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Decisões de Restauração: Living Building Challenge ou Convencional?

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Luiz Gustavo Paulo Oran UNIVAP

sefaradita@icloud.com

Decisões de Restauração: Living Building Challenge ou Convencional?

Fábio de Almeida UNIVAP falmeida@univap.br Mariana Costa UNIVAP marianacosta.engc@gmail.com 1595

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CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO,

REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018)

Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

DECISÕES DE RESTAURAÇÃO: LIVING BUILDING CHALLENGE OU CONVENCIONAL?

L. G. P. Oran, F. Almeida e M. Costa

RESUMO

A busca pelo uso racional dos recursos e a mitigação dos danos decorrentes da construção alimentou a propagação de certificações verdes. O nível de comprometimento para implementar projetos e indicadores meticulosos exigidos na Certificação Living Building

Challenge (LBC) causa desinteresse por sua obtenção em território brasileiro. A escassez

de expertise em ferramentas de auxílio à tomada de decisão é crítica no Brasil. Interesses pessoais, financeiros, políticos ou ideológicos se sobrepõem a argumentos técnicos e de ganhos coletivos. Este trabalho estruturou o processo decisório considerando os riscos das opções tecnológicas. Utilizou-se uma árvore de decisão como ferramenta no desenvolvimento da justificativa de investimento para obtenção da certificação LBC no projeto de retrofit do Largo das Letras, em São José dos Campos, com objetivo de assegurar um impacto positivo no desenvolvimento desse projeto e de novas concepções de projetos sustentáveis e de elevar o capital social da pessoas no seu entorno.

1 INTRODUÇÃO

Sendo uma das atividades mais importantes no desenvolvimento econômico e social, a construção civil também é um dos agentes responsáveis pelo crescente impacto ambiental, com a modificação das características do meio e na geração de demanda de recursos naturais esgotáveis.

Segundo Ferreira (2014), as atividades econômicas e humanas promovem profundas transformações no sistema global e a compreensão de que a Terra está aberta para a troca de energia e matéria são aspectos inerentes ao funcionamento do sistema terrestre.

Assumindo o compromisso de desenvolver novas soluções, organizações não governamentais, empresas privadas e entidades públicas desenvolvem pesquisas e investem na pegada ecológica sustentável, visando garantir um planeta habitável para as futuras gerações.

Construir sustentavelmente implica em evolução e mudança de paradigma de toda a indústria de insumos para a construção, com o desenvolvimento de novas tecnologias e

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metodologias. Estas devem ser capazes de atender às novas necessidades e interesses da sociedade e aos limites de recursos naturais. As certificações verdes são responsáveis por articular uma série de questionamentos e propor medidas. Por essa razão, investidores otimistas especulam neste âmbito uma nova economia sustentável em ascensão.

As alternativas de certificações sugeridas como sustentáveis, a exemplo de Leadership in

Energy and Environmental Design (LEED), ACQUA, WELL, BREEAM e Procel Edifica,

alcançam aspectos particulares de soluções mais globais. Em conjunto, essas propostas abrangem de forma mais completa a reeducação das iniciativas de projetos da construção civil. Contudo, os custos de atender a pontos de vista isolados e os reunir em um conjunto com objetivo comum traz consigo custos proibitivos e inibidores de iniciativas.

Projetistas e representantes de organizações não governamentais esbarram na dificuldade de justificar soluções tecnológicas mais caras. Argumentos assentados em break even point e período de retorno de investimento não têm sido suficientes para persuadir investidores financeiros e formadores de opinião com caráter decisivo.

Phillips e Bana e Costa (2007) comentam que em todas as organizações, públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos, os decisores com frequência se deparam com a difícil tarefa de justificar a alocação de recursos levando em conta e ponderando custos, benefícios e riscos.

Diante de situações cujo ambiente de decisão envolve complexidades elevadas e probabilidades e riscos, foram desenvolvidas ferramentas de tomada de decisão para auxiliar à visão de maior totalidade do problema e melhor analisar a viabilidade de investimentos em um cenário inédito, arrojado e heterogêneo, com necessidade de uma abordagem segundo pontos de vista mais sistêmicos.

Dentre as muitas ferramentas de auxílio ao processo de tomada de decisão, a Árvore de Decisão se alocada após ferramentas para contexto complexo - Análise Multi-Critério ou Multi-Objetivo, por exemplo – e pode melhor estruturar aspectos não abrangidos por aquelas. Vencidas as etapas da pluralidade de interesses envolvidos e concorrentes, a exemplo dos governamentais, particulares, empresariais, públicos e econômicos, a escolha tecnológica recai não mais entre a ampla gama de critérios e alternativas, mas sim entre as melhores alternativas e as probabilidades e os riscos envolvidos.

Probabilidades de falhas ou atrasos nos projetos, contexto de resultados incertos, contraditórios e ou mesmo controversos são típicos na implementação de novas tecnologias e novos processos. Quando estes são correlacionados aos seus respectivos custos estimados chega-se ao conceito de risco.

O risco e as probabilidades envolvidas frequentemente não são considerados nessas análises decisórias. Critérios capitaneados por opiniões e interesses políticos, em conjunto com justificativas contábeis, tendem a direcionar as soluções. Em trabalho sobre Capital Intelectual, Oran Barros (2018) aborda o equilíbrio do poder de decisão e a má influência política. Ele cita como sendo inevitável que um grupo hegemônico exerça melhor seus

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interesses a despeito dos interesses dos demais, a menos que haja uma estratégia de aumento do poder do cidadão.

Com intuito de propiciar um caminho mais estruturado para as escolhas de investimento financeiro e intelectual, associamos a ferramenta de auxílio à tomada de decisão conhecida como Árvore de Decisão à proposta da Certificação Living Building Challenge. A Árvore de Decisão é uma ferramenta utilizada em situações nas quais existem riscos envolvidos. De forma integrada, essa ferramenta permite considerar sequências de decisões e possíveis resultados associados com cada uma das alternativas, as probabilidades assumidas e os efeitos monetários associados, conforme Zuffo (2007).

A Certificação Living Building Challenge (LBC) é a evolução das certificações, com uma abordagem complexa no que se refere à geração de um impacto positivo no meio ambiente. Juntamente com o conceito das certificações verdes, o retrofit ganha espaço na construção civil. Ele traz consigo uma ideologia sustentável, propondo a adequação de construções antigas às novas necessidades, sem gerar mais danos ao meio ambiente e mantendo a essência da estrutura original.

A Certificação LBC se difere das outras certificações por não possuir uma lista de requisitos prescritivos. Ela apresenta 20 indicadores que devem ser provados durante o primeiro ano de operação do edifício, desafiando os projetistas e construtores. Cada ação é analisada minuciosamente, desde a concepção até a entrega do edifício, em seu desempenho efetivo para o meio ambiente e à sociedade.

De acordo com o site do International Living Future Institute, o Living Building Challenge permite três níveis de certificação:

a) Living Building Certification: Requer todos os 20 Imperativos atribuídos ao

Projeto.

b) Petal Certification: Requer pelo menos três das sete Pétalas, uma das quais deve ser

Água, Energia ou Materiais.

c) Zero Energy Certification: Requer projetos para gerar toda a energia no local sem

combustão.

Com o objetivo de abranger a certificação em sua totalidade, será aplicado na proposta de

retrofit na árvore de decisão o estudo dos 20 imperativos, compondo as sete pétalas da

certificação (Lugar, Água, Energia, Saúde e Felicidade, Materiais/Red List , Equidade, Beleza). Ao se tratar de construções tombadas como patrimônio histórico, esses cuidados se agravam. Em São José dos Campos, cidade do estado de São Paulo, a Fase Sanatorial transformou seu traçado, sendo hoje um grande marco na formação do patrimônio cultural e histórico da cidade. A edificação escolhida neste estudo é chamada de Largo das Letras (Vila Samaritana). O Sanatório Vila Samaritana, inaugurado em 1934, foi construído pela Associação Evangélica Beneficente (AEB) em uma área de 33.000 m². Com a Lei nº 1.434 de 21 de fevereiro de 1968, a prefeitura municipal desapropriou o imóvel para a instalação da fundação Vale Paraibana de Ensino (FVE) e hoje é um imóvel tombado - atendendo à

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solicitação do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (COMPHAC) - porém, abandonado.

O presente trabalho aborda a análise de decisão acerca de alternativas para recuperação e reinserção desse prédio à rotina dos habitantes, seus possíveis resultados associados e as probabilidades e riscos envolvidos no retrofit deste edifício.

2 RETROFIT e LIVING BUILDING CHALLENGE

Este tópico contém as informações sobre os conceitos de retrofit e de Living Building

Challenge para sustentar a estruturação da Árvore de Decisão dessa pesquisa.

2.1 Living Building Challenge

Conforme Living Future (2018), metáfora inspiradora para as concepções de projetos segundo o Living Building Challenge é a flor, com sua limpeza e eficiência. A partir daqui, nascem projetos para espaços com propostas regenerativas. Eles devem conectar os usuários com a luz, o ar, a comida, a natureza e a comunidade, auto-suficiência e permanência dentro dos limites de recursos disponíveis no seu espaço. Devem produzir mais energia do que coletar ou consumir e tratar toda a água no próprio lugar e zelar pelo saudável e pelo belo.

O Living Building Challenge 3.1 indica os imperativos necessários à certificação para ações de restauração conforme a Tabela 1.

Tabela 1 Os 20 Imperativos do Living Building Challenge 3.1 para Restauração

Fonte: Living Building (2018)

Imperativo Pertinência Imperativo

Lugar

1 X Limites ao Crescimento

2 - Agricultura Urbana

3 X (Salto de escala) Permuta de Habitat 4 - Vida provida pelo humano

Água 5 X (Salto de escala) Água Positiva

Energia 6 X (Salto de escala) Energia Positiva

Saúde e Felicidade

7 X Ambiente Civilizado

8 X Ambiente Interior Saudável

9 X Ambiente Biofílico

Materiais

10 X Red List

11 X (Salto de escala) Rastro de Carbono incorporado 12 X Indústria Responsável

13 X Fonte de Economia Viva

14 X Esgoto Positivo

Equidade

15 - Escala Humana + Espaço Humano 16 - Acesso Universal à Natureza + Espaço 17 X (Salto de escala) Investimento Equitativo

18 X Organizações Justas

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Para cada imperativo, o LBC detalha as fronteiras de disponíveis para a realização dos projetos, como ilustrado na Tabela 2.

Tabela 2 Fronteiras para realização de projetos

Fonte: Living Building (2018)

Em relação ao 5o imperativo, é exigido que a totalidade da água necessária à sustentação do

projeto seja de origem pluvial ou outro sistema natural de água de ciclo fechado, reciclado e purificado sem uso de química, segundo Living Future (2018). Da mesma maneira, toda água descartada deve ser tratada internamente e seu reuso deve ser adequadamente gerenciado. Já em relação ao 6o imperativo, exige-se que 105% de toda a energia

necessária ao projeto seja limpa, renovável e produzida internamente e estocável dentro da área do projeto. No item Saúde e Felicidade, para garantir um ambiente civilizado, é imperativo que todos os espaços regularmente ocupados por pessoas tenham janela para acesso ao ar fresco e à luz do dia.

O 9o imperativo direciona que o projeto deve fortalecer a relação humano/natureza, de

modo a incentivar que as interações entre eles sejam sempre maiores. No desenho do projeto, sua concepção deve se alinhar ao clima e à cultura por meio de relações baseadas no lugar e deve incorporar a natureza por meio de recursos ambientais, luz, espaço e formas naturais.

Os imperativos referentes aos Materiais discorrem sobre a não utilização de materiais e práticas nocivos mais conhecidos. Deve ainda alimentar no mercado dos negócios, uma economia voltada para materiais verdadeiramente responsáveis. Para tanto, o LBC apresenta uma Red List de materiais que não devem ser usados. Essa posição visa nutrir os projetos do ambiente construído com o uso de materiais renováveis e que não causem impacto negativo sobre o humano e o ecossistema. Os aspectos de carbono incorporado na construção devem ser compensados por empresas aprovadas na compensação de carbono. Além da Indústria Responsável, esse grupo de imperativos ainda trata do conceito no Imperativo 13, de economia baseada no lugar de maneira a fomentar a economia regional fundada em práticas, produtos e serviços sustentáveis. Os fornecedores e prestadores de serviços devem atender às seguintes características, conforme Living Building (2018):

• 20% ou mais do orçamento de construção de materiais deve vir de 500 quilômetros do canteiro de obras.

• Um adicional de 30% do orçamento de construção de materiais deve vir de dentro de 1.000 quilômetros do local de construção ou mais próximo.

Limites de Crescimento Permuta de habitat

Lugar

Wetlands

Para cada hectare desenvolvido, uma parte igual de terra deve ser posta de lado perpetuamente.

Dunas primárias Florestas antigas Pradarias virgens Terras agrícolas antigas

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• Um adicional de 25% do orçamento de construção de materiais deve vir de 5.000 quilômetros do local de construção.

• 25% dos materiais podem ser provenientes de qualquer local.

• Os consultores devem vir de dentro de 2.500 quilômetros do local do projeto.

Enquanto projetos novos devem apresentar ao menos um material recuperado por 500 m2

de área bruta de construção, os projetos de restauração de uma estrutura existente estão isentos dessa obrigação.

Os projetistas devem busca a máxima redução ou eliminação total de resíduos no projeto, na construção, na operação, até o final do tempo de vida de serviço do espaço construído. Para tanto, a equipe de projeto deve montar um Plano de Gerenciamento de Conservação de Materiais detalhando com otimizar o uso de materiais nas seguintes fases (Living Building 2018):

• Fase de Projeto, incluindo a consideração de durabilidade apropriada na especificação do produto;

• Fase de Construção, incluindo otimização de produtos e coleta de materiais desperdiçados;

• Fase de Operação, incluindo um plano de coleta de consumíveis e duráveis;

• Fase de Fim de Vida, incluindo um plano para reutilização e desconstrução adaptável.

Em relação aos imperativos de Equidade, os projetos devem ser concebidos partindo da escala humana e não do automóvel. O objetivo desses imperativos é fortalecer as interações entre as pessoas e a cultura local. Espaços que priorizem a escala humana e possibilitem o convívio e a interação, bem como limites para tamanhos de residenciais unifamiliares e estacionamentos fazem parte desse grupo de imperativos. Além disso, conforme Living Building (2018), para cada dólar do custo total do projeto, o empreendimento deve reservar e doar meio centavo ou mais para uma instituição de caridade. Os espaços devem ser acessíveis a todos e, em paralelo, permitir o acesso público ao ar fresco, à luz solar e aos cursos de água.

Finalmente, além da promoção da arte voltada ao prazer humano, o projeto deve possibilitar o fácil acesso, por parte de todos, aos conceitos e soluções encontrados, com objetivo de incentivar novas mudanças.

3 LBC NO LARGO DAS LETRAS - VILA SAMARITANA

O Retrofit no Largo das Letras é uma alternativa de recuperação da construção. Pelas características de patrimônio cultural e sua arquitetura, a preservação de suas idiossincrasias originais reforça a identidade da cidade de São José dos Campos. A sua história pode ser relida e recontada. Ao se optar pelo Living Building Challenge, também se propõe reescrever a história do Largo das Letras, mantendo as bases originais, porém com inspiração na sustentabilidade.

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3.1 Recuperação necessária

Após um conjunto estruturado visitas técnicas realizadas por um time de professores e alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVAP, foi consolidado o levantamento dos custos de obras necessárias para restaurar o imóvel. Sem considerar atualizações tecnológicas, os valores estimados estão representados na Tabela 3.

Tabela 3 Custos estimados de restauração do Largo das Letras

3.2 Recuperação conforme Imperativos Living Building Challenge

O Largo tem seu espaço de ocupação iniciado em 1934 e localizado em área urbana consolidada. Portanto, não recaem sobre si os Imperativos 1, 2 e 3 da Tabela 1. Em relação ao Imperativo 4, sua concepção arquitetônica é de sanatório na primeira metade do século XX. Seus espaços internos e externos estão concebidos para convívio de pessoas e não para acolhimento de carros. Internamente a mudança de andar é realizada por escadas e suas dimensões em geral são confortavelmente pensadas para servir de espaços para pessoas que permanecem e passeiam. A utilização de bicicletas é facilitada pelos amplos espaços dentro dos limites do terreno.

Em relação aos Imperativos 5, 6 e 14, água positiva, energia positiva e esgoto positivo, faz-se necessário adequar para atender aos requisitos do LBC. Infaz-serções de sistemas de captação de água de chuva e processo de reciclagem de águas servidas e tratamento de esgotos por meio de bactérias anaeróbias, sem utilização de químicos, são necessários para melhorar esse indicador. A energia positiva deve ser desenvolvida a partir de sistemas

Etapa Custo por

Etapa Projetos Executivos 15.242,83 Canteiro de Obras 17.947,54 Serviços Preliminares 160.267,80 Fundações -Paredes e Vedações -Esquadrias 45.654,71 Cobertura 495.934,49 Revestimento de Pisos 42.045,93

Revestimentos de Paredes Internas 17.559,74

Pinturas 76.877,22

Forros 180.003,42

Acabamentos e Arremates 3.770,81

Instalações Hidráulicas e Sanitárias 22.001,97

Instalações Elétricas e Eletrônicas 189.446,81

Serviços Complementares 27.012,41

Administração Local 151.967,38

Preço Total (R$) 1.445.733,06

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eólicos e solares. Para não interferir no aspecto arquitetônico, a cobertura não será retrofitada considerando placas solares ou sistemas eólicos sobre ela. A propriedade em que está localizado o Largo possui área construída de 1900 m2, com coberturas em telhas

cerâmicas e paredes de alvenaria. As áreas não construídas estão descampadas e livres para acomodar as torres eólicas e os sistemas solares de geração de energia limpa e renovável, sem combustão ou utilização de energia da rede pública.

Os Imperativos 7, 8 e 9 já fazem parte do projeto consolidado no Largo das Letras. A construção está situada em meio ao verde e seu espaço facilita e incentiva a relação humano/natureza, aspecto típico de sanatórios centenários na região do Vale do Paraíba. Todas as suas aberturas confrontam com vegetação composta por árvores e jardins.

Os imperativos que se referem aos materiais são atendidos na integralidade. Em um raio de 500 quilômetros estão disponíveis todos os serviços e insumos considerados nesse projeto de retrofit.

Os Imperativos de Equidade pertinentes a Restauração são contemplados pela Instituição mantenedora do Largo das Letras. A Fundação Valeparaibana de Ensino (FVE) tem assegurado no estatuto seu papel de promotora da equidade. A FVE possui sistemas de apoio a estudantes por meio de bolsas de estudo a um percentual de 20% para dependentes de seus funcionários. Seus preços não podem prever lucros que não sejam revertidos à comunidade.

Finalmente, sobre os Imperativos de Beleza, por ser patrimônio cultural com peculiaridades arquitetônicas, tais imperativos são intrínsecos à sua existência. Conclui-se que o Largo das Letras tem as condições de receber o retrofit conforme as exigências do

Living Building Challenge.

No caso do Living Building Challenge, a certificação ocorre após um período mínimo de 12 meses de uso do projeto. Durante esse tempo, os indicadores de desempenho são monitorados e verificados se de fato atendem aos critérios propostos.

4 ÁRVORE DE DECISÃO

No Brasil, obras em tecnologia convencional, podem ser iniciadas apenas com projeto básico, sem a necessidade de detalhamento executivo ou estudos preliminares aprofundados. Os custos médios das obras acabam ficando em torno de 47% acima do valor orçado. A confiabilidade no atendimento dos prazos e normas é de 72%.

Obras em novas tecnologias percorrem uma burocracia mais rigorosa da legislação. As justificativas obrigatoriamente devem englobar comparativos de ganhos em relação às tecnologias convencionais. Os processos de transposição tecnológica demandam projetos executivos com resultados de ensaios de desempenho certificados por institutos autorizados e reconhecidos. Esses critérios asseguram maior rigor dos projetistas no cumprimento e justificativas técnicas. O orçamento de inovações tecnológicas além de serem exaustivamente detalhados, apresentam elementos contábeis de maior precisão em

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relação ao de sistemas convencionais. Isso se dá pela redução de considerações empíricas nas estimativas de tempo e gastos.

Em duas avaliações de engenheiros de construção em novas tecnologias, o escopo do LBC no contexto do Largo das Letras foi avaliado tendo confiabilidade de 99% pelo primeiro e de 90% pelo outro especialista. A justificativa para esses valores foi assegurada pelo caráter de alta especialidade na execução e elevado nível de estudo e elaboração dos projetos para execução de tecnologias inovadoras na construção civil. Por exigência de inovação, os processos são menos artesanais. O monitoramento e os prazos estabelecidos, decorrentes do perfil de complexidade, prevêem cronogramas e orçamentos mais realísticos. Os valores das probabilidades condicionais associadas a cada ramo podem ser obtidos diretamente dos dados ou calculados a partir dos teoremas da teoria de probabilidade, conforme Zuffo (2007).

Como são avaliações de confiabilidade oriundas de especialistas baseados em suas experiência e conhecimentos técnicos de execução, o nível de conhecimento disponível para o tomador de decisão é de difícil discernimento. Por essa razão são atribuídas probabilidades iguais a ambas as opiniões dos consultores. Os custos adicionais em caso de não satisfatórios quanto a normas e prazos são estimados em 5% dos custos orçados em resultado ao elevado grau de monitoramento e expertise exigidos para tecnologias inovadoras. Por esse motivo, os custos C(A223) e C(A224) superam os custos

C(A213) e C(A214) em 5%, como ilustrado na Figura 1.

A Árvore de Decisão é iniciada por um nó retangular a partir do qual saem dois ramos referentes às alternativas A1 = Convencional e A2 = LBC. A cada uma dessas alternativas são associados estados de natureza ϴi. A soma das probabilidades em cada nó deve somar

1. O motivo é que os estados de natureza em cada nó são mutuamente excludentes e coletivamente exaustivos. Os estados de natureza ϴ3 e ϴ4 se referem a ter razão o

engenheiro 1 ou o engenheiro 2, para a Alternativa A2. De ambos os casos, A1 e A2, desprendem-se de seus ramos os estados Satisfatório ϴ1 e não-satisatório ϴ2.

Os custos associados a cada ramo terminal da árvore foram extraídos de anotações realizadas nas vistorias periciais executadas pela equipe de alunos do arquiteto e professor Fabio de Almeida, da UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba, em São José dos Campos. Esse levantamento gerou a planilha de preços apresentada na Tabela 3. Ao valor consolidado nesta tabela, foi acrescido o de R$250.000,00 como estimativa de gastos com as compras das divisórias internas para os espaços. Então, o custo da Alternativa A1 é R$1.445.733,06 + R$250.000,00 = R$1.695.733,06. Na Alternativa A2, a este valor foram somados os valores calculados para as implantações dos sistemas de tratamento de esgoto (ETE biológica), sistema de captação e tratamento de águas pluviais e sistema de energia solar:

i) Sistema de Energia Solar para previsão de 500 pessoas/dia; ii) Sistema de ETE biológica para previsão de 500 pessoas/dia; iii) Sistema de coleta e tratamento de águas pluviais.

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Totalizando R$230.000.00

Desse modo totalizando R$1.695.733,06 + R$230.000,00 = R$ 1.925.733,06

Sobre esse valor, em caso de não-satisfatório, os custos adicionais de 5% resultaram em custos de R$2.022.019,71.

Fig. 1 Árvore de Decisão para Retrofit LBC no Largo das Letras

5 RESULTADOS

A partir da análise dos resultados da Árvore de Decisão desenhada especificamente para este cenário de tomada de decisão, obtiveram-se os seguintes resultados para os custos esperados para as duas alternativas:

a) Para a Alternativa A1:

i) E[C(A1)] = R$1.918.891,00

b) A Alternativa A2 obteve os seguintes custos: i) E[C(A23)] = R$1.926.696,00 ii) E[C(A24)] = R$1.935.362,00 C(A11) = 1.695.733 C(A12) = 2.492.727 C(A213) = 1.925.733 C(A214) = 1.925.733 C(A223) = 2.022.019 C(A224) = 2.022.019 ϴ1 = Satisfatório ϴ2 = Não-Satisfatório ϴ1 = Satisfatório ϴ2 = Não-Satisfatório ϴ1 = Satisfatório ϴ2 = Não-Satisfatório A1, Convencional A2, LBC ϴ3 = Consultor 1 ϴ4 = Consultor 2 P(ϴ1,A1) = 0,72 P(ϴ1,A1) = 0,28 P(ϴ1/A23 = 0,99 P(ϴ2/A23) = 0,01 P(ϴ1,/A24) = 0,90 P(ϴ2,/A24 = 0,10 E[C(A1)] = 1.918.891 E[C(A2)] = 1.931.029 E[C(A23)] = 1.926.696 E[C(A24)] = 1.935.362 E[C(A2)] = R$1.931.029,00

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Esses valores representam os custos esperados, considerados os riscos de execuções não-satisfatórias. A comparação direta desses custos contendo o risco associado à conclusão não-satisfatória resulta em E[C(A1)] ≅ E[C(A2)].

6 COMENTÁRIOS E CONCLUSÕES

Aos custos da Alternativa A2 foram inseridos os custos de instalação da energia limpa e renovável, os custos de instalação da Estação biológica de Tratamento de Esgoto, reciclagem de água e as adequações impostas pelos 20 imperativos, ilustrados na Tabela 1. O resultado da utilização dessa ferramenta de auxílio à tomada de decisão indica que as Alternativas A1 e A2 estão em situação de equilíbrio de risco, já que os resultados apresentados para E[C(A1)] são aproximadamente iguais aos custos estimados de

E[C(A2)]. Não foram considerados nos cálculos da Alternativa 2 as economias esperadas

nas faturas mensais pela aplicação de conceitos de energia positiva, água positiva e esgoto positivo. Esses valores são percebidos após instalação. Por essa razão não foram contabilizamos na verificação de viabilidade. Desse modo, manteve-se o perfil mais conservador nos resultados e reduziu-se o risco de se majorar abstratamente as possíveis vantagens do LBC.

As tecnologias consideradas no projeto em relação a energia positiva, água positiva e esgoto positivo já estão consolidadas no mercado da construção civil. Desse modo, o nível de risco de seus desempenhos foram adotados baixos na avaliação dos custos em caso de não-satisfatórios. A relação custo de implantação versus probabilidade de êxito e fracasso resultaram em estimativa de custo competitiva para o retrofit do Largo das Letras. Embora os materiais e a gama de elementos de adaptativos aos 20 Imperativos do Living Building Challenge, a ferramenta de auxílio à tomada de decisão estruturou adequadamente o cenário dessa escolha.

Essa estrutura possibilitou análise decisória menos afeita a tendências políticas de ocasião e reduziu igualmente as chances de dominância decisória de grupos ou indivíduos hegemônicos. Uma das questões a serem expandidas é a possibilidade de benefícios de impostos municipais e estaduais. Selos de sustentabilidade como o sugerido pelo LBC devem auferir reduções de taxas de esgoto, Imposto Predial e Territorial Urbano a construções já existentes.

Em relação a projetos novos, além das vantagens avaliadas nesta Árvore de Decisão, sugere-se acrescentar descontos ou isenções de taxas de Alvará para construções que atendam satisfatoriamente indicadores desse padrão.

Sugere-se que, após o período de 12 meses de análise e verificação para obtenção do selo LBC, como forma de incentivo do poder público a diretrizes sustentáveis de projetos, taxas públicas obrigatórias possam ser ressarcidas os contribuintes que optem por retrofit com LBC. Legislações municipais e estaduais são outros pontos estratégicos aos quais a Árvore de Decisão pode colaborar para persuadir diretrizes que promovam concepções de projetos com impactos positivos às cidades e ao seu meio ambiente.

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Esse paradigma para retrofit e projetos de construção civil em geral estabelece novo modelo mental. Os conceitos atentos aos rastros de carbono, emissão de efluentes, coleta de água de chuva, consumo de energia limpa podem ser complementados também por outros como Passivhaus. Além de se gerar energias limpas, os projetos podem ser também concebidos para consumir o mínimo dessa energia. Para tanto, além de materiais que evitem as pontes térmicas por meio de isolamentos, aspectos arquitetônicos de volumes nos espaços, disposição de aberturas, fluxos das correntes de ar podem proporcionar maiores ganhos ao desempenho do LBC e que não foram nesta investigação considerados. Portanto, a utilização da Árvore de Decisão como Ferramenta de Auxílio à Tomada de Decisão em projetos de retrofit esclarece, estrutura e possibilita análises mais técnicas de vantagens e desvantagens. Influências de grupos hegemônicos com interesses particulares e políticos podem são minorados e a análise final pode apresentar argumentos mais consistentes e transparentes para a escolha por novos paradigmas tecnológicos sustentáveis, cujos prejulgamentos simplistas possam indicar erroneamente custos proibitivos.

7 REFERÊNCIAS

Ferreira, G. (2014) A política nacional de resíduos sólidos e desenvolvimento econômico sustentável, ARGUMENTUM, Revista de Direito, n. 15.

Living Building Challenge (2018) https://living-future.org/lbc/

Oran Barros, L. G. P. (2018) O Balanced Scorecard como Ferramenta de Gestão do Capital Intelectual, NEA.

Phillips, L. e Bana e Costa, C. A. (2007) Transparent Prioritisation, Budgeting and Resource Allocation with Multi-Criteria Decision Analysis and Decision Conferencing. Annals of Operational Research, 154, 51-68.

Zuffo, A. C. (2007) Curso de Ferramentas de Auxílio à Tomada de Decisão, FEC - UNICAMP.

Referências

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