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J. bras. pneumol. vol.30 número2

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Academic year: 2018

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Ismar Chaves da Silveira

Filho de farmacêutico de uma pequena e pacata cidade do interior paulista, Jaboticabal, hoje centro avançado de pesquisas médicas. As farmácias, naquela época, congregavam o que havia de mais culto nas cidades do interior. Nessa época, como aluno brilhante bacharelou-se. No ginásio da mesma cidade quase menino já dava aulas particulares de química aos colegas...

A geração atual, desde a década de 50, não teve a ventura de conviver com I.C.S. como costumava assinar seus incontáveis escritos. O Brasil perdeu um símbolo do ensino da Pneumologia. Enquanto seus neurônios o permitiram, vítima de doença crônica, publicou centenas de verbetes na JBM, lançou a 4ª Edição de “O Pulmão”, livro mais difundido no ensino da especialidade. Prejudicado por movimentação difícil, acrescido de grave deficiência visual, não parou. Na reta de chegada, lutou contra a doença, como um atleta sm, mas de medicina. Paulista de nossa língua, ensinou muita gente a redigir de maneira clara e enxuta, inclusive a mim. Lembro-me ter sido ele o primeiro a lutar contra a forma absurda do “a nível de” em vez de “em nível de”, “a grosso modo” em vez de “grosso modo” e outras dezenas de erros. O destino não permitiu que ele editasse um grande dicionário de termos médicos que em breve seria lançado.

Desde a primeira edição de nosso Doenças Pulmonares, já se passaram 28 anos. Honrou seu título de consultor perene, respondendo sempre, com acerto e prontidão todas as nossas dúvidas. A propósito, foi a única fonte onde colhi a origem da palavra Chlamidia. Seu nome figura em todas as edições, sempre com menos destaque a que fazia jus. Berardinelli dizia: “Escrevi mais de um metro de livros, referindo-se a seu próprio currículo...”. O mesmo aconteceu com Ismar. Ao receber na Academia Nacional de Medicina o “Prêmio Jurzrykowski – pela dedicação à Pneumologia nas áreas de educação médica e atenção à pacientes”, por motivo de saúde não pôde comparecer, sobre a mesa da Presidência era essa medida de suas publicações.

Quando ganhou, após memorável concurso, para Professor Titular de Pneumologia da UERJ, sucedendo nosso Mestre comum Professor Aloísio de Paula, foi candidato único. Seu brilho potencial e já com numerosos títulos criaram tal situação. Otavio Ribeiro Ratto, fundador da Escola Paulista de Medicina e seu primeiro Titular de Pneumologia, como membro da banca examinadora, após assistir sua prova prática disse para que os presentes todos ouvissem: “Foi o mais

perfeito exame clínico que assisti como professor em toda minha carreira”. Otavio Ratto foi o primeiro especialista a falar sobre enfisema no Brasil. Colaborou nos estudos iniciais de Courmand (USA).

Na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, Ismar compunha o quadro de assistentes, mais tarde como livre docente na disciplina de Pneumologia do Professor Aloísio de Paula na UERJ. E assim tivemos a ventura de seu convívio.

Demorei muito para escrever sobre a partida de Ismar, irmão sábio amigo perene.

Nos anos dourados da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, no Serviço do Prof. Aloísio de Paula, Fernando Carneiro, Fernando Paulino, Walter Benevides, Nelson Libanio, Paulo Pernambuco, Eudorico Rocha Junior, Domingos Junqueira de Moraes, Nelson Vidal, Raul Scheidelmantel, Julio Mário Guimarães, Amado Pedro Caminha. Nesse painel de astros, Ismar ainda aparecia como professor de primeira grandeza.

Há aproximadamente noventa dias médicos e professores deixaram de contar com uma fonte perene de informações. O que escrevi sempre tinha o se imprimatur. Esta publicação obviamente não contou com sua participação. Só agora tive coragem de escrever algo justamente sobre ele sem consulta-lo... Sempre tive, já o disse mais de uma vez da minha ojeriza ao fazer justiça elogiando alguém desfilando um rosário de suas atividades. Citando aquela lenga-lenga sobre os que partiram.

Para se avaliar o papel de Ismar no ensino da Pneumologia entre nós seria preciso conviver com ele mesmo que fosse um tele-convívio por telefone. Pretenciosamente me coloco entre eles.

Sinto-me incapaz de fazer um necrológio a altura de seu papel como Professor e Autor, com letras maiúsculas por isso, acabei por fazer sua história natural. Certamente, caso alguma revista se disponha a publicar esta manifestação de saudade, alguns leitores hão de dizer: necrológio curto, omisso e meio desordenado. A esses eu direi: Qual de vocês aprendeu mais do que eu com ele? Qual de vocês, num concurso de docência, aplaudiu sua aprovação deixando o segundo lugar pra mim? Qual de vocês o amou mais que eu?

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