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Rev. latinoam. psicopatol. fundam. vol.10 número2

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Academic year: 2018

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EDITORIAL

ano X, n. 2, jun/2 0 07

Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., X, 2, VII-VIII

Editorial

vii

Relações entre cultura e personalidade fazem parte de uma longa tradição antropológica. Mais recente, e menos trabalhada por especialistas, são as relações entre cultura e psiquismo, principalmente quando este inclui o inconsciente freudiano.

A cultura é conjunto de normas e valores significantes que se manifesta por meio de estrutura, ou seja, de comportamentos humanos repetitivos e padronizados. Algumas dessas normas e valores são de tal forma gerais que se denominam instituições. Assim, por exemplo, a família, a igreja, a unidade economicamente produtiva, são instituições.

Há, também, em toda sociedade complexa, uma controvertida ma-nifestação cultural denominada raça. Essa mama-nifestação não encontra fundamento anátomo-fisiológico, ainda que se baseie em certas caracte-rísticas físicas.

Toda sociedade complexa é, nesse sentido, multirracial. Assim, tradicionalmente o Brasil é considerado uma sociedade composta por três raças e suas combinações, que são definidas, principalmente, pela cor da pele: a branca, a negra e a amarela ou indígena. Além disso, cada uma dessas raças apresenta um universo característico de normas e valores. Muitas normas e valores são suficientemente gerais e legítimas e englobam todas as raças. Outras são específicas e delimitam a cultura de uma determinada raça.

A noção de raça é, portanto, um significante classificatório que serve para estabelecer diferenças entre pessoas e coisas. Ocorre, porém, que o Brasil é, também, uma sociedade democrática, ou seja, uma sociedade onde esses sistemas classificatórios que servem para delimitar e definir diferenças quase nunca são respeitados. Observa-se, então, isso que alguns denominam de miscigenação, ou seja, elementos de raças diferentes se misturam através de casamentos e da procriação, gerando elementos combinados, distintos de seus antepassados.

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R E V I S T A L A T I N O A M E R I C A N A DE P S I C O PA TO LO G I A F U N D A M E N T A L ano X, n. 2, jun/2 0 07

viii

branco de uma longa filiação branca apresenta um universo psíquico da cultura branca. Isso não ocorre, entretanto, com elementos miscigenados, que apresentam um universo psíquico pertencente a duas ou mais culturas.

Em qualquer uma das raças, o psiquismo pode se apresentar mais ou menos integrado, ou seja, o universo de objetos internalizados pode se apresentar cindido, fraturado, sem integração. Nesse caso, pode-se dizer que tal psiquismo apresenta uma organização esquizofrênica. Em tais psiquismos, o fenômeno da articulação e integração dos objetos dá lugar a repetidas cisões, separações.

O que dizer, entretanto, do psiquismo de elementos miscigenados?

Nesse caso, a suposição de um universo objetal relativamente integrado é, no mínimo, inadequada, pois há a convivência de objetos de diferentes tradições culturais que foram justapostos pelo processo de miscigenação e que não podem se integrar devido às forças tradicionais que representam. Assim, se um mulato abre mão das normas e valores da cultura negra em nome de uma integração à cultura branca, ele pode perder parte de seu universo objetal e criar um vazio interior que impede que se reconheça como parte de uma tradição. O mesmo pode ocorrer com relação à cultura branca. Ora, em situações miscigenadas, estamos, então, tratando de cisões psíquicas não esquizofrênicas, mas legitimamente culturais. Um mulato pode ser ora negro, ora branco, e seu sentimento de fragmentação não se constitui como defesa intrapsíquica. Trata-se, na verdade, de uma forma de cisão legítima e institucionalizada que produz uma forma de existência aparentemente esquizofrênica sem o ser. Enquanto a esquizofrenia é um modo de defesa, produzindo sintomas, a cisão cultural decorrente da miscigenação só aparentemente é sintomática.

Uma sociedade multirracial, como a brasileira, em que a miscigenação é uma norma que regula valores instituídos, apresenta, então, formas de cisões intrapsíquicas que não decorrem de mecanismos propriamente endógenos, ou seja, próprios da dinâmica intrapsíquica. Mas ocorrem graças a mecanismos da própria dinâmica estrutural da sociedade e, por isso, podem ser considerados exógenos.

Referências

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