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Acordam, em conferência, os Juízes da 5ª Secção do Tribunal da Relação de Lisboa.

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 889/2006-5

Relator: RICARDO CARDOSO Sessão: 14 Novembro 2006 Número: RL

Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: RECURSO PENAL Decisão: PROVIDO

MENORES MEDIDA TUTELAR

Sumário

A Lei Tutelar Educativa, Lei nº 166/99, de 14 de Setembro, segundo a

exposição de motivos da proposta de Lei nº 266/VII in Diário da Assembleia da República, II Série A de 17 de Abril de 1999, tem a natureza de processo

penal, sendo aplicável subsidiariamente o processo penal, nos termos o art.º 126º da Lei nº 166/99, de 14 de Setembro.

Já a Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo, Lei nº 147/99, de 1 de Setembro, tem como objecto não a averiguação do ilícito criminal, mas a promoção dos direitos e a protecção dos jovens e das crianças por forma a garantir o seu bem estar e desenvolvimento integral, sendo o processo de jurisdição voluntária e aplicando-se-lhe subsidiariamente as normas do

processo civil, sendo as medidas de protecção previstas na Lei nº 147/99, de 1 de Setembro da competência dos tribunais civis.

O recurso que não tem por objecto a aplicação de medida tutelar educativa, mas sim medida de promoção e protecção de jovem em perigo, sendo aplicável a Lei nº 147/99, de 1 de Setembro, seguindo os autos e o recurso de agravo interposto o regime processual civil.

Texto Integral

Acordam, em conferência, os Juízes da 5ª Secção do Tribunal da Relação de Lisboa.

1. No Processo de Promoção e Protecção (que não Tutelar Educativo) nº 1757/1993, da 1ª Secção, do 4º Juízo do Tribunal de Família e Menores de Lisboa, relativo à menor C., confiada provisoriamente, desde 25 de Julho

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de 2004 (cfr. fls. 261 v.º), à Segurança Social da Área de Lisboa, ficando assim a beneficiar de uma medida de promoção e protecção nos termos dos art.ºs 35º nº 1 al. f), 37º, 90º e 91º todos da Lei nº 147/99, de 1 de Setembro, foi proferido a 4 de Março de 2005 o seguinte despacho:

“A C. completou 18 anos de idade a 23.2.2005.

Nos presentes autos apenas lhe foi aplicada uma medida provisória cuja duração não pode aplicar-se por mais de 6 meses – Art.º 37º da LPCJP.

Assim atento o disposto nesse artigo e ainda o art.º 63º nº 1 al. a) da mesma lei declara-se cessada a medida e consequentemente determina-se o oportuno arquivamento dos autos. DN.”

2. Não se conformando com esta decisão veio o Digno Magistrado do MºPº recorrer, invocando, em síntese, que:

“1 - Ao ter determinado a cessação de medida de promoção e protecção aplicada provisoriamente e determinado o arquivamento dos autos sem ter sido oportunidade nem à jovem nem à instituição a quem está confiada, de se pronunciar, o douto despacho recorrido violou o disposto nos artigos 4° h) e i), 84° e 85° da L 147/99, de 1 de Setembro.

2 - Porque determinou o arquivamento dos autos sem que tenha havido uma apreciação judicial acerca da pedido do Ministério Público para que a C.

continuasse a beneficiar de medida de promoção e protecção para além da sua maioridade, o douto despacho recorrido enferma de uma omissão que acarreta a sua nulidade. (Art.º 668 n.º 1 d) do CPC.).

3 - Ao determinar o arquivamento dos autos, recusando de facto, a aplicação de uma medida de promoção e protecção, a uma jovem menor de 21 anos, desprotegida social e familiarmente, o tribunal violou o disposto nos artigos 1

°, 3° n.º 2 a), 4°, 5 a) de L 147/99 de 1 de Setembro.

Por isso, e salvo melhor opinião deve aquele douto despacho ser revogado e substituído por outro que:

- Ordene o cumprimento dos Art.º 84 e 85° L 147/99 de 1 de Setembro;

- Declare que a jovem C. continuará a beneficiar de medida de Promoção e Protecção até aos 21 anos de idade se necessário;

- Determine o prosseguimento dos autos, designando data para a diligência a que se refere o art.º 112 ou para debate judicial, ambos da L 147/99 de 1 de Setembro;

V.Exas todavia tomarão a decisão que melhor acautele o bem estar e o desenvolvimento integral da C.”

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3. Admitido o recurso, como de agravo, com subida imediata nos próprios autos e efeito suspensivo, nos termos dos artigos 733º, 734º nº 1 al. a), 736º e 740º nº 1 do CPC e dos artigos 123º e 124º da Lei de Protecção às Crianças e Jovens em Perigo, conforme despacho constante de fls. 315, foi proferido despacho de sustentação da decisão recorrida a fls. 324 e ordenada a subida dos autos a este tribunal.

4. Distribuídos em 12 de Abril de 2005 neste tribunal à 8ª secção (Cível) e após ter sido admitido o recurso como o próprio com o efeito e regime de subida fixados em 1ª instância, colhidos os vistos, foi proferido a 17 de Janeiro de 2006 despacho que entendendo estar “exclusivamente em causa a

aplicação de uma medida tutelar” ordenou a remessa dos autos à distribuição das secções Criminais.

.

5. Neste tribunal da Relação a Excelentíssima Senhora Procuradora Geral Adjunta deu parecer no sentido de acompanhar a posição defendida pelo MºPº em 1ª instância.

6. Foram colhidos os vistos e realizada conferência.

7. Suscita-se como questão prévia, decorrente da definição do objecto do processo, sua natureza, e forma do recurso, a de saber qual a jurisdição, cível ou criminal, em que deve ser apreciado o presente recurso.

8.1. Breve historial dos presentes autos:

1. Iniciaram-se os mesmos a 6 de Dezembro de 1993 no âmbito da vigência da OTM, com a natureza de processo tutelar (OTM), conforme fls. 2, tendo a menor, abandonada pela mãe aos dois anos de idade, sido admitida na Obra … desde 20 de Janeiro de 1994, contando então 6 (seis) anos.

A menor foi confiada à guarda e protecção daquela obra, nos termos dos art.ºs 19º da OTM e 1918º do Código Civil, por decisão de 30 de Maio de 1994 (a fls.

16).

2. Em 2000, a menor ingressou no Colégio da Infanta do Ministério da Justiça, e não tendo praticado actos qualificados como crime pela lei penal, não tendo sido possível ingressar numa família, continuando sem apoio familiar para assegurar um razoável desenvolvimento, e “continuando a carecer de acolhimento em Instituição mas da área da segurança social”, ao abrigo do disposto nos art.ºs 19º e 25º nº 2 da OTM, foi revista a medida aplicada, sendo-lhe aplicada a medida tutelar de Submissão a Regime de Assistência

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(fls. 127).

3. Com a entrada em vigor da Lei nº 147/99, de 1 de Setembro, tendo de ser obrigatoriamente revista a medida tutelar aplicada no âmbito da OTM, o processo foi reclassificado como Processo de Promoção e Protecção,

determinando-se a continuação da medida aplicada, nos termos dos artigos 2º nº 4 e 62º da citada Lei (cf. despacho de fls. 136).

4. Em 28 de Janeiro de 2002, por alterações psicológicas da menor foi proposto o seu tratamento compulsivo com a nova Lei de Saúde Mental, continuando o processo a ter a classificação de Processo de Promoção e Protecção (fls. 168), procedendo-se à revisão da medida no sentido da sua manutenção.

5. A 8 de Março de 2002, a menor atentou contra a sua própria vida (fls. 173) passando a frequentar consultas de psicologia e de psiquiatria.

6. A fls. 182 a 189 e a fls. 216 a 247 houve notícia da pendência de inquérito relativo à menor (Inquérito nº 107/02.OTQLSB – A), que deu origem a

Processo Tutelar Educativo com o nº 301757/1993-A, que foi apenso aos presentes autos (cf. fls. 250). No âmbito do referido Processo Tutelar

Educativo, realizado julgamento, foi proferida decisão em 7 de Novembro de 2002 (cf. cópia de fls. 326 e seguintes, apresentada pelo MºPº com a

motivação de recurso), onde foi aplicada à menor a medida tutelar educativa de internamento em Centro Educativo, em regime semi-aberto, a que alude o art.º 17º nº 3 da Lei nº 166/99, de 14 de Setembro, pelo período de dois anos, sendo ordenado o arquivamento dos presentes autos, com os fundamentos constantes do despacho de fls. 255, correndo a partir daí apenas o apenso referente ao aludido Processo Tutelar Educativo.

7. Terminado em 25 de Julho de 2004 o cumprimento da medida tutelar educativa aplicada no âmbito de Processo Tutelar Educativo, o Processo de Promoção e Protecção foi reaberto, nos termos e fundamentos constantes de fls. 260 e 261, sendo então a menor confiada, provisoriamente, desde 25 de Julho de 2004 (cfr. fls. 261 v.º), à Segurança Social da Área de Lisboa, ficando assim a beneficiar de uma medida de promoção e protecção nos termos dos art.ºs 35º nº 1 al. f), 37º, 90º e 91º todos da Lei nº 147/99, de 1 de Setembro.

8.2. O objecto de apreciação do presente recurso é o despacho a fls. 308, que declarou cessada a medida determinando também o arquivamento dos autos.

8.3. Com a entrada em vigor da Lei Tutelar Educativa (Lei nº 166/99, de 14 de Setembro), passou a existir matéria criminal relativamente a menores,

absorvendo-se elementos derivados do sistema anglo-saxónico dentro do actual quadro de “fertilização constitucional cruzada”, tendo-se consagrado a

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distinção entre crianças e jovens em risco, por um lado, e menores delinquentes por outro.

Às situações de crianças e jovens necessitados de protecção, incluindo

menores de 12 (doze) anos que pratiquem factos ilícitos criminais aplicam-se as disposições da LPCJP, na expressão do juiz a quo, querendo com tal

abreviatura referir-se à Lei de Protecção das crianças e Jovens em Perigo, Lei nº 147/99, de 1 de Setembro.

Aos menores de idade compreendida entre os 12 (doze) e os 16 (dezasseis) anos que pratiquem ilícitos criminais aplicam-se as disposições da Lei Tutelar Educativa, Lei nº 166/99, de 14 de Setembro.

A Lei Tutelar Educativa, segundo a exposição de motivos da proposta de Lei nº 266/VII in Diário da Assembleia da República, II Série A de 17 de Abril de 1999, tem a natureza de processo penal, dele se aproximando “em matérias tão importantes como as que se referem ao princípio da legalidade processual, ao direito de audição, ao princípio contraditório ou ao princípio da

judicialidade,” importando “do processo penal alguns institutos que uma vez reconformados mostram capacidade de adaptação aos fins do processo tutelar”, o que se demonstra pela própria natureza do processo tutelar educativo onde se apreciam factos qualificados como crime, onde existe inquérito dirigido pelo MºPº, sendo aplicável subsidiariamente o processo penal, nos termos o art.º 126º da Lei nº 166/99, de 14 de Setembro.

A Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo, Lei nº 147/99, de 1 de Setembro, tem como objecto não a averiguação do ilícito criminal, mas a promoção dos direitos e a protecção dos jovens e das crianças por forma a garantir o seu bem estar e desenvolvimento integral, sendo o processo de jurisdição voluntária e aplicando-se-lhe subsidiariamente as normas do

processo civil, sendo as medidas de protecção previstas na Lei nº 147/99, de 1 de Setembro da competência dos tribunais civis. Neste preciso sentido verbi gratia o Ac. da Rel. De Coimbra de 22 de Fevereiro de 2005 in Col.ª de Jur.ª Ano XXX, Tomo I, pág. 28.

8.4. Na compreensão de quantos vimos expondo o Mmº juiz ao admitir o recurso em observância das normas aplicáveis recebeu-o “como de agravo, com subida imediata nos próprios autos e efeito suspensivo, nos termos dos artigos 733º, 734º nº 1 al. a), 736º e 740º nº 1 do CPC e dos artigos 123º e 124º da Lei de Protecção às Crianças e Jovens em Perigo”.

8.5. Em conclusão:

O recurso não tem por objecto a aplicação de medida tutelar educativa, mas sim medida de promoção e protecção de jovem em perigo, sendo aplicável a

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Lei nº 147/99, de 1 de Setembro, seguindo os autos e o recurso de agravo interposto o regime processual civil, sendo consequentemente rejeitado por esta Secção Criminal, e ordenada a remessa dos autos à 8ª Secção (Cível) deste Tribunal onde foi correctamente distribuído.

Sem tributação.

Lisboa, 14.11.2006 Ricardo Cardoso Filipa Macedo

Nuno Gomes da Silva

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