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Brazil. J. Polit. Econ. vol.25 número4

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Academic year: 2018

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A análise da economia brasileira tem mere-cido uma série de trabalhos de qualidade por par-te dos economistas, abordando questões como o desafio à política de estabilização, as opções do Brasil diante da enorme transformação observa-da na economia mundial, o processo de globali-zação e a conseqüente perda de autonomia dos Estados-nacionais. O mais recente livro de Anto-nio Dias Leite “A Economia Brasileira: De ond e v iem os e ond e est am os” se inclui nesse rol por contribuir, de forma original, bem estruturada e pela metodologia adotada, para o debate não so-mente dos riscos, mas também das oportunida-des que se apresentam para a economia brasileira. N a primeira parte, “ De onde viemos, onde estamos” , Leite faz um breve retrospecto históri-co da ehistóri-conomia brasileira, abordando desde a ati-vidade econômica primitiva, o período colonial e a industrialização, até os aspectos do Século XX, como os impactos das duas guerras mundiais e a era Vargas. Ainda na primeira parte, o segundo capítulo se propõe, com sucesso, a destrinchar para o leitor, especialmente o não-iniciado em economia, os principais conceitos e termos utili-zados na discussão econômica. Da mesma forma, apresenta um resumo das principais correntes teó-ricas e seus pressupostos.

N a segunda parte, “ Economia Essencial” , subdividada em sete capítulos, são discutidas a essência do processo econômico e os fatores de produção, onde se destacam, entre outras, ques-tões contemporâneas de grande impacto, como o problema do meio ambiente, trabalho e

popula-ção economicamente ativa, fatores de produpopula-ção e microeconomia aplicada.

N a terceira parte, de 11 capítulos, denomi-nada “ Economia Abrangente” , são discutidos o papel do Estado, sistema tributário e finanças, câmbio, contas nacionais, inflação e uma série de outros assuntos de relevância para um entendi-mento de fato abrangente da problemática eco-nômica. Algo bastante além do que se observa na maioria das análises econômicas predominantes, excessivamente enviesadas por uma abordagem quase que exclusivamente financeira.

N a quarta e última parte, “ O Brasil chega ao século XXI” , seis capítulos se dedicam a uma retrospectiva da economia brasileira contempo-rânea, o quadro social, ambiental e uma discus-são sobre estratégias de longo prazo. H á ainda uma breve contribuição sobre a questão da ética na economia.

O s elementos levantados por Dias Leite ao longo do seu abrangente livro nos permitem refle-tir sobre questões de fundo quanto às chances e riscos do Brasil diante do cenário de globalização. Além disso, o autor nos presenteia com uma abor-dagem bastante original da forma de ver a econo-mia, para além da questão meramente financeira e excessivamente centrada no curto prazo.

Trata-se de uma oportuna contribuição. Após um período de crescimento acelerado, que durou do final da segunda guerra mundial em meados da década de 1940 até o final dos anos 1970, intervalo que o Brasil cresceu cerca de 7% ao ano, os últimos vinte e cinco anos foram

mar-476 R evista de Econom ia Política 25 (4), 2005

Revista de Economia Política, vol. 25, nº 4 (100), pp. 476-479 outubro-dezembro/2005

Resenhas

A Economia Brasileira: De ond e viemos e ond e estamos

Antonio Dias Leite

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cados pelo “ stop and go” da atividade econômi-ca, associado a baixos níveis de crescimento (2% ao ano) e queda na taxa de investimentos. N os anos oitenta, o longo período de estagflação tam-bém coincidiu com o esgotamento do modelo de substituição de importações.

M ais tarde, os anos noventa vieram repre-sentar a década em que se abandonou o modelo nacional desenvolvimentista, baseado na substi-tuição de importações, para a abertura comercial e financeira, a privatização e a desregulamenta-ção dos mercados, que ampliou a vulnerabilida-de externa e inviabilizou o crescimento.

O ápice do período de elevados déficits em transações correntes coincidiu com uma fase far-ta de liquidez internacional, que garantiu os re-cursos para o seu financiamento. N o triênio 1998-2000, o déficit em conta-corrente foi quase que integralmente financiado com o ingresso recorde de investimentos diretos estrangeiros (IDE) mé-dios anuais de US$ 30 bilhões.

A conseqüência para a economia brasileira é que a maior exposição ao mercado internacio-nal induziu as empresas locais à busca de padrões de competitividade tendo como parâmetro o mer-cado mundial, o que implicou profundos ajustes defensivos na estrutura da produção brasileira.

O Brasil, pelo potencial econômico que re-presenta, pode desempenhar um papel mais ati-vo no noati-vo cenário internacional. O fato é que os Estados nacionais têm tido um papel funda-mental no destino das nações e essa observação não se restringe a países desenvolvidos. Assim, é preciso reestruturar a inserção externa brasileira, envolvendo a atratividade de investimentos pro-dutivos, a substituição de importações e geração de maior valor agregado local, a ampliação da in-ternacionalização das empresas nacionais e a ele-vação das exportações.

Isso é algo que requer a articulação dos ins-trumentos de políticas industrial, comercial e de ciência e tecnologia, no sentido de induzir e fo-mentar a reestruturação para uma inserção ativa na economia internacional. Esse é um pré-requi-sito para viabilizar o crescimento sustentado, ba-seado não só no fortalecimento do mercado in-terno, mas também na redução da vulnerabilidade externa.

A questão-chave é diminuir a vulnerabili-dade externa, mas mediante o crescimento sus-tentado da economia e sem gerar outros desequi-líbrios macroeconômicos. Isso pressupõe uma

mudança significativa em pelo menos três gran-des frentes de atuação.

A primeira é resgatar a capacidade de pla-nejamento e articulação do Estado. A experiên-cia bem-sucedida de países tem mostrado que es-se ponto é estratégico para superar os entraves. Isso engloba desde a identificação de gargalos na capacidade produtiva até a eliminação de desvan-tagens competitivas da economia.

A segunda frente é no sentido do projeto de desenvolvimento que adote políticas deliberadas de expansão das exportações, substituição com-petitiva das importações e desenvolvimento de centros locais de tecnologia. O foco aqui deve ser a diminuição da dependência tecnológica. Isso só é possível mediante uma clara articulação Esta-do-iniciativa privada e universidades/centros de pesquisas, para um esforço conjunto de supera-ção de debilidades e construsupera-ção de competências. O terceiro ponto é uma política externa mais ativa, o que envolve não só uma postura mais atuante nos grandes fóruns como também nas ne-gociações internacionais. O desafio é ampliar o acesso de produtos, empresas e serviços brasilei-ros nos grandes mercados, sem que isso implique contrapartida em abrir mão da soberania, aqui entendida como perda de capacidade de dirigir os próprios rumos, no que se refere à política in-dustrial, a decisões quanto ao poder de compra do Estado e outros itens que representam verda-deiras armadilhas nas pautas de negociações.

Esse é um desafio que pressupõe uma mu-dança fundamental de estratégia, diante dos de-safios impostos pela economia globalizada. A ex-celente contribuição de Dias Leite no seu livro perpassa com competência por grande parte des-ses desafios ao fazer uma abordagem abrangente sobre temas de relevância, correlacionando-os com as políticas e decisões econômicas. N esse sen-tido, o trabalho serve de exemplo aos professores e alunos de economia, aos profissionais econo-mistas e de áreas afins e a todo cidadão preocu-pado com os rumos do país.

A ntonio Corrêa de L acerda Doutor em Economia pelo IE/UN ICAM P, professor-doutor

do Departamento de Economia da PUC-SP

Referências

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