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OS CASAMENTOS NUMA SOCIEDADE ANTIGA BRASILEIRA: O CASO DA NUPCIALIDADE EM MINAS GERAIS, NA DÉCADA DE 1830, SEGUNDO DIFERENTES MÉTODOS E FONTES 1

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OS CASAMENTOS NUMA SOCIEDADE ANTIGA BRASILEIRA: O CASO DA NUPCIALIDADE EM MINAS GERAIS, NA DÉCADA DE 1830, SEGUNDO

DIFERENTES MÉTODOS E FONTES1

Isabella A. de A. Oliveira2 Mario Marcos Sampaio Rodarte3

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta resultados de um exercício metodológico que buscou explorar duas bases de dados históricos4. A primeira foi criada a partir dos Mapas de Casamentos, que são tabelas que agregam os registros paroquiais de matrimônio. Essas tabelas foram criadas e tiveram seu preenchimento sistematizado pela Lei Provincial nº 46 e Regulamento nº 8, ambos de 1836. A segunda fonte de dados são as Listas Nominativas de População da década de 1830, que são registros individualizados de características da população. Enquanto os Mapas de Casamentos são dados agregados, as Listas Nominativas são microdados e diante dessa diferença entre as fontes optou-se por realizar um exercício metodológico que buscasse exprimir a mesma informação ou uma informação similar.

A Lei n. 46 de 1836 não exigiu somente o preenchimento de Mapas de Casamentos, há, também, os Mapas de Óbitos e Mapas de Nascimentos, mas, para esses dois últimos, seriam necessários métodos mais sofisticados para conseguir uma medida comparativa das Listas Nominativas. Desse modo, decidiu-se por utilizar a nupcialidade para esse exercício metodológico, pois possibilitou a aplicação de uma técnica simples e que apresenta resultados satisfatório que é o Single Mean

Age of First Marriage (SMAFM), desenvolvido por Hajnal (1953). Como os Mapas de

Casamentos estão agregados por faixas etárias, o objetivo de calcular a idade média ao casar por meio das Listas Nominativas foi uma maneira de validar se a

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Trabalho apresentado no VIII Simpósio Nacional de História da População, realizado no Nepo/Unicamp, em Campinas, SP, entre os dias 16 a 17 de outubro de 2019.

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Bacharel em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Mestre em Demografia pelo CEDEPLAR/UFMG, doutoranda em Demografia, pela mesma instituição, e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em História Econômica e Demográfica (NPHED/UFMG).

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Professor da Faculdade de Ciências Econômicas – FACE/UFMG e pesquisador do CEDEPLAR/UFMG no Núcleo de Pesquisa em História Econômica e Demográfica.

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As duas bases de dados foram construídas a partir de pesquisas do Núcleo de História Econômica e Demográfica (NPHED) do CEDEPLAR/UFMG e contaram com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

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concentração de casamentos por faixa etária dos Mapas está consoante, ou não, com os dados recenseados nas Listas.

Este artigo está dividido em cinco sessões sendo a primeira esta introdução. Os próximos tópicos abordados apresentam uma breve história das fontes que resultaram nas bases de dados utilizadas, a representatividade das informações, a metodologia empregada, os resultados alcançados e, por fim, a conclusão.

FONTES E BASE DE DADOS

Listas nominativas de população

As Listas Nominativas de habitantes são a fonte histórica mais consagrada em estudos de demografia histórica de Minas Gerais, na primeira metade do século XIX. A adoção e aplicação dessas listas teve participação do militar Luiz Maria da Silva Pinto (1775-1869), que foi um importante personagem histórico na elaboração das estatísticas mineiras (PAIVA; RODARTE; GODOY, 2010).

As listas nominativas de 1831/32 e 1838/41 constituem, atualmente, o maior corpus documental coletado de levantamento populacional de Minas Gerais, antes do Censo de 1872. O acervo foi coletado no APM e compreende a listagem nominal de 536.938 pessoas, 84 mil domicílios e 313 distritos de paz. As listas possuem uma vasta amplitude territorial e uma cobertura aproximada de 60 a 65% da população da Província no período (PAIVA; RODARTE; GODOY, 2010). A sistematização e construção do banco de dados das Listas Nominativas, utilizado neste artigo. é produto dos esforços empreendidos pelo CEDEPLAR e pelo NPHED, desde 1980.

TABELA 1 – População, domicílios e distritos recenseados nas Listas Nominativas da

década de 1830 em Minas Gerais Acervos de origem da base de dados – Listas

Nominativas da década de 1830

População Domicílio

N. % N. %

Acervo 1 – Listas Nominativas 1831/32 398.304 74,2 62.348 73,5 Acervo 2 – Listas Nominativas restantes 1832/31 37.365 7,0 5.637 6,6 Acervo 3 – Listas Nominativas de 1838/41 101.269 18,9 16,825 19,8

TOTAL 536.938 100,0 84.810 100,0

Fonte: Adaptado de Rodarte; Paiva e Godoy (2010, p. 7).

Além da cobertura populacional e territorial, a riqueza das informações presentes nas listas contribuiu para a reconstituição de aspectos essenciais da população naquele período. As informações vão desde o nome, condição,

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qualidade, idade, estado conjugal, ocupação e nacionalidade (GODOY; PAIVA; 2010). Paiva e Arnaut (1990) destacam que o levantamento censitário foi um empreendimento do governo provincial e ressaltam que a iniciativa foi elaborada na época das regências, voltadas para conhecer as características populacionais, que eram de total interesse da administração. Abaixo seguem as principais informações provenientes das Listas Nominativas da década de 1830.

QUADRO 1 – Informações principais coletadas das Listas Nominativas da década de 1830

de Minas Gerais Informação Listas Nominativas de 1830 Listas 1831/32 Listas 1838/41 Atributos pessoais 1. Sexo 2. Idade 3. Província marital

4. Relação com o chefe de domicílio 5. Nacionalidade

6. Qualidade (cor) 7. Incapacidade física 8. Alfabetização

9. Condição (livre ou escravo)

X X X X X X X X X X X X X X X X X Atividade econômica

10. Ocupação principal individual 11. Ocupação suplementar individual

12. Ramo de atividades do domicílio

X X X X X X

Atributos por domicílio

13. Localização geográfica 14. Fogos existentes X X X X Fonte: Adaptado de Paiva; Rodarte e Godoy (2010, p. 6).

As informações das Listas Nominativas eram coletadas por juízes de paz, que listavam os fogos, a unidade que congregava produção econômica e o domicílio. Para cada habitante do fogo, eram preenchidas as informações de estado conjugal (casado, solteiro, viúvo), condição (livre ou cativo), qualidade (cor), idade e ocupação. Paiva (1996) aponta que o levantamento das informações envolvia três agentes: o Juiz de Paz, o Inspetor de Quarteirão e o Escrivão. O Inspetor de Quarteirão fazia a lista e enviava ao Juiz de Paz, que tinha a função de conferi-las, e o Escrivão elaborava sua redação final. Para esse exercício metodológico as variáveis idade, estado conjugal, qualidade e condição foram primordiais para aplicação do método escolhido, o SMAFM (Single Mean Age at First Marriage), que será explicado na sessão Metodologia.

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Mapas de casamentos da Lei Provincial nº 46

Os Mapas de Casamentos são fruto da Lei nº 465 e do Regulamento nº 86, ambos de 1836. A referida Lei surge como uma iniciativa da Província em gerar estatísticas a partir dos registros paroquiais. A Lei nº 46 apresentava importantes pontos e instruções para a confecção de mapas semestrais de nascimentos, casamentos e óbitos e esses dados eram originários dos registros paroquiais dos mesmos eventos. A Lei que formalizou e reforçou a importância dos livros de registro dos párocos e conferiu a esses livros mais uma função, pois eles seriam o insumo dos dados agregados a serem apresentados à Assembleia Legislativa Provincial. Esse fato, somado à definição do recebimento de gratificações aos párocos para a execução das atividades impostas na Lei, corrobora a forte relação entre Igreja e Província7.

O Capítulo I da Lei nº 46, que formalizou a execução dos mapas, determinou que o Governo providenciaria os modelos dos referidos mapas. Este modelo veio através do Regulamento nº 8, de 24 de outubro de 1836, que reforçou as diretrizes da Lei nº 46 e apresenta os modelos dos mapas para cada registro (nascimento, casamento e óbitos). Abaixo segue o modelo de mapas que foram preenchidos pelos párocos, com base nos livros de registro de casamentos.

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A referida lei encontra-se na íntegra no endereço, disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=253634&PagFis=208.

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O regulamento encontra-se na íntegra no endereço, disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=253634&PagFis=298.

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Detalhes sobre a história da Lei nº 46 e Regulamento nº 8 e sua transcrição, na íntegra, estão presentes no trabalho de Oliveira (2018).

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FIGURA 1 – Modelo nº 2 – Mappa dos Cazamentos Regulamento 8 de 1836

Fonte: Livro da Lei Mineira, Regulamento 8 de 1836 (p. 26)8.

O modelo do mapa de casamentos apresentado no Regulamento nº 8 é instigante. Percebe-se a preocupação em considerar a condição jurídica dos indivíduos, bem como a qualidade (branco, pardo e preto)9, sexo e faixas etárias. Para a época, mostra-se uma iniciativa vanguardista da Província. Claro que, apesar de extremamente inovador e avançado, os mapas em questão estavam sujeitos a diversos problemas como declaração errônea de idade e de qualidade, por exemplo. Silva (1870) destaca que a Lei nº 46 e o Regulamento nº 8 resultaram em uma ampla produção de mapas de nascimentos, casamentos e óbitos durante 15 anos, de 1836 a 1850, como, de fato, a pesquisa veio a constatar agora, pelo rico acervo remanescente no APM.

O levantamento dos mapas foi realizado in loco no Arquivo Público Mineiro (APM) em Belo Horizonte, Minas Gerais. A pesquisa buscou coletar todos os mapas disponíveis para a consulta. Esses registros estão disponíveis em duas coleções: Presidente de Província (PP1-10) e Mapas de População (MP). Ao todo foram coletados 879 mapas, porém há mapas passando por processo de restauração e

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Livro da Lei Mineira: Regulamento 8 de 1836, p. 26. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=253634&PagFis=298. Acesso em: 15 set. 2016.

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A divisão por qualidade veio definida no modelo e não há na Lei nº 46 ou no Regulamento nº 8 uma explicação de como foi concebida essa categorização. O que pode ser uma fragilidade, pois não sabe-se, ao certo, se a categoria pretos incluía negros, pretos e crioulos.

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tratamento de fungos, logo, essa coleta não contempla todo o acervo do APM. O ano de 1838 tem o maior número de mapas produzidos e, por este motivo, foi o ano utilizado no exercício metodológico proposto neste artigo, pois os outros anos possuíam um volume de informação muito pequeno comparado ao das Listas Nominativas o que poderia tornar as duas bases de dados pouco comparáveis.

FIGURA 2 – Mapa de óbito feito à mão – Arquivo Público Mineiro

Fonte: Fotografia elaborada pelos autores (2016)10.

Os mapas foram transcritos em planilhas eletrônicas, que replicaram os modelos fornecidos pelo Regulamento nº 8, de 1836. Essa forma de coleta permitiu construir, com mais facilidade, o banco de dados trabalhado e disponibilizar, futuramente, essas informações em plataforma online.

A expressiva quantidade de mapas para o ano de 1838 mostra que, até o momento, é o período com maior potencial para estudos metodológicos. O banco de dados construído e utilizado neste artigo é referente a esse ano. Ressalta-se, do mesmo modo, a falta de consistência em quantidade de mapas por ano, o que levanta a hipótese se 1838 foi um ano com maior produção ou foi um ano com melhor conservação do material proveniente da Lei.

Análise espacial e construção do banco de dados

Para construção do banco de dados e avaliação do volume de informação de 1838 foi realizado, a priori, uma análise espacial da informação por meio do georreferenciamento das paróquias com informações disponíveis. Os dados de 1838

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Fotografia elaborada pelos autores, o documento encontra-se, fisicamente, no Arquivo Público Mineiro de Belo Horizonte/MG, na seção de arquivos Presidente de Província PP1-10.

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contemplam 65 paróquias11 da época, e esse estudo espacial buscou,

primeiramente, fazer a conexão entre paróquias e distritos, o que foi facilitado pelo conhecimento acumulado sobre localização de povoados e nucleações urbanas existentes na década de 1830, por pesquisas anteriores do NPHED. Os distritos constituíam a menor unidade administrativa geográfica na época e as paróquias eram unidades eclesiásticas que abarcavam um ou mais distritos.

A distribuição espacial das paróquias mostra que há representação de paróquias em todas as regiões, o que contribui para verificarmos o grau de cobertura dos dados dos mapas de nascimentos, casamentos e óbitos. Há áreas de certa concentração demográfica, como Mineradora Central Oeste, Intermediária de Pitangui e Sudoeste, essas são regiões que se beneficiaram do fluxo de indivíduos, e por isso foram as regiões que aumentaram o número de paróquias.

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De acordo com o georreferenciamento e legislação vigente, o número de paróquias varia ao longo do tempo sendo 133 em 1831-1835 e 160 em 1840.

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MAPA 1 – Paróquias com dados de casamentos de 1838, por região e níveis de

desenvolvimento regionais – Minas Gerais – Década de 1830

Fonte: Elaboração própria, a partir dos mapas de nascimentos, casamentos e óbitos datados no ano de 1838. Nota: Regiões pela definição de Godoy (1996): 2-Vale do Alto-Médio Rio São Francisco; 3-Sertão; 4-Minas

Novas e Sertão do Rio Doce (agregadas); 5-Triângulo; 6-Araxá; 7-Paracatu e Extremo Noroeste (agregadas); 8-Sertão Alto Rio São Francisco; 9-; 10-Diamantina; 11-Vale do Médio-Baixo Rio das Velhas; 12-Intermediária de Pitanguí-Tamanduá; 13-Mineradora Central Oeste; 14-Mineradora Central Leste; 15-Mata; 16-Sudeste; 17-Sul Central; 18-Sudoeste. Níveis de desenvolvimento definidos por Paiva (1996); Paróquias: 1- N. Sra. Da Conceição do Porto Turvo; 2- N. Sra. De Nazaré de Antônio Dias Abaixo; 3- S. Miguel de Arrepiados; 4- S. João Batista do Morro Grande; 5- S. José da Barra Longa; 6- N. Sra. da Boa Viagem do Curral D'el Rei; 7- N. Sra. da Conceição da Agua Suja; 8- Senhor do Bonfim; 9- Santanna de Contendas; 10- N. Sra. da Piedade do Paraopeba; 11- Buritis; 12- N. Sra. da Assunção do Cabo Verde; 13- N. Sra. Do Bom Sucesso de Caethé; 14- Campanha do Rio Verde; 15- Formigas; 16- Carmo do Pouso Alto; 17- N. Sra. da Conceição de Carrancas; 18- Conceição da Barra; 19- N. Sra. da Conceição das Catas Altas; 20- N. Sra. da Conceição do Cuieté; 21- Sto. Ant. do Curvelo; 22- S. Ant. do Tejuco; 23- N. Sra. das Dores do Indaiá; 24- Brumado; 25- Sta. Quitéria; 26- Santanna da Barra do Bacalhau; 27- N. Sra. da Boa Viagem da Itabira do Campo; 28- S. Bento do Tamanduá; 29- S. Ant. de Itaverava; 30- S. Ant. da Lagoa Dourada; 31- N. Sra. da Saúde da Lagoa Santa; 32- Santanna de Lavras do Funil; 33- S. João do Douradinho; 34- Mariana; 35- Senhor Bom Jesus do Forquim; 36- Inficionado; 37- Camargos; 38- Sto. Ant. do Morro de Mateus Leme; 39- Senhor do Mattozinhos; 40- Congonhas, N. Sra. do Pilar; 41- S. Ant. de Ouro Branco; 42- Ouro Preto; 43- N. Sra. De Nazaré de Cachoeira do Campo; 44- N. Sra. da Conceição de Antônio Dias; 45- S. Ant. da Manga do Paracatu; 46- N. Sra. da Glória do Passatempo; 47- N. Sra do Livramento de Piumhy; 48- Ponte Nova; 49- S. José do Gorutuba; 50- N. Sra. da Conceição de Prados; 51- N. Sra. Da Conceição dos Raposos; 52- S. Miguel; 53- N. Sra. do Desterro; 54- Sto. Ant. do Ribeirão de Sta. Bárbara; 55- S. Bartolomeu; 56- Sta. Luzia; 57- Sto. Ant. do Amparo; 58- S. Gonçalo; 59- Santo Antônio do Manga de São Romão; 60- Santana do Sapucaí; 61- Rio Preto do Prezidio; 62- Sto. Ant. da Uberaba; 63- N. Sra. Do Bom Sucesso da Barra do Rio das Velhas; 64- Santa Rita do Turvo; 65- S. Domingos

Fonte dos dados básicos: IBGE. Malha municipal do Brasil, 1997. Diretoria de Geociências. Departamento de Cartografia.

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As 65 paróquias com dados para o ano de 1838 estão espalhadas pela Província, com certa concentração nas regiões mineradoras, o que era esperado, dada a importância econômica da região (MAPA 1). Exceto a região do Extremo Noroeste, que é apontada como uma região pouco habitada por Godoy (1996) temos, pelo menos, uma paróquia representando cada uma das regiões, o que confere um caráter de abrangência espacial interessante e sinaliza que esse ano tem uma boa cobertura espacial da Província. Essas 65 paróquias atendiam 203 distritos de Minas Gerais, representando 47% dos distritos arrolados nas listas nominativas da década de 1830. As 65 paróquias somaram um total de 5.470 casamentos que possuem a seguinte distribuição.

TABELA 2 – Distribuição de casamentos – Minas Gerais, 1838 – 65 de 133 paróquias

Faixa Etária

Livre Escravo

Total

Branco Pardo Preto Pardo Preto

H M H M H M H M H M Até 14 Anos 7 63 1 85 - 10 3 10 7 25 211 De 15 a 19 112 317 165 454 18 89 19 37 63 146 1.420 De 20 a 29 374 234 570 388 139 112 53 45 187 164 2.266 De 30 a 39 141 52 269 138 72 51 37 31 126 71 988 De 40 a 49 46 27 89 57 53 40 18 10 46 25 411 De 50 a 59 12 10 29 7 22 14 5 1 11 10 121 De 60 a 69 7 1 10 5 8 5 4 1 4 - 45 De 70 em diante 4 - 3 - 1 - - - 8 TOTAL GERAL 703 704 1.136 1.134 313 321 139 135 444 441 5.470

Fonte: Elaboração própria, a partir dos mapas de casamentos de 1838 provenientes da Lei nº 46.

FIGURA 3 – Distribuição dos casamentos

por condição (livre ou escravo), Minas Gerais, 1838, 65 paróquias

FIGURA 4 – Distribuição dos casamentos

por qualidade e condição, Minas Gerais, 1838, 65 paróquias

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da

Tabela 2.

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da

Tabela 2. 4311; 79% 1159; 21% Livres Escravos 26% 41% 12% 5% 16% Brancos Pardos Livres Pretos Liv res Pardos Escravos Pretos Escravos

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Os casamentos concentram-se na população livre, que representam 79% das uniões registradas pelos párocos. Por qualidade e condição, a maioria dos casamentos registrados são de pardos livres (41%), seguido por brancos (26%) e pretos escravos (16%). Além dessa análise simples, o banco de dados, construído a partir dos Mapas de Casamentos, permite inferir em quais faixas etárias há concentração de casamentos e essa perspectiva pode ser contemplada pelo ponto de vista somente do sexo, da condição, da qualidade, ou agregando todas essas informações. Justamente por essa possibilidade que esse exercício metodológico torna-se interessante e importante, pois é possível calcular a idade média ao casamento com a base de dados das Listas Nominativas de População e contrastar com as informações presentes na base de dados dos Mapas de Casamentos.

O fascinante é o fato de duas fontes de dados distintas que, até o momento, não possuem uma conexão direta, em termos de confecção e origem, podem apresentar, cada uma com suas limitações, uma informação parecida. Caso os resultados sejam congruentes, isso denota a veracidade da informação presente nas fontes ou que as mesmas padecem dos mesmos problemas. No item a seguir foi descrito o método empregado nas Listas Nominativas de População para o encontro da idade média ao casamento.

METODOLOGIA

O SMAFM, Singulate Mean Age at First Marriage, é um método indireto que infere, através da proporção de solteiros, a idade média ao primeiro casamento. Esse método desenvolvido por Hajnal (1953) e, a partir dele, que o autor conseguiu inferir dois padrões de casamentos na Europa, um mais tardio e outro mais precoce. Os resultados do estudo de Hajnal (1953) foi importante para o desenvolvimento da discussão de padrões, ou regimes, demográficos.

O método necessita de pré-requisitos como: idade em números positivos, o pressuposto que uma vez casado o indivíduo não retorna ao status de solteiro, o percentual de casados não muda muito ao longo do tempo e a mortalidade não é seletiva por estado marital. O passo a passo do método consta no Manual X nas páginas 239-240. Resumidamente, o método usa a proporção de solteiros por faixa etária e calcula as seguintes medidas:

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( ) ( )

Os dados selecionados são as Listas Nominativas de População da década de 1830 somente das 65 paróquias que estão contempladas nos Mapas de Casamentos provenientes da Lei nº 46. Esse filtro foi realizado para tornar os resultados mais comparáveis. As Listas Nominativas de População para as 65 paróquias em análise abrangem uma população de 283.904 pessoas. Calculou-se o SMAFM para diversos subgrupos populacionais para comparabilidade com os dados dos mapas de casamentos, os resultados alcançados com os dados das 65 paróquias estão apresentados no próximo tópico.

RESULTADOS

Antes de apresentar os resultados alcançados, o trabalho de Braga et al. (2010) também analisou a idade média ao casar utilizando o acervo completo sobre a população livre das Listas Nominativas. Para esse estudo, a idade média ao casamento encontrada foi de 18 anos para as mulheres e 23 anos para os homens em Minas Gerais em 1830. Para a análise proposta neste artigo os resultados não serão exatamente os mesmos, pois não foi utilizada a mesma amostra de dados, devido ao filtro de seleção das 65 paróquias. Entretanto, era esperado que os resultados estejam em consonância com o alcançado por Braga et al. (2010).

Um dos fatores que pode ter influenciado tais resultados pode ser a tentativa de suavização dos dados, que talvez mereçam melhor tratamento, a amostra usada por Braga et al. (2010) não é a mesma o que também pode ter contribuído para discrepância nos resultados. Abaixo seguem as idades médias encontradas:

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TABELA 3 – Idade média ao casar por condição, sexo e qualidade (cor) – Minas Gerais,

1838-65 de 133 paróquias

Condição Livres Escravos

Qualidade/Sexo Homens Mulheres Homens Mulheres

Brancos 25,5 19,6 - -

Pardos 25,7 20,4 30,7 20,8

Pretos 27 21,3 25,5 19,9

Fonte: Elaboração própria, a partir das Listas Nominativas de População da década de 1830. Disponível em:

http://www.nphed.cedeplar.ufmg.br.

Os resultados por subgrupos populacionais são interessantes, pois estão, de certo modo, de acordo com os dados dos mapas de casamentos. Abaixo, segue uma série de gráficos, baseados nos mapas de casamentos, que mostram a concentração dos matrimônios por condição, qualidade e sexo.

FIGURA 5 – Distribuição dos casamentos da

população de qualidade branca por faixas etárias e sexo – Minas Gerais, 65 paróquias...

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da

Tabela 2.

FIGURA 6 – Distribuição dos casamentos da

população livre de qualidade parda por faixas etárias e sexo – Minas Gerais, 65 paróquias

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da

Tabela 2. 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Até 14 Anos De 15 a 19 De 20 a 29 De 30 a 39 De 40 a 49 De 50 a 59 De 60 a 69 De 70 em diante Q u an ti d ad e d e ca sa m e n to s Faixas Etárias Homens Mulheres 0 100 200 300 400 500 600 Até 14 Anos De 15 a 19 De 20 a 29 De 30 a 39 De 40 a 49 De 50 a 59 De 60 a 69 De 70 em diante Q u an ti d ad e d e ca sa m e n to s Faixas Etárias Homens Mulheres

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FIGURA 9 – Distribuição dos casamentos da população escrava de qualidade parda por faixas etárias e sexo – Minas Gerais, 65 paróquias

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da

Tabela 2.

A convergência dos resultados do SMAFM utilizando as Listas Nominativas com a concentração de casamentos por faixa etária dos Mapas de Casamentos sinaliza que os dados captam, apesar de algumas irregularidades, informações similares. As irregularidades referem-se ao fato de que alguns resultados do SMAFM são idades de “transição” para a faixa etária posterior como, por exemplo, no caso das mulheres escravas pretas que apresentaram o resultado de 19,9 anos de idade média ao casar e no mapa de casamentos a faixa etária com maior concentração foi de 20 a 29. Isso pode ter ocorrido, pois sabe-se que há um problema de declaração de idade nas Listas Nominativas que foi apontado e suavizado por Oliveira (2018). Entretanto, a suavização em si não consegue fazer grandes mudanças na estrutura etária que tem alta preferência por dígitos. Outro ponto que merece ênfase é o que ao trabalhar com subgrupos populacionais cada vez menores, os resultados

tornam-0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Até 14 Anos De 15 a 19 De 20 a 29 De 30 a 39 De 40 a 49 De 50 a 59 De 60 a 69 De 70 em diante Q u an ti d ad e d e ca sa m e n to s Faixas Etárias Homens Mulheres

FIGURA 7 – Distribuição dos casamentos da população livre de qualidade preta por faixas etárias e sexo – Minas Gerais, 65 paróquias

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da

Tabela 2.

FIGURA 8 – Distribuição dos casamentos da população escrava de qualidade parda por faixas etárias e sexo – Minas Gerais, 65 paróquias

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da

Tabela 2. 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Até 14 Anos De 15 a 19 De 20 a 29 De 30 a 39 De 40 a 49 De 50 a 59 De 60 a 69 De 70 em diante Q u an ti d ad e d e ca sa m e n to s Faixas Etárias Homens Mulheres 0 10 20 30 40 50 60 Até 14 Anos De 15 a 19 De 20 a 29 De 30 a 39 De 40 a 49 De 50 a 59 De 60 a 69 De 70 em diante Q u an ti d ad e d e ca sa m e n to s Faixas Etárias Homens Mulheres

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se mais sensíveis a esses problemas. Por outro lado, deve ser visto com olhos otimistas como os dados das Listas Nominativas referentes as 65 paróquias, sem nenhum tipo de ajuste, apresentam resultados similares aos dos Mapas de Casamentos.

Os resultados do SMAFM que mais convergiram com os gráficos foram de homens brancos, homens pardos (livres), homens e mulheres pretos (livres), mulheres pardas (escravas) e homens pretos (escravos). Os resultados alcançados podem ser vistos por dois espectros: o pessimista, em que pode-se levantar a hipótese que as duas fontes de dados padecem dos mesmos problemas ou a perspectiva otimista, em que percebe-se a sinalização de uma característica sobre a nupcialidade para essa população de Minas Gerais na primeira metade dos oitocentos.

CONCLUSÃO

O exercício metodológico proposto permite conclusões instigantes. Primeiramente, a positiva convergência das informações provenientes das bases de dados. Os resultados alcançados abriram um leque de possibilidades de combinações entre os dados populacionais, Listas Nominativas, e dados sobre nupcialidade, Mapas de Casamentos. Neste artigo, utilizou-se a base de dados de Mapas de Casamentos agregada para 65 paróquias, mas essas informações podem ser desagregadas e utilizadas para estudos regionais, pois a abrangência espacial dessa base é robusta.

Além das possibilidades e estudos futuros que são notadas por meio desse exercício, há uma sinalização de que os dados provenientes da Lei nº 46 de 1836 estão consoantes com as informações de bases de dados consagradas e utilizadas com afinco. Logo, esse exercício metodológico foi, também, uma avaliação da qualidade da informação dessa fonte. Outro ponto importante a ser destacado é o gap da idade média ao casar por qualidade (cor) entre mulheres ser menor que entre os homens, esse ponto merece atenção e deve ser investigado futuramente.

Com os resultados alcançados, o próximo passo é utilizar essas informações quantitativas e contrastá-las com as evidências da produção historiográfica sobre o tema, para enriquecer o diálogo entre a Demografia Histórica e a História Social.

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REFERÊNCIAS

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LEGISLAÇÃO E RELATÓRIOS DA ÉPOCA

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