• Nenhum resultado encontrado

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Avaliação do Papel do Enriquecimento Ambiental em Animais Confinados Individualmente em Zoos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Avaliação do Papel do Enriquecimento Ambiental em Animais Confinados Individualmente em Zoos"

Copied!
103
0
0

Texto

(1)

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Avaliação do Papel do Enriquecimento Ambiental em Animais Confinados Individualmente em Zoos

Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Ciências Veterinárias

Área científica: Bem-estar animal

Fernando Tato Pereira

Orientador: Professor Doutor Bruno Jorge Antunes Colaço Coorientador: Professor Doutor Nuno Cruz Alvura

Vila Real, 2020

(2)

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Avaliação do Papel do Enriquecimento Ambiental em Animais Confinados Individualmente em Zoos

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Ciências Veterinárias Área científica: Bem-estar animal

Fernando Tato Pereira

Orientador: Professor Doutor Bruno Jorge Antunes Colaço Coorientador: Professor Doutor Nuno Cruz Alvura

Vila Real, 2020

(3)

ii

Declaração

Nome: Fernando Tato Pereira

Correio eletrónico: ferdo19tato@gmail.com

Designação do mestrado: Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Título da dissertação de Mestrado em Medicina Veterinária: Avaliação do Papel do Enriquecimento Ambiental em Animais Confinados Individualmente em Zoos

Orientador: Professor Doutor Bruno Jorge Antunes Colaço Coorientador: Doutor Nuno Cruz Alvura

Ano de conclusão: 2020

Declaro que esta dissertação de mestrado é resultado da minha pesquisa e trabalho pessoal e das indicações do meu orientador e coorientador. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto e na

bibliografia final. Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico.

Vila Real, Dezembro 2020

(4)

iii

Agradecimentos

Primeiramente gostaria de agradecer ao meu orientador Professor Doutor Bruno Jorge Antunes Colaço, pelo apoio, paciência e orientação que demonstrou para comigo, num ano bastante complicado a nível pessoal e global. Obrigado pela resiliência.

Gostaria também de agradecer ao meu Co-Orientador, Dr. Nuno Alvura que me possibilitou a realização deste estudo no Zoo da Maia. Obrigado pela oportunidade, hospitalidade, confiança e liberdade que me foi dada neste trabalho.

Agradecer também à minha Universidade, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, por me ter proporcionado as condições necessárias à realização deste trabalho. Mencionar também a minha gratidão ao Departamento de Ciências Veterinárias, pelo apoio global ao exercício académico que possibilitou a realização desta dissertação.

Obrigado também ao Prof Jorge Colaço e à Prof. Dra. Alcinda Barreiras pelos conselhos a nível da organização dos dados e da análise estatística. Foram cruciais para o bom desenvolvimento desta tese e para uma boa análise dos dados recolhidos.

Ao Dr. Joel Ferraz e à Dra Rute Almeida por me terem aceite na Clínica de Animais Exóticos do Porto numa fase bastante inicial deste trabalho, fornecendo-me experiência e conselhos essenciais.

Ao staff do Zoo da Maia por me ter recebido tão bem e me ter facilitado a aplicação deste método nos animais da sua coleção. Um obrigado especial à Paula Telinhos pela simpatia, acessibilidade e disponibilidade que mostrou para comigo no momento de introdução dos materiais. Agradecer também a todos os tratadores, mas em especial ao Luís Oliveira, à Vera Ferreira e ao Sr. Paulo pela ajuda, pela capacidade de compreensão, pela alegria, boa disposição e pela companhia que me fizeram durante a recolha de dados deste trabalho. Não me esquecerei de certeza!

A nível pessoal gostaria de dizer que não tenho palavras para agradecer o apoio que a minha família me deu durante todo o meu percurso académico, mas especial durante este último ano. Para mim são a coisa mais importante e sem eles nunca conseguiria ter terminado este trabalho. Em especial à minha Mãe Isabel Tato e ao meu irmão mais novo, Luís Tato, por me terem ouvido e aconselhado em alturas bastante difíceis. Sem vocês nada disto era possível.

À minha namorada, Anita, pela capacidade de ouvir e compreender, pelos conselhos, pela orientação e ajuda que me deu durante todo o processo de formação.

Obrigado meu amor.

Agradecer também aos meus amigos e colegas que me acompanharam estes anos todos. Em especial ao pessoal do Centro de Estudos, foram a minha segunda família durante muitos anos e vivemos momentos que tenho a certeza que nunca esqueceremos. Obrigado do fundo do coração.

(5)

iv

Ao meu ano, os Brutos e Mulas, pelos conselhos, companheirismo, dedicação e diversão que me proporcionaram estes anos todos.

À minha família de praxe, Família Mexicanus, espero que tenham vivido os momentos tão intensamente como eu e que continuem a tradição para as gerações futuras. Em especial à minha afilhada, Inês Salavisa por ter alinhado comigo, com muita paciência, nesta aventura.

E finalmente, não me poderia esquecer dos meus colegas estagiários do Zoo da Maia, Cristóvão Bélperin e Ricardo Silva, com os quais formei uma boa amizade.

Obrigado por me aturarem todos os dias, o dia todo, obrigado pela companhia, criatividade e conselhos que me transmitiram.

(6)

v

Resumo

Diversos estudos indicam que o bem-estar animal tem um grande impacto na saúde dos animais e na maneira como estes se comportam. Com o progresso da sociedade, é cada vez mais relevante preocuparmo-nos com as necessidades dos animais que mantemos confinados. No meio natural os animais são expostos a uma variedade de informação sensorial que dificilmente pode ser replicada em condições de confinamento. No caso específico de um animal que está alojado individualmente, privado de contacto com a sua própria espécie, maior será a dificuldade em providenciar ao animal os estímulos necessários a uma vida saudável. O alojamento individual na maioria das espécies é indesejável porque diminui a capacidade do animal de expressar comportamento social normal e estabelecer relacionamentos com indivíduos da mesma espécie.

Esta dissertação teve como objetivo avaliar o papel que o enriquecimento ambiental (EA) pode ter na melhoria do bem-estar em animais que estão confinados individualmente em Zoos. Para o efeito foram elaborados planos de enriquecimento ambiental rotativo, aplicados a três animais que se encontravam em confinamento individual: um urso-pardo (Ursus Arctos), uma leoa (Panthera leo) e um tigre (Panthera tigris). Estes planos englobaram diversos itens de enriquecimento ambiental como a boomer ball, canas com especiarias, esfera de sangue congelado, bobine de madeira, zebra de cartão e pirâmide pendurada. Para efeitos de avaliação foram consideradas três fases: a fase de controlo (FC), a fase de enriquecimento ambiental (FEA) e a fase do pós-enriquecimento ambiental (FPEA). Na primeira fase foi observado o comportamento normal do animal sem introdução de enriquecimento ambiental. Na segunda fase observamos o reportório comportamental dos animais após a introdução dos itens de enriquecimento. E na terceira fase avaliamos a manifestação comportamental dos animais após a remoção dos itens de EA. Durante o período de execução do plano de enriquecimento ambiental os animais foram filmados e posteriormente foi realizada a análise comportamental utilizando um etograma previamente estabelecido.

Constatamos que o plano de enriquecimento ambiental rotativo aplicado neste trabalho apresentou benefícios para os animais em estudo. Os resultados mostram que o urso-pardo (Ursus arctos), apresentou uma diminuição dos comportamentos estereotipados (CE) e inativos na FEA (de 15% para 11%) e manteve esta expressão de reportório comportamental na fase de pós-enriquecimento (11 %). A leoa (Panthera leo) apresentou uma redução progressiva dos CE ao longo das três fases (de 1,7% em FC para 0,46% em FPEA) em conjunto com uma redução de comportamentos potencialmente indicadores de stress como grooming (de 5% para 3%) e vocalizações (de 2,1% para 0,04%). Já no caso do tigre (Panthera tigris), houve um aumento dos CE na FEA passando de 19,6% para 42%. Contudo na FPEA observamos valores percentuais de CE de 7%

muito abaixo dos registados em FC ou FEA.

Desta forma, podemos concluir que o plano de EA aplicado reduziu a expressão de comportamentos estereotipados na FPEA nos três animais avaliados, contudo será importante elaborar um plano de monitorização comportamental de longo prazo associado ao desenvolvimento pró-ativo de técnicas de enriquecimento ambiental.

Palavras-chave: Urso; Tigre; Leão; Bem-estar; Comportamento; Estereotipado;

Enriquecimento; Ambiental.

(7)

vi

ABSTRACT

Several studies show that the wellbeing of animals has a great impact in their health and in the way these behave. With the advancement of consciousness and ethics in society, it is of greater relevance to worry about the needs of the animals we keep in confinement. In the natural environment, animals are exposed to a set of different sensory information which are hardly replicated under confinement conditions. In the specific case of an animal who is confined individually, deprived of contact with its own species, all these problems worsen. Individual confinement, in most species, is undesired since it removes the ability of the animal to express normal social behaviour and establish relationship with individuals of the same species.

This dissertation aimed to evaluate the role that environmental enrichment (EA) can play in improving the welfare of animals that are individually confined in zoos. For that purpose, rotating environmental enrichment plans were elaborated and applied to three animals that were in individual confinement: a brown bear (Ursus Arctos), a lioness (Panthera leo) and a tiger (Panthera tigris). These plans comprise of diverse items for environmental enrichment such as the boomer ball, canes with spices, frozen spheres of blood, a wooden coil, a cardboard zebra, and a hanging pyramid. Three phases were considered for evaluation purposes: the control phase (FC), the environmental enrichment phase (FEA) and the post-environmental enrichment phase (FPEA). In the first phase, the normal animal behaviour without the introduction of environmental enrichment was observed. In the second phase, we observe the repertoire of behaviours of the animals after the introduction of enrichment items. Lastly, in the third phase we evaluate the behavioural manifestations of the animals after the removal of the EA items. During the implementation of the environmental enrichment plan the animals were recorded; and subsequently the behavioural analysis was performed following a previously established ethogram.

We notice the rotating environmental enrichment plan applied in this paper presented benefits for the animals studied. The results show that the brown bear (Ursus arctos) demonstrated a decrease in stereotyped behaviours (CE) and inactive behaviours in the FEA (from 15% to 11%), and maintained this expression of behavioural repertoire in the post-enrichment phase (11%). The lioness (Panthera leo) presented a progressive reduction in CE throughout the three phases (from 1,7% in FC to 0,46% in FPEA) along with a reduction in potentially stressful behaviours like grooming (from 5%

to 3%) and vocalisations (from 2,1% to 0,04%). In the case of the tiger (Panthera tigris), there was an increase in CE in FEA segueing from 19,6% to 42%. Nonetheless, in FPEA, we observed EC percentage values of 7%, far below those recorded in FC or FEA.

Thus, we can conclude that the EA plan applied reduced the expression of stereotyped behaviours in FPEA in the three animals evaluated, yet it is of relevance to design a long-term behavioural monitoring plan associated with the pro-active development of environmental enrichment techniques.

Keywords: Bear; Tiger; Lion; Wellbeing; Behaviour; Stereotyped; Enrichment;

Environment.

(8)

vii

ÍNDICE

Agradecimentos……….iii

Resumo………..v

Abstract………vi

Índice……….vii

Índice de Figuras……….ix

Índice de Tabelas……….x

Índice de Gráficos………xi

Siglas e abreviaturas………xii

I. Revisão bibliográfica……….…………1

1. Introdução……….1

2. Biologia das espécies em estudo………2

2.1 Familia Ursidae………..2

2.1.1 Ursus arctos………4

2.2 Familia Felidae………6

2.2.1 Panthera leo………..8

2.2.2 Panther tigris………..………..11

3. Bem-estar de animais em cativeiro………15

3.1 Bem-estar e necessidades básicas dos animais………16

3.2 Stress animal………18

3.3 Comportamento estereotipado……….19

4. Enriquecimento ambiental………..21

4.1 Importância do enriquecimento ambiental………22

4.2 Tipos de Enriquecimento ambiental………24

4.2.1 Enriquecimento Passivo……….24

4.2.1.1 Visual……….24

4.2.1.2 Auditiva………25

4.2.2 Enriquecimento Ativo………..26

4.2.2.1 Social………..26

4.2.2.2 Interação Humano-Animal………..28

4.2.2.3 Cognitivo/Opcional………..29

4.2.2.4 Alimentar……….30

4.2.2.5 Olfativo……….31

4.2.2.6 Estrutural……….32

II. Objetivos………..33

III. Materiais e métodos………34

1. Local de Estudo………34

2. Animais em Estudo………35

2.1 Ursus arctos – Urso-pardo (Júnior)……….35

2.2 Panthera leo - Leoa (Anna)………..36

2.3 Panthera tigris – Tigre (Ankur)………..37

3. Enriquecimentos Ambientais……….38

3.1. Itens de Enriquecimento ambiental utilizados no estudo………..……..38

3.1.1. Bobine de Madeira……….38

3.1.2. Canas com Especiarias………39

3.1.3. Boomber ball……….40

(9)

viii

3.1.4. Esferas de sangue congeladas………41

3.1.5. Zebra de Cartão………42

3.1.6. Pirâmide Congelada………..43

3.1 Plano de Enriquecimento Ambiental………...44

3.2.1 Plano de Enriquecimento de Ursus arctos………45

3.2.2 Plano de Enriquecimento de Panthera leo………..46

3.2.3 Plano de Enriquecimento de Panthera tigris……….46

4. Metodologia e Colheita de dados………47

4.1. Etograma………48

4.2 Analise Comportamental……….54

5. Analise Estatística……….54

IV. RESULTADOS………55

1. Ursus arctos………...55

2. Panther leo……….58

3. Panthera tigris……….60

4. Avaliação global………..63

V. Discussão……….67

1. Ursus arctos………..67

2. Panthera leo………..………..68

3. Panthera tigris……….70

4. Avaliação Global do plano de Enriquecimento Ambiental………..71

VI. Conclusão………..72

VII. Perspetivas Futuras………73

VIII. Bibliografia……….75

IX. Anexos………..84

(10)

ix

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1………18

Figura 2………34

Figura 3………35

Figura 4………36

Figura 5………37

Figura 6………38

Figura 7………39

Figura 8………39

Figura 9………40

Figura 10……….41

Figura 11……….42

Figura 12……….42

Figura 13……….43

(11)

x

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1……….4

Tabela 2……….8

Tabela 3………..11

Tabela 4………..49

Tabela 5………..50

Tabela 6………..51

Tabela 7………..52

Tabela 8………..53

Tabela 9………..53

Tabela 10………85

Tabela 11………86

Tabela 12………87

Tabela 13………88

Tabela 14………88

Tabela 15………89

Tabela 16………89

Tabela 17………90

Tabela 18………90

(12)

xi

ÍNDICE DE GRAFICOS

Gráfico 1……….56

Gráfico 2……….57

Gráfico 3……….57

Gráfico 4……….58

Gráfico 5……….59

Gráfico 6……….60

Gráfico 7……….61

Gráfico 8……….62

Gráfico 9……….62

Gráfico 10………..63

Gráfico 11………..64

Gráfico 12………..65

Gráfico 13………..66

(13)

xii

ÍNDICE DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CE – Comportamento Estereotipado EA – Enriquecimento Ambiental FC – Fase de Controlo

FEA – Fase de Enriquecimento Ambiental FPEA – Fase Pós Enriquecimento Ambiental

(14)

1

I. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1. Introdução

No meio natural os animais são expostos a uma variedade de informação sensorial que dificilmente pode ser replicada em condições de confinamento. A existência de comportamentos estereotipados foi primeiramente considerada observando animais em cativeiro que apresentavam comportamentos repetitivos (Swaisgood & Shepherdson, 2005). Consideramos um comportamento estereotipado qualquer padrão de movimento que seja executado repetidamente, relativamente invariável na forma e que não possui função ou objetivo aparente (Rees, 2011). Os comportamentos dos animais são influenciados pelo ambiente que os rodeia (Robert John Young et al., 2020). A maioria dos animais que são mantidos em habitats pouco estimulantes, tendem a aumentar os níveis de stress o que pode levar à perda de apetite e comportamentos imprevisíveis. Por outro lado, a falta de espaço no habitat torna o animal sedentário e sem grandes opções para realizar a sua natural atividade física, aumentado assim a sua ansiedade (Szokalski et al., 2012).

Se falarmos de um animal que está confinado individualmente, privado de contacto com a sua própria espécie, todos estes problemas se agravam. O confinamento individual na maioria das espécies é indesejável porque remove a capacidade do animal de expressar comportamento social normal e estabelecer relacionamentos com indivíduos da mesma espécie (Clubb & Mason, 2003; de Rouck et al., 2005; Hoy et al., 2009; Rees, 2011; Bays, 2014; Robert John Young et al., 2020). Até em espécies consideradas naturalmente solitárias, interações com animais conspecíficos em cativeiro, podem promover o aparecimento de comportamentos desejáveis, que em várias espécies foram correlacionados com a melhoria do bem-estar (de Rouck et al., 2005; Catapani et al., 2019).

Numa tentativa de melhorar a saúde física e mental têm-se estabelecido programas de enriquecimento ambiental de modo a mimetizar os comportamentos exibidos no habitat natural (Szokalski et al., 2012). Alguns exemplos de enriquecimento ambiental são: novos alimentos, alteração das rotinas de alimentação, dispositivos de alimentação, introdução de brinquedos e estimulação olfativa (Robert J Young, 2003;

Skibiel et al., 2007; F. Clark & King, 2008; Wells, 2009; Hoy et al., 2009; Rees, 2011;

Szokalski et al., 2012; Bays, 2014; Robert John Young et al., 2020; Clayton & Shrock, 2020).

(15)

2

2.BIOLOGIA DAS ESPÉCIES EM ESTUDO

2.1. FAMÍLIA URSIDAE

Ursidae, é uma família caraterizada por conter os maiores membros da ordem Carnivora. Com apenas 8 espécies distribuídas por 3 subfamílias, estes gigantes adaptaram-se ao longo dos anos a uma enorme diversidade de habitats, sendo muito bem-sucedidos (Burnie, 2002; Hüseyin Ambarli et al., 2016; McLellan et al., 2017;

Scotson et al., 2017; Velez-Liendo & García-Rangel, 2017).

Os ursos são conhecidos pelo seu tamanho e robustez bem como pelo seu bom sentido de olfato. As suas cabeças são grandes e largas e exibem focinhos longos e orelhas pequenas. Podem ter até 3 metros de comprimento e pesar até 700 kilos, variando de espécie para espécie. As fêmeas normalmente são mais pequenas que os machos, sendo que nas espécies de maior porte a diferença é mais notória. Algumas espécies da família Ursidae apresentam uma boça muscular entre os ombros, como é o caso da espécie em estudo, o Ursus arctos (Burnie, 2002; Cavendish, 2010; A. C.

Kitchener & Asa, 2010; McLellan et al., 2017; Scotson et al., 2017; Velez-Liendo & García- Rangel, 2017; Hilderbrand et al., 2018).

Estes animais exibem corpos portentosos, com membros relativamente pequenos, mas fortes e musculados que terminam em membros plantígrados. Ao contrário da maioria dos animais englobados na ordem Carnívora (que são digitígrados), os Ursos apresentam uma postura plantígrada, o que significa que apoiam o seu peso na palma/planta dos respetivos membros. Esta característica faz com que apresentem um excelente equilíbrio, o que lhes permite ficar em pé apoiados apenas nos membros posteriores. Os seus membros terminam em garras não retrateis, sendo que as dos membros torácicos são maiores do que as dos membros pélvicos. Estas adaptações facilitam a sua alimentação, no entanto diminuem a sua velocidade. Por estes motivos a alimentação destes animais não se baseia apenas na perseguição e caça, mas também na recolha de frutos, tubérculos e folhas. As suas garras são utilizadas para trepar árvores ou para pesquisar o solo, bem como em tarefas de predação como rasgar tecido ou agarrar as presas. As garras dos Ursus arctos são das maiores da família, possivelmente devido as adaptações para o seu habitat (Burnie, 2002; Cavendish, 2010;

McLellan et al., 2017; Scotson et al., 2017; Velez-Liendo & García-Rangel, 2017). A dentição dos ursos também difere um pouco dos restantes carnívoros. A evolução fez com que os ursos passassem a depender menos duma alimentação à base de carne, tornando-os mais omnívoros. Assim sendo, ao contrário da maioria dos carnívoros, os animais englobados nesta família não apresentam molares carniçais bem desenvolvidos, mas sim molares mais planos próprios para uma alimentação mais vegetal. Os seus caninos longos (típicos dos animais da ordem Carnivora) são mais utilizados para ameaçar do que para alimentação. Logo, estes animais distinguem-se dos restantes da sua ordem, pois apesar do nome Carnivora levar a pensar em animais que se alimentam exclusivamente de carne, eles apresentam uma dieta predominantemente omnívora (Burnie, 2002; Sacco & van Valkenburgh, 2004; Fergus, 2005; Cavendish, 2010; A. C.

Kitchener & Asa, 2010; McLellan, 2011; Kaczensky et al., 2012).

Uma dieta omnívora, leva a que os ursos passem grande parte do seu tempo em busca de alimento e para tal dependem do seu excelente sentido olfatório. Outros

(16)

3

órgãos dos sentidos, como as orelhas, foram diminuindo com a evolução para minorar as perdas de calor. Também os olhos são de reduzido tamanho em comparação com o tamanho da cabeça. E contrariamente à maioria dos outros carnívoros, estas espécies não apresentam vibrissas. Tudo isto porque os ursos utilizam o seu apurado olfato como sentido principal na busca de alimento (Burnie, 2002; Cavendish, 2010; Tomiyasu et al., 2017). O olfato é também aproveitado para comportamentos de marcação territorial e procura de parceiro. Eles utilizam a secreção dos sacos-anais misturada na urina para deixar sinais químicos da sua presença no território. Estes sinais podem codificar mensagens como o estado reprodutivo do animal, ou apenas a marcação territorial. Para melhor detetarem estas feromonas os ursos são dotados do órgão de Jacobson ou órgão vomeronasal (Cavendish, 2010; Huseyin Ambarli, 2010; Rosell et al., 2011; Tomiyasu et al., 2017). Assim podemos concluir que os ursos são extremamente dependentes do seu sentido olfatório, utilizando-o na maioria dos seus comportamentos.

O propósito da busca incessante de alimento por parte dos ursos tem como objetivo acumular reservas energéticas de modo a sobreviver a períodos de escassez de alimento. Em muitas situações, como é o caso dos Ursus arctos, estes vivem em habitats que durante o inverno não possuem muitos recursos alimentares. Por isso, estes animais passam grande parte da época quente a acumular reservas energéticas para conseguirem ultrapassar um inverno sem alimento. Contudo, apenas reservas energéticas não suportam o metabolismo normal destes animais durante os meses de inverno. Eles desenvolveram uma adaptação que lhes permite ultrapassar a estação fria, a hibernação. Durante o período de hibernação, ocorre uma redução da temperatura corporal, da frequência respiratória e cardíaca para níveis basais, levando assim a níveis de atividade metabólica muito baixos. Desta forma os ursos consomem lentamente as reservas de energia ao longo dos meses, não dependendo da alimentação para sobreviver (Burnie, 2002; Rafferty, 2011; Vaughan et al., 2011; Evans et al., 2016; Vella et al., 2020; González‐Bernardo et al., 2020). No final deste período, os ursos emergem do seu abrigo e recomeçam de imediato a procura de alimento de modo a se prepararem para a próxima estação fria e assegurarem a sua sobrevivência. Em condições naturais a esperança média de vida de um urso-pardo (Ursus arctos) é de aproximadamente 25 anos, o que prova a sua determinação e resiliência aos desafios do seu habitat (Burnie, 2002; Cavendish, 2010; A. C. Kitchener & Asa, 2010; L Hunter &

Barrett, 2019).

Neste estudo, analisamos o comportamento em cativeiro de um Urso-pardo (Ursus arctos), desta forma é importante percebermos como é a vida natural desta espécie e quais são os seus comportamentos típicos. No capítulo seguinte abordaremos mais em detalhe a espécie em estudo.

(17)

4

2.1.1. Ursus arctos

O urso-pardo (Ursus arctos) é uma espécie carnívora pertencente à classe dos mamíferos. Atualmente é um dos maiores carnívoros terrestres a habitar o nosso planeta.

Tabela 1 – Classificação científica do Urso-pardo (Ursus arctos) Reino Animalia

Filo Chordata Classe Mammalia Ordem Carnivora Família Ursidae Género Ursus Espécie Ursus arctos

Habitat Natural

O urso-pardo é uma das espécies com mais vasta distribuição. O seu tamanho, que pode variar consideravelmente, depende da sua alimentação e do seu habitat (Burnie, 2002). Habitam regiões da América do Norte, Europa e Asia tendo sido desenvolvidas algumas subespécies, como o Ursus arctos arctos que abordaremos mais em detalhe (Burnie, 2002; Mclellan et al., 2017). Em termos de biomas, habitam desde áreas florestais até zonas de tundra (Burnie, 2002). Com a destruição do seu habitat natural, os Ursus arctos arctos, habitam agora principalmente regiões montanhosas de floresta (Burnie, 2002).

Outrora abundante em Portugal, hoje em dia não existem relatos da sua presença em território nacional. Sabe-se que a destruição do habitat e a existência de caça excessiva levou ao seu desaparecimento, apesar de existirem relatos de avistamentos até ao seculo XX (Burnie, 2002; Álvares & Domingues, 2010).

Comportamento Natural

Os urso-pardos são animais principalmente solitários. Despendem a maior parte do tempo a percorrer o seu território, seja à procura de alimento ou a fazer marcação territorial. A marcação territorial é muito importante, pois estabelece os limites do seu território e sinaliza a sua presença a outros indivíduos da mesma espécie. Para marcar o território, os ursos utilizam sobretudo a sua urina misturada com secreções dos sacos anais, pois liberta o seu odor característico. Este sinal químico deixado, pode sinalizar também a fase reprodutiva em que o animal se encontra. Além disso, arranham, mordem e raspam troncos das arvores de modo a deixar clara a sua presença (Huseyin Ambarli, 2010; Rosell et al., 2011; Gomes Lima et al., 2012).

(18)

5

Estas marcações são importantes especialmente na época reprodutiva que ocorre entre Maio e Junho. Nesta época os machos procuram fêmeas para acasalar. É importante notar que tanto os machos como as fêmeas são polígamos, procriando com vários indivíduos (Kaczensky et al., 2012). Nesta altura a sua área de dispersão aumenta, na esperança de encontrar mais fêmeas, de modo a aumentar a probabilidade de reprodução (Swenson et al., 2000; Dahle & Swenson, 2003).

Mais tarde, durante o Inverno, procuram ou constroem um local seguro para hibernarem. Aproveitam as reservas energéticas que acumularam durante o período de hiper-alimentação no Verão para manterem o seu organismo a funcionar (Rafferty, 2011; Vaughan et al., 2011). As fêmeas que acasalaram com sucesso, têm o parto durante a hibernação, normalmente entre Janeiro e Fevereiro. Ter o parto enquanto hiberna ocorre porque as fêmeas têm uma adaptação que faz com que o óvulo fertilizado permaneça livre no útero durante cinco meses, unindo-se à parede uterina no início da hibernação quando a gravidez real começa. As ninhadas são geralmente de duas a três crias e o trabalho de as criar é exclusivo da progenitora (Rafferty, 2011;

Kaczensky et al., 2012). Normalmente as crias permaneçam junto da progenitora durante um período que pode variar entre um ano e meio a três anos. O tempo que as crias ficam com a progenitora é bastante influenciado pelo habitat que os rodeia. Em zonas de escassez de alimento, ou com condições climatéricas mais severas, este período pode estender-se até aos 5 anos (Fergus, 2005; Nawaz et al., 2008; Kaczensky et al., 2012). Quando estão preparados para a vida solitária, os juvenis abandonam a progenitora em busca do próprio território (Long, 2004).

Alimentação

Apesar de estarem inserido na ordem Carnivora, estes animais são naturalmente omnívoros, alimentando-se principalmente de frutas, raízes, sementes e insetos.

Possuem um nariz especializado, com um sentido de olfato muito apurado que lhes facilita a procura de alimento, sendo provavelmente o mais apurado de todos os mamíferos (Fergus, 2005; Gomes Lima et al., 2012). São animais que se adaptam muito bem ao seu habitat podendo também alimentar-se de peixes e mamíferos, caso surja a oportunidade ou caso haja falta de alimento (Burnie, 2002; Kaczensky et al., 2012).

(19)

6

2.2. FAMÍLIA FELIDAE

Uma das mais famosas famílias do reino animal, a família Felidae é caraterizada por ser uma família de mamíferos predadores, da ordem Carnivora. Esta família é uma das mais bem-sucedidas a nível evolutivo, estando presente na Terra há cerca de 30 milhões de anos, apresentando dispersão mundial em todos os continentes com exceção da Antártida. Os membros desta família são popularmente denominados de felinos e são caçadores exemplares (O’Brian, 2001; Sunquist & Sunquist, 2002; Burnie, 2002; Grzimek, 2003; Werdelin et al., 2010).

Os felinos apresentam uma ampla variação de tamanhos, desde pequenos Felis negripes de 2kg a espécimes de 300 kg como o Panthera tigris (animal incluído neste estudo). Exibem dimorfismo sexual, sendo os machos maiores e mais musculosos do que as fêmeas. Em algumas espécies, como os leões (Panthera leo), os machos também demonstram ornamentação que é usada para atrair potenciais parceiros (O’Brian, 2001;

Sunquist & Sunquist, 2002; Grzimek, 2003; A. Kitchener et al., 2010; Luke Hunter, 2015).

Os seus corpos parecem desenhados para a caça, sendo elegantes e ao mesmo tempo musculados, apresentando sentidos apurados, dentes e garras desenvolvidos, reflexos rápidos e diversas colorações de pelagem que lhes servem de camuflagem nos diferentes habitats que ocupam (O’Brian, 2001; Sunquist & Sunquist, 2002; Burnie, 2002; Grzimek, 2003; Christiansen, 2008; Werdelin et al., 2010; Luke Hunter, 2015). A evolução dotou-os destas armas de caça, pois têm altas necessidades de proteína na dieta, sendo até por vezes denominados de hipercarnivoros (Sunquist & Sunquist, 2002).

Todos membros desta família possuem comportamentos e caraterísticas muito semelhantes, sendo que as diferenças entre um gato-doméstico e um tigre são incrivelmente pequenas. Por exemplo, todos são excelentes trepadores e apresentam comportamentos de marcação territorial (Burnie, 2002; Grzimek, 2003; Christiansen, 2008; A. Kitchener et al., 2010; Werdelin et al., 2010).

Também podemos verificar diversas semelhanças a nível anatómico. Todos os felinos apresentam uma face arredondada e um focinho relativamente curto, com uma pesada mandibula e grandes orbitas. Os caninos são longos e pontiagudos de modo a facilitar a perfuração dos tecidos das presas com o mínimo esforço. São também dotados de dentes carniceiros com poder de cortar ossos e tendões. As suas línguas são ásperas e apresentam centenas de papilas filiformes orientadas para dentro da boca para ajudar a raspar a carne dos ossos (Boshel et al., 1982; A. Kitchener et al., 2010; Noel

& Hu, 2018). Todas estas caraterísticas ajudam a que tenham a capacidade de desferir uma poderosa dentada que é muito útil nos processos de caça e alimentação (O’Brian, 2001; Sunquist & Sunquist, 2002; Burnie, 2002; Grzimek, 2003; Christiansen, 2008).

As garras destes animais são também essenciais ao seu sucesso. São animais digitígrados, o que significa que caminham sobre os dígitos dos seus membros. Os seus membros são dotadas de cinco dígitos nos membros torácicos e quatro nos pélvicos, todos eles com garras curvas e retrateis (à exceção do género Acinonyx, que não possui garras retrateis). As garras retrateis são uma das caraterísticas mais reconhecidas nesta família de animais. Os segmentos distais dos seus dígitos são puxados para trás por tendões, guardando as garras em bainhas, enquanto o animal está relaxado. Assim, as garras mantem-se bastante afiadas pois estão retraídas a maioria do tempo. Os felinos utilizam as suas garras afiadas para um vasto número de ações como por exemplo para agarrar e ferir as presas, bem como para trepar e lutar. Além das garras retrateis, os seus

(20)

7

membros também apresentam almofadas plantares trilobadas rodeadas por pelo. Estas almofadas plantares conferem a estes animais, um caminhar silencioso que lhes permite aproximar das presas sem que sejam detetados (Sunquist & Sunquist, 2002; Burnie, 2002; Grzimek, 2003; Homberger et al., 2009; Cuff et al., 2016).

Outra caraterística que ajuda a que estes animais passem despercebidos, é a sua pelagem. A pelagem de um felino tem uma grande importância na sua camuflagem, tendo em conta que o ajuda a esconder-se das presas quando se está a aproximar para caçar. Em termos de família, os felinos apresentam uma grande variedade de padrões de pelagens estando normalmente adaptadas ao bioma em que estes habitam. As cores variam do preto ao laranja e branco, passando por padrões como manchas, rosetas e riscas. Algumas espécies apresentam também variantes melanísticas, também conhecidas como panteras negras (especialmente Panthera pardus). Um exemplo das adaptações das pelagens surge em espécies que habitem regiões mais frias. Estas vão apresentar um pelo mais denso com coloração clara ou branca (Panthera uncia e Panthera tigris altaica) para melhor se protegerem do frio e esconderem na neve. Outro exemplo é a pelagem listrada do Tigre (Panthera tigris) que faz com que este passe despercebido entre ervas altas caraterísticas do seu habitat natural. A pelagem das leoas (Panthera leo) tem uma coloração semelhante a vegetação do habitat que as rodeia.

Desta forma, quando estão em perseguição da presa, conseguem passar mais facilmente despercebidas. Como o bioma onde habitam é caraterizado por elevadas temperaturas, apresentam uma pelagem fina e clara de modo a arrefecer mais rapidamente (Sunquist

& Sunquist, 2002; Grzimek, 2003; Schneider et al., 2012; Luke Hunter, 2015).

Por fim, os felinos ostentam órgãos dos sentidos que lhes permitem ser mais sensíveis ao mundo que os rodeia. Os seus olhos são relativamente grandes, situados frontalmente, para fornecer uma visão binocular. São capazes de ver durante a noite pois os seus globos oculares possuem tapetum lucidum, uma membrana retrorrefletora posicionada atrás da retina. Esta estrutura reflete a luz de volta para o interior do olho, fazendo com que mais fotões cheguem aos fotorreceptores permitindo assim a visão em condições de baixa luminosidade. Estima-se que a visão dos felinos seja cerca de seis vezes superior à dos humanos. Esta visão tão apurada faz com que os felinos consigam detetar virtualmente qualquer presa a qualquer altura do dia (Sunquist & Sunquist, 2002; Ollivier et al., 2004; Schwab, 2005).

Outros sentidos, como a audição e o tato, também apresentam órgãos específicos que potenciam a excelente capacidade de deteção do meio-ambiente por parte destes animais. As suas orelhas e as vibrissas facilitam a predação típica dos felinos. A audição é um sentido muito importante para animais predadores pois pode determinar se encontram ou não alimento. Por consequência, as orelhas dos felinos tendem a ser grandes, moveis e são especialmente sensíveis a sons de alta frequência (especialmente nas espécies de pequeno porte que se alimentam de roedores). Para a ajudar na deteção destes pequenos animais, os felinos apresentam vibrissas. As vibrissas, são órgãos tácteis, extremamente sensitivos que ajudam na navegação noturna e na deteção de ligeiros movimentos feitos por pequenas presas. São prolongamentos queratinosos que se assemelham a bigodes. Ao contrário de outros mamíferos, as vibrissas dos felinos localizam-se acima dos olhos, nas bochechas, no rosto, mas não abaixo do queixo (Sunquist & Sunquist, 2002; Grzimek, 2003; A.

Kitchener et al., 2010; Vaughan et al., 2011).

(21)

8

A acrescentar a estas adaptações, os felinos também possuem um órgão olfatório auxiliar denominado de órgão de Jacobson ou órgão vomeromonasal. Este órgão localiza-se no tecido mole do septo da cavidade nasal, por cima do palato duro e é um órgão quimiorrecetor. A função deste órgão é ajudar na deteção dos odores que existem no ar, especialmente feromonas ou odores intensos. Este órgão revela um papel importante nas interações conspecíficas, principalmente na procura de parceiro de reprodução. Ao detetar feromonas, o animal enruga o lábio superior e as narinas, expondo ao máximo o órgão. Desta maneira facilita o contacto do ar com o mesmo e aumenta a perceção do cheiro em questão. A este movimento chamamos de reflexo de Flehmen ou reposta de Flehmen (Salazar et al., 1996; Sunquist & Sunquist, 2002; D. S.

Mills, 2010; A. Kitchener et al., 2010; Vaughan et al., 2011).

Com todas estas adaptações os felinos são uma das famílias mais bem-sucedidas ao longo da evolução das espécies. Neste estudo participaram dois indivíduos desta família, uma fêmea Panthera leo e um macho Panthera tigris. Estas espécies apesar de apresentarem semelhanças, evoluíram sofrendo pressões ambientais diferentes. Assim desenvolveram ligeiras diferenças físicas e de comportamento. Estas diferenças são importantes para conseguirmos perceber melhor o modo como cada espécie atua no habitat natural e consequentemente num habitat confinado.

De seguida, descreveremos com maior detalhe a biologia de cada espécie em estudo.

2.2.1. PANTHERA LEO

O leão (Panthera leo) é uma das mais famosas espécies do mundo animal.

Pertence ao género Panthera também conhecido como o género dos grandes felinos (tabela 2).

Tabela 2 - Classificação científica do leão (Panthera leo) Reino Animalia

Filo Chordata Classe Mammalia Ordem Carnivora Família Felidae Género Panthera Espécie Panthera

leo

Possui um corpo musculado e de peito profundo, cabeça curta e arredondada, orelhas redondas e um tufo peludo no final da cauda. É sexualmente dimórfico sendo que os machos adultos apresentam uma juba proeminente que não está presente nas fêmeas.

O dimorfismo sexual destes animais não é notável apenas pela juba, mas também pelo seu tamanho. O comprimento típico da cabeça à ponta da cauda de um macho adulto pode ir até 2,1 metros sendo que em média o seu comprimento varia de 1,80 a 2,5m. As fêmeas crescem menos, atingindo em média, comprimentos entre 1,60

(22)

9

a 1,90m. Como falaremos a seguir, os leões são uma espécie social e formam grupos com os quais passam a maior parte das suas vidas.

Habitat natural

Esta espécie habita maioritariamente na África Subsaariana. Ocupa as extensas pastagens que se estendem desde sul do Saara, passando pelo leste da África, terminando na parte inferior do continente (Burnie, 2002). Em termos de biomas, os leões habitam uma variedade de ambientes, incluindo deserto, planícies de gramíneas, prados arborizados, florestas e áreas de matagal. Preferem zonas com maior densidade de flora pois têm maior proteção das altas temperaturas caraterísticas dos habitats que residem. A cobertura da vegetação tem também um papel importante na altura da caça pois ajuda na camuflagem. O extremo calor durante o dia leva a que esta espécie seja mais ativa durante o crepúsculo e durante a noite. Durante a noite é quando se proporcionam as melhores condições para realizar caçadas, pois estes felinos possuem uma excelente capacidade de visão noturna. Ao contrário do que se poderá pensar, e contrastando com os outros felinos, os leões não estão tão adaptados a trepar e a usar as árvores como parte constante do seu ambiente. Apesar de capazes de subir e descansar nos grossos ramos das árvores, estes optam por um comportamento diferente da maioria da sua família e acabam por repousar no solo à sombra (Fraser, 2012). Este comportamento é apenas um dos que diferencia o leão de todas as outras espécies de felinos. No capítulo seguinte falaremos um pouco mais dos comportamentos naturais dos leões.

Comportamento Natural

O Comportamento Natural dos Panthera leo diferencia-se da maioria dos felinos, pois estes vivem em grupos coesos com os quais estabelecem laços duradouros (Passanisi et al., 1991). A organização destes grupos sociais é uma característica marcante no comportamento do leão (Burnie, 2002; Fraser, 2012; Kays, 2020). O único outro felino a formar grupos sociais é o gato doméstico, particularmente quando não está ao cuidado de nenhum humano e forma colónias (Haas et al., 2005; Fraser, 2012;

Kays, 2020).

Estas alcateias são formadas normalmente por várias gerações de fêmeas, algumas das quais relacionadas, e a sua descendência. Podem ainda conter um número menor de machos jovens adultos ou adultos (Fraser, 2012; Kays, 2020). O tamanho destes grupos varia bastante, existindo pequenos grupos de 4 membros, até grandes grupos de 37 membros, sendo que o tamanho médio é de 15 indivíduos (Fraser, 2012;

Packer, 2019).

Cada alcateia tem um território bem definido que consiste numa área central, que é ferozmente defendida contra leões invasores, e uma área periférica onde algumas sobreposições territoriais com outros grupos são toleradas. O tamanho da área central, onde habitualmente existe maior abundância de presas, pode ser apenas uma pequena área de 20km². Contudo esta área pode expandir-se até 400km² caso haja escassez de presas. Curioso é o facto de alguns territórios serem usados pela mesma alcateia há décadas, sendo passados de geração em geração (Haas et al., 2005; Nowak et al., 2005).

(23)

10

Dentro destes grupos, fêmeas que parirem ninhadas no mesmo espaço de tempo, criam os seus filhotes em conjunto. Formam uma espécie de "creche", na qual as progenitoras cuidam das crias umas das outras, equilibrando o trabalho. Assim se uma leoa teve uma ninhada muito grande, ao mesmo tempo que outra teve uma ninhada muito pequena, estas partilham as tarefas, como por exemplo amamentar (Haas et al., 2005; Nowak et al., 2005). As leoas amamentam as suas crias até aos seis/sete meses de idade. O tempo de gestação está compreendido entre os 100 e os 119 dias, no fim dos quais a leoa entra em parto. As ninhadas podem ser de tamanho variável, desde apenas uma cria, até quatro (Burnie, 2002; Packer, 2019).

Para além destas alcateias, machos adultos podem ainda formar grupos sem leoas. Um macho atinge a maturidade sexual por volta dos três/quatro anos de idade.

Por esta altura, os machos têm que decidir se tem espaço na sua alcateia ou se partirão em busca de uma nova alcateia (Burnie, 2002). Nos casos em que os machos são expulsos ou deixam a sua alcateia, estes tendem a formar grupos. Nestas associações, normalmente existe um nível de próximo de parentesco entre os membros e o tamanho do grupo pode chegar aos 7 indivíduos. Em grupos mais pequenos, constituídos apenas por um par ou um trio de machos, incluem-se indivíduos não-parentes que agem, no entanto, como se o fossem (Kays, 2020). Grupos de machos lutam entre si para estabelecer o direito de acasalar com um grupo de fêmeas que habita a zona. Direito este que dura normalmente 2-3 anos (Fraser, 2012; Kays, 2020).

De forma a estabelecer os limites dos seus territórios, os leões usam maioritariamente as marcações olfativas. Percorrem a sua região, urinando em vários lugares como arbustos, árvores ou simplesmente no chão, deixando assim o seu odor característico.

Desta maneira, alertam os leões de outras alcateias que aquele é o seu território (Kays, 2020). No entanto, não é apenas através deste método que os leões mostram a dominância sobre as suas terras. Ao defecarem e ao esfregar-se contra os arbustos, deixam marcas distintas com o seu odor (Haas et al., 2005; Kays, 2020). Por fim, os leões usam também o seu rugido para intimidar adversários, ou para sinalizar o seu território.

Normalmente os seus rugidos distintos ocorrem antes de uma caçada ou ao amanhecer (Burnie, 2002; Kays, 2020).

Alimentação

Aclamados predadores, os leões utilizam uma variedade de táticas de forma a obter o seu alimento (Burnie, 2002; Nowak et al., 2005; Fraser, 2012; Kays, 2020).

Atacam grandes animais como búfalos executando emboscadas, mas também caçam individualmente pequenos roedores e répteis (Fraser, 2012). A preferência sobre o que caçar varia com a localização, entre alcateias, com a sazonalidade e com número de animais no seu território. Os leões atacam uma grande diversidade de animais desde roedores, até babuínos, búfalos e hipopótamos. No entanto, caçam predominantemente animais ungulados de tamanho médio como gnus, zebras e antílopes. Existem ainda casos reportados de caçadas a girafas e elefantes, contudo esta situação apenas acontece se a presa for jovem ou estiver particularmente doente (Burnie, 2002; Fraser, 2012; Kays, 2020).

Como já antes referido, estes felinos tendem a estar mais ativos ao amanhecer e durante a noite, altura em que têm vantagem sobre as suas presas devido aos seus apurados sentidos (Fraser, 2012; Packer, 2019; Kays, 2020). As leoas realizam a maior

(24)

11

parte das caçadas, enquanto os machos geralmente se apropriam das refeições (Fraser, 2012; Packer, 2019). Habitualmente, elas perseguem as presas utilizando a vegetação como camuflagem. Quando se encontram perto o suficiente, atacam velozmente correndo na direção do animal. Enquanto perseguem a sua presa, lançam-se sobre o pescoço e mordem-no até que o animal esteja estrangulado. Por esta altura, outros membros da alcateia, juntam-se ao esforço tentando derrubar o animal. A presa cai e fica a mercê do grupo, que luta por um melhor lugar de acesso à carcaça (Hayward &

Kerley, 2005; Kays, 2020). O acesso à carcaça está dependente da idade e sexo dos indivíduos, sendo que os machos alfa têm prioridade sobre os mais novos (Nowak et al., 2005; Kays, 2020). Apesar de na maior parte dos casos serem as fêmeas a realizar a caça, os leões também são caçadores hábeis e, em algumas áreas, caçam com frequência. Os machos que habitam regiões de matagal ou mais arborizadas, passam menos tempo com as fêmeas e caçam a maioria das suas próprias refeições. No caso específico de pequenos grupos de machos, ou machos nómadas, estes devem sempre garantir a sua própria comida (Hayward & Kerley, 2005; Kays, 2020).

Os leões não guardam os despojos das suas caçadas, comendo prontamente todo o alimento. Isto porque existem outros predadores no seu habitat que se poderiam aproveitar das carcaças. Deste modo os leões impedem que predadores como hienas, mabecos ou chitas tenham acesso as suas carcaças (Burnie, 2002; Fraser, 2012; Kays, 2020).

Apesar de elaborarem engenhosos planos de caça, uma grande parte das suas investidas não corre como o previsto. Estes felinos cansam-se rapidamente após percorrerem curtas distâncias e devido ao seu tamanho e peso não têm tanta velocidade como as suas presas (Sunquist & Sunquist, 2002; Burnie, 2002; Miquelle et al., 2010;

Yumnam et al., 2014). Todavia, quando bem-sucedidos, um macho adulto pode consumir mais de 34 kg de carne apenas numa refeição e descansar uma semana antes de voltar a caçar. Se o território tiver abundância de presas, ambos os sexos passam normalmente de 20 a 22 horas por dia a descansar ou a dormir, caçando apenas 2 ou 3 horas por dia (Sunquist & Sunquist, 2002; Miquelle et al., 2010).

2.2.2. PANTHERA TIGRIS

O Tigre (Panthera tigris), é o maior membro da família dos felinos (Felidae), rivalizando apenas com o leão (Panthera leo) em força, poder e ferocidade.

Tabela 3 – Classificação científica do tigre (Panthera tigris) Reino Animalia

Filo Chordata Classe Mammalia Ordem Carnivora Família Felidae Género Panthera Espécie Panthera

tigris

(25)

12

Habitat natural

Com um corpo elegante e muscular, sentidos apurados, reflexos rápidos e uma coloração que lhes serve de camuflagem, os tigres são uma espécie fascinante. Habitam o continente Asiático numa ampla faixa de latitudes, sendo capazes de se adaptar aos mais diversos biomas desde florestas tropicais na India, até à gélida tundra siberiana e as regiões altamente montanhosas do Nepal (Fraser, 2012). Ajustam-se a quase todos os territórios e climas asiáticos, desde que ofereçam vegetação densa, acesso a água e abundância de presas de grande porte. De facto, esta facilidade de adaptação aos ambientes mais hostis demonstra a plasticidade comportamental e fisiológica deste felino (Sunquist & Sunquist, 2002).

São animais territoriais, em especial os machos. Estes animais passam grande parte do dia a patrulhar o seu domínio, marcando-o com jatos de urina, libertando o seu odor característico. Este procedimento é importante para a delimitação do seu território. Deste modo o macho está a comunicar às fêmeas a sua presença e a avisar os outros machos que aquele é o seu território (Sunquist & Sunquist, 2002). No entanto o território de um tigre pode variar ao longo da sua vida. Esta mudança pode ocorrer caso a densidade de presas diminua na sua área, ou caso haja um ameaça exterior. Apesar de terem capacidade de ocupar habitats bastante díspares, os tigres procuram sempre zonas com alta densidade de presas, pois é nestas zonas que têm mais probabilidade de prosperarem (Sunquist & Sunquist, 2002; Burnie, 2002; Fraser, 2012).

Comportamento Natural

Os tigres apresentam uma vasta diversidade de comportamentos pois são animais bastante dinâmicos. Os membros posteriores do tigre são ligeiramente mais longos que os membros anteriores, sugerindo que sua capacidade de salto é grande. Já foram registados saltos até dez metros em comprimento, contudo um salto normal tem normalmente metade dessa distância. Ao contrário de muitos felinos que habitam florestas, os tigres raramente sobem árvores, apesar de serem extremamente capazes disso. Outra caraterística que distingue este felino dos demais, é o facto de não exibir relutância a entrar em cursos de de água. Os tigres disfrutam de um bom banho e são exímios nadadores. Durante a época do ano em que a temperatura está elevada, estes passam grande parte do dia junto a água ou mesmo dentro dela (Sunquist & Sunquist, 2002; Fraser, 2012).

Os tigres vivem vidas mais solitárias, especialmente os machos, característica comum entre os felinos (Sunquist & Sunquist, 2002; Burnie, 2002; Fraser, 2012). Quando nascem, as crias passam em média dois anos com a progenitora, até atingirem a maturidade física. Depois de passados estes anos, os jovens machos já são autossuficientes, aprendendo a caçar por si mesmos. Na altura da dispersão, os machos são ainda animais inexperientes, vagueando sem direção em busca de um território com as condições necessárias para se estabelecerem. Durante este procura vão encontrar outros tigres e os conflitos serão inevitáveis. Este processo de competição leva a que apenas os animais mais dotados consigam estabelecer o seu território. Só um jovem macho extremamente capaz conseguirá este feito, tendo enfrentado grandes provas de resistência quer a nível físico como psicológico. Nesta luta pela sobrevivência, a maioria dos jovens machos não tem um final feliz (Sunquist & Sunquist, 2002).

(26)

13

Já adultos, vivem uma vida solitária e maioritariamente noturna (Sunquist &

Sunquist, 2002; Fraser, 2012). O macho patrulha o seu território entre dez a doze horas por dia, especialmente durante a noite. Contudo, em climas mais quentes, os períodos de atividade são mais curtos e os de descanso e dormida aumentam (Fraser, 2012). Esta rotina de patrulha diária, é muito importante. Apesar de ocuparem territórios de grande extensão, os machos são cuidadosos em manter as suas marcações, revisitando cada parte do seu espaço regularmente (a cada duas ou três semanas) (Sunquist & Sunquist, 2002; Fraser, 2012). É importante realçar que estas marcações carregam informação relativa à identidade individual, sexo e condição reprodutiva do animal que as fez, funcionando quase como um meio de comunicação. Deste modo, o macho consegue avisar potenciais fêmeas da sua presença, assim como ser avisado da presença das mesmas. Além disso, ao realizar inúmeras marcações, informa outros machos que aquele é o seu domínio. É também durante esta patrulha que o macho procura locais com maior densidade de presas para caçar (Fraser, 2012).

Porém, na época reprodutiva a taxa de marcação das fêmeas aumenta, avisando o macho que estas se encontram recetivas e em estro. Em resposta a este aumento de marcações olfativas, o macho procura ativamente a fêmea para copular (Nowak et al., 2005; Fraser, 2012). Depois de um ritual de acasalamento, onde a fêmea resiste às abordagens do macho, ocorre a copula (quinze a trinta segundos). Seguidamente afastam-se um pouco e permanecem recostados. Após um intervalo curto (cinco minutos em média), o par acasala novamente. As cópulas continuam com frequência, até 50 vezes por dia, durante vários dias. No fim, o macho deixa a fêmea, dando lugar a que outro possa avançar e participar no processo de criação. Isto porque para induzir a ovulação da fêmea, são necessárias numerosas cópulas (Nowak et al., 2005; Fraser, 2012).

O período de gestação de uma fêmea dura cerca de quarenta e cinco dias (Miquelle et al., 2010; Fraser, 2012). À medida que a altura do nascimento se aproxima, esta procura um local seguro, confortável e acolhedor para ter o parto. Geralmente, as ninhadas consistem em duas ou três crias, mas podem variar até sete. O período de amamentação pode variar, mas normalmente ocorre até aos três meses de idade (Sunquist & Sunquist, 2002; Fraser, 2012). Contudo, quando as pequenas crias têm um mês de idade, a progenitora diminui o tempo de amamentação para metade do inicial.

É por esta altura que darão os seus primeiros passos além do local do nascimento, explorando o ambiente que os rodeia. Às seis semanas de idade, a fêmea começa a introduzir as recompensas das suas caçadas às crias, trazendo para o covil as carcaças das suas presas. Existem casos de crias a serem amamentadas até aos seis meses, contudo são uma exceção à regra. (Fraser, 2012).

Importante notar que a progenitora é extremamente protetora para com as suas crias. Se achar que o local onde estão já não apresenta as condições de segurança, não terá problemas em movê-los para uma área que ela considere mais segura. Raramente deixa as crias sozinhas, levando-as até para a caça, garantindo que estas adquirem resistência para acompanhar as suas excursões. Os jovens são bastante eficientes a compartilhar as mortes da mãe e dependem dela continuamente até ao ano de idade.

Por esta altura, as crias cresceram o suficiente para caçar e matar por conta própria. Um tigre macho de dezoito meses pode pesar cerca de 150 kg, enquanto uma fêmea de idade equivalente pode pesar aproximadamente 110 kg (Sunquist & Sunquist, 2002;

Burnie, 2002; Fraser, 2012).

(27)

14

Quando ocorre a dispersão, a jovem fêmea não segue o mesmo destino que o macho. Esta procura um território menor, junto ao da progenitora. Os seus territórios ficarão dentro dum território mais amplo, detido por um macho, que lhes fornecerá proteção contra machos externos. Por estas razões, as fêmeas formam um sistema idêntico ao da alcateia dos leões, chamado de clã. Dentro desta espécie de clã as fêmeas estão relacionadas e reconhecem-se, repelindo fêmeas desconhecidas que tentam entrar nos seus territórios. Esta estratégia aumenta o sucesso e a eficácia de reprodução e educação das crias. Por optarem por ficar relacionadas com as suas progenitoras, procurando territórios mais próximos da área natal, as jovens fêmeas têm maior sucesso do que os machos. (Sunquist & Sunquist, 2002; Burnie, 2002; Ramesh et al., 2009;

Miquelle et al., 2010).

As fêmeas também marcam os seus territórios regularmente, cobrindo toda a sua área a cada poucos dias. Tal como ocorre com os machos, estas marcações alem de servirem para salientar que aquele é o seu domínio, carregam bastante informação comunicativa para os outros animais. Nestes territórios partilhados, por vezes o macho come e repousa na companhia da fêmea e das crias, o que prova que estes animais são solitários e não antissociais (Sunquist & Sunquist, 2002; Hayward & Kerley, 2005;

Ramesh et al., 2009; Fraser, 2012).

Alimentação

Geneticamente munido para ser o predador alfa do seu território, este carnívoro é um admirável caçador. Constituído para dominar sozinho presas várias vezes o seu tamanho, alimenta-se principalmente de grandes ungulados. Todavia a sua alimentação é muito diversa, consistindo em animais de vários portes e classes (Hayward & Kerley, 2005; Miquelle et al, 2010).

Por necessidade, os tigres desenvolveram a capacidade de caçar uma grande variedade de espécies. Comem quase tudo o que consigam apanhar, desde sapos até crias de elefante e rinoceronte. Os registos das suas presas incluem aves, peixes, ratos, gafanhotos, coelhos, lebres, porcos-espinhos, javalis e macacos. Foram também registadas algumas presas menos comuns como ursos, leopardos, linces, lobos e focas (Sunquist & Sunquist, 2002; Hayward & Kerley, 2005; Miquelle et al., 2010; Fraser, 2012). Contudo, existem presas ideais que maximizam a diferença entre a energia gasta e a obtida durante a caçada e apresentam menores riscos associados à captura (Sunquist

& Sunquist, 2002; Fraser, 2012). Os tigres podem sobreviver por curtos períodos de tempo predando apenas presas menores, mas, a longo prazo, são os animais de grande porte que os sustentam. A base da alimentação de um tigre são animais ungulados de médio a grande porte como veados, alces e búfalos (Sunquist & Sunquist, 2002).

É principalmente um caçador noturno, podendo percorrer enormes distâncias até encontrar a presa certa (Sunquist & Sunquist, 2002; Ramesh et al., 2009). Excluindo encontros oportunistas, encontrar comida é geralmente um esforço demorado, e os tigres precisam de percorrer os seus grandes territórios para encontrar o suficiente para comer. Se o território tiver uma densidade de presas elevadas, uma fêmea pode percorrer entre sete a dez quilómetros por noite, enquanto os machos percorrem entre dezasseis a trinta quilómetros. No entanto, os movimentos de um tigre raramente são aleatórios, mostrando que o animal conhece bem o seu domínio, sabendo para onde vai a seguir. Durante a caça, este felino raramente caminha sem intenção. Em vez disso,

(28)

15

movimenta-se diretamente de uma zona para outra, demonstrando uma boa memoria das áreas de caça e das melhores rotas para se deslocar entre elas. (Miquelle et al., 2010) Contudo devido ao seu grande porte, o tigre é mais um lutador que um velocista, raramente mantendo a perseguição durante muito tempo (Fraser, 2012). O método de caça mais utilizado é a emboscada. O felino executa uma abordagem furtiva utilizando a paisagem para obter cobertura e se aproximar o máximo possível da sua presa. Por vezes usa a neblina densa ao longo da costa para esconder a sua presença. Quando já está perto o suficiente lança-se sobre o pescoço das presas. No caso de animais pequenos, estes são normalmente mortos com uma mordida na parte de trás do pescoço; já animais maiores são sufocados na garganta. Durante a mordida no pescoço, um canino é inserido entre as vértebras, forçando-as a separar-se e rompendo a medula espinhal, imobilizando a presa (Sunquist & Sunquist, 2002). Se restarem partes da carcaça após a primeira alimentação, estes animais escondem os restos, cobrindo-os com terra, para mais tarde voltarem ao local e terminarem a refeição (Broom, 2007).

Se a tentativa sair frustrada, o tigre tende a desistir e mudar de zona de caça, possivelmente porque para a sua caçada ter sucesso ele depende da sua furtividade e os animais daquela zona já estarão alertados para a sua presença (Fraser, 2012).

(29)

16

3. BEM-ESTAR EM ANIMAIS EM CATIVEIRO

Para melhor percebermos a necessidade de melhorar o bem-estar animal, primeiro temos de reconhecer os animais como seres capazes de sentir e expressar emoções. Desta necessidade, nasce o conceito de senciência animal. A senciência refere-se à capacidade de um animal ter sentimentos e estar ciente de uma variedade de estados e sensações, como prazer e sofrimento (Boyle, 2009). A compreensão geral e a aceitação da existência de senciência animal são contextos relativamente recentes (Fraser, 2012). Com a evolução do conhecimento e o aumento da investigação nesta área, nos dias de hoje é geralmente aceite que pelo menos as espécies de vertebrados são sencientes. Esta conclusão nasce de novas informações que demostram as semelhanças do sistema nervoso central entre os diferentes animais vertebrados (Fraser, 2012). Ou seja, a senciência é uma propriedade de todos os animais superiores.

Comparados com os seres humanos, todos eles possuem sentidos bem desenvolvidos e sistemas nervosos que variam em graus e tipos de perceção (Fraser, 2012).

Esta perceção leva-nos a presumir que os animais experimentam dor, sofrimento, alívio e prazer, tal como os seres humanos. Mais do que uma mera capacidade de resposta a estímulos, a senciência inclui avaliação sensorial dos vários aspetos positivos e negativos da vida do individuo. Esta sensibilidade inclui os sentimentos internos associados à busca de conforto, de segurança e de emoções. Tal como os seres humanos, os animais sencientes experimentam sofrimento de formas diferentes. Embora a senciência influencie a resposta aos estímulos, é mais psicológica e emocional do que propriamente física e mecânica, ou seja por vezes o animal pode não demonstrar em comportamentos o que está a sentir, dificultando a avaliação (Duncan, 2006).

Sendo os animais sencientes, é preciso entender que os estados mentais dos mesmos variam constantemente, assim como os seus desejos e necessidades. Portanto, não será sempre possível assumir corretamente o que um animal priorizaria em determinado momento, pois a sua decisão pode depender de um fator desconhecido.

Esta imprevisibilidade leva a que muitas vezes as estratégias para melhorar o bem-estar animal apresentem resultados diferentes em indivíduos da mesma espécie (Mobiglia et al., 2014; Collier et al., 2017).

Para tentarmos prever da melhor maneira possível o comportamento animal, devemos analisa-lo e estuda-lo. Deste modo será possível retirar conclusões que nos permitem atuar de forma mais eficaz e adequada. Por exemplo, usar o conhecimento dos processos cognitivos para entender se um animal é capaz de se recordar de uma experiência positiva ou negativa e assim prever como ele reagirá a experiências semelhantes no futuro. Deste modo podemos repetir experiências positivas e reduzir as experiências negativas, melhorando o bem-estar dos animais. Assim, estamos a utilizar o conhecimento e a compreensão da senciência animal para reduzir o sofrimento e aumentar os estados positivos nos animais (Proctor, 2012).

No entanto, nos dias de hoje, a legislação da maioria dos países geralmente garante as necessidades básicas dos animais, como alimentação, abrigo e assistência médica, mas negligencia as necessidades psicológicas dos animais. Existe, portanto, uma forte necessidade de entender as motivações dos animais e do que eles são capazes de entender e sentir. Deste modo podemos melhorar o seu bem-estar para além das necessidades básicas já garantidas (Fourie et al., 2016).

(30)

17

Reconhecendo agora a senciência em animais de cativeiro deparamo-nos com questões sobre as obrigações assumidas pela sociedade. Sabendo que os animais têm um estado mental consciente e que sofrem tal como os humanos, é necessário agir para que os animais que mantemos em cativeiro tenham as melhores condições possíveis. É aqui que entra o papel do bem-estar animal e do enriquecimento ambiental (Mendl &

Paul, 2004).

3.1.BEM-ESTAR E NECESSIDADES BASICAS DOS ANIMAIS

Nos dias de hoje os Zoos ou Parques Zoológicos apresentam um enorme papel na educação e conservação das espécies de vida selvagem. Devido as mudanças climatéricas e à pegada da Humanidade na natureza, algumas espécies já não têm habitat natural que lhes permita a sobrevivência. Os zoos funcionam assim como reservas, que permitem que as espécies se mantenham vivas até que as condições que causaram a sua extinção sejam controladas (Mellor et al., 2015; Salas et al., 2016;

Wolfensohn et al., 2018).

No entanto, animais selvagens mantidos em habitats confinados acabam por desenvolver comportamentos anormais que podem ser bastante prejudiciais para a sua saúde quer física, quer mental. Um exemplo é o facto de não conseguirem exprimir alguns comportamentos que apresentariam se vivessem no seu habitat natural. Esta lacuna acaba por causar uma redução no bem-estar que ao longo do tempo pode ter consequências sérias (Wells, 2009; Robert John Young et al., 2020). Por este motivo devemos fornecer ao animal as condições básicas de confinamento e melhorar ao máximo o seu bem-estar.

O bem-estar animal apresenta inúmeras definições, no entanto, a Organização Mundial de Zoos e Aquários ou WAZA (World Association of Zoos and Aquariums) (WAZA Council, 2020). define o bem-estar como:

“[…] refere-se a um estado específico para cada animal individual; é a forma como o animal experiência o seu próprio mundo e vida; por meio de experiências positivas específicas para aquela espécie, como vitalidade, afeto, segurança e excitação; ou por meio de experiências negativas como dor, fome, medo, tédio, solidão e frustração. O estado de bem-estar de um animal pode ser influenciado tanto positiva quanto negativamente por todos os acontecimentos da sua vida, sendo as práticas de maneio (ou seja, cuidados com os animais) apenas um deles. A capacidade de ter escolhas específicas de espécies e controlo individual sobre seu ambiente são fatores muito importantes que contribuem para o bem-estar animal positivo.”

Esta definição abrange grande parte das preocupações que os estabelecimentos como Zoos ou Reservas devem ter em relação aos seus animais. E para assegurar que os princípios de bem-estar são cumpridos, Portugal, segue as normas legisladas pela União Europeia na Diretiva 1999/22/CE e pelo governo português no Decreto-Lei nº 59/2003.

Nelas compreendem-se todas as medidas obrigatórias a cumprir para garantir o básico das condições de confinamento e bem-estar dos animais selvagens.

Na Diretiva 1999/22/CE da União Europeia, consta que devemos: alojar os seus animais em condições que visam satisfazer os requisitos biológicos e de conservação de cada espécie, nomeadamente através do enriquecimento ambiental específico dos

Referências

Documentos relacionados

Países que estão fora das zonas endêmicas como a América do Norte e a região norte da Europa vêm sendo considerados uma preocupação, pois o número de relatos

Lactococcus lactis RBT18 isolated from rainbow trout: antimicrobial activity, taxonomic identification, bacteriocin purification and mass..

1.2.1 - Tudo aquilo que não é especificamente permitido neste regulamento, é expressamente proibido, e assim sendo todos os itens omissos neste regulamento deverão

Faz -se saber que, perante a Universidade de Trás -os -Montes e Alto Douro (UTAD), pelo prazo de 30 dias úteis, a contar do dia imediato ao da presente publicação, está aberto

a) seja dirigido ao Presidente da Comissão de Acompanhamento de Processo Seletivo da Prefeitura Municipal e protocolado na Secretaria de Assistência Social de

O presente regulamento de incubação de empresas da UTAD (IE), doravante designado “regulamento”, sob a forma de incubadora universitária sem fins lucrativos, tem

Elaborar pelos respetivos responsáveis planos específicos de utilização e funcionamento para todos os espaços, instalações e infraestruturas de natureza

Portanto, o presente trabalho tem como objetivo estudar os métodos atuais de enriquecimento ambiental feitos nas as onças-pardas (Puma concolor) e onçaspintadas (Panthera