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Da industrialização à regeneração: Perspectiva sobre o processo de transformação do território da Quimiparque, Barreiro. Resumo

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Academic year: 2021

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Da industrialização à regeneração: Perspectiva sobre o processo de

transformação do território da Quimiparque, Barreiro

Diana Bica1, Bruno Alves1, André Fernandes1 1) Instituto de Dinâmica do Espaço

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Portugal diana_b_bica@hotmail.com; brunomfa1991@gmail.com; andre.fernandes@fcsh.unl.pt

Resumo

O desenvolvimento industrial do Barreiro é indissociável da implantação e crescimento da CUF, complexo industrial que transformou profundamente este território. Um processo de desenvolvimento industrial que passou por vários ciclos, iniciando-se com uma vertente eminentemente química (ligada aos adubos), assistindo depois (período da Quimiparque) à diversificação das actividades económicas aqui instaladas. Um processo necessariamente influenciado por factores de natureza endógena e exógena. Mais recentemente, vários planos e projectos objectivaram a reconversão funcional e regeneração deste território, como são os casos do “Projecto Arco Ribeirinho Sul” e do “Plano de Urbanização do Território da Quimiparque e Área Envolvente”, os quais apontam para profundas transformações deste território. Partindo da análise das transformações aqui ocorridas, o artigo pretende (i) compreender os principais factores que lhe estiveram subjacentes, (ii) analisar e discutir as perspectivas de desenvolvimento preconizadas pelos diferentes planos e projectos para este território num contexto pós-industrial.

Palavras-chave: Industrialização, Regeneração Urbana, Estuário do Tejo, Frentes Ribeirinhas.

1. Introdução

Ao longo da história tem-se assistido a vários ciclos de industrialização. Neste sentido, tal como refere Queirós, “as dinâmicas da economia industrial produzem ciclos de expansão, estagnação e declínio. Na fase mais baixa destes ciclos, edifícios e terrenos estão subutilizados ou frequentemente abandonados, encontrando-se muitas vezes os solos contaminados. Na sua grande maioria, estão próximos de áreas de elevadas densidades populacionais, são associados à degradação ambiental e identificados como económica e socialmente pouco viáveis (…) estes locais, conhecidos por brownfield” (Queirós, 2004: 14).

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Com o crescimento e desenvolvimento das cidades, e atendendo à situação privilegiada dos territórios que suportaram estes complexos industrais, tais brownfields tem vindo a apresentar potencial de reconversão/regeneração, entendendo-se aqui, genericamente, a regeneração como “uma acção que implica a demolição das estruturas morfológicas e tipológicas existentes numa área urbana degradada e a sua consequente substituição por um novo padrão urbano, como novas edificações” (Mendes, 2012: 3). O caso da Quimiparque no Barreiro, objecto do artigo, apresenta-se assim, como um caso de um brownfield para o qual têm sido concebidas várias orientações que preconizam a indução de um processo de regeneração.

Este artigo corresponde a uma adaptação de um trabalho académico desenvolvido no âmbito da disciplina de “Cidades Portuárias e Frentes de Água”, da Licenciatura em Geografia e Planeamento Regional (Departamento de Geografia e Planeamento Regional da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa).

2. Instrumentos e Projectos de Desenvolvimento Territorial

Desde a década de 1960 verificado um interesse crescente pelas frentes de água como território de intervenção urbanística, algo indissociável da obsolescência e abandono destes territórios, na sequência dos processos de deslocalização de infra-estruturas portuárias ou de declínio da actividade industrial. Tal tendência tem proporcionado o surgimento de uma panóplia de planos/projectos de revitalização, um pouco por todo o mundo. Três factores principais contribuíram para o recrudescimento do interesse por estes territórios: “a disponibilidade de espaço edificado e não edificado próximo do coração das cidades; o crescimento da actividade económica, em particular dos serviços; a consciência da importância de restabelecer a relação entre pessoas e a água” (Guimarães, 2006: 139). Neste contexto, analisa-se o posicionamento do território da Quimiparque (antiga CUF) no âmbito do Projecto Arco Ribeirinho Sul (ARS) e o Plano de Urbanização do Território da Quimiparque e a Área Envolvente. Dois instrumentos de intervenção que objectivaram a reconversão funcional e regeneração do extenso brownfield correspondente a este complexo industrial.

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2.1. Projecto Arco Ribeirinho Sul

Das várias acções consagradas no Projecto do ARS constam a instalação de equipamentos de referência, de equipamentos de desenvolvimento e de indústrias criativas, de estruturas de apoio à náutica de recreio; a reestruturação das infra-estruturas portuárias e a estruturação do corredor ecológico do Arco Ribeirinho (Ferreira, 2009: 32-41).

Especificamente para a área da Quimiparque, prevê-se a descontaminação dos solos e das águas subterrâneas (cf. eGiamb, CIGA e Weber Portugal, cit in CMB, 2010: 20-21), construção de áreas habitacionais em conjunto com actividades terciárias de apoio directo à população, e construção de uma área direccionada para a indústria, sendo ambas separadas por um corredor verde. Propõem-se ainda a consolidação e requalificação de núcleos urbanos; o desenvolvimento ambiental sustentável aliado à deslocalização ou encerramento de indústrias perigosas. O Projecto ARS previa que concretização de todos os objectivos propostos (ao nível da requalificação e dotação de infra-estruturas e equipamentos) potenciasse o aumento da população residente, a criação de emprego local e o aumento do rendimento fiscal (Ferreira, 2009: 64). Todavia, este projecto acabou por ser suspenso.

2.2. Plano de Urbanização do Território da Quimiparque e a Área Envolvente (PUTQAE)

A elaboração deste plano surgiu da necessidade de criar um plano que perspectivasse uma nova utilização de um território cada vez mais degradado, uma necessidade intensificada pela demora do processo de revisão do PDM do Barreiro, assim como pela decisão de construção da TTT e da ligação de Alta Velocidade Ferroviária Lisboa-Madrid.

Em 2008, a CMB deliberou então a elaboração do referido PU, que: prossegue o intento da criação de uma cidade de duas margens, consubstanciado no PROT-AML e no Projecto ARS; desenvolve orientações a nível do regime do uso e transformação do solo

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de modo a promover a regeneração da área através da fixação de actividades que apostem em tecnologias de maior valor acrescentado e “Environment Friendly”.

O PU engloba uma área de 632 hectares, abrangendo a área da actual Baía do Tejo – 287 hectares - e a frente ribeirinha Norte. Entre outras orientações, pretende-se o aumento do cais (alargamento da plataforma ribeirinha) construindo “uma zona de operações logísticas empresariais que reforce a capacidade do porto de Lisboa para este tipo de actividades” (CMB, 2010: 11), tirando proveito do acesso fluvial, do acesso ferroviário e rodoviário.

Relativamente aos usos consignados no PU, são criadas zonas de usos diversos, umas de uso predominantemente residencial com existência de comércio, e outras predominantemente para actividades económicas, em coexistência com habitação para incentivar a dinamização social do território. Foram ainda estabelecidas zonas de actividades de recreio e lazer que podem também incluir actividades económicas e habitacionais.

Com base nas funções e usos predominantes foram ainda definidos 3 núcleos e centralidades (Augusto Mateus & Associados, 2007), a saber: (1) Núcleo da Gare do Sul – interface que liga três modos de transporte (metro, comboio e autocarro), com ligação à TTT. Promove-se a Poente da estação a instalação de actividades direccionais, comércio e serviços diversos, criando um pólo importante de emprego qualificado; (2) Núcleo da Praça Central – alicerçado numa grande praça, a qual terá em seu redor edifícios com diferentes funções, incluindo preocupações simbólicas e de representação – culturais, de comércio e lazer; (3) Núcleo do Porto de Recreio da Verderena – localizado na actual área da infra-estrutura intermodal onde se prevê a instalação de actividades ligadas ao recreio náutico. Projecta-se a construção de uma marina, de zonas de lazer nocturno, hotel, restauração, actividades marítimas (como actividades de reparação naval), alguns equipamentos habitacionais, e outras actividades dinamizadoras da área.

Na área da Quimiparque o PU procura ainda implantar uma estrutura ecológica com características de sustentabilidade e de continuidade, promovendo a coesão com o território envolvente (como a construção da Vala Real, um corredor verde que servirá para a prática desportiva, escoamento de águas entre outras actividades). Procura-se

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também promover a interacção quotidiana, a promoção da utilização e o aproveitamento do espaço a nível da mobilidade, desporto, recreio e da produção, melhorando a qualidade de vida da população.

3. Conclusão

A actividade industrial no Barreiro, dinamizada pela CUF teve um impacto profundo na transformação da economia local e regional. Com o declínio da actividade industrial verificou-se um progresso abandono deste território, com uma localização central no Estuário do Tejo e no contexto da AML. Todavia, associado a este desenvolvimento industrial foram gerados importantes impactes ambientais significativos (e.g. ao nível da contaminação dos solos), que contribuíram para a degradação da área de estudo, acentuando a preocupação com a sua reconversão e regeneração.

O PU pretende, essencialmente, uma boa articulação funcional na área de interevenção, potenciado a sua localização privilegiada. Este plano apresenta assim, como importante factor positivo, a sua flexibilidade, permitindo uma multiplicidade de usos do solo. Porém encontra-se muito centrado nas grandes infra-estruturas a serem criadas (como a TTT) cuja construção foi suspensa, pelo que condicionando a prossecução das orientações estabelecidas no documento, num horizonte de médio-longo prazo. Outra referência a fazer é a percentagem destinada aos vários usos, o uso habitacional com aproximadamente 30% e o uso económico rondando os 70%. Correspondendo a uma “nova abordagem” das frentes de água, como territórios com potencial para o desenvolvimento de actividades industriais (em contraponto a uma lógica de intervenção focada nos usos habitacionais e nas actividades de recreio e lazer), não deixa de enformar um importante desafio, porquanto pressupondo uma forte capacidade de atracção de investimento produtivo.

Destaque ainda para o Projecto ARS, que em articulação com o PU previa o desenvolvimento imobiliário, de actividades logísticas, industriais e de outros serviços geradores de emprego para as frentes de água de Almada, Seixal e Barreiro. Entre os pincipais de desafios inerentes à concretização deste projecto, contavam-se a questão de que muitas parcelas apresentam entraves nos direitos de utilização, assim como a

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necessidade de preparação do solo para desenvolvimento das infra-estruturas, com avultados custos de descontaminação (destacando-se aqui o caso da Quimiparque). Outro desafio identificado prendia-se com a possibilidade de a construção da TTT poder vir a acentuar o caráter dormitório do Barreiro, sendo por isso uma das razões para a acrescida importância da necessidade de actividades económicas geradoras de emprego. Deve-se ainda ter em conta a vertente identitária, tal como refere Guimarães: “As novas intervenções deverão ter a capacidade de gerar diversidade de interpretações a nível da memória e identidade, que no seu conjunto podem ser a base de uma vitalidade económica, social e cultural” (Guimarães, 2006: 19). Portanto, independentemente do tempo de concretização das orientações inerentes a estes projectos (relevando aqui as dificuldades económicas e financeiras que o país atravessa), estes não deverão minorar a importância da componente histórica, essencial à criação de um quadro de referência identitária capaz de criar factores de diferenciação. Um aspecto aos quais os documentos em análise conferem alguma importância (por exemplo, a ligação criada ao rio com a construção de parques voltados para o mesmo, presença da vertente industrial, uma característica inerente à área da antiga CUF).

4. Referências bibliográficas

Augusto Mateus & Associados (2007) Estratégia de Desenvolvimento Empresarial e Urbano do Barreiro: Diagnóstico de Partida. Augusto Mateus & Associados, Lisboa. CMB – Câmara Municipal do Barreiro (2010) Plano de Urbanização do Território da Quimiparque e Área Envolvente – Proposta de Plano, Relatório – Versão B. CMB, Barreiro.

Ferreira A F (2009) Projecto do Arco Ribeirinho Sul – Proposta de Plano Estratégico 2009.

Guimarães F J (2006) Cidade portuária, o porto e as suas constantes mutações. Parque EXPO’98, Lisboa.

Mendes L (2013) A regeneração urbana na política de cidades: inflexão entre fordismo e o pós-fordismo. Revista Brasileira de Gestão Urbana, ISSN 2175-3369.

Queirós M (2004) Da teoria à prática na intervenção em Brownfield: A regeneração da CUF/Quimigal no Barreiro. V Congresso da Geografia Portuguesa.

Referências

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