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Aula 00 Contabilidade Nacional. Macroeconomia para Anpec Prof. NATÁLIA FRANÇA. 1 de Prof. Natália França Aula 00

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Aula 00 – Contabilidade

Nacional

Macroeconomia para Anpec

Prof. NATÁLIA FRANÇA

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Sumário

APRESENTAÇÃO ... 3

COMO ESTE CURSO ESTÁ ORGANIZADO ... 4

CONTABILIDADE NACIONAL ... 6

AGREGADOS MACROECONÔMICOS ... 6

Fluxo Circular da Renda ... 7

Produto Interno Bruto (PIB) ... 8

Ótica do Produto ... 9

Ótica da Renda ... 10

Ótica da Despesa ... 10

Absorção Interna ... 11

Algumas identidades contábeis ... 11

Produto Bruto e Produto Líquido ... 14

Produto a Preços de Mercado e Produto a Custo de Fatores ... 15

Produto Interno Bruto (PIB) e Produto Nacional Bruto (PNB) ... 15

Renda Interna e Renda Nacional ... 16

Renda Pessoal (RP) e Renda Pessoal Disponível (RPD) ... 17

PIB Nominal e PIB Real ... 17

Deflator Implícito do PIB ... 18

MATRIZ INSUMO-PRODUTO ... 21

CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS ... 21

BALANÇO DE PAGAMENTOS ... 23

Estrutura do Balanço de Pagamentos (BPM6 e BPM5) ... 24

Posição Internacional de Investimentos (PII) ... 37

Mensuração da Variação de Reservas ... 39

QUESTÕES COMENTADAS PELO PROFESSOR ... 42

LISTA DE QUESTÕES... 101

GABARITO ... 117

RESUMO DIRECIONADO ... 118

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Apresentação

Olá! Tudo joia? Meu nome é Natália França e é excelente ter você por aqui! A preparação para o exame da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (Anpec) requer esforço e dedicação, e irei te ajudar nessa caminhada. Antes, vou falar um pouco sobre mim.

Formei-me com excelência em Economia pelo Ibmec Minas em 2011. No final daquele ano, fiz a prova da Anpec e ingressei no mestrado do programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará (CAEN/UFC) em 2012. Finalizei o doutorado em 2019 no CAEN/UFC, tendo um período na Rice University no Texas.

Concomitante a minha carreira acadêmica, ingressei no mundo dos concursos públicos. Fui aprovada para o cargo de Analista Administrativo (Economia) na Ebserh em 2018 e para o cargo de Auditor de Controle Interno na Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado do Ceará (CGE/CE) em 2019. Atualmente estou como professora substituta no Departamento de Economia Aplicada na UFC.

Não existe fórmula mágica para aprovação em concursos e provas. Temos que ter foco, disciplina, persistência, além de fazer revisões e resolver muitas questões! Nesse sentido, materiais de qualidade são essenciais para potencializar nossos resultados positivos. E aqui está a chave para o seu sucesso, pode contar comigo!

Nesse curso de MACROECONOMIA que estamos iniciando agora, você verá, ao longo de vários materiais escritos (PDFs), teoria combinada com a resolução de várias questões de provas passadas da Anpec. Minha meta é lhe fornecer um material objetivo, focado e de alta qualidade, de forma a lhe auxiliar na sua conquista em ingressar na Pós-Graduação em Economia.

Ah.... Acompanhe minhas redes sociais para ficar por dentro do meu trabalho e conferir dicas de estudo:

https://www.youtube.com/channel/UCRVwQ5xxU-LmFGFbqREbMiA

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Como este curso está organizado

Para cobrir os pontos em Macroeconomia cobrados no edital da Anpec, o nosso curso está organizado da seguinte forma:

Aula Data Conteúdo do edital

00 23/12/2020

Os conceitos de renda e produto. Produto e renda das empresas e das famílias. Gastos e receitas do governo. Balanço de pagamentos (sexta

edição do Manual do Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário Internacional - BPM6): a conta de transações correntes, a conta capital, a

conta financeira, o conceito de déficit e superávit. Contas Nacionais do Brasil. Conceito de deflator implícito da renda. Tabela de relações

insumo-produto.

01 15/02/2021

Economia Monetária - Funções da moeda. Criação e distribuição de moeda pelos bancos comerciais. Controle dos meios de pagamentos: taxa de redesconto, reservas obrigatórias, gerências da dívida pública. Procura da

moeda: motivos determinantes da retenção de ativos líquidos. Papel do Banco Central. Equivalência Ricardiana. Dinâmica da Dívida e sua Relação

com o Superávit Primário. Conceitos alternativos de déficit público.

02 25/02/2021

Modelo IS x LM x BP - Equilíbrio no mercado de bens. Equilíbrio no mercado Monetário. Análise IS x LM. Impactos de Políticas fiscal e Monetária.

Modelo Mundell-Fleming. Regimes Cambiais.

03 07/03/2021

Oferta e Demanda agregadas e Curva de Phillips - Modelo AS x AD (curto e longo prazo). Curva de Phillips: Expectativas Adaptativas e Racionais;

Rigidez de Preços e Salários; Teoria dos Ciclos Reais e Modelos Novos Keynesianos. Equação de Fisher.

04 17/03/2021

Crescimento - Modelo de Solow. Crescimento endógeno. Decomposição (contabilidade) do crescimento. Instituições e crescimento. Capital

Humano.

04 27/03/2021 Economia Aberta - Noção de taxa de câmbio real e nominal. Equação de Paridade de juros e de preços.

06 06/04/2021 Investimento e Consumo - Q de Tobin. Teoria da Renda Permanente. Ciclo de Vida. Restrição de Crédito. Papel das expectativas.

O tópico referente a números índices será abordado na disciplina de Microeconomia (aula 01). Vale destacar que esse tema também é cobrado na prova de Estatística.

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Nessa primeira aula, vamos ver os seguintes assuntos:

Os conceitos de renda e produto. Produto e renda das empresas e das famílias. Gastos e receitas do governo. Balanço de pagamentos (sexta edição do Manual do Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário Internacional - BPM6): a conta de transações correntes, a conta capital, a conta financeira, o conceito de déficit e superávit. Contas Nacionais do Brasil. Conceito de deflator implícito da renda. Tabela de relações insumo-produto.

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Contabilidade Nacional

A Macroeconomia se encarrega do estudo sobre o comportamento dos grandes agregados econômicos como produto, renda, preços, emprego e desemprego, estoque de moeda, taxa de juros, taxa de câmbio, entre outros. Nesse sentido, iremos começar nosso curso pela Contabilidade Nacional e o Balanço de Pagamentos, assuntos incluídos no primeiro ponto abordado pela prova da Anpec.

A Contabilidade Nacional, também denominada Contabilidade Social, “tem como objetivo mensurar a totalidade das transações econômicas do país” (LOPES & VASCONCELLOS, 2008). Esse ramo da Macroeconomia se desenvolveu, principalmente, depois da publicação, em 1936, da obra de John Maynard Keynes, a Teoria geral do emprego do juro e da moeda. Estudaremos a teoria keynesiana com detalhes em aula posterior, está bom?!

Importante você saber que os agregados macroeconômicos, conforme veremos na nossa aula de hoje, são contabilizados por meio do Sistemas de Contas Nacionais e do Balanço de Pagamentos. Conforme Feijó et al (2017), 0 “Sistema de Contas Nacionais se desenvolveu a partir do reconhecimento pelos países da necessidade de produção sistemática e comparável, no tempo e no espaço, de estatísticas econômicas para orientar a tomada de decisões, tanto na esfera pública como na privada”. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o órgão responsável pelas contas nacionais.

Ainda no âmbito da Contabilidade Social, temos a Matriz de Insumo-Produto, também conhecida como Matriz de Relações Intersetoriais ou Matriz de Leontief, que mostra “uma visão detalhada da estrutura produtiva brasileira e [permite] avaliar o grau de interligação setorial da economia e também os impactos de variações na demanda final dos produtos, mediante a identificação dos diversos fluxos de produção de bens e serviços”1.

Esse é um tema importante para a nossa preparação. Então, mãos à obra né!

Agregados Macroeconômicos

Ao longo da aula de hoje, veremos diversos agregados macroeconômicos, tais como: 1) Produto 2) Renda 3) Despesa 4) Consumo 5) Poupança 6) Investimento 1 https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/contas-nacionais/9085-matriz-de-insumo-produto.html?=&t=o-que-e. Acesso em 13 de dezembro de 2020.

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7) Absorção

Mas antes de começar nosso estudo sobre a definição desses diferentes agregados macroeconômicos, iremos estudar um pouco sobre o fluxo circular da renda, que é um diagrama bastante útil para visualizarmos a identidade contábil básica (já vou adiantando que essa identidade retrata a igualdade entre produto, renda e despesa).

Fluxo Circular da Renda

O fluxo circular da renda, em sua versão simplificada, considera as transações entre apenas dois setores na economia: as famílias e as empresas. As famílias compram bens e serviços finais para consumo, que são produzidos e vendidos pelas empresas. Como forma de pagamento, as famílias oferecem renda monetária, que elas obtêm ao fornecer os meios de produção para as empresas (as famílias são as detentoras dos fatores de produção). Na figura a seguir, as setas em cor laranja representam os fluxos reais, que medem quantidades, e as setas em preto indicam os fluxos monetários, que mensuram valores. Veremos a seguir que há uma equivalência entre os fluxos reais e monetários, refletindo-se na identidade contábil básica.

Analisando a economia de um modo agregado, em termos ex-post, a produção total da firma se converte em remuneração dos fatores de produção, de forma que temos a igualdade entre produto e renda. Ademais, a produção também equivale a despesa das famílias, que mostra as possíveis destinações da produção (estamos considerando o caso mais simples de todos: economia fechada e sem governo). Portanto, verificamos a igualdade entre produto e despesa.

Fluxo Circular da Renda

Fonte: Adaptado de Lopes e Vasconcellos (2008) e Feijó et al (2017).

À medida em que mais setores são inseridos na economia, o fluxo circular da renda vai se tornando mais rebuscado, com várias inter-relações entre os agentes econômicos.

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Então, vamos começar nosso estudo dos agregados macroeconômicos? O primeiro que veremos é o Produto Interno Bruto, um dos principais agregados macroeconômicos de uma economia.

Produto Interno Bruto (PIB)

O Produto Interno Bruto (PIB) “de um país ou região representa a produção de todas as unidades produtoras da economia (empresas públicas e privadas produtoras de bens e prestadoras de serviços, trabalhadores autônomos, governo etc.) num dado período (ano ou trimestre, em geral) a preços de mercado” (FEIJÓ et al, 2017).

Importante você saber que o PIB é mensurado a preços de mercado (preços finais praticados no mercado de bens e serviços). Isso ocorre em virtude da inviabilidade de se agregar quantidades de uma infinidade de bens e serviços. Os demais agregados macroeconômicos que veremos hoje também são expressos em valores monetários.

De um modo geral, o cálculo do PIB engloba transações de compra e venda (de bens e serviços). No entanto, em alguns casos, ou essas transações não ocorrem, ou são de difícil mensuração. Assim, algumas considerações acerca do cálculo do PIB devem ser feitas:

1) o PIB mede o valor de bens e serviços finais produzidos em uma economia em determinado período do tempo. Dessa forma, um bem produzido no período t, mas vendido no período t + 1, entra no PIB do período t (período em que foi produzido), não tendo efeito algum no PIB em t + 1.

2) serviços providos pelo poder público não envolvem transações de compra e venda e são considerados no cálculo do PIB com base em seu custo.

3) se uma pessoa faz uso de um imóvel alugado, há uma transação: o indivíduo usufrui dos serviços habitacionais e paga uma remuneração ao proprietário do imóvel por isso. No entanto, no caso de uma pessoa usufruindo de um imóvel próprio, não há a transação, mas o serviço habitacional ainda existe. Nesse caso, é calculado um aluguel implícito, ou seja, qual seria o aluguel do imóvel (com base em outros similares) e esse valor é imputado no cálculo do PIB. Então, o valor de um imóvel alugado entra, sim, no PIB.

4) se alguém aluga um carro, existe uma transação envolvendo um serviço, que entra no PIB. No entanto, se a pessoa compra o carro, embora o serviço continue existindo, ele deixa de ser contabilizado no cálculo do PIB. Isso também vale para outros bens duráveis (veículos, eletrodomésticos, etc.). Da mesma forma, uma refeição num restaurante é contabilizada no PIB, mas se a comida é feita em casa não entra no PIB (embora o serviço de fazer o alimento continue a existir).

5) atividades informais e ilegais também ficam de fora do cálculo do PIB.

O Produto Interno Bruto reflete o desempenho econômico e, em certa medida, o bem-estar em determinada sociedade. Outra medida utilizada nesse sentido, é o PIB per capita, que corresponde ao PIB do período dividido pela população residente no mesmo período. Vale destacar que o PIB e o PIB per capita têm certas limitações em mensurar o bem-estar de uma população: existem transações que não são contabilizadas no cálculo, como lazer; a desigualdade na distribuição de renda não é refletida; etc.

Por fim, a partir do fluxo circular da renda, é possível definir três óticas de mensuração do produto: ótica do produto, ótica da renda e ótica da despesa. Veremos cada uma delas a seguir.

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Ótica do Produto

Segundo a ótica do produto, o PIB a preços de mercado, 𝑃𝐼𝐵 ou 𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚, equivale à soma de todos os

bens e serviços finais produzidos na economia durante determinado período de tempo (produto agregado). Importante destacar que são considerados apenas bens e serviços finais para evitar a dupla contagem dos bens intermediários (insumos).

Um bem ou serviço ser considerado final ou não, relaciona-se ao fato de ele ter sido ou não utilizado na produção de outro bem. Dessa forma, a farinha de trigo que nós compramos no supermercado é um bem final; ao passo que a farinha utilizada na produção do pão comercializado pelas padarias é um bem intermediário.

Um detalhe em relação à notação, quando se escreve apenas PIB estamos nos referindo ao PIB a preços de mercado (mais adiante veremos a definição de PIB a custo de fatores). Algebricamente:

𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜 𝐴𝑔𝑟𝑒𝑔𝑎𝑑𝑜 = 𝑃𝐼𝐵 = 𝑠𝑜𝑚𝑎 𝑑𝑜 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠 𝑜𝑠 𝑏𝑒𝑛𝑠 𝑒 𝑠𝑒𝑟𝑣𝑖ç𝑜𝑠 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑖𝑠 Supondo que existem n bens e serviços finais na economia, temos:

𝑃𝐼𝐵𝑡 = ∑ 𝑃𝑡𝑖𝑄𝑡𝑖 𝑛

𝑖=1

Em que 𝑃𝑡𝑖 é o preço médio do bem/serviço final i no período t; 𝑄𝑡𝑖 é a quantidade do bem/serviço final i no período t; 𝑃𝑡𝑖𝑄𝑡𝑖 é o valor da produção no setor do bem/serviço i em t.

Vejamos, por meio de um exemplo extraído de Lopes e Vasconcellos (2008), uma outra forma de medir o PIB pela ótica do produto. Suponha que a cadeia produtiva do pão (bem final) seja composta apenas pelos produtos trigo, farinha e pão. O trigo é insumo na produção de farinha, que é insumo na produção de pão. A segunda coluna da tabela apresenta o valor bruto da produção de cada bem, totalizando 45 unidades monetárias (o valor bruto da produção – VBP – da economia ou do setor é o total do valor bruto da produção de todas as unidades produtivas).

No entanto, você deve perceber que o valor do trigo e da farinha foram contabilizados duas vezes (pois são insumos no processo produtivo), de modo que o PIB não seja igual ao valor bruto da produção, $ 45. Temos, portanto, de descontar o valor dos bens e serviços intermediários, de modo que a rubrica que realmente nos interessa é o valor que cada empresa adiciona no seu processo produtivo. O valor adicionado, também denominado valor agregado, em cada etapa corresponde à diferença entre o valor bruto da produção e o gasto com insumos adquiridos de outras empresas.

Produto Valor da Produção Valor dos Insumos Valor Adicionado

Trigo 10 0 10

Farinha 15 10 5

Pão 20 15 5

Total 45 25 20

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Podemos dizer, então, que o PIB a preços de mercado é dado pela soma dos valores adicionados de todas as unidades produtoras da economia. Algebricamente:

𝑃𝐼𝐵 = 𝑠𝑜𝑚𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑎𝑑𝑖𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑑𝑜𝑠 = 𝑉𝐵𝑃 − 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑚𝑒𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

Quando consideramos a presença do governo na economia, cabe uma consideração sobre o valor bruto da produção: ela corresponde ao valor do que foi produzido mais os impostos sobre o produto:

𝑉𝐵𝑃 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 + 𝐼𝑚𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑠𝑜𝑏𝑟𝑒 𝑜 𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜

Ótica da Renda

De acordo com a ótica da renda, a Renda Agregada representa a remuneração de todos os fatores de produção de determinada economia:

𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎 𝐴𝑔𝑟𝑒𝑔𝑎𝑑𝑎 = 𝑠𝑜𝑚𝑎 𝑑𝑎 𝑟𝑒𝑚𝑢𝑛𝑒𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠 𝑜𝑠 𝑓𝑎𝑡𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 A Renda Interna Bruta a preços de mercado, 𝑹𝑰𝑩, é expressa por:

𝑅𝐼𝐵 = 𝑠𝑎𝑙á𝑟𝑖𝑜𝑠 + 𝑗𝑢𝑟𝑜𝑠 + 𝑎𝑙𝑢𝑔𝑢é𝑖𝑠 + 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜𝑠 + 𝑖𝑚𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑑𝑖𝑟𝑒𝑡𝑜𝑠 + 𝑑𝑒𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑎çã𝑜 − 𝑠𝑢𝑏𝑠í𝑑𝑖𝑜𝑠 Em que os salários são a remuneração do trabalho, juros são a remuneração do capital monetário, aluguéis são a remuneração do capital físico e os lucros são a remuneração do empresário. Veremos mais adiante que se somam os impostos indiretos e subtraem-se os subsídios para chegarmos ao conceito da renda a preços de mercado. E a depreciação é adicionada para migrarmos do conceito de renda líquida para o de renda bruta.

A soma de juros, lucros e aluguéis é conhecida como Excedente Operacional Bruto (EOB): 𝐸𝑂𝐵 = 𝑗𝑢𝑟𝑜𝑠 + 𝑎𝑙𝑢𝑔𝑢é𝑖𝑠 + 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜𝑠

Lembra que vimos, no fluxo circular da renda, que o fluxo de produção se converte em um fluxo de renda (na forma de pagamento pelos fatores de produção)? Isso representa a equivalência entre produto e renda agregados, de modo que a ótica da renda seja uma maneira de mensurar o valor adicionado na economia:

𝑃𝐼𝐵 = 𝑅𝐼𝐵

Ótica da Despesa

A Despesa Agregada (DA), também denominada Despesa Interna Bruta a preços de mercado, 𝑫𝑰𝑩, indica a soma dos gastos com as possíveis destinações do produto. Veremos mais adiante algumas identidades básicas acerca dessas destinações em três situações possíveis: (1) economia fechada e sem governo; (2) economia fechada e com governo; e (3) economia aberta e com governo.

Já adianto que em uma economia aberta e com governo: 𝐷𝐼𝐵 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 + (𝑋 − 𝑀)

Em que C representa os gastos com consumo; I, investimento agregado; G, gastos do governo; X, exportação de bens e serviços; e M, importação de bens e serviços.

Nós também vimos no fluxo circular da renda que toda a produção tem uma destinação específica, indicando a igualdade entre produto e despesa. Nesse sentido, pela ótica da despesa:

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Absorção Interna

A absorção interna se refere ao valor da produção de bens e serviços que a sociedade absorve internamente. Em uma economia com a presença do governo, a absorção interna (𝐴) corresponde à soma do consumo mais investimento mais gastos do governo:

𝐴 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺

Em uma economia fechada (que não mantém relações com o resto do mundo), a absorção coincide com o produto (𝑌).

𝑌 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 → 𝑌 = 𝐴

Já em uma economia aberta, esses dois agregados podem ser diferentes, a depender do saldo externo (exportações de bens e serviços não fatores menos as importações). Pela ótica da despesa, o produto corresponde à absorção interna mais o saldo das exportações sobre importações de bens e serviços não fatores:

𝑌 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 + (𝑋 − 𝑀) → 𝑌 = 𝐴 + (𝑋 − 𝑀) Conforme destacado por Simonsen e Cysne (2009):

“Se a economia exporta mais bens ou serviços do que importa, parte da produção total não é absorvida pelo país, mas pelo exterior, ou seja, o produto é superior à absorção, e vice-versa. O excesso (positivo ou negativo) do produto sobre a absorção coincide com o saldo das exportações sobre as importações de bens e serviços”. (SIMONSEN & CYSNE, 2009)

Algumas identidades contábeis

Nesse tópico veremos algumas identidades contábeis importantes. Um detalhe interessante, o termo identidade contábil é empregado, pois não se trata de uma relação de causalidade.

Identidade Contábil Básica

Por meio das três óticas de mensuração do produto, chegamos a um resultado extremamente importante, a identidade contábil básica, que retrata a igualdade entre produto, renda e despesa:

𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜 ≡ 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎 ≡ 𝐷𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎

Para que a identidade contábil básica seja válida, todos os valores devem ser medidos aos mesmos preços (veremos mais adiante que podemos avaliar os agregados macroeconômicos a preços de mercado ou a custos de fatores). Em termos dos agregados macroeconômicos vistos até agora:

𝑃𝐼𝐵 = 𝑅𝐼𝐵 = 𝐷𝐼𝐵

Caso de uma Economia Fechada e sem Governo

No caso de uma economia fechada (sem relação com o resto do mundo) e sem governo, sob a ótica da despesa, as possíveis destinações do produto são os gastos com consumo das famílias (𝐶) e investimentos agregados das empresas (𝐼). Assim, podemos escrever a despesa agregada (DA) como:

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Os investimentos são gastos realizados com o intuito de aumentar a capacidade produtiva, e são compostos pela formação bruta de capital fixo (compra de máquinas, equipamentos, edifícios, etc.), FBKF, e pela acumulação de estoques (são considerados os estoques de bens finais e de bens intermediários).

𝐼 = 𝐹𝐵𝐾𝐹 + Δ𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠

Embora normalmente os investimentos do governo sejam considerados dentro do agregado G (veremos mais adiante sua definição), em alguns momentos pode ser que o investimento agregado seja desmembrado entre investimento privado (𝐼𝑃) e investimento do governo (𝐼𝐺𝑜𝑣):

𝐼 = 𝐼𝑃+ 𝐼𝐺𝑜𝑣

Suponha, agora, que as famílias (mais genericamente, o setor privado) não consomem toda a sua renda. Essa parcela da renda agregada que não é consumida é denominada Poupança Agregada do setor privado (𝑺 ou 𝑺𝑷, quando for o caso). Algebricamente, denotando a renda agregada por Y, temos:

𝑆 = 𝑌 − 𝐶 → 𝑌 = 𝐶 + 𝑆 Essa relação acima indica as destinações da renda.

Fazendo uso da identidade contábil básica, que postula a igualdade entre produto, renda e despesa: 𝑌 = 𝐷𝐴 → 𝐶 + 𝑆 = 𝐶 + 𝐼

Então:

𝑆 = 𝐼

Chegamos a mais uma identidade contábil, que indica a igualdade entre poupança e investimento.

Caso de uma Economia Fechada e com Governo

Vamos, agora, inserir o governo nessa economia, sendo que por governo entende-se apenas as funções típicas de Estado (administração direta, legislativo, executivo, etc.), que dependem de dotação orçamentária. As empresas estatais são consideradas juntamente com as empresas privadas.

A inclusão desse agente econômico cria um novo destino para a renda das famílias, o pagamento de impostos, T:

𝑌 = 𝐶 + 𝑆 + 𝑇

No caso de uma economia fechada e com governo, a poupança privada é dada pela renda excedente após as famílias terem realizado seus gastos de consumo e pago os impostos:

𝑆 = 𝑌 − 𝐶 − 𝑇

Pelo lado da despesa, temos também uma nova destinação para o produto, os gastos do governo com aquisição de bens e serviços, denotado por G (normalmente o componente de gastos do governo inclui seus investimentos). Assim, a Despesa Agregada pode ser escrita como:

𝐷𝐴 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺

Em uma economia com governo, o consumo total é dado pela soma entre o consumo privado e o consumo do governo:

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Da identidade contábil básica, já sabemos que renda se iguala a despesa:

𝑌 = 𝐷𝐴 → 𝐶 + 𝑆 + 𝑇 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 → 𝑆 + 𝑇 = 𝐼 + 𝐺 → 𝑆 − 𝐼 = 𝐺 − 𝑇

Temos que se o governo apresenta um déficit público, ou seja, gasta mais do que arrecada (𝐺 > 𝑇), é preciso que haja um excesso de poupança no setor privado (𝑆 > 𝐼) para financiar o governo.

Vejamos como é definida a poupança do governo (𝑆𝐺𝑜𝑣), lembrando que poupança se refere a uma parte da renda que não é consumida. A renda líquida do governo (RLG) é dada pela diferença entre o que ele arrecada com impostos diretos e indiretos e outras receitas líquidas (T) menos o que é gasto com subsídios e transferências governamentais (Tr):

𝑅𝐿𝐺 = 𝑇 − 𝑇𝑟 = 𝐼𝑚𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 𝐷𝑖𝑟𝑒𝑡𝑜𝑠 + 𝐼𝑚𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 𝐼𝑛𝑑𝑖𝑟𝑒𝑡𝑜𝑠 − 𝑆𝑢𝑏𝑠í𝑑𝑖𝑜𝑠 − 𝑇𝑟𝑎𝑛𝑠𝑓𝑒𝑟ê𝑛𝑐𝑖𝑎𝑠 + 𝑂𝑢𝑡𝑟𝑎𝑠 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎𝑠 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑑𝑜 𝐺𝑜𝑣𝑒𝑟𝑛𝑜

Dessa forma, a poupança do governo corresponde à diferença entre sua receita líquida e seus gastos correntes:

𝑆𝐺𝑜𝑣 = 𝑅𝐿𝐺 − 𝐺

E o déficit público (situação em que o governo gasta mais do que arrecada) é o negativo da poupança do governo (em aula posterior veremos outros conceitos de déficit do governo):

𝐷é𝑓𝑖𝑐𝑖𝑡 𝑃ú𝑏𝑙𝑖𝑐𝑜 = −𝑆𝐺𝑜𝑣

Em uma economia fechada e com governo, a poupança agregada é dada pela soma das poupanças privada (𝑆𝑃) e do governo (𝑆𝐺𝑜𝑣).

A identidade entre poupança e investimento no caso de uma economia fechada e com governo é escrita como: 𝑆𝑃+ 𝑆𝐺𝑜𝑣= 𝐼

Caso de uma Economia Aberta e com Governo

Uma economia aberta realiza transações com agentes econômicos do resto do mundo. Tais transações podem envolver bens e serviços (esses serviços também podem ser denominados serviços não fatores), bem como fatores de produção (serviços fatores ). As exportações de bens e serviços, denotadas por X, são uma parte da produção interna vendida para o resto do mundo (ou seja, são um elemento da demanda pela produção interna). Já as importações de bens e serviços, representada por M, são compras da produção de outros países feitas pelos residentes.

Com a introdução do setor externo, a oferta agregada global passa a ser composta pela produção interna (Y) e pelas importações (M). E a demanda/despesa agregada global inclui uma nova destinação, as exportações (X). Igualando oferta agregada global a demanda agregada global, temos:

𝑌 + 𝑀 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 + 𝑋

A demanda agregada interna, também denominada Despesa Interna Bruta a preços de mercado (𝐷𝐼𝐵), deve excluir as importações, sendo expressa por (𝐶 + 𝐼 + 𝐺 + 𝑋 − 𝑀). A igualdade entre oferta agregada interna e demanda agregada interna é:

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O termo (𝑋 − 𝑀) é denominado gastos líquidos do setor externo ou transferência líquida de recursos ao exterior (TLRE). Conforme veremos na parte da aula sobre Balanço de Pagamentos, a transferência líquida de recursos ao exterior inclui as balanças comercial (bens) e de serviços (serviços não fatores).

Continuamos tendo consumo, poupança e pagamento de impostos como destinações da renda: 𝑌 = 𝐶 + 𝑆 + 𝑇

E conforme vimos nesse tópico, sob a ótica da despesa, temos as seguintes destinações para o produto: 𝑌 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 + (𝑋 − 𝑀)

Da igualdade entre renda e despesa, temos:

𝐶 + 𝑆 + 𝑇 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 + (𝑋 − 𝑀) → (𝑋 − 𝑀) = (𝑇 − 𝐺) + (𝑆 − 𝐼)

A identidade acima mostra que se houver um superávit das exportações (𝑋 > 𝑀), deve haver um superávit do governo (𝑇 > 𝐺), do setor privado (𝑆 > 𝐼) ou de ambos. Já se houver um déficit das exportações (𝑋 < 𝑀), teremos um excesso dos gastos internos (𝐼 + 𝐺) em relação aos meios de financiamento (𝑆 + 𝑇). E, como podemos ver em Lopes e Vasconcellos (2008), “este excesso de gastos internos só pode efetivamente se materializar caso haja o ingresso líquido de produtos estrangeiros (𝑀 > 𝑋)”.

Vale adiantar que a poupança externa (𝑆𝐸𝑥𝑡) equivale ao déficit do Balanço de Pagamentos em transações correntes (TC):

𝑆𝐸𝑥𝑡= −𝑇𝐶

Em uma economia aberta e com governo, a poupança agregada é dada pela soma das poupanças privada (𝑆𝑃), do governo (𝑆𝐺𝑜𝑣) e externa (𝑆𝐸𝑥𝑡).

Assim, a igualdade entre poupança e investimento é dada por:

𝑆𝑃+ 𝑆𝐺𝑜𝑣+ 𝑆𝐸𝑥𝑡 = 𝐼

Se denominarmos a soma das poupança privada e do governo por poupança interna (𝑆𝐷𝑜𝑚), temos: 𝑆𝐷𝑜𝑚+ 𝑆𝐸𝑥𝑡= 𝐼

Produto Bruto e Produto Líquido

Os bens de capital se desgastam ao longo do tempo como consequência natural de um fenômeno denominado depreciação. Dessa forma, nem todos os gastos com investimento contribuem para a ampliação do estoque de capital (parte desses gastos são realizados para repor o capital depreciado). Nesse sentido, podemos falar do investimento bruto (𝐼𝐵) e do investimento líquido (𝐼𝐿), cuja relação é dada por:

𝐼𝐿 = 𝐼𝐵 − 𝐷𝑒𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑎çã𝑜

Diante dessa distinção entre investimento bruto e líquido, podemos falar em Produto Interno Líquido (𝑃𝐼𝐿), que corresponde ao Produto Interno Bruto descontado da depreciação:

𝑃𝐼𝐿 = 𝑃𝐼𝐵 − 𝐷𝑒𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑎çã𝑜

Em geral, quando questões de prova falam apenas em investimento e produto, estão se referindo aos conceitos brutos.

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Produto a Preços de Mercado e Produto a Custo de Fatores

A presença do governo na economia permite que falemos em produto a preços de mercado e produto a custos de fatores. Ao considerarmos os preços vigentes no mercado de bens e serviços, estamos mensurando o produto a preços de mercado. Porém, o governo pode adotar algumas políticas que alteram o preço dos produtos, fazendo com que a receita de vendas não seja igual à remuneração dos fatores de produção.

Impostos Diretos, Impostos Indiretos e Subsídios

1) Impostos diretos – incidem diretamente sobre a renda (remuneração) decorrente da propriedade de alguns fatores de produção. Exemplos: Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU).

2) Impostos indiretos – incidem sobre o produto e não sobre a renda. Dessa forma, esses impostos reduzem indiretamente a renda das pessoas. Exemplo: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Serviços (ISS), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

3) Subsídios – o governo concede dinheiro para alguma atividade, algum produto, etc., na intenção de fornecer estímulos. Podem ser considerados impostos negativos.

Os impostos indiretos, ao incidir sobre a produção, elevam o preço dos produtos, fazendo com que o preço seja mais alto que o custo de produção. Nessa situação, parte das receitas é destinada ao pagamento desses impostos, ou seja, nem toda a receita de vendas remunera os fatores de produção. Por outro lado, os subsídios também afetam os preços dos produtos, mas reduzindo-os. Assim, a incidência de subsídios faz com que o preço seja inferior à remuneração dos fatores de produção.

O produto a preços de mercado inclui os impostos indiretos e exclui os subsídios, pois retrata os preços finais pagos pelo consumidor. Quando excluímos os impostos indiretos e incluímos os subsídios, obtemos o produto a custo de fatores, que é o produto mensurado em termos da soma daremuneração dos fatores de produção. O Produto Interno Bruto a custo de fatores, 𝑃𝐼𝐵𝑐𝑓, é dado por:

𝑃𝐼𝐵𝑐𝑓 = 𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚− 𝐼𝑚𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 𝐼𝑛𝑑𝑖𝑟𝑒𝑡𝑜𝑠 + 𝑆𝑢𝑏𝑠í𝑑𝑖𝑜𝑠

Produto Interno Bruto (PIB) e Produto Nacional Bruto (PNB)

Tudo bem até agora? Pausa para beber uma água... E vamos continuar!

O PIB engloba a produção de bens e serviços finais realizada dentro das fronteiras de determinado território, independentemente da origem do capital. Porém, quando estamos analisando uma economia aberta, “há fatores de produção estrangeira (capital e trabalho) produzindo no país e fatores de produção de propriedade de residentes no país produzindo fora do país” (FEIJÓ et al, 2017). E isso gera um fluxo de renda entre o país e o resto do mundo. Em contas nacionais, o que distingue residentes dos não residentes é o centro de interesse econômico:

“Teoricamente, a residência de determinado agente econômico deve corresponder ao país onde esteja localizado o seu “centro de interesse”, ou seja, onde se espera que ocorra, em termos não apenas temporários, a sua participação na produção e absorção de bens e serviços. Sob este prisma,

(16)

consideram-se residentes os indivíduos que vivem permanentemente no país (incluindo os estrangeiros com residência fixa), os funcionários em serviço no exterior e as pessoas que se encontram transitoriamente fora do país em viagens de turismo, negócios, educação etc. Consideram-se também residentes as pessoas jurídicas de direito público ou privado sediadas no país, inclusive sucursais ou filiais de empresas estrangeiras”. (SIMONSEN & CYSNE, 2009)

Nesse sentido, surge a distinção entre produto interno e produto nacional. O Produto Nacional Bruto (PNB) diz respeito ao valor adicionado gerado por fatores de produção de propriedade de residentes, não importando se estão dentro ou fora do território. Temos, por exemplo, que a produção de estrangeiros no Brasil entra no conceito do produto interno brasileiro, mas não no conceito de produto nacional. Já a produção de brasileiros no exterior é contabilizada no PIB do país estrangeiro e no produto nacional do Brasil.

Algebricamente, o Produto Nacional Bruto corresponde ao Produto Interno Bruto menos a Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE):

𝑃𝑁𝐵 = 𝑃𝐼𝐵 − 𝑅𝐿𝐸𝐸

Vale destacar que a Renda Líquida Enviada ao Exterior é a diferença entre a renda enviada ao exterior e a renda recebida do exterior, ou seja, “é a diferença entre o que é pago por fatores de produção externos utilizados internamente e o que é recebido do exterior por fatores de produção nacionais empregados em outros países” (LOPES & VASCONCELLOS, 2008).

𝑅𝐿𝐸𝐸 = 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎 𝐸𝑛𝑣𝑖𝑎𝑑𝑎 𝑎𝑜 𝐸𝑥𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟 − 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑑𝑎 𝑑𝑜 𝐸𝑥𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟

Se 𝑅𝐿𝐸𝐸 > 0 (o país envia mais renda ao exterior do que recebe), então o produto nacional é menor que o produto interno. Por outro lado, se 𝑅𝐿𝐸𝐸 < 0 (o país recebe mais renda do exterior do que envia), então o produto nacional é maior que o produto interno. O hiato entre o PIB e o PNB pode ser grande em economias com alto grau de endividamento externo e com presença de muitas multinacionais (dado o grande fluxo de rendas com o exterior).

O conceito de renda líquida recebida do exterior (RLRE) é o inverso positivo da RLEE: 𝑅𝐿𝑅𝐸 = −𝑅𝐿𝐸𝐸

Analogamente, teremos:

𝑃𝑁𝐵 = 𝑃𝐼𝐵 + 𝑅𝐿𝑅𝐸

Renda Interna e Renda Nacional

A Renda Interna é dada pelo Produto Interno Líquido a custo de fatores, e representa a remuneração dos fatores de produção (independente da origem destes, se interna ou externa):

𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎 𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎 = 𝑃𝐼𝐿𝑐𝑓= 𝑃𝐼𝐵𝑐𝑓− 𝐷𝑒𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑎çã𝑜 = 𝑠𝑎𝑙á𝑟𝑖𝑜𝑠 + 𝑗𝑢𝑟𝑜𝑠 + 𝑎𝑙𝑢𝑔𝑢é𝑖𝑠 + 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜𝑠

Já a Renda Nacional representa a soma das remunerações dos fatores de produção pagas a residentes. Nesse sentido, a Renda Nacional Bruta (RNB) é equivalente ao Produto Nacional Bruto a custo de fatores (𝑷𝑵𝑩𝒄𝒇), e corresponde ao PIB a custo de fatores menos a renda líquida enviada ao exterior (𝑅𝐿𝐸𝐸):

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Por sua vez, a Renda Nacional Líquida (RNL), também denominada Renda Nacional (RN), equivale ao Produto Nacional Líquido a custo de fatores:

𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑁𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 (𝑅𝑁𝐿) = 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑁𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 (𝑅𝑁) = 𝑃𝑁𝐿𝑐𝑓 = 𝑃𝐼𝐿𝑐𝑓− 𝑅𝐿𝐸𝐸 A relação entre os conceitos de Renda Interna e de Renda Nacional é tal que:

𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑁𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 = 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎 𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎 − 𝑅𝐿𝐸𝐸

Renda Pessoal (RP) e Renda Pessoal Disponível (RPD)

A Renda Pessoal (RP) representa a renda total (como salários, juros, lucros, aluguéis, transferências governamentais recebidas) de todos os indivíduos descontados os lucros retidos pelas empresas, os impostos diretos sobre as empresas e outras receitas do governo (contribuições sociais/previdenciárias, FGTS, etc.):

𝑅𝑃 = 𝑅𝑁 − 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜𝑠 𝑅𝑒𝑡𝑖𝑑𝑜𝑠 – 𝐼𝑚𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 𝐷𝑖𝑟𝑒𝑡𝑜𝑠 𝑠𝑜𝑏𝑟𝑒 𝐸𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎𝑠 – 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çõ𝑒𝑠 𝑆𝑜𝑐𝑖𝑎𝑖𝑠 /𝑃𝑟𝑒𝑣𝑖𝑑𝑒𝑛𝑐𝑖á𝑟𝑖𝑎𝑠 + 𝑇𝑟𝑎𝑛𝑠𝑓𝑒𝑟ê𝑛𝑐𝑖𝑎𝑠 𝐺𝑜𝑣𝑒𝑟𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑖𝑠

Já a Renda Pessoal Disponível (RPD), também denominada Renda Disponível (RD), representa a renda que efetivamente sobra para as famílias, ou seja, é a Renda Pessoal menos os impostos diretos sobre as famílias:

𝑅𝑃𝐷 = 𝑅𝑃 − 𝐼𝑚𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 𝐷𝑖𝑟𝑒𝑡𝑜𝑠 𝑠𝑜𝑏𝑟𝑒 𝐹𝑎𝑚í𝑙𝑖𝑎𝑠

Em outras palavras, a Renda Disponível representa a renda obtida sob a forma de salários, aluguéis, lucros, benefícios sociais, etc.

Variáveis Fluxo versus Variáveis Estoque

A variáveis fluxo são mensuradas ao longo de determinado período de tempo. Exemplos: PIB, investimento, consumo, déficit público, exportação, importação, poupança, renda.

Já as variáveis estoque são mensuradas em um certo instante do tempo. Exemplos: riqueza, capital, população, dívida pública, reservas.

Temos a seguinte relação entre variáveis fluxo e variáveis estoque: todo estoque é alimentado por um fluxo. Ou seja, a diferença entre o valor de uma variável estoque em dois períodos fornece o valor do fluxo no período considerado.

PIB Nominal e PIB Real

Ao longo da aula de hoje, estamos vendo diversos agregados macroeconômicos, medidos aos preços do ano corrente ou, em outras palavras, em termos nominais. Quando estamos avaliando o comportamento desses agregados ao longo do tempo (do PIB, por exemplo), cabe indagarmos o que causa as variações no decorrer de determinado período. Claramente, o PIB se altera em virtude de mudanças nas quantidades produzidas ou nos preços dos bens e serviços.

Dessa forma, surge a necessidade de distinguirmos os conceitos nominal e real. O PIB nominal (PIB a preços correntes) é definido como a soma das quantidades de bens e serviços finais multiplicadas por seus preços correntes:

(18)

𝑃𝐼𝐵 𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙𝑡 = ∑ 𝑃𝑡𝑖𝑄𝑡𝑖 𝑛

𝑖=1

Quando queremos analisar apenas as alterações no volume produzido, devemos isolar o efeito de mudanças nos preços. Para isso, fazemos uso do PIB real (PIB a preços constantes), que corresponde à soma das quantidades de bens e serviços finais no período corrente multiplicada por preços constantes (de um período base). O PIB real em um período t expresso em unidades monetárias do período b é dado por:

𝑃𝐼𝐵 𝑅𝑒𝑎𝑙𝑡𝑏 = ∑ 𝑃𝑏𝑖𝑄𝑡𝑖 𝑛

𝑖=1

Vale destacar que ao expressar o PIB real sempre devemos indicar qual o período considerado referência. Por exemplo, o PIB de 2020 a preços de 2014 representa as quantidades transacionadas em 2020 valoradas aos preços médios de 2014.

Deflator Implícito do PIB

No tópico anterior vimos que as alterações no PIB nominal ao longo do tempo podem decorrer de mudanças no volume produzido ou nos preços. O PIB real capta as alterações decorrentes das modificações nas quantidades produzidas (pois os preços são mantidos constantes). Nessa parte da aula veremos as mudanças que decorrem de alterações nos níveis de preços.

Primeiramente, é importante você saber que a inflação representa um aumento sustentado dos preços da economia, enquanto que a deflação (fenômeno mais raro) está ligada à uma queda generalizada desses preços. Assim, é importante definir meios de mensurar os preços na economia. A seguir veremos dois índices de preços: o deflator implícito do PIB e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC).

Conforme destacado em Blanchard (2017), “se o PIB nominal aumenta mais rapidamente que o PIB real, a diferença resulta de um aumento nos preços”. Nesse sentido convém definirmos o deflator implícito do PIB.

O deflator do PIB no período t é definido como a razão entre o PIB nominal em t e o PIB real em t (tendo um período como base, b):

𝐷𝑒𝑓𝑙𝑎𝑡𝑜𝑟𝑡= 𝑃𝐼𝐵 𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙𝑡 𝑃𝐼𝐵 𝑅𝑒𝑎𝑙𝑡𝑏 =∑ 𝑃𝑡 𝑖. 𝑄 𝑡𝑖 𝑛 𝑖=1 ∑𝑛𝑖=1𝑃𝑏𝑖. 𝑄𝑡𝑖

Podemos perceber que o deflator implícito do PIB é um índice de preços de Paasche, ou seja, analisa as variações nos preços e utiliza as quantidades no período atual (corrente) como fator de ponderação. Nesse sentido, à medida que o período corrente muda, a cesta considerada no cálculo do deflator se altera. E quando avaliado no período base, o deflator assume valor 1 (ou 100).

Vou te ensinar um mnemônico (para mim funcionou ) que vai te ajudar a não confundir o fator de ponderação entre os índices de Paasche e de Laspeyres:

Não me leve a mal, mas PAAsche tem dois A, igual AtuAl!

Então já sabe, né. Índices de Paasche usam o período atual como fator de ponderação. E os de Laspeyres, o período base.

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Δ𝐷𝑒𝑓𝑙𝑎𝑡𝑜𝑟𝑡 =

(𝐷𝑒𝑓𝑙𝑎𝑡𝑜𝑟𝑡− 𝐷𝑒𝑓𝑙𝑎𝑡𝑜𝑟𝑡−1) 𝐷𝑒𝑓𝑙𝑎𝑡𝑜𝑟𝑡−1

Ela mede a taxa de inflação (ou deflação), isto é, a taxa em que o nível geral de preços aumenta (diminui) ao longo do tempo.

A partir da definição do deflator, temos que o PIB nominal corresponde ao produto entre o PIB real e o deflator do PIB:

𝑃𝐼𝐵 𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙𝑡 = 𝐷𝑒𝑓𝑙𝑎𝑡𝑜𝑟𝑡(𝑃𝐼𝐵 𝑅𝑒𝑎𝑙𝑡𝑏)

Nesse sentido, a taxa de crescimento do PIB nominal é aproximadamente a taxa de crescimento do deflator mais a taxa de crescimento do PIB real.

(1 + Δ𝑃𝐼𝐵 𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙𝑡) = (1 + Δ𝐷𝑒𝑓𝑙𝑎𝑡𝑜𝑟𝑡)(1 + Δ𝑃𝐼𝐵 𝑅𝑒𝑎𝑙𝑡𝑏) Δ𝑃𝐼𝐵 𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙𝑡 ≈ Δ𝐷𝑒𝑓𝑙𝑎𝑡𝑜𝑟𝑡+ Δ𝑃𝐼𝐵 𝑅𝑒𝑎𝑙𝑡𝑏

Índice de Preços ao Consumidor

Conforme vimos anteriormente, “o deflator do PIB fornece o preço médio do produto — os bens finais produzidos na economia. Entretanto, os consumidores se preocupam com o preço médio do consumo — os bens que eles consomem” (BLANCHARD, 2017). A cesta de bens que os indivíduos consomem não necessariamente é igual a cesta com todos os bens produzidos na economia. Isso porque nem tudo que é produzido em um país é comprado pelos consumidores finais e alguns bens que as pessoas consomem são importados (bens importados entram no cálculo do índice de preços ao consumidor, mas não são considerados no deflator do PIB).

Nesse contexto, o índice de preços ao consumidor (IPC) mensura o preço médio de uma cesta fixa de um consumidor típico, e sua taxa de variação é uma outra forma de medir a taxa de inflação. Algebricamente: 𝐼𝑃𝐶 =∑ 𝑃𝑡 𝑖𝑄 𝑏𝑖 𝑛 𝑖=1 ∑𝑛𝑖=1𝑃𝑏𝑖𝑄𝑏𝑖

Podemos perceber que o IPC é um índice de preços de Laspeyres, ou seja, avalia a mudança de preços ao longo do tempo e utiliza as quantidades do período base como fator de ponderação (por isso a cesta considerada é fixa).

Vale destacar que, em geral, a taxa de inflação medida pelo deflator do PIB ou pelo IPC são bem próximas uma da outra. Porém, em momentos nos quais os bens importados ficam mais caros em comparação com os bens produzidos internamente, o IPC aumenta mais rapidamente do que o deflator do PIB.

Vamos resolver uma questão que cobra alguns dos conceitos que já vimos até agora.

ANPEC – 2002 – Questão 1

Indique se as proposições são falsas ou verdadeiras:

(0) Renda disponível é aquela que sobra para a pessoa depois de descontados os impostos diretos e a poupança. (1) Em uma economia fechada, o Produto Interno Bruto coincide com o Produto Nacional Bruto.

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(2) Por deflator do PNB entende-se a razão entre o PNB e o PIB.

(3) Quando os investimentos superam a poupança privada, as exportações líquidas do país são negativas. (4) O consumo, o PIB e a riqueza pessoal são variáveis de fluxo.

RESOLUÇÃO:

(0) A Renda Pessoal Disponível (RPD), também denominada Renda Disponível (RD), representa a renda que efetivamente sobra para as famílias, ou seja, é a Renda Pessoal menos os impostos diretos sobre as famílias:

𝑅𝑃𝐷 = 𝑅𝑃 − 𝐼𝑚𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 𝐷𝑖𝑟𝑒𝑡𝑜𝑠 𝑠𝑜𝑏𝑟𝑒 𝑎𝑠 𝐹𝑎𝑚í𝑙𝑖𝑎𝑠

A Renda Disponível representa a renda obtida sob a forma de salários, aluguéis, lucros, benefícios sociais.

Resposta: FALSO

(1) A diferença entre PNB e PIB é o fluxo de rendas com o exterior: 𝑃𝑁𝐵 = 𝑃𝐼𝐵 − 𝑅𝐿𝐸𝐸

Em uma economia fechada, a renda líquida enviada ao exterior é nula, de modo que o Produto Interno Bruto coincide com o Produto Nacional Bruto.

Resposta: VERDADEIRO

(2) O deflator implícito do PIB é a razão entre o PIB nominal e o PIB real:

𝐷𝑒𝑓𝑙𝑎𝑡𝑜𝑟𝑡= 𝑃𝐼𝐵 𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙𝑡 𝑃𝐼B Realt𝑏 = ∑𝑛𝑖=1𝑃𝑡𝑖. 𝑄𝑡𝑖 ∑ 𝑃𝑏𝑖. 𝑄 𝑡𝑖 𝑛 𝑖=1

Vale lembrar que o deflator implícito do PIB é um índice de preços de Paasche (analisa a variação de preços entre dois períodos e utiliza as quantidades no período atual como fator de ponderação).

Resposta: FALSO

(3) Primeiramente, vamos nos lembrar da relação entre poupança externa e o saldo em transações correntes: 𝑆𝐸𝑥𝑡= −𝑇𝐶

Dessa forma, dizer que as exportações líquidas do país são negativas, implica dizer que a poupança externa é positiva.

A partir da identidade contábil que postula a igualdade entre poupança e investimento, temos: 𝐼 = 𝑆𝑃+ 𝑆𝐺𝑜𝑣+ 𝑆𝐸𝑥𝑡→ 𝐼 − 𝑆𝑃= 𝑆𝐺𝑜𝑣+ 𝑆𝐸𝑥𝑡

O item afirma que os investimentos superam a poupança privada, então: 𝐼 − 𝑆𝑃> 0 → 𝑆𝐺𝑜𝑣+ 𝑆𝐸𝑥𝑡 > 0

Podemos apenas afirmar que a soma entre a poupança do governo e a poupança externa será positiva (a depender do sinal da poupança do governo, a poupança externa pode ser positiva ou negativa, desde que a soma de ambas continue sendo positiva). Como o item afirmou categoricamente que somente a poupança externa será positiva, a afirmação se torna falsa.

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(4) Conforme vimos, consumo e PIB são variáveis de fluxo. Por sua vez, a riqueza é uma variável de estoque.

Resposta: FALSO

Matriz Insumo-Produto

Vejamos, de maneira extremamente breve (dado que não é um assunto muito recorrente na prova da Anpec), a Matriz Insumo-Produto2. Esse é um modelo proposto por Leontief, que leva em consideração os fluxos entre as diferentes atividades econômicas. Conforme vemos em Feijó et al (2017), “Leontief desenvolveu seu modelo admitindo que a relação entre os insumos consumidos em cada atividade e a produção total dessa atividade é constante e medida no que chamou de coeficiente técnico de produção”. Esse coeficiente técnico de produção, 𝑎𝑖𝑗, é definido como:

𝑎𝑖𝑗 = 𝑔𝑖𝑗

𝑔𝑗

Em que: 𝑎𝑖𝑗 é o valor produzido na atividade i e consumido pela atividade j para produzir uma unidade monetária; 𝑔𝑖𝑗 é o valor da produção da atividade i consumido na atividade j; e 𝑔𝑗 é o valor total da produção da atividade j.

Ao montar uma Matriz Leontief, a base de dados necessária deve descrever as relações dessas atividades entre si e com a demanda final – Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF), Exportações (X), Variação de Estoques (VE), Consumo do Governo (G) e Consumo Pessoal (C) –, sua conta de renda e as importações. Consoante o que está apresentado em Feijó et al (2017), a “visualização desses fluxos é facilitada por uma tabela, chamada Tabela de Transações, construída de acordo com as seguintes identidades econômicas”:

1) Produção ≡ consumo intermediário + valor adicionado

2) Produção ≡ consumo intermediário + consumo final – importações 3) Valor adicionado ≡ soma das rendas primárias

Podemos perceber, então, que o Modelo Insumo-Produto é bem mais complexo, pois necessita de informações tanto do consumo final quanto do consumo intermediário para os setores da economia. No Brasil, é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística o responsável pela construção dessa matriz.

Contas Econômicas Integradas

Em linhas gerais, as Contas Econômicas Integradas (CEIs) indicam como ocorrem diferentes tipos de atividades econômicas num determinado período de tempo, sendo registrados os valores de ativos e passivos dos diferentes setores institucionais no início e no fim de um período. É utilizada a nomenclatura usos e recursos. Conforme destacam Feijó et al (2017):

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“O termo usos se refere às operações que reduzem o montante do valor econômico de um setor, e por convenção são lançados do lado esquerdo das contas-correntes. As remunerações, por exemplo, são um recurso para quem recebe, porém, um uso para o setor que as paga, um gasto. O termo recursos é usado para designar o lado das contas-correntes em que figuram operações que aumentam o valor econômico de um setor, uma receita, por exemplo. Por convenção, são lançados no lado direito. Os saldos são obtidos pela diferença entre recursos e usos. Representam o resultado líquido das atividades. É por meio dos saldos, como já dissemos, que a sequência de contas se articula. Os saldos se constituem em agregados econômicos de interesse, como o PIB, renda nacional, renda disponível bruta, poupança bruta etc.” (FEIJÓ ET AL, 2017)

A seguir, vemos de forma resumida a estruturação dos três subconjuntos das CEIs: contas correntes, contas de acumulação e contas de patrimônio.

Contas Correntes Saldo da Conta

1. Conta de Produção PIB

2. Conta de Renda

2.1 Conta de Distribuição Primária da Renda

2.1.1 Conta de Geração da Renda Excedente Operacional Bruto

2.1.2 Conta de Alocação da Renda Renda Nacional

2.2 Conta de Distribuição Secundária da Renda Renda Disponível Bruta

2.3 Conta de uso da Renda Poupança

Fonte: Feijó et al (2017).

3. Conta de Acumulação Saldo da Conta

3.1 Conta de Capital Capacidade ou necessidade de

financiamento

3.2 Conta Financeira Igual ao da conta de capital com sinal trocado

3.3 Conta de outras variações no volume de ativos e contas de reavaliação

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3.3.1 Conta de outras variações nos ativos financeiros Mudanças no patrimônio líquido resultantes de outras variações no volume dos ativos

3.3.2 Conta de reavaliação Mudanças no patrimônio líquido resultantes de ganhos/perdas de detenção nominais

Fonte: Feijó et al (2017).

4. Conta de Patrimônio Saldo da Conta

4.1 Conta de patrimônio inicial Patrimônio líquido

4.2 Conta de variação do patrimônio Variação do patrimônio líquido total. Registra saldos das contas de capital (variações do patrimônio líquido resultante de poupança e transferência líquida de capital) e conta de outras variações no volume dos ativos e conta de reavaliação (3.3.1 e 3.3.2)

4.3 Conta de patrimônio final Patrimônio líquido

Fonte: Feijó et al (2017).

Tudo bem até aqui? Sei que já vimos várias identidades contábeis, mas a boa notícia é que estamos caminhando para a parte final da aula. Então força aí, hein!

Balanço de Pagamentos

Veremos a partir de agora um pouco sobre o Balanço de Pagamentos (BP), que é o registro das transações entre residentes e não residentes de um país ao longo de determinado período de tempo. Vale dizer que não importa em qual mercado ou em qual moeda essas transações ocorrem. De um modo geral, o registro dessas transações segue o critério de competência, ou seja, são registradas no momento em que o valor econômico é criado, transformado, trocado ou extinto.

O Banco Central do Brasil (BCB) é responsável pela divulgação de nosso BP e de 2016 em diante, passou a publicar as estatísticas do BP e da Posição Internacional de Investimento – PII (veremos esse demonstrativo mais adiante) em conformidade com a sexta edição do Manual do Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário Internacional (BPM6), publicado em 2009. Vale destacar que, desde 2001, essas estatísticas eram divulgadas pelo BCB de acordo com a 5ª edição do Manual de Balanço de Pagamentos (BPM5), de 1993.

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Estrutura do Balanço de Pagamentos (BPM6 e BPM5)

A contabilização dos registros no BP, em ambas as edições, segue a técnica das partidas dobradas (Uai? Estamos em uma aula de contabilidade? Não, é Macro mesmo... rsrsrs), em que para cada registro a débito em uma conta temos um a crédito correspondente (mesmo saldo) em alguma outra e vice-versa.

Vale destacar que o BPM6 traz algumas modificações em relação ao BPM5, que incluem a apresentação do Balanço de Pagamentos; a nomenclatura de algumas contas; as convenções estatísticas; e alguns conceitos. Veremos, a seguir, a estrutura do BP em conformidade com as duas versões.

BPM5

De acordo com o BPM5, as contas do Balanço de Pagamentos podem ser separadas em dois grandes grupos:

1) contas operacionais – que correspondem aos fatos geradores do recebimento ou do envio de recursos ao exterior (como exportações, importações, fretes, seguros, juros, dividendos, investimentos, transferências unilaterais, empréstimos, amortizações, investimentos, etc.). Os fatos que geram entrada de divisas (recursos externos), são lançados como crédito nas contas operacionais; já os que geram saída de divisas são lançados a débito.

2) conta de reservas (ou conta caixa) – registra o movimento dos meios de pagamento internacionais à disposição do país, isto é, são contabilizadas as variações das reservas internacionais de determinada localidade decorrentes de transações entre residentes e não residentes. Os registros na conta caixa, que são uma conta do ativo, seguem a lógica usual da contabilidade: aumentam a débito e reduzem a crédito. Geralmente dentro da conta de reservas, temos: (i) haveres monetários de curto prazo no exterior, (ii) ouro monetário, (iii) direitos especiais de saque, (iv) posição de reservas no FMI (Fundo Monetário Internacional).

Dada a utilização do método das partidas dobradas, o saldo global de todas as contas deve ser nulo. Dessa forma, caso se divida o BP em duas partes distintas, traçando uma linha horizontal por exemplo, temos que os componentes “acima da linha” devem ter o mesmo saldo que os componentes “abaixo da linha”, mas com sinal trocado. Segundo essa versão, o saldo total do Balanço de Pagamentos inclui as transações correntes, a conta capital e financeira e erros e omissões (que é uma conta residual). Vejamos a seguir cada uma dessas contas.

A conta de Transações Correntes (TC), também denominada Conta Corrente, engloba as transações que se referem à movimentação de bens e serviços, a conta de rendas (remuneração a fatores de produção) e as transferências unilaterais correntes (representam os donativos, que são pagamentos e recebimentos sem contrapartida de bens ou serviços). As exportações e importações são computadas pelo seu valor FOB (free on board), que é o valor de embarque, isto é, não são incluídos os fretes e seguros (estes são contabilizados na Balança de Serviços). Um saldo positivo em transações correntes representa que o país exporta capitais (poupança externa negativa), ou seja, parte da poupança interna financia gastos de investimento no exterior. Por sua vez, um déficit em transações correntes indica uma poupança externa positiva (poupança do resto do mundo financiando investimentos internos), isto é, o país importa capitais em quantia equivalente ao déficit em transações correntes.

Já a conta Capital e Financeira (antiga conta “Capitais Autônomos” – 𝐾𝑎) inclui os movimentos autônomos de capitais, que são movimentações financeiras que não têm por objetivo o financiamento do BP.

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O saldo total do Balanço de Pagamentos (BP) é obtido com a soma do saldo em Conta Corrente, do saldo da conta Capital e Financeira, e os erros e omissões (que são uma conta residual):

𝐵𝑃 = 𝑇𝐶 + 𝐾𝑎+ (𝐸 & 𝑂)

Os itens que entram no cálculo do saldo do BP são classificados como “acima da linha”, indicando transações voluntárias entre residentes e não residentes. Por sua vez, a conta de Capitais Compensatórios (𝐾𝑐) não entra no saldo do Balanço de Pagamentos, por isso são denominados itens “abaixo da linha”, representando atrasados ou uma fonte de financiamento do saldo do BP. Diante da técnica das partidas dobradas, o saldo da conta Capitais Compensatórios é igual ao saldo total do BP, mas com sinal trocado:

𝐵𝑃 = −𝐾𝑐

Se um país apresenta déficit no BP, terá um saldo positivo na conta Capitais Compensatórios (que equivale ao demonstrativo de resultados do BP):

𝐵𝑃 < 0 → 𝐾𝑐 > 0 Conforme destacam Simonsen e Cysne (2009):

“De fato, tal déficit só pode ser financiado por uma perda de reservas e/ou pela aquisição de um empréstimo de regularização que, como sabemos, equivalem ambos a um lançamento contábil positivo na conta de capitais compensatórios. Não havendo pagamento da obrigação devida, a conta “atrasados” será creditada, desta forma garantindo-se a igualdade entre o saldo total do balanço de pagamentos e o simétrico do seu demonstrativo de resultados”. (SIMONSEN & CYSNE, 2009)

Vejamos dois exemplos de lançamentos que envolvem as transações correntes, apresentados em Simonsen e Cysne (2009), sendo uma transação liquidada em moeda e outra não:

i) Um país exporta mercadorias recebendo à vista o pagamento em moeda estrangeira: temos um crédito na conta “Exportações” (pois exportações de mercadorias geram uma entrada de recursos) e um débito na conta de “Haveres no exterior” (um débito representa um aumento em uma conta de ativo);

ii) Um país recebe do exterior um donativo em mercadorias: é como se o país tivesse primeiro recebido um donativo em dinheiro e posteriormente importado mercadorias do exterior. Dessa forma, temos um débito na conta “Importações” e um crédito em “Transferências Unilaterais”.

Simonsen e Cysne (2009) também apresentam alguns exemplos de lançamentos contabilizados com sinal positivo (representam a entrada de divisas) na conta Capital e Financeira: (i) os ingressos de novos investimentos, sejam diretos, de portfólio ou aqueles classificados na rubrica “demais investimentos”; (ii) os ingressos de novos empréstimos externos (que são agrupados sob a rubrica de Demais Investimentos); (iii) as amortizações (efetuadas por não residentes) de empréstimos outrora concedidos pelo país ao resto do mundo; (iv) as repatriações de investimentos do país no exterior; (v) as transferências unilaterais de capital recebidas pelo país.

Agora, exemplos de lançamentos contabilizados com sinal negativo (indicam a saída de divisas) na conta Capital e Financeira: (i) os novos investimentos (diretos ou não) de residentes, realizados no exterior; (ii) os novos empréstimos dos residentes no país ao resto do mundo; (iii) as amortizações pagas ao exterior de empréstimos contraídos pelos residentes no país; (iv) as repatriações de investimentos estrangeiros diretos outrora efetuados no país.

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Outro ponto que convém destacar, é que “lucros de não residentes reinvestidos internamente devem ser contabilizados como se os recursos deixassem o país e depois voltassem. O saldo líquido das duas operações equivale a um débito na conta de Renda e a um crédito na conta de Investimentos Diretos” (SIMONSEN & CYSNE, 2009).

Convenção de Sinais

Antes de considerarmos alguns pontos específicos em relação ao BPM6 (conforme as notas metodológicas do Banco Central do Brasil), veremos a convenção de sinais nos registros contábeis em cada uma das edições do BP.

No BPM5, créditos (exportações, receitas de rendas, de transferências, reduções nos ativos e aumentos nos passivos) eram lançados com sinais positivos, enquanto débitos (importações, despesas de rendas, de transferências, aumentos nos ativos e reduções nos passivos), com sinal negativo. Já no BPM6, sinais positivos indicam exportações e importações, receitas e despesas de rendas, receitas e despesas de transferências e aumentos em ativos e passivos. Os sinais negativos somente são utilizados para indicar renda negativa (perdas) e reduções de ativos ou passivos (por exemplo, quando investimentos são retornados, os desinvestimentos). Na conta financeira, fluxos que contribuem liquidamente para elevação (redução) de estoques, tanto para ativos, como para passivos, são representados por sinal positivo (negativo).

A tabela a seguir ilustra os sinais em que são feitos os registros nas contas em ambas as edições.

Contas do BP BPM5 BPM6

Transações correntes, receitas + +

Transações correntes, despesas - +

Saldo de transações correntes Receitas + Despesas = +/- Receitas - Despesas = +/-

Receitas de transferências de capital + + Despesas de transferências de capital - +

Saldo da conta capital Receitas + Despesas = +/- Receitas - Despesas = +/-

Aquisição líquida de ativos financeiros (no BPM5, saída líquida de capitais brasileiros)

- +

Incidência líquida de passivos financeiros (no BPM5, entrada líquida de capitais estrangeiros)

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Concessões líquidas (+) / captações líquidas (-) (saldo da Conta financeira)

Entrada de capital + saída de capital = +/-

Aquisição líquida de ativos financeiros – incidência líquida

de passivos financeiros = +/–

Resumo

(saldo de Transações correntes + saldo da Conta capital + saldo da Conta financeira) * (–1) = Erros e

omissões

saldo da Conta financeira – saldo de Transações correntes

– saldo da Conta capital = Erros e omissões

Fonte: Nota metodológica 1 do Banco Central do Brasil.

www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/notas_metodologicas/balanco_pagamentos/bpm6/nm1bpm6p.pd f. Acesso em 20 de dezembro de 2020.

BPM63

Já sabemos que o BPM6 apresenta algumas alterações em relação ao BPM5. Nessa parte da aula, iremos abordar alguns pontos em relação ao BPM6, que são apresentados nas notas metodológicas disponíveis no site do Banco Central do Brasil4. De acordo com essa edição, o Balanço de Pagamentos compreende a conta corrente, a conta de capital e a conta financeira (além de erros e omissões).

A conta corrente engloba os fluxos das contas de bens, serviços, renda primária e renda secundária. Em relação às contas de bens (balança comercial), exportações e importações são registradas no BP no momento em que ocorre a mudança de propriedade econômica entre residente e não residente. A propriedade econômica é atribuída ao agente que detém os riscos, responsabilidades, direitos e benefícios do bem ou ativo. Em geral essa propriedade coincide com a propriedade legal, mas pode haver casos em que ambas não coincidem (por exemplo, arrendamento mercantil). A rubrica renda primária, antiga “balança de rendas” no BPM5, continua refletindo os montantes a pagar ou a receber em troca do uso temporário de recursos financeiros, trabalho ou ativos não financeiros não produzidos. Já a renda secundária substitui as “transferências unilaterais”, que tiveram a nomenclatura ajustada às contas nacionais, e apresenta a renda gerada em uma economia e distribuída para outra.

A conta de capital considera as transações envolvendo compra e venda de ativos não financeiros não produzidos, e transferências de capital. A conta financeira permanece mostrando as aquisições de ativos e

3 Essa parte da aula, que fala sobre o BPM6, é um resumo abordando alguns pontos importantes das notas metodológicas

publicadas pelo Banco Central do Brasil, disponíveis em www.bcb.gov.br/estatisticas/notasmetodologicas. Acesso em 20 de dezembro de 2020.

4https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/notas_metodologicas/balanco_pagamentos/bpm6/nm1bpm6

Referências

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