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Exactamente ao contrario, o scriptor moderno nasce ao mesmo tempo

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Academic year: 2022

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1.A autoria em contextos online

Face à multiplicidade de autores que nascem e morrem constantemente no mundo virtual, parece que o autor está cada vez mais próximo do destino a que Barthes o condenou em 1968 no seu ensaio “A morte do autor”. Neste ensaio, Barthes fala do afastamento necessário para que cada texto seja entendido como uma trama, uma tessitura de citações em que o autor perde o papel paternal.

Exactamente ao contrario, o scriptor moderno nasce ao mesmo tempó que o seu texto; nao esta de modo algum provido de um ser quẽ ́ precederia ou excederia a sua escrita, nao e de modo algum o sujeitõ ́ de que o seu livro seria o predicado; nao existe outro tempo para alem̃ ́ do tempo da enunciaçao, e todo o texto e escrito eternamente aqui ẽ ́ agora.

O autor deixa de preceder o texto como seu Deus que tudo pode, criatura omnisciente que olha de cima para baixo para a sua criação. Esquece-se o autor como génio, esquece-se o autor como anterior ao texto que nele encontra a sua expressão. Para Barthes, o acto da escrita não é um acto de expressão de idiossincrasias ou um acto de confissão de uma personalidade pré-existente. O autor inscreve, em lugar de expressar. Barthes define a escrita como um acto linguístico, que se esgota na linguagem. É apenas um jogo, em que um código específico define a forma como podemos jogá-lo.

Estas concepções de Barthes face ao autor são bastante óbvias quando se pensa no fenómeno da autoria em contextos online. Tendo em conta que online muitas vezes o autor não é identificado, poder-se-ia pensar que ele morre no mundo virtual para nascer uma concepção da escrita unificada, por um lado, na sua ausência de criador, mas, ao mesmo tempo, fragmentária pela sua diversidade de temas e modos expressivos. No entanto, o facto de um autor não ser muitas vezes identificado não quer dizer que não exista. Desde meados do século XX que a disciplina da análise de autoria A emergência da filologia concidiu com a procura de processos que permitam distinguir autores com base em critérios inteiramente textuais. Não pretendo enunciar com detalhe a forma como estes estudos se concretizam;

actualmente, ferramentas mecanizadas têm um bom papel nesta análise e recorrem a processos extremamente complexos para definir quais os textos de um grupo que têm um

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autor em comum. Em “A Framework for Authorship Identification of Online Messages(...)”,Rong Zheng, Zan Huang, Jiexun Li e Hsinchun Chen analisam algumas das técnicas empregues nesta análise, utilizadas neste caso para tentar combater a fraude online e alguns esquemas de phishing. A ideia dos autores é que as técnicas de análise de autoria podem servir para identificar autores em situações em que saber quem criou um determinado texto pode impedi-lo de prosseguir a sua actividade criminosa. Isto levanta algumas possibilidades também para as questões de autoria que pretendemos estudar: funções de atribuição e copyright. Embora nem sempre se saiba quem é o autor de um texto com facilidade, isso não quer dizer que este não possa ser descoberto – seja porque este se declara ou porque alguém se deu ao trabalho de tentar descobri-lo.

Existem de facto formas de chegar ao autor de um texto, e este existe sempre. Ainda que possamos mergulhar na ideia de Barthes de que o autor desaparece, empurrado infinitamente para trás da sua obra, o acto da escrita tem sempre um produtor, tem sempre um performer. Acontece que, quando estamos a falar de contextos online, é muito difícil saber quem são os autores da maioria dos conteúdos. Deve-se isto a várias razões. Em primeiro lugar, muitos autores de textos online preferem usar pseudónimos – porque se no mundo editorial existe uma facilidade em descobrir quem é o autor que entregou um texto para publicação, no online há muitas formas de encobrir os nossos rastos. Estas formas de ocultar a nossa identidade não se ficam pelo uso de um pseudónimo – há diversas ferramentas que permitem aos utilizadores publicar conteúdos anonimamente. Além disso, softwares como o bundle Tor1 permitem ao utilizador ocultar o seu endereço IP (IP corresponde a Internet Protocol), ou seja, o código numérico que identifica a sua máquina. O IP é um número gerado a cada ligação de um dispositivo à Internet. Através do IP associado à publicação de um conteúdo, é possível descobrir em que parte do mundo está ligado o dispositivo em causa, qual a empresa de telecomunicações que fornece o acesso, ou até o tipo de ligação de que o utilizador se serve para ter acesso à web. Quando alguém utiliza o sistema Tor, o software simplesmente atribui à máquina em causa um IP falso, que aponta para uma localização totalmente diferente da real e que não permite que o utilizador seja identificado por qualquer pessoa que tenha acesso ao seu número de IP.

Pode parecer estranho que alguém se dê ao trabalho de utilizar um software deste tipo a menos que esteja a cometer algum acto ilegal. Porém, muitas pessoas servem-se do

1 Todos os nomes de softwares citados são-no sob as devidas leis de copyright.

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software apenas para proteger a sua privacidade. Cada vez mais é difícil escapar à vigilância constante que o online permite, e o facto de não querermos ser escutados não quer dizer que o que não queremos que saibam sobre nós é ilegal. Existem muitos motivos para ocultar a nossa actividade online. Esses motivos são diversos, individuais e privados.

Existe ainda um último motivo que penso que é também de especial relevância.

Trata-se da forma como a Internet actualmente se organiza em torno da actividade de partilha.

O boom das redes sociais a partir do ano 2000 levou a que muitos conteúdos perdidos por servidores poeirentos fossem “desenterrados” por pessoas que ou sabiam quem eram os autores mas achavam que essa informação não era relevante, ou queriam realmente ficar com os louros do trabalho que alguém tivera, ou, até, que não faziam a mínima ideia de quem eram os autores do artigo em causa. Esses artigos foram partilhados e começaram a gerar “filhos”, ou melhor, começaram a degenerar em versões variadas das quais actualmente já nem se sabe a origem. As redes sociais favoreceram esta troca e também esta degeneração, e começou a nascer nestas redes de conteúdos uma forma e um conceito de partilha que em nada tem a ver com modos anteriores de autoria colectiva, característicos dos séculos XIX e XX, como o cadavre-exquis. No século XIX e por uma parte do século XX, o autor era visto como uma personagem da qual a individualidade é uma característica essencial. Em oposição a essa forma como se via o autor no final do século XIX e no início do século XX, ou seja, como um génio pleno de individualidade e do qual a escrita é um reflexo simétrico, os utilizadores de redes sociais vêm os autores como entidades sem rosto, sem identidade, sem importância.

Esta concepção do autor aponta então para uma noção de partilha que nas redes sociais torna o acto de partilhar o objecto central; o que importa é a distribuição de conteúdo, manter a comunicação através da partilha de conteúdos que reflectem aquele que os partilha.

Acirculação de informação mantém-se porque é uma fonte de entretenimento fácil para os utilizadores, bem como uma forma de cada utilizador se enaltecer e criar a sua “personagem”

online de acordo com aquilo que partilha. Os conteúdos que nos são partilhados no Facebook são tantos que, mal os lemos, já os esquecemos. Estas trocas de informação acabam por se tornar irrelevantes. Além disso, as redes sociais favorecem uma espécie de coleccionismo em relação às pessoas que adicionamos à nossa rede de contactos. Esta rede em permanente expansão torna-se uma sobrecarga de informação para os seus consumidores. A dificuldade neste momento é filtrar a informação com que somos bombardeados.

As quantidades enormes de informação que são distribuídas contribuem também para

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o apagamento do autor nas redes sociais. Mais do que não saber quem são os autores de um conteúdo que leram, muitas vezes os leitores não querem sequer saber. A informação é digerida e apropriada pelos utilizadores das redes como se fosse sua, pronta a repetir sempre que seja necessário.

Outra das questões em que a autoria online é uma questão particularmente complexa é o facto de na web todos serem produtores de dados. O modelo de distribuição de informação online é, ao contrário do que era habitual até à invenção da web (de um para muitos), um modelo em que muitos são os produtores e muitos são consumidores. A comunicação online, efectivamente, compõe-se de uma série de trocas de dados entre máquinas espalhadas por todo o mundo. Se no mundo editorial existem escritores, editores e leitores, qualquer pessoa pode publicar online o que quer que lhe apeteça exprimir, quer um comentário num jornal online a comentar uma qualquer intriga política, até a um verdadeiro romance publicado em diversas partes num blog. As possibilidades são infindáveis. O facto de qualquer pessoa poder publicar na internet e gerir o seu próprio site contribui para um conceito de autoria ainda mais desconexo. Criar uma reputação online que transcenda o nosso grupo de amigos é muitas vezes difícil. E quando fazemos parte do mundo online somos um elemento ínfimo de uma rede gigantesca. Estar online pode querer dizer que os nossos conteúdos estão disponíveis para todo o mundo aceder; mas isso não quer dizer que um grande número de pessoas encontre os conteúdos em si ou sequer que os queira ler. A maior parte dos autores no mundo online são apenas uma voz ínfima no meio de uma ensurdecedora cacofonia. É importante perceber todas estas condições para se caracterizar o autor online.

Tendo em conta estas características, não admira que o autor online seja um espécime difícil de capturar. Como reconhecer o autor de um texto numa tão grande diversidade de conteúdos? Que tipo de entidade é este autor tantas vezes ignorado?

Dentro desta questão existem vários “graus” de autoria. Quando escrevemos um texto e ele é partilhado por alguém na sua página de Facebook, a pessoa que partilha o artigo é uma espécie de co-autor –mas um co-autor que apenas pode acrescentar o seu comentário ao que está feito e que não teve uma participação no conteúdo inicialmente em causa. . Esta pessoa é a responsável pela partilha e isso dá-lhe uma dose mínima de responsabilidade – além de que o comentário que acompanha o conteúdo pode dar-lhe uma boa parte do seu sentido. Lembro também que diversas marcas e personalidades contratam empresas para gerir as suas páginas de Facebook. Essa função cria uma circunstância interessante: as pessoas que escrevem os

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posts são autores, mas são autores que se ocultam por vontade própria. O objectivo é precisamente ocultar a sua existência, criar conteúdos que se integram na comunicação de forma a que pareça que é a personalidade a falar (no caso de contas de celebridades; quando se tratam de marcas há um fenómeno mais complexo de personificação). Claro que essa actividade se encontra no ramo da publicidade e da comunicação com objectivos comerciais;

mas não deixa de ser produção de conteúdos e escrita de textos e, portanto importante face às questões de autoria discutidas nesta dissertação..

Esta autoria em vários graus funciona dentro da noção de citação como a define Gary Saul Morson em The Words of Others. Segundo Morson, existem vários tipos de citações que se distinguem pela forma como relacionam o autor primeiro e aquele que faz a citação.

Podemos entender que quando alguém partilha um conteúdo online, seja numa rede social, num blog ou num website, está a citar o seu primeiro autor. Mas o facto de se citar alguém torna-nos, como referido acima, também autores numa espécie de autoria de segundo grau.

Quando escolhemos o que partilhar escolhemos aquilo que nos representa enquanto pessoas.

Com o tempo, a nossa participação no mundo online torna-se numa construção em que nos definimos a nós próprios segundo aquilo que partilhamos com os outros. Um perfil online é uma representação de uma pessoa, mas uma representação que tem mais a ver com aquilo que se quer ser do que com aquilo que se é. Ao escolher o que partilhamos, estamos a associar esse conteúdo à nossa personalidade – mas muitas vezes a pessoa que somos online é bastante diferente do papel (ou dos vários papéis) que desempenhamos offline. . É uma questão de perspectiva e de construção. De perspectiva no sentido em que aqueles que nos conhecem apenas online têm uma noção unificada da nossa personalidade, em oposição à situação fragmentária que representa a nossa vida fora do online. Fora da web, somos filhos, estudantes, trabalhadores, coleccionadores, escritores, militantes, o que for. A nossa personalidade desdobra-se em muitos papéis que desempenhamos e que se sobrepõem uns aos outros sem se anular. Na vida virtual, somos apenas uma pessoa com determinados gostos e crenças – e alcançamos uma unidade que oculta aquilo que representamos na sociedade offline. A questão de construção prende-se com a evolução de uma presença online. À medida que acrescentamos conteúdos ao nosso perfil, vamos definindo a forma como cada outra pessoa nos vê pela nossa existência na web.

Muitas pessoas aproveitam essa possibilidade de se auto-construírem para criar alter egos que nada têm a ver com aquilo que essas pessoas fazem na vida offline. Tomemos o

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exemplo de E. L. James, autora do best-seller Fifty Shades of Grey. Offline, a autora é uma respeitável publicitária que trabalha e sustenta a sua família. Online, é uma autora de livros eróticos que são hilariantes pela sua inocência. A construção da série escrita por E. L. James começou online. De início, a história era apenas o que se chama fan fiction: uma história baseada num livro já publicado de qualidade igualmente duvidosa: o romance “Twilight”. A autora baseou as suas personagens nas personagens de um livro já existente e começou a escrever episódios não relacionados com os eventos do livro. E. L. James tinha essa actividade online, totalmente desligada da pessoa que era na vida offline. Mas isso não a impediu de conseguir ser publicada. A vida online tem de facto um forte peso para aquilo que somos e para o resto da nossa existência. É evidente que as vidas online e offline de cada pessoa estão interligadas pelo simples facto de se tratarem de duas facetas da mesma experiência. A nossa participação na vida online, mesmo que não sejamos produtores por si e nos limitemos a partilhar conteúdos em redes sociais, tem impacto no resto da nossa vida. O que defini como duas faces da mesma moeda pressupõe também uma sobreposição de facetas.

As pessoas com quem nos relacionamos saltam do offline para o online e também, muitas vezes, na direcção inversa.

Tendo em conta esta sobreposição entre a vida online e a vida offline, torna-se impossível acreditar que o online não tem importância ou que é apenas uma brincadeira sem consequências. Assim como existem leis que regulamentam a vida offline, também são necessárias leis para a vida online. A condenação de várias pessoas, feita através das leis offline mas referente a crimes cometidos online, mostra que é necessária a regulamentação da web de forma eficaz e perceptível a todos os que frequentam o mundo virtual. Um caso famoso é o de Kim Dotcom, responsável máximo pelo site de partilha de ficheiros MegaUpload, que está ainda a ser julgado por ter favorecido a troca ilegal de ficheiros sob protecção de direitos de autor. Além deste caso, basta pensar no facto de muitos artistas de diversas áreas utilizarem a web como veículo de divulgação dos seus trabalhos.

Embora seja óbvio que este código de conduta só funcionará se houver punições, é essencial para a compreensão do mundo online que se chegue a um entendimento sobre as noções de autoria na web. Sem compreendermos efectivamente a autoria neste âmbito, é impossível tentar tomar medidas sobre o copyright em contextos virtuais. É neste sentido que este trabalho pretende lançar alguma luz sobre questões de autoria e copyright em ambientes web. Defenderei que conteúdos escritos, quer de forma profissional quer amadora, precisam

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de regras que reforcem esta autoria ética e legal.

Penso que por agora já é claro o que se pretende com esta dissertação – escrever um ensaio sobre os códigos necessários para que a comunicação online seja justa e segura.

Obviamente seria impossível acreditar que a criação de regras é suficiente para a sua aplicação em contextos reais – mas este projecto passa também pela criação de medidas por forma a punir comportamentos ilegais online.A ideia é que este trabalho seja efectivamente útil quando se pensa em questões de autoria online – principalmente tendo em conta que a literatura sobre este tema é ainda muito reduzida. As soluções que se colocam neste momento para estas questões pecam por se basear demasiado ou em barreiras criadas pela programação ou em barreiras criadas pela lei. À partida, considero que nenhuma solução eficaz para estes problemas é unilateral ou pode considerar apenas uma forma de resolução. Tendo em conta a multiplicidade das dimensões que se consideram no mundo online, é impossível pensar que seja fácil encontrar uma solução para um problema de tamanha dimensão. Para encontrar uma solução é preciso que esta tenha em conta a forma como se vive online, e a forma como os seus power users se servem da web para fazer dinheiro.. A autoria tem importância em primeiro lugar para aqueles que vivem dos conteúdos que produzem – e se perdem ou não com a cópia dos seus trabalhos que as linguagens da programação online muitas vezes permitem, é uma questão que tenciono deixar em aberto por agora. A primeira nota que deixarei é apenas a de que a noção de propriedade online não coincide totalmente com a propriedade no mundo físico. A razão primária para esta diferença está num simples motivo: o de que quando estamos online o roubo não impede o seu criador de usufruir do conteúdo que criou.

Mas este motivo é um de muitos quando consideramos a autoria online como uma questão conceptual. O que quero dizer com esta explicação é que julgar que a autoria na web é uma questão simples é ficar aquém de dimensões importantes da vida virtual. E mais adiante, a seu tempo, será enunciada a forma como essas dimensões se entrecruzam e se desafiam mutuamente.

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2. Noção de comunidade online e a importância dos memes

Uma comunidade caracteriza-se por duas condições: a existência de um grupo de indivíduos que habitam o mesmo espaço e a sua coesão tendo em conta um consenso espontâneo entre eles sobre várias regras que regem a sua participação. A expressão ‘comunidade online’pode alargar-se para corresponder a um conjunto de utilizadores de uma mesma rede social. Mas mais facilmente uma comunidade se caracteriza por um grupo específico, dentro dessa rede social, que se une num grupo sob um tema que os associa. Um grupo de utilizadores de uma rede social pode ter em comum o gosto pela rede em si – mas são tantas as coisas que os separam em termos de interesse que é difícil considerar que todos os utilizadores de uma rede criam uma comunidade. No entanto, se pensarmos em redes como o Reddit ou o Facebook, estas permitem a criação de grupos (no Facebook) ou fóruns (intitulados de subreddits no primeiro). Dentro desses grupos, a coesão é maior devido à existência de factores comuns, seja gostar de um determinado tipo de música, ou interessar-se por literatura, ou até por um determinado flavor2 de um software específico.

Nessa medida, uma comunidade nunca compreende todos os utilizadores de uma rede, mas apenas os vários utilizadores que se juntam sob um interesse comum dentro da mesma num grupo mais restrito. Se pensarmos no caso do Reddit, cada subreddit pode ser considerado uma comunidade. Os subreddits organizam-se em torno de temas do interesse de todos os participantes – e cada utilizador pode subscrever e participar em todos os subreddits que entender. Assim, cada utilizador do Reddit é parte de diversas comunidades – o que se assemelha à variedade de papéis que cada um de nós representa na sua vida offline. Neste sentido, o Reddit permite uma liberdade enorme face às diversas facetas da vida de cada um. O Facebook também tem comunidades internas que se organizam em torno de grupos ou páginas. As páginas de marcas, que compreendem desde produtos a filmes ou grupos musicais, são um exemplo de comunidades que são criadas pelas marcas que representam e crescem em torno de um interesse comum.

A característica que define estas comunidades é a existência de regras de conduta a que os seus membros obedecem. Quando alguém não obedece a estas regras, cabe aos administradores das páginas ou grupos ou aos outros membros a tarefa de os denunciar, obrigando à sua expulsão. Isto significa que o membro expulso deixa de poder publicar na página em questão ou de votar para promover ou despromover os conteúdos publicados.

Esta noção de comunidade é particularmente relevante para as noções de autoria, no sentido

2 Um flavor é uma determinada versão do sistema operativo Linux. Cada uma destas versões funciona em torno de um design específico, com programas próprios que se cruzam entre flavors que utilizam a mesma linguagem.

Exemplos de flavors de Linux são o Fedora, o Ubuntu ou o Mandriva Ver o artigo

http://www.linux.com/news/software/applications/708977-the-2013-top-7-best-linux-distributions-for-you para uma comparação entre vários flavors ou distributions (sinónimo) de Linux.

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em que as suas regras definem a forma como a comunidade se comporta em relação a questões de copyright. Um exemplo desta relação é a comunidade de utilizadores do site Jumpcut. O Jumpcut é um site que tem por função fazer remixes de vídeos diversos, e que facilita a utilização de um vídeo para fazer novas montagens a partir desse vídeo original. No Jumpcut, existe um botão em cada vídeo que permite ao utilizador guardar o vídeo no seu perfil para mais tarde fazer com ele um remix. O paper “Remixing Authorship: Reconfiguring the Author in Online Video Remix Culture”, de Diakopoulos, Luther, Medynskiy e Essa3, estuda a forma como a comunidade de utilizadores do Jumpcut define as suas noções de autoria. Neste caso, penso que se pode considerar que os utilizadores deste website compõem uma comunidade, tendo em conta a natureza extremamente específica desta rede. No ponto referente à atribuição de vídeos a um determinado autor, os escritores que estudam este website admitem que se trata de uma questão complexa. Em sua opinião, os utilizadores do Jumpcut “had no qualms about using copyrighted video content in their remixes”, e também “were equally confortable with having their work appropriated by others”. Os utilizadores concordam que fazer o upload de um vídeo para a plataforma do Jumpcut coloca esse vídeo no public domain para todas as utilizações possíveis. Diakopoulos et al. chegam à conclusão de que “some users [they] interviewed admitted they enjoy seeing their videos remixed, which involves being attributed on the contributors list for all subsequent remixes.”

Para esta concepção de autoria que os utilizadores do Jumpcut têm, contribui em grande parte a forma como a plataforma está estruturada. A apropriação de um clip para ser remisturado é aceite; só não se aceita que alguém pegue num vídeo e o assine sem fazer qualquer outra alteração.

Estes utilizadores baseiam-se em dois factores essenciais para pensar questões de atribuição: a origem do vídeo em que se baseia a montagem e o esforço por parte do utilizador em montar a remix.

A origem do vídeo obedece a vários critérios. O primeiro é que os vídeos que pertencem a companhias têm menos direito a ser considerados “de autor” do que os vídeos que pertencem a indivíduos. Isto porque o Jumpcut é uma plataforma não comercial e os vídeos obedecem a utilizações para fins não promocionais. Em segundo lugar, os utilizadores acreditam que os vídeos que têm uma origem mais facilmente reconhecida não necessitam dessa referência na sua descrição porque, ao serem parte de um património cultural comum, serão reconhecidos como citação.

Quanto à questão do esforço, os utilizadores do Jumpcut4 defendem que um vídeo em que o autor simplesmente fez uma cópia do trabalho de outro não pode ter a marca da sua autoria; mas quando o utilizador altera substancialmente o vídeo original torna-se autor. Ao mesmo tempo, os

3 Ver ref. RARAOVRC

4 Ver ref.. RARAOVRC.

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entrevistados concordam entre si que os vídeos feitos através da plataforma do Jumpcut têm maior mérito que aqueles feitos em softwares de proprietário que são exteriores ao site, visto que a construção de um vídeo no Jumpcut representa um maior esforço por parte do autor. A noção de que o esforço de produção é relevante para objectivos de autoria é algo que devemos ter em mente ao considerar a autoria online. Se seguirmos essa linha de pensamento, será mais fácil considerar autor aquele que publica num blog um romance em sete partes do que aquele que apenas faz um comentário ao partilhar um vídeo de outros numa rede social. Porémdefendo que cada plataforma define a forma como a autoria é considerada na mesma; a autoria no Jumpcut é diferente da autoria em blogs, e a autoria no Facebook é diferente da autoria no Reddit. Não me parece que seja viável tentar entender a autoria online como um todo sem considerar as diferenças patentes a cada plataforma (seja esta uma rede social, uma plataforma de blogging ou um website).Para entender melhor onde quero chegar com esta afirmação da relevância da plataforma, tentarei usar o exemplo dos memes. Os memes são imagens partilhadas em que a imagem representa uma mensagem específica, corroborada pela legenda da imagem em si. No exemplo abaixo, pode ver-se um exemplo do meme Joseph Ducreux, inspirado no auto retrato do pintor, que ficou conhecido pelas suas composições humorísticas. Os criadores de memes apropriaram-se das suas obras para construir uma personagem que, habitualmente, parafraseia frases da cultura pop de forma erudita.

Ilustração 1 Exemplo de meme "Joseph Ducreux"

Os memes são uma espécie de conteúdo que mostra facilmente o que se pode esperar de um objecto de autoria online. Estes obedecem a regras muito específicas na sua construção. Um meme é normalmente uma réplica de um conteúdo que sofre uma pequena variação; ou seja, uma imagem

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que é usada com diversas legendas mas para representar sempre significados semelhantes. Um fã de memes já sabe o que vai encontrar quando vê uma imagem como esta; e assim, o conteúdo base do meme é replicado infinitamente.

Nos memes, o autor nunca é identificado – mas obviamente existe. Esta forma de ocultação do autor é um símbolo evidente da forma como muitos dos utilizadores da internet encaram a autoria: não é necessário saber-se que foi certa pessoa a publicar certa réplica de um meme; basta que esta tenha o seu reconhecimento no facto de este ser partilhado até à exaustão. No entanto, parece-me óbvio que esta forma de autoria não é um exemplo que possa ser utilizado em todas as encarnações que a autoria online assume. Quem escreve contos num blog5, mesmo utilizando um pseudónimo, muito provavelmente ficaria bastante incomodado se alguém replicasse um dos seus textos sem pedir autorização ou, no mínimo, indicar a fonte. Mesmo quando se trata dos memes, há um acordo tácito para que aqueles que publicam um certo post com um meme indiquem o website onde este fez a sua primeira aparição – ou, se não o indicar, ao menos que deixe a referência de que ao publicá-lo não reivindica a sua autoria.

No entanto, apesar de pretender explorar no próximo capítulo a forma como cada uma das principais redes sociais define a autoria dentro do seu âmbito – pois decerto se compreende já que as regras de código e os termos de utilização de cada rede têm impacto no que se entende da autoria em cada uma delas – penso que deve ser feita uma salvaguarda no caso dos memes. Trata-se de um caso muito característico da autoria online. O meme é em primeiro lugar um conteúdo que se baseia na concordância entre os utilizadores sobre o seu significado. Isto é óbvio tendo em conta que na sua repetição este mantém o seu sentido base e é também essencial para que o meme seja compreendido nas suas várias manifestações. Isto levanta diversas questões. Primeiro, como se obtém essa espécie de acordo? Segundo, como é que os utilizadores se juntam em relação a um tema quando as várias comunidades de utilizadores têm proveniências totalmente diferentes (muitas vezes vêm de países completamente distantes, não falam a mesma língua de forma nativa, e muitas vezes não concordam em questões essenciais)? No caso do Reddit, o principal veículo de produção e divulgação de memes, a maior parte dos utilizadores são norte-americanos ou de países de língua oficial inglesa; mas não compõem nem de longe a totalidade dos utilizadores. Como é então possível que pessoas de todo o mundo se identifiquem com uma mesma experiência e a tornem num código geral? Esta primeira questão prende-se, penso eu, com as características de uma espécie de

“streamlining” de conteúdo que se observa nos memes. A ideia central de cada meme é simplificada por modo a ser sempre compreendida da mesma maneira por todos os utilizadores. O mesmo pode ser dito de um grande número de coisas; mas nos memes isso é central. Cada meme tem um sentido

5 Ver https://www.eff.org/issues/bloggers/legal/liability/IP.

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básico que depois é apropriado em cada manifestação. Mas o motivo pelo qual há consenso no código é porque ele é relativamente simples. A imagem surge no Reddit ou no 4chan com uma caption (a frase que explica a mensagem específica dessa manifestação em si); os outros utilizadores baptizam o meme, e ele começa a circular. Isto se tiver sucesso, obviamente – muitas tentativas de meme não conseguem sequer chegar à frontpage do Reddit (para chegar à frontpage existe um sistema de votos positivos e negativos em que os votos positivos trazem o post para a frente e os negativos o enviam para as páginas finais, num esquema que faz com que um post com muitos upvotes seja visto por cada vez mais pessoas – esta questão será explicada em mais detalhe no capítulo 3) e acabam por desaparecer tão depressa quanto surgiram. Mas, quando um meme consegue sobreviver ao teste do público, a sua disseminação começa e o seu sucesso é comprovado pela utilização da mesma imagem para criar mais versões do mesmo meme.

Isto leva-nos à segunda característica que considero importante em relação ao meme – o facto de este se afirmar na sua reprodução. Ou seja, o plágio é neste caso uma forma de elogio – e o lugar comum é deliberado. Existem culturas em que a reprodução de uma obra é uma forma de a emular e de apoiar a continuidade do tradicional. Ainda assim, penso que por agora é relevante tentar perceber um pouco melhor aquilo que o facto da reprodução legitimar um meme significa em termos de autoria. Como disse atrás, cada meme consegue auto-justificar a sua existência quandoé largamente repetido e divulgado. . E, na verdade, tal não é diferente do que acontece com a literatura ou a música mainstream. O sucesso comercial de um romance “de cordel” acontece quando “toda a gente” fala do mesmo, e quanto mais pessoas falam do romance, maior a probabilidade de mais pessoas o comprarem. É um ciclo. Quanto mais pessoas falarem do livro, mais sucesso ele terá, e consequentemente, cada vez mais pessoas continuarão a falar dele – um cicloque representa muito bem o meme. Quando um meme se torna muito divulgado, mais pessoas vão entender o que este significa nas suas manifestações e mais vezes ele vai ser replicado em fóruns e redes sociais.

Deste modo, compreende-se a relevância do meme para uma discussão sobre autoria.

Compreendendo o meme, compreende-se a forma como muitas vezes a autoria funciona em situações online. Os memes têm a sua base numa forma de autoria partilhada, ou seja, uma espécie de autoria oculta em que a origem do meme em si não explica a sua partilha. Na maior parte das redes sociais é assim que a partilha de conteúdos funciona – não se indica o autor primeiro, simplesmente partilha-se. Como se disse, nem todas as situações online correspondem a este modelo – mas tendo em conta que as redes sociais são os websites que mais tráfego originam, é impossível não pensar que é necessário conhecer bem a autoria em redes sociais para se considerar a autoria online como um todo.

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No próximo capítulo, explicar-se-á como funciona a autoria em várias redes sociais, distinguindo-se os vários mecanismos que cada uma destas redes utiliza para conferir a um conteúdo o seu autor. Por agora, acrescentarei apenas que os memes têm um papel particular nestas formas de partilha online; no seu modelo específico de autoria, o autor desaparece e é esquecido logo desde a primeira manifestação. Existem sites como o Know Your Meme, em que se explica as origens de cada meme; no entanto, a explicação fica-se pelo website em que o meme nasceu e, no caso de este ser motivado por um acontecimento em particular, pelo acontecimento que lhe deu origem. Não existe nunca uma explicação que inclua o nome do autor, e este autor não se importa ou não teria criado o meme em questão. Fazer nascer um meme é partir do princípio de que a sua autoria vai ser ignorada desde o princípio, e, como já referi acima, o autor recebe a sua recompensa ao ver novas réplicas do meme serem criadas. Existem fenómenos como páginas ou grupos no Facebook dedicados apenas a réplicas de um meme; mas os memes que neles têm origem são apenas confinados a esse espaço e acabam por não ser reconhecidos do mesmo modo que aqueles que percorrem as várias redes sociais. Deve ter-se em conta o autor quando se publica uma réplica – embora os memes não sejam conteúdos em que haja a possibilidade de se receber algum valor em troca de um esforço de produção, de acordo com o esquema em que funcionam as questões de copyright na maior parte dos conteúdos, certo é que o seu autor existe e está algures. . Embora aqui se trate de uma situação em que o autor cede voluntariamente os seus direitos, se pensarmos no que foi dito no capítulo anterior em relação ao Jumpcut,o esforço implícito na criação de um meme não se compara ao necessário para um texto argumentativo publicado num blog ou numa rede social. . Quando se trata de um longo post num blog em que se disserta sobre uma qualquer questão, é obviamente compreensível que o autor não queira perder os direitos sobre o que escreveu – existe um esforço muito maior na produção do conteúdo. Quando se usa apenas uma imagem do domínio público e se cola uma caption, o que estamos a produzir é algo que, pelo pouco esforço que implica, não parece merecer por parte dos seus autores de reconhecimento universal. O autor de um meme pode surgir no Reddit associado a uma conta na rede, mas à medida que o meme se repete ele deixa de aparecer e torna-se desnecessário. O meme é apropriado pelas comunidades em que se forma;

pode dizer-se que é um exemplo de autoria colectiva no sentido em que cada actualização do mesmo tem um novo autor que junta as suas palavras às da primeira instância do meme. Os memes têm então a função de explicar que em autoria online, o trabalho necessário conta. Se pensarmos em longos textos que são partilhados nas redes sociais, o maior esforço por parte do seu autor significa que este deve ser referido. O mesmo acontece no caso dos vídeos do Jumpcut; quando se trata de um trabalho em que o editor se deu a grande esforço na produção da montagem e que cita vários vídeos de proveniência menos óbvia, trata-se de um vídeo em que os utilizadores entrevistados

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defendem que deve haver a referência do autor. Esta dinâmica de esforço tem portanto a sua relevância, e acredito que é um bom critério para se definir quando o autor importa ou não. A conclusão a que se chega, portanto, é a de que se a autoria nem sempre funciona sob os mesmos princípios, e que tais princípios nem sempre se confinam às regras de uma determinada rede social mas também a critérios que são definidos pelos próprios utilizadores. E esta é uma conclusão relevante. Afinal, cada comunidade de utilizadores tem a sua noção das situações em que importa citar o autor ou não. No próximo capítulo será explicada em mais pormenor esta situação e aquilo que ela implica.

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3. Autoria em redes sociais

Uma boa parte do conteúdo que é criado online, mesmo que não tenha aí a sua origem, passa pelas redes sociais. A facilidade dos botões de share, reblog, repost e retweet dá azo a que por elas passe todo o tipo de conteúdo – de poemas a pornografia, de cartoons dos Peanuts a “drogas virtuais”*. Dentro de todo este conteúdo, existem certamente graus que distinguem esses conteúdos entre si – e uma boa parte dessa distinção está na forma como as redes sociais em que os conteúdos são partilhados definem a sua autoria.

Apesar de a esmagadora maioria dos utilizadores de redes sociais não ler os termos de utilização dos websites que frequenta, estes códigos de conduta regem até certo ponto a forma como os utilizadores se comportam. Os códigos podem depender da denúncia de outros utilizadores, como é o caso do Facebook; ou podem existir moderadores que bloqueiam os utilizadores faltosos sem necessidade de denúncia, como acontece no Reddit. O que se pretende com isto é explicar que, independentemente da rigidez dos termos de utilização de uma rede social, estes têm impacto na forma como os utilizadores vêm a autoria dentro desse website. E, tendo em conta as diferenças entre as várias redes sociais, parece útil considerar agora as características de cada uma para que assim se entenda as diferenças entre si face a questões de autoria.

a. Facebook

O Facebook é a mais famosa rede social do mundo. Os seus utilizadores já ultrapassam largamente os quinhentos milhões, numa comunidade que de tão abrangente é muitas vezes esmagadora. É por isso fácil perceber porque muitas vezes as punições no Facebook funcionam através de sistemas de denúncia – se assim não fosse, a manutenção das regras da rede exigiria uma gigantesca equipa de moderadores .

Ainda assim, existem moderadores que pesquisam os motivos sempre que há uma denúncia de spam ou de alguma actividade por parte de algum utilizador que vá contra os termos de utilização do Facebook. Estes moderadores reservam-se o direito de apagar posts, ou até de bloquear utilizadores; mas essas medidas têm mais depressa efeito se considerarem que o utilizador

* Existe na web um culto em torno destas experiências, que pretendem simular o efeito de drogas reais; um exemplo deste fenómeno é o I-Doser, um software que permite reproduzir faixas de efeitos sonoros. Segundo o website i-doser.com, “I-Dosing is the use of auditory tones in an attempt to alter consciousness in ways that create a simulated mood or experience, such as to mimic recreational drugs.” Os responsáveis pelo website e pelo software defendem que o uso de certos efeitos sonoros permite aos utilizadores alterar as ondas cerebrais, induzindo assim os utilizadores a estados de consciência alterados sem necessidade de uso de substâncias químicas. Não testei a veracidade das suas afirmações.

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pode não ser uma pessoa (tratando-se portanto de um bot*) do que quando uma pessoa está efectivamente a incomodar outros utilizadores. Esta questão prende-se com a forma de rentabilização do Facebook. Nesta rede social, os verdadeiros clientes, aqueles que proporcionam a Mark Zuckerberg a maior parte das suas receitas, são os publicitários. O Facebook vive à custa dos Facebook Ads, Como reporta Paul Tassi no website da Forbes6, o Facebook tem, com cada actualização, aumentado e optimizado os seus anúncios para que estes alcancem o máximo número de utilizadores dentro do público-alvo esperado para cada produto. Daí que para os gestores da maior rede social do mundo seja mais importante verificar se existem bots do que se os seus utilizadores reais estão a ser incomodados – o objectivo é saber se os anúncios estão a ser exibidos realmente a possíveis compradores dos serviços e produtos anunciados. .

Percebe-se portanto que não será fácil para os utilizadores ganhar uma luta contra o Facebook em questões de autoria. O estudante austríaco Max Schrems entrou em litígio contra a rede social devido ao armazenamento indevido de informação que lhe pertencia7. Aquilo que Schrems descobriu foi que toda a informação que havia apagado da sua conta se mantinha nos servidores do gigante social, e, ao pedir que lhe fosse facultada toda a informação que a rede detinha sobre ele, recebeu um documento com mais de mil páginas. Com isto percebe-se que o que cada utilizador faz ao apagar informação do Facebook é apenas limitar o seu acesso à mesma – para o Facebook, a informação continua disponível nos seus servidores por tempo indefinido.

A acrescentar às preocupações que este caso traz para os seus utilizadores, háacresce ainda o facto de que ultimamente têm surgido boatos quanto à existência de “shadow profiles” no Facebook8. Esses perfis-sombra são seriam criados através da informação que utilizadores partilham sobre pessoas que não estão na rede, seja nas suas walls, seja em mensagens privadas. Essa informação seria associada a esse perfil de não-utilizador, e ficaria armazenada nos servidores do Facebook.

Tendo em conta a atitude do Facebook em relação à privacidade dos seus utilizadores, não admira que a autoria dos conteúdos nele partilhados seja para si uma prioridade. Geralmente a publicação de conteúdos é totalmente livre – a menos que o dono do conteúdo original faça uma queixa expressa ao Facebook. A falta de atribuição é um problema comum no Facebook. Mesmo

* Um bot é uma “peça” de código, criada por um programador, que executa tarefas repetitivas dentro de um sistema.

Os bots que se encontram no Facebook são normalmente criados por spammers que pretendem difundir as suas mensagens sem terem de se dar ao trabalho de copiar e colar as suas mensagens na conversa com diversas pessoas;

com um bot, basta ao spammer criar a linha de código respectiva e o bot trata de repetir a mesma mensagem infinitamente.

6 http://www.forbes.com/sites/insertcoin/2013/07/01/facebooks-advertising-is-starting-to-spiral-out-of-control/

7 Ver http://www.forbes.com/sites/kashmirhill/2012/02/07/the-austrian-thorn-in-facebooks-side/

8 Ver http://www.digitaltrends.com/social-media/what-exactly-is-a-facebook-shadow-profile/ (Digital Trends), http://www.zdnet.com/anger-mounts-after-facebooks-shadow-profiles-leak-in-bug-7000017167/ (ZDNet) e http://www.naturalnews.com/041040_facebook_shadow_profiles_internet_privacy.html (Natural News).

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algumas companhias que utilizam a rede servem-se de conteúdos que lá encontram sem indicar autor ou responsável. Subentende-se que o que está no Facebook é automaticamente susceptível de ser reproduzido livremente,. Muitos artistas servem-se da rede por forma a partilhar as suas obras, sejam elas contos, poemas, fotografias, arte digital e design gráfico, etc. Quanto a partilha destes conteúdos prejudica o seu autor será discutido noutro capítulo.

Ao mesmo tempo, o Facebook tem um estilo de relação dentro das suas fronteiras que é sempre bilateral – embora tenha lançado no ano passado a possibilidade de se seguir utilizadores, nisso se assemelhando ao Twitter. Tipicamente, para se ter acesso às publicações de um utilizador era necessário adicioná-lo como amigo; quando ele aceita, ambos têm acesso às publicações um do outro. Mas, ainda assim, o utilizador que aceita pode colocar o novo amigo em grupo restrito, o que quer dizer que o segundo não vai ter autorização para ver as publicações do primeiro e apenas o pode contactar por mensagem privada. A noção de privacidade no Facebook é muito confusa.

Podemos ter diversas configurações que nos permitem ocultar ou exibir informação sobre nós dentro da rede.O Facebook, nesse sentido, é uma rede em que se seguem mais frequentemente pessoas que já se conhecem; outras redes têm mais por objectivo o intercâmbio de opiniões entre desconhecidos.

O facto de no Facebook se seguirem pessoas que se conhecem dá-lhe uma dimensão diferente do Twitter, em que as relações que se fazem no mesmo ficam no mesmo. No Facebook, cada utilizador é incitado a utilizar o seu nome real, o que no Twitter não acontece – no Twitter, proliferam os avatares dúbios e os nicknames. O que fazemos online tem consequências efectivas na vida real, e numa rede como o Facebook, ainda mais. A sua quantidade de utilizadores é tão variada em torno dos temas em que se organiza pelo que dificilmente lhe podemos chamar uma comunidade única; (para que haja uma comunidade, têm de haver no mínimo interesses em comum, sejam estes um clube de futebol ou até um desporto no geral) no entanto, dentro deste existem pequenas comunidades em torno de grupos ou páginas, que têm interesses em comum e que se juntam no Facebook para discutir assuntos que lhes interessam. Nestas comunidades, que podem ser fechadas, depende dos moderadores admitir ou expulsar alguém. Isto não quer dizer que as restantes regras do Facebook sejam inúteis nos diversos grupos ou páginas; quer apenas dizer que cada comunidade mais reduzida de utilizadores tem as suas próprias regras, como acontece também em fóruns como os subs do Reddit. As regras podem variar enormemente de uma comunidade para outra, e tal tem impacto na forma como se concebe a autoria dentro destas. A autoria no Facebook é assim um fenómeno anárquico, com tentativas de organização muito frequentemente falhadas e que só funcionam em grupos restritos. Publicar conteúdo de autor no Facebook é arriscar-se a que esse autor seja automaticamente esquecido dentro da constante onda de publicações. Resta ainda referir,

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por fim, que ao reservar-se o direito de apagar o conteúdo que viola as suas regras, o Facebook tem em última instância controle sobre todo o conteúdo que nele é publicado.

b. Twitter

O Twitter é uma rede muito diferente do Facebook. Em primeiro lugar, seguir uma pessoa no Twitter não significa que ela nos siga. Há no entanto utilizadores que fazem questão de anunciar tal reciprocidade, visto que no Twitter o número de followers é um índice da reputação da pessoa.

Quanto mais pessoas o seguirem, melhor a reputação do utilizador. Existem até bots que permitem a criação de followers instantaneamente para os mais inseguros das suas capacidades de escrita.

As capacidades de escrita que referimos são relevantes. O Twitter tem um limite por tweet (um post de microblogging) de 140 caracteres. Existem ferramentas que permitem aos utilizadores publicar tweets maiores, mas essas ferramentas funcionam através de um link para um host em que se apresenta o texto. A ideia do Twitter é ser-se sagaz; conseguir exprimir o máximo de ideias num espaço que é assumidamente limitado. Recentemente o Twitter começou a incluir imagens nos seus posts, permitindo aos utilizadores exibir a foto no próprio micropost e não num outro host necessário. Mas, na sua origem, o Twitter incluía apenas texto. O objectivo era comunicar através dessa ferramenta e mostrar a capacidade de escrita sucinta.

Neste sentido, no Twitter a autoria não é um fenómeno diferente do que acontece no Facebook. Os utilizadores ficam satisfeitos quando têm muitos retweets – o que quer dizer que outras pessoas replicaram o seu post com indicação do primeiro autor. E esta forma de autoria partilhada é relevante; o facto de a própria ferramenta em si permitir replicar de forma rápida o post de outra pessoa é uma das características básicas do Twitter. Os ganhos por um bom trabalho de escrita reflectem-se no aumento do número de seguidores e na partilha dos tweets desse utilizador.

Se a ferramenta de retweet não tivesse em si a indicação do primeiro autor, a vida no Twitter seria muito diferente. Esta autoria partilhada funciona porque não é anónima – o nome do primeiro autor vem sempre indicado nos retweets. No Facebook também existe a possibilidade de partilhar um conteúdo e este vem indicado pelo seu autor primeiro – mas no Facebook esperar que a pessoa que publica um conteúdo seja sempre o seu autor é no mínimo ingénuo.

A forma como a partilha promove o autor primeiro de um tweet é um dos pontos fortes do Twitter em termos de autoria. Além disso, o Twitter é muitas vezes utilizado para partilhar conteúdos de blogs e websites diversos, o que faz dele uma plataforma que muitas vezes serve de ferramenta de propagação de outros conteúdos.

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O Twitter é uma rede social na qual a comunicação política tem especial relevância.- As conversas comentam frequentemente assuntos políticos, e os utilizadores com mais seguidores são precisamente aqueles que mais falam de política9. Neste aspecto, esta é uma das outras grandes diferenças em relação ao Facebook. O Facebook tem um público bastante ecléctico, enquanto o Twitter se presta a conversas mais sérias – ou, que não sendo sérias, falam de assuntos relevantes, comentam notícias e programas de televisão. No Facebook, o entretenimento e o multimédia ditam as modas; no Twitter, é através do texto e da dialéctica que se constrói uma reputação. Nisto, a diferença para o Facebook é abissal: os posts mais comentados e partilhados na maior rede social do mundo incluem sempre fotografias e estas são exibidas sempre ocupando grande espaço da página.

O Twitter é uma espécie de pergaminho infinito . No Facebook, poderíamos dizer que há uma espécie de fotonovela. A diferença maior reside nos média utilizados, que denotam uma diferença também em termos de temas.

c. Tumblr

Em termos de público-alvo, o Tumblr destina-se principalmente a designers e amadores das artes plásticas, da fotografia e da arte digital. No Tumblr, ao contrário do Twitter e mais do que no Facebook, as imagens são rainhas e o espaço que se deve ao texto fica no fim da página. O que se apresenta primeiro no Tumblr são sempre as imagens.

Outro aspecto do Tumblr é a sua função de reblogging, que será explorada em mais detalhe no capítulo 5. Porém, podemos desde já adiantar que o sistema de citações do Tumblr é semelhante ao do Twitter. No entanto, no Tumblr existem vários graus de autoria no sentido em que se pode sempre descobrir qual é o utilizador do qual partiu a primeira partilha. Nisto, o Tumblr é mais completo que o Twitter e o Facebook – mas o facto de se basear em primeiro lugar na imagem deixa muitas pessoas de fora. Isto porque a comunicação baseada no texto é uma tradição que vem desde o nascimento da web social através de sistemas como o IRC (Internet Relay Chat), que datam dos anos 90 e ainda são utilizados em certos contextos. O Tumblr é mais visual no sentido em que se baseia primariamente em imagem sem texto explicativo, e por este motivo presta-se mais a trocas de imagens entre designers e artistas plásticos. O público-alvo do Tumblr é muito específico, e por isso o Tumblr não se pode considerar a par de redes como o Facebook ou o Twitter. No entanto, deve ser considerado neste panorama das redes sociais pela forma como funciona – por se basear num esquema de citação no qual é sempre possível determinar a origem daquilo que está a ser

9 Ver http://www.policymic.com/articles/59171/twiplomacy-how-twitter-might-reshape-global-politics;

http://www.economist.com/node/16056612;

http://truthy.indiana.edu/site_media/pdfs/conover_icwsm2011_polarization.pdf.

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citado.

d. Reddit

O Reddit é um exemplo pouco característico dentro deste grupo. O Reddit é na verdade um site que agrega diversos fóruns, ou subreddits. O que o distingue de outras redes é muito simples:

existe uma sistema de upvotes e downvotes. Ao contrário do Facebook, em que existem apenas os botões de like e share, no Reddit podemos dar um voto negativo a um conteúdo. Os artigos com mais upvotes são enviados para a primeira página do website, sejam de que fóruns forem. Os artigos que recebem mais downvotes são enviados para as últimas páginas de cada fórum, sendo que o que uns decidem que deve estar na frente limita o que outros verão com mais facilidade.

Esta prática é uma das características que faz do Reddit um sucesso. Outra delas é o facto de ser extremamente rápido e simples criar uma conta. Basta indicar um email e escolher um pseudónimo e o registo está concluído. O anonimato é para muitos uma forma de expressarem ideias que não seriam bem aceites noutras redes como o Facebook, em que os utilizadores são instigados a fazer um perfil com a sua fotografia e nome real.

Pode pensar-se que esta prática é algo irresponsável – que isso faria com que os utilizadores não fossem responsáveis pelos seus actos Mas o Reddit tem uma equipa de mods (moderadores) sempre atenta e cujo trabalho é assegurar que se cumprem as regras de cada subreddit. Ao mesmo tempo, os frequentadores de um subreddit monitorizam-se uns aos outros e põem em prática as regras respeitantes a cada sub. Cada subreddit tem em si uma comunidade em torno de um interesse comum – e tal como noutra comunidade qualquer, existem regras que são necessárias ao seu funcionamento e que devem ser cumpridas. Os moderadores são uma espécie de polícia do Reddit, mas os seus utilizadores são watchdogs. Isto porque os moderadores têm como sua função gerir as participações nos subreddits; mas os utilizadores, sem terem essa obrigação, cumprem a mesma tarefa por livre vontade, apenas por respeito às regras de cada fórum.

O que é mais relevante para a nossa discussão é o facto de no Reddit muitas vezes se atribuir a autoria do conteúdo de um post a terceiros: é frequente ler-se nos títulos de posts sobre algo que aconteceu a um amigo, um desenho que um amigo fez... Parece que os utilizadores do Reddit querem distanciar-se dos eventos que retratam, o que o anonimato possibilita e encoraja. A situação tem um impacto curioso sobre a autoria no Reddit; se quem publica se distancia propositadamente do que está a publicar, onde está o autor? Será que podemos ser autores mesmo que não o queiramos?

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e. Youtube

O Youtube é um caso de popularidade mundial quase tão abrangente como o Facebook. A grande diferença entre ambos é que a maior parte dos utilizadores servem-se do Youtube apenas para assistir a vídeos e não para os publicar. A comunicação no Youtube assemelha-se um pouco à da televisão – a questão é que no Youtube cada um escolhe a programação de acordo com as suas necessidades e gostos pessoais.

Nesta rede, o Youtube tem uma equipa invisível que actua apagando os vídeos que vão contra os termos de utilização – o mais frequente é que isso aconteça quando é publicado um vídeo que está sob copyright. O Youtube funciona por si só e normalmente não necessita de denúncia dos utilizadores para cumprir a sua missão nesta área. Mais depressa são os donos legais do conteúdo a pedir a sua retirada.

Em relação a esta atitude do Youtube, é interessante referir que, actualmente, a maior parte dos vídeos de bandas e artistas mainstream estão incluídos no site do Vevo10. O website é um projecto conjunto da Sony Music Entertainment, do Universal Music Group e da Abu Dhabi Media, um grupo da área dos media oriundo dos Emirados Árabes Unidos. Todos os vídeos dos artistas inscritos são também publicados nas contas Youtube geridas pelo grupo. Tal seria até útil se fosse essa a única função do Vevo; o problema é que a acção deste grupo de empresários não se restringe à publicação de vídeos musicais: sempre que um artista tiver um vídeo publicado no Vevo, mais nenhum utilizador o poderá fazer pois o Vevo adquire os direitos online dos videoclips que publica.

A iniciativa própria, que é uma das bases no Youtube, leva assim uma enorme machadada.

Basicamente, o Vevo está em vias de construir um monopólio do conteúdo musical mainstream dentro do próprio Youtube. Todos os utilizadores que contrariem essa regra são banidos e os seus vídeos retirados.

Esta atitude por parte do Youtube e do Vevo não abona muito a favor do Youtube. A partilha livre de vídeos é uma das bases desta rede; e, quando não há espaço para a partilha, não faz muito sentido que esse serviço continue a ser chamado rede social – numa rede social, o conteúdo é produzido pelos utilizadores e não por empresas. Embora se possa argumentar que actualmente todas as redes sociais têm conteúdos produzidos por profissionais, a grande maioria dos conteúdos na maior parte das redes como o Facebook e o Twitter continua a ser produzido pelos fãsEsta característica das redes sociais é algo que considero fulcral; para que um website se possa considerar uma rede social, tem de ter uma grande quantidade de conteúdos produzidos pelos

10 O site da Vevo está disponível, actualmente, apenas nos Estados Unidos. No entanto, a sua página de Youtube (www.youtube.com/vevo) está disponível para consulta em qualquer lugar do mundo.

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utilizadores comuns. É esse o objectivo na existência de uma rede social; a partilha de conteúdos por pessoas que não o fazem com vista a receber uma remuneração pelos conteúdos que publicam ou partilham.

No Youtube o esquema de autoria baseia-se na separação entre vídeos corporate e home videos. Para o Youtube, só interessam os seus verdadeiros clientes – aqueles que pagam para poder publicar os seus anúncios em vídeos mais vistos, aqueles que dominam um certo segmento (como é o caso do Vevo). O que importa para o Youtube enquanto empresa é a publicidade que consegue mostrar aos seus utilizadores por forma a receber o pagamento deste serviço publicitário. . No Youtube, o facto de ser autor não é importante, na medida em que é irrelevante para os objectivos comerciais da empresa; facilmente um autor vê o seu vídeo retirado de acordo com critérios que muitas vezes parecem aleatórios.

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4. Autoria em blogs

Os blogs foram a primeira forma de social media a surgir no panorama web. No entanto regem-se por regras que, embora semelhantes, não são iguais às da maioria das redes sociais que actualmente são mais populares.

Quando a blogosfera começou a tomar forma, os blogs eram a única maneira de publicar conteúdo publicamente em forma de diário. Aliás, a ideia do blog era uma espécie de diário público, em que o autor muitas vezes ocultava a sua identidade através de um pseudónimo. Como já se disse, também no caso dos blogs esse anonimato contribuía para uma maior liberdade por parte dos autores.

Nomeadamente no seu aspecto gráfico, os blogs têm grande diversidade. As várias plataformas de blogging, como o Wordpress e o Blogger, favorecem uma personalização imensa que permite ao utilizador adaptar o blog ao tema e à intenção do autor. A sua forma tanto pode compreender principalmente imagens e vídeos, como pode basear-se totalmente em texto com pequenos apontamentos gráficos e imagens ilustrativas. A opção é sempre do utilizador; e esta é mais uma característica que faz com que os blogs continuem ainda a ser utilizados por tantos escritores, fotógrafos, artistas – amadores ou profissionais. Ter um blog é um complemento importante para uma estratégia de representação online de uma marca ou de uma personalidade, porque a liberdade que dá em termos de formato e conteúdo presta-se a utilizações que as redes sociais na sua maioria não permitem.

Além do mais, a maior parte dos blogs são públicos (embora o Blogger dê aos utilizadores a possibilidade de permitir o acesso apenas a visitantes convidados), o que confere uma grande visibilidade aos mesmos. Ao contrário do que é publicado nas redes sociais*, o seu conteúdo pode ser encontrado através de uma simples pesquisa de keywords.

Entre os blogs existe também um sistema de ranking baseado na sua popularidade. De acordo com as técnicas empregues em SEO (Search Engine Optimization), quanto maior for a popularidade de um blog para quem pesquisa determinados termos, mais depressa este aparece no topo dos resultados. A boa reputação de um blog passa pelo número de visitas e pelo tempo que estas se mantêm no blog; se o blog tiver milhares de visitantes por dia que o abandonam de

* Embora, e deixo a ressalva, já existam ferramentas de pesquisa por keywords em redes sociais. No entanto, as ferramentas gratuitas são de âmbito limitado e as ferramentas pagas raramente compensam o seu valor a menos que os utilizadores se tratem de analistas de média profissionais ou community managers que usam essa informação para o seu trabalho diário. O Facebook lançou recentemente uma ferramenta de social search que permite pesquisar conteúdos dentro da rede; porém, essa ferramenta está disponível apenas para utilizadores dessa mesma rede e os utilizadores podem impedir que o seu conteúdo seja encontrado nas pesquisas. É uma ferramenta curiosa mas que, no final, não é útil para um trabalho mais sério.

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imediato, a sua reputação perante os motores de busca cai; é sinal que esse blog não corresponde à informação que os utilizadores procuram para as palavras utilizadas na pesquisa. Existem ainda ferramentas como o Technoratti, que faz exclusivamente pesquisa em blogs e utiliza o seu próprio sistema de ranking. O Technoratti permite também aos bloggers ver estatísticas sobre a resposta dos leitores aos seus artigos que podem ser úteis para melhorar a qualidade do blog e o seu ranking.

No que diz respeito às questões de autoria, a questão é menos clara. Os blogs são frequentemente alvo de citações sem identificação do autor, com os seus conteúdos a ser reproduzidos em redes sociais ou noutros blogs. A sua dinâmica social favoreceu o início desta atitude displicente em relação à partilha de conteúdos online. No entanto, o esforço que tantos bloggers investem na sua participação na blogosfera torna muito injusto o plágio que sofrem, no sentido em que dedicam muito do seu tempo à produção dos seus conteúdos para estes serem depois copiados sem uma mínima indicação de atribuição.E embora a maior parte dos bloggers não façam do blog a sua actividade principal, muitos recebem lucros através de banners publicitários nos seus blogs, da venda de merchandise, ou através de patrocínios recebidos para promover determinado produto – quando se tratam de bloggers com uma grande reputação e um grande número de seguidores. Com efeito, os blogs também têm seguidores, embora não no mesmo sentido que se fala de seguidores no Twitter. O seguidor de um blog subscreve as suas actualizações, que são muito menos frequentes do que os tweets de qualquer utilizador médio. E não as recebe na plataforma, pois pode subscrever essas actualizações sem ter uma conta Blogger ou Wordpress. Neste caso, a relação pode ser apenas numa direcção – o blogger publica os seus conteúdos e os seguidores lêem-nos.

Os blogs têm, ainda assim, um espaço para que os leitores possam deixar comentários – mas muitos utilizadores do Blogger preferem manter a opção de não permitir comentários nos seus posts, ou permiti-lo apenas a visitantes que se identifiquem através da sua conta Blogger. Ainda assim, estas limitações não são maiores do que as que outras redes sociais permitem aos seus utilizadores.

O blog difere da maior parte das redes sociais, em parte, devido à sua diversidade de assuntos e interesses. É um meio de comunicar que permite a muitos artistas e escritores publicar algum do seu trabalho sem qualquer custo. Além disso, a reputação de um blog, em termos de SEO, é muito maior que a de uma página Facebook11. Dentro do Facebook, é difícil calcular a reputação de um utilizador pelo seu número de amigos. Muitos utilizadores apresentam centenas de amigos ou fãs das suas páginas, mas se estes não participam na conversa que é criada, esse volume não

11 Em termos de SEO, a reputação de um blog ou website é medida pelo número de links que para ele apontam e pela qualidade desses links, ou seja, se os links para esse site vêm, por sua vez, de sites que tenham eles próprios uma forte reputação. Dentro de uma rede social, é impossível medir a reputação de uma página em termos de SEO.

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significa nada no sentido em que existem muitas técnicas que permitem aos bloggers obter seguidores falsos (falsos no sentido em que são contas que não representam utilizadores reais mas sim contas criadas automaticamente para falsificar seguidores). Um blog é uma óptima maneira de criar reputação para o trabalho de um escritor, por exemplo através da publicação de uma obra que é apresentada como um diário; os fãs voltam ao blog constantemente para saber das últimas evoluções do enredo. Existem mesmo bloggers que são convidados a escrever livros devido à popularidade dos seus blogs, ou que se tornam embaixadores de marcas12. Os blogs de sucesso são aqueles que têm autores que sabem escrever sobre diversos temas, que conseguem criar uma ligação com os visitantes que faz com que estes continuem a voltar à procura de mais conteúdos que lhes interessam.

Os blogs são também um veículo útil para jornalistas que procuram estabelecer um portfolio, escritores que procuram ser publicados, artistas digitais que procuram divulgar ou expor os seus trabalhos; a lista é infinita. São tantos os fins que um blog pode ter que não admira que continue a ser preferido às redes sociais actuais por uma grande quantidade de utilizadores. Ao contrário do que se esperava, os blogs não deixaram de existir com o nascimento das redes sociais:

pelo contrário, expandiram-se e envolveram as redes sociais como parte de uma estratégia de conteúdos para aqueles que levam o seu blog a sério. Ser blogger pode ser uma profissão; já existem de facto pessoas que vivem dos dividendos que a sua actividade como blogger lhes oferece.

Portanto ter um blog pode ser uma forma de vida, um emprego ou simplesmente uma fonte extra de rendimento; algo que vai bem mais longe do que a sua função inicial de diário digital.

Um blog pode até ser uma forma de comunicação utilizada por alguém que já faz parte da vida pública.Nesse caso, o blog serve de ferramenta de comunicação de assuntos que o autor pretende discutir e que nem sempre tem oportunidade de referir noutros meios de comunicação.

Muitos escritores já publicados mantêm, ainda assim, um blog no qual publicam excertos de obras ou até contos e poemas escritos exclusivamente para serem publicados online.

Estas diferenças no que diz respeito aos tipos de trabalho dos bloggers sugerem que a autoria é um conceito complexo quando se fala da blogosfera. No entanto, podemos compreender que, quando se trata de conteúdos que não seriam publicados de outra maneira, os blogs representam uma via de comunicação bastante eficaz devido às questões de reputação anteriormente citadas relativamente a SEO. Quanto maior a reputação de um blog, mais facilmente este é descoberto numa pesquisa num motor de busca, o que faz com que consequentemente o blog tenha cada vez mais leitores. No entanto, o grande público dos blogs é uma condição que leva facilmente

12 Ver artigo http://www.bloggingbistro.com/want-to-write-a-book-start-by-blogging/ sobre a relação entre os blogs e a escrita para edição futura em formato livro.

Referências

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