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PDF PT Jornal Brasileiro de Pneumologia 2 11 portugues

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J Pneumol 28(2) – mar-abr de 2002 113 Cartas ao Editor

Delmiro, o “coçado” que curou a tuberculose

(ou) A supervisão de boteco às vezes funciona

CARTAS AO EDITOR

Inicialmente consegui “seduzi-lo”, como bem reco-menda uma colega e amiga para tratar pacientes com tuberculose. Não foi fácil, só o conquistei na terceira tentativa, num bar próximo ao instituto, ao verter com ele dois ou três “traçados” ou rabo-de-galo: cachaça + vermute eu, ele cachaça + Cinnar (um vermute de al-cachofra de baixo teor alcoólico). Além da sedução, o beber junto acabou com uma inspiração inicial ao no-tar que a cor do Cinnar lembrava a cor da cápsula de rifampicina + isoniazida (drogas básicas do tratamento antituberculoso).

O segundo passo foi visitar, junto com Delmiro Co-çado, o boteco da esquina de sua pensão, onde conhe-ci seu Chiquinho, o dono, para quem meu paconhe-ciente prestava serviços e sustentava sua dependência. Abu-sei dos “traçados”, mas valeu. Retorno ao boteco do seu Chiquinho e oriento o mesmo para supervisionar as tomas dos remédios na primeira talagada, recomen-dando misturar água ao invés de cachaça com o Cin-nar.

Última providência, convencer Delmiro de que ele poderia tomar remédios com o “traçado” providencial do seu Chiquinho, mostrando que as cores destes eram exatamente as da mistura que bebia, cápsulas verme-lho-arroxeadas de rifampicina + isoniazida e do Cin-nar e comprimidos brancos do etambutol e da pirazi-namida (outras drogas do esquema de tratamento da tuberculose) que lembravam a cachaça. Até a propor-ção se igualava, mais cachaça que Cinnar, sete com-primidos para duas cápsulas.

Seis meses, seis telefonemas para seu Chiquinho e duas outras visitas a seu boteco, uma cura à tuberculo-se teimosa e persistente de Delmiro Coçado. Numa das visitas, seu Chiquinho me relata que nosso cliente reclamava da qualidade de sua cachaça e que ele lhe informara que era efeito dos remédios. Delmiro Coça-do deve ter desconfiaCoça-do da tramóia, mas a sedução foi mais forte.

Uma supervisão de boteco, foi assim que se deu a cura da tuberculose de Delmiro Coçado.

S ra. Edito ra:

Os etilistas persistentes, tentando uma denominação cientificamente adequada ou politicamente correta, aca-bam por ser alcunhados de diversas formas de acordo com a região. Em São Paulo são “bebuns”; no Rio, “bêbados”; no Nordeste, “pinguços”; entre os porte-nhos, “borrachos”, e no Pará, “coçados”. J á tentei, mas até hoje não consegui descobrir a filologia do ter-mo, sempre imaginei que expressava a coceira persis-tente de uma goela seca pela ausência do álcool, mas acredito que não passa de um meu imaginar...

Toda vez que Delmiro era consultado, lembrava dos “coçados” famosos da Cidade Velha, o bairro onde me criei em Belém das terras paraenses, que abriam e fe-chavam as tabernas (bares) das esquinas. Acabei por nomeá-lo de Delmiro Coçado. Além das lembranças da terra, Delmiro Coçado foi um dos meus grandes casos dos muitos que tratei, curei ou fui pela tuberculo-se derrotado. Um, que acabou tuberculo-se convertendo em caso-tipo, curei ou fui pela tuberculose derrotado. Um, que acabou se convertendo em catipo, exemplo de so-lução que enriquece a experiência empírica da clínica nossa de cada dia.

Mas me apropriei do que herdei Delmiro Coçado, um tuberculoso “inadimplente recalcitrante”, de tantas irregularidades e inúmeros abandonos, que há anos pe-rambulava pelo Instituto Clemente Ferreira, desacredi-tado, provocando rebuliço entre os atendentes ao exi-gir um rápido atendimento, realizado relutante pelo médico da vez, ou do horário. Assumi-lo, na época, foi mais uma alternativa de vencer um desafio do que nhar com a experiência. Hoje, tenho certo que o ga-nho foi maior que a vitória.

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Cartas ao Editor

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Não consegui, entretanto, acabar com sua depen-dência nem eliminar suas seqüelas. Delmiro Coçado continua me visitando a cada três ou quatro meses. Reclama da falta de ar quando sobe as ladeiras ou de um regaço feminino, sempre presente o bafo etílico. Este ausente, nas hemoptises, quando o medo da mor-te vence sua dependência. J á não provoca mor-temores entre as atendentes e me chama de “Meu Paizão”.

Confesso que, cada vez que atendo, particularmen-te, quando me pede uma “bombinha” para subir uma ladeira ou a “muquirana” de plantão, massageia meu ego. Este onanismo ideológico se metamorfoseia em

sentimento de derrota, quando choroso e sóbrio relata a hemotise da véspera e reclama por providências.

É sintomático, me chama aqui de “Meu Paizinho”...

FERNANDO AUGUSTO FIUZADE MELO Médico do Instituto Clemente Ferreira e do Hospital do Servidor Público Estadual – São Paulo Doutor em Medicina p ela Escola Paulista de Medicina – Unifesp

En d ereço p ara corresp on d ên cia – Instituto Clemente Ferreira (ICF), Divisão de Tisiologia e Pneumologia Sanitária, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Rua da Consolação, 7 1 7 – 0 1 3 0 1 -0 0 0 – São P a ulo , SP. Te ls. (1 1 ) 2 5 7 -8 0 9 6 , 2 5 8 -7 6 4 4 , 2 5 7 -6 5 7 9 ; e -m a il: fiuza@osite.com.br

S ra. Edito ra:

Foi com satisfação que tomamos ciência de resenha, de autoria do Professor Titular Milton de Arruda Mar-tins, publicada no J ornal de Pneumologia, volume 2 7 , número 4 , pág. 2 3 0 (2 0 0 1 ), sobre o livro “Investiga-ção Científica na Área Médica”. Os demais autores e eu sentimo-nos honrados com a inclusão da resenha no importante periódico e apreciamos os comentários do Professor Martins.

Notei, entretanto, que, da listagem dos nomes dos autores, não consta o meu. Pareceu-me, então, corre-to realçar que fui também um dos aucorre-tores do livro; de

fato, nove dos seus capítulos (de números II a IX e XIII) foram por mim escritos.

Não sei se, a esta altura, alguma correção é possível. Entretanto, ficaria agradecido e satisfeito se algum tipo de reparo pudesse ser feito. A propósito, escrevi pes-soalmente ao Prof. Martins, referindo-me ao ocorrido. Assim, comunicada esta, que me parece uma justifi-cada retificação, despeço-me, agradecendo a atenção e o interesse.

ÁLVARO OSCAR CAMPANA

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