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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS QUÍMICOS GERADOS EM LABORATÓRIOS DE ENSINO E PESQUISA: PROCEDIMENTOS GERAIS. Patricia Busko Di Vitta.

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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS QUÍMICOS GERADOS EM LABORATÓRIOS DE ENSINO E PESQUISA: PROCEDIMENTOS GERAIS

Patricia Busko Di Vitta

pabusko@iq.usp.br

Setor Técnico de Tratamento de Resíduos

Instituto de Química da Universidade de São Paulo

Resumo: Toda vez que uma substância química é utilizada numa atividade de ensino ou de pesquisa podem-se gerar resíduos perigosos, que devem ser manipulados de maneira adequada. Assim, os resíduos tem que ser segregados, acondicionados e rotulados para posteriormente serem armazenados, tratados ou dispostos. Cada uma destas etapas deve ser efetuada seguindo-se regras de segurança e legislação pertinente.

Palavras-chave: Resíduos químicos; Gerenciamento de resíduos.

1. Introdução:

O ensino e a pesquisa em diversas áreas muitas vezes fazem uso de substâncias perigosas em suas atividades experimentais. Para que tais atividades sejam efetuadas de modo seguro e sustentável, é necessário que se faça um planejamento completo de todo o experimento, o que inclui o gerenciamento dos resíduos gerados nele gerados. Em função disso, várias instituições vêm não só adotando Programas de Gerenciamento de Resíduos Químicos como também propondo formas de tratamentos de resíduos por elas gerados (Afonso, 2003; Bendassoli, 2003; Gerbase, 2006, Medina, 2010, Machado, 2008, De Conto, 2010, Figuerêdo, 2006, entre outros.).

2. Gerenciamento de Resíduos Químicos:

O gerenciamento de resíduos envolve uma série de etapas, que englobam: i) a realização de um inventário; ii) a proposição de medidas de minimização; iii) a segregação; iv) o acondicionamento; v) a rotulagem dos resíduos; vi) o tratamento; vii) o armazenamento; viii) o transporte e a ix) disposição final dos resíduos. Cada uma destas etapas deve estar registrada para que se possa comprovar que o descarte dos resíduos químicos gerados em uma atividade foi efetuado de maneira correta.

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O inventário de resíduos consiste na verificação dos tipos de resíduos e das quantidades em que os mesmos são gerados. Todas as etapas de todos os processos realizados dentro do laboratório devem ser consideradas, inclusive aqueles que ocorrem esporadicamente, como em limpezas esporádicas. O conhecimento dos reagentes existentes no laboratório é fundamental para a realização do inventário, já que estes serão as fontes dos resíduos. Além disso, a existência de reagentes sem uso, fora do prazo de validade ou ainda deteriorados ou sem identificação deve ser verificada, já que estes materiais deverão ser tratados ou dispostos, em função de suas características (Di Vitta et al, 2012).

2.2 A proposição de medidas de minimização:

Os dados do levantamento podem ser utilizados para a proposição de medidas de minimização. Entende-se por minimização de resíduos qualquer ação que reduza a quantidade ou a toxicidade de um resíduo antes de seu tratamento. A redução pode ser efetuada na fonte, quando um determinado resíduo deixa de ser gerado. A redução pode ainda ser atingida pelo reaproveitamento de um resíduo, seja via reciclagem ou reuso. Por exemplo, caso sejam encontrados reagentes vencidos ou reagentes comprados em excesso, deve-se propor a compra de menores quantidades do produto químico. Outro exemplo: alguns resíduos podem ser utilizados no tratamento de outros, como soluções aquosas ácidas ou básicas. Medidas de minimização também incluem a diminuição da escala de experimentos ou a substituição de processos ou de reagentes por outros que não façam uso ou não sejam perigosos.

2.3 A segregação de resíduos químicos:

A segregação de resíduos consiste na separação dos mesmos, de acordo com suas propriedades químicas, físicas e biológicas, com seu estado físico e seus tratamentos ou utilizações. A segregação deve ser sempre efetuada no momento e no local de sua geração (CETESB, 2004). Isso permitirá o reuso, a reciclagem ou ainda tratamentos mais seguros e baratos.

O primeiro critério a ser considerado na segregação de um resíduo leva em consideração a sua periculosidade. Assim, um resíduo perigoso deve ser separado de outro não perigoso. A norma brasileira NBR 10.004 (ABNT, 2004), que define um resíduo perigoso como sendo aquele que apresente características de toxicidade, inflamabilidade, corrosividade, patogenicidade ou reatividade, deve ser utilizada para fazer esta classificação. Além disso, deve-se ter em mente que um resíduo não pode ser descartado em rede de esgoto se ferir a legislação referente ao lançamento de efluentes líquidos em corpos d’água ou em rede de esgoto, como por exemplo, a resolução CONAMA 357 (CONAMA, 2005) ou a NBR 9800 (ABNT, 1987).

O segundo critério envolve o estado físico do resíduo. Assim, resíduos sólidos devem ser separados de resíduos líquidos.

A incompatibilidade química dos resíduos químicos também deve ser levada em consideração quando do seu descarte. Resíduos contendo substâncias incompatíveis devem ser segregados a fim de evitar a ocorrência de reações indesejadas e consequentes acidentes.

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Uma vez obedecidos estes três critérios, deve-se pensar no tratamento ou na aplicação do resíduo: Enquanto que resíduos que serão reaproveitados devem ser segregados, aqueles que tiverem o mesmo tratamento poderão ser reunidos.

2.4 O acondicionamento de resíduos químicos:

Os resíduos químicos segregados deverão ser acondicionados em recipientes fisicamente resistentes e quimicamente compatíveis com os resíduos. Estes recipientes deverão ser apropriadamente rotulados e tampados e deverão, ainda, ser armazenados sobre bandejas de contenção para prevenir possíveis acidentes.

2.5 A rotulagem de resíduos químicos:

Os recipientes utilizados para o acondicionamento de resíduos deverão ser rotulados com etiquetas confeccionadas em material resistente ao manuseio e armazenagem do resíduo. As informações que constarem da etiqueta devem ser de fácil visualização e compreensão. Assim, os rótulos devem conter a inscrição “RESÍDUO PERIGOSO” ou “RESÍDUO QUÍMICO”, o nome do resíduo químico, bem como sua composição qualitativa, além de frases e símbolos de risco, o nome do responsável pela geração do resíduo, o volume armazenado e a data de armazenamento (Di Vitta et al, 2012).

2.6 O tratamento de resíduos químicos:

Existem diversos tipos de tratamento que podem ser adotados para a que um resíduo deixe de ser perigoso ou ainda tenha sua periculosidade diminuída. Os tratamentos também permitem a reutilização de substâncias químicas. Alguns destes tratamentos podem ser realizados no próprio laboratório gerador ou ainda por um laboratório, instalação ou empresa especializada. Os tratamentos que podem ser realizados em um laboratório envolvem os seguintes processos (Di Vitta et al, 2012, Manahan, 2001, Alberguini, 2005, Afonso, 2003):

i) Neutralização: Usado em resíduos ácidos ou básicos, principalmente inorgânicos, como soluções de ácido clorídrico, sulfúrico, nítrico, ou de hidróxido de sódio, potássio, etc. ii) Redução: Usado no tratamento de resíduos oxidantes, como peróxidos e hipocloritos. iii) Oxidação: Usado no tratamento de resíduos redutores, como sulfitos e bissulfitos.

iv) Precipitação: Usado principalmente para a remoção de cátions e de ânions de soluções aquosas, como por exemplo, na remoção de mercúrio pela adição de sulfeto.

v) Destilação: Usada principalmente para a recuperação de solventes orgânicos, como acetona, etanol, hexanos, entre outros.

vi) Degradação química: Usado para destruir uma substância química. É o que ocorre, por exemplo, quando se faz reagir acetato de etila com hidróxido de sódio.

vii) Biodegradação: Processo que faz uso de agentes biológicos para a destruição de uma substância química.

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viii) Processos oxidativos avançados: Baseado na geração de radical hidroxila (OH.), oxida compostos orgânicos complexos a moléculas mais simples. Pode ser utilizado, por exemplo, para propiciar o reaproveitamento de sílica.

ix) Adsorção: Processo utilizado para reter íons, normalmente de metais pesados presentes em soluções aquosas. Pode ser efetuado pelo emprego de carvão ativo ou biomassa.

x) Troca iônica: Usado para a remoção de íons de soluções aquosas.

Outros tratamentos podem ser realizados fora de um laboratório, por empresas ou instalações especializadas. Entre eles encontramos (Giovannini, 2007):

i) Tratamentos térmicos, como a incineração ou o co-processamento: Utilizados para a decomposição de resíduos orgânicos sólidos e líquidos, que são transformados principalmente em CO2 e H2O em temperaturas superiores a 850ºC.

ii) Estabilização e solidificação: Processo apropriado para o tratamento de resíduos inorgânicos, que são encapsulados em polímeros impermeáveis ou ainda fixados em matrizes de cimento ou silicatos.

iii) Tratamento de efluentes: Utilizado para remover diversas substâncias de efluentes líquidos, é um tratamento feito em várias etapas, que podem incluir acerto de pH, precipitação, degradação, entre outros.

2.7 O armazenamento de resíduos químicos:

Quando os resíduos químicos não puderem ser tratados no laboratório de origem, devem ser armazenados temporariamente em abrigos, até que sejam retirados por uma empresa especializada, de modo que suas características e suas quantidades não se alterem. Este armazenamento não deve ser efetuado no laboratório, mas sim em local específico. Os recipientes devem estar fechados e apropriadamente rotulados. Devem ainda estar sobre coletores secundários, longe de fontes de luz, calor e de água, e separados por compatibilidade química. No local de armazenamento, deve-se manter absorvedor químico para estancar qualquer vazamento que possa vir a ocorrer. Além disso, recomenda-se que seja elaborada uma ficha de emergência sobre o resíduo (ABNT, 2011). É necessário ainda verificar o estado dos recipientes e de suas etiquetas periodicamente, bem como, para aqueles resíduos que possa sofrer decomposição com o tempo, como éteres e peróxidos, os prazos de estocagem (UNESP 2002). Por fim, é necessário acrescentar que abrigos de resíduos químicos só devem ser construídos e operados segundo critérios legais (CETESB, 2004).

2.8 A disposição final de resíduos químicos:

Quando não houver tratamento disponível para um resíduo químico, este deverá ser enviado para um aterro licenciado para o recebimento de resíduos perigosos, denominado Classe 1. Aterros Classe 1 obedecem a critérios técnicos de construção e operação e podem principalmente receber resíduos sólidos

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e semi-sólidos. Dos resíduos gerados usualmente em laboratórios de ensino e pesquisa que são normalmente enviados para aterros podem ser citados os resíduos sólidos de metais pesados.

2.9 O transporte de resíduos químicos:

Os resíduos químicos, quando não puderem ser tratados no laboratório ou na instituição geradora, deverão ser removidos do abrigo para uma unidade de tratamento ou de disposição final. Neste processo, é importante que sejam utilizadas técnicas que preservem uma vez mais as características e as quantidades do resíduo. Para garantir essa preservação, a legislação brasileira que trata do transporte de produtos perigosos (Resolução Nº 420 da ANTT, Agência Nacional de Transporte Terrestre) exige uma série de itens, como o uso de embalagens homologadas pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, Portaria 73/06), embalagens estas que são resistentes a choques e a operações carregamentos durante o transporte e o transbordo ou qualquer outra operação. Outro ponto importante diz respeito à confecção de rótulos e de fichas com dados de segurança de resíduos químicos, que devem ser confeccionados segundo a norma NBR 16725, da Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT).

2.10 Registros

O gerenciamento de resíduos químicos prevê, como última etapa, o registro de todas as atividades realizadas nas outras etapas dos gerenciamentos. Assim, todos os documentos gerados durante a geração, o armazenamento, os tratamento adotados, o transporte, etc. devem ser guardados para que se possa comprovar que os procedimentos realizados foram os exigidos por lei, que visam a preservação da saúde e do meio ambiente. Exemplos de documentos que devem ser guardados incluem as licenças ambientais de empresas contratadas e certificados de destruição de resíduos.

3. Referências

Afonso, J.C., et al. Gerenciamento de resíduos laboratoriais: Recuperação de elemento e preparo para descarte final. Química Nova. v.26, n.4, p.602-611, 2003.

Alberguini, L.B.A., et al. Tratamento de resíduos químicos- guia prático para a solução dos resíduos químicos. São Carlos: RiMa, 2005. p.17-19.

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10.004: Resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2004.

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9800: Critérios para lançamento de efluentes líquidos industriais no sistema coletor público de esgoto sanitário. Rio de Janeiro, 1987.

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 16.725: Resíduo químico — Informações sobre segurança, saúde e meio ambiente — Ficha com dados de segurança de resíduos químicos (FDSR) e rotulagem. Rio de Janeiro, 2011.

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Bendassoli, J.A., et al. Procedimentos para recuperação de Ag de resíduos líquidos e sólidos. Química Nova. v.26, n.4, p.578-581, 2003.

CETESB: Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. P4.262: Gerenciamento de resíduos químicos provenientes de estabelecimentos de serviços de saúde: procedimento, 2004.

CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução 357, 2005

De Conto, S. M. Gestão de resíduos em universidades. Caxias do Sul: EDUCS, 2010.

Figuerêdo, D. V. Manual para Gestão de Resíduos Químicos Perigosos de Instituições de Ensino e Pesquisa, Belo Horizonte: Conselho Regional de Química de Minas Gerais 2006.

Di Vitta, P.B., et al. Manuseio de produtos químicos e descarte de seus resíduos. In: HIRATA, M.H., HIRATA, R.D.C., FILHO, J.M., (Ed(s)). Manual de Biossegurança. Barueri: Manole, 2012. p.67-106.

Gerbase, A.E., et al. Gerenciamento de resíduos da disciplina de Química Inorgânica II do curso de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Química Nova. vol.29, n.2, p.397-403, 2006.

Giovaninni, J.G., et al. Avaliação das técnicas de precipitação química e encapsulamento no tratamento e destinação conjunta de resíduos líquidos contendo cromo e vidrarias de laboratório. Rev. bras. de Ciências Ambientais. n.8, p.10-15, 2007.

Imbroisi, D. et al. Quím. Nova v.29, n..2, p.404-409, 2006.

Machado, P.F.L., et al. Resíduos e Rejeitos de Aulas Experimentais: O que fazer?. Química Nova. n.29, 2008.

Manahan, S.E. Fundamentals of Environmental Chemistry. 2. ed. Boca Raton: CRC Press LLC, 2001.

MedinaA, A.F., et al. Gerenciamento de resíduos de aulas práticas de Química. Engenharia Ambiental. Espírito Santo do Pinhal, v.7, n.3, p.12-20, 2010.

UNESP, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Gerenciamento de resíduos químicos – Normas Gerais, revisão 2002: http://www.iq.unesp.br/Home/normas-residuos.pdf, acessado em 27/07/2012.

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