XXVI ENCONTRO NACIONAL DO
CONPEDI BRASÍLIA – DF
DIREITO DO TRABALHO E MEIO AMBIENTE DO
TRABALHO II
ELOY PEREIRA LEMOS JUNIOR
MARIA AUREA BARONI CECATO
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D597
Direito do trabalho e meio ambiente do trabalho II[Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI
Coordenadores: Eloy Pereira Lemos Junior; Maria Aurea Baroni Cecato; Vanessa Vieira Pessanha - Florianópolis: CONPEDI, 2017.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-5505-426-6
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: Desigualdade e Desenvolvimento: O papel do Direito nas Políticas Públicas
CDU: 34 ________________________________________________________________________________________________
Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC
XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF
DIREITO DO TRABALHO E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO II
Apresentação
Frutos de estudos aprovados para o XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI -
Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito, realizado em Brasília - Distrito
Federal, entre os dias 19 e 21 de julho de 2017, apresentamos à comunidade jurídica a
presente coletânea de artigos voltada ao debate de temas contemporâneos de Direito do
Trabalho.
Na coordenação das apresentações do grupo de trabalho (GT) "Direito do Trabalho e Meio
Ambiente de Trabalho II", foi possível testemunhar relevante espaço voltado à disseminação
do conhecimento produzido por pesquisadores das mais diversas regiões do Brasil,
vinculados aos Programas de Mestrado e Doutorado em Direito. Os estudos, que compõem
este livro, reafirmam a necessidade do compartilhamento das pesquisas direcionadas ao
Direito do Trabalho, como também se traduzem em consolidação dos esforços para o
aprimoramento da área e da própria Justiça.
Surgido de um ideal tutelar e de preocupação com a inserção social, a partir de meados do
Século XIX, mas mais marcadamente no início do Século XX, o Direito do Trabalho sofre,
hoje, forte investida, a um só tempo política e econômica. Tal ocorre em todo o mundo, no
âmbito de todos os direitos sociais, mas encontra, no nível do Estado brasileiro, um peculiar
recrudescimento. Os artigos apresentados voltaram-se para o problema, se não de forma
específica no que se refere à recentemente aprovada reforma da legislação do trabalho (até
por não ter havido tempo hábil para tal), mas da maneira que se vem fazendo,
sistematicamente, em todas as oportunidades acadêmicas, no contexto dos debates que se
impõem nas últimas décadas.
Com efeito, a partir da Revolução tecnológica que se convencionou denominar de
Pós-Industrial, o Direito do Trabalho vem sendo compelido a se acomodar tanto com as
necessidades quanto com os interesses da empresa, a qual, por sua vez, vem sendo sempre
instada a promover, no quadro da globalização econômica, sua própria reestruturação
produtiva e organizacional.
A exposição dos trabalhos no espaço do GT contou com debates de relevância, os quais são
Carla Sendon Ameijeiras Veloso e Hector Luiz Martins Figueira trazem, em “O lado escuro
da moda: trabalho escravo contemporâneo”, um estudo que apresenta o trabalho escravo
contemporâneo em um novo contexto social e histórico em que não há mais correntes e
senzalas. Expõem os autores que hoje os trabalhadores são aliciados e são submetidos a
condições degradantes, debruçando-se mais especificamente, em seu texto, sobre a mão de
obra análoga à de escravo no mundo da moda.
No artigo intitulado “Emenda Constitucional 72/13: um ato de justiça?”, os autores Juliana
Martins de Sá Müller e Vitor Schettino Tresse tratam sobre como os trabalhadores
domésticos passaram a ter vários direitos garantidos constitucionalmente após a promulgação
da Emenda Constitucional nº 72. É apresentada uma releitura do processo histórico que
culminou com essa mudança, buscando definir como tal Emenda representa um ato de justiça
destinada a uma parcela considerável da população brasileira.
O estudo proposto por Murilo Martins e Victor Hugo de Almeida no artigo “Análise
juslaboral da relação de trabalho entre motoristas por aplicativo e a empresa Uber: aspectos e
consequências sociojurídicos” tem como objetivo a análise sobre como a empresa Uber deu
ensejo à formação de uma nova classe de trabalhadores, que hoje são os motoristas por
aplicativo. O artigo examinou a relação existente entre a empresa e estes motoristas, além de
seus impactos juslaborais tendentes ou não à precarização dos direitos trabalhistas. Tudo isso
com o objetivo de aventar possíveis consequências jurídicas e sociais decorrentes desse
modelo de trabalho.
Valter da Silva Pinto e Lucas Baffi Ferreira Pinto, em “Globalização e as reformas
trabalhistas: modernidade ou retrocesso?”, discorrem em seu texto sobre como a globalização
e o progresso tecnológico no mercado de trabalho têm provocado profundas transformações
no mundo do trabalho. Discutida pelos autores a relação entre a globalização e a rigidez das
normas trabalhistas brasileiras, especialmente a partir das propostas de reformas trabalhistas
no Brasil, buscaram propor uma reflexão acerca das reformas trabalhistas propostas e os seus
efeitos na minimização da crise econômica atual.
As autoras Andréa Silva Albas Cassionato e Fabíola Cristina Carrero, em seu artigo “Os
limites da sucessão trabalhista do notário titularizado por concurso público”, aduzem que o
art. 236 da Constituição Federal de 1988 dispõe que o ingresso na atividade notarial depende
de aprovação em concurso público e, enquanto o titular não assume a serventia vaga, um
notário exerce a função temporariamente, devendo este profissional arcar com os encargos
trabalhistas. Se não o fizer, a responsabilidade é do Estado, por se tratar de uma função
Trabalho reconhece a sucessão trabalhista, afastando a legislação expressa em sentido
contrário, sendo essa a problemática central do estudo.
Ailsi Costa de Oliveira, no artigo “Escravidão contemporânea: entre o compromisso da
eliminação e a convivência real com a mais degradante forma de trabalho”, discorre acerca
da constatação de que a escravidão contemporânea persiste no Brasil, no campo e nas
cidades. O autor reforça a necessidade de combate mais efetivo, com condenações que
imprimam o caráter pedagógico necessário diante de tal prática.
Por sua vez, Iana Melo Solano Dantas e Bárbara de Melo Fernandes abordam o
desenvolvimento sustentável por meio da redução de impactos ambientes ocasionado pelos
chamados empregos verdes. No texto “Emprego e sustentabilidade: empregos verdes como
mecanismos de redução de impactos ambientes”, busca-se demonstrar a consolidação de uma
economia social e ambientalmente sustentável, passível de ser efetivada com a implantação
desses empregos.
“Assédio moral no ambiente de trabalho: violação decorrente da implementação e cobrança
de metas” é o texto de Fabiana Zacarias e Gustavo Henrique Mattos Voltolini, por meio do
qual a referida prática é analisada como decorrência de política empresarial de
implementação e cobrança de metas. Observa-se a vulnerabilidade do empregado diante
desse contexto de estratégias empresariais, bem como o cabimento prático da
responsabilidade civil do empregador.
As autoras Sônia Carolina Romão Viana Perdigão e Tássia Carolina Padilha dos Santos
apresentam o artigo “Aspectos gerais sobre a repercussão do fenômeno da pejotização nas
diferentes áreas do direito brasileiro”, tratando de temática com significativa ocorrência no
mercado de trabalho brasileiro. O estudo perpassa a explicação acerca do instituto jurídico,
sua repercussão na seara trabalhista e uma breve indicação de efeitos também em outras áreas
do Direito.
Simone Maria Palheta Pires e Donizete Vaz Furlan propõem uma discussão bem específica
com o artigo “A problemática do acesso à justiça trabalhista em comunidades ribeirinhas: o
caso do arquipélago do Bailique no Estado do Amapá”, com vistas a refletir sobre a
efetividade do princípio da igualdade e da política de reconhecimento das diferenças como
corolários do acesso à justiça trabalhista das comunidades tradicionais. A pesquisa de campo
buscou referenciais na comunidade escolhida como forma de representar as dificuldades
oriundas das diversas peculiaridades encontradas pela população para fazer valer seus
O texto denominado “Abordagem teórica e empírica acerca do assédio moral por excesso de
trabalho” é trazido para o debate por Matheus Ribeiro de Oliveira Wolowski e Leda Maria
Messias da Silva. O artigo apresenta uma abordagem teórica e empírica sobre o assédio
moral por excesso de trabalho, analisando o valor social do contrato de trabalho, a evolução
das formas de trabalho, a influência das novas tecnologias no meio ambiente de trabalho e
alguns modelos de produção que ofendem a dignidade da pessoa humana. Ao mesmo tempo,
ressalta a importância do meio ambiente de trabalho equilibrado que proporcione vida digna
ao trabalhador.
A contribuição de Juliana Machado Sorgi e Elve Miguel Cenci intitula-se “A fragilidade da
prevalência do negociado sobre o legislado”. Os autores abordam, através de pesquisa
bibliográfica, a problemática da prevalência do negociado sobre o legislado no Direito do
Trabalho. O objetivo é apontar a insegurança jurídica que essa prática pode trazer, sem,
contudo, alcançar real redução do desemprego e/ou fomento da economia, como se promete.
Para tanto, eles utilizam análise de decisões do STF e do Projeto de Lei da reforma
trabalhista, trazendo como contraponto a realidade da liberdade sindical do Brasil. Por
último, apontam a temeridade, da forma como proposta a prevalência da negociação coletiva,
elaborada em espaço de esparsa participação popular, em detrimento da legislação trabalhista
democraticamente conquistada.
Em “A contribuição sindical como instrumento de luta e fortalecimento dos direitos e
garantias fundamentais dos trabalhadores: a consciência coletiva do ser”, Carmela Grune e
Lúcio Mauro Paz Barros analisam a controvérsia acerca da contribuição sindical e os
princípios de liberdade e autonomia sindical, numa conjuntura brasileira de "reformas"
legislativas tendentes aos conceitos capitalistas de modernização, eficiência e dinamicidade
das relações e direitos trabalhistas, em detrimento ao contexto histórico de construção das
garantias fundamentais laborais, calcadas na representatividade coletiva dos sindicatos. Nessa
linha, relacionam, igualmente, a dicotomia entre os interesses individuais e a consciência de
classe, à sujeição ou não do custeio da máquina sindical a um tributo estatal. Na atual arena,
o artigo procura denotar a razão pela qual a contribuição sindical fortalece os direitos e
garantias fundamentais dos trabalhadores.
Leticia Mirelli Faleiro Silva Bueno e Tadeu Saint Clair Cardoso Batista trazem para o debate
“A obrigatoriedade de realização de exames toxicológicos por motoristas profissionais e sua
(in)constitucionalidade”, no intuito de analisar a (in)constitucionalidade da Lei nº 13.103
/2015 (Lei dos Motoristas), pontualmente no tocante à exigência de exames toxicológicos
para motoristas profissionais, no ato de sua admissão e demissão, e quando da habilitação e
argumentos suscitados na Ação Direta de Inconstitucionalidade de nº 5.322, frente aos
princípios e normas do ordenamento jurídico pátrio e internacional que regulamentam essa
temática.
Em “Tempo, trabalho e desenvolvimento econômico na sociedade global: discussões à luz do
fundamento constitucional da dignidade da pessoa humana é o texto”, José Flor de Medeiros
Júnior e Maria Aurea Baroni Cecato oferecem à discussão texto que destaca o valor kantiano
enquanto condição endógena ao trabalho, perpassando pelo conceito de tempo, essencial à
compreensão do trabalho enquanto atividade antrópica mais relevante, com o fito de avaliar
de que forma as alterações ocorridas no labor, a partir da consolidação do capitalismo, da
globalização e do avanço tecnológico, implicaram novas relações sociais e de labor.
Nossas saudações aos autores e ao CONPEDI pelo importante espaço franqueado à reflexão
de qualidade, voltada ao contínuo aprimoramento da cultura jurídica nacional.
Prof. Dr. Eloy Pereira Lemos Junior - UIT
Profª. Drª. Maria Aurea Baroni Cecato - UNIPÊ
1 Professora da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. Doutora pela Universidad Del Museo Social Argentino - UMSA. Mestre pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB.
2 Especialista em Direito Civil e Processual Civil pela Escola Superior de Advocacia Flósculo da Nóbrega - ESA-PB.
1
2
EMPREGO E SUSTENTABILIDADE: EMPREGOS VERDES COMO MECANISMO DE REDUÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS
EMPLOYMENT AND SUSTAINABILITY: GREEN JOBS AS A MECHANISM FOR REDUCING ENVIRONMENTAL IMPACTS
Iana Melo Solano Dantas 1 Bárbara de Melo Fernandes 2
Resumo
Esta pesquisa objetivou estudar a redução dos impactos ambientais através de empregos
verdes, convergindo aspectos econômicos, sociais e ambientais na busca pelo
desenvolvimento sustentável. Auferiu-se que os empregos verdes são empregos formais, em
atividades econômicas que contribuem para a redução de emissões de carbono, visando à
redução dos impactos ambientais. Analisa-se o conceito de empregos verdes e trabalho
decente e como os atuais padrões de produção e consumo influenciam no meio ambiente. São
apresentados ainda critérios e indicadores dos empregos verdes, além de medidas que podem
impulsionar a geração destes, contribuindo para consolidação de uma economia social e
ambientalmente sustentável.
Palavras-chave: Empregos verdes, Trabalho decente, Padrões de consumo e produção,
Desenvolvimento sustentável, Impactos ambientais
Abstract/Resumen/Résumé
This research aimed to study the reduction of environmental impacts through green jobs,
converging economic, social and environmental aspects in the search for sustainable
development. It was earned that green jobs are formal jobs in economic activities that
contribute to the reduction of carbon emissions in order to reduce environmental impacts.
Analyzes the concept of green jobs and decent work and how current production and
consumption patterns influence the environment. Criteria and indicators of green jobs are
also presented, as well as measures that can boost the generation of these, contributing to the
consolidation of socially and environmentally sustainable economy.
Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Green job, Decent work, Patterns of consumption
and production, Sustainable development, Environmental impacts
1 INTRODUÇÃO
A evolução do homem foi longa até atingir uma consciência plena e completa da
necessidade da preservação do meio ambiente (fase holística). A ideia de desenvolvimento
econômico pautada em uma exploração irracional dos recursos naturais e humanos acarretou
prejuízos ambientais incalculáveis e outros até irreversíveis.
Instado na perspectiva de mudança desse quadro alarmante, intensifica-se a
necessidade de criação de um novo discurso que ultrapasse a ideia limitada de crescimento
econômico. Surge, assim, o debate acerca de um desenvolvimento sustentável, conciliando
duas situações aparentemente antagônicas: de um lado, a necessidade da preservação do meio
ambiente, de outro, a necessidade de incentivar o desenvolvimento socioeconômico, de
maneira a garantir subsídios para a sobrevivência da presente e futuras gerações.
Com base nesse contexto, destaca-se uma tendência mundial sobre a criação de
empregos verdes, baseada em diretrizes que atendam aos interesses econômicos, sociais e
ambientais. A geração de empregos verdes, conceito que, conforme será apresentado neste
ensejo, não pode estar dissociado da noção de trabalho decente, deve ser vista como um
elemento central do processo de criação e consolidação das empresas sustentáveis, o que
reforça as expectativas da transição para uma economia de baixas emissões de carbono, que
venha a se desenrolar - conforme propõe a OIT- Organização Internacional do Trabalho - de
uma forma socialmente justa, sem provocar grandes desequilíbrios no mercado de trabalho.
Desse modo, o objetivo geral desse trabalho é analisar os empregos verdes como
instrumentos viabilizadores de redução dos impactos ambientais no Brasil, procurando
responder a seguinte problemática: seria possível, através das relações de trabalho, com a
criação de empregos, proteger o meio ambiente e conjugar os ideais satisfatórios de dignidade
no trabalho e desenvolvimento econômico?
Como hipótese, parte-se da ideia de que os impactos ambientais podem ser reduzidos
por meio da criação, nas atividades econômicas, de empregos verdes, respeitadores da
dignidade humana (trabalho decente) e do meio ambiente, uma vez que a adoção de padrões
de produção e consumo mais sustentáveis não é contraditória com a geração de empregos, a
produtividade, a competitividade das empresas e o progresso econômico e social dos países.
Na busca por um caminho que satisfaça ao questionamento suscitado, será utilizada
uma cadeia de raciocínio dedutivo em ordem descendente, da análise do geral para o
particular, chegando-se, assim, a uma conclusão, que tem o objetivo de explicar os conteúdos
das premissas, permitindo a averiguação de novos eventos jurídicos a partir de axiomas e
princípios já estabelecidos, sendo tal método de abordagem fundamental no estabelecimento
de como os empregos verdes podem influenciar na redução dos impactos ambientais.
Quanto ao método de procedimento, será utilizado o exegético-jurídico, sendo que a
técnica de pesquisa da documentação indireta norteará este trabalho, através da pesquisa
bibliográfica em livros e periódicos, em acervos de arquivos públicos e particulares, além de
artigos jurídicos e endereços eletrônicos oficiais disponíveis em sites da internet.
Assim, a pesquisa versará, inicialmente, sobre os conceitos básicos relativos a
desenvolvimento sustentável, corolário do direito ao desenvolvimento, empregos verdes e
trabalho decente; depois, descreverá características dos padrões de produção e consumo da
sociedade contemporânea que geram impactos significativos no meio ambiente, passando
pelas atividades que contribuem para a redução desses impactos, para, ao final, examinar os
critérios e indicadores dos empregos verdes, analisando algumas medidas que podem
impulsionar a geração desses empregos, e conseqüentemente, de um futuro mais sustentável.
2 ESTUDO EPISTEMOLÓGICO
O Relatório Nosso Futuro Comum (ou Relatório Brundtland), datado de 1987, da
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU- Organização
das Nações Unidas em 1983, destacou o quadro alarmante de desigualdade social na base do
projeto de desenvolvimento econômico e social preconizado até então no cenário mundial,
apresentando um conceito sobre desenvolvimento sustentável, que exigia um sistema de
desenvolvimento sócio-econômico, com justiça social, explicitando a ligação entre economia
e meio ambiente.
O enfrentamento dos problemas ambientais e a opção por um desenvolvimento
sustentável passam, necessariamente, pela correção do quadro alarmante de desigualdade
social e da falta de acesso, por parte expressiva da população brasileira, aos seus direitos
sociais básicos, representado pelo mínimo existencial vital que deve ter acrescentado ao seu
epíteto a dimensão ambiental, passando a mínimo existencial ecológico, reconhecendo o
direito ambiental também como fundamental, em sintonia com o princípio da indivisibilidade
dos direitos humanos e fundamentais, afirmado a partir da Declaração Universal dos Direitos
Humanos - ONU, em 1948 (SARLET, 2010).
O direito ao desenvolvimento sustentável materializa-se no próprio princípio do
Cecato (2008), nova acepção formal ao termo desenvolvimento, que em sua clara
universalidade e complexa indivisibilidade, encerra todos os demais direitos, segundo a qual:
O direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável, em virtude do qual toda pessoa e todos os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, e ele contribuir e dele desfrutar, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente realizados (ANTUNES, 2010, p. 180).
Deve-se considerar, portanto, que o teor da referida Declaração leva à clara
inferência de que o desenvolvimento se coloca para além do crescimento econômico. Nesta
linha de raciocínio, deve-se considerar o crescente número de pesquisas na atualidade
mostrando que o crescimento econômico recente está levando a sociedade humana rumo à
insustentabilidade ecológica, em que se consome mais recursos que o planeta pode provir.
O modelo atual de economia não pode continuar se baseando em um sistema onde a
busca incessante pelo lucro seja utilizado como arma para que o trabalhador continue a
desempenhar as suas funções - evidentemente seguindo ordens, haja vista a subordinação que
é inerente à relação de emprego - sem qualquer preocupação com as conseqüências
ambientais que essa atividade produtiva possa trazer.
Observando o arcabouço normativo desde a criação da ONU, em 1948, pode-se
deduzir, segundo doutrina hegemônica, que o crescimento é uma condição necessária para o
desenvolvimento, mas não suficiente. Perfilha desse entendimento Sachs (2009), para quem a
evolução paradigmática do crescimento para o desenvolvimento se caracterizou por uma
complexificação crescente do conceito desse último, o que requer a compreensão de que se
trata de um conceito pluridimencional, a partir da ideia de um desenvolvimento socialmente
includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado.
Ainda segundo o autor, os objetivos do desenvolvimento são sempre éticos e sociais,
com base na solidariedade sincrônica da atual geração, a partir do respeito às
condicionalidades ambientais e econômicas - tendo em vista que a viabilidade econômica
também é condição necessária, porém certamente não suficiente para o desenvolvimento - e
na solidariedade diacrônica com as gerações futuras.
Nessa esteira, a característica includente do desenvolvimento perpassa,
necessariamente, por um dos problemas sociais mais importantes dessa época, o desemprego.
A teoria econômica predominante assume que o crescimento econômico seja a maneira mais
eficaz para geração de emprego, associado ao aumento do investimento e ganhos em
produtividade. Inobstante tal entendimento, surgem as seguintes indagações: caso o
crescimento ilimitado não seja possível, como seria possível oferecer emprego pleno e
decente para todos que querem e precisam em um mundo ideal? Isso implicaria na conclusão
de que há um limite global ao emprego decente? Caso contrário, há necessidade de um novo
modelo de desenvolvimento econômico e geração de empregos tendo em vista a ruína dos
antigos paradigmas do socialismo real e do crescimento socialmente perverso?
A interligação dessas três vertentes, econômica, social e ambiental, requer a adoção
de mecanismos eficazes, sobretudo fundados em políticas públicas adequadas, sem olvidar da
participação social, empresarial e popular, no sentido de harmonizar esses três eixos. No
mundo do trabalho, também considerado um direito social fundamental, não é diferente, não
se pode perder de vista a aplicação de medidas integradas visando o crescimento econômico, a
geração de empregos e a redução dos impactos ambientais, que podem apresentar-se com a
criação de empregos verdes.
Os empregos verdes surgem nesse cenário como mecanismo de redução de impactos
ambientais, sem que se prejudique o crescimento econômico. Confirmando essa hipótese,
tem-se o conceito do mesmo segundo a PNUMA- Programa Nacional da ONU sobre Meio
Ambiente, senão veja-se: “os Empregos verdes são aqueles que reduzem o impacto ambiental
de empresas e de setores econômicos para níveis que, em última análise, sejam sustentáveis” (EMPREGOS VERDES..., 2008, p. 38).
Ainda no mesmo programa, os empregos verdes são definidos como aqueles
realizados em áreas agrícolas, industriais, dos serviços e da administração que contribuem
substancialmente para a preservação ou restauração da qualidade ambiental, de modo que suas
atividades sejam desenvolvidas com a adoção de novas alternativas quanto à extração e
utilização correta das matérias primas e ao consumo energético, preservando a qualidade do
serviço prestado ou do produto fabricado, sem deixar de se preocupar com a qualidade de vida
de quem o executa.
A classificação do emprego como verde procura articular as três dimensões que
consubstanciam a noção de sustentabilidade vista alhures: a econômica, a social e a ambiental.
A primeira dimensão exige viabilidade econômica na criação desses empregos, haja vista que
o modelo econômico subjacente à economia globalizada ultraliberal envolve,
necessariamente, uma aposta no crescimento econômico; a segunda dimensão se expressa na
íntima relação que a OIT estabelece entre empregos verdes e trabalho decente, cujo conceito,
conforme será visto adiante, vem sendo promovido por essa organização na perspectiva e
dimensão, que se refere à capacidade desses empregos contribuírem para a conservação ou
melhoria da qualidade ambiental, reduzindo as emissões de carbono (MUÇOUÇAH, 2009).
Diante da proximidade entre as ideias de empregos verdes e trabalho decente, é
imprescindível também a análise desde. A OIT, desde 1999, tem uma agenda bem definida
para promoção do trabalho decente, para cuja implementação conta com a cooperação da
ONU, firmando o conceito em quatro pilares: a promoção de emprego com qualidade, uma
maior extensão da proteção social, o respeito às normas internacionais de trabalho e, em
especial, aos princípios e direitos fundamentais no trabalho e no diálogo social.
No Brasil, a fundamentação jurídica do trabalho decente pode ser encontrada nos
seguintes dispositivos da CF/88: art. 170, que fundamenta a ordem econômica nacional na
valorização do trabalho humano; art. 193, que indica o primado do trabalho como base da
ordem social; além do inciso IV, do art. 1º, que eleva os valores sociais do trabalho à
condição de fundamento da República Federativa do Brasil.
Diante de tais dispositivos, tem-se a prevalência do trabalho humano sobre o capital
e os demais valores da economia de mercado. Daí procede que a atividade do Estado deve
enfatizar e promover o valor social do trabalho, ademais, sem o princípio da valorização do
trabalho humano não há possibilidade da ordem econômica materializar a justiça social.
Neste diapasão, há que se observar o entendimento de Delgado (2007), segundo o
qual, enquanto o Direito do Trabalho e a Ordem Econômica estabelecida na CF/88 primam
pela conservação em sua essência do primado do trabalho e do emprego, o modelo econômico
caracterizado pelo sistema capitalista labora em sentido contrário, defendendo uma matriz
ideológica desconstrutivista do primado do trabalho e do emprego, a fim de desvalorizar e
desprestigiar a importância do emprego formal e mesmo do trabalho.
É de se notar que a definição de trabalho decente está na contramão do discurso do
sistema capitalista de produção de fim do primado do trabalho e do emprego ao elevar a
valorização das condições dignas de labor em condições de liberdade, equidade e segurança,
com uma remuneração adequada, que tenha a capacidade de garantir uma vida digna,
consistindo numa condição fundamental para redução das desigualdades sociais.
Detalhados os conceitos de emprego verde e trabalho decente, pode-se inferir que
ambos encontram-se intimamente vinculados, a ponto da presença do segundo se constituir
em condição de existência do primeiro. Mais do que isso, figuram igualmente como atributos
daquilo que seria uma economia sustentável, com baixas emissões de carbono.
É neste contexto que deve ser compreendido o conceito de empregos verdes da OIT,
referência teórica fundamental deste estudo. Embora voltado para captar as mudanças que
estão ocorrendo nas economias e nos mercados de trabalho dos diferentes países em
conseqüência dos impactos diretos e indiretos das mudanças climáticas, que necessitam de
modelos mais sustentáveis de produção e consumo, ele não poderia deixar em segundo plano
aquilo que resume o próprio mandato histórico da organização que lhe deu origem: a
promoção do trabalho decente (MUÇOUÇAH, 2009).
Feitos os necessários contornos conceituais indispensáveis para a caracterização dos
empregos verdes, apresenta-se como fundamental a análise, no tópico que se segue, mesmo
que perfunctória, dos atuais padrões de produção e consumo, haja vista a relação com o
próprio direito ao desenvolvimento, sobretudo, pela influência desses modelos na redução de
impactos ambientais, já que as políticas de consumo sustentável detêm um papel fundamental
na criação de mecanismos que possam trazer mudanças significativas para a qualidade
ambiental. Esses mecanismos perpassam, necessariamente, pelo consumo, mas também pela
produção, que pode sofrer um “esverdeamento”, de modo a transformar seus postos de
trabalho em verdadeiros empregos verdes.
3 CARACTERÍSTICAS DOS PADRÕES DE PRODUÇÃO E CONSUMO ATUAL
Ao longo da história, a produção de bens para suprimento das necessidades básicas
sempre foi uma preocupação do homem, haja vista a premência das necessidades básicas,
além da ideia de conforto advinda do acúmulo de bens e riquezas gerados pela produção. O
capitalismo, com fulcro no crescimento econômico, tem relevância nesse contexto, na medida
em que enaltece o individualismo e a concorrência, através do afã humano de produzir para
enriquecer e pela tranquilidade proporcionada pela ideia de reserva (CECATO, 2008).
Entretanto, do outro lado da dinâmica do capitalismo e da geração de riquezas,
encontra-se um cenário de insustentabilidade ambiental e social dos atuais padrões de
consumo. A partir da década de 90 do século passado, intensificou-se a percepção do impacto
ambiental dos padrões de consumo, possibilitando a emergência de um novo discurso dentro
do ambientalismo internacional, tendo em vista o conhecimento hegemônico de que o
consumo total da economia humana excedeu a capacidade de reprodução natural e
assimilação de rejeitos na atmosfera, enquanto se faz o uso de riquezas produzidas de uma
forma socialmente injusta e desigual.
Para Portilho (2005), a exploração excessiva dos recursos naturais e a iniquidade
inter e intrageracional na distribuição dos benefícios oriundos dessa exploração conduziram
e perceptiva, já que a sociedade de consumo atual é voltada para intensidade de desejos
sempre crescente, e isso supõe o uso imediato e a rápida substituição dos bens supostamente
destinados a trazer felicidade aos compradores.
A questão do impacto ambiental do consumo foi definida, inicialmente, nos limites
da noção de consumo verde e um pouco mais tarde concentrou-se no chamado consumo
sustentável, apesar de aparecerem outros epítetos, como consumo ético, consumo responsável,
consumo consciente, entre outros. O surgimento da ideia de um consumo verde e, portanto, de
um consumidor verde, só foi possível após o deslocamento da definição da questão ambiental,
da produção para o consumo.
O consumidor verde foi amplamente definido como aquele que, além da variável
qualidade/preço, inclui em seu poder de escolha a variável ambiental, preferindo produtos que
não agridam o meio ambiente. Barros e Costa (2009, p. 184) se valem de um conceito mais
amplo para explicar o que vem a ser consumo verde:
[...] o consumo „verde‟ refere-se não mais apenas ao respeito ao meio ambiente, mas também à produção de produtos seguros, ao fornecimento de serviços confiáveis e de alta qualidade, a práticas éticas de comercialização e administração, a potenciais contribuições à sociedade, ao investimento social, à assistência social e direitos, à saúde e à segurança, às condições de emprego e de trabalho adequadas, às práticas de comércio justo, às práticas de marketing e comunicação responsáveis, ao relacionamento transparente e ético com stakeholders, aos códigos de conduta e assim por diante.
Nessa perspectiva, as políticas de consumo sustentável detêm um papel
preponderante na criação de instrumentos para encorajar mudanças tecnológicas no desenho
dos produtos, informação nos rótulos (eco-rotulagem) e manipulação dos preços (eco-preços),
sem olvidar da participação democrática no debate que se faz necessário entre consumo e
qualidade de vida, o que estimula as reflexões sobre diferentes modos de elaborar
coletivamente as mudanças sociais, culturais, econômicas e tecnológicas, necessárias para a
construção do projeto de uma sociedade sustentável.
Contudo, segundo Dias (2002), urge a criação de um modelo de desenvolvimento
não mais direcionado para o aumento e o estímulo da capacidade de consumir, mas um
paradigma alicerçado no compromisso com a equidade social e com a sustentabilidade, de
modo que a pegada ecológica de uma determinada sociedade implique na utilização de um
padrão de consumo cada vez mais civilizatório em termos de demanda por recursos naturais.
A Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU reconheceu que políticas
públicas voltadas para mudança dos padrões de produção e consumo devem estar relacionadas
com aspectos sociais, econômicos e ecológicos do desenvolvimento sustentável, ou seja, que
se utilize um enfoque integrado da economia e do meio ambiente, tanto pelo lado da oferta,
caracterizado pela produção, quanto pelo lado da demanda, caracterizada pelo consumo.
4 CRITÉRIOS E INDICADORES PARA A IDENTIFICAÇÃO DOS EMPREGOS
VERDES
O projeto “Empregos verdes no Brasil: quantos são, onde estão e como evoluirão nos próximos anos”, desenvolvido pela OIT em 2009, foi o primeiro levantamento oficial do potencial de geração de empregos verdes no país. Para tanto, o estudo desenvolveu uma
metodologia a partir dos seguintes critérios e indicadores para a identificação de um emprego
verde: a exigência de trabalho decente e formal, o verdadeiro perfil ocupacional da atividade
econômica e a influência da atividade econômica na redução dos impactos ambientais.
Haja vista a interdependência entre os conceitos de emprego e verde e trabalho
decente, e levando em consideração o levantamento empírico da pesquisa desenvolvida pela
OIT, tem-se que serviram de base apenas os postos de trabalho cuja relação de emprego ou
trabalho era materializada através de um contrato formal entre as partes, fazendo jus ao direito
indisponível de anotação dessa relação na CTPS - Carteira de Trabalho e Previdência Social
do Trabalhador. Tal exigência apresenta maior probabilidade de cumprimento dos requisitos
que definem o trabalho decente do que aqueles que não estão cobertos pelos diversos
dispositivos de proteção do trabalho assalariado contidos na legislação trabalhista brasileira.
Há que se ressaltar, entretanto, que essa opção metodológica acaba por excluir um
número considerável de trabalhadores, tais como os catadores de materiais recicláveis, que
exercem sua atividade na informalidade, desprovidos de qualquer proteção social. Embora
atualmente não restem dúvidas quanto ao importante papel desempenhado por esses
trabalhadores em relação ao meio ambiente, o fato é que não se coaduna com os preceitos do
trabalho decente perquiridos pela OIT, cujo objetivo fundamental é assegurar uma transição
socialmente justa para uma economia com baixas emissões de carbono.
Outro critério de identificação dos empregos verdes adotado no estudo da OIT é que
ele se refere a postos de trabalho inseridos em certas atividades econômicas e não a ocupações
específicas, significando que o esverdeamento dos postos de trabalho refere-se aos impactos
ambientais concretos das atividades econômicas que lhes dão origem, independentemente das
funções exercidas ou do perfil profissional dos trabalhadores que os ocupam.
Pensar de forma contrária, aplicando apenas àquelas atividades que, pela sua própria
muito o conceito de empregos verdes. Na medida em que o produto final de certa ocupação
contribui significativamente para a redução de emissões de carbono ou para a
melhoria/preservação da qualidade ambiental, todos os postos de trabalho que concorrem
direta ou indiretamente para a sua produção podem ser classificados como empregos verdes,
desde que atendam às condições que definem o trabalho decente (MUÇOUÇAH, 2009).
Isso não elimina, porém, a possibilidade da existência de empregos verdes também
naquelas atividades econômicas cujo produto final impacta até mesmo de forma negativa o
meio ambiente, desde que haja um esforço relevante de redução desses impactos ao longo do
seu processo de produção.
Cumpre destacar, ainda, o último critério de identificação dos empregos verdes, no
tocante à contribuição da atividade econômica para a redução das emissões de carbono ou
para a melhoria ou conservação da qualidade ambiental. Essa contribuição só pode ser
avaliada, na perspectiva de uma economia ambientalmente sustentável, na medida em que
novos padrões de produção e consumo sejam adotados. Para a OIT, ressalvadas as
peculiaridades da economia brasileira, a transição para uma economia de bases sustentáveis
apoia-se em seis vertentes:
Maximização da eficiência energética e substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis; valorização, racionalização do uso e preservação dos recursos naturais e dos ativos ambientais; aumento da durabilidade dos produtos e instrumentos de produção; redução da geração, recuperação e reciclagem de resíduos e materiais de todos os tipos; prevenção e controle de riscos ambientais e da poluição visual, sonora, do ar, da água e do solo; diminuição e encurtamento dos deslocamentos espaciais de pessoas e cargas (MUÇOUÇAH, 2009, p.12).
A atividade produtiva da empresa que incorpore direta ou indiretamente pelo menos
uma dessas vertentes, aliando os preceitos do trabalho decente, com vistas à preservação da
qualidade ambiental, apontando alternativas concretas de estruturação da economia sobre
bases mais sustentáveis, é considerada verde.
O trabalho desenvolvido pela OIT tem como objetivo a abordagem econômica dos
empregos verdes no Brasil e conseqüente alocação no mercado de trabalho de forma
quantitativa, tendo por base os dados fornecidos pela RAIS – Relação Anual de Informações
Sociais. Para tanto, os mesmos são divididos em dois grupos, sendo que o primeiro englobaria
os empregos verdes relacionados às atividades de redução dos gases estufa e à preservação
ambiental, ao passo que o segundo corresponde às atividades de extrativismo bem como
aquelas cuja viabilidade depende da qualidade do meio ambiente (MUÇOUÇAH, 2009).
Segundo a OIT, a economia verde será responsável pela criação de 25 milhões de
postos de trabalho até 2030. Atualmente, são indicadas como verdes as seguintes atividades:
produção e manejo florestal; geração e distribuição de energias renováveis; saneamento,
gestão de resíduos e de riscos ambientais;manutenção, reparação e recuperação de produtos e
materiais; transportes coletivos e alternativos ao rodoviário e aeroviário; telecomunicações e
tele-atendimento, enquanto que o segundo grupo compõe-se da extração mineral e indústrias
de base; construção, comercialização, manutenção e uso de edifícios; agricultura, pecuária,
aquicultura, caça e pesca;turismo e hotelaria(MUÇOUÇAH, 2009).
5 MEDIDAS QUE PODEM IMPULSIONAR A GERAÇÃO DE EMPREGOS VERDES
Todos os esforços envidados à implementação dos empregos verdes dependem,
sobretudo, da ação de políticas públicas de incentivo ao desenvolvimento sustentável, seja no
plano das relações privadas ou no âmbito da Administração Pública, nas atividades que esta
explore equivalentes aos serviços privados, sem olvidar, evidentemente, da participação de
toda a coletividade, cuja responsabilidade com a qualidade ambiental também lhe é inerente,
na perspectiva da solidariedade intergeracional plasmada no art. 225 da CF.
A partir do segundo quartel do século XX, começaram a crescer exigências de
intervenção do Estado para a concretização de direitos sociais, o que só foi possível com a estruturação do “Estado de bem estar social”, especialmente, que passou a atribuir ao Estado responsabilidades no sentido de também solucionar problemas ligados ao desemprego, fome,
ausência de saúde e educação, entre outros problemas, como na seara política, ambiental e
cultural (RABENHORST, 2001, p. 37).
Sob este prisma, a constitucionalização desses direitos passou a exigir uma ação
positiva do Estado. A ineficiência da democracia representativa relativamente ao acesso de
direitos pretendidos pela sociedade aumenta de forma relevante a participação direta da
população em colegiados, desde Associações de bairros, Organizações Não Governamentais -
ONGs, comitês de Bacias Hidrográficas e órgãos regulamentadores, como o CONAMA,
passando por experiências inovadoras e orçamentos participativos (HARTMANN, 2009).
Nos tópicos que se seguem, analisar-se-á alguns instrumentos que podem servir de
mecanismos de redução de impactos ambientais, na medida em que fomentam e impulsionam
a geração de empregos verdes no país.
Para a exata compreensão do conceito de extrafiscalidade, faz-se mister,
apriorísticamente, a análise do termo jurídico fiscalidade. Para Amaro (2004), a fiscalidade é
o uso de mecanismos jurídicos que permitem que o tributo seja cobrado com finalidade
meramente arrecadatória, sendo esse instrumento utilizado na maioria dos tributos do
ordenamento jurídico brasileiro. Assim, o Estado utiliza-se da tributação como meio
necessário para se alcançar os objetivos inerentes a implementação das políticas públicas.
Em contrapartida, a extrafiscalidade tem finalidade diversa da arrecadatória, ou seja,
o Estado se utiliza da função extrafiscal quando há o manuseio da tributação como forma de
garantir um desenvolvimento socioeconômico, ou ainda para corrigir situações anômalas na
economia (MACHADO, 2006).
No que tange especificamente a aplicação da extrafiscalidade no âmbito da
preservação do meio ambiente, tem-se a tributação ambiental como o instrumento mais
importante para que os órgãos integrantes do SISNAMA- Sistema Nacional do Meio
Ambiente- possam aplicar e cumprir as diretrizes traçadas pela Lei Ambiental para orientar o
comportamento dos contribuintes a favor do meio ambiente e gerar os recursos necessários à
prestação dos serviços públicos de natureza ambiental (SIRVINSKAS, 2011).
A CF/88 positivou a preservação da natureza, demonstrando a importância que tem a
compatibilização entre o direito tributário, econômico e ambiental na aplicação das políticas
tributárias voltadas para a preservação do meio ambiente, por intermédio de vários princípios
econômicos, como o da propriedade privada, defesa do meio ambiente, livre iniciativa
econômica, conforme art. 171, II, III e IV e § único (MAGANHINI, 2007).
Todas as espécies de tributos (impostos, contribuição de melhoria, taxas) podem
servir de proteção e conservação do meio ambiente, além de ser possível conceder benefícios
e utilizar incentivos fiscais (imunidades, isenções, deduções e progressividade tributária) em
relação a atividades, produtos e serviços que possuam relação com tal preservação.
O liame existente entre a extrafiscalidade e a geração de empregos verdes pode ser
observado no exemplo da redução, pelo Governo Federal, do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) para eletrodomésticos da linha branca, móveis, veículos e materiais de
construção. Esta medida acabou repercutindo positivamente sobre o meio ambiente e sobre a
criação de empregos verdes, já que, a exemplo dos eletrodomésticos, os novos modelos
demandavam uma produção com mais eficiência e economia energética em comparação com
seus similares antigos, passando a atividade laboral a ser considerada verde, haja vista a
conseqüente compensação ambiental. Tendo em vista que todos os postos de trabalho que
vierem a ser criados para a produção desses eletrodomésticos devem ser considerados
empregos verdes, essa política pode ser encarada como um grande incentivo a sua geração.
5.2 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Com o aumento acentuado do consumo, a coleta, o acondicionamento, o tratamento,
o transporte e o destino final dos resíduos se tornaram mais complexos, havendo a
necessidade de se adotar medidas mais efetivas na esfera nacional. Mesmo diante dessa
realidade, a atividade legiferante demorou quase 20 anos para finalizar o processo de criação
da Lei nº 12.305/10, que dispõe sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos- PNRS.
O artigo 1º da PNRS resume seus objetivos: disciplinar a gestão integrada e o
gerenciamento dos resíduos sólidos, fazendo uso de princípios, objetivos e instrumentos que a
viabilizem, e atribuindo responsabilidade aos geradores, ao poder público e às pessoas físicas
ou jurídicas responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que
desenvolvam ações relacionadas à gestão de resíduos sólidos.
A lei estabelece metas importantes para o setor, como o fechamento dos lixões até
2014 e a elaboração de planos municipais de resíduos, obrigando os municípios e empresas a
criarem programas de manejo e proteção ambiental. Além disso, institui responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, através do acordo setorial e a implementação
obrigatória da logística reversa. Estabelece, ainda, que as pessoas terão de acondicionar de
forma adequada o lixo para o seu recolhimento, fazendo a separação onde houver a coleta
seletiva, fruto da diretriz da responsabilidade compartilhada prevista pelo mesmo. A indústria
de reciclagem e os catadores de material reciclável devem receber incentivos da União e dos
governos estaduais (FIORILLO, 2010).
Convém destacar o interesse peculiar dos municípios na organização dos serviços de
limpeza pública e coleta, transporte e depósito dos resíduos sólidos, que é predominante sobre
os da União e dos Estados na matéria. Inobstante, dada a necessidade de experiência técnica
mais avançada para certos tipos de tratamento dos resíduos e os altos investimentos para
implantar usinas de tratamento, a União e os Estados precisam intervir financeiramente.
Preocupado com a materialização dessa lei, o Governo Federal lançou, em 2009, um
Programa de Qualificação Profissional para mais de 10 mil catadores de materiais recicláveis
em 18 Estados do país, aliando os objetivos com a Agenda Nacional de Trabalho Decente,
vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com ações governamentais de
resíduos sólidos. Tal medida possibilita a formalização de um número expressivo de contratos
de trabalho de trabalhadores que se dedicam às atividades de reciclagem de resíduos e
materiais na informalidade, que, assim, poderão ser inseridos em postos de trabalho decente, o
que, em síntese, possui relação com empregos verdes (CORRÊA, 2010).
Tais considerações apenas reforçam a ligação da PNRS com a geração de empregos
verdes, sobretudo quando da análise do conceito deste último esposado pela OIT (2009),
segundo a qual ajudam a proteger e restaurar ecossistemas e a biodiversidade; reduzem o
consumo de energia, materiais e água por meio de estratégias de prevenção altamente
eficazes; descarbonizam a economia; e minimizam ou evitam por completo a geração de todas
as formas de resíduos e poluição.
5.3 POLÍTICA NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO
O saneamento básico é um serviço essencial que deve ser prestado pelo Poder
Público com a máxima eficiência, objetivando a saúde pública. No Brasil, menos da metade
da população vive em um ambiente adequado, onde há água limpa na torneira e esgoto
tratado, o que alija o direito substancial e fundamental do ser humano ao meio ambiente sadio
e equilibrado (SIRVINSKAS, 2011).
A Política Nacional de Saneamento Básico baseia-se nos princípios fundamentais, no
exercício da titularidade, na prestação regionalizada de serviços públicos de saneamento
básico, no planejamento, na regulação, nos aspectos econômicos, sociais e técnicos, na
participação de órgãos colegiados no controle social e na Política Federal de Saneamento
Básico da Lei nº 11.445/07, que dispõe sobre as diretrizes nacionais do saneamento básico.
Resta evidenciado, que tal política veio a lume por causa da necessidade de definir
critérios e uniformizar a legislação para o saneamento básico em todo o território nacional,
tendo como principal objetivo contribuir para o desenvolvimento nacional, a redução das
desigualdades regionais, a geração de emprego e de renda e a inclusão social.
Em virtude desses objetivos e da necessidade de implantação dos Planos Nacionais e
Regionais de Saneamento Básico com o objetivo de universalizar o serviço de abastecimento
de água potável e de coleta de resíduos domiciliares em todas as áreas urbanas do país até
2030, vislumbra-se, facilmente, esta política como um instrumento viabilizador e fomentador
de empregos verdes, haja vista a própria relação sistêmica entre o saneamento básico e a
redução de impactos ambientais, sobretudo pelo número de empregos gerados diretamente
para a consolidação dos Planos referidos alhures.
5.4 PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA
O Programa Minha Casa Minha Vida- PMCMV foi criado em 2009 pelo Governo
Federal, com o objetivo principal de atender as necessidades de habitação da população de
baixa renda nas áreas urbanas, de modo a preservar o direito à moradia digna, obedecendo a
padrões mínimos de sustentabilidade.
A Caixa Econômica Federal, que ficou responsável pela operacionalização de
referido programa, estabelece vários critérios de avaliação da sustentabilidade ambiental dos
projetos de construção que se candidatam aos seus financiamentos, alguns, inclusive,
aparecendo como condicionantes obrigatórios, o que representa uma excelente oportunidade
para a introdução de novas tecnologias mais sustentáveis, seja no processo de produção dessas
edificações, seja no seu uso posterior, tais como: dispositivos economizadores de água,
medidores individuais de água e gás, sistemas de aquecimento solar, lâmpadas econômicas.
Com a perspectiva de fomentar atividades mais sustentáveis nessa área, a CEF criou
ainda o Selo “Casa Azul”, para qualificar projetos de empreendimentos socioambientais que
priorizam a economia de recursos naturais e as práticas sociais. Para concessão desse selo, a
CEF estabelece critérios que são agrupados em seis categorias: inserção urbana, projeto e
conforto, eficiência energética, conservação de recursos materiais, uso racional da água e
práticas sociais que incentivam a construção de moradias que no processo de edificação
respeitem o meio ambiente. O cumprimento dessas exigências implica na adoção de práticas
de construção sustentáveis possibilitando a criação de empregos verdes (CAIXA..., 2009).
A fabricação, instalação e manutenção dessas novas tecnologias, que se apresentam
como obrigatórias para o próprio financiamento, são responsáveis pelo aumento do potencial
de geração de empregos verdes no país. Ainda convém ressaltar que o PMCMV, através das
políticas públicas de desoneração fiscal, através do Regime Especial de Tributação- RET do
Governo Federal e de impostos como ICMS- Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços, ITCD- Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou
Direitos, ITBI- Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis e ISS- Imposto sobre Serviços,
a critério dos Estados, foi um mecanismo importantíssimo para que a construção civil tivesse
desempenho significativo no país, nos anos de 2010 e 2011, gerando milhares de empregos,
que nesta perspectiva podem ser considerados verdes (CARTILHA..., 2009).
Foi a partir de dezembro de 2002, em Johanesburgo, na Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável, que a ideia de Compras Verdes surgiu no cenário mundial,
estimulando as autoridades a promoverem políticas de contratação pública que favoreçam o
desenvolvimento e a difusão de mercadorias e serviços favoráveis ao meio ambiente.
No Brasil, muitos instrumentos de comando e controle são direcionados ao
desenvolvimento sustentável. Especificamente em relação à inclusão de critérios de
sustentabilidade nas compras públicas, pode-se enumerar os seguintes dispositivos: o Decreto
nº 2.783/98, que proíbe entidades do governo federal de comprar produtos ou equipamentos
contendo substâncias degradadoras da camada de ozônio; a Portaria nº 61 do Ministério do
Meio Ambiente, que estabelece práticas de sustentabilidade ambiental quando das compras
públicas sustentáveis; a Instrução normativa nº 01 de 19 de janeiro de 2010, que dispõe sobre
critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras
pela administração pública direta, autárquica e fundacional.
Torna-se imprescindível uma análise compreensiva do marco legal para se identificar
as oportunidades de implementação de critérios de sustentabilidade nas compras públicas. No
caso do Brasil, elas estão reguladas pela Lei de Licitações nº 8.666/93 e seu regulamento, que
se insere no marco constitucional, que inclui no seu capitulo VI do Título VIII, do Meio
Ambiente, e no Capítulo I do Título VI, da Ordem Econômica, a prioridade para a proteção
ambiental e qualidade de vida.
Nesse sentido, o Brasil também possui uma cartilha denominada “Guia de compras
públicas para a Administração Federal”, que traz orientações de como o setor público federal pode contribuir com o meio ambiente de modo sustentável. Segundo essa cartilha, essas
compras também são chamadas de compras ambientalmente amigáveis, licitações públicas
sustentáveis, eco-aquisições, licitação positiva ou consumo responsável, e envolvem,
necessariamente, as seguintes vertentes: a responsabilidade do consumidor em comprar bons e
eficientes produtos que respeitem o meio ambiente; compras apenas de produtos/serviços
necessários, sem desperdício; promoção de produtos/serviços inovadores, com pouco impacto
ambiental; impactos e custos no ciclo de vida do produto (produção, distribuição, uso e
disposição) devem ser levados em conta nas compras, de modo a que sejam escolhidos os que
menos prejuízos causarem (CARTILHA..., 2009).
Nesta seara, por via de conseqüência, a exigência de compras públicas sustentáveis
acaba fomentando a geração de empregos verdes, haja vista a necessidade das empresas
incutirem o conceito de sustentabilidade em seus sistemas produtivos caso pretendam
participar de sistemas licitatórios com a administração pública federal.
5.6 REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE PROPRIEDADES RURAIS NA
AMAZÔNIA
A regularização fundiária é um dos principais fatores para preservar os recursos
naturais do meio ambiente, sobretudo porque o proprietário legal da propriedade pode ser
punido em casos de degradação ambiental. O decreto nº 6.992/09 regulamenta a lei que define
as condições para a regularização fundiária de propriedades rurais com até 1.500 hectares na
Amazônia, o qual estabelece que:
Art. 15. O título de domínio ou o termo de concessão de direito real de uso deverão conter cláusulas sob condição resolutiva pelo prazo de dez anos, que determinem:
I - o aproveitamento racional e adequado da área;
II - a averbação da reserva legal, incluída a possibilidade de compensação na forma da legislação ambiental;
III - a identificação das áreas de preservação permanente e, quando couber, o compromisso para sua recuperação na forma da legislação vigente;
IV - a observância das disposições que regulam as relações de trabalho; V - as condições e forma de pagamento; e
VI - a recuperação ambiental de áreas degradadas, localizadas na reserva legal e nas áreas de preservação permanente, observadas as normas técnicas definidas pelo Ministério do Meio Ambiente.
Tendo em vista o número alarmante de propriedades rurais da Amazônia que não
possuíam documentação legalizada até o ano de publicação desse Decreto, e levando-se em
consideração todas as exigências colocadas pelo mesmo para a regularização fundiária dessas
propriedades, muitos seriam os empregos no setor florestal brasileiro que seriam gerados. E
esses empregos seriam considerados verdes, sobretudo, em virtude dos incisos VI e IV do
artigo citado, pela exigência de contribuição para a conservação ou melhoria da qualidade
ambiental, e por atender aos requisitos do trabalho decente, na medida em que os direitos
fundamentais trabalhistas são respeitados.
Outra iniciativa que pode vir a gerar uma grande quantidade de empregos verdes
nesse setor é o fortalecimento das cadeias produtivas de alguns produtos florestais não
madeireiros, tais como o açaí, a castanha, o guaraná e os biocosméticos e fármacos em geral.
Além disso, todos os esforços devem ser envidados para se reduzir drasticamente o
desmatamento na Amazônia, principalmente, através da contenção do avanço da fronteira
agrícola sobre a floresta, o que pressupõe um conjunto de ações capazes de mudar a estrutura
do uso das áreas já desmatadas ou degradadas, que por sua vez, implica na criação de um
maior número de empregos no campo em todo o Brasil (MUÇOUÇAH, 2009).
5.7 INSPEÇÃO VEICULAR PARA CONTROLE DE EMISSÕES
Foi através da Resolução nº 418/2009 do CONAMA que se tornou obrigatória a
inspeção veicular de toda frota brasileira de veículos, cujo objetivo principal é identificar
irregularidades nos veículos em uso que provoquem aumento na emissão de poluentes.
Aqueles que apresentarem essas irregularidades, a exemplo de falhas de manutenção e
alterações do projeto original, não poderão obter a sua licença anual de circulação enquanto
elas não forem sanadas.
É justamente por causa dessa inspeção obrigatória, que muitos empregos serão
gerados nessa área, seja direta ou indiretamente, em decorrência do provável aumento da
demanda de autopeças e serviços de reparação e manutenção de veículos. Tais postos de
trabalho enquadram-se perfeitamente no conceito de empregos verdes adotado pela OIT, na
medida em que estarão contribuindo para a redução de emissões de carbono e para a melhoria
da qualidade do ar, sobretudo nos centros urbanos.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisando o conceito de empregos verdes da OIT, pôde-se auferir que os mesmos
constituem mecanismos viabilizadores da diminuição dos impactos ambientais para níveis
sustentáveis, já que são postos de trabalho decentes, isto é, trabalho formalizado de acordo
com as normas trabalhistas, que reduzem as emissões de carbono e que se destinam a
melhorar a qualidade de vida humana e ambiental. Esses empregos seriam ligados a
determinadas atividades econômicas, como a agricultura, o fornecimento de energia, os meios
de transporte, a reciclagem de resíduos e materiais de todos os tipos, que têm condições de
oferecer milhares de postos de trabalho e que colaborariam com a transição para economia
ambientalmente sustentável com a adoção de novos padrões de consumo e produção.
A adoção desses novos padrões de consumo é um verdadeiro desafio para essa
transição. Embora isso tenha se constituído num fator decisivo tanto para os significativos
avanços experimentados pelo país nos últimos anos no sentido da redução da pobreza e da
desigualdade quanto para o amortecimento dos impactos da crise econômica internacional
sobre a economia brasileira, é bem provável que essa elevação acelerada do consumo acabe
provocando pressões insustentáveis sobre o meio ambiente.
Contudo, acredita-se que esta realidade de impactos danosos ao meio ambiente pode
ser minimizada, criando-se oportunidades de mais empregos verdes e de renda em atividades
sociais, econômicas e ambientalmente sustentáveis, que hoje se descortinam, cujo cenário
propicia mudanças em favor do clima do planeta e da dignidade dos trabalhadores.
Os empregos verdes, analisados de forma correlata com o trabalho decente,
comprovam que a relevância dessas atividades é altíssima, sobretudo em países como o
Brasil, onde esses postos correspondem a um número tão reduzido de empregos formais.
Diante da análise do problema proposto para este estudo pode-se concluir que a
hipótese descrita para tal questionamento é verdadeira, no sentido em que os impactos
ambientais podem ser reduzidos por meio da criação, nas atividades econômicas, de empregos
verdes, que são empregos formais e respeitadores da dignidade humana e do meio ambiente.
Constatou-se que o crescimento da oferta de empregos verdes na economia brasileira
será ainda maior na medida em que os diversos setores forem se “esverdeando”, ou seja,
forem introduzindo tecnologias ambientalmente sustentáveis nos seus processos de produção.
Nesse viés, apresentaram-se algumas iniciativas brasileiras relacionadas a políticas
públicas com vistas a criar mais empregos verdes e decentes: tributação ambiental por meio
da extrafiscalidade, Política Nacional de Resíduos Sólidos, Política Nacional de Saneamento
Básico, Programa Minha Casa Minha Vida, compras públicas sustentáveis na Administração
Federal, regularização fundiária de propriedades rurais na Amazônia e inspeção veicular para
o controle de emissões de gases.
Outra conclusão que se pode extrair desse estudo é a de que, a julgar por esses
mecanismos explanados, o Brasil já está ciente da necessidade de transição para uma
economia de baixas emissões de carbono, consciente da importância de criar um cenário para
o mercado de trabalho pautado no desenvolvimento sustentável, utilizando os recursos
naturais em prol da população atual e das gerações futuras.
Para tanto, a sociedade civil, os governos e as empresas precisam refletir sobre as
formas de produção e de consumo, e implementar mais iniciativas que promovam
oportunidades de desenvolvimento humano, trabalho verde e decente e respeito ao meio
ambiente. Com isso, espera-se estar acrescentando novos argumentos ao debate em torno dos
rumos do desenvolvimento do país, na medida em que os dados aqui apresentados sobre a