Tribunal de Contas da União Dados Materiais:
Decisão 634/94 - Plenário - Ata 48/94 Processo nº TC 021.414/92-0
Interessado: Sr. Francelisio Van Der Broocke
Entidade: Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A - ELETRONORTE Relator: MINISTRO HOMERO SANTOS
Representante do Ministério Público: Dr. Jatir Batista da Cunha Unidade Técnica: 9ª Secretaria de Controle Externo
Especificação do "quorum":
Ministros presentes: Élvia Lordello Castello Branco (Presidente), Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça, Homero dos Santos (Relator), Paulo Affonso Martins de Oliveira, Iram de Almeida Saraiva; e os Ministros Substitutos Bento José Bugarin, José Antonio Barreto de Macedo e Lincoln Magalhães da Rocha.
Assunto: Denúncia Ementa:
Denúncia contra a ELETRONORTE. Pagamento de honorários a Conselheiros Fiscais e de auxílio moradia a servidor. Locação de imóveis para residência de Dirigentes. Análise das justificativas apresentadas. Comunicação à empresa.
Data DOU: 07/11/1994 Página DOU: 16699 Data da Sessão: 11/10/1994
Relatório do Ministro Relator: GRUPO I - CLASSE VII - Plenário TC 021.414/92-0
Natureza: Denúncia
Ementa: Denúncia. Decisão autorizando diligência "in loco". Percepção de honorários por parte dos membros dos órgãos colegiados. Locação de imóveis de terceiros a fim de destiná-los à residência de membros da Diretoria. Alienação de imóveis. Determinação à ELETRONORTE. Juntada às contas.
Tratam os autos de Denúncia formulada pelo Sr. Francelisio Van Der Broocke, Conselheiro Fiscal da ELETRONORTE, por intermédio do encaminhamento de cópia de expediente endereçado à direção da Empresa, "com vistas ao cumprimento do que preceitua o artigo 1º da Lei nº 7.733, de 14.02.89".
Este Colegiado, em Sessão de 09.12.93 (Decisão nº 190/93 - Ata 40/93), acolhendo proposição de minha relatoria, decidiu:
"8.1. comunicar à ELETRONORTE que, a propósito da interpretação da Lei nº 7.733/89, prevalece a inteligência que este Tribunal vem dando ao assunto, razão por que é de ser mantida a Deliberação do C.A. nº 723-92, em face da vedação legal de remuneração a servidores públicos pelo exercício das funções de membros dos órgãos colegiados das empresas estatais;
8.2. transmitir, à empresa, a orientação de que,
excepcionalmente, foram admitidas as locações de imóveis de terceiros contratadas até a edição do Decreto nº 97.858, de 26.06.1989, nos limites permitidos pelo Decreto-lei nº 2.355/87 (art. 6º), ressalvado o teor do preceituado no art. 8º, e seu
parágrafo único, do citado Decreto nº 97.858/89, que vedou as novas locações de imóveis residenciais, no Distrito Federal, para ocupação por servidores, mesmo os deslocados para a Capital da República com o objetivo de exercerem cargo de Diretores de entidades integrantes da Administração Indireta;
8.3. determinar a juntada deste processo às contas da
entidade, exercício de 1992, para o exame em conjunto em confronto; 8.4. autorizar a realização de diligências "in loco",
consoante sugere a D. Procuradoria, no sentido de apurar os procedimentos relacionados à presente denúncia em conjunto com aqueles referentes ao processo de alienação de imóveis residenciais da Empresa, objeto do TC 025.679/92-9, visando à economia processual e tendo em vista o natural entrelaçamento dos temas em pauta;
8.6. dar ciência da decisão nestes autos prolatada ao signatário do expediente de fls. 01".
Atendendo à determinação contida no item 8.4. supracitado, a 9ª SECEX efetuou diligência "in loco" na ELETRONORTE, em conformidade com a Portaria nº 189, de 19.08.93 da Presidência deste Tribunal, com vistas a apurar os procedimentos relativos à percepção de honorários por parte dos membros dos órgãos colegiados; à locação de imóveis de terceiros a fim de destiná-los à residência de seus Diretores e à alienação de imóveis.
As considerações trazidas aos autos pelo diligente informante estão a seguir sintetizadas:
a) quanto ao pagamento de honorários aos membros dos órgãos colegiados da ELETRONORTE, alcançados pelo disposto na Lei nº 7.733/89:
a.1) a partir da Decisão nº 160/91 desta Corte, reiterada por expedientes da então 9ª IGCE, o Conselho de Administração deliberou, por meio da DEL nº 723, de 13.07.92, suspender a partir do mês de agosto de 1992, o pagamento de honorários;
a.2) com o advento do Parecer nº JCF-18, de 27.01.93, da Consultoria Geral da República, entendendo que a Lei nº 7.733/89 não alcançava os empregados de sociedades de economia mista, o Conselho de Administração, mediante a deliberação DEL nº 760, de 19.03.93, revogou a DEL nº 723/92, determinando o restabelecimento, a partir de março de 1993, do pagamento dos aludidos honorários e, ainda, o pagamento do atrasado relativo ao período de agosto/92 a fevereiro de 1993;
a.3) a partir da orientação proveniente da SEPLAN/PR, contida no Fax-Circular nº 026, de 13.05.93, recomendando a suspensão dos pagamentos de honorários face às controvérsias existentes, "a
ELETRONORTE vem atuando, até a presente data, de acordo com a inteligência que este Tribunal vem dando ao assunto";
a.4) os Conselheiros Fiscais José Flávio Junqueira Enout e
Jorge Magalhães Gondim, apesar de serem oriundos do Bando do Brasil S/A e ELETROBRÁS, não possuem mais vínculo jurídico com tais entidades, por estarem na condição de aposentados, fazendo jus à remuneração pelo exercício de conselheiro.
b) quanto à locação de imóveis de terceiros a fim de destiná-los à residência de seus Diretores:
97.858/89, consoante disposições contidas no item 8.2. da citada Decisão nº 190/93;
b.2) "constatou-se que a Diretoria, através da RD nº 291/91
autorizou a assinatura do contrato firmado entre a ELETRONORTE e o Garvey Park Hotel, objetivando a locação, por 12 (doze) meses, a contar de 22.07.91, do apartamento nº 1124 a ser utilizado pelo Diretor-Presidente da Empresa".
b.3) o aludido Decreto nº 97.858/89 foi revogado pelo Decreto nº 99.191, de 20.03.90, que por sua vez foi revogado pelo Decreto nº 817, de 03.05.93.
b.4) após a remissão às diversas normas legais que disciplina a cessão de imóveis a dirigentes de sociedades de economia mista, "pode-se depreender que estão vedadas a concessão de auxílio-moradia e a locação de imóveis destinados à residência de dirigente de entidades paraestatais desde 26.06.89; inicialmente por disposição expressa do Decreto nº 97.858/89 e subseqüentemente, com as edições dos Decretos nºs 99.191/90 e nº 817/93, visto que não foram fixadas nesses Decretos as localidades, os limites e as condições necessárias para a aplicação desses benefícios, exigência contida no Decreto-lei nº 2.355/87".
b.5) a autorização para locação do apartamento para o
Diretor-Presidente da ELETRONORTE ocorreu após 26.06.89 e, portanto, "o ato foi realizado sem amparo legal, devendo ser restituídas, aos cofres da Empresa, as quantias despendidas com tal contrato".
b.6) tal fato está sendo tratado no Processo de Prestação de Contas, do exercício de 1991 da Entidade.
b.7) o contrato com o Garvey Park Hotel foi resolvido em 28.05.93, com o desligamento do ocupante do cargo de Diretor-Presidente, sendo que com relação aos outros dois contratos de locação de imóvel, em um já foi assinado o termo de resilição e quitação e em outro, o ocupante comprometeu-se a desocupá-lo a partir de 31.03.94.
c) quanto à alienação de imóveis residenciais:
c.2) foram detectadas as seguintes irregularidades:
- os preços de venda dos imóveis não sofreram correção monetária, no período entre a data da publicação do laudo de avaliação e da aquisição, conforme preceituava o Parágrafo Único do art. 3º do Decreto nº 99.209/90;
- o sinal foi de 10% do valor do imóvel, inferior ao
percentual de 30% previsto no art. 7º, î 1º, alínea "a" do Decreto nº 99.209/90;
- foi utilizada a Taxa Referencial-TR como índice de reajuste
incidente sobre as parcelas mensais, no caso de pagamento a prazo, em substituição ao BTNF, conforme dispunha o art. 7º, î 3º, alínea "a" do Decreto nº 99.209/90.
c.3) não se pode concluir, no caso desses imóveis vendidos aos interessados em geral, que tais irregularidades causaram prejuízo à Empresa, "pois a venda foi pública e as propostas vencedoras situaram-se no valor mínimo ou com pequena variação, o que sinaliza a adequação do valor mínimo fixado";
c.4) a respeito dos imóveis alienados aos inquilinos, tem-se que, no caso daquele locado à Construtora Andrade Gutierrez, obteve-se um valor igual ao de outro imóvel vendido de maior área construída, aduzindo que a avaliação foi coerente com as demais realizadas;
c.5) no tocante aos imóveis vendidos aos inquilinos empregados da ELETRONORTE, esses entraram com pedido junto à Secretaria de Administração Federal-SAF, visando a obtenção ao financiamento nos termos oferecidos para a compra de imóveis funcionais, celebrando, para isso, distrato em relação à escritura de compra e venda, e deixando de recolher as parcelas restantes, no intuito de utilizarem o montante já pago como sinal para o pretendido financiamento;
c.6) o financiamento foi negado pela SAF e como o distrato desfez o negócio, "tornou-se necessário um encontro de créditos e débitos entre as partes e o estabelecimento de condições para a permanência dos referidos ocupantes nos imóveis;
c.7) o Sr. João Roberto Rodrigues Pinto aceitou as condições oferecidas pela ELETRONORTE, tendo o contrato de locação sido encerrado mediante Termo de Distrato assinado em 29.06.93;
e, ainda, uma Ação de Reintegração de Posse do referido imóvel, o que deve ser acompanhado para posterior apreciação por parte desta Corte.
Apresenta, conclusivamente, com a anuência dos Ilustres Titulares da 9ª SECEX, as proposições seguintes:
"a) comunicar à ELETRONORTE que estão vedadas a concessão de auxílio-moradia e a locação de imóveis destinados à residência de dirigente de entidades paraestatais desde 26.06.89; inicialmente por disposição expressa do Decreto nº 97.858/89 e subseqüentemente, com as edições dos Decretos nº 99.191/90 e nº 817/93, visto que não foram fixadas nesses Decretos as localidades, os limites e as condições necessárias para a aplicação desses benefícios, exigência contida no Decreto-lei nº 2.355/87;
b) como medida de economia processual, visto que o assunto está sendo tratado no âmbito do processo de Prestação de Contas da Entidade, exercício de 1991, juntar cópia deste Relatório ao
referido Processo, para que sejam adotadas as providências cabíveis no tocante à autorização para locação de apartamento para o Diretor-Presidente sem amparo legal; e
c) determinar à ELETRONORTE que seja informado a esta Corte o desfecho da lide entre a Empresa e o Sr. Djalma Cruvinel Borges. O Ministério Público, representado nos autos, pelo Dr. Jatir
Batista da Cunha, manifesta-se de acordo com a posição exarada pela 9ª SECEX. É o Relatório.
Voto do Ministro Relator:
De conformidade com informações contidas na instrução da 9ª SECEX, verificou-se o pagamento de honorários aos membros de Órgãos Colegiados da ELETRONORTE, alcançados pelos dispositivos da Lei nº 7.733/89, nos exercícios de 1992 e 1993.
A respeito desse assunto, o entendimento firmado por esta Corte de Contas tem sido no sentido da obrigatoriedade de devolução dos valores recebidos por servidor federal, acumuladamente, pelo exercício concomitante de Conselheiro.
No tocante às demais questões motivadoras da diligência "in loco", reputo pertinentes as proposições apresentadas por aquela Secretaria.
Diante do exposto e relatado, VOTO no sentido de que este Plenário adote a Decisão que ora submeto à sua elevada consideração. Decisão:
O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 1. determinar à ELETRONORTE que seja informado a esta Corte o desfecho da lide entre a Empresa e o Sr. Djalma Cruvinel Borges;
8.2. comunicar à ELETRONORTE que estão vedadas a concessão de auxílio-moradia e a locação de imóveis destinados à residência de dirigente de entidades paraestatais desde 26.06.89; inicialmente por disposição expressa do Decreto nº 97.858/89 e subseqüentemente, com as edições dos Decretos nºs 99.191/90 e nº 817/93, visto que não foram fixadas nesses Decretos as localidades, os limites e as condições necessárias para a aplicação desses benefícios, exigência contida no Decreto-lei nº 2.355/87;
8.3. juntar cópias deste Relatório aos Processos de Prestação de Contas da Entidade, exercícios de 1991 e 1993, para que sejam adotadas as providências cabíveis no tocante à autorização para locação de apartamento para o Diretor-Presidente sem amparo legal e o pagamento de honorários aos membros dos órgãos colegiados, respectivamente.
Indexação:
