(12)

unificada do certame variou entre 65,5Ã e 87,1Ã, considerando um total de inscritos no

período entre 97 mil a 126 mil (F UNDA Ç Ã O GE T ÚL IO V A R G A S , 2014, p. 41).

E m números absolutos, entre 2010 e 2014, das 1.340.560 inscrições recebidas,

apenas 101.933 aprovações ocorreram, ou seja, 20,9Ã do total (F UND A Ç Ã O GE T ÚL IO

V A R GA S, 2014, p. 41), fato que a OA B atribui à atual condiçã o de mercantilizaçã o e péssima

qualidade do ensino jurídico (MA C IE L ; MA T UMOT O, 2008, p. 117). T odavia, há quem

levante a hipXtese de utilizaçã o dessa prova como instrumento de reprovaçã o em massa

(G IE S E L E R , 2015a), cujo escopo principal seria o de diminuir a quantidade de profissionais a

ingressar no mercado advocatício.

D esde o surgimento da OA B , que remonta ao E stado Novo (1930), a entidade tem

manifestado zelo com o ensino jurídico, negando ser por questões de reserva de mercado que

passou a adotar o certame. Oriunda da evoluçã o natural e planejada do antigo Instituto dos

A dvogados do B rasil, à OA B foi entregue a nobre tarefa de ser a guardiã do exercício da

advocacia ( B R A S IL , 1994), destacando-se, outrossim, por suas importantes contribuições ao

ensino do direito, daí porque é tida como verdadeiro divisor de águas (S A NT A NA

C A MA R GO et al., 2012, p. 3).

O prXprio E statuto da OA B ainda prevê tal funçã o colaborativa, nos termos do

artigo 54, inciso X V (B R A S IL , 1994): “C ompete ao C onselho F ederal: ( ...) X V – colaborar

com o aperfeiçoamento dos cursos jurídicos, e opinar, previamente, nos pedidos apresentados

aos Xrgã os competentes para criaçã o, reconhecimento ou credenciamento desses cursos”. No

entanto, diante dos dados apresentados, questiona-se se a OA B realmente desempenha esse

relevante papel educacional e se, com esteio nesse propXsito, de fato seleciona apenas os

profissionais realmente preparados para o mercado de trabalho, operando como um

termômetro do ensino jurídico no país (S A NT A NA C A MA R GO et al., 2012, p. 3).

Na seara legal, um dos argumentos levantados por aqueles que sã o contrários ao

E xame da OA B é a ausê ncia de competê ncia legal da OA B para avaliar a aprendizagem dos

bacharéis, pois este seria encargo exclusivo do Poder Público, mais especificamente do ME C

(MA C IE L ; MA T UMOT O, 2008, p. 119). E m contrapartida, sustenta-se que o reducionismo

desse ponto de vista deixa de lado aquele grande papel conferido à OA B , qual seja, o de

promover o aperfeiçoamento da cultura jurídica, especialmente dentro da academia. A demais,

a OA B é Xrgã o do Poder Público e sua atuaçã o, através do E xame de Ordem, nã o visa avaliar

todos os bacharéis, mas tã o somente aqueles que pretendem exercer a advocacia, ou seja,

(13)

No tocante à avaliaçã o externa do ensino superior, um importante contraponto é

apresentado por Marchelli (2007, p. 354), ao ilustrar a realidade da Inglaterra, onde tal

avaliaçã o é feita por meio de corporações profissionais independentes, e nã o por um sistema

central estabelecido pelo Governo. O autor também chama atençã o para o fato de as

universidades inglesas figurarem dentre as mais antigas e experientes do mundo. L á, o

aperfeiçoamento dos meios para se atingir a excelê ncia figura como norte do processo

avaliativo, pautado sob a égide da eficiê ncia e da eficácia.

O estudioso arremata com a esperança de que o ME C se espelhe no modelo inglê s

e passe a utilizar terceiros para melhor trabalhar o sistema de avaliaçã o vigente no País,

chegando a vislumbrar até mesmo possibilidade de uso de uma auditoria independente do

ME C (ou por ele autorizada), a ser adotada de forma voluntária pelas instituições de ensino

superior (V IA NNA , 2003; MA R C HE L L I, 2007, p. 359).

No B rasil, essa incumbê ncia de avaliar o ensino superior é atribuída ao ME C ,

levada a cabo através do S istema Nacional de A valiaçã o da E ducaçã o S uperior (S INA E S )

(MA R C HE L L I, 2007, p. 353). E sse sistema avaliativo, externo à s instituições, é instrumento

cognitivo, crítico, organizador e trabalha com dados quantitativos e juízos de valor para

chegar a uma conclusã o acerca da qualidade das práticas e da produçã o teXrica das avaliadas.

Um dos componentes utilizados no S INA E S é o E xame Nacional de D esempenho de

E studantes (E NA D E ), no qual é feita a mensuraçã o das habilidades acadê micas (no sentido de

capacidades) e das competê ncias profissionais (B R IT O, 2008, p. 846).

No plano teXrico, a elaboraçã o e conduçã o do E NA D E atende à s preocupações de

Gentil et al. (2008, p. 4581), para quem a “avaliaçã o deve existir nã o para constatar a

quantidade de conteúdos aprendidos pelos alunos, mas a qualidade apresentada para a

reelaboraçã o e produçã o de conhecimentos novos por eles”.

E m outra mã o, o E xame da OA B , em decorrê ncia da alta taxa de reprovaçã o

observada, tem fomentado a massificaçã o do ensino jurídico e a proliferaçã o de cursos

preparatXrios específicos para esta prova. F ala-se inclusive em deturpaçã o da contribuiçã o que

ele poderia trazer ao ensino jurídico, uma vez que deixa de promover toda sua potencialidade

de engrandecimento do conhecimento nas universidades para acarretar uma verdadeira

mercantilizaçã o e banalizaçã o da docê ncia jurídica, voltada quase exclusivamente para o ê xito

em testes (SA NT A NA C A MA R GO et al., 2012).

A OA B atribui responsabilidade pelos baixos índices de aprovaçã o à s prXprias

(14)

alunos, os quais atribuem os resultados aos professores, formando uma corrente de

transferê ncia na qual ninguém assume seu quinhã o de responsabilidade. G entil et al. (2008, p.

4587) apontam para uma crise do ensino jurídico, muito embora entendam que o péssimo

resultado observado decorre de má formaçã o profissional, da qual resulta inaptos ao exercício

da atividade jurídica, em especial, da advocacia.

A té o presente momento, pouco se investigou a respeito da natureza avaliativa do

E xame da OA B , para se aprofundar a análise acerca da essê ncia dessa prova, ou seja, o que

ela efetivamente consegue mensurar. A pXs exaustiva revisã o de literatura, verificou-se que

T agliavini (2013, p. 11) enfrentou a questã o e buscou elucidar a composiçã o desse

instrumento com base na taxonomia de B loom, muito embora tenha limitado os esforços de

sua equipe ao mapeamento apenas das primeiras fases da I e IX edições unificadas do E xame

da OA B (2009.3 e 2012.3).

C abe destacar que, naqueles estudos, nã o foi utilizada a taxonomia originalmente

proposta por B loom, mas uma variante formulada pelo prXprio pesquisador. T ambém nã o foi

analisada a totalidade do exame, deixando de lado as provas da segunda fase, que possuem

cunho eminentemente dissertativo. T agliavini (2013, p. 10) concluiu que as questões da

primeira fase sã o voltadas à memorizaçã o de conteúdo (em especial, de normas), ou seja,

muito aquém de contemplar todas as habilidades desejadas pela OA B aos almejantes à

carreira advocatícia.

Noutro trabalho, B raga e B ezerra (2014) constataram a possibilidade de utilizaçã o

da taxonomia de B loom nos exames do E NA D E e da OA B , sem, contudo, deterem-se na

análise de quaisquer das versões integrais das provas, apenas reforçando o entendimento

original dos criadores da classificaçã o de B loom, ou seja, de que a sua aplicaçã o é universal.

D e fato, Medeiros (1989, p. 19) já alertava para o uso da taxonomia de B loom na elaboraçã o

de provas em geral, cuja aplicaçã o se faz necessária desde a organizaçã o do esquema básico

de qualquer avaliaçã o de rendimento educativo.

S obre a aplicaçã o da taxonomia de B loom em estudos sobre provas de outras

áreas de formaçã o, especificamente na contabilidade, dois estudos (S A NT A NA J UNIOR et

al., 2009; PINHE IR O et al., 2013) adaptaram-na para avaliar a composiçã o de provas de

concursos públicos federais, do E NA DE do curso de ciê ncias contábeis e do exame do

C onselho F ederal de C ontabilidade. A s seis categorias originalmente formuladas por B loom

(15)

O foco nos objetivos educacionais tem norteado temas de relevo como a qualidade

do ensino jurídico, competê ncias exigidas pela OA B , melhoramento de currículos, validade e

fidedignidade das avaliações, de forma que o uso da taxonomia tem incrementado o sistema

de avaliaçã o nas universidades (J OHNS ON; F UL L E R , 2006). A liás, R eginaldo e B ezerra

(2013) informam que o banco de questões de todos os cursos da Universidade de F ortaleza

(UNIF OR ) categoriza os itens postados pelos professores com base na taxonomia de B loom.

É propício, portanto, retomar as lições de L uckesi (1994, p. 69) e Perrenoud

(1999, p. 53), para quem o ato avaliativo envolve sempre uma tomada de decisã o para um

agir. T ambém nã o se pode olvidar a necessária distinçã o feita por V ianna (2000, p. 25) entre

avaliaçã o e mensuraçã o, dado que esta é apenas uma primeira etapa do processo avaliativo.

No atual panorama do ensino jurídico, o E NA DE , na condiçã o de componente do

S INA E S, é o único mecanismo de avaliaçã o utilizado pelo ME C para diagnosticar o

aprendizado no ensino superior brasileiro e, a princípio, presta-se ao papel avaliativo definido

pelos renomados autores. Paralelamente, há quem defenda que a OA B , através do E xame da

OA B , cumpre sua missã o para com o ensino do direito ao selecionar para o mercado os

profissionais realmente preparados (S A NT A NA C A MA R GO et al., 2012, p. 3).

Propõe-se, assim, investigar a natureza dessas provas com arrimo na taxonomia

dos objetivos educacionais de B loom (B L OOM et al., 1956) para se confrontar os resultados

obtidos com as informações disponibilizadas pelas instituições organizadoras. Para cumprir

essa tarefa, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:

a) A nalisar, à luz da taxonomia dos objetivos de B loom, a composiçã o dos

instrumentos avaliativos utilizados no E xame da OA B e no E NA DE dos cursos

de direito do ano de 2012;

b) C omparar os resultados obtidos nas análises precedentes com os estudos

divulgados pelas prXprias entidades organizadoras (F GV e INE P,

respectivamente).

A través da combinaçã o dos objetivos específicos propostos, pretendeu-se

responder à grande questã o lançada em torno da temática: quais habilidades e competê ncias o

(16)

2 E S T UDO A NA L ÍT I C O D O E X A M E S D A O A B E D O E NA D E

O presente capítulo faz uma análise percuciente dos dois exames objeto do estudo

proposto, abordando seus aspectos relacionados com a criaçã o, objetivos e evoluçã o histXrica.

Primeiramente é apresentado um resgate acerca da criaçã o e regulamentaçã o do E xame da

OA B , seguido da caracterizaçã o do exame no período estudado. R essaltam-se os avanços na

tecnologia de elaboraçã o e conduçã o das provas, conforme houve mudança na entidade

contratada pela OA B para realizaçã o do certame. S eguindo igual lXgica, é traçado um

panorama geral da avaliaçã o dos cursos de graduaçã o no B rasil, enfatizando-se a situaçã o dos

cursos de direito. A parte final do capítulo foi destinada à descriçã o das provas do E NA DE .

2.1 O E xame da O A B

A C onstituiçã o F ederal estabelece que a advocacia é funçã o essencial à justiça e,

assim como qualquer outra profissã o, é livre seu exercício, uma vez atendidas as

“qualificações profissionais que a lei estabelecer” (B R A S IL , 1988). A tualmente, a legislaçã o

em questã o é o E stado da Ordem dos A dvogados do B rasil, a L ei F ederal nº 8.906, de 4 de

julho de 1994, que regulamenta as atividades dessa autarquia especial.

A lém de outras exigê ncias (capacidade civil, idoneidade moral, nã o exercer

atividade incompatível com a advocacia, fazer prova do alistamento eleitoral e quitaçã o do

serviço militar obrigatXrio exigida dos candidatos do sexo masculino), para ser inscrito na

OA B o candidato deve obter grau de bacharel em direito por instituiçã o reconhecida pelo

ME C (art. 8º , inciso II, da L ei nº 8.906C94) e aprovaçã o no E xame de Ordem (art. 8º , inciso

IV , da L ei nº 8.906C94). S omente apXs o preenchimento de todos esses requisitos, o aspirante

poderá prestar compromisso perante o conselho e estará apto ao exercício da profissã o de

advogado ( B R A S IL , 1994).

O polê mico retrospecto sobre a adoçã o do E xame de Ordem (ou E xame da OA B )

e da obrigatoriedade de aprovaçã o para que o candidato possa exercer a advocacia foi

brilhantemente resumido por R osas (1997):

(17)

estágio profissional, e, finalmente, a L ei 8906 ( art. 8º , 1º ) instituiu unicamente o exame ( excluindo estágio) para o ingresso na OA B , hoje consolidado no provimento nº 81C96 do C onselho F ederal.

A ntes da adoçã o do E xame da OA B pela entidade, foram estudadas as realidades

de 39 países com o intuito de saber como se dava a outorga e permissã o para exercício da

advocacia. No resultado, foram criados sete grupos (dos quais o B rasil figuraria agora no 2º

deles), deixando claro que a exigê ncia de exame profissional nã o seria uma experiê ncia

inédita a ser implementada pela OA B :

L ...] eis que fizemos pesquisa junto a 39 países, para saber como se faz o ingresso ao exercício da advocacia e, concluindo-a, a classificamos em sete grupos, a saber: 1º G r upo – Países que exigem exame profissional ( E xame de Ordem, perante a corporaçã o profissional, ou E xame de E stado, perante determinado Xrgã o público ou T ribunal) , mais estágio ou residê ncia profissional de dois ou mais anos, apXs a graduaçã o: L íbano, S uíça, J apã o, Grécia, Á ustria (exige também mestrado ou doutorado) , Haiti, Polônia, Inglaterra, E stados Unidos ( com variações de E stado para E stado), F rança, Iugoslávia, T ogo, Marrocos, A lemanha e Nigéria.

2º G r upo – Países que exigem exame profissional, sem obrigatoriedade de estágio ou residê ncia: F inlândia, C hile, México e Países B aixos.

3º G r upo – Países que exigem exame profissional, apXs formado o bacharel em D ireito, sem E xame de Ordem ou de estágio: E gito (necessário estágio em escritXrio de advocacia) , A rgélia e C osta do Marfim.

4º G r upo – Países que nã o exigem exame ou estágio: Uruguai, B olívia, E quador, Suriname ( é praxe a prática de um ano em escritXrio de advocacia), Iraque, Nicarágua, E spanha, C uba e V enezuela.

5º G r upo – Países que exigem sX estágio: E slováquia, T urquia, C olômbia ( mais exposiçã o escrita e defesa de tese jurídica) , e Portugal.

6º G r upo – T rabalhar como assistente por trê s anos com advogado, devendo se submeter a diversos testes para advogar perante T ribunais S uperiores. Para advogar perante o ST F , prova de exercício da atividade de cinco anos em T ribunais Superiores: D inamarca.

7º G r upo – Que exige licença pelo Ministério de J ustiça, apXs a comprovaçã o de que nos últimos dois anos cumpriu diversas modalidades legais, incluindo trê s processos em C ortes Inferiores de J ustiça, como estagiário: Noruega. (R OS A S, 1999, apud A L E X A ND R INO, 2006, p. 344-345)

D entre os vários argumentos levantados contra o E xame da OA B , talvez o mais

robusto seja o que reconhece apenas ao ME C a competê ncia para fiscalizaçã o e avaliaçã o do

ensino superior e, por via de consequê ncia, da formaçã o dos egressos. T odavia, sabe-se que as

faculdades de direito nã o formam apenas advogados, muito embora estes constituam a “ponte

de ligaçã o com as outras atividades jurídicas – a magistratura, o Ministério Público, a

consultoria, o serviço público, este o grande consumidor dos quadros profissionais jurídicos, e

(18)

Os defensores do exame replicam sustentando que ele verifica tã o somente o

atendimento de uma qualificaçã o mínima do candidato, para que ele demonstre aptidã o e

conhecimento dos instrumentos utilizados na operacionalizaçã o do direito (R OS A S , 2010,

p.144; B US A T O, 2007, p. 125-130). E m outras palavras, conforme assegura D e A lmeida

(2008), o advogado tem perfil de conhecimento específico, dissociado das demais esferas da

atuaçã o no direito, de forma que a OA B busca identificar e selecionar apenas quem demonstra

capacidade para o exercício da advocacia, evidenciada através dos conhecimentos específicos

e necessários ao advogado, objeto de avaliaçã o no E xame da OA B . Por isso:

L ...] nã o se pretende mensurar o acúmulo de conhecimentos jurídicos, mas a capacidade de aplicá-los. Ou seja, ao E xame de Ordem compete testar a habilidade do postulante a advogado de raciocinar juridicamente, de analisar e solucionar os problemas jurídicos apresentados e de demonstrar o domínio dos principais fundamentos do direito e suas aplicações. ( A L E X A ND R INO, 2006, p. 345-350)

R ealmente, da forma como é posto, o E xame da OA B nã o se presta à avaliaçã o do

ensino superior, atividade que envolve a análise de uma série de outras variáveis nã o

contempladas pelo certame. S eu único propXsito seria o de mensurar o conhecimento,

capacidades e habilidades do bacharel em direito para, ao final, atestar ou nã o o

preenchimento do mínimo necessário desejado ( MA ME D E , 2011). Ocorre que as faculdades

de direito, especialmente as públicas, nã o tê m apenas essa funçã o, dada a formaçã o

propedê utica que ela pode oferecer, abrindo, dessa maneira, mercado de trabalho para outras

áreas de interesse para o desenvolvimento do país. C om efeito, é necessário se ponderar o fato

que educaçã o pública é mantida pelos pagadores de impostos que merecem ter o devido

retorno do investimento feito na formaçã o de profissionais. No caso em questã o, cita-se a

defensoria pública como um tipo positivo de retorno.

E ntretanto, nada impediu sua utilizaçã o também com intuito de avaliar a

qualidade dos cursos de direito. Outrossim, tal uso dos resultados do E xame da OA B é visto

de forma corriqueira em faculdades e na prXpria sociedade ao se considerar o número de

egressos de determinada instituiçã o que obtiveram a aprovaçã o.

A liás, o cruzamento dos resultados do E xame de Ordem com os dados de

desempenho do E NA D E , inclusive, já tem sido utilizado pela OA B para ranquear as

universidades. Identificadas aquelas instituições com os mais altos índices de aproveitamento,

é conferido o “S elo OA B R ecomenda”, uma forma de resposta dada pela autarquia em face da

(19)

(GE L L E R et al., 2012, p. 12). Um melhor aproveitamento educacional dessas informações

mostra-se possível, na medida em que:

O E xame de Ordem pode se constituir em instrumento indutor de qualidade do ensino jurídico, na medida em que é aferido o desempenho dos candidatos, nas áreas de opçã o de realizaçã o da prova prático-profissional, uma vez que tais informações sejam remetidas aos cursos jurídicos, a fim de que verifiquem o nível dos seus egressos, procurando melhorar as áreas deficitárias. ( ISE R HA R D , 2003. p. 80)

E m artigo veiculado no site da OA B , foi dito:

A supressã o do vestibular tem um preço. Preço muito alto, ressalte-se. C omo nã o existe um crivo ou seleçã o consistente, o nível intelectual médio dos alunos é baixo, muito baixo. T ambém baixo ou muito baixo é o nível do ensino jurídico observado. A final, nã o adiantam professores mestres e doutores, métodos ativos de ensino, bibliotecas aparelhadas, tecnologia de ponta e outras providê ncias nesse sentido, se existem profundas deficiê ncias de formaçã o acadê mica e intelectual entre os estudantes de direito. (C A ST R O, 2014).

C abe destacar o papel da OA B no contexto do ensino jurídico, trazido pelos

artigos 44 e 54 do seu estatuto, pelos quais é encarregada de “pugnar pelo aperfeiçoamento da

cultura jurídica” e “colaborar com o aperfeiçoamento dos cursos jurídicos, e opinar,

previamente, nos pedidos apresentados aos Xrgã os competentes para criaçã o, reconhecimento

ou credenciamento desses cursos” (BR A S IL , 1994). R ecentemente, a prXpria autarquia

explicitou sua visã o acerca do E xame através de publicaçã o da F undaçã o Getúlio V argas

(F GV ), atual responsável pela conduçã o desse processo seletivo:

C omo instrumento normativo de regulaçã o profissional previsto na C onstituiçã o F ederal e em legislaçã o específica, o E xame busca avaliar a qualificaçã o do bacharel em D ireito para o exercício profissional, isto é, aferir se o examinando apresenta os conhecimentos teXricos e práticos indispensáveis ao exercício da profissã o no país. C om esse objetivo, seu conteúdo é elaborado com referê ncia nos parâmetros de aptidã o necessários para atender adequadamente à s demandas do mercado.

A o estabelecer os critérios mínimos para qualificaçã o profissional dos bacharéis, o E xame colabora para a introduçã o de melhorias nos projetos pedagXgicos e na estrutura dos cursos jurídicos oferecidos no país, ao mesmo tempo em que reduz as incertezas e os custos associados à escolha de profissionais no mercado de trabalho. ( F UND A Ç Ã O GE T ÚL IO V A R G A S, 2014, p. 17)

Portanto, no âmbito educacional, a questã o perpassa a natureza dos

conhecimentos, capacidades e habilidades necessárias ao exercício da advocacia e,

(20)

2.1.1 C aracterizaçã o das provas do E xame da OA B

O E xame de Ordem foi criado pela L ei 4.125, de 27 de abril de 1963, inicialmente

exigido apenas daqueles que nã o haviam participado ou obtido aprovaçã o em estágio cursado

nos moldes estabelecidos pela OA B. A lém dos aprovados nesse estágio, também eram

dispensados os “membros da Magistratura e do Ministério Público que tenham exercido as

respectivas funções por mais de dois anos, bem como, nas mesmas condições, os professores

de F aculdade de D ireito oficialmente reconhecidas” (B R A S IL , 1963).

A obrigatoriedade de aprovaçã o no exame, como requisito para inscriçã o na OA B ,

por sua vez, sX veio a ser exigida com o advento da L ei 8.904, de 04 de julho de 1994, que

estabeleceu o novo E statuto da Ordem dos A dvogados do B rasil. T odavia, desde entã o se tem

apontado para questões graves relacionadas ao ensino jurídico no País, principalmente em

razã o do alto índice de reprovaçã o constatado (MA C IE L ; MA T UMOT O, 2008, p. 117).

A té o ano de 2010 nã o havia unificaçã o nacional na aplicaçã o do E xame da OA B ,

o que sX veio ocorrer na primeira ediçã o daquele ano, quando a organizadora da prova ainda

era o C entro de S eleçã o e de Promoçã o de E ventos da Universidade de B rasília

(C E S PE CUnB ). Uma das maiores inovações trazidas pelo I E xame Unificado foi a de permitir

a participaçã o dos estudantes do último ano do curso (nono e décimo períodos) (C E NT R O D E

S E L E Ç Ã O E D E PR OMOÇ Ã O D E E V E NT OS , 2010, p. 1). A tualmente, as edições

permanecem unificadas em todo o territXrio nacional, com a frequê ncia de trê s edições por

ano, mas agora realizadas pela F undaçã o Getúlio V argas (F GV ), que assumiu a organizaçã o

do certame a partir da II ediçã o unificada, referente à aplicaçã o de 2010.2.

A té a ediçã o 2010.1 (primeira unificada), entã o organizada pelo C E SPE CUnB , a

avaliaçã o era composta por duas fases, sendo a primeira uma prova com 100 questões

múltipla-escolha, com quatro opções (A , B , C e D ) e uma única resposta correta, de acordo

com o comando da questã o. A cada questã o em concordância com o gabarito oficial o

candidato recebia um ponto, sendo necessários pelo menos 50 pontos para que estivesse

habilitado para a segunda fase do E xame da OA B (C E NT R O D E S E L E Ç Ã O E D E

PR OMOÇ Ã O D E E V E NT OS, 2010, p. 4-5).

Para a composiçã o da primeira fase o C E S PE CUnB escolhia os itens de forma a

contemplar todas as disciplinas profissionalizantes obrigatXrias e integrantes do currículo

mínimo do curso de D ireito, fixadas pelo C NE do ME C , conforme R esoluçã o C NE CC E S nº 9,

(21)

A dolescente, D ireito A mbiental, D ireito Internacional, E statuto da A dvocacia e da OA B , seu

R egulamento Geral e C Xdigo de É tica e D isciplina da OA B (C E NT R O D E S E L E Ç Ã O E D E

PR OMOÇ Ã O D E E V E NT OS, 2010, p. 4).

J á na segunda fase, de cunho discursivo, o candidato deveria optar por uma das

áreas: D ireito A dministrativo, D ireito C ivil, D ireito C onstitucional, D ireito do T rabalho,

D ireito E mpresarial, D ireito Penal ou D ireito T ributário. Nela era solicitado do candidato a

elaboraçã o uma peça profissional privativa de A dvogado e respostas a cinco questões abertas,

sob a forma de situações-problema (C E NT R O D E S E L E Ç Ã O E D E PR OMOÇ Ã O D E

E V E NT OS , 2010, p. 4-6) , sendo ainda permitida a pesquisa a leis e livros pré-estabelecidos.

Pelo acerto total da peça profissional o candidato recebia cinco pontos e, pelo

acerto completo de cada questã o, um ponto. Ou seja, um total de dez pontos pela prova da

segunda fase. C onsiderava-se aprovado o candidato que obtivesse pelo menos nota 6, vedado

o arredondamento (C E NT R O D E S E L E Ç Ã O E D E PR OMOÇ Ã O D E E V E NT OS , 2010, p.

4-6). Mesmo com a modificaçã o da organizadora exame a partir da ediçã o 2010.2, essas

características gerais das provas mantiveram-se inalteradas até a aplicaçã o 2011.1.

D esde que assumiu a conduçã o do processo, a F GV mostrou uma maior atençã o

com a temática da meta avaliaçã o, passando a incluir o seguinte item em todos os editais

subsequentes:

3.4.1.1 A dicionalmente, a F G V aplicará Questionário de Percepçã o sobre a Prova, composto de 10 (dez) questões acerca do conteúdo das provas aplicadas, de preenchimento facultativo pelo examinando, por se tratar de mera pesquisa, nã o influindo no resultado final das provas do examinando. ( F UND A Ç Ã O GE T ÚL IO V A R G A S, 2010, p. 6)

A lém dessa sistemática bifásica, na primeira fase houve uma reduçã o no número

de questões, passando a ser composta com 80 itens, com a ressalva de que no mínimo 15Ã

(quinze por cento) das questões versariam sobre E statuto da A dvocacia e da OA B e seu

R egulamento Geral, C Xdigo de É tica e D isciplina e D ireitos Humanos (F UND A Ç Ã O

GE T ÚL IO V A R GA S , 2011, p. 7-8).

A prova da segunda fase também foi aperfeiçoada, permanecendo a exigê ncia de

elaboraçã o da peça prático profissional privativa de advogado, mas com apenas quatro

questões práticas, sob a forma de situações-problema, valendo, no máximo, 1,25 (um inteiro e

vinte e cinco décimos) pontos cada, tudo referente à área previamente escolhida pelo

(22)

Os critérios de aprovaçã o foram mantidos, sendo necessário obter pontuaçã o igual

ou superior a 50Ã na primeira fase e uma nota mínima de 6,00 pontos na segunda fase,

vedado o arredondamento, para que o candidato pudesse ser considerado aprovado no E xame

da OA B (F UND A Ç Ã O GE T ÚL IO V A R G A S, 2011, p. 15-16).

Outra inovaçã o importante no processo ocorreu no final de 2013, quando o

C onselho F ederal da OA B deliberou pela possibilidade de reaproveitamento da primeira fase

do exame para o candidato que nã o lograr aprovaçã o na prova prático-profissional (segunda

fase), nos termos do Provimento 144, de 13 de junho de 2011, e suas alterações posteriores

constantes no Provimento 156C2013, de 01 de novembro de 2013, do C onselho F ederal da

OA B . A ssim, passou-se a ter a faculdade de reaproveitar o resultado da prova objetiva, para

fins de realizaçã o da prova prático-profissional do E xame imediatamente subsequente, sem

isentar do pagamento do valor da taxa de inscriçã o correspondente. T al regra passou a vigorar

a partir da X II ediçã o unificada do E xame de Ordem (F UND A Ç Ã O GE T ÚL IO V A R G A S ,

2011, p. 7).

A tualmente, o E xame da OA B permanece com estas últimas configurações, mas

passou a incluir também a disciplina F ilosofia do D ireito nas provas de primeira fase, como

parte do núcleo que deve ser formado de 15Ã das questões supracitadas (F UND A Ç Ã O

GE T ÚL IO V A R GA S , 2016b, p. 9). D emonstra-se uma nítida tendê ncia de buscar indicativos

de uma formaçã o mais ampla e abrangente, evidenciada pela inclusã o de disciplinas cujo

escopo nã o é direcionado para a técnica jurídica de manipulaçã o do direito.

2.2 O E NA DE dos cur sos de dir eito

No B rasil, a avaliaçã o do ensino superior, a nível de graduaçã o, sX teve início na

década de 90, a princípio com a L ei 9.131, de 24 de novembro de 1995, e a sua posterior

regulamentaçã o através do D ecreto 2.026, de 10 de outubro de 1996. A partir de entã o, foi

estabelecido o E xame Nacional de C ursos (E NC ) , também chamado de “Provã o” (V E R HINE ;

D A NT A S , 2005, p. 5), cuja organizaçã o e aplicaçã o foram da alçada do Instituto Nacional de

E studos e Pesquisas E ducacionais A nísio T eixeira ( INE P) , na época, Xrgã o vinculado ao

Ministério da E ducaçã o e do D esporto, mas que posteriormente adquiriu personalidade

jurídica prXpria, na forma de autarquia federal.

E ntretanto, a avaliaçã o dos cursos de mestrado e doutorado teve início mais

(23)

Nível S uperior (C A PE S ) , de forma que a situaçã o geral da avaliaçã o do ensino superior era

feita conforme mostra o organograma abaixo:

Gráfico 1 – R epresentaçã o do S istema Nacional da A valiaçã o durante a vigê ncia do

“Provã o”.

F onte: V E R HINE ; D A NT A S, 2005, p. 6

O “Provã o” consistia em uma prova aplicada a todos os concludentes dos campos

de conhecimento avaliados em cada ediçã o, onde nã o havia a necessidade de preenchimento

de um perfil mínimo para fins de aprovaçã o. No começo, apenas trê s cursos foram avaliados:

D ireito, Medicina e E ngenharia C ivil, mas chegou a abranger um total de 26 cursos na sua

última ediçã o em 2003, os quais eram classificados anualmente em conceitos que iam de “A ”

a “E ” (V E R H INE ; D A NT A S , 2005, p.7).

Inicialmente, a escala era referenciada à norma, ou seja, era estabelecida a partir

da classificaçã o relativa dos cursos em comparaçã o com os demais do mesmo campo de

conhecimento, tomando por base o desempenho médio de seus alunos. C ontudo, na sua última

ediçã o (2003), os cursos foram classificados com base em duas escalas, a primeira relacionada

ao desvio padrã o geral e a outra, à média absoluta (V E R HINE ; D A NT A S , 2005, p. 7). E m

todo caso, havia previsã o de consequê ncia sérias à s instituições mal avaliadas, muito embora

nã o tenha ocorrido o devido rigor na prática:

(24)

E ainda:

O Provã o foi um mecanismo de regulaçã o estatal com critérios relacionados ao mercado, com estabelecimento de rankings que estimulavam a concorrê ncia entre as IE S . A pesar das normas preverem punições nos casos de resultados negativos no Provã o, na prática nã o houve nenhum efeito punitivo, senã o de divulgaçã o midiática e publicitária em procedimentos de auto-regulaçã o típicos do mercado. ( B A R R E Y R O; R OT HE N, 2006)

A participaçã o do concludente de um curso avaliado era obrigatXria, sob pena de

nã o expediçã o do seu diploma. T odavia, eram suficientes o comparecimento ao exame e

assinatura da lista de presença para cumprimento da exigê ncia. E m decorrê ncia disso, o

prXprio INE P reconheceu a instabilidade dos resultados, inviabilizando o uso das informações

para orientaçã o das políticas educacionais ( V E R HINE ; D A NT A S, 2005, p. 8).

D entre os inúmeros problemas apontados ao E NC , destacam-se a falta de padrã o

de qualidade pré-definidos para elaboraçã o dos testes, prejudicando a análise dos escores;

ausê ncia de uma pontuaçã o mínima para indicar proficiê ncia no curso, impedindo uma análise

direta da qualidade do ensino; uso de critérios relativos, obstando a comparaçã o dos

resultados de diversas áreas ou na mesma área ao longo do tempo; e testes aplicados apenas

aos alunos concludentes, sem permitir a identificaçã o dos programas que efetivamente

contribuíam com o nível de conhecimento do aluno (V E R HINE ; D A NT A S, 2005, p. 7-8;

V IA NNA , 2003).

T odavia, talvez o grande problema desse primeiro sistema de avaliaçã o fosse a

falta de integraçã o entre os seus componentes, o que veio a ser modificado em 2003, através

da Medida ProvisXria nº 147, de 15 de dezembro de 2003, posteriormente convertida na L ei nº

10.861, de 14 de abril de 2004, que criou o S istema Nacional de A valiaçã o da E ducaçã o

S uperior (S INA E S ). C om o propXsito de acabar, ou pelo menos minimizar, tais problemas,

estabeleceu um sistema em trê s avaliações: institucional, de curso e de estudantes

(V E R H INE ; D A NT A S , 2005, p. 13).

Hoje, a avaliaçã o institucional é feita através de uma autoavaliaçã o (pela

C omissã o de A valiaçã o PrXpria de cada instituiçã o) e uma avaliaçã o externa realizada sob a

supervisã o da C ONA E S . A s informações coletadas na autoavaliaçã o sã o enviadas para o

INE P, que realiza visitas posteriores à instituiçã o para complementaçã o e consolidaçã o dos

dados e encerramento dessa etapa ( V E R HINE ; D A NT A S , 2005, p. 14-15) .

Nessa fase, o foco de interesse é definido pelas dimensões avaliadas, conforme

(25)

considerar ainda as informações referentes ao desempenho dos alunos no E NA D E e os

conceitos dos cursos (os outros dois componentes do S INA E S ) :

a) missã o e plano de desenvolvimento institucional;

b) políticas relacionadas ao ensino, pesquisa, cursos de graduaçã o, pXs-graduaçã o

e extensã o;

c) responsabilidade social da instituiçã o;

d) comunicaçã o com a sociedade;

e) políticas de pessoal;

f) administraçã o e organizaçã o institucional;

g) infraestrutura física;

h) planejamento e avaliaçã o;

i) políticas de atendimento aos estudantes;

j) sustentabilidade financeira.

No componente de avaliaçã o de cursos, o processo é conduzido por especialistas

que compõem uma comissã o externa indicada pelo INE P. E ssa comissã o é incumbida de

identificar as condições de ensino oferecidas aos estudantes, em especial as relativas ao perfil

do corpo docente, à s instalações físicas e à organizaçã o didático-pedagXgica (B R A S IL , 2004).

A avaliaçã o do desempenho dos estudantes é feita através do E NA D E . Nele, os

alunos sã o avaliados em relaçã o aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes

curriculares do respectivo curso de graduaçã o, suas habilidades para ajustamento à s

exigê ncias decorrentes da evoluçã o do conhecimento e suas competê ncias para compreender

temas exteriores ao âmbito específico de sua profissã o, ligados à realidade brasileira e

mundial e a outras áreas do conhecimento ( B R A S IL , 2004).

O resultado atingido pelos estudantes de cada instituiçã o é expresso em conceitos

ordenados em uma escala com 5 (cinco) níveis, tomando por base padrões mínimos

estabelecidos por especialistas das diferentes áreas do conhecimento ( B R A S IL , 2004).

Nos termos da Portaria Normativa nº 40, de 12 de dezembro de 2007, do ME C

(B R A S IL , 2010), o E NA D E é aplicado tanto aos ingressantes quanto aos concluintes de cada

curso a ser avaliado, constituindo componente curricular obrigatXrio a ser registrado no

histXrico. Importante registrar que o E NA D E nã o é mais aplicado a todos os concludentes,

mas apenas a uma amostra, mas mesmo aqueles alunos nã o selecionados deverã o ter

registrada a dispensa em seu histXrico, pois o nã o atendimento ao exame ou a comprovaçã o da

(26)

2.2.1 C aracterizaçã o das provas do E NA D E dos cursos de direito

A té entã o, o E NA D E foi aplicado aos estudantes de direito nos anos de 2006,

2009, 2012 e 2015, conforme periodicidade máxima legalmente estabelecida ( B R A S IL ,

2004). D esde a sua primeira ediçã o, a prova é formada por um componente de avaliaçã o da

formaçã o geral e outro específico da área, com prazo máximo para término de quatro horas

( INS T IT UT O NA C IONA L D E E S T UD OS E PE S QUIS A S E D UC A C IONA IS A NÍS IO

T E IX E IR A , 2006, 2009, 2012).

A ssim, ela é constituída de duas partes: prova de conhecimentos gerais e prova de

conhecimentos específicos da área do curso, voltada a aferir competê ncias, habilidades e

conteúdos agregados durante a formaçã o. C abe salientar que os ingressantes sX participam

prova geral, elaborada com base na matriz de referê ncia do E xame Nacional do E nsino Médio

(E NE M), dela sendo dispensados caso apresentem resultado válido do E NE M (B R A S IL ,

2010).

Para as duas primeiras edições, o componente geral era constituído de 10 (dez)

questões (duas discursivas e oito de múltipla escolha), que abordavam situações-problema,

estudos de caso, simulações e interpretaçã o de textos, imagens, gráficos e tabelas. J á no

componente específico, das 30 (trinta) questões, 4 (quatro) eram discursivas e 26 (vinte e seis)

de múltipla escolha, envolvendo situações-problema e estudos de caso ( INS T IT UT O

NA C IONA L D E E S T UD OS E PE S QUIS A S E D UC A C IONA IS A NÍS IO T E IX E IR A , 2006,

2009). Na última ediçã o do E NA D E de D ireito, no ano de 2012, houve uma alteraçã o na

configuraçã o do componente específico, que passou a ter 3 (trê s) questões discursivas e 27

(vinte e sete) de múltipla escolha, mantido o total de 30 (trinta) questões.

Os elementos que nortearam a composiçã o do componente específico da área do

direito, segundo o Instituto Nacional de E studos e Pesquisas E ducacionais A nísio T eixeira

(2006, 2009, 2012), foram:

a) as diretrizes curriculares dos cursos de graduaçã o em direito;

b) a verificaçã o do desenvolvimento competê ncias e habilidades necessárias ao

aprofundamento nos eixos da F ormaçã o fundamental, F ormaçã o profissional e

F ormaçã o prática;

c) a avaliaçã o do nível de atualizaçã o dos estudantes com relaçã o à realidade

(27)

A o passo que foram trabalhadas as seguintes competê ncias ( INS T IT UT O

NA C IONA L D E E S T UD OS E PE S QUIS A S E D UC A C IONA IS A NÍS IO T E IX E IR A , 2006,

2009, 2012):

a) leitura, compreensã o e elaboraçã o de textos, atos e documentos jurídicos ou

normativos, com a devida utilizaçã o das normas técnico-jurídicas;

b) interpretaçã o e aplicaçã o do D ireito;

c) pesquisa e utilizaçã o da legislaçã o, da jurisprudê ncia, da doutrina e de outras

fontes do D ireito;

d) adequada atuaçã o técnico-jurídica, em diferentes instâncias, administrativas ou

judiciais, com a devida utilizaçã o de processos, atos e procedimentos;

e) correta utilizaçã o da terminologia jurídica ou da C iê ncia do D ireito;

f) utilizaçã o de raciocínio jurídico, de argumentaçã o, de persuasã o e de reflexã o

crítica;

g) julgamento e tomada de decisões;

h) domínio de tecnologias e métodos para permanente compreensã o e aplicaçã o

do D ireito;

i) compreensã o adequada e interdisciplinar dos fenômenos políticos, sociais,

econômicos, subjetivos e psicolXgicos, dentre outros, considerando-os na

criaçã o, interpretaçã o e aplicaçã o do D ireito;

j) capacidade de reflexã o crítica e sensível, bem como capacidade de abstraçã o

metafXrica;

k) compreensã o e interrelacionamento dos fundamentos filosXficos, axiolXgicos e

teXricos do D ireito com sua aplicaçã o prática.

T ais itens foram retirados, conforme previsã o legal, das D iretrizes C urriculares

Nacionais do C urso de Graduaçã o em D ireito, nos termos da R esoluçã o C NE CC E S nº 9, de 29

de setembro de 2004.

C abe ainda destacar que possivelmente nos prXximos haverá uma modificaçã o na

sistemática do E NA D E , nos termos da estratégia 13.6 do anexo da L ei nº 13.005, de 25 de

junho de 2014 (Plano Nacional de E ducaçã o – PNE ), pois é prevista a substituiçã o do

E NA DE aplicado aos alunos do primeiro ano de curso pelo resultado por eles obtidos no

E NE M, com vistas à “elevar a qualidade da educaçã o superior”, prevista na meta 13

(28)

T al mudança, entretanto, já se fez sentir desde antes, pois no ano de 2012, o

E NA DE foi aplicado apenas aos concluintes, ou seja, os que estavam no último ano dos

cursos de graduaçã o ( INST IT UT O NA C IONA L D E E S T UD OS E PE S QUIS A S

(29)

3 A PO R T E S T E ÓR I C OS PA R A A C O NS T R UÇ Ã O D E I NST R UM E NT OS D E

A V A L I A Ç Ã O

O capítulo em epígrafe faz uma prospecçã o do aporte teXrico necessário para a

análise dos dados colhidos na presente pesquisa. A lém de abordar os aspectos técnicos da

elaboraçã o e análise de itens pertinentes ao trabalho, também faz uma exposiçã o da

taxonomia dos objetivos educacionais elaborada por B loom e seus companheiros, com

considerações sobre as intervenções e modificações pretendidas por autores posteriores. No

primeiro tXpico do capítulo, será explorada de uma forma geral a tecnologia dos testes,

deixando a taxonomia para a segunda e última do capítulo.

3.1 C onstr uçã o e análise de instr umentos de avaliaçã o de r endimento

A construçã o de itens de avaliaçã o na área cognitiva nã o é tarefa fácil, mas

também nã o é impossível, uma vez que todos os objetivos educacionais importantes podem

ser mensurados (V IA NNA , 1976, p. 18). Para tanto, os testes objetivos eCou dissertativos

podem ser utilizados indistintamente como mecanismo de mensuraçã o, mas se recomenda a

utilizaçã o de testes objetivos quando o contexto da avaliaçã o envolver um grupo grande de

examinados e haja a necessidade de uma rápida divulgaçã o de notas fidedignas e imparciais

(V IA NNA , 1976, p. 25-26).

É importante definir tanto como medir quanto o que será medido, de forma a nã o

buscar que o aluno manifeste apenas a aquisiçã o de elementos informativos. D e fato,

isoladamente tais elementos informativos sã o insuficientes, pois sX justificam o esforço

desprendido no processo educacional quando estã o acompanhados de outras capacidades

intelectuais, para que sejam desenvolvidos comportamentos desejados ( V IA NNA , 1976, p.

29-30).

B auzer (1970, p.5 6) reforça que, além de ser necessário definir claramente os

objetivos de aprendizagem que serã o avaliados, a construçã o dos itens ou questões deve

buscar medir os “aspectos da aprendizagem nos quais o professor espere encontrar alterações

específicas da conduta”. Para tanto, deve selecionar um grupo de tXpicos suficientemente

representativos do campo de estudo a ser avaliado (BA UZ E R , 1970, p. 56 e 57).

Quanto aos itens, é preciso definir a sua quantidade, os tipos (de resposta única,

(30)

(relativa) e o tempo necessário para resolvê -los. Nos testes com propXsito de embasar

decisões importantes (especialmente seleções), recomenda-se o uso de grande número de itens

(pelo menos 50), mas essa quantidade também sofre influê ncia do tipo de

comportamentoCobjetivo exigido do aluno, de forma que quanto mais complexo for o

comportamento exigido, menor o número de itens necessários (V IA NNA , 1976, p. 41-46).

O ponto de partida para elaboraçã o, portanto, devem ser ideias relevantes e

capazes de discriminar os alunos, de forma que os mais preparados respondam corretamente e

os demais errem. Por isso o alerta para se evitar o uso de assuntos ignorados ou conhecido por

todos (V IA NNA , 1976, p. 71-72).

Igualmente relevantes devem ser os objetivos avaliados, devendo a preferê ncia

recair sobre os mais complexos, em detrimento de itens centrados apenas em elementos

específicos ou informações isoladas (V IA NNA , 1976, p. 72-76). E a mensuraçã o da

consecuçã o desses objetivos deve ser precisa:

Um teste de aproveitamento é uma verificaçã o da medida em que os alunos alcançam objetivos educacionais. É adequado e válido quando proporciona dados quanto ao nível alcançado pelos alunos ao atingirem cada um dos principais objetivos de uma unidade de ensino. (B L OOM et al., 1976, p. 25) .

J á em relaçã o à s alternativas de um item objetivo, é necessário que todas sejam

igualmente plausíveis e atrativas. Os erros e a fraseologia típicos dos examinandos sã o de

grande ajuda, muito embora seja imperativa a utilizaçã o de uma linguagem precisa em todas

as alternativas, as quais devem ter a mesma extensã o e complexidade verbal, organizadas de

forma homogê nea (V IA NNA , 1976, p. 76).

Para a mensuraçã o de objetivos mais complexos, o uso de respostas abertas é mais

aconselhável. C ontudo, ao avaliar com itens dissertativos, o cuidado deve ser incidir sobre o

equilíbrio entre grau de generalidadeCespecificidade do comando: deve ser específico ao ponto

de o aluno compreender seu objetivo e saber como proceder, mas deve permitir que o mesmo

formule sua resposta de acordo com sua capacidade de organizaçã o e auto expressã o

(V IA NNA , 1976, p. 82-84).

E m outra mã o, Medeiros (1989, p. 58 a 59), defende que o uso de questões de

múltipla escolha pode ser feito de forma a exigir exame crítico do examinando, nã o

precisando apoiar-se na memorizaçã o. A depender da sua construçã o, podem permitir o

exame de resultados complexos, tais como compreensã o da leitura, raciocínio dedutivo,

(31)

A grande maioria dos especialistas prefere a escolha múltipla, uma vez que se presta à medida dos mais diversos tipos de comportamento – da simples memorizaçã o à avaliaçã o do melhor procedimento entre vários apresentados. Numerosas pesquisas tê m mostrado as suas vantagens para a medida da escolaridade ( desde que, é Xbvio, as questões sejam bem construídas e sondem reações importantes). ( ME D E IR OS, 1989, p. 58)

Havendo necessidade de maior objetividade nas respostas, de modo a facilitar e

padronizar a correçã o, poder-se-á limitá-la em funçã o do nível de formaçã o intelectual do

examinando, da identificaçã o clara da linha de abordagem desejada e evitar o uso de

expressões vagas (V IA NNA , 1976, p. 83-84).

No aspecto organizacional dos itens, diversos critérios podem ser adotados para

sequenciar os itens: ordem crescente de dificuldade e complexidade, áreas de conteúdo

uniforme, tipo de comportamento exigido, apresentaçã o formal dos itens etc., todos a

depender dos objetivos do examinador. Mas qualquer que seja o critério, ele nã o pode ser um

fator de perturbaçã o para o examinando (V IA NNA , 1976, p. 92).

É desejável uma pré-testagem dos itens, principalmente para eliminar aqueles

tecnicamente defeituosos e determinar os respectivos graus de dificuldade e de discriminaçã o

dos itens antes mesmo da aplicaçã o. E ntretanto, sabe-se que, em determinadas situações, a

pré-testagem nã o é possível, sendo necessária a posterior anulaçã o de questões mal

formuladas e a determinaçã o dos graus de dificuldade e discriminaçã o em estudos pXs-teste

(V IA NNA , 1976, p. 93).

C om efeito, além de fornecer informações acerca do desempenho dos

examinandos, é essa análise do pXs-teste que fornece os dados quantitativos efetivos sobre os

itens que melhor conseguiram discriminar os alunos e quais itens apresentaram deficiê ncias

técnicas ( V IA NNA , 1976, p. 188).

E m linhas gerais, B auzer (1970, p. 57 a 60) recomenda que sejam evitadas

questões: cuja resposta apareça implícita na pergunta; cuja resposta nã o revele

necessariamente conhecimento obtido através do ensino da matéria, e sim do bom senso ou

senso comum; com perguntas ambíguas; com erros gramaticais ou de pontuaçã o; que possam

admitir mais de uma resposta; formuladas como charada; que indiquem as respostas de outras

questões; com dados desnecessários ou que possam induzir comportamento diverso do

pretendido; cujas opções erradas nã o sejam plausíveis ou tenham extensã o diferenciada.

O uso de questões do tipo certo-errado é desaconselhado, pois a probabilidade de

acerto ao acaso é muito alta (0,5), além de ser difícil a formulaçã o de um item inteiramente

(32)

sã o criticadas por exigirem muito da memorizaçã o, prejudicando a análise da mudança da

conduta do avaliado (B A UZ E R , 1970, p. 59).

Monteiro (1970, p. 74) ressalta a preferê ncia das questões de múltipla escolha

dentre as técnicas de construçã o de itens objetivos, constituindo o tipo básico para a maior

parte dos testes padronizados. D evem possuir apenas um item correto, cuja extensã o nã o deve

ser diferente das demais, bem como nã o se deve introduzir na resposta certas palavras ou

termos já utilizados no enunciado, tornando-a mais atrativa que as respostas erradas. T ambém

nã o se devem formular itens na forma negativa, além de evitar ambiguidades (que poderiam

induzir a mais de uma resposta). O número mínimo de itens deve ser quatro, muito embora o

preferível sejam cinco itens.

D e fato, muito árdua é a tarefa do construtor de itens de avaliaçã o, pois lhe exige

domínio da área a se examinar, compreensã o dos objetivos educacionais, compreensã o das

características educacionais e psicolXgicas do examinado, capacidade de comunicaçã o verbal

e domínio da tecnologia do itemCtestes (E B E L , 1951 apud V IA NNA , 1976, p. 50). D essas

habilidades, uma se reveste de especial interesse para a presente pesquisa: compreensã o dos

objetivos educacionais.

3.2 A taxonomia dos obj etivos educacionais de B loom

Os objetivos educacionais possuem importância fundamental para a elaboraçã o e

análise de instrumentos e itens de avaliaçã o. A relevância do tema para área de estudo é

ressaltada na liçã o de Monteiro (1970, p. 65), que destaca a importância de se identificar quais

objetivos educacionais devem ser avaliados. T odavia, o autor alerta para o frequente uso de

mensurações mais voltadas a objetivos imediatos do que a objetivos finais, em outras

palavras, testa-se mais a memorizaçã o do material ensinado do que a capacidade para aplicar

tais conhecimentos.

O esquema de classificaçã o dos objetivos educacionais mais difundido foi

desenvolvido por B loom, sendo posteriormente objeto de críticas e sugestões de modificações

(ME D E IR OS , 1989, p. 22 a 25). No final da década de 40, séc. X X , B enjamin S . B loom

coordenou uma equipe de pesquisadores no intuito de formular um quadro de referê ncia dos

objetivos educacionais. F oi o ponto de partida para muitas pesquisas educacionais, já que os

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