• Nenhum resultado encontrado

RESSIGNIFICANDO O DIVÓRCIO PELA ÓTICA DA GESTALT-TERAPIA Daphne Kelly Carrijo Nunes Moro

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "RESSIGNIFICANDO O DIVÓRCIO PELA ÓTICA DA GESTALT-TERAPIA Daphne Kelly Carrijo Nunes Moro"

Copied!
29
0
0

Texto

(1)

GOIÂNIA - ITGT

RESSIGNIFICANDO O DIVÓRCIO PELA ÓTICA DA

GESTALT-TERAPIA

Daphne Kelly Carrijo Nunes Moro

Goiânia-GO Julho/2021

(2)

GOIÂNIA - ITGT

RESSIGNIFICANDO O DIVÓRCIO PELA ÓTICA

DA GESTALT-TERAPIA

Trabalho de Conclusão de Curso pelo Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia (ITGT) como requisito parcial à conclusão do curso de Pós-Graduação Latu-Senso em Gestalt-terapia chancelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

Orientadora: Dra. Jordana Calil Lopes de Menezes de Oliveira

Goiânia-GO Julho/2021

(3)

Resignificando el divorcio desde la perspectiva de la Terapia Gestalt

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo compreender como mulheres vivenciaram o processo de divórcio no contexto da psicoterapia na abordagem da Gestalt-terapia. A pesquisa foi realizada com três mulheres com idade entre 20 e 40 anos, esta pesquisa se fundamenta na abordagem da Gestalt-Terapia. A pesquisadora realizou uma entrevista aberta com uma pergunta disparadora: “Como você vivenciou o processo de divórcio?” afim de investigar as repercussões e como fizeram a ressignificação deste momento em suas vidas, a fim de observar como a psicoterapia na abordagem da Gestalt-terapia pode contribuir com essa nova reconfiguração. Dessa forma, a análise dos dados foi baseada no método fenomenológico proposto por Amadeo Giorgi, e a partir dos resultados obtidos puderam ser observadas quatro categorias: Da confluência à retirada: a decisão do divórcio; O divórcio como um processo de luto; Processo terapêutico como forma de desenvolvimento do autossuporte; Ressignificação do divórcio e liberdade de ser. Sugerem-se mais estudos que envolvam ambos os cônjuges e uma discussão mais aprofundada sobre o papel de gênero da mulher e a influência no funcionamento confluente do casal.

Palavras-chave: Divórcio; Separação Conjugal; Rompimento Conjugal; Gestalt-Terapia. Abstract

This study aims to understand how people experienced the divorce process in the context of psychotherapy. The research was carried out with three women aged between 20 and 40 years, this research is based on the Gestalt-Therapy approach. The researcher conducted an open interview with a triggering question: "How did you experience the divorce process" in order to investigate the repercussions and how they reinterpreted this moment in their lives, in order to observe how psychotherapy in the Gestalt-therapy approach can contribute to this new reconfiguration. Thus, data analysis was based on the phenomenological method proposed by Amadeo Giorgi, and from the results obtained, four categories could be observed: From confluence to withdrawal: the decision to divorce; Divorce as a grieving process; Therapeutic process as a form of self-support development; Reinterpretation of divorce and freedom to be. Further studies involving both spouses and a more in-depth discussion about the gender role of women and the influence on the couple's confluent functioning are suggested.

Keywords:Divorce; Marital Separation; Marital Breakup; Gestalt-Therapy.

Resumen

Este estudio tuvo como objetivo comprender cómo las mujeres experimentaron el proceso de divorcio en el contexto de la psicoterapia en el enfoque de la terapia Gestalt. La investigación se realizó con tres mujeres de entre 20 y 40 años, esta investigación se basa en el enfoque de la Terapia Gestalt. La investigadora realizó una entrevista abierta con una pregunta desencadenante: "¿Cómo viviste el proceso de divorcio" para investigar las repercusiones y cómo reinterpretaron este momento de sus vidas, para observar cómo la psicoterapia en el enfoque de la terapia Gestalt puede contribuir a esta nueva reconfiguración. Así, el análisis de los datos se basó en el método fenomenológico propuesto por Amadeo Giorgi, y de los resultados obtenidos se pudieron observar cuatro categorías: De la confluencia al retiro: la decisión de divorciarse; El divorcio como proceso de duelo; El proceso terapéutico como forma de desarrollo autosuficiente; Reinterpretación del divorcio y la libertad de ser. Se sugieren más estudios que involucren a ambos cónyuges y una discusión más profunda sobre el papel del género de las mujeres y su influencia en el funcionamiento confluente de la pareja.

(4)

Ressignificando o divórcio pela ótica da Gestalt-Terapia

As separações e os divórcios têm se tornado cada vez mais frequentes na sociedade contemporânea. As Estatísticas do Registro Civil (2018) divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apuraram 385.246 divórcios concedidos em 1ª instância ou por escrituras extrajudiciais em 2018, o que representa um aumento de 3,2% em relação ao total contabilizado em 2017 (373.216). Consequentemente, houve um acréscimo, também, na taxa geral de divórcios, que passou de 2,5% para 2,6%.

Já o segundo semestre de 2020 registrou o maior número de divórcios registrados em cartórios no Brasil. Segundo a entidade (IBGE), o número de divórcios no país cresceu 75% em cinco anos e, no meio do ano passado, o total de divórcios saltou para 7,4 mil apenas em julho, um aumento de 260% em cima da média de meses anteriores. O crescente número de separação de casais é apontado como reflexo do maior período de convivência em ambiente doméstico por conta do isolamento imposto pela Covid-19, mas também pela facilitação dos trâmites dos processos que agora podem ser feitos por meio da internet.

A maneira como o divórcio é visto mudou ao longo do tempo, segundo Campos (2003) era comum encontrar discurso contra o divórcio, hoje ele faz parte do cotidiano das pessoas. Embora o divórcio, esteja presente no cotidiano de muitas famílias, não significa que as pessoas não respeitem o casamento, ou que a ideia de estar casado não agrade, mas o que acontece na verdade é que valorizam tanto o casamento, que buscam uma perfeição nos relacionamentos difícil de ser alcançada (Feres-Carneiro, 2003).

Costa (1997) relata que outro aspecto que colabora para o divórcio conjugal, diz respeito ao fato de que o casamento se distanciou da religião e, desse modo, a separação já não é mais enxergada como um imenso pecado, favorecendo para que tanto a mulher quanto o homem sejam capazes de valorizar mais seus sentimentos e desejos. Costa reforça também a ideia de que as pessoas, especialmente as mulheres, não mais aceitam perder tempo de suas vidas em uma relação sem prazer ou de pouco afeto. No passado, a submissão da mulher, na maioria das vezes, camuflava o sofrimento do casal, criando a impressão de que as relações eram mais duradouras.

Feres-Carneiro (1998) confirma tal ponto de vista ressaltando que a grande necessidade de separação conjugal é feminina, já que para a maior parte das mulheres o casamento é principalmente relação de amor, e quando o matrimônio não corresponde a essa expectativa o divórcio torna-se quase que inevitável. O casamento, que antes era visto como indissolúvel, com o advento do divórcio, passa a ser visto como algo que pode se romper, quebrando não

(5)

apenas vínculos afetivos, mas também planos e projetos de vida. As relações passam a ser mais abertas, os casais têm menos tolerância em preservar relacionamentos duradouros, tornando possível terminar um relacionamento que não é mais satisfatório

Cardella (2009) afirma que a experiência do casamento pode produzir diversos significados e sentidos, que serão construídos pelo próprio casal. O casamento pode ser vivido como escolha, graça, bênção ou terror, pode ser uma construção criativa ou aprisionamento. Assim, são diversas as formas de avaliação de um casamento; a união não precisa ser para sempre, pode romper-se e as pessoas construírem outras histórias em suas vidas. Não existem mais garantias de amor eterno. As relações entre os homens e mulheres estão reeditando antigos papéis de forma a adaptá-los às novas exigências (Diniz, 1999).

Nesse sentido, o presente trabalho tem de compreender como mulheres vivenciaram o processo de divórcio no contexto da psicoterapia na abordagem da Gestalt-terapia. Mais especificamente, identificar as repercussões e como fizeram a ressignificação deste momento em suas vidas, a fim de observar ainda como a Gestalt-terapia pode contribuir com essa nova reconfiguração.

Do casamento ao divórcio

O casamento é uma das instituições mais antigas da civilização e ainda se apresenta como sendo o objetivo de muitas pessoas. É o que demonstram pesquisas de registro civil realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018). Em 2018, por exemplo, o instituto atestou 1.053.467 casamentos. Os casamentos vêm sofrendo várias mudanças socioeconômicas ao longo dos tempos, com consequentes alterações nos comportamentos dos indivíduos e nos modos subjetivos de ser na conjugalidade (Costa, 2005). Segundo Costa 2005, com a chegada do cristianismo o casamento passou a ter um significado sacramental, algo indestrutível, unindo-se à noção de pecado e punição. Por sua vez, o adultério era compreendido como crime. Desta maneira, a religião exercia um forte poder na relação entre o casal, pregando a continuidade da relação conjugal até a morte. Nessa perspectiva, a principal finalidade do casal era a de procriação e manutenção da família, independente dos sentimentos que envolvessem a mulher ou o homem, o amor era habitualmente colocado em segundo plano (Castells, 2007).

Cardella (2009) afirma que se anteriormente as relações conjugais eram conservadas muitas vezes por questões sociais, financeiras e religiosas, em contrapartida, com toda a revolução sexual, tecnológica e a ida da mulher para o mercado de trabalho, as novas configurações familiares possibilitaram relações conjugais horizontais. Ainda, as escolhas passaram a ser fundamentadas em pontos como amor, amizade, parceria e cuidado, pois os

(6)

filhos e a casa já não são mais vistos apenas como única forma de realização e satisfação pessoal.

Uma das grandes motivações para muitas pessoas que escolheram o casamento é a valorização da experiência compartilhada e íntima, ou seja, existe o desejo autêntico de compartilhamento e parceria com o outro, em busca de companheirismo. Mas cada pessoa ao se casar cria expectativas diferentes, sobre como será o casamento (Cardella, 2009).

Outro fator de grande importância que leva as pessoas a se unirem de forma conjugal é a necessidade de constituição de uma família (Feres-Carneiro,1997; Magalhães,1993). Muitas vezes também o casamento é utilizado como meio para satisfação própria e o outro é visto como objeto na relação ou como o responsável pela felicidade do parceiro (Cardella, 2009).

Conforme Peck e Manocherian (1980/2001), outro aspecto importante é que o casamento pode ter sido uma tentativa de independência, de um ou ambos os cônjuges, uma forma de sair de casa, ou, ainda, de se diferenciar da família de origem. Assim, de fato, as questões pendentes e não resolvidas, em sua maioria, referem-se à família de origem, e não à família recém-constituída.

Na maioria das vezes, existe uma grande diferença, entre o que se pensava ser o casamento, e o que ele realmente é no dia a dia. A idealização excessiva, configura uma demanda inalcançável, gerando uma sobrecarga e, consequentemente, desgastes na relação. Se o casamento foi baseado em uma idealização excessiva um do outro, as decepções podem ser brutais, e o divórcio é muito provável (Falceto & Valdemar, 2011). Outras pessoas buscam a vida conjugal partindo de idealizações construídas, como a de amor eterno e único, vendo o cônjuge como aquele que é sua alma gêmea, que completa o seu ser. O investimento em uma relação reside, muitas vezes, na esperança das pessoas em encontrarem apoio e segurança emocional (Bauman, 2004; Miller, 1995).

Para Silveira (2005) em um casamento histórias diferentes se misturam, e surge então uma nova totalidade, uma estrutura, um fluir de comunicação. Esse é o primeiro sinal de criação na vida em comum. As pessoas que se escolhem passam a funcionar num estilo diferente, com linguagem própria, seguindo um ao outro. Os limites pessoais são ultrapassados. É de se esperar que surja uma aliança, um entrelaçamento que é a base para uma nova configuração. Personalidades diferentes, com diferentes habilidades para viver o mundo, unem-se para construir algo maior, e assim compor uma nova fronteira, do nós ou da conjugalidade.

Ou seja, duas pessoas, quando se casam, constroem uma nova totalidade, um novo organismo e juntas, estabelecerão os limites do que é vivido em comum. Caillé (1991) afirma ainda que a conjugalidade em geral é compreendida como um sistema emaranhado, constante

(7)

e dinâmico dentro de dois mundos subjetivos que criam uma identidade conjugal. As subjetividades no mundo conjugal dizem respeito àquilo que é característico das particularidades de cada pessoa que formam a relação, uma vez que são seres únicos e irreproduzíveis, com seus sonhos, valores, vivências, culturas e história familiar.

Holanda (1999) esclarece que o fundamento da humanidade do homem não se dá na semelhança – naquilo que é igual a sua imagem e semelhança – mas ocorre na alteridade, na diferença. Não há relação apenas com a igualdade; quando nos anulamos, deixamos de existir nas diferenças. A relação só ocorre nas diferenças e, não vivenciar essas diferenças e sua não aceitação, significa uma não-relação.

Administrar as diferenças, as distintas expectativas de vida, as dificuldades de comunicação, as possíveis traições conjugais, além dos ciúmes, do egoísmo exacerbado e de manifestações agressivas, são exemplos dos obstáculos com os quais um casal pode deparar-se na vida a dois (Garcia & Tassara, 2003). O rompimento conjugal muitas vezes deparar-se dá ao fato da não tolerância, do casamento não corresponder às expectativas, quanto à felicidade eterna, compreensão, companheirismo e o amor avassalador (Feres-Carneiro, 1998).

A palavra divórcio vem do latim divortium, que significa separação, que é derivada de divertere, que significa tomar caminhos opostos, afastar-se, tornando um caminho a ser buscado por aqueles que não se sentem mais felizes em seus casamentos (Cerveny, 2002; Grzybowski, 2007). Souza e Ramires (2006) salientam que o divórcio é um processo de crise e ruptura no qual a família busca novas respostas e que isso não pode ser confundido com problemas de ajustamento ou de saúde mental.

“A escolha de separar-se não emerge do contato com as experiências presentes, do contexto relacional, seja de confronto e das diferenças, seja de uma traição aos acordos firmados, ela emerge de uma posição defensiva, que procura evitar sofrimento e, justamente por isso, o instaura” (Cardella, 2009, p.88).

Desde o nascimento, todos se tornam seres separados, buscando união com o que é diferente. A função que sintetiza essa necessidade de união e, paradoxalmente, de separação, sob a perspectiva da Gestalt-terapia, é o contato. O contato ocorre em uma fronteira na qual é mantido um senso de separação de forma que a união não ameace sobrecarregar a pessoa. Esse processo não envolve apenas um senso do próprio eu, mas, também, daquilo que encontra/colide na fronteira. Isso é o que motiva também união conjugal. (Ribeiro, 1985; Polster & Polster, 2001; Augras, 2009). O contato acontece entre seres separados, que se

(8)

arriscam a ser capturados pela união (Polster & Polster, 2001).

O contato é função que revela necessidade de união e separação para que possa haver crescimento; contato é reconhecimento das diferenças, do novo, estranho, do outro, do não eu; só pode haver experiência quando há contato, condição de crescimento e mudança, possibilidade de atualização e transformação: todo contato é um processo dinâmico e criativo do organismo e ambiente (Perls, Hefferline, & Goodman, 1997). Loffredo (1994) afirma que em uma situação de contato há possibilidade da novidade e do imprevisto, assimilando o meio a seu ser diferente.

O contato ocorre sempre, na fronteira, como lugar de encontro das diferenças, quando o ser mergulha em sua realidade e na realidade do outro, extingue-se as relações subjetivas eu-mundo dentro de si, perde-se sua individualidade e o sentido de sua individualização. Pode assim, terminar confluindo neuroticamente com o mundo fora de si. Neste caso, o contato deixa de ser um processo transformador positivo para se tornar negativamente transformador surgindo a confluência. Ela ocorre quando a pessoa não percebe as suas próprias necessidades, emoções e sentimentos, o indivíduo confluente mistura-se com o outro, e não é capaz de identificar as suas diferenças. Dessa maneira, ele não cresce e não permite que o parceiro cresça (Ribeiro, 2009).

A confluência existe quando a pessoa não enxerga nenhum limite entre si e o outro, teme o isolamento, une-se a terceiros, aceita decisões de outras pessoas que desagradam a si mesmo. O ser humano possui duas possibilidades de caminho a escolher. O primeiro diz respeito a amadurecer, superar suas insatisfações e responsabilizar-se como pessoa que pensa, sente e age. Crescimento, nessa perspectiva, é a experiência da ampliação de possibilidades existenciais, que se dão pelo contato da pessoa com ela mesma e com o ambiente, em uma visão de totalidade. Por outro lado, o segundo caminho é permanecer, ficar onde está, e essa decisão acontece por apreensão de encarar o mundo, as pessoas, suas próprias vontades e se apresentar como realmente é. Consequentemente, o resultado é aprisionar-se ao outro e a si mesmo, deslocando para o outro, decisões da própria vida (Perls, 1973).

Quando há confluência recíproca na relação à união pode ser duradora, mas quando um dos parceiros retomar o curso do crescimento pessoal, o relacionamento poderá se romper. O casal confluente estabelece vínculo de dependência recíproca (Ribeiro, 2009).

Pinto (2010) considera que na confluência cristalizada, o parceiro confluente age como se o outro fosse sua continuação, sem permiti-lo fazer escolhas ou agir diferente à sua vontade. Quando uma das partes do contrato confluente viola a regra, sente-se culpada e submete-se por vezes às indelicadezas da outra parte. Esta confluência quando rompida pode também se tornar

(9)

uma retroflexão quando o sujeito que quer manter o elo confluente pune-se a si mesmo, “pela auto degradação, humilhação ou sentindo-se sem valor e ruim”, como uma maneira de oferecer a si o que o outro não ofereceu (Polster & Polster, 2001).

Ante a incapacidade do organismo de dar conta de suas próprias necessidades e promover um contato saudável, este recorre a mecanismos de defesa que garantam seu funcionamento de maneira cristalizada. Nessa questão, a confluência ocorre quando o sujeito se confunde com o outro, sem discriminação das identidades, pois as fronteiras não estão bem delimitadas. Nesse contexto, um dos cônjuges nega as desigualdades do outro e persiste em torná-lo uma extensão de si mesmo (Pinto, 2013). A confluência como processo criativo funcional, é ausência da alteridade, é disponibilidade para o possível, é a retirada da possibilidade do diferente, estando em um estado de fluidez e disponibilidade (Ribeiro, 2007). O divórcio como um processo

Cada indivíduo vivenciará a separação de forma e intensidade diferente. Segundo Caruso (1989, 1988), o rompimento provocará sentimentos diferentes em cada pessoa, sentimentos como rebeldia ou conformação podem ser vivenciados, isso dependerá da história de vida, da forma de perceber o mundo e das relações de cada indivíduo. Para Cavanellas (2001), essa experiência faz com que a pessoa se descubra só, ela vivencia um sentimento de solidão e abandono. Por outro lado, o divórcio pode ser lugar de partida, de se repensar na vida, de entrar em contato consigo mesmo e ampliar seus limites emocionais e intelectuais.

Mesmo que as mudanças sejam desejadas, no caso do divórcio, elas envolvem perdas e sofrimentos, pois muitas coisas que foram importantes para o casal são abandonadas (Travis, 2003). Segundo Schettini (2000) a perda pode trazer alívio por sair de uma relação que não era mais prazerosa, pode ser momento de ampliar sua visão e construir novos planos. Mas essa vivência da perda como ganho, só é possível depois de ter passado o momento de dor intensa pela ruptura do relacionamento, afirmando que algumas perdas podem ser alívio que leva à visões mais amplas e profundas da vida.

Autores como Ahrons (1980) e Hetherington (1991) propõem um período de dois a três anos até que ocorra um processo de ajustamento pós-divórcio, uma homeostase familiar. Souza e Ramires (2006) confirmam que o período envolve tensão e sofrimento, porém, em longo prazo, os efeitos negativos não são tão frequentes como supunham. Passada a crise inicial, os ex-cônjuges tendem a apreciar a sua liberdade e sentimentos de autovalorização e autonomia. Nesse sentido, a separação pode ser vista como nova oportunidade de recomeçar a vida (Wagner & Féres-Carneiro, 2000).

(10)

não se consideram capazes de continuar tentando ultrapassar suas dificuldades, ela é sempre vivenciada como uma situação extremamente dolorosa, havendo um luto a ser elaborado (Féres- Carneiro,1998).

Cerveny (2002), afirma que toda separação tem consequências para os envolvidos, e mesmo as separações desejadas, decorrentes de anos de insatisfação e sofrimento, acarretam sentimentos de perda, solidão, vazio e tristeza, características que permeiam o período pós-divórcio.

Com relação ao processo de divórcio, Brown (1980/2001) o divide em três fases: a primeira compreende o primeiro ano após a separação, conformando um período de caos, confusão e crise; a segunda, o realinhamento, caracteriza-se por ser uma fase de transição, em que as questões econômicas, sociais e extrafamiliares vão sendo reorganizadas entre o segundo e terceiro ano após a separação; e, por fim, a fase da estabilização, na qual se poderia dizer que, com efeito, há uma reorganização do sistema familiar.

No processo de separação, a identidade conjugal, construída no casamento, vai aos poucos se desfazendo, levando os cônjuges a uma redefinição de suas identidades individuais. A separação, descrita por Caruso (1968/1989) como uma das mais dolorosas experiências pelas quais pode passar o ser humano, é um processo complexo, vivido em diferentes etapas e em diferentes níveis, ou seja, nos pensamentos secretos de cada membro do casal, no diálogo entre eles e na explicitação para o contexto social que os circunda. Para o autor, estudar a separação amorosa significa estudar a presença da morte na vida, ou seja, na separação há uma sentença de morte recíproca: “o outro morre em vida, mas morre dentro de mim... e eu também morro na consciência do outro” (p. 20).

Ducati (2013) alerta que a situação de separação entre parceiros amorosos pode apontar um risco para o luto complicado, devido à separação como vivência de luto não ser reconhecida como tal, embora a relação seja reconhecida socialmente. No processo de separação, várias são as perdas que precisam ser elaboradas, como a perda da conjugalidade, dos ideais, da família sonhada, dos bens materiais, da identidade, do status.

Fukumitsu (2013) declara que a perda de uma pessoa querida abre uma ferida existencial uma lesão que necessitará de tempo para fechar, e que precisa ser compreendido como um processo de ajustamento. Ressalta que o luto deve ser entendido como um momento de crise, um processo em busca de fechamento, de cicatrização, de sobrevivência e de recomeço. Pela ótica da Gestalt-terapia, o luto é visto como um processo e não como um estado. O luto não é algo definido e estático; é, sobretudo, um processo uma experiência que cada pessoa vivência singularmente, ainda que sejam observadas certas semelhanças. O luto é uma

(11)

experiência inevitável dentro de ciclo vital, experimentado ante as perdas. É um período necessário para o florescimento de uma nova fase da vida. Portanto, o luto não pode ser visto unicamente pelo conjunto de sintomas que surgem após uma perda e que desaparecem depois; deve ser considerado uma experiência de vida singular digna de cuidado e respeito (Sousa, 2016).

Esta dor também pode ser fisicamente sentida. Segundo Maldonado (1995), a separação envolve estados emocionais e psíquicos. O parceiro amoroso que não tiver validação para expressar sua dor da perda na separação, estará sujeito a um sofrimento maior no processo de elaboração da perda, a qual se faz necessária para a sua reorganização. Assim, frente a dor sentida pela separação, as pessoas buscam alívio para a dor, sofrimento, muitas vezes com um processo psicoterápico (Ducati, 2013). O trabalho do psicólogo, nesse contexto de dor, é de afirmação e apoio que muitas vezes vem de simplesmente se estar presente como ser humano, se colocando como uma testemunha atenta e compassiva (Zinker, 2001).

Gestalt-terapia e divórcio

Na Gestalt-terapia a dor vivenciada com a separação é uma reação chamada de ajustamento criativo, o organismo se ajusta, busca meios para satisfazer suas necessidades. No momento da dor, esta é a maneira encontrada para interagir com o mundo se ajustando da melhor maneira possível a fim de aliviar o sofrimento (Perls, Hefferline, & Goodman,1997).

Conforme Ribeiro (2006), ajustamento criativo é o meio que o indivíduo encontra para encontrar respostas, que podem ser procuradas no ambiente, em si mesmo ou em ambos. É a busca que o ser humano tem em soluções já existentes ou novas para alcançar o equilíbrio entre a necessidade e sua satisfação. Ajustar-se criativamente é viver a vida como fluxo, na interação com os outros e os acontecimentos, apropriando-se criando recursos, assumindo a responsabilidade e a co-criação do seu próprio destino (Cardella, 2014).

Quando há ajustamento criativo saudável, o organismo compreende quais são as necessidades e como organizá-las conforme a sua prioridade. À medida que o indivíduo estabelece relações saudáveis, em que possa vivenciar amor, respeito e explorar suas potencialidades, a pessoa satisfaz suas necessidades de forma adequada e criativa (Frazão, 2015).

Por outro lado, existe o ajustamento criativo disfuncional, que se caracteriza por uma certa deformidade nas percepções e sentimentos. Essa forma distorcida de ver e estabelecer contato vai influenciar no significado e no sentido que a pessoa construirá dos fenômenos que acontecem ao seu redor. Nessa perspectiva, há uma dificuldade para interagir com o meio de forma criativa, gerando relações em modelos que se repetem, ou seja, baseados em

(12)

cristalizações (Cardella, 2014). Segundo Perls (1973), quando o organismo se sente incapaz de satisfazer suas necessidades e se mantém em uma condição de desequilíbrio por muito tempo, isso pode significar que o organismo está doente e interrompido em seu funcionamento. Dessa maneira, o adoecimento surge por meio da interrupção do ciclo espontâneo da autorregulação, impedindo o indivíduo de buscar formas eficazes para satisfazer suas necessidades urgentes.

O objetivo da psicoterapia é ampliar o potencial criativo do indivíduo pelo processo de integração (Perls & Stevens, 1975). De acordo com sua crença básica no potencial de qualquer indivíduo, o método gestáltico favorece a experimentação para descobrir novas saídas para problemas antigos. Seu repertório instrumental, que inclui intervenções verbais e não-verbais, possibilita ao cliente entender como ele mesmo funciona, e esse conhecimento é fundamental para o processo de mudança, segundo Ginger & Ginger (1995).

A Gestalt-terapia possibilita ao cliente desenvolver o seu próprio suporte para o contato ou para o afastamento desejado. O objetivo da Gestalt-terapia é a maturidade, que é definida por Perls (1973), como a transição do suporte ambiental para o autossuporte. Este deve conter tanto autoconhecimento quanto autoaceitação. Não existe a possibilidade de ter suporte adequado sem se conhecer, sem conhecer suas experiências, assumir comportamentos, necessidades, capacidades e incapacidades, quem a pessoa está sendo no momento (Andrade, 2014). A autora explica que à medida que o cliente vai se sentindo suportado, confirmado e legitimado, o que lhe possibilita começar a se reconhecer, a se auto apreciar, a se permitir experienciar, a se autossuportar. Quando o cliente é confirmado em suas verdades, ele se abre com maior facilidade para aproximar-se de si mesmo, reconhecendo tal como ele é (Andrade, 2019).

O ajustamento criativo no relacionamento familiar, como em qualquer outro relacionamento, implica flexibilidade na fronteira para experimentar novos contatos. Para experimentar, é preciso ter autossuporte. O autossuporte orienta o indivíduo na escolha da atitude mais adequada em determinada situação, a fim de que essa mesma situação seja recriada e ressignificada. O autossuporte refere-se à capacidade de mobilizar os recursos internos para criar situações novas quando elas se fazem necessárias (Silveira, 1998).

Ressignificar, conforme Ferreira (2015) é dar novo significado de algo ou de alguém. Para Da Silva (2004), é dar um sentido diferente a alguma coisa ou situação. Uma vez que, de acordo com a Gestalt-Terapia, o ser humano possui potencial para crescer com tudo que ele se propõe a experimentar. Silveira (2005), relata que mudança está ligada diretamente a criatividade. Zinker (1979), aponta a psicoterapia como um meio de favorecer a criatividade e saúde. Mudar, então, refere-se a descobertas de respostas novas a eventos antigos.

(13)

O indivíduo ao procurar se compreender e se conhecer, cuida da sua existência, se descobre na relação com o outro, constrói seu mundo, responsabilizando-se por si próprio e pelo seu projeto, desta forma cada existência é única. Ao decidir sobre a própria vida, o homem exerce a sua liberdade e é responsável pelas suas escolhas. Para Sartre, o homem não pode fugir de sua liberdade (Sartre, 1991).

Nesta abordagem acredita-se que cada pessoa é um ser único e responsável por suas escolhas, em sua atitude de respeito à singularidade do indivíduo, a Gestalt-terapia trabalha com o potencial positivo e criativo do sujeito a fim de fortalecê-lo para que este possa entrar em contato com aquilo que o aflige, para poder agir, pensar e se comunicar de maneira saudável (Ribeiro, 2012; Silva & Alencar, 2011).

Essas perspectivas estão fundamentadas no alicerce filosófico e teórico da Gestalt-terapia, considerada uma abordagem humanista, existencial e fenomenológica, que visa o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo por meio da ampliação da sua percepção pessoal do sentir e do viver (Ribeiro, 1985).

Petrelli (1999) enfatiza três momentos como princípios fundamentais para uma investigação fenomenológica, uma vez que facilitam a experiência imediata do cliente e a suspensão de interpretações por parte do terapeuta. São eles: o olhar atentivo para o fenômeno quando ele se mostra e como se mostra; o não se deixar levar pelas crenças sobre a realidade; o colocar todos os fenômenos no mesmo horizonte, por meio de um olhar atentivo do que, do quando e do como se mostra.

A Gestalt se apresenta não apenas como uma terapia, mas sim, como uma concepção de vida: trabalhando a consciência da pessoa, suas experiências no aqui-agora e avaliando a melhor forma de solucionar a questão (Stevens, 1977). Na perspectiva da Gestalt terapia, a pessoa tem capacidade de escolha e condições para perceber a saída mais satisfatória para enfrentar as adversidades da vida (Dantas, 2011). Quando o indivíduo consegue integrar suas partes, seus sentimentos, desejos, dificuldades e ações, percebendo a realidade a partir do todo, torna-se mais autoconsciente (Stevens, 1977).

É a partir das trocas ocorridas no espaço terapêutico que o cliente tem a oportunidade de verbalizar seus pensamentos, sentimentos e sensações para outra pessoa; o terapeuta torna-se, então, um interlocutor atento e disponível para ouvi-lo. A atmosfera do espaço terapêutico e a presença do terapeuta constituem-se em um espaço experiencial e experimental no qual o cliente começa a contar suas histórias; é na segurança da intimidade e na confiança que ele consegue enxergar novas possibilidades (Hycner, 1995; Juliano, 1999).

(14)

como características, uma relação não-hierárquica e uma ênfase no compromisso pleno e genuíno entre paciente e terapeuta. A presença do terapeuta é tão importante quanto sua técnica (Hycner & Jacobs, 1997; Zinker, 2001)

O objetivo da terapia gestáltica é uma awareness contínua, onde a cada situação que o indivíduo encontre no caminho, tenha capacidade de entrar em contato integralmente, experienciando e selecionando suas melhores possibilidades de ação. Isto é, a conscientização ou dar-se conta, ao que acontece no momento presente consigo, tanto a nível corporal, emocional e mental (Ferreira, 2009; Frazão,1999; Zinker, 2001).

Para Rodrigues (2000) a Gestalt-terapia entende o ser humano como um ser individualizado, capaz de encontrar a saída mais satisfatória para as dificuldades que são apresentadas a este indivíduo, e não existem saídas certas e/ou erradas, visto que depende de como a dificuldade se apresenta ao indivíduo e de como este indivíduo reage a tal dificuldade. Ou seja, o indivíduo, chamado pelo referido autor de percebedor, deposita na situação apresentada ao mesmo, chamada de fenômeno pelo autor em questão, seus conteúdos pessoais, o que possibilita ao fenômeno se apresentar de uma maneira única a cada indivíduo e cada indivíduo se apresentar de uma maneira única a cada fenômeno. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo compreender como mulheres vivenciaram o processo de divórcio no contexto da psicoterapia na abordagem da Gestalt-terapia

Método

Participantes

A pesquisa foi realizada com três mulheres divorciadas residentes na cidade de Goiânia (GO) e que tiveram o auxílio da psicoterapia na Gestalt-terapia durante o processo de separação. A fim de preservar a identidade das participantes, elas foram apresentadas com nomes fictícios, seguem breve dados das participantes:

Denise possui 31 anos, foi casada por 3 anos, não tem filhos, estava em terapia individual durante 1 ano, buscou a terapia quando percebeu o desgaste no casamento e passou todo seu processo de divórcio em psicoterapia, no momento se encontra namorando e está divorciada a 2 anos.

Bruna, 35 anos, ficou casada por 7 anos, possui uma filha de 2 anos, submeteu a terapia de casal por 3 sessões, juntamente com a terapia individual, nesta está no momento por 2 anos, a mesma também passou pelo processo de divórcio, em terapia, não se encontra em relacionamento no momento, está há 1ano e 7 meses separada.

(15)

Thais está com 39 anos, esteve casada por 12 anos, possui um filho 4 anos, está em terapia individual há 1 ano e 4 meses, quando passou pelo processo de divórcio também estava em acompanhamento psicológico, buscou recasamento e se divorciou novamente há 3 anos. Procedimentos

Procedimentos teórico-metodológicos consistiram em: o processo de recrutamento das participantes, que se realizou mediante a indicação de pessoas dentro do perfil solicitado por psicólogos credenciados do ITGT, que atendiam estas mulheres. Os agendamentos para as entrevistas foram feitos conforme a disponibilidade das participantes. Para as participantes da pesquisa, foram esclarecidos os objetivos do projeto, e foi explicado que a privacidade e proteção de imagem e identificação das colaboradoras seriam garantidas. Em sequência, as participantes foram informadas de que poderiam interromper sua participação na pesquisa a qualquer momento sem nenhum impedimento, bem como não seriam atribuídos nenhum tipo de prejuízo à participante.

Depois de prestados todos os esclarecimentos sobre a pesquisa, e a participante ter aceitado colaborar com a pesquisa, foi assinado, em duas vias, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para a realização efetiva deste estudo, foi utilizada uma entrevista aberta com uma pergunta disparadora: “Como você vivenciou o seu processo de divórcio?” No decorrer do processo da entrevista, foram inseridos alguns questionamentos caso surgisse oportunidades ou lacunas a serem compreendidas, a fim de investigar e angariar dados para cumprir os objetivos deste trabalho.

As entrevistas tiveram a duração de aproximadamente 50 minutos e aconteceram presencialmente no consultório da própria pesquisadora, em horários propícios para ambas as partes e após a execução de todas as entrevistas, foi iniciado as transcrições, na íntegra, de cada entrevista para posterior análise de dados. Após a coleta de dados da pesquisa através das entrevistas, realizou-se a transcrição de áudio das falas de cada participante e, então, a análise de dados pôde ser feita com base no método fenomenológico Giorgi e Souza (2010), que procura descrever a experiência e o sentido conferido pelas pessoas aos fenômenos percebidos, no qual foram extraídas as unidades de significado das descrições dos participantes da pesquisa.

O método é dividido em quatro partes. Primeiramente, é estabelecido o sentido geral. Em seguida, é elaborada a determinação das partes, depois as unidades de significado são transformadas em expressões de caráter psicológico e, por último, determina-se a estrutura geral de significados psicológicos.

Resultados e Discussão

(16)

processo de divórcio no contexto da psicoterapia na abordagem Gestáltica. Seguindo o método proposto por Giorgi (2010) foram encontradas quatro categorias universais com base nas unidades de sentido apresentada pelas participantes, sendo elas: Da confluência à retirada: a decisão do divórcio; O divórcio como um processo de luto; Processo terapêutico como forma de desenvolvimento do autossuporte; Ressignificação do divórcio e liberdade de ser.

Da confluência à retirada: a decisão do divórcio

Essa categoria reflete as vivências das participantes em relação à confluência com o cônjuge, o qual era o modo que elas faziam contato. O contato é função que revela necessidade de união e separação para que haja crescimento (Augras, 2009; Polster & Polster, 2001; Ribeiro, 1985). Nessa questão, a confluência ocorre quando o sujeito se confunde com o outro, sem discriminação das identidades, pois as fronteiras não estão bem delimitadas (Pinto, 2013). Com o relato das entrevistadas, é possível perceber nuances da interrupção de contato por meio da confluência durante o casamento:

Denise- Meu processo de separação foi muito doloroso e difícil. Pois dependia financeiramente e emocionalmente do meu ex-marido. Não fazia nada se não fosse com ele junto, ele me levava nos lugares que precisava e me buscava. Eu não precisava andar de ônibus e nem de trabalhar.

Bruna - Assim, eu me colocava em uma situação tão dependente dele de tudo, não só financeiro, mas eu não sabia separar as individualidades... Eu sei que eu tinha dificuldade de mostrar meus limites, mas nem eu sabia. Não sabia colocar para ele que eu tinha limites, que ele era uma pessoa que eu amasse, que ele podia chegar até certo ponto, mas que não podia passar dali.

Thais - ... O que me mantia no casamento era o medo de me separar e morrer de fome, sofrer preconceito, e não conseguir reconstruir a minha vida, pois dependia dele para tudo... Mas eu não me separava por achar que eu merecia mesmo aquilo, e que eu inclusive era a pessoa tóxica da relação. O que era o que meu ex-marido me fazia acreditar que eu era uma pessoa muito difícil, isso encontrava muita ressonância em mim...

A confluência ocorre quando a pessoa não percebe as suas próprias necessidades, emoções e sentimentos, o indivíduo confluente mistura-se com o outro, e não é capaz de

(17)

identificar as suas diferenças. A pessoa não enxerga nenhum limite entre si e o outro, teme o isolamento, aceita decisões de outras pessoas que desagradam a si mesmo, ou seja, ela é verificada quando o indivíduo não pode fazer contato consigo, pois se percebe conectado com o outro, não diferencia o que é seu do outro (Perls 1973; Pinto, 2010; Ribeiro 2009).

Ribeiro (2007), afirma que a confluência como ajustamento criativo funcional, é estar em estado de fluidez, de disponibilidade para o possível, é o processo pela qual a pessoa percebe o que é seu e o que é do outro, aceita suas diferenças para ser fiel a si mesma, “ama o eu” e “aceita o nós” procura o novo e convive com o velho de maneira mais crítica e inteligente, e o principal, se retira no momento que percebe ou senti que deve sair. Isso é possível quando a pessoa se dá conta de si, de maneira clara, reflexiva, atenta ao que ocorre a sua volta. Conforme é possível perceber nos relatos das entrevistadas:

Denise - Foram várias coisas que me fez querer sair do relacionamento, como estava em terapia, notei que muitas coisas me incomodava e que não iria mudar... Por fim, eu estava muito insatisfeita e infeliz, então decidi colocar um fim em tudo.

Thais - O que me levou a me separar foi o amor próprio, então eu passei por muito tempo em uma relação que hoje eu entendo que era abusiva e já era ruim... Então o que me fez me separar, foi o momento que eu resolvi me priorizar, e que eu me amei e comecei a enxergar perspectivas além das dificuldades.

Bruna- Percebi que meu casamento não acabou por conta daquilo, mas sim, foram várias coisas vieram acontecendo ao longo dos anos, que antes eu deixava passar ... E por isso ele chegou a esse nível, e ai por isso que findou-se.

Santos (2020), afirma que o casamento que se ajusta criativamente pela confluência disfuncional, destaca a perda da identidade/individualidade, pois se sustentava na ideia de que "nós somos um", perdendo a noção do "eu". Quando o "nós" da conjugalidade se rompe, isso pode tornar o processo de separação elaboração do luto ainda mais penoso e difícil de ser atravessado, pois com término, a identidade conjugal precisará ser desfeita, para a possibilidade de reconfiguração de uma nova identidade do “eu”. Assim, o processo de luto decorrente do fim da conjugalidade, sob a ótica da Gestalt-terapia, será manifestada, vivenciada e sentida de forma singular para cada um, conforme será apontado na próxima unidade.

O divórcio como um processo de luto

(18)

casamento. Segundo Caruso (1989, 1988), o rompimento provoca sentimentos diferentes em cada pessoa, cada indivíduo vivenciará a separação de forma e intensidade diferente. No processo de separação, a identidade conjugal, construída no casamento, vai aos poucos se desfazendo, levando os cônjuges a uma redefinição de suas identidades individuais. Ele afirma ainda que, a separação é uma das mais dolorosas experiências pelas quais pode passar o ser humano, é um processo complexo, vivido em diferentes etapas e em diferentes níveis. Mesmo que o divórcio tenha sido desejado, ele envolverá perdas, dores, sofrimentos e consequências para os envolvidos, havendo um luto a ser elaborado (Caruso 1968/1989; Cerveny, 2002; Ducati, 2013; Feres- Carneiro,1998; Travis, 2003).

Conforme será possível perceber nos relatos das entrevistadas:

Denise - Eu fui vivendo. Mas doía tanto essa mudança, eu achava que iria morrer com tanta dor, porque era eu por mim mesma, pela primeira vez. Aos pouquinhos eu fui superando o desgosto. Aos pouquinhos eu fui superando tudo. E me fortalecendo.

Thais - Ah, foi um processo que eu diria bastante doloroso, e que eu diria que vivencie de uma forma bem intensa, profunda e sofrível. Digamos que até hoje estou vivenciando isso, e estou em processo terapêutico, buscando conviver melhor com essa realidade. Então, eu resumiria isso. Sofrido intenso e transformador também.

Bruna - A conclusão de como eu vejo hoje, é triste, dói muito, todo mundo do relacionamento sofre, toda família sofre, você separa duas famílias. Mas eu ainda sou a favor se um não tiver se sentindo bem e já passou do seu limite. Se separe com o intuito de ficar bem. Não acho que seja a primeira alternativa, mas se já tentou de tudo e não teve jeito e se vai se sentir melhor assim então terminar.

A dor vivenciada com a separação é uma reação chamada de ajustamento criativo. Assim, o organismo buscar meios de se ajustar para satisfazer suas necessidades. Esta é a maneira que o indivíduo encontra para interagir com o mundo, a fim de se ajustar ao aliviar seu sofrimento e dor (Perls et al., 1997).

Brown (1980/2001) divide em três fases o processo de divórcio: a primeira compreende o primeiro ano após a separação, conformando um período de caos, confusão e crise; a segunda, o realinhamento, caracteriza-se por ser uma fase de transição, em que as questões econômicas, sociais e extrafamiliares vão sendo reorganizadas entre o segundo e terceiro ano após a separação; e, por fim, a fase da estabilização, na qual se poderia dizer que, com efeito, há uma

(19)

reorganização do sistema familiar.

Conforme é possível perceber na fala de Bruna: “Depois da separação eu passei 1 ano em modo de sobrevivência, adaptação da rotina e ajustes financeiros, então eu simplesmente passei, e acho que passei com maestria resgatando de uma forma muito digna sabe. Senti a sensação de um baque e nem sei como passei por tudo isso. Outras relações que tive que abrir mão, para ter energia conseguir passar pela separação, comecei olhar para os meus papéis. Passou uma Tsunami na minha vida e eu tinha que arrumar a casa. Porque estava tudo cheio de lama e bagunça e hoje eu estou arrumando a minha casa.”

Segundo Maldonado (1995), a dor da separação envolve estados emocionais e psíquicos, que podem ser fisicamente sentidos, como é possível comprovar na fala de Thais:

“Acabei de descobrir que estou entrando em um quadro deprimido, e de acordo com o psiquiatra foi por isso, passei por um evento de estremo estresse que desestabilizou meus neurônios e estou hoje em um modo de defesa extremo com tudo na vida... E sei que isso é uma onda ainda decorrente do divórcio, por isso ele tem um papel muito marcante na minha vida, ele não foi um evento pontual parado no tempo, ele está vivo ainda e eu tenho que conviver com meu divórcio até hoje, conviver com a relação com o pai da minha filha, conviver com a guarda compartilhada dela, conviver com os estereótipos, conviver com esse desajuste que deixa minha vida um pouco disfuncional ainda.”

Segundo Perls (1973), quando o organismo se sente incapaz de satisfazer suas necessidades e se mantém em uma condição de desequilíbrio por muito tempo, isso pode significar que o organismo está doente e interrompido em seu funcionamento. Dessa maneira, o adoecimento surge por meio da interrupção do ciclo espontâneo da autorregulação, impedindo o indivíduo de buscar formas eficazes para satisfazer suas necessidades urgentes.

Pela ótica da Gestalt-terapia, o luto deve ser entendido como um momento de crise, um processo em busca de fechamento, de cicatrização, de sobrevivência e de recomeço, que precisa ser compreendido como um processo de ajustamento que cada indivíduo vivência de maneira singular (Fukumitsu, 2013). O luto deve ser considerado uma experiência de vida singular digna de cuidado e respeito (Sousa, 2016). Assim, o processo psicoterápico pode ser um meio frente a dor sentida pela separação, de forma que possa aliviar as dores e o sofrimento, elaborando e se reorganizando (Ducati, 2013).

(20)

Essa categoria mostra como o processo psicoterápico ajudou as entrevistadas a desenvolverem o autossuporte. Perls (1973) afirma que o objetivo da Gestalt-terapia é a maturidade, com a transição do suporte ambiental para o autossuporte, ao levar a pessoa adquirir capacidade de mobilizar recursos internos, para criar situações novas quando elas se fazem necessárias, visto que a Gestalt-terapia acredita em mudanças naturais e espontâneas por meio do contato e da awareness que abrangem aceitação, escolha e responsabilidade (Andrade, 2019).

Segundo Ribeiro (1985), a Gestalt-terapia visa ao desenvolvimento pessoal e social do indivíduo por meio da ampliação da sua percepção pessoal do sentir e do viver. A Gestalt se apresenta não apenas como uma terapia, mas sim, como uma concepção de vida: trabalhando a consciência da pessoa, suas experiências no aqui-agora e avaliando a melhor forma de solucionar a questão (Stevens, 1977).

O cliente a partir das trocas ocorridas no espaço terapêutico, tem a oportunidade de verbalizar seus pensamentos, sentimentos e sensações para outra pessoa. A atmosfera do espaço terapêutico e a presença do terapeuta constituem-se em um espaço experiencial e experimental no qual o cliente começa a contar suas histórias; é na segurança da intimidade e na confiança que ele consegue enxergar novas possibilidades (Juliano, 1999; Hycner, 1995; Zinker, 2001).

Veja nos relatos:

Denise – Na terapia entendi, que eu não queria salvar aquela relação, na verdade eu só estava com medo de dar um fim nela. Então o processo terapêutico foi essencial para mim.Eu ter a consciência que a terapia é o caminho pra se fortalecer e não ter o medo como um mantedor de casamento, pra mim um casamento que é mantido somente pelo medo, ele já fracassou. A terapia como uma solução imediata para um problema grave.

Bruna - O mais importante foi ver o que queria, eu nunca na minha vida antes do processo terapêutico dei importância para o que eu queria. E nem sabia o que era isso, eu só fazia o que eu devia o que eu precisava. Eu cheguei falando eu preciso salvar esse casamento, eu preciso ficar em ordem e resgatar o que eu sinto por esse homem, até que o desenrolar do tempo vi que não.

Thais - Então a terapia me ajudou a entender e valorizar o que eu quero e não quero, valorizar e respeitar isso. E a partir daí me fortalecer pois haveria daí consequências

(21)

reais e dramáticas, mulher divorciada com filha pequena, com pouca carga horária de trabalho, eu sabia que eu enfrentaria uma tsunami. Eu estava em dúvida, quando eu vi que eu estava disposta a enfrentar aquilo a terapia só me ajudou a me dar força mesmo, lidar com meus próprios estereótipos, e me ajudou bastante.

A medida que o cliente vai se sentindo suportado, confirmado e legitimado, o que lhe possibilita começar a se reconhecer, a se auto apreciar, a se permitir experienciar, a se autossuportar. Quando o cliente é confirmado em suas verdades, ele se abre com maior facilidade para aproximar-se de si mesmo, como ele é.

Thais - Antes eu estava bastante insegura, fragilizada e eu vivia em constante medo das coisas, eu me sentia realmente uma pessoa indigna de ter uma relação extraordinária. E hoje eu tenho clareza melhor sobre isso, sobre minhas forças, coragem, potencialidades, o que eu mereço e não mereço. E eu transponho isso para minhas outras relações também. Então basicamente é isso.

Denise - O que mais dói para mim, é saber que minha mudança e minha evolução dependem de mim. Então isso me dá um poder, mas me dá aquela responsabilidade enorme. Então eu acho que eu sofro mais que outras pessoas, comparando uma amiga que não faz terapia, porque vejo que tenho mais consciência, consciência implica isso né. As vezes gostaria de ser menos consciente das coisas.

Bruna - Na terapia em comum acordo na conversa, eu lembro dele, da sensação de como eu era quando eu estava com ele, então não é a falta dele, é falta de mim, daquele jeito de ser espontânea, de ser eu mesma, eu fico lembrando desses momentos com ele, porque ele foi minha última referência desses momentos.

A psicoterapia na abordagem gestáltica consiste em promover a awareness, é, a conscientização ou dar-se conta, ao que acontece no momento presente consigo, tanto a nível corporal, emocional e mental, experienciando e selecionando suas melhores possibilidades de ação. (Ferreira, 2009; Frazão,1999; Zinker, 2001). O contato é o sangue vital do crescimento e a experiencia que se tem do mundo, é através dele que se permite alcançar a awareness, o contato é essencial na busca de sentido na vida de cada cliente (Ferreira, 2009).

Andrade, (2019) afirma que é através do autossuporte que a pessoa consegue estabelecer contato, está relacionado com o potencial do próprio indivíduo, à independência pessoal e ao desenvolvimento. Ele vem acompanhado de autoconhecimento e autoaceitação,

(22)

no qual, a pessoa se conhece, reconhece suas experiências, assume seus comportamentos, necessidades capacidades e incapacidades, do momento. Silveira (1998), complementa, que o autossuporte orienta o indivíduo na escolha da atitude mais adequada em determinada situação, a fim de que essa mesma situação seja recriada e ressignificada. Como será possível comprovar na próxima unidade.

Ressignificação do divórcio e liberdade de ser

Essa categoria que representa as mudanças que elas fizeram para ressignificar seu modo de ser e olhar para o divórcio, bem como a liberdade que encontraram para serem elas mesmas, com vontades próprias e responsabilizando-se pelo seu existir.

Para Rodrigues (2000) a Gestalt-terapia entende o ser humano como um ser individualizado, capaz de encontrar a saída mais satisfatória para as dificuldades que são apresentadas a este indivíduo, e não existem saídas certas e/ou erradas, visto que depende de como a dificuldade se apresenta ao indivíduo e de como este indivíduo reage a tal dificuldade. Cavanellas (2001) afirma que o divórcio pode ser lugar de partida, de se repensar na vida, de entrar em contato consigo mesmo e ampliar seus limites emocionais e intelectuais. Segundo Schettini (2000) a perda pode trazer alívio por sair de uma relação que não era mais prazerosa, pode ser momento de ampliar sua visão e construir novos planos, tais perdas podem ser alívio que leva a visões mais amplas e profundas da vida. No entanto, afirma que essa vivência da perda como ganho, só é possível depois de ter passado o momento de dor intensa pela ruptura do relacionamento.

Souza e Ramires (2006) afirmam que o período envolve tensão e sofrimento, passada a crise inicial, os ex-cônjuges tendem a apreciar a sua liberdade e sentimentos de autovalorização e autonomia. A separação pode ser vista como nova oportunidade de recomeçar a vida (Wagner & Feres-Carneiro, 2000). Conforme é possível perceber em seus relatos:

Bruna - Olha hoje eu olho para traz e ainda me questiono como eu consegui passar por aquilo, então eu olho ainda para algumas questões, do tipo, como eu tive coragem, como eu tive força, é ainda me olho com pouco de julgamento, mas acima de tudo, diferente de antes, que eu olho com convicção de que foi a melhor decisão da minha vida, então hoje eu olho com orgulho disso que aconteceu. E ainda questiono né, o processo mesmo, como eu consegui superar isso, então digamos que é um misto de orgulho e questionamentos.

Denise - Olha, vejo muita coisa diferente na minha vida, muita coisa melhorou, e se eu estivesse lá acomodada, eu não teria conquistado tudo que conquistei hoje.

(23)

Thais- Marco importantíssimo, uma vitória e volto a dizer, um motivo de orgulho para mim. É assim que eu ressignifico hoje, foi uma conquista, grandiosa em busca da minha reconexão com o que eu sou... Hoje eu estou vivendo uma vida muito extraordinária, pq a minha paixão que te falei no início se concretizou após que nos divorciamos, e é a coisa mais extraordinária da minha vida. Eu nunca imaginei viver uma relação como está que estou vivendo, hoje digamos que tenho a família perfeita.

Andrade (2019) acredita que à medida que o cliente vai se sentindo suportado, confirmado, legitimado em suas verdades, ele se abre com maior facilidade para aproximar-se de si mesmo, reconhecendo tal como ele é, o que lhe possibilita começar a se reconhecer, a se auto apreciar, a se permitir experienciar, a se autossuportar. A Gestalt-terapia trabalha com o potencial positivo e criativo do sujeito a fim de fortalecê-lo para que este possa entrar em contato com aquilo que o aflige, para poder agir, pensar e se comunicar de maneira saudável (Silva & Alencar, 2011; Ribeiro, 2012).

Buscar a clareza a cerca de quem se é, do que deseja, das possibilidades e limitações, oferece ao cliente a sensação de estar mais forte para mudar. A psicoterapia ajuda a pessoa aproximar de suas verdades e evidenciar suas singularidades. Através do auxílio do terapeuta, que tem a tarefa de ajudar o cliente a reconhecer suas vontades, reconhecer suas forças, fraquezas, coragem, potencialidades e merecimento (Ribeiro, 1985).

Ressignificar, conforme Ferreira (2015) é dar novo significado de algo ou de alguém. Para Da Silva (2004), é dar um sentido diferente a alguma coisa ou situação. Uma vez que, de acordo com a Gestalt-Terapia, o ser humano possui potencial para crescer com tudo que ele se propõe a experimentar. A mudança está ligada diretamente a criatividade (Silveira, 2005). Assim, Zinker (1979), aponta a psicoterapia como meio de favorecer a criatividade e a saúde.

Na perspectiva da Gestalt terapia, a pessoa tem capacidade de escolha e condições para perceber a saída mais satisfatória para enfrentar as adversidades da vida (Dantas, 2011). Quando o indivíduo consegue integrar suas partes, seus sentimentos, desejos, dificuldades e ações, percebendo a realidade a partir do todo, torna-se mais autoconsciente (Stevens, 1977). Como é possível perceber nos relatos:

Thais - Eu vi após o término, que sou capaz de muita coisa que eu não achava que eu era. E assim eu vejo como muita coisa positiva. Eu resolvi me priorizar, e que eu me amei e comecei a enxergar perspectivas além das dificuldades.

(24)

Denise - Consegui arrumar um emprego rápido, passei a trabalhar tempo integral que aí já aumentou minha renda e me deu uma segurança, consegui, que eu achei uma coisa que iria me dar muito medo que era a questão financeira e estabilidade, mas eu não senti isso em nenhum momento.

Bruna - E com o passar dos meses que eu conseguia fazer tudo, que meu trabalho tava indo bem, meu filho tava indo bem, que minha vida tava bem mais tranquilla, que eu vivia muito mais em paz, e ai eu fui me mostrando que eu do conta de fazer o que eu quiser fazer, eu do conta de ter o que eu quiser ter, e que não preciso dele. Então eu vejo que eu consigo tudo que eu planejar indo atrás, que eu consiga fazer as coisas estando sozinha ou com alguém.

Para Sartre (2007), o homem não pode fugir de sua liberdade. O indivíduo ao procurar se compreender e se conhecer, cuida da sua existência, se descobre na relação com o outro, constrói seu mundo, responsabilizando-se por si próprio e pelo seu projeto, desta forma cada existência é única. Ao decidir sobre a própria vida, o homem exerce a sua liberdade e é responsável pelas suas escolhas. Liberdade é poder ressignificar aquilo que te aconteceu.

Considerações Finais

Este trabalho teve como objetivo compreender como mulheres vivenciaram o processo de divórcio no contexto da psicoterapia na abordagem da Gestalt-terapia. Foi possível observar mediante os resultados das repercussões na vida das entrevistadas quatro categorias: Da confluência à retirada: a decisão do divórcio; O divórcio como um processo de luto; Processo terapêutico como forma de desenvolvimento do autossuporte e Ressignificação do divórcio e liberdade de ser. Essas categorias demonstraram como cada uma a seu modo, fez a ressignificação deste momento em sua vida, buscou formas de vencer suas dificuldades e se desenvolveu.

Foi possível perceber o sofrimento que foi vivenciado por todas, cada uma em sua singularidade vivenciou o processo do seu modo. Foi possível perceber ainda que a psicoterapia foi fundamental para elas, como processo de apoio em suas tomadas de decisões, resgate de suas individualidades e possibilidade de gerar novas perspectivas. Por meio do contato e da tomada de consciência, as participantes tiveram a possibilidade de olhar para sua história, com responsabilidade e empoderamento. A Gestalt-terapia veio como um suporte para que elas ampliassem o contato consigo mesmas, com o outro e com o mundo, como possibilidade de

(25)

ressignificação, tornando-se conscientes de suas necessidades, sendo capaz de descobrir suas potencialidades, seus limites, e enxergar perspectivas para além das dificuldades.

Este trabalho buscou abrir caminhos de reflexão, conhecimento sobre o tema divórcio e possibilitou uma maior compreensão sobre essa experiência da perda amorosa, enquanto grande demanda contemporaneidade. Este estudo pode contribuir e constitui uma importante temática para a prática clínica, pois aproxima o profissional da realidade vivida por essas pessoas e ao conhecer mais sobre o sofrimento e dores que as cerca, pode ajudar os profissionais a pensarem em novas formas de intervenções, sendo possível ajudar os clientes a passar por esse momento da vida da melhor forma que for possível para eles.

Como limitações do trabalho elencam-se ter entrevistado somente um dos cônjuges e a ausência de uma discussão sob a perspectiva dos papéis de gênero. Sugerem-se mais estudos que envolvam ambos os cônjuges e uma discussão mais aprofundada sobre o papel de gênero da mulher e a influência no funcionamento confluente do casal.

Referências

Ahrons, C. R. (1980). Redefining the divorced family: A conceptual framework for postdivorce family system reorganization. Social Work, 25, 437-441.

Andrade, C. C. (2014). Autossuporte e heterossuporte. In Frazão, L. M. & Fukumitsu, K. O. (Org.), Conceitos Fundamentais (147-162). São Paulo: Summus. p 148.

Andrade, C.C. (2019). Sentidos da psicoterapia: teoria e prática da Gestalt-terapia./Curitiba:Juruá. p162.

Augras. M. (2009). O ser da compreensão: fenomenologia da situação de psicodiagnóstico. (13ª ed.) Petrópolis: Vozes.

Bauman, Z. (2004). Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Brown, F. H. (2001). A família pós-divórcio (M. A. V. Veronese,Trad.). In B. Carter McGoldrick (Eds.), As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura para a terapia familiar (pp. 321-343). Porto Alegre, RS: Artmed. (Original publicado em 1980).

Cardella, B. H. P. (2009). Laços e Nós: amor e intimidade nas relações humanas. São Paulo: Agora.

Cardella, B. H. P. (2014). Ajustamento criativo e hierarquia de valores ou necessidades. In Frazão, L. M. & Fukumitsu, K. O. (Org.), Conceitos Fundamentais (pp.104-130). São Paulo: Summus.

(26)

Caruso, I. (1989). A separação dos amantes, uma fenomenologia da morte. São Paulo: Diadorim Cortez. (Originalmente publicado em 1968).

Castells, M., & Espanha, R. (2007). A era da informação: economia, sociedade e cultura (Vol.1). Fundação Calouste Gulbenkian. Serviço de Educação e Bolsas.

Cavanellas, L. B. (2001) A dor: ligação existencial entre o terapeuta e cliente. Revista de Gestalt 10: 25-29.

Caillé, P. (1991). Un et un font trois - Le couple révélé à lui-même. Paris: ESF.

Cerveny, C. M. O. (2002). Pensando a família sistemicamente. In C. M. O. Cerveny & C. M. E. Berthoud (Eds.), Visitando a família ao longo do ciclo vital (pp. 15-28). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.

Costa, C. A. Q. (2005). Três modos da experiência de" ser-com" e" ser-si-mesmo" em situação conjugal: um estudo exploratório.

Costa, G. P. (1997). Conflitos da vida real. Porto Alegre: Artes Médicas. Da Silva B. F. (2004). Dicionário UNESP do português contemporâneo. Unesp

Dantas, M. F. (2011) – A Gestalt-Terapia diante do amor nas relações afetivas /Revista IGT na Rede, V.8, Nº14, 2011, Página 54 de 55. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs/ ISSN 1807-2526 heterossexuais.

Diniz, G. R. S. (1999). Homens e mulheres frente à interação casamento-trabalho: Aspectos da realidade brasileira. Em T. Féres-Carneiro (Org.), Casal e família: Entre a tradição e a transformação [pp. 39-53]. Rio de Janeiro.

Falceto & Valdemar, 2011). Manual de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artmed, 2011, v. II, p. 151-165. FALCETO, O. G.; Waldemar, J. O. C.

Feres-Carneiro, T. (1997). A escolha amorosa e interação conjugal na heterossexualidade e na homossexualidade. Psicologia: Reflexão e Crítica, 10(2), 351-368.

Feres-Carneiro, T. (1998). Casamento contemporâneo: o difícil convívio da individualidade com a conjugalidade. Psicologia: Reflexão e Crítica. 11(2),0. [fecha de Consulta 21 de

junho de 2021]. ISSN: 0102-7972. Disponible en:

https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=188/18811214

Feres-Carneiro, T. (2003). Separação: O doloroso processo de dissolução da conjugalidade. Estudos de Psicologia (Natal), 8(3), 367-374.

Ferreira, A. B. H.(2015) Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Disponível em http://www.dicionariodoaurelio.com/ressignificar

Frazão, L. M. (2015). Compreensão clínica em Gestalt-Terapia: pensamento diagnóstico processual e ajustamentos criativos funcionais e disfuncionais. In Frazão, L. M. &

(27)

Fukumitsu, K. O (Org.), A clínica, a relação terapêutica e o manejo em Gestalt-terapia (pp.83-102). São Paulo: Summus.

Frazão. L. M. A (1999).compreensão do funcionamento saudável e não saudável a serviço do pensamento diagnóstico processual em gestalt-terapia. Palestra proferida no I Encontro de Psicologia Humanista do interior Paulista. São Paulo, 1999.

Fukumitsu, K.O. (2013) perdas no desenvolvimento humano: um estudo fenomenologico.2.ed.rev.São Paulo: Digital Publish & Print.

Garcia, M. L. T. & TESSARA, E. T. O. Estratégias de enfrentamento do cotidiano conjugal. Psicologia: reflexão e crítica, 14 (2) ,2001. p.635-642

Ginger, s. & Ginger, A. (1995). Gestalt: uma terapia de contato. São Paulo, Summus.

Giorgi, A., & Sousa, D. (2010). Método fenomenológico de investigação em psicologia. Lisboa: Fim de século, 73-91.

Grzybowski, L. S. (2007). O envolvimento parental após a separação/divórcio. Porto Alegre: PUCRS.

Hetherington, E. M. (1991). The role of individual differences and family relationships in children’s coping with divorce and remarriage. In P. A. Cowan & M. Hetherington (Eds.) Family transitions (pp. 165-194). Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum

Holanda, A. F. (1999). Sobre o Diálogo e o Dialógico. In Boletim de GestaltTerapia, Uberlândia, (46) 7, 06-08.

Hycner, R. & Jacobs, L. (1997). Relação e cura em Gestalt-terapia. (E. Plass & M. Portella, trad.). São Paulo: Summus.

Hycner, R. (1995). De pessoa a pessoa: psicoterapia dialógica. São Paulo: Summus,

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatística do Registro Civil 2018; Rio de Janeiro: IBGE, 2019.

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/135/rc_2018_v45_informativo.pdf Juliano, J. C. (1999). A arte de restaurar histórias. São Paulo: Summus Editorial.

Loffredo, A. M. (1994). A cara e o rosto: ensaio sobre Gestalt terapia. São Paulo: Escuta. Magalhães, A. S. (1993). Individualismo e conjugalidade: Um estudo sobre o casamento

contemporâneo. Dissertação de Mestrado não-publicada, Pontifícia Universidade do Rio deJaneiro, RJ.

Maldonado, M. T. Casamento: Término e Reconstrução. São Paulo: Saraiva, 1995.

Miller, M. V. (1995). Terrorismo íntimo: a deterioração da vida erótica. Rio de Janeiro: Francisco Alves.

Referências

Documentos relacionados

Encha a garrafa até um pouco abaixo do nível desejado e feche o canal de drenagem girando a válvula de controle de fluxo no sentido horário até que ela pare.. CRAFTAP 3 | Breve

A garantia não se aplicará nos casos de: Usos incorretos da máquina; Danos provocados por acidentes; Desgastes normais de uso; Avarias provocadas por descuido de transporte

valores de prova (p), comparando as temperaturas médias da pele em diferentes momentos (antes, imediatamente após, 5 e 10 minutos após) para cada uma das técnicas (dry

De acordo com a Amazônia Brasil Rádio Web este protocolo tem como objetivo geral “(...) garantir a justa repartição de benefícios com comunidades tradicionais no uso

Quando se viu que este mecanismo não era trivial, deixou-se para negociá-lo mais adiante, o que permitiu a aprovação do Protocolo na Conferência das Partes (COP-10) da

Incentivando quanto a produção acadêmica e aos estudos em grupo (ABF 76, 2019). A relação de produção do conhecimento, tendo como fundamento, a ideia de que este é construído,

4.9.3 O relatório das atividades prestadas mensalmente por Brigadas de Incêndio em edificações deve conter: os sistemas de proteção contra incêndio e pânico,

Despedir-se da equipa de arbitragem, dos clubes, do Delegado da Federação e ou o observador, mantendo-se disponível para qualquer contacto até ao abandono da