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TRADUÇÃO: CIÊNCIA OU ATIVIDADE SECUNDÁRIA?

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Adriana Regina Gonçalves

PROFT em Revista Anais do Simpósio Profissão Tradutor 2013

PROFT em Revista

ISBN 978-85-65097-00-0 Anais do Simpósio Profissão Tradutor 2013 Vol. 1, Nº 3 março de 2014

Adriana Regina Gonçalves

Aluna do Curso de Pós-graduação Lato Senso em Tradução – Inglês – Português.

Universidade Nove de Julho.

TRADUÇÃO: CIÊNCIA OU ATIVIDADE SECUNDÁRIA?

RESUMO

O presente artigo visa apresentar alguns conceitos e definições sobre o que é uma tradução e a atividade tradutória, passando pelo material de estudo da Ciência da Tradução no intuito de reafirmar a ideia de que a tradução não é uma atividade secundária.

Palavras-Chave: Tradução. Ciência da Tradução. Atividade Secundária.

Adriana Regina Gonçalves Contato:

drika_regina@hotmail.com

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Adriana Regina Gonçalves

INTRODUÇÃO

De acordo com o Oxford Advanced Learner’s Dictionary (2010, p. 1367), ciência significa1: “(...) a system for organizing the knowledge about a particular subject”2, ou seja, trata-se de um sistema que organiza o conhecimento a respeito de alguma área específica. De acordo com essa mesma publicação (ibidem, p. 1380), secundário significa: “less important than something else”3.

A partir disso, apresentam-se visões de diferentes teóricos da área da tradução sobre o que é a tradução e sobre a existência de uma Ciência da Tradução, não sendo o estudo a seu res- peito simplesmente um ramo da linguística, mas sim um estudo a parte. Tal especificidade de es- tudo se dá graças a sua característica interdisciplinar na qual, além de estruturas gramaticais, o conhecimento em todos os seus aspectos, assim como conhecer a cultura tanto da língua de parti- da como da língua de chegada e o processo de geração de significado não são apenas relevantes, mas sim essenciais. O texto também busca esclarecer que o fato de a Ciência da Tradução não ser normativa e nem ditar regras para a produção de um texto, não inclui a atividade numa categoria secundária, ou menos importante, dada a grande complexidade que a envolve.

A Atividade Tradutória

A palavra traduzir origina-se do verbo latino traducere, o mesmo que conduzir ou fazer passar de um lado para o outro.

Segundo John Cunnison Catford a “tradução é a substituição de material textual de uma língua por material textual equivalente em outra” (CATFORD, 1965 apud CAMPOS, 1986, p. 10).

Seguindo essa visão tradicionalista, baseada na transferência ou na substituição, temos Eugene Nida, que compara a tradução ao transporte de carga, ou seja, o transporte de palavras de uma língua para outra, vendo o texto como algo totalmente estável, que a partir de uma tarefa mecâni- ca do tradutor, e sem sua interferência, pode ser totalmente “transportado” para outro idioma.

De acordo com a visão tradicionalista, uma boa tradução deve seguir três princípios básicos que são sugeridos por Alexander Fraser Tytler, mencionados por Arrojo (1986, p.13):

1) A tradução deve reproduzir em sua totalidade a ideia do texto original;

2) O estilo da tradução deve ser o mesmo do original; e

3) A tradução deve ter toda a fluência e a naturalidade do texto original.

1 Todas as Traduções desse artigo são traduções livres.

2 (...) um sistema para organizar o conhecimento sobre um determinado assunto.

3 menos importante que alguma outra coisa.

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As limitações dessa visão tradicionalista são analisadas por Resemary Arrojo (1986) utilizando-se de um conto de Jorge Luis Borges chamado “Pierre Menard, autor Del Quijote”, conto que, segundo Arrojo apresenta um dos comentários mais brilhantes e completos que já se escreveu sobre os mecanismos da linguagem e suas implicações para uma teoria da tradução. O conto trata-se de uma resenha póstuma das obras de Pierre Menard, personagem fictício com uma visão tradicionalista da atividade tradutória, em que o narrador conta a tentativa de Menard de repetir na íntegra o texto escrito por Cervantes. Não uma simples reprodução, mas sim uma repetição do texto de partida sem a anulação do contexto e circunstância em que fora produzido.

No entanto, tudo que Menard consegue é reproduzir as palavras do Quixote, uma vez que tais palavras não possuem um sentido petrificado e estável que pode ser totalmente transportado de uma língua para a outra independentemente de um contexto ou uma interpretação, sendo o sentido de cada palavra determinado provisoriamente por meio de uma leitura que está totalmente relacionada ao contexto e à realidade do leitor e do tradutor.

Dessa forma, comprova-se que a tradução e a leitura são atividades produtoras de significado. Ainda nas palavras de Arrojo “[...] quando um leitor “produz” um texto, sua interpretação não pode ser exclusivamente sua, da mesma forma que o escritor não pode ser o autor soberano do texto que escreve” (ARROJO, 2007 apud VICTOR, 2011, p.66). Nesse sentido, o texto “original” dependerá sempre da interpretação do leitor/ autor.

Segundo Victor (2011, p.60):

A tradução é um movimento entre línguas, mas também entre culturas (...).

As diferenças existem de uma língua para a outra, pois, trata-se de outra cultura, outra visão de mundo. Dessa forma, no confronto entre visões diferentes e culturas diferentes também pretendemos trabalhar o diálogo entre culturas, os encontros e desencontros das línguas.

A partir da opinião de Victor, percebe-se que traduzir não se trata apenas de conhecer o idioma da língua de partida e da língua de chegada, mas envolve também o conhecimento das culturas envolvidas e a interpretação do texto a ser traduzido. Assim sendo, ressalta-se o importante papel do tradutor e a impossibilidade de o mesmo não interferir no processo de tradução, uma vez que o contexto em que o leitor/ tradutor está inserido e sua visão de mundo farão parte de sua leitura/ interpretação e consequentemente de sua tradução. Essa inevitável interferência do tradutor trás a tona dois conceitos muito presentes nas discussões a respeito da tradução: “fidelidade” e “invisibilidade”. Arrojo (ARROJO, 2000 apud BOHUNOVSKY, 2001, p.

54) também fala sobre a ideia de fidelidade e reforça a ideia da impossibilidade da não interferência do tradutor:

(...) Em outras palavras, nossa tradução de qualquer texto, poético ou não, será fiel não ao texto “original”, mas àquilo que considerarmos ser o texto original, àquilo que considerarmos constituí-lo, ou seja, à nossa interpretação do texto de partida, que será [...] sempre produto daquilo que somos, sentimos e pensamos.

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Pela citação acima é possível notar que o tradutor, assim como seu contexto, tanto cultural quanto político e ideológico não podem ser deixados de lado, e a “fidelidade” não está mais ligada à ideia de “reprodução” da visão tradicionalista, mas está relacionando-se a inevitável interferência e interpretação do tradutor, que se torna então “visível”.

A “(in)visibilidade”, tema amplamente estudado por Lawrence Venuti, é um ponto de grande divergência entre profissionais da área, uma vez que, para muitos tradutores, conseguir tornar-se “invisível” é exatamente seu objetivo, já que para alguns, isso demonstra a excelência de seu trabalho em ser “fiel” ao “original”, para outros, essa “invisibilidade” trás certa insatisfação, o que pode ser notado nas palavras de Lia Wyler, conceituada tradutora:

[n] as críticas, [os tradutores são] lembrados apenas quando a tradução não é tida como satisfatória; se for o caso, [seu] trabalho é creditado ao autor do livro, como se ele mesmo tivesse escrito, em português, um texto literário ‘sem chavões, ou ‘num estilo seco’ (cf. “Traduzir, caminho árduo de quem ama a palavra”. O Jornal de São Paulo, 2011 apud BOHUNOVSKY, 2001, p. 57)

Pelas palavras de Lia Wyler, percebe-se que o ideal de muitos tradutores, de se manter invisível em busca da fidelidade, acaba indo de encontro ao intuito de ter sua profissão valorizada através de uma maior exposição de seu trabalho, não apenas quando houver alguma crítica negativa, mas também quando o texto de chegada apresentar um bom resultado de fluência e puder demonstrar toda a importância da participação ativa do tradutor em sua produção.

Ciência da Tradução e Status da Profissão

Muito já foi dito em relação à tradução. Segundo Campos (1986, p. 11):

Desde sempre, em todos os tempos e lugares, teóricos e praticantes têm dito o que pensam da tradução, do que ela é ou do que deveria ser. São opiniões que em muitos casos se contradizem, se desdizem, não só no acessório como no essencial; contradições que enfim não bastam para impedir que os tradutores continuem a fazer o seu trabalho, com a sua prática muitas vezes desmentindo a teoria.

Pelas palavras de Campos, é notório que as opiniões a respeito da atividade tradutória, passando por profissionais da área e também por teóricos, são bastante divergentes, mas independente disso, a prática da tradução, embasada ou não pela teoria, continua acontecendo.

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Adriana Regina Gonçalves

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Na visão de Ina Emmel (1997, p. 77-78) “(...) traduzir de uma língua para a outra é um processo bastante complicado, mas nunca desinteressante”. Como diz Klein (p. 105), “exatamente por isso um processo digno de pesquisas científicas”. Koller (KOLLER, 1992 apud EMMEL, 1997, p.78) não concorda que a tradução deva ser um ramo da linguística, mas por seu caráter interdisciplinar, defende a existência de uma Ciência da Tradução. Para Susan Bassnet-McGuire (BASSNET-McGUIRE, 1991 apud EMMEL, 1997, p.78) a Tradutologia, ou Ciência da Tradução, busca o esclarecimento da questão da equivalência e o papel do significado no processo de tradução, sendo uma disciplina séria. Segundo Susan Bassnet-McGuire (1991, p. 44), o propósito da teoria da tradução não é de buscar normas para que se alcance a tradução perfeita, ponto de comum equívoco, mas sim o seu processo. Nesse sentido, não existe uma ciência que pretende ser normativa ou prescritiva e sim, segundo Lefevere (LEFEVERE, 1978, apud BASSNET-McGUIRE, 1991, p. 12) a teoria pode servir de guia para a produção de traduções. De acordo com Susan Bassnet-McGuire (1991, p. 44), uma vez que essa visão é aceita resolve-se o problema sobre haver ou não uma ciência da tradução e também sobre a mesma ser ou não uma atividade secundária.

Em suas palavras (BASSNET- McGUIRE, 1991, p. 44):

The myth of translation as a secondary activity with all the associations of lower status implied in that assessment can be dispelled once the extent of the pragmatic element of translation is accepted, and once the relationship between author/ translator/ reader is outlined. 4

Nota-se, pelas palavras de Susan Bassnet-McGuire e Lefevere que o fato de a teoria da tradução não ser algo normativo e que procura criar regras de como se produzir uma tradução impecável não a posiciona como uma atividade secundária, não se enquadrando como uma ciência ou uma atividade de menor prestígio ou menos importante. Outros pontos essenciais a serem levados em consideração é seu lado pragmático e a relação constante existente entre autor/

tradutor e leitor durante o processo de tradução.

Reafirmando a ideia acima apresentada, Ina Emmel (1997, p. 77-78) diz que “(...) a não- pretensão à normatização e a impossibilidade de categorização da dimensão pragmática da tradução não lhe confere o status de atividade secundária”.

Para Mona Baker (1992), toda profissão que deseja ser vista como respeitável deve oferecer treinamento dentro do campo de atuação aos seus membros, que pode ser tanto acadêmico quanto vocacional. No entanto, o treinamento vocacional pode não ser visto como algo de nível profissional, diferentemente do treinamento acadêmico, que é baseado em componente teórico que “(...) encourages students to reflect on what they do, how they do it, and why they do it in one way rather than another.” 5 (ibidem, p.1-2). Na visão da autora, o fato de um profissional

4 O mito da tradução como atividade secundária com todas as associações de baixa posição implícitas nessa avaliação pode ser dissipada uma vez que a extensão do elemento pragmático da tradução é aceito, e uma vez que a relação entre autor/ tradutor/ leitor é delineada.

5 (...) incentiva estudantes a refletirem sobre o que eles fazem, como o fazem e por que o fazem de uma forma ao invés de outra.

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ter treinamento acadêmico não é garantia de sucesso, mas possuir essa visão teórica pode trazer benefícios como: diminuir os riscos envolvidos assim como auxiliar na resolução de situações inesperadas; criar um nível de confiança uma vez que suas decisões foram baseadas em conhecimento concreto e não em sua intuição; e também criar base para futuro desenvolvimento dentro da área de conhecimento, não localmente, mas mundialmente, visto que será um conhecimento compartilhado. A autora revela que, a atividade tradutória nunca teve o mesmo status de outras atividades profissionais, o que pode ser visto como injusto, no entanto, ela deposita a culpa por essa posição nos próprios profissionais da área (ibidem, p. 2):

The translation community itself is guilty of underestimating not so much the value as the complexity of the translation process and hence the need for formal professional training in the field. Translators are not yet sure ‘whether translation is a trade, an art, a profession or a business’ (ibid.:164). Talented translators who have had no systematic formal training in translation but who have nevertheless achieved a high level of competence through long and varied experience tend to think that the translation community as a whole can achieve their own high standards in the same way (…) I have met professional translators who actually argue strongly against formal academic training because, they suggest, translation is an art which requires aptitude, practice, and general knowledge – nothing more. The ability to translate is a gift, they say: you either have it or you do not, and theory (almost a dirty word in some translation circles) is therefore irrelevant to the work of a translator. 6

Nota-se pela citação de Mona Baker, acima apresentada, que a grande divergência em relação às opiniões existentes sobre a atividade tradutória, anteriormente comentada por Campos (1986), estende-se também para a parte da formação dos profissionais atuantes na área, sendo grande o desacordo, por parte dos próprios tradutores, sobre a necessidade de um treinamento formal, que vá muito além da experiência adquirida com a prática e que possa nortear o profissional da área em sua atuação. Esse desacordo e também a negação dessa necessidade por uma parte dos tradutores, acabam sendo os responsáveis, segundo a autora, pelo baixo status conferido à profissão e ao profissional, que é visto como um trabalhador qualificado ou semi- qualificado, mas não um profissional. Para que ocorra uma mudança nessa situação Mona Baker sugere que os tradutores passem a refletir a respeito do que fazem e de como o fazem e provem possuir controle de sua atividade, não por possuírem o dom da tradução, mas por serem capazes de compreender todos os aspectos de seu trabalho. Nas palavras de Mona Baker (1992, p. 4):

6 A própria comunidade da tradução é culpada por subestimar não só o valor como a complexidade do processo de tradução e, portanto, a necessidade de treinamento formal no campo. Os tradutores ainda não estão certos ‘se a tradução é um comércio, uma arte, uma profissão ou um negócio’(ibid.:164). Tradutores talentosos que não tiveram treinamento formal sistemático em tradução, mas que, no entanto, alcançaram um alto nível de competência através de experiência longa e variada tendem a pensar que a comunidade da tradução como um todo pode alcançar seus próprios padrões elevados da mesma forma. Eu encontrei tradutores profissionais que, na verdade, argumentam fortemente contra o treinamento formal acadêmico, porque, eles sugerem, a tradução é uma arte que requer aptidão, prática e conhecimento geral – nada mais. A habilidade para traduzir é um dom, eles dizem: ou você o tem ou não e teoria (quase uma palavra suja em alguns círculos de tradução) é portanto irrelevante para o trabalho do tradutor.

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(…) if translation is ever to become a profession in the full sense of the word, translators will need something other than the current mixture of intuition and practice to enable them to reflect on what they do and how they do it. They will need, above all, to acquire a sound knowledge of the raw material with which they work: to understand what language is and how it comes to function for its users. 7

Fica claro que, para a autora, uma formação teórica é essencial para que a tradução possa ser vista como uma profissão no sentido literal da palavra e também para que possa gozar do mesmo status conferido a outras profissões respeitadas, podendo o profissional da área refletir sobre seu objeto de trabalho apoiando-se não apenas na prática, mas também em estudos pré- existentes e compartilhados.

As questões da “fidelidade” e da “(in)visibilidade”, previamente abordadas, podem também ser levados em consideração no que diz respeito ao baixo status conferido à profissão e por sua posição de “segundo plano” no domínio literário e , mais uma vez, a culpa recai sobre os profissionais da área que parecem não notar que sua postura teórica, normalmente tradicionalista de busca da perfeição, os coloca nessa posição por uma falta de visão da necessidade de diálogo entre a teoria e a prática, como apresenta Arrojo (ARROJO, 1986 apud BOHUNOVSKY, 2001, p.

59):

enquanto os tradutores persistirem em não refletir sobre o trabalho delicado e complexo que realizam e enquanto não se decidirem a cuidar das condições e dos rumos de seu ofício, terão que aceitar o destino de marginalização que essas instituições lhes reservam. Somente a partir da conscientização desses profissionais acerca do poder autoral que exercem e da responsabilidade que esse poder implica, as relações perigosas que têm organizado tradutores e traduções poderão se tornar mais honestas.

Nota-se com isso que, para que o trabalho do tradutor passe a ser mais valorizado, é ne- cessário que ocorra também uma mudança de visão do próprio profissional em relação ao seu trabalho, aceitando que sua visibilidade não é algo negativo, desde que dentro do bom senso, e até necessária para maior reconhecimento da importância de seu trabalho na intermediação entre diferentes culturas.

A invisibilidade também pode ser vista como uma responsável pela visão da tradução como atividade secundária, conforme cita Vilela (2001, p. 56):

(...) para Venuti (1995), a invisibilidade se caracteriza pelo duplo movimento de atribuição de status secundário à tradução, o qual, em seguida, é apagado pela ilusão de presença autoral. De fato, existe a ilusão de presença autoral que apaga o tradutor durante a leitura, o que é necessário para uma tradução ser aceita como tal.

7 (...) se a tradução em algum momento se tornar uma profissão no sentido pleno da palavra, tradutores precisarão de algo além da atual mistura de intuição e pratica para que possam refletir sobre o que fazem e como o fazem. Precisarão, acima de tudo, adquirir um bom conhecimento da matéria-prima com que trabalham: para entender o que a linguagem é e como funciona para seus usuários.

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Essa atribuição de atividade secundária comentada por Vilela explica-se pelo fato de que, quanto mais fluente for uma tradução mais ela aproximará o leitor do texto fonte e, consequentemente, de seu autor, fazendo com que o trabalho do autor seja exaltado e do tradutor, como intermediador entre culturas, praticamente desapareça. Esse feito pode ser visto como um trabalho de sucesso executado pelo tradutor, mas ao mesmo tempo, também é responsável por sua invisibilidade.

De acordo com o autor, essa invisibilidade poderia ser alterada a partir de um maior em- penho dos tradutores em se tornarem também autores, uma vez que, “nem só de traduções se constrói a reputação e a carreira” Vilela (2001, p. 90). Na visão de Vilela, os tradutores que conse- guiram tornarem-se renomados são também escritores respeitados, como: Paes, Pound, Bandeira, irmãos Campos, entre outros. O reconhecimento de sua capacidade como autor pode funcionar como uma garantia de que os mesmos também sejam tradutores capacitados, principalmente no que se refere as traduções literárias.

Caso se queira uma estratégia consciente para a maior visibilidade do tradutor, é válido levar em consideração que este só tem a ganhar desenvolvendo também trabalhos próprios (...) indico que publicar trabalho próprio é uma forma de provar que realmente o tradutor se preparou para ser autor, tanto que consegue criar. Consagrar-se como autor é receber a aprovação dos seus escritos, mostrando sua competência para escrever. Quem faz isso consegue também traduzir, consegue produzir um texto de qualidade, desde que consiga

“manejar” a outra língua, pois tem internalizados alguns mecanismos de composição muito úteis para adequar da melhor forma que ele puder o texto estrangeiro para a língua de chegada. ” Vilela (2001, p. 91)

Pela citação acima, Vilela aponta para o fato de que uma vez que uma

pessoa tem a capacidade de ser um bom escritor, ela possui domínio gramatical e de vocabulário, além de competência redacional, essenciais a um bom tradutor.

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Adriana Regina Gonçalves

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do que foi apresentado, nota-se que existe uma diversidade de opiniões sobre o que é uma tradução e se a mesma pode ou não alcançar a perfeição, sendo fiel ao “original”, texto de partida, ou se ela pode apresentar “interferências” por parte do tradutor.

Com o aumento do número de teorias a respeito da atividade tradutória, que levantaram as limitações da visão tradicionalista, foi possível perceber que traduzir envolve conhecer os idiomas em questão e também as culturas envolvidas e a interpretação do texto a ser traduzido.

Com isso, fica clara a impossibilidade de o tradutor não interferir no processo de tradução, utilizando-se de sua visão de mundo, uma vez que a tradução não é uma tarefa mecânica e sua

“fidelidade” ao texto fonte não precisa estar necessariamente vinculada à sua “invisibilidade”

como tradutor. Invisibilidade que, levada por muitos como objetivo máximo de uma boa tradução, pode também gerar a insatisfação por um trabalho não reconhecido e desvalorizado, passando muitas vezes como algo despercebido.

Diante disso, ressalta-se a importância de um conhecimento não apenas prático, mas também teórico por parte dos tradutores. Não uma formação que dite regras sobre como uma tradução deve ou não ser feita, mas sim uma formação teórica formal que leve os mesmos a raciocinarem mais profundamente a respeito de sua atividade profissional e suas nuances.

Formação que torne os tradutores mais seguros a respeito de sua prática profissional, e não norteados por possuírem ou não o “dom” de traduzir.

Além disso, essa formação poderá levar os profissionais a não ficarem tão engessados à visão tradicionalista, mas sim a par de novas teorias a respeito da profissão, levando-os a enxergar a questão da invisibilidade de forma diferente e a buscar seu reconhecimento como profissional qualificado, e não praticante de uma atividade secundária ou menos importante, deixando de lado a posição de vítima, que é frequentemente ressaltada pelos tradutores, passando a usufruir do mesmo status conferido a outras profissões respeitadas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARROJO, Rosemary. Oficina de tradução. A teoria na prática. São Paulo: Ática, 1986.

BAKER, Mona. In other Words. New York: Routledge, 1992.

BASSNET- McGUIRE, S. Translation Studies, London: Routledge, ed. revisada,1991.

BOHUNOVSKY, Ruth. A (im)possibilidade da “invisibilidade” do tradutor e da sua “fidelidade”: por um diálogo entre a teoria e a prática da tradução. Cadernos de Tradução (UFSC), Florianópolis, SC, v. VIII, p. 51-62, 2001.

CAMPOS, Geir. O que é tradução. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1986.

EMMEL, Ina. Linguística e Ciência da Tradução – Existe Alguma Relação?. Cadernos de Tradução, ISSN 2175- 7968, Florianópolis, Brasil, 1997.

JAMES, Carl. Three uses for translation in language foreign teaching. Trabalhos de Linguistica Aplicada.

Campinas: Unicamp, 1989.

Oxford Advanced Learner’s Dictionary.Oxford: Oxford University Press, 1010.

VICTOR, Eliene Padilha Felipe. Pensar o traduzir. Revista de Letras:UEG – UnU São Luis de Montes Belos, 2011.

VILLELA, Adauto Lúcio Caetano. As (In)visibilidade dos Tradutores: Sombra, Vestígio e Imagem. Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas: Unicamp, 2001.

Referências

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