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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE DIREITO, NEGÓCIOS E COMUNICAÇÃO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

ESCOLA DE DIREITO, NEGÓCIOS E COMUNICAÇÃO – CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

Consumismo e minimalismo no contexto da Pandemia Consumerism and minimalismo in the pandemic context

Aluna: Babila Sperotto Martins Orientadora: Dra. Tereza Cristina Pinheiro de Lima Prof. Msc. Marcos Pintaud Prof. Msc. Celso Orlando Rosa Linha de pesquisa: Gestão Estratégica

RESUMO: Com a disseminação da COVID-19 ao redor do mundo, novas necessidades, formas e prioridades de consumo foram desenvolvidas. Nesse sentido, o presente trabalho objetiva analisar as influências da pandemia no consumismo e no desenvolvimento de uma sociedade mais minimalista. A problematização que orientou o estudo, está alicerçada nas reflexões: os impactos da pandemia no consumo e no consumismo; o endividamento, e a maior procura pela vida minimalista no período mencionado.

Metodologicamente, utilizou-se a pesquisa exploratória descritiva quantitativa e qualitativa na Escola de Direito, Negócios e Comunicação, com centralidade no curso de Administração, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, com aplicação de questionário virtual em uma amostra de 105 pessoas, sendo alunos e professores. Como resultado, foi possível identificar e demonstrar os impactos da pandemia nos comportamentos consumistas, envolvendo as mudanças nos hábitos de compra e o endividamento da população analisada. Além disso, verificou-se o desenvolvimento de hábitos minimalistas no período referido, principalmente pela queda da renda do consumidor. Sendo assim, a pandemia propôs novas formas de consumir, e também, contribuiu com o desenvolvimento de uma sociedade mais consciente.

Palavras-chave: Consumo; Consumismo; Pandemia; Minimalismo.

ABSTRACT: With the dissemination of Covid-19 around the world, new consumption needs, forms and priorities were developed. In this sense, this work aims to analyze the influences of the pandemic on consumerism and the development of a more minimalist society. The problematization that guided the study, is based on issues: the impacts of the pandemic on consumption and consumerism; the indebtedness and the greater search for the minimalist life in the mentioned period. Methodologically,quantitative and qualitative descriptive exploratory research was used at the school of Law, Business and Communication, with centrality in the Administration course, at the Pontifical Catholic University of Goiás, with application of a virtual questionnaire in a sample of 105 people, being students and professors of the mentioned institution. As a result, it was possible to identify and demonstrate the impacts of the pandemic on consumer behavior, involving changes in purchasing habits and the indebtedness of the population analyzed. In addition, there was the development of minimalist habits in the period referred to, mainly due to the drop in consumer income. Thus, the pandemic proposed new ways of consuming, and also, contributed to the development of a more conscious society.

Keywords: Consumption; Consumerism; Pandemic; Minimalism.

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2 INTRODUÇÃO

As dificuldades sociais, emocionais e mentais causadas pela pandemia do novo coronavírus, mudaram completamente os comportamentos, necessidades e itens de consumo da sociedade. A felicidade e o bem-estar foram o foco durante os meses de quarentena, e essa busca de caráter instantâneo, possibilitou que o consumismo continuasse sendo o centro da sociedade capitalista, pois proporcionou momentos de satisfação. Em contrapartida, a sociedade obteve mais tempo para questionar seus hábitos de vida e consumo, e pôde avaliar e buscar meios mais sustentáveis, saudáveis e econômicos para cuidar de si e de suas famílias. Por esse motivo, houve um desenvolvimento minimalista frente as necessidades, pois grande parte da população priorizou somente o necessário em suas rotinas. Com isso, justifica-se a presente pesquisa na perspectiva de conhecer o consumismo no período de pandemia, suas motivações e consequências, bem como a procura de um estilo de vida simplificado, onde o foco é o essencial e não o excesso.

Apesar do crescente número de adeptos nos últimos anos, o minimalismo é encarado como uma das principais tendências pós-pandemia, visto que durante esse período, muitas pessoas foram obrigadas a consumir somente o essencial. Segundo Millburn e Nicodemus (2011), os indivíduos minimalistas escolhem se livrar do desnecessário para focar no que é importante para a vida deles. Assim, “[...] o minimalismo é uma ferramenta para se livrar do excesso supérfluo em favor de se concentrar no que é importante na vida para que se possa encontrar felicidade, realização e liberdade.” (MILLBURN; NICODEMUS, 2011, p.13).

Ao contrário da momentânea felicidade consumista, o estilo de vida minimalista pode trazer o aumento da felicidade. Segundo os autores mencionados, ter muitos bens é sinônimo de preocupação, falta de tempo e comprometimento financeiro. Quando o indivíduo escolhe consumir somente o essencial, ele carrega menos preocupações na vida, e isso abre mais espaço para ser feliz.

A problematização que orienta a presente pesquisa está alicerçada nas seguintes questões: Quais foram os impactos da pandemia no comportamento do consumidor?

Quais as motivações consumistas? O endividamento aumentou na pandemia? Houve uma maior procura pela vida minimalista nesse período?

O estudo disponibilizará elementos para discussão do tema: Consumismo e Minimalismo no Contexto da Pandemia, e oferecerá uma ideia do cenário atual e pontos para a reflexão. Os resultados poderão assegurar as tendências humanas frente às situações de ansiedade e incertezas, e ajudarão a compreender melhor as suas causas.

Como objetivos específicos, pretende-se realizar a fundamentação teórica sobre temas como Consumo, Consumismo, Minimalismo e Pandemia; aplicar o instrumento de pesquisa através de formulário eletrônico; identificar quais foram os impactos da pandemia no comportamento dos consumidores da Escola de Direito, Negócios e Comunicação, com centralidade no curso de Administração, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás; analisar o endividamento do consumidor no contexto da pandemia, e os motivos por trás da demanda do minimalismo no período mencionado.

Como hipótese, afirma-se que no período ao qual a pesquisa se refere, a pandemia contribuiu para o desenvolvimento de novos hábitos de consumo e de vida, como por exemplo, o aumento do consumo através das plataformas online a fim de diminuir a transmissão do vírus, e a maior preocupação com a saúde. Além disso, a pandemia contribuiu para que as pessoas passassem mais tempo online, sendo mais expostas à anúncios e propagandas, o que impulsionou o consumismo; fortaleceu o desemprego, o

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3 que provocou uma queda na renda da sociedade, e contribuiu com o aumento de casos de ansiedade e depressão, oriundos do isolamento social.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Consumo e Consumismo: Conceito, Evolução, Definição e Função

Desde o princípio de sua existência, o homem vive para atender suas necessidades.

Historicamente, se referindo apenas às necessidades do homem pré-histórico em sua forma mais primitiva, pode-se dizer que elas eram totalmente voltadas para a sobrevivência. Fazia parte da rotina do homem primitivo, buscar alimentos, procurar um local seguro para dormir, além de desenvolver armas para se proteger de animais selvagens e caçar. “Àquela época, o homem satisfazia-se com a promessa de segurança ao longo prazo, não dando ênfase em desfrutar, de forma imediata, os prazeres da vida no que tange à aquisição e acúmulo de bens.” (BAUMAN, 2008, p.40).

Ao longo dos anos, com a evolução do homem e com o desenvolvimento das indústrias no final do século XVIII e início do século XIX, as necessidades humanas mudaram, deixando de serem voltadas apenas para a sobrevivência e assumindo motivações.

O conceito de consumo sempre esteve ligado ao ato de atender as necessidades.

Contudo, o ato de consumir mudou, uma vez que, atualmente, existem variáveis que interferem na compra. Para Churchill e Peter (2003), as variáveis são inúmeras, e envolvem questões sociais, culturais, situacionais, pessoais, de marketing, entre outras.

Atender as necessidades ainda é o principal motivo que leva as pessoas a consumirem, porém o marketing midiático, as constantes novidades e lançamentos, o desejo pelo novo, por status e distinção social atuam como impulsionadores do hábito de consumo.

Por essa razão, idas ao shopping, e até mesmo ao supermercado, não servem apenas para atender as necessidades básicas humanas, mas para satisfazer o anseio de ter algo novo, a partir da ideia de que aquilo possa trazer algum conforto para a vida rotineira.

Segundo Maslow (1962) apud Ferreira, Demutti e Gimenez (2010, p. 4),

“necessidade é a privação de certas satisfações.” Nesse sentido, o homem está sempre necessitando algo, uma vez que sua vivência é inconstante e por vezes, desprovida de prazeres. Nesse sentido, as necessidades jamais serão completamente satisfeitas, pois quando uma necessidade é atendida, a próxima se torna predominante.

Na visão de Bauman (1999, p. 77) “[...] consumir é atividade inerente à humanidade, conduta atemporal e pré-requisito de subsistência humana [...]”. Já Oliveira (2017), afirma que o consumismo é diferente do consumo, uma vez que o consumidor não necessita do produto que adquire, mas o compra para satisfazer sua vontade, mesmo se tratando de supérfluos. Com isso, a principal diferença entre os dois conceitos, é que, enquanto o primeiro busca atender um desejo persistente de consumir, mesmo que a necessidade básica já tenha sido satisfeita, o segundo garante a manutenção da vida humana.

Como descreve Canclini (1999), na contemporaneidade, há uma ressignificação social do consumo, onde o consumo extrapola a definição de aquisição de bens e serviços, acarretando em consumismo. Desse modo, se referindo ao consumismo atual, ele atende a necessidade de pertencimento, status, reconhecimento e atenção. Segundo Bauman (2008, p.78), “na contemporaneidade vive-se em torno do consumo, pois a incapacidade para o consumo considera o indivíduo como o excluído da sociedade, a classe falha, uma vez que não participa dos estímulos consumistas.”

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4 A inatingível satisfação das necessidades e o constante desejo pelo novo, fazem o consumo ser algo imediato. O autor acima referenciado, alega que a cultura do imediatismo, por parte dos consumidores, é baseada na pressa relacionada à necessidade de descartar e substituir, ao invés de comprar em decorrência de suas necessidades básicas. A consequência disso, é a substituição dos objetos já adquiridos que se encontram fora de moda e se tornam insuficientes. Desse modo, a natureza sofre com a enorme geração de lixo e desperdício, e a sociedade é desequilibrada pela desigualdade social, já que o consumismo também atua como um fator de distinção social. Estudos do autor citado, mostram que a economia consumista prioriza a movimentação dos produtos no mercado, entretanto, quando isso ocorre, as mercadorias adquiridas viram lixo, e a partir disso, surge à necessidade de comprar novos bens.

Na Era do consumismo e da globalização, as marcas padronizam estilos, culturas e comportamentos, assim, países e povos vão perdendo suas identidades e particularidades culturais. Para Adorno (2002), ao se criar um sistema padronizado de cultura através do consumo, a indústria cultural produz, simultaneamente, a padronização e homogeneização do gosto e das preferências, excluindo qualquer forma de expressão subjetiva do indivíduo.

Na definição de Bauman (2008, p. 41), o consumismo “é um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros [...]”. Baseado nessa intensidade de criação de novos desejos, o volume de consumo é sempre crescente.

Por esse motivo, estudiosos como Bauman (2008) e Baudrillard (1995), nomearam a sociedade atual como “Sociedade de Consumo”, onde a estrutura e a organização da vida social são pautadas no ato de consumir. Com isso, e com a transformação do consumo para o consumismo, o indivíduo se tornou uma mercadoria da sociedade, considerando que as relações são pautadas na condição, ou na ausência dela, de consumir. Os estudos sinalizam que:

Não se trata, pois, dos objetos definidos segundo sua função, ou segundo as classes em que se poderia subdividi-los para comodidade de análise, mas dos processos pelos quais as pessoas entram em relação com eles e da sistemática das condutas e das relações humanas que disso resulta. (BAUDRILLARD, 2012, p. 11).

Além disso, a busca incessante e excessiva pela felicidade a qualquer preço por parte da sociedade, normaliza a constante demanda por novos produtos, pois o consumismo, que norteia o comportamento da sociedade, ensina o indivíduo que adquirir novos produtos, traz felicidade. Desse modo, o consumo para a felicidade não possui saturação, limite, e tão pouco, satisfação. “A sociedade de consumo prospera enquanto consegue tornar perpétua a não-satisfação de seus membros e assim, em seus próprios termos, a infelicidade deles.” (BAUMAN, 2008 p.64). Por isso, conceitos como necessidade, utilidade e função não são levados em consideração pela classe consumidora, o que acaba afastando o consumo do seu real motivo de existência.

O Consumo na Pandemia

No mundo sem fronteiras da globalização, as informações, dados, transações comerciais, financeiras, e de mercadorias, são compartilhadas em instantes de tempo.

Desse modo, considerando que o mundo se encontra interligado e interdependente, as crises também são rapidamente propagadas. Assim, a crise mundial é resultado da convergência de diversas crises ao redor do mundo, como a social, ambiental, política e econômica. Acrescenta-se a isso, a crise da saúde pública ocasionada pelo coronavírus

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5 SARS-CoV-2, originador da pandemia da COVID-19. Um vírus que até então era desconhecido, foi detectado no final de 2019 na cidade de Wuhan, na China. A rápida disseminação do vírus para o resto do mundo se deu nos primeiros meses de 2020, provocando uma desarticulação da vida social pelo medo do contágio e a paralisação das atividades econômicas não essenciais.

Nesse contexto, pode-se afirmar que a pandemia intensificou crises econômicas e aprofundou abismos sociais, na qual a classe mais pobre é a que mais careceu de cuidados básicos na pandemia. Um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz e a Universidade Estadual de Campinas, mostrou que 55% dos brasileiros envolvidos na pesquisa, relataram diminuição da renda familiar e 7% ficaram sem rendimentos durante a pandemia. Sendo que a redução e perda de rendimento foram preponderantes na população mais pobre.

(MALTA; LANDMAN; BARROS, 2020). A diminuição na renda provocada pela pandemia, impactou diretamente a forma de consumir da sociedade, pois em momentos de crise, as necessidades e prioridades mudam. Assim, os consumidores tiveram que repensar seus hábitos de consumo, sempre levando em consideração formas de evitar a contaminação. Um meio encontrado, foi utilizar ferramentas virtuais para evitar exposições. Segundo Steffens (2020), as práticas de compra online cresceram nos últimos anos, e em tempos de isolamento social causado pela pandemia, essa prática ganhou números ainda maiores.

Com relação ao mercado e as cadeias de consumo, a pandemia impactou diretamente o fornecimento e a distribuição de inúmeros produtos. Estudos indicam que:

houve uma redução da demanda por bens de consumo e de produção importados, e um aumento desenfreado da aquisição de determinados produtos, em especial àqueles cuja escassez era esperada pelos consumidores [...]. (MUCELIN; D ́AQUINO, 2020, p. 19).

O medo inicial de faltar itens, como álcool em gel e alimentos, aumentou a demanda por esses produtos. Segundo uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCOMM, 2020) envolvendo dados sobre o faturamento das vendas online, houve um aumento nas vendas nas categorias de saúde (111%), beleza e perfumaria (83%), e supermercado (80%) no mesmo período, comparados com o ano de 2019. Além dos produtos de saúde e higiene, os eletrônicos e roupas confortáveis foram os que mais tiveram aumento nas vendas e procura pela internet, em decorrência do estabelecimento do home office para atender as medidas de distanciamento social.

Segundo uma pesquisa da UFRJ, 52,6% dos entrevistados instalaram novos aplicativos para aumentar suas atividades digitais, e 43,8% não tinham costume, mas passaram a fazer compras online. (SALCEDO, 2021). Além disso, resultados da pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC, 2020), revelam que 70% dos entrevistados pretendem continuar comprando mais online do que faziam antes da pandemia. Com isso, pode-se afirmar que a pandemia converteu os consumidores para o meio digital, até mesmo na aquisição de itens essenciais, como supermercado e farmácia, que não tiveram paralisação das atividades durante a pandemia.

A mesma pesquisa realizada pela SBVC (2020), constatou que 8% dos consumidores realizaram sua primeira compra online no período da quarentena. Nessa perspectiva, Andrade e Silva (2017) argumentam que o e-commerce trouxe a possibilidade de uma compra mais confortável para os consumidores, ao permitir que o consumo seja feito em qualquer lugar, não precisando dirigir-se até uma loja física. Logo, cada vez mais os consumidores estão tendo a experiência de comprar através da internet, por isso, o preço é considerado um motivador da preferência dos consumidores pela loja

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6 virtual, além dos benefícios, como descontos na primeira compra, maior variedade, promoções exclusivas e outros incentivos.

O reflexo da pandemia no comportamento do consumidor, foi claramente essa transferência do hábito de compra em lojas físicas para o meio virtual, a fim de evitar a transmissão do vírus e de proporcionar maior comodidade e economia. Com o consumidor adotando hábitos digitais, o varejo está passando por mudanças irreversíveis.

Antes da pandemia, a resistência de efetuar compras online era maior, principalmente por parte da população idosa e por conta da falta de confiança das pessoas. Segundo Andrade e Silva (2017), a falta de segurança é considerada um dos fatores decisivos negativos para impedir que os consumidores realizem suas compras na internet, e o e-commerce possa atingir mais consumidores online.

Diante disso, a pandemia foi a principal responsável pelas transformações digitais no consumo, pois impulsionou que lojas off-line desenvolvessem plataformas online, reforçou o uso de aplicativos de entrega e fez com que as empresas investissem mais em sites e plataformas para proporcionar uma melhor experiência de compra virtual. Com isso, Kim (2020) acredita que essas adaptações não terminarão ou serão reduzidas com o tempo, uma vez que proporcionaram vários benefícios para o consumidor, como maior flexibilidade de tempo, local e variedade. Assim, os novos hábitos de consumo tornam cada vez mais necessário que as organizações orientem suas estratégias através da internet, a fim de não perderem competitividade. Segundo Gatautis e Tarutis (2014), entender isso se tornou um dos objetivos para as organizações que estão em busca da vantagem competitiva.

O Consumismo na Pandemia

Com a adoção das medidas de isolamento social durante a pandemia, a tecnologia se tornou a única maneira de manter a rotina de trabalho, estudos e relações sociais a distância com amigos e familiares. Dessa maneira, houve um aumento do uso de tecnologias, pois sem poder sair de casa, até as atividades físicas e confraternizações passaram a acontecer através das telas de celulares e computadores. Uma pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI, 2020), revelou que o celular se tornou o meio mais usado pelos alunos e trabalhadores durante a pandemia no país.

O uso excessivo de tecnologias nesse período, manteve as pessoas mais conectadas através das redes sociais e internet, o que eventualmente as deixou mais expostas a todo tipo de marketing, merchandising, anúncios, propagandas e promoções, o que aumenta consideravelmente o volume de compras por impulso e consequentemente, o consumismo. Segundo Cortez (2009), o consumismo se trata da compra de itens supérfluos e está fortemente relacionado ao papel que a publicidade e a propaganda exercem sobre as pessoas, induzindo-as ao consumo, independentemente de se tratar de itens realmente necessários ou ainda, úteis.

Se tratando da impulsividade, o impulso é descrito por McCown e DeSimone (1993), como uma forte necessidade, por vezes irresistível, gerado imediatamente a partir da exposição a um certo estímulo, com a inclinação de agir sem atenção ou planejamento.

Além disso, as emoções desempenham um papel fundamental nas compras realizadas por impulso.

O isolamento social ocasionou uma série de sentimentos e emoções na sociedade, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 2020), revelou que 80% da população brasileira se tornou mais ansiosa na pandemia. Ou seja, nesse período as pessoas desenvolveram ou acentuaram os sintomas de estresse, ansiedade e depressão, o que juntamente com a maior disponibilidade de tempo,

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7 possibilitou que o consumismo servisse como um escapismo da realidade, uma distração frente a situação de medo, incerteza e solidão instalada pela pandemia. Com isso, a publicidade consumista usufruiu da vulnerabilidade e sensibilidade do indivíduo nesse período, para melhor influenciá-lo.

Latouche (2009), afirma que a publicidade é um dos elementos essenciais para que a sociedade de consumo possa prosperar, pois possui a função de criar constantemente o desejo de consumir, e esse consumo é mais justificado pelo desejo do que pelas necessidades humanas em si. Nesse sentido, segundo o autor acima citado, o grande objetivo da publicidade é “fazer desejar o que não temos e desprezar aquilo que já desfrutamos” (LATOUCHE, 2009 p. 18).

Araújo (2008), afirma que a sociedade de consumo está submetida a satisfação ilusória e momentânea que ocorre em detrimento do consumo exacerbado. Soma-se a isso, os fundamentos do sistema capitalista, que promovem uma visão competitiva. Dessa maneira, quem consome mais, tem mais valor, reconhecimento e oportunidades. Para Baudrillard (1995), o consumo proporciona diferenciação, distinção e posição social através da ostentação. Assim, o hiperconsumo impacta diretamente nas relações sociais dos seres humanos, tornando-os cada vez mais seres individualistas e aprofundando as desigualdades sociais. Estudiosos revelam que:

embora a modernidade tenha prometido a todos a felicidade por meio do consumo, é indiscutível que nem todos têm acesso aos produtos colocados no mercado, surgindo populações excluídas dessa economia: populações que desejam os produtos, mas jamais os terão. (PEREIRA; DEL RIO, 2009, p. 16).

Se tratando do sistema capitalista, ele possui suas bases na acumulação e movimento de capital, e atua fortemente como impulsionador do vício consumista. Desse modo, o consumo desenfreado é considerado um dos maiores problemas das sociedades modernas, sendo que os efeitos colaterais desse vício são sentidos na natureza como um todo. Assim, o consumismo é antagônico à sustentabilidade, pois causa forte impacto no meio ambiente.

A degradação e os impactos ambientais estão sendo cada vez mais evidenciados, na medida que a exploração e apropriação da natureza ocorre de maneira rápida e descontrolada. “O meio ambiente é deixado de lado, o que importa é produzir e consumir.

[...]. Ou seja, se está diante de uma produção sem ética social e, muito menos, ambiental.”

(PEREIRA; DEL RIO, 2009, p. 19)

As incessantes inovações e lançamentos estimulam o consumismo, e os produtos adquiridos logo perdem seu atrativo e são descartados e repostos até mesmo antes de serem utilizados. A partir dessa substituição por vezes desnecessária de itens, é que o conceito de obsolescência planejada foi criado, uma vez que define a vida útil de um produto, a fim de impulsionar o consumo e a insatisfação em um ciclo vicioso de compra e descarte. Segundo Latouche: “a obsolescência programada é a arma absoluta do consumismo” (LATOUCHE, 2009, p.21). Dessa maneira, Bauman (2008) e Lipovetsky (2007) afirmam ser natural que os produtos tenham uma vida útil reduzida, pois requer sua substituição em curto prazo.

Assume-se que o consumismo não afeta somente o meio ambiente e as relações sociais dentro da sociedade contemporânea, ele também causa problemas nas finanças dos que estão sujeitos a ele.

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8 Endividamento Consumista no Contexto da Pandemia

A sociedade consumerista não consegue viver além do consumo, esse tipo de sociedade tem como prioridade comprar e consumir. Nessa lógica, o ser humano agora é somente ser consumidor, e sua vida é norteada pelo propósito “viver para consumir”. A partir dessa irracionalidade consumista, esse mesmo ser consumidor não reflete sobre os impactos financeiros que esse consumo pode trazer, pois o fato do consumo não ser uma experiência puramente racional, faz com que a inadimplência seja ainda maior do que deveria ser se o ato do consumo não fosse tão impulsivo. Sem a impulsividade, as pessoas comprariam somente o necessário e não romperiam os limites do próprio orçamento, pois seriam capazes de analisar a real necessidade de uma aquisição e suas consequências, e assim, resistiram ao impulso da compra.

Um levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (SPC, 2016), revelou que o consumidor compra por impulso para não perder uma “boa oportunidade”, assim, promoções, descontos e benefícios dificultam evitar compras desnecessárias, mesmo o consumidor sabendo que poderá haver consequências negativas para o próprio orçamento.

O estudo mostra que em situações de compras por impulso, o imediatismo e a necessidade de urgência acabam sendo mais fortes do que a capacidade de reflexão do consumidor. Sendo assim, grande parte dos entrevistados (44,5%) não conseguem resistir aos próprios desejos, porque acreditam que se não fizerem aquela compra, mesmo sendo desnecessária, vão perder uma “boa oportunidade”. Desse modo, as pessoas, ao verem um produto com preço atrativo, renunciam a reflexão sobre a essencialidade da compra.

A pesquisa revelou que 30,1% dos entrevistados gastam mais do que o previsto em promoções pelo medo do produto acabar, e se arrependerem depois por não terem efetuado a compra. Segundo a mesma pesquisa, 30,8% dos consumidores reconhecem que estão com as finanças pessoais descontroladas por causa de compras impulsivas.

Outro estudo realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC, 2020), mostrou que em janeiro de 2020, o número de inadimplentes no Brasil cresceu 1,38% em relação ao mesmo período em 2019. Esse crescimento pode ser justificado pela queda da renda da população brasileira durante a pandemia, que favoreceu ainda mais as dívidas, onde o total de consumidores negativados chegou a 61,3 milhões, correspondendo a 39,2% da população adulta do país.

O superendividamento só é evidenciado com surgimento da massificação do consumo. O termo é conceituado por Wodtke (2014, p. 2) como um “fenômeno comum nas sociedades de consumo, de acesso ao crédito facilitado, democratizado e pautado no pagamento em prestações”. Assim, com a democratização do crédito, houve uma revolução no modo de consumir, onde parte da população se tornou capaz de adquirir bens e serviços importantes para conquistar uma melhor qualidade de vida.

O crescimento das compras pelos e-commerces na pandemia, fez com que os sites disponibilizassem mais variedades de métodos de pagamentos. Assim, o pagamento digital foi priorizado pelos consumidores a fim de evitar a transmissão do coronavírus através do dinheiro físico. O Portal do Comércio (New Trade, 2020) realizou uma pesquisa a fim de identificar mudanças no comportamento dos consumidores brasileiros na pandemia, e identificou o cartão de crédito (71%) como primeira opção para pagamento das compras, acompanhado de débito em conta (13%). Segundo Wang, Wei Lu e Malhotra (2011), o cartão de crédito beneficia o aumento do endividamento pessoal e familiar devido à eliminação da necessidade imediata de dinheiro e à facilidade de pagamento.

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9 É fato que a popularização dos cartões de crédito favoreceu a sociedade de consumo. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS, 2007), constatou que o cartão de crédito é responsável por 59% das transações realizadas com cartões no Brasil, sendo o principal meio para compras a prazo. Dessa forma, o caráter acessível do cartão de crédito se torna prejudicial aos consumistas, na medida que oferece um meio para alcançarem seus objetivos de consumo.

A impulsividade de compra do indivíduo, especialmente facilitada pelos e- commerces, segundo Youn (2000), pode ser fragmentada em dois aspectos, o cognitivo e o afetivo. No primeiro, o indivíduo age sem fazer mínimos esforços cognitivos, rendendo- se ao impulso de compra sem avaliar seus riscos e desconsiderando as consequências no futuro, como: frustração, arrependimento ou dívidas decorrentes da compra. No aspecto afetivo, o indivíduo usa a compra como uma forma de gerenciar seu humor, a fim de gerar emoções positivas, como bem-estar e prazer.

O consumismo atribui à vida dos indivíduos muita importância à posse e à aquisição de bens materiais para alcançar os principais objetivos de vida. Com isso, a sociedade consumista parte da crença de que adquirir e possuir bens materiais, indica sucesso, status social e felicidade. Desse modo, o consumo é valorizado e se torna um instrumento para nortear as atitudes e comportamentos dos seres humanos. Segundo Roberts (2001), o desejo de conquistar status social através da posse de bens materiais, e facilidade pela obtenção de novos produtos via cartão de crédito, leva o indivíduo a gastar mais e a utilizar o mesmo de forma indevida, incorrendo em dívidas. Ferreira (2012, p.2667), destaca:

a vulnerabilidade do consumidor superendividado, especialmente em razão da relação entre o superendividamento e sua incompatibilidade com a dignidade da pessoa humana, visto que o indivíduo inserto nessa condição passa a sofrer dificuldades para sobreviver, tornando-se muitas vezes um sujeito não mais

“benquisto” pelo mercado, verdadeiro “excluído social”.

Dessa forma, o endividamento não se restringe somente no âmbito econômico, mas também no social, e através dessa relação pouco saudável do indivíduo com o dinheiro, os objetos passam a atuar como meios essenciais para a sustentação dos valores pessoais e objetivos de vida, prejudicando o desenvolvimento de conexões profundas com o restante da sociedade.

Minimalismo: Conceito, Definição e Atuação

A frustração oriunda do estilo de vida consumista, tem sido amplamente discutida na medida que aumentam os casos de ansiedade e depressão. O indivíduo, que deixou de ser e passou a ter, viu as consequências de seus hábitos de consumo no contexto físico, ambiental, financeiro e social, com as desigualdades sociais e com a forma que as relações interpessoais estão sendo desestabilizadas.

Em conformidade com Silva e Salles (2016), a exaustão do indivíduo frente o trabalho excessivo, como forma de manter o padrão de vida e o medo de perder status social, perante as inconstâncias econômicas, são fatores que favorecem o surgimento da sensação de vazio e solidão. Desse modo, o ser humano busca no consumismo, um modo de preencher esse vazio.

Em uma tentativa de preenche-lo com significado, emerge um novo estilo de vida, o minimalismo, que busca limitar o consumo ao essencial, evitando o consumismo, promovendo a sustentabilidade e direcionando a atenção para o social, em detrimento do

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10 individual. Dessa forma, o ser minimalista não é aquele que não consome nada, mas aquele que tem racionalidade ao consumir, e que faz os auto-questionamentos necessários antes de adquirir algo.

O minimalismo surgiu como uma alternativa ao consumismo que tanto prejudica a natureza e a sociedade. Além disso, a filosofia minimalista promove a concentração nas coisas importantes da vida, aquelas que trazem felicidade, realização e liberdade.

Segundo Cerbasi (2019), o minimalismo não se trata de aquisição de objetos, mas sim de uma conscientização social, mudanças de hábitos pessoais e da sociedade.

O minimalismo busca oferecer uma maior qualidade de vida, substituindo a mentalidade consumista que valoriza quantidade ao invés de qualidade, por uma mente consciente. Millburn e Nicodemus (2011) definem o minimalismo como um estilo de vida que promove o livramento dos excessos e a concentração e valorização do que é realmente necessário para a felicidade humana, agregando significado.

O minimalismo também apela para o ato de pedir emprestado para consumir menos. Segundo Cerbasi (2019), as pessoas que seguem esse estilo de vida se socializam mais umas com as outras, pois existe o hábito de pedir coisas emprestado. Desse modo, o indivíduo minimalista não compra todos os itens, apenas os verdadeiramente essenciais.

Assim, ele procura outras pessoas para que possa pegar emprestado o que está lhe faltando, gerando uma convivência coletiva e empática com o próximo, além de preservar o meio ambiente, uma vez que algo deixará de ser consumido e futuramente descartado.

A base da economia compartilhada é um dos muitos benefícios do estilo minimalista, abrindo portas para uma vida repleta de experiências, que te leva a impactar menos o planeta com entulhos e evitando o desperdício do seu dinheiro. (CERBASI, 2019, p.99).

Com essa simplificação e redução do consumo em massa, as finanças pessoais dos indivíduos minimalistas, deixam de ser caracterizadas por sinais de dívidas e parcelas infinitas, pois uma das consequências do minimalismo é a economia do dinheiro, uma vez que este deixa de ser gasto a todo o momento com novos produtos. Com mais dinheiro disponível, os minimalistas investem em experiências relevantes e significativas, gerando mais significado para a vida. Desse modo, sobra recursos para serem investidos nos sonhos e paixões de cada pessoa.

Outra vantagem do minimalismo, é que ele envolve todas as classes sociais, não havendo necessidade de ter um alto poder aquisitivo para adotá-lo, pois na busca de se viver com o que realmente importa, não há motivação para ter incontáveis produtos, móveis, eletrônicos, eletrodomésticos, grandes quantidades de roupas e objetos. O minimalismo atua promovendo a ideia de que as pessoas que buscam levar uma vida com menos coisas, e mais econômica, tem maiores chances de obter uma vida rica em experiências, motivação e vantagens para seus objetivos.

A partir do minimalismo, a sociedade pode promover o consumo consciente, no qual, diferentemente do consumismo, busca consumir melhor e de forma mais racional, escolhendo os impactos que serão causados. Se trata também, de consumir solidariamente buscando impactar positivamente o bem da sociedade e do meio ambiente. Assim, o minimalismo é sustentável e contribui para a manutenção dos recursos naturais e dos valores sociais.

Minimalismo no contexto da Pandemia

Com a pandemia da COVID-19, a sociedade desenvolveu novas prioridades de consumo, fazendo com que a maneira de consumir durante esse período fosse repensada.

(11)

11 Assim, a pandemia trouxe a necessidade de maior praticidade na nova rotina dos indivíduos, uma vez que, em casa, as pessoas passam a valorizar roupas mais confortáveis, simples e que não precisam estar combinando. Além disso, tiveram que reorganizar suas casas para que pudessem trabalhar e estudar.

Oliveira et al. (2020), afirma que a pandemia do coronavírus, de certa forma, provoca a falência sistema capitalista, pois houve uma restauração das necessidades da sociedade como um todo, e também, corte de gastos. Dessa forma, a sociedade se viu num meio em que ter um Estado atuante e competente, e um sistema de saúde público eficiente, é a real necessidade do momento.

Mesmo que os conceitos minimalistas não tenham sido diretamente buscados pelas pessoas durante a pandemia, eles ocasionalmente fizeram parte da rotina das pessoas que se viram podendo consumir somente o essencial. Além disso, com o distanciamento social, a humanidade passou a valorizar mais a presença uns dos outros.

O minimalismo se trata de um comportamento que torna os indivíduos mais importantes que as coisas que eles possuem. Segundo Santos (2020, p.29), “esta situação torna-se propícia a que se pense em alternativas ao modo de viver, de produzir, de consumir e de conviver.”

A pandemia causada pela COVID-19, aprofundou as crises estruturais dos países, e contrariou as relações entre mercado e acumulação capital. Segundo o autor anteriormente citado:

a pandemia do coronavírus é uma manifestação entre muitas do modelo de sociedade que se começou a impor globalmente a partir do século XVII e que está hoje a chegar à sua etapa final. É este o modelo que está hoje a conduzir a humanidade a uma situação de catástrofe. (SANTOS, 2020, p.23).

Brettas et al. (2020), aponta que o Estado capitalista demonstrou mais interesse em salvar o mercado financeiro do que medir esforços para salvar vidas humanas. A crise da pandemia mostrou que o sistema capitalista e seus valores precisam ser reavaliados.

Em conformidade com a autora citada, a humanidade está no momento de disputar outros futuros, reinventando a maneira de organizar a sociedade, para isso, será necessário ir contra os interesses do capital, em prol do bem-estar comum. Santos (2020), alerta sobre o risco de voltar a vida normal pré-pandemia, posto que a vida imposta pelo capitalismo é a real causa do problema.

Assim, o minimalismo, diferentemente do capitalismo, não é um sistema econômico, mas pode-se dizer que surgiu a partir dele como uma forma de reduzir suas consequências sociais, ambientais e financeiras.

Um estilo de vida com menos consumo, pode ser aderido por qualquer pessoa, e se trata basicamente, de consumir menos recursos e viver somente com o necessário, se libertando da ideologia do consumismo desenfreado, evitando a utilização em massa dos recursos naturais e o desperdício.

Considerando que a vida minimalista tem potencial de alcançar todas as classes sociais, ela também resulta num impacto financeiro positivo através do conceito de valorizar o que importa e proporcionar qualidade de vida. Desse modo, o estilo de vida minimalista foca em remover da vida do indivíduo, a noção de que quantidade traz felicidade, substituindo quantidade por qualidade. Diante disso, os adeptos do minimalismo são mais felizes, pois precisam de menos para se sentirem realizados.

O que o minimalismo defende, é desenvolver uma valorização do que já se possui, e aumentar o compartilhamento de itens entre as pessoas. Assim, segundo Santos (2003, p. 84): “sem necessariamente significar um retorno ao passado, nem o abandono das tecnologias atuais, podendo a mesma materialidade que torna o mundo tão desigual vir a ser uma condição na construção de um mundo melhor.”

(12)

12 METODOLOGIA

O presente capítulo relata a metodologia empregada no estudo, analisando o consumismo e o minimalismo dos consumidores da Escola de Direito, Negócios e Comunicação, com centralidade no curso de Administração, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, em meio à pandemia da COVID-19.

O objetivo da pesquisa é exploratório, pois possibilitou maior familiaridade com o tema através do levantamento bibliográfico e entrevistas com pessoas que experenciaram o assunto pesquisado. A finalidade da mesma se caracteriza em aplicada, uma vez que seus resultados são voltados a aplicação prática com estudos empíricos em forma de intervenção. A pesquisa também foi desenvolvida com abordagem quantitativa e qualitativa, pois traduz em números e analisa as informações obtidas. Sua abrangência é transversal, em razão que foi levantado dados e informações através de entrevistas em um determinado momento, que futuramente sofrerá alterações que não estarão descritas na pesquisa.

O campo da ciência é interdisciplinar, pois ao longo da fundamentação teórica, foi abordado as visões dos campos econômicos e das ciências sociais. Quanto aos procedimentos técnicos utilizados, além da pesquisa bibliográfica, foi utilizada a técnica de levantamento, onde houve a realização da pesquisa de campo a fim de conhecer o comportamento da população alvo. Por fim, os dados são de procedência secundária, pois a origem deles foi baseada em dados, pesquisas e notícias, a fim de dar suporte para a geração e levantamento de dados primários e específicos sobre o consumismo e minimalismo dos componentes da Escola de Direito, Negócios e Comunicação, focando no curso de Administração, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás

O método da amostragem utilizado foi o envio do link de acesso ao questionário eletrônico através de grupos no Whatsapp de alunos e professores da Escola de Direito, Negócios e Comunicação, com foco no curso de Administração, tendo como amostra total 105 pessoas, sendo alunos e professores. O grau de confiabilidade foi de 90% e erro amostral de 10%, e o período de coleta de dados foi todo o mês de setembro de 2021. Os dados foram analisados quantitativamente, com posterior análise qualitativa.

RESULTADOS: COLETA E ANÁLISE DE DADOS COLETA DE DADOS

Na primeira pergunta do questionário, foi questionada a idade de cada participante. Assim, 77,1% dos respondentes possuem entre 18-29 anos; 1,9% possuem entre 30-39 anos; 2,9% possuem entre 40-49 anos; 6,7% possuem entre 50-59 anos, e 11,4% possuem 60 anos ou mais. Conclui-se, que a maior parte dos participantes são jovens, pois a população total da pesquisa abrange mais alunos que professores.

Na segunda pergunta, foi questionado o gênero de cada participante. Conforme a Figura 1, pode-se notar que houve uma predominância do gênero feminino (58,1%) frente ao masculino (41,9%).

(13)

13

Figura 1 – Faixa Etária e Gênero.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Na terceira pergunta, foi questionado aos participantes qual era a principal situação de trabalho deles antes do início da pandemia. Conforme a Figura 2, percebe- se que os participantes com idades entre 18-29 anos, em sua maioria, eram estagiários antes da pandemia, correspondendo a 35,8%, seguido de empregados com carteira de trabalho (27,16%). Além disso, 9,87% dos jovens participantes, estavam desempregados antes do período referido, e 27,16% não trabalhavam por serem estudantes ou por outro motivo. 100% das pessoas com idades entre 30-49 anos estavam empregadas com carteira de trabalho. A mesma porcentagem se aplica para os participantes com idades entre 50 a 60 anos ou mais.

Figura 2 – Principal situação de trabalho antes da pandemia.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Na quarta questão, foi questionado aos participantes qual era a renda total do domicílio antes do início da pandemia. Com base nos dados obtidos representados na Figura 3, 52,4% dos participantes tinham uma renda acima de 3 salários mínimos. 7,6%

tinham uma renda de 2 a 3 salários mínimos; 18,1% tinham uma renda de 1 a 2 salários mínimos; 16,2% tinham uma renda de até 1 salário mínimo, e 5,7% não tinham renda antes do começo da pandemia.

0 20 40 60

18-29 30-39 40-49 50-59 60+

Faixa Etária e Gênero

Feminino Masculino

0 10 20 30 40

Empregado com carteira de trabalho

Estagiário Desempregado Não trabalhava por ser estudante ou

outro motivo

Principal situação de trabalho antes da pandemia

18-29 30-39 40-49 50-59 60+

(14)

14

Figura 3 – Renda total do domicílio antes da pandemia.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Na quinta questão, foi questionado aos participantes como a pandemia afetou a renda mensal. Dos respondentes de 18-29 anos, 17,28% relataram um aumento na renda;

35,80% relataram uma diminuição; 39,50% relataram que a renda foi mantida igual, e 7,40% relataram que ficaram sem rendimentos com a pandemia. Com relação aos participantes de 30-39 anos, 50% relataram um aumento, e 50% relataram uma diminuição na renda. Dentre os participantes de 50-59 anos, 57,14% relataram uma diminuição na renda e 42,85% relataram que a renda foi mantida igual. Dos participantes da faixa etária 60+, 33,33% relataram diminuição e 66,66% relataram que a renda foi mantida igual.

Figura 4 – Como a pandemia afetou a renda mensal.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Na sexta questão, foi perguntado aos participantes o quanto eles se preocuparam com suas finanças durante a pandemia. 43,80% dos participantes relataram muita preocupação; 42,9% relataram pouca preocupação, e 13,33% relataram despreocupação com as finanças durante o período mencionado. Com relação à faixa etária, os participantes com idades entre 50-59 anos foram os que mais se mostraram “muito preocupados”, correspondendo a 71,42% das respostas dessa faixa etária.

0 10 20 30 40 50 60

Até 1 salário mínimo

De 1 a 2 salários mínimos

De 2 a 3 salários mínimos

Acima de 3 salários mínimos

Sem renda

Renda total do domicílio antes da pandemia

0 10 20 30 40

18-29 30-39 40-49 50-59 60+

Como a pandemia afetou a renda mensal

Aumentou Diminuiu Foi mantida igual Ficou sem rendimentos

(15)

15

Figura 5 – Nível de preocupação com as finanças durante a pandemia.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Na questão seguinte, foi questionado aos participantes se eles contraíram dívidas durante o período de pandemia. Dos participantes entre 18-29 anos, 24,69% contraíram dívidas; 20,98% não contraíram novas dívidas, mas possuem dívidas pendentes, e 54,32%

não se endividaram, nem possuem dívidas pendentes. Dos respondentes com idades entre 30-39 anos, 100% não se endividaram, nem possuem dívidas pendentes. Na faixa etária 40-49 anos, 33,33% dos participantes contraíram dividas; 33,33% não fizeram novas dívidas, mas possuem dívidas pendentes e 33,33% não se endividaram na pandemia, nem possuem dívidas pendentes. Dos participantes com idades entre 50-59 anos, 14,28%

contraíram dívidas na pandemia; 42,85% não fizeram novas dívidas, mas possuem dívidas pendentes, e 42,85% não se endividaram, nem tem dívidas pendentes. Dos participantes com 60 anos ou mais, 50% tem dívidas pendentes, não tendo contraído novas dívidas e 50% não se endividaram e não possuem pendências financeiras.

Figura 6 – Obtenção de dívidas durante a pandemia.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Na questão seguinte, foi questionado com que frequência os participantes se sentiram tristes/ deprimidos ou ansiosos durante a pandemia. De forma geral, 13,3% dos participantes sempre se sentiram tristes ou ansiosos durante a pandemia, sendo que 92,85% dos respondentes dessa alternativa são jovens com idades entre 18-29 anos.

58,1% dos participantes relataram se sentirem tristes ou ansiosos com frequência e 23,8%

dos respondentes relataram raramente se sentirem nesse estado. Os participantes que marcaram a opção “nunca” representam somente 4,8% do total, sendo que 80% das

0 10 20 30 40

18-29 30-39 40-49 50-59 60+

Nível de preocupação com as finanças durante a pandemia

Muito preocupado Pouco preocupado Despreocupado

0 20 40 60

18-29 30-39 40-49 50-59 60+

Obtenção de dívidas durante a pandemia

Contraiu dívidas

Não contraiu novas dívidas mas tem dívidas pendentes Não se endividou, nem tem dívidas pendentes

(16)

16 pessoas que marcaram essa opção possuem 60 anos ou mais, e 20% possuem entre 50-59 anos.

Figura 7 – Frequência do estado deprimido ou ansioso durante a pandemia.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Nas duas questões seguintes, foi perguntado com que frequência os participantes efetuavam compras online antes da pandemia e atualmente. Antes da pandemia, 7,6%

dos participantes sempre compravam online. Atualmente, 17,1% dos participantes sempre compram online, o que corresponde a um aumento de 125%. Antes da pandemia, 24,8% compravam online com frequência. Atualmente, 33,3% dos participantes compram online com frequência, o que representa um aumento de 34,61%

com relação ao período que antecede a pandemia. 55,2% dos participantes raramente efetuavam compras online, e atualmente, 41,9% relataram raramente comprar online.

Essa diminuição se deve ao fato de que as compras online aumentaram no período posterior à pandemia. O mesmo se aplica aos participantes que marcaram “Nunca”, 12,4% dos respondentes nunca tinham efetuado compras online antes da pandemia, e atualmente, 7,6% dos participantes nunca compraram online, correspondendo a uma diminuição de 38,46%.

Figura 8 – Frequência de compras online.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Na questão seguinte, foi questionado o que os participantes mais consumiram através dos e-commerces durante a pandemia. O segmento mais consumido no período referido foi Supermercado correspondendo a 32,4%, seguido por Vestuário/ Moda 21%, Eletrônicos 17,1%, Farmácia 6,7%, e Cosméticos 4,8%. Uma porcentagem considerável

0 20 40 60

18-29 30-39 40-49 50-59 60+

Frequência do estado deprimido ou ansioso durante a pandemia

Sempre Com frequência Raramente Nunca

0 20 40 60 80

Sempre Com frequência Raramente Nunca

Frequência de compras online

Antes pandemia Atualmente

(17)

17 de 9,5% não consumiu nada através dos e-commerces durante a pandemia, e 8,57%

consumiram mais “Outros”, correspondendo itens como artigos para bebês, livros, eletrodomésticos e refeições em aplicativos.

Figura 9 – O que mais foi consumido nos e-commerces durante a pandemia.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Na questão seguinte, foi questionado aos participantes o que os motiva a comprar online. 42,9% dos respondentes, alegaram comprar online pela comodidade; 38,1%

compram online pelo melhor preço ou descontos oferecidos; 7,6% compram online pela maior variedade de produtos e 2,9% pela variedade de pagamentos oferecida. Somente 1% compra online por todos os motivos listados e 7,6% não compram online.

Figura 10 – Motivos para comprar online.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Na próxima questão, foi perguntado aos participantes se eles sabem o que é minimalismo. 74,3% dos participantes responderam que Sim, e 25,7% responderam que Não.

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Supermercado Farmácia Vestuário/

Moda

Cosméticos Eletrônicos Não consumiu nos e- commerces

Outros

O que mais foi consumido nos e-commerces durante a pandemia

0 10 20 30 40 50

Comodidade Melhor preço/

Descontos

Variedade de produtos

Variedade de pagamentos

Todas as alternativas

Não compra online

Motivos para comprar online

(18)

18

Figura 11 – Sabe o que é minimalismo.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Na questão seguinte, foi questionado os hábitos minimalistas que os participantes praticavam em suas rotinas. 26,3% destinam a renda para consumir somente o essencial; 58,9% doa coisas que não utiliza mais; 9,5% dos participantes pedem emprestado ao invés de comprar algum item que não possuem, mas precisam; e 62,1% dos respondentes se questionam se já possuem algo com a mesma função antes de adquirir algo novo.

Figura 12 – Hábitos minimalistas praticados.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Na questão seguinte, foi questionado o nível de concordância com a afirmação:

Ter muitos bens é sinônimo de preocupação e comprometimento financeiro. Dos respondentes com idades entre 18-29 anos, 17,28% concordam totalmente; 55,55%

concordam parcialmente; 9,87% discordam totalmente, e 17,28% discordam parcialmente. Dos participantes com idades entre 30-39 anos, 100% concordam parcialmente. Com relação à faixa etária 40-49 anos, 33,33% concordam totalmente;

33,33% parcialmente e 33,33% discordam totalmente. Na faixa etária entre 50-59 anos, 42,85% concordam totalmente; 14,28% parcialmente e 42,85% discordam totalmente.

Por fim, com relação aos participantes com idades de 60+, 16,66% concordam totalmente; 50% concordam parcialmente; 25% discordam totalmente e 8,33%

discordam parcialmente.

0 50 100

Sim Não

Sabe o que é minimalismo

0 10 20 30 40 50 60 70

Renda destinada a consumir somente o

essencial

Doa coisas que não usa mais

Se não tem algo que precisa, pede emprestado ao invés

de comprar

Antes de comprar algo novo, se questiona se já possui algo com a

mesma função

Hábitos minimalistas praticados

(19)

19

Figura 13 – Nível de concordância com a afirmação: Ter muitos bens é sinônimo de preocupação e comprometimento financeiro.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Na última questão, foi questionado o quanto os participantes concordam com a afirmação: Consumir somente o essencial proporciona maior disponibilidade financeira para investir em sonhos e paixões. Dos respondentes com idades entre 18-29 anos, 92,58% concordam em grau parcial e total e 7,40% discordam parcialmente, não havendo ninguém nessa faixa etária que discorda totalmente. Dos participantes com idades entre 30-49 anos, 100% concordam totalmente. Na faixa etária entre 50-59 anos, 85,71 concordam em grau total e parcial e 14,28% discordam totalmente. Por fim, com relação aos participantes com idades de 60+, 100% concordam variando em parcial e total.

Figura 13 – Nível de concordância com a afirmação: Consumir somente o essencial proporciona maior disponibilidade financeira para investir em sonhos e paixões.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

ANÁLISE DE DADOS

Por meio dos dados coletados e da pesquisa bibliográfica, foi possível conhecer o consumismo e o minimalismo no contexto da pandemia dos componentes da Escola de

0 10 20 30 40 50

Concordo totalmente Concordo parcialmente Discordo totalmente Discordo parcialmente

Nível de concordância com a afirmação: Ter muitos bens é sinônimo de preocupação e comprometimento financeiro

18-29 30-39 40-49 50-59 60+

0 10 20 30 40

Concordo totalmente Concordo parcialmente Discordo totalmente Discordo parcialmente

Nível de concordância com a afirmação: Consumir somente o essencial proporciona maior disponibilidade financeira para

investir em sonhos e paixões

18-29 30-39 40-49 50-59 60+

(20)

20 Direito, Negócios e Comunicação, com centralidade no curso de Administração, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

Em relação ao consumo, houve um aumento de 125% na frequência de compras online na pandemia, quando comparado ao período anterior à disseminação do vírus.

Sendo essa migração do ambiente físico para o virtual, um dos maiores impactos da pandemia no comportamento do consumidor. Surpreendentemente, o segmento de maior consumo online por parte dos participantes da pesquisa foi Supermercado (32,4%), que não teve suas atividades paralisadas durante a pandemia. Para Al-Debei (2015), o comportamento do consumidor online é determinado por inúmeros fatores, sendo um deles os benefícios entendidos. Desse modo, a preferência do consumidor pelo ambiente online frente o físico, pode ser justificada pelos benefícios oferecidos por sites e aplicativos durante a pandemia, como descontos e entrega grátis. Além disso, o aumento das compras online por parte dos participantes, foi motivado pela maior comodidade desse tipo de compra, no qual 42,9% dos envolvidos na pesquisa alegaram comprar online pela comodidade, seguido de 38,1% que compram online pelo melhor preço ou descontos oferecidos.

Mesmo com a paralisação das atividades do comércio não essencial, o consumo de itens que compõem essa divisão continuou. Um exemplo foi o maior consumo de roupas e eletrônicos, que é justificado pelo maior tempo que as pessoas passaram em casa, aumentando a demanda por roupas confortáveis e melhores equipamentos para os trabalhos em home office e aulas online, já que a universidade está com as atividades presenciais suspensas desde março de 2020.

Vale ressaltar que uma quantidade considerável (9,5%) dos participantes, não efetuou nenhuma compra através dos e-commerces durante a pandemia. Com isso, pode- se concluir que ainda existe uma certa resistência para efetuar compras online, e isso pode ser justificado, principalmente, pela falta de confiança em efetuar compras nesse meio.

Em conformidade com Inocêncio e Marques (2016), a confiança do consumidor é influenciada pela reputação que observa na comunicação boca a boca, e aspectos como velocidade de entrega e atendimento pós-compra, são essenciais para garantir uma confiança no e-commerce.

Se tratando do consumismo, verificou-se que grande parte dos participantes (58,1%) se sentiram tristes/ deprimidos e/ou ansiosos com frequência durante a pandemia, o que pode ter sido um motivador de compras por impulso. Lipovetsky (2007), destaca que há uma exploração das depressões e ansiedades, pois estes sintomas de degradação da auto-estima, ressaltam a vulnerabilidade do indivíduo. Desse modo, o consumo excessivo e por impulso, não é apenas um resultado da condição emocional, mas também um causador de dívidas, especialmente para a população mais jovem. Segundo Bauman (2008), o endividamento é um requisito da sociedade consumidora e é também uma das principais consequências do sistema capitalista.

O endividamento pode ser causado por diversos fatores, tais como baixa renda, problemas no uso do crédito e o consumo desenfreado. De acordo com Gelpi e François (2000), o superendividamento é um sintoma das sociedades que se baseiam no crédito, sendo ele causado por problemas com o orçamento familiar, vícios sociais, o consumismo, a concessão e a gestão do crédito, bem como a publicidade.

Um fator impulsionador do endividamento, foi a queda da renda oriunda da pandemia, onde 38,1% dos envolvidos na pesquisa, relataram uma diminuição na renda, e 21% dos participantes contraíram dívidas durante o período mencionado.

Com relação ao minimalismo, pode-se dizer que houve um aumento das práticas minimalistas no período ao qual a pesquisa se refere, pois, com a queda da renda de grande parte dos brasileiros, muitos precisaram consumir somente o essencial.

(21)

21 Se tratando dos hábitos minimalistas, todos os participantes praticam pelo menos um, sendo eles: consumir semente o essencial; doar itens que não usa mais; pedir emprestado itens que precisa ao invés de comprar; e antes de adquirir algo novo, questionar se já possui algo parecido ou com a mesma função. Jay (2016), afirma que quando os desejos são satisfeitos pelas coisas que já se possui, não há necessidade de adquirir mais.

O minimalismo assegura que ter muitos bens é sinônimo de estresse e menos liberdade. A autora anteriormente citada, afirma que com o tempo, o dinheiro e a energia que os bens demandam, traz a sensação de que as coisas nos possuem, e não o contrário, pois não adquirimos apenas um bem, mas o peso de uma responsabilidade.

A autora afirma que muito do estresse nos dias de hoje pode ser atribuído aos objetos. Em primeiro lugar, se estressando por não os possuir, onde surge o sentimento de privação. Depois, o estresse com a aquisição do bem, considerando a energia e o tempo gastos planejando a compra, lendo críticas sobre o produto, procurando o melhor preço, ganhando (ou pegando emprestado) dinheiro para comprá-lo, indo à loja para fazer a aquisição, transportando-o até a casa, encontrando um local para colocá-lo, aprendendo a usá-lo, fazendo a manutenção, comprando peças extras, protegendo-o e evitando quebrá- lo, e, às vezes, pagando as prestações mesmo depois de ter se desfeito do bem.

As coisas escravizam seus possuidores em termos financeiros, através das dívidas, 43,8% dos respondentes da pesquisa, relataram muita preocupação com suas finanças.

Jay (2016) defende que, quanto mais se deve, mais oportunidades são limitadas. Sendo assim, 71,4% dos participantes concordam que ter muitos bens é sinônimo de preocupação e comprometimento financeiro, e 93,4% concordam que consumir somente o essencial proporciona maior disponibilidade financeira para investir em sonhos e paixões. A autora citada, defende que esgotar a renda em bens de consumo, limita os recursos para outras atividades e experiências mais gratificantes, como viagens, por exemplo. Segundo ela, quando não há mais correntes que aprisionam as pessoas às coisas, pode-se aproveitar a vida, se relacionar mais com as pessoas e participar mais da comunidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os impactos da pandemia no consumo e consumismo da sociedade são perceptíveis, uma vez que a pandemia transformou totalmente a vida e os hábitos de todos. Assim, o mercado capitalista precisou se adaptar para que o restante da população também o fizesse, e através dos meios encontrados para tentar manter a rotina e a vida normal, os indivíduos puderam experenciar novas formas e plataformas de consumo, além de novos produtos.

Os sentimentos causados pela pandemia e pelo isolamento social, como a ansiedade, medo e depressão, atuaram como influenciadores consumistas, uma vez que para a sociedade consumista, os bens materiais trazem felicidade e o ato da compra gera prazer. Vale ressaltar que, nesse período, o maior tempo online foi o meio no qual essa felicidade consumista momentânea foi possibilitada, uma vez que os indivíduos se viram mais presentes nas redes socias repletas de anúncios e novidades.

O endividamento foi outro ponto potencializado pela pandemia, pois grande parte da população ficou desempregada e sem rendimentos ou apresentaram uma queda na renda pela menor atuação de certas profissões nos meses de quarentena, como lojistas de comércios não essenciais, por exemplo. Assim, as famílias que já estavam endividadas antes do período mencionado, se viram em situações ainda piores com a chegada da pandemia.

(22)

22 Apesar dos impactos econômicos, sociais e emocionais da pandemia, ela possibilitou o desenvolvimento de uma consciência frente ao que realmente era necessário para se alcançar saúde, felicidade e o verdadeiro sentimento de realização pessoal. Com o isolamento social, percebeu-se que ter muitos bens materiais supérfluos não traz mais valor, saúde e alegria para a vida de seus possuidores. Assim, conceitos minimalistas foram praticados, sendo o principal deles, consumir somente do essencial, motivado principalmente pela queda da renda da população. Além disso, felizmente, houve uma maior consideração e preocupação social, através da distribuição gratuita de máscaras para populações sem teto e carentes, sendo essa mais uma proposta minimalista, se preocupar e ocupar mais com as pessoas do que com suas posses.

É fato que a pandemia causou impactos positivos e negativos na sociedade, e atualmente, com a maior parte da população vacinada e com os casos diminuindo, restam as lições que a COVID-19 trouxe.

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