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Custo de inativo nos Estados supera 30% da folha

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Custo de inativo nos Estados supera 30%

da folha

Por Marta Watanabe e Tainara Machado | De São Paulo

O avanço da despesa com inativos deve dificultar para os Estados o cumprimento do limite de crescimento de gastos estabelecido como contrapartida à renegociação das dívidas estaduais no Projeto de Lei Complementar (PLP) 257, que ainda depende de aprovação no Senado.

Nos 12 meses encerrados em agosto, o gasto dos Estados com aposentados e pensionistas representou 30,6% da despesa bruta com a folha, alta de quase quatro pontos em relação aos 26,8% observados no mesmo período de 2012. Dentre os 26 Estados que já têm dados publicados para o período, o gasto com inativos aumentou em 21, o que significa que as despesas com aposentadorias sobem mais rápido do que aquelas feitas com funcionários em atividade.

Em 11 Estados, o avanço foi maior que a média de quatro pontos percentuais como proporção da despesa bruta de pessoal. A avaliação de economistas e de secretários de Fazenda é que essa tendência deve se manter no curto e médio prazos e irá tirar margem de manobra para cortar gastos com pessoal, já que o ajuste pode ser feito somente sobre os funcionários em atividade. A reposição de funcionário também fica cada vez mais difícil, comprometendo a prestação de serviços públicos essenciais, como segurança.

Em sete Estados, o gasto com inativos representa 40% ou mais da despesa total de pessoal. Isso significa que o ajuste de folha de pagamentos tem que acontecer sobre uma parcela cada vez menor da despesa. O PLP 257 estabelece que a despesa corrente dos Estados, que inclui pessoal, deve acompanhar a inflação nos próximos dois anos, sem alta real.

Os números se referem ao Poder Executivo e foram extraídos dos relatórios fiscais apresentados pelos Estados ao Tesouro. Levou-se em conta as despesas liquidadas como proporção da despesa bruta de pessoal.

Mesmo nos Estados em que os inativos perderam participação, a situação é complicada. No Rio de Janeiro, segundo relatório do segundo quadrimestre de 2016, a despesa com inativos representou 45,3% do gasto bruto de pessoal, uma queda em relação a 2012 (46,6%). Guilherme Mercês, economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), destaca, porém, que isso se deveu mais à forte alta da despesa com

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servidores ativos (15%, em termos reais, entre 2012 e 2015) do que à moderação no gasto com inativos.

José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), ressalta que gastos cada vez maiores com aposentados significam um espaço reduzido para ajuste em folha. Isso, diz ele, não foi previsto na época da elaboração da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Quando um governo fica

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desenquadrado, o ajuste determinado pela lei se dá apenas em cima dos ativos, ou seja, o corte de cargos e demissões de funcionários, inclusive de concursados.

Ouando os Estados atingirem o teto de despesas com folha permitido pela LRF, diz Afonso, o corte de gastos não poderá ser feito sobre toda a base de despesas. O limite máximo previsto pela LRF é de 49% da receita corrente líquida (RCL) para o Executivo e de 60% quando se olha para o consolidado, incluindo os demais Poderes.

No caso de um Estado em que a folha do Executivo chegue a 50% das receitas e que os inativos representam 40% desse gasto, por exemplo, o ajuste poderá ser feito somente sobre as despesas equivalentes a 30% da RCL. Isso porque 20% da receita continuará comprometida com o pagamento de aposentadorias e pensões.

Na maioria dos Estados, parte significativa das receitas já está comprometida com a despesa de folha como um todo. Com base nos dados do Poder Executivo, de 26 unidades federadas, 22 já romperam algum dos limites estabelecidos pela LRF. Apenas quatro - Amapá, Ceará, Espírito Santo e Maranhão - ainda estão abaixo do limite de alerta para despesas com folha, de 44,1% da RCL.

No Rio Grande do Sul, a despesa com inativos já é de 61,3% do total da folha. O subsecretário do Tesouro, Leonardo Busatto, diz que 85% dos servidores estaduais possuem regime especial de previdência, com tempo menor de contribuição, caso de professores e policiais militares, o que agrava a situação. No ano passado, o Estado regulamentou o regime complementar de aposentadorias, mas isso só afetará as contas de forma significativa no longo prazo, afirma.

Diante das fortes restrições financeiras que o Rio Grande do Sul enfrenta (ver

reportagem abaixo), o Estado não tem conseguido repor os funcionários que se

aposentam. Em 2015, foram 7.139 aposentadorias, mas o Estado contratou apenas 579 servidores. "O que afeta diretamente a prestação de serviços do Estado na área de segurança e saúde", diz Busatto..

Helvécio Magalhães, secretário de Planejamento e Gestão de Minas Gerais, conta que também está limitando a reposição de funcionários ao estritamente necessário,

priorizando educação, saúde e segurança, "para não armar mais essa bomba relógio". Segundo ele, já há mais funcionários aposentados do que na ativa no Estado. Como proporção do gasto, os aposentados representam 45,3% da despesa bruta de pessoal e esse percentual deve continuar crescendo.

Para Mauro Ricardo, secretário de Fazenda do Paraná, um conjunto de fatores tem acelerado o crescimento das aposentadorias nos Estados. Além dos regimes especiais, as promoções e progressões de salário no fim de carreira aumentam o valor da

aposentadoria, sem que o funcionário tenha feito contribuição semelhante ao longo da carreira. Para ele, a situação dos Estados torna a reforma previdenciária uma questão ainda mais urgente.

Há receio, porém, de que a iminência de uma reforma previdenciária pressione mais a despesa com aposentados e pensionistas. O secretário de Fazenda do Alagoas, George Santoro, conta que no Estado 20% da mão de obra ativa é elegível para se aposentar. Os funcionários recebem benefícios para permanecer na ativa, mas uma reforma

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previdenciária pode não manter esses benefícios no período de transição e estimular os pedidos de aposentadoria.

Para Santoro, o gasto previdenciário cada vez maior é um problema sem solução no curto prazo. Em Alagoas, os gastos com folha no Executivo atingiram 48,4% das

receitas no segundo quadrimestre e os aposentados e pensionistas contribuíram de forma significativa para o aumento dessa despesa. O desembolso com inativos cresceu de 21,7% para 33,8% do gasto bruto de pessoal nos últimos quatro anos.

Ele conta que o Estado chegou a fazer uma segregação de massa com os funcionários mais novos, com a criação de um fundo, mas isso somente surtirá efeito para os inativos no prazo mais longo. "Esse é um problema da maioria dos Estados, onde predomina o grupo de servidores mais maduros e mais próximos da aposentadoria." À medida que os funcionários se aposentam, diminui o espaço para contratações e reajuste de salários.

José Roberto de Moraes, diretor-presidente da São Paulo Previdência (SPPrev), que administra as aposentadorias dos servidores do regime próprio, diz que 32 mil funcionários do Estado estão aptos para requerer o benefício. Um movimento de

antecipação aumentaria o ritmo de crescimento dos inativos. Anualmente, se aposentam no Estado entre 17 mil e 18 mil servidores.

Para Mercês, da Firjan, além da reforma das regras gerais da Previdência, cada Estado vai ter que rediscutir suas regras próprias, especialmente o valor de contribuição do servidor.

Suplementação para cobrir o déficit pode

atingir 17% da receita em 2020

Por Marta Watanabe | De São Paulo

Sol Garson: entre 2010 e 2015, gasto com inativos nos municípios cresceu 51,9%; despesa com pessoal teve alta de 31,2%

A suplementação que os Estados são obrigados a fazer para cobrir os gastos com

inativos, sem contar a contribuição patronal, foi equivalente a 11,7% da receita corrente líquida (RCL) em 2015. Em 2020, mesmo num cenário otimista, considerando que a receita cresça 1,5% ao ano em termos reais, essa suplementação aumentará para 17%.

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Os dados foram levantados por Leonardo Rolim, ex-secretário de Previdência Social e consultor da Câmara dos Deputados, com base nos relatórios fiscais dos Estados. "A situação da previdência dos Estados é quase tão difícil quanto à da União, sobre a qual pesam principalmente o regime geral e as aposentadorias dos militares."

Nas prefeituras também chama a atenção o crescimento da despesa com inativos. Segundo levantamento da economista Sol Garson para o Portal Meu Município, os desembolsos com inativos e pensionistas das prefeituras somaram R$ 26,6 bilhões em 2015, o que representou crescimento de 51,9% em termos reais em relação a 2010.

Nesse período de cinco anos, a despesa de pessoal aumentou em 31,2%. No período mais recente, de 2014 para 2015, o crescimento fica mais evidente. Enquanto as

despesas com inativos cresceram 4,1%, a despesa de pessoal avançou 0,7% e a despesa total recuou 2,3%, já sob o efeito do aperto de receitas que também afetou as receitas dos municípios, principalmente os mais dependentes dos repasses obrigatórios. As variações são sempre reais, com atualização pelo IPCA médio e levam em conta dados de 3.640 municípios, dentre 5.568 existentes no ano passado.

O acelerado crescimento das despesas previdenciárias, diz Sol, foi a tônica dos municípios em todas as faixas de população, o que, na avaliação dela, exige um olhar mais atento sobre a previdência municipal.

Diversamente dos Estados, as prefeituras têm superávit financeiro na área

previdenciária, lembra Rolim. Segundo ele, isso acontece porque, com exceção de capitais e grandes municípios, há número relativamente menor de inativos nas prefeituras. Por isso os fundos dos regimes próprios ainda têm mais contribuições a receber do que despesas a pagar com aposentados. Enquanto a relação entre servidores ativos e funcionários aposentados mais pensionistas é de 1,4 nos Estados, nas capitais é 2,2 e nos demais municípios, 4,6.

O substancial montante de receitas de valores mobiliários do regime próprio também é um indicativo disso. Na base de 3.360 municípios, esses rendimentos somaram R$ 6,9 bilhões em 2015, com alta real de 48,5% desde 2010. De 2014 para 2015, rubrica subiu 20,2% enquanto as receitas totais recuaram 2,3%, em termos reais. Esses recursos, diz Sol, são normalmente usados para cobrir pagamentos com pessoal inativo.

"Há, no entanto, municípios, principalmente de constituição recente, em que os

pagamentos a inativos ainda são muito reduzidos e os recursos se acumulam, aplicados pelos respectivos fundos previdenciários, cabendo reforçar a capacidade de gestão do segmento", afirma a economista.

Em alguns anos, diz Sol, os servidores que hoje contribuem passarão a se aposentar. "Como trata-se de administração de recursos complexa e de longo prazo, é preciso garantir a boa gestão dos fundos principalmente nos pequenos municípios."

Um dado que preocupa bastante os analistas é a quantidade expressiva de entes federados sem o Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP), documento que atesta o cumprimento de obrigações formais - envio de documentos ao Ministério da Previdência, por exemplo - e dos limites de aplicação dos recursos dos fundos e a regularidade em relação a pagamentos e cálculos atuariais.

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Dos 5.597 municípios existentes hoje, 2.095 possuem regime próprio para gerir os pagamentos de aposentados e pensionistas. Os funcionários das demais prefeituras se aposentam dentro do regime geral da previdência pública e seus benefícios não pesam como despesas para os municípios, explica Sol.

Desses 2.095 municípios, 312 possuem o CRP por decisão judicial e 773 não têm CRP vigente, de acordo com posição de abril deste ano, levantamento mais recente fornecido pelo Ministério da Previdência Social. Ou seja, mais da metade das prefeituras com regime próprio possui alguma pendência que impede a emissão do documento.

Para Rolim, os entes que possuem CRP garantido pelo Judiciário e os que não têm CRP vigente há mais de 90 dias são as situações que costumam ser as mais "problemáticas". Segundo o Ministério da Previdência, dos 712 municípios sem certificado vigente, 405 não têm o documento há mais de 12 meses.

Como há validade nos certificados, explica ele, é comum que entre a expiração de um e a emissão de outro o município fique sem o documento. Mas se a prefeitura está sem o certificado por mais de três meses, diz Rolim, é porque há alguma pendência mais grave. "Se o município está sem o certificado há mais de um ano, provavelmente não tomou iniciativa para solucionar o problema."

Governadores parcelam salários e não

têm reserva para pagar 13º

Por Tainara Machado | De São Paulo

Sem nenhuma reserva em caixa, alguns Estados só estão conseguindo pagar a folha de funcionários com o recolhimento de tributos do mês corrente, o que tem gerado atrasos e parcelamentos cada vez maiores. Com a situação "no limite"- não há recursos

previstos para o pagamento do 13º salário, por exemplo -, os Estados mais endividados, como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, cobram alguma espécie de auxílio do governo federal.

Minas, por exemplo, está pagando os salários em três parcelas desde fevereiro deste ano. O secretário de Planejamento, Helvécio Magalhães, conta que em julho e agosto, meses em que a arrecadação é mais fraca, o pagamento da terceira parte do vencimento dos funcionários só aconteceu no 14º dia útil do mês.

"Estamos usando a receita corrente de ICMS para pagar a folha", afirma Magalhães. Segundo o secretário, quase toda a receita tributária própria, já descontada a

transferência para os municípios, é consumida pela folha de pagamentos. "Não sobra quase nada para custeio."

O Rio de Janeiro suspendeu por 30 dias novas liberações de empenho para pagamento de despesas de manutenção de secretarias e órgãos estaduais. O governador em

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formalizaria o estado de calamidade financeira do Rio, o que afrouxaria parte das restrições impostas pelo descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. O Estado, porém, negou que tenha feito pedido de socorro financeiro à União.

O subsecretário do Tesouro no Rio Grande do Sul, Leonardo Busatto, conta que o Estado também só vai conseguir terminar de pagar a folha no dia 14 deste mês e que não há chance de conseguir pagar o 13º em dia sem ajuda externa.

Guilherme Mercês, economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), afirma que os Estados, que há algum tempo já enfrentam problema de liquidez, começam a ter problemas de solvência.

Em reunião com o presidente Michel Temer na semana passada, os governadores dos Estados do Sudeste e do Sul cobraram ajuda do governo federal. "O Rio Grande do Sul tem pleiteado ajuda da União em função da queda da receita, decorrente do cenário econômico", afirma Busatto, com várias sugestões em discussão, inclusive emissão de títulos

O Estado, diz ele, tem mais de R$ 1 bilhão em restos a pagar referentes a folha de pagamento, atraso de contas com fornecedores e transferências a municípios. Busatto reconhece que a situação da União também é delicada, "mas a diferença é que o governo federal pode emitir títulos e ter déficit, os Estados não".

"Precisamos de um fundo de emergência", afirma Magalhães, de Minas. Segundo ele, a renegociação da dívida foi essencial para o Estado, com um alívio estimado em R$ 3,6 bilhões em 2016. Mesmo assim, diz, a falta de dinheiro em caixa coloca em dúvida o pagamento do 13º dos funcionários.

"O Estado está no limite. O investimento é zero. Estamos tentando não deixar a situação se desorganizar, mas em termos nominais a receita voltou ao nível de 2014, mesmo com aumento de impostos", diz Magalhães.

Os secretários reconhecem, no entanto, que a ajuda só deve vir depois da aprovação da PEC do teto do gasto, a prioridade do governo no momento. (Colaborou Rodrigo Carro, do Rio)

http://www.valor.com.br/brasil/4739641/custo-de-inativo-nos-estados-supera-30-da-folha https://www.pressreader.com/brazil/valor-econ%C3%B4mico/20161010/textview

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