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Turismo Comunitário. Estudo de caso: Ribeira Bote

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Academic year: 2021

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Estudo de Caso: Ribeira Bote

Departamento de Ciências e Tecnologias

Realizado por: Charlene Patrícia Brito da Graça Curso Gestão Hoteleira e Turismo Mindelo, 31 de Julho de 2013

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Charlene Gaça

Monografia: Projecto Ribeira Bote-Turismo Comunitário

Uma Oportunidade de Desenvolvimento da Comunidade de Ribeira Bote

Monografia submetida como requisito parcial para obtenção de Licenciatura em Gestão Hoteleira e Turismo

Orientador:

Professor Mestre JoãoRêgo Universidade do Mindelo

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AGRADECIMENTOS

Queria agradecer primeiramente a minha família que me apoiou incondicionalmente na elaboração deste trabalho e na participação deste do projecto em si.

Um obrigado muito especial ao meu orientador, o Mestre Rêgo, por ter apoiado o projecto desde o inicio, mesmo antes de ter decido torna-lo a minha monografia, e por ter estado sempre disponível para esclarecimento de dúvidas relativamente ao projecto e a monografia.

Quero ainda agradecer a todos os participantes e promotores do projecto sem os quais a ideia não teria saído do papel principalmente ao Frei Silvino, Marcus Leukel e Mirian Lopes.

Agradeço a minha irmã Marilene Graça e ao meu amigo Nibel Moreira pela revisão textual, pelas preciosas informações e documentos cedidos para consulta. E também ao meu amigo Anderson que esteve sempre disponível no terreno na pesquisa de campo. Um obrigado muito especial também a Comunidade de Ribeira Bote por ter acolhido este projecto de braços abertos e a todos os moradores que de uma forma ou outra deram o seu contributo para este trabalho.

E finalmente, mais importante agradeço a Deus por ter concluído mais uma etapa na minha vida sempre com humildade e dedicação.

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RESUMO

No âmbito da Licenciatura em Gestão Hoteleira e Turismo foi desenvolvido um estudo sobre uma iniciativa pioneira na área do turismo comunitário que está sendo realizado na ilha de São Vicente. O objectivo é analisar a viabilidade desse tipo de turismo tendo em conta as potencialidades e os constrangimentos dessa modalidade no desenvolvimento das comunidades locais.

A análise tem por base apresentar uma iniciativa recente denominada de Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário desenvolvido por um grupo de jovens da comunidade de Ribeira Bote. A partir da identificação das motivações e características deste novo tipo de turismo, apresenta-se alguns conceitos e característica da área de estudo, realçando as práticas desta nova abordagem turística que se diferencia do turismo convencional ou de massas, inscrevendo-se num movimento que procura contrariar os efeitos negativos da actividade turística e promover um desenvolvimento mais humano e sustentável das comunidades receptoras.

A orientação teórica e metodológica do estudo foi fornecida pelo enquadramento teórico-prático do turismo de base comunitário, argumentando-se que, mais do que a solidariedade de quem vem de fora, o Turismo Comunitário exige o envolvimento e a interacção da população local. A conclusão é como o desenvolvimento deste tipo de turismo poderá beneficiar directamente a comunidade receptora.

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ABSTRACT

Within the Bachelor of Hotel Management and Tourism has developed a study on a pioneering initiative in the area of community tourism which is being held on the island of SãoVicente. The aim is to analyze the feasibility of this type of tourism taking into account the potential and constraints of this modality in the development of local communities. The present analysisis based on a recent initiative called Project RibeiraBote-Community Tourism developed by a group of young community of Ribeira Bote. After identifying the motivations and characteristics of this new type of tourism, presents some concepts and characteristics of the studyed area, highlighting the practices of this new approach to tourism which differs from conventional tourismo or mass, joining amovement that seeks counteract the negative effects of tourism and promote more human and sustainable development of host communities.

Thetheoretical and methodological orientation of the study was provided by thetheoretical and practical frame work of the Community-Based Tourism, arguing that rather than the solidarity of those who come from outside the Community Tourism requires the involvement and interaction of the local population. The conclusion is how development of this type of tourism can directly benefit the host community.

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Índice

1 INTRODUÇÃO ... 11 1.1 Justificativa e Relevância ... 12 1.2 O Problema Da Investigação ... 12 1.3 Questão de partida ... 13 1.4 Objectivo Geral ... 13 1.5 Metodologia ... 14 1.6 Organização Do Trabalho ... 15 2 CAPITULO ... 16

2.1 Evolução do Conceito de Turista... 16

2.2 Conceito de Turismo... 19

2.3 O Turismo em Cabo Verde ... 25

2.4 Potencialidade e Atractivos Turísticos... 35

2.5 Fragilidades e Constrangimentos... 37

2.6 As Novas Tendências em Turismo ... 38

2.7 Turismo Social, Turismo Rural, Turismo Responsável, Ecoturismo, Turismo Justo e Turismo Comunitário. ... 42

2.8 O Turismo Comunitário ... 45

2.9 O Perfil da Demanda ... 51

2.10 O Turismo Comunitário em Cabo Verde ... 52

2.11 O Desenvolvimento Comunitário ... 52

2.12 O Capital Social... 56

3 CAPITULO ... 59

3.1 A Ilha de São Vicente ... 59

3.2 Aspectos Históricos ... 59

3.3 Aspectos Geográficos e Climatéricas ... 60

3.4 Aspectos Culturais e Turísticos ... 61

3.5 Perfil Urbano Do Mindelo ... 63

3.6 A Zona de Ribeira Bote ... 67

3.6.1 Importância Histórica ... 67

3.7 O Bairro de Ilha d` Madeira ... 70

3.8 Aspectos Positivos da Zona ... 71

4 CAPITULO ... 72

4.1 Estudo de Caso: Projecto Ribeira Bote - Turismo Comunitário... 72

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4.3 Avaliação do Projecto até ao Momento ... 80

4.4 Pesquisa no Terreno ... 82

4.4.1 População e Amostra ... 82

4.4.2 Método de Selecção da Amostra ... 82

4.4.3 Método de Colecta de Dados ... 83

4.4.4 O Questionário ... 83

4.4.5 A Entrevista ... 84

4.4.6 Tratamento e Analise de Dados ... 85

5 CAPITULO ... 93

5.1 Limitações e Desafios ... 93

5.2 Pistas para uma Prática Reflexiva de Turismo Comunitário ... 94

CONCLUSÃO ... 97

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 98

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Índice de Tabelas

Tabela 1- Evolução de hóspedes e dormidas 2000-2008 ... 27

Tabela 2 - Evolução dos hóspedes e das dormidas segundo ano, 2008-2012 ... 28

Tabela 3- Hospedes segundo o tipo de estabelecimento, por pais de residência habitual dos hóspedes, 2012 ... 29

Tabela 4- Hóspedes segundo a Ilha, por pais de residência dos hóspedes, 2012 ... 30

Tabela 5 - Dormidas segundo o tipo de estabelecimento, por pais de residência dos hóspedes, 2012 ... 32

Tabela 6 –Dormidas segundo Ilhas por pais de residência dos hóspedes, 2012 ... 33

Tabela 7 -Infra-estruturas e Serviços situados dentro e nos arredores da comunidade. ... 71

Tabela 8 - Lista de actividades produtivas dentro da comunidade ... 71

Tabela 9: Nível de conhecimento do projecto por parte da comunidade (%) ... 86

Tabela 10: Nível de conhecimento acerca dos responsáveis do projecto por parte da comunidade (%) ... 86

Tabela 11: Nível de conhecimento dos objectivos do projecto por parte da comunidade (%) ... 86

Tabela 12: Benefício da Comunidade em relação ao projecto (%) ... 87

Tabela 13: Percentagem das pessoas que já foram beneficiadas com as actividades do projecto (%) ... 87

Tabela 14: Opinião sobre os impactos positivos provocados pelo projecto (%) ... 87

Tabela 15: Opinião sobre os impactos negativos provocados pelo projecto (%) ... 88

Tabela 16: Nível de conhecimento dos objectivos do projecto por parte dos integrantes (%) ... 88

Tabela 17: Percentagem dos integrantes que já foram beneficiados com o projecto ... 88

Tabela 18: Opinião dos integrantes em relação a estrutura das visitas (%)... 89

Tabela 19: Opinião dos turistas em relação a estrutura das visitas (%) ... 90

Tabela 20: Opinião dos visitantes em relação ao preço das visitas... 91

Tabela 21: Percentagem dos visitantes que pretendem voltar a Comunidade ... 91

Tabela 22: Tabela 22: Percentagem dos visitantes que recomendarão e acham que deve-se continuar a apostar no Produto ... 91

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Índice de gráficos

Gráfico 1- Evolução das chegadas de turistas internacionais no mundo ... 23

Gráfico 2 - Hóspedes e Dormidas (%) segundo tipo de estabelecimento, 2012 ... 29

Gráfico 3- Hóspedes e Dormidas (%) segundo ilhas, 2012 ... 30

Gráfico 4- Hospedes e Dormidas(%) por pais de residência dos hóspedes, 2012 ... 31

Gráfico 5 –Estadia média (noites) segundo o tipo de estabelecimento,por pais de residência dos hóspedes, 2012 ... 34

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Lista De Abreviaturas

ADEI - Agência para Desenvolvimento Empresarial e Inovação CADM-SV - Centro de Apoio aos Doentes Mentais de São Vicente OIT – OrganizaçãoInternacional do Turismo

OMT - Organização Mundial do Turismo ONG - Organização Não Governamental ONU- Organização das Nações Unidas

PPT – Pro PoorTourism(Turismo “Pro-Pobres”)

PRB-TC – Projecto Ribeira Bote - Turismo Comunitário STEP –SustainableTourismEliminatingPoverty

TBC - Turismo de Base Comunitária TC –TurismoComunitário

UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Development

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNWTO - United Nations World Tourism Organization

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1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas o sector turístico experimentou uma vertiginosa expansão global, chegando a ser considerado de grande expressão na economia mundial. A ampliação geográfica do sector respondeu a processos distintos como às novas demandas de mercado, como estratégia de desenvolvimento local e, sobretudo, para integrar mercados regionais, essa expansão deu origem ao chamado Turismo Comunitário.

O Turismo Comunitário não é apenas uma atividade produtiva, procura ressaltar o papel fundamental da ética e da cooperação nas relações sociais. Valoriza os recursos específicos de um território e procura estabelecer relações de comunicação/ informação com agentes externos, entre eles e os visitantes.

Tendo em conta este novo tipo de turismo, o objectivo do trabalho é investigar um projecto que esta sendo desenvolvido na comunidade de Ribeira Bote, na Ilha de São Vicente, por um grupo de jovens e que consiste em criar condições para receber turistas dentro da referida zona, estimulando assim o desenvolvimento da referida comunidade através do turismo.

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12 1.1 Justificativa e Relevância

A investigação proposta justifica-se, pela preocupação com o desenvolvimento da comunidade de Ribeira Bote de forma sustentável e igualitária nas suas múltiplas dimensões – social, económica, cultural, política e ambiental.

Em termos científicos, tal abordagem é relevante na medida em que o turismo de base comunitário ainda é um campo disciplinar em afirmação e que precisa de mais e melhor reflexão e produção teórica.

1.2 O Problema Da Investigação

A literatura e o debate sobre Turismo Comunitário são muito recentes e incipientes e precisam de ser aprofundados, não fosse o turismo uma das principais actividades económicas do mundo, promovida por muitos países em desenvolvimento como opção estratégica para a redução da pobreza e motor de desenvolvimento. É o caso de Cabo Verde, que usufrui de um conjunto de características e especificidades geográfico-naturais e socio-culturais, como a sua beleza natural, a riqueza em termos de biodiversidade e endemismo, o clima tropical, o sincretismo de traços culturais africanos e europeus, que o torna particularmente atractivo enquanto destino turístico.

Visto que o turismo tem vindo a assumir um crescente destaque no arquipélago, importa agora analisar como é que o Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário contribui para o desenvolvimento social e económico da zona de Ribeira Bote, tendo em atenção as contradições desta actividade que, mesmo gerando rendimentos e diversificando as oportunidades de trabalho, faz emergir uma série de problemas sociais e ambientais, como degradação ambiental, especulação imobiliária, descaracterização cultural ou exploração sexual. Assim, em termos gerais, este trabalho de investigação pretende questionar as condições em que o turismo é potenciador de Desenvolvimento Comunitário.

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13 1.3 Questão de partida

Perante o contexto enunciado, a questão que se colocou na definição do problema de investigação foi perceber em que condições o turismo pode desempenhar um papel relevante no desenvolvimento das comunidades de acolhimento. Especificando esta questão de forma a tornar a sua resposta viável, tendo em conta o âmbito da investigação, foi possível redefinir a questão central da pesquisa nos seguintes termos: O Turismo Comunitário promove o desenvolvimento das comunidade receptoras?

Tendo em conta a questão de partida defeniram-se duas hipóteses: 1. O Projecto Ribeira Bote- enquadra-se no turismo comunitário. 2. O turismo comunitário desenvolve Ribeira Bote.

1.4 Objectivo Geral

Tendo em conta que o Turismo Comunitário é uma área em afirmação, o objectivo geral da investigação é aprofundar o conhecimento sobre este tipo Turismo, na sua relação com o Desenvolvimento Comunitário.

Para isso definimos três objectivos especificos

1. Identificar e caracterizar os efeitos produzidos pela actividade turística na comunidade, tendo em conta o Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário;

2. Sistematizar pressupostos teóricos e boas práticas em termos de Desenvolvimento Comunitário associado ao Turismo, tendo especificamente, em consideração a iniciativa de Turismo Comunitário;

3. Contribuir, através do conhecimento produzido, para uma abordagem reflexiva ao desenvolvimento do potencial turístico da Ribeira Bote.

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14 1.5 Metodologia

Como objecto de estudo tem-se a experiência de turismo comunitário na ilha de São Vicente mais propriamente na zona da Ribeira Bote. Para o alcance dos objectivos propostos e com o intuito de chegar a uma problematização mais detalhada das questões abordadas, norteou-se pela pesquisa-acção participativa que pode ser definida como um processo de questionamento sistémico, no qual aqueles que estão experimentando uma situação problemática participam em colaboração com pesquisadores na execução da pesquisa e nos rumos das decisões a serem tomadas diante das demandas surgidas e não necessariamente das priorizadas pelo pesquisador.

Foram utilizados dados oriundos da aplicação de questionários a turistas e visitantes que participaram das experiências de Turismo de Base Comunitária na Ribeira Bote, no período de Março a Julho de 2013 com 50 visitantes no intuito de se conhecer a percepção dos turistas que visitam o local de forma a propiciar uma maior integração destes aspectos no planeamento do turismo desenvolvido no local e, consequentemente, garantir uma experiência rica e agradável aos visitantes sem causar impactos significativos aos recursos naturais e principalmente culturais. Fez-se uso também de inquéritos aplicados a 145 pessoas moradores da comunidade e 18 participantes directos do projecto com o objectivo de perceber se a comunidade tem sido beneficiado com o projecto.

Utilizou-se entrevistas para apurar dados relevantes para o trabalho, á pessoas que deram o seu contributo para o desenvolvimento deste projecto bem como pesquisa bibliográfica referente ao tema proposto e outros assuntos relacionados que demonstraram ser de especial interesse para a investigação.

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15 1.6 Organização Do Trabalho

A presente monografia encontra-se dividida em 5capitulos. O percurso do trabalho inicia com uma Introdução geral do tema proposto, seguido dos Objectivos e Metodologias de Estudo, sendo este o capitulo .I

No capitulo II apresenta-se o enquadramento teórico-conceptual onde se faz uma incursão pelo Turismo, as Novas Tendências em Turismo, o Turismo Comunitário, e o Desenvolvimento Comunitário.

Em seguida, procede-se a caracterização da área de pesquisa: da ilha de São Vicente e da zona de Ribeira Bote que é o capítulo III, eapresentação do estudo de caso: Projecto Ribeira Bote - Turismo Comunitário e a análise dos dados recolhidos, procurando-se aferir a presença das características do Turismo Comunitário no projecto e os seus contributos para o Desenvolvimento Comunitário, capítulo IV. O trabalho encerra com alguns desafios, limitações encontrados no âmbito da realização do trabalho e pistas para uma prática reflexiva de Turismo Comunitário, compondo o capitulo V.

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2 CAPITULO

2.1 Evolução do Conceito de Turista

O conceito de turista evoluiu ao longo do tempo porque não havia necessidade de identificar o movimento da deslocação de pessoas de um lado para outro. A necessidade de uma expressão para designar um indivíduo que se desloca só se verificou quando o homem se tornou sedentário, conduzindo a noção de territorialidade e de fronteira. A partir daí passou a chamar-se hóspede, viandante, viajante ou forasteiro.

Estas expressões mantiveram-se durante séculos para designar qualquer pessoa que se deslocasse, com objectivos pacíficos, independentemente da razão porque o fazia. Só quando as deslocações das pessoas por motivos de prazer, de cultura ou de repouso, alcançaram carácter de regularidade, dando origem a actividades económicas, é que se passou a haver necessidade de as designar por uma expressão própria.

Não se conhece o momento exacto do aparecimento da palavra mas é geralmente aceite que tem origem nas viagens que os ingleses se habituaram a realizar no continente europeu, para complemento da sua educação, sobretudo a partir de finais do século XVII, durante as viagens que realizavam a GrandTour (Boyer 2000). Aqueles que participavam nestas viagens passaram a ser conhecidos por *turistas* (tourists) e a actividade a que deram origem passou a designar-se por turismo (tourism). Alguns autores identificam o ano de 1760 (Fuster, 1967) como aquele em que a palavra tour aparece documentalmente mas é a partir da publicação, em 1838, das Mémoires d únTouriste de Stendhal que se generaliza a expressão turista (tourist).

Inicialmente a palavra turista era utilizada exclusivamente para designar aqueles que viajavam por mero prazer, ou para aumentar os seus conhecimentos, com exclusão de todas as pessoas que se deslocavam por um motivo diferente: profissional, de saúde ou religioso. A própria natureza da viagem turística identifica-se com o desejo de conhecer as

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17 particularidades e a maneira de viver de outros povos, as suas tradições, o exotismo, mas também a descoberta de novas paisagens, da natureza e do pitoresco ou do carácter histórico dos aglomerados urbanos: aldeias, vilas e cidades.

A medida, porém, que as viagens se foram tornando mais fáceis e a elas tiveram acesso camadas cada vez mais vastas da população foram-se alargando os motivos pelos quais as pessoas viajavam e, na actualidade, torna-se impossível separar as pessoas que viajam por puro prazer daquelas que o fazem por outros motivos

De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre o Turismo e as Viagens Internacionais em Roma (1963) esta definição passou a compreender dois grupos de visitantes:

Turistas, isto é, os visitantes que permanecem pelo menos 24 horas no país visitado e cujos motivos de viagem podem ser agrupados em:

a) Lazer, repouso, férias, saúde, estudo, religião e desporto. b) Negócios, famílias, missões, reuniões.

Excursionistas, isto é, os visitantes temporários que permanecem menos de 24 horas no país visitado (incluindo viajantes em cruzeiros).

Em conformidade com esta definição o termo visitante, bem como os seus derivados turista e excursionista, eram reservados exclusivamente às deslocações internacionais. Nesta visão só era considerado visitante e, consequentemente, turista, quem se deslocasse ao estrangeiro e o turismo identificava-se com os movimentos internacionais.

A concepção que identificava o turismo com as deslocações internacionais prevaleceu durante muito tempo e ainda hoje erradamente, se mantém em vastos sectores da opinião pública reduzindo a importância do turismo apenas à sua dimensão internacional quando esta já não é mais importante e, em muitos casos, nem sequer é a que produz maiores rendimentos económicos e sociais.

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18 De acordo com a OMT – (Organização Mundial do Turismo) (1994) o termo “visitante”mantêm-se como conceito básico de todo sistema estatístico do turismo do qual derivam os restantes conceitos. Com efeito, de acordo com a última definição adoptada pela ONU (Organização das Nações Unidas) (1993), por recomendação da OMT, passou-se a ter os passou-seguintes conceitos:

1. Visitante é toda a pessoa que se desloca a um local situado fora do seu ambiente habitual durante um período inferior a 12 meses consecutivos e cujo motivo principal da visita é outro que não seja o de exercer uma actividade remunerada no local visitado.

2. Turista é todo o visitante que passa pelo menos uma noite num estabelecimento de alojamento colectivo ou um alojamento privado no local visitado.

3. Visitante do dia (same-day-visitor), em substituição do termo excursionista é todo o visitante que não passa a noite no local visitado.

Sempre que uma pessoa se desloca para um local diferente daquele onde reside para aí se consagrar a uma actividade remunerada ou para acompanhar ou se juntar a outrem que aí exerce essa actividade, ficando a cargo desta, é considerado como emigrante não podendo ser incluído na categoria dos visitantes. Os estudantes e pessoas que se deslocam a um país estrangeiro ou dentro do próprio país mas que custeiam as suas despesas exercendo uma actividade no local visitado também não são consideradas turistas.

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19 2.2 Conceito de Turismo

Tal como o conceito de turista, também o conceito de turismo sofreu varias alterações ao longo dos tempos. Contudo foram os professores Walter Hunziker e Kurt Krapf que estabeleceram uma definição mais elaborada em 1942, definindo o turismo como «o conjunto das relações e fenómenos originados pela deslocação e permanência de pessoas fora do seu local habitual de residência, desde que tais deslocações e permanência não sejam utilizadas para o exercício de uma actividade lucrativa».

Em 1982, Mathienson e Wall apresentam uma definição mais conceptual considerando o turismo como «movimento temporário de pessoas para fora dos seus locais normais de trabalho e de residência, as actividades desenvolvidas durante a sua permanência nesses destinos e as facilidades criadas para satisfazer as suas necessidades.»

Tendo presente as diversas definições e perspectivas existentes sobre o conceito de Turismo, optou-se pela definição amplamente difundida pela OMT, segundo a qual Turismo representa as actividades de pessoas que viajam para lugares fora do seu ambiente habitual, por não mais do que um ano consecutivo, por motivos de lazer, negócios ou outros não relacionados com o exercício de uma actividade remunerada no local visitado. Para haver turismo tem que haver deslocação, mas nem toda a viagem é turismo, sendo usados três critérios, simultaneamente, para que se possa caracterizar uma viagem como turismo:

– Deslocação: para fora do ambiente habitual;

– Motivo: a viagem deve ocorrer com qualquer finalidade que não seja a remuneração a partir do local visitado;

– Duração: apenas uma duração máxima é mencionado, não a mínima, o que significa que não necessita de haver pernoita.

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20 Para além destes critérios mais objectivos, o turismo é um fenómeno multifacetado, um verdadeiro fenómeno social total, com múltiplas dimensões – social, económica, histórica, cultural, psicológica, ambiental – que importa considerar.

Do ponto de vista histórico, o acto de viajar está presente desde os primórdios da humanidade, por motivos de sobrevivência, comerciais, expansionistas, religiosos, ou pelo simples desejo de conhecer novos povos e culturas. As primeiras formas de turismo moderno situam-se em meados do século XIX, nomeadamente o turismo de montanha, balnear, o termalismo, considerando-se Thomas Cook o primeiro agente de viagens do mundo. As capacidades de alojamento, os meios de transporte e os equipamentos turísticos tiveram um crescimento exponencial, seguindo a procura de uma clientela cada vez mais numerosa e diversificada. Laurent sistematiza um conjunto de causas que estão na origem do turismo de massas: o aumento da longevidade, a descida da idade de reforma, a redução da duração do trabalho, o aumento dos tempos livres, a melhoria do nível de vida, a explosão da publicidade, mas também a necessidade de evasão e de compensação dos constrangimentos profissionais e privados da civilização industrial ocidental (Laurent, 2003: 7).

Do ponto de vista da Ciência Económica, o turismo surge como uma actividade económica ou um ramo de actividades, cujo mercado resulta do funcionamento das forças da oferta e da procura turísticas. O bem turístico engloba o produto turístico – produzido exclusivamente no âmbito da indústria turística mediante o recurso a uma tecnologia própria – e o serviço turístico – produzido em qualquer sector económico, mas só adquirindo o estatuto de serviço turístico no momento em que o acto de consumo é perpetrado por um turista (Matias, 2007: 31). Entre estes destacam-se os serviços de transporte, os serviços de alojamento e hotelaria, os serviços de distribuição de viagens

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21 (operadores turísticos, agências de viagens e outros intermediários), entre outros serviços e produtos associados às novas e alternativas formas de turismo (WTO, 1999).

Laurent aponta quatro características que fazem do turismo um sector tão específico, ao mesmo tempo que o colocam em relação com os processos de desenvolvimento (2003:14): a explosão da oferta turística é produto do marketing e de uma evolução cultural favorável ao lazer nos países ricos e, dado o carácter não vital do produto turístico, pode ficar em sobre-abundância logo que surjam dificuldades junto dos consumidores; os potenciais compradores dispõem de uma oferta planetária de produtos e de destinos turísticos cuja concorrência é global e em permanente renovação; em relação às transacções económicas habituais, o turismo apresenta a particularidade de a procura se deslocar em direcção à oferta, já que o produto turístico não é um bem móvel; o cliente não pode ver o produto antes da decisão de compra, pelo que se impõe o desenvolvimento de elaboradas estratégias de comunicação e a implantação de um marketing eficaz para conquistar a sua decisão.

Do ponto de vista sociológico, o turismo é um campo muito rico, embora ainda pouco explorado. No prefácio do livro “The Sociology of Tourism” (Apostolopouloset al, 1991) é referido que, devido à escassa utilização de teorias e abordagens metodológicas mais sofisticadas, a Sociologia do Turismo, enquanto especialidade sociológica formalizada, está ainda para ser reconhecida no interior do campo da Sociologia. Ainda assim, encontramos nesta obra um trabalho pioneiro de sistematização da análise sociológica do fenómeno turístico na sua relação com temas como o indivíduo, género, classe, dependência, desenvolvimento, instituições sociais, mudança social, mercantilização, entre outros. Cohen (1991: 51) considera quatro categorias principais da investigação sociológica sobre Turismo o turista; as relações entre turistas e residentes; a estrutura e funcionamento do sistema turístico; as consequências do turismo. Por sua vez, Dann e

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22 Cohen (1991), considerando que ainda não existe nenhuma perspectiva sociológica universalmente aceite, analisam diferentes teorias sociológicas e sua aplicação ao turismo, desde as perspectivas mais micro às mais abrangentes de carácter macro-social. Para os autores, dada a complexidade do fenómeno, não pode haver uma única Sociologia do Turismo, defendendo, por isso, o ecletismo na análise, em vez de se limitarem a uma linha teórica específica. Neste sentido, é necessário considerar uma diversidade de contributos que procuram compreender sociologicamente diferentes aspectos do turismo, partindo de diferentes perspectivas teóricas. Os autores concluem ainda que a Sociologia por si só fornece apenas uma interpretação parcial do fenómeno multifacetado que é o turismo. Daí a necessidade de combinar os contributos da Sociologia com os de outras ciências sociais. Também Urry tem-se debruçado sobre o turismo, incidindo a sua análise no olhar do turista e como este se demarca do “outro” (1995), nos destinos enquanto locais de consumo (1997) e no turismo enquanto uma cultura ou um estilo de vida (2002).

Finalmente, e sem sermos exaustivos, do ponto de vista da Antropologia, MacCannell(1976) é um autor pioneiro e de referência na abordagem ao Turismo, explicando o fenómeno como uma busca por uma autenticidade perdida, numa crítica à civilização ocidental. Numa outra abordagem, Beek (2007) considera que o turismo gera uma visão do outro consistente com a visão do self, enquanto, do outro lado, o turista é percebido de formas diversas dependendo dos processos de definição da identidade colectiva de quem é visitado.

A internacionalização do turismo significa que todos os objectos potenciais à contemplação do turista podem ser localizados numa escala e ser comparados uns com os outros. Significa também que não podemos explicar os padrões turísticos numa sociedade em particular sem analisar o desenvolvimento ocorrido noutros países (Urry, 1991b: 200).

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23 As estatísticas disponibilizadas pela OMT enfatizam a importância económica do turismo a nível global, considerando que o seu crescimento contínuo e a sua diversificação fazem do sector um dos maiores e mais rápidos motores de crescimento económicos em todo o mundo. O número de chegadas internacionais mostra uma evolução de 25 milhões de chegadas internacionais em 1950 para um valor aproximado de 903 milhões em 2007, correspondendo a uma taxa média de crescimento anual superior a 6%. As receitas totais geradas por estas chegadas (receitas do turismo internacional e transporte de passageiros) cresceram a um ritmo semelhante, ultrapassando o crescimento da economia mundial, superando 1 trilião de dólares em 2007, ou seja, quase 3 biliões de dólares por dia (WTO, 2008).

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24 Regionalmente, entre 1950 e 2005 o desenvolvimento turístico foi particularmente forte na Ásia e no Pacífico (média de 13% por ano), no Médio Oriente (10%) e até mesmo em África (8%). Na América (5%) e Europa (6%), cresceu a um ritmo mais lento e ligeiramente abaixo da média mundial, mas, ainda assim, foram as principais regiões turísticas, representando uma quota de mercado conjunta de mais de 95% em 1950 e 76% em 2000. As receitas do turismo internacional representaram, em 2003, cerca de 6% das exportações mundiais de bens e serviços e, se considerarmos apenas as exportações de serviços, a quota das exportações do turismo aumenta para quase 30%.

Com o surgimento de novos destinos e a expansão do investimento no sector, o turismo tornou-se uma das principais categorias do comércio internacional. Hoje, o turismo internacional é o quarto sector de exportação que gera mais rendimentos, depois dos combustíveis, dos produtos químicos e do sector automóvel. Para muitos países em desenvolvimento, tornou-se numa das principais fontes de rendimento e exportação, gerando a criação de emprego e oportunidades para o desenvolvimento (WTO, 2008). Entretanto, os anos de 2008 e 2009 são marcados por uma conjuntura de crise económica e recessão a nível mundial que se reflectiu sobre o sector do turismo, com uma forte quebra no crescimento das chegadas de turistas internacionais, atingindo valores negativos em algumas regiões, de acordo com os últimos dados da OMT (WTO, 2009).

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25 2.3 O Turismo em Cabo Verde

Cabo Verde é um pequeno arquipélago formado por 10 ilhas (Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, São Nicolau, Sal, Boavista, Maio, Santiago, Fogo e Brava) e alguns ilhéus, localizado no Oceano Atlântico, a 500 milhas da costa do Senegal, e a 4hs de voo de Portugal. Descoberto em 1462 por navegadores portugueses a caminho das Índias, foi, nos primeiros séculos depois do descobrimento, um dos mais importantes entrepostos no comércio de escravos africanos, tendo sido aqui fundada a primeira cidade pelos europeus nesta região da África (Ribeira Grande de Santiago, hoje chamada Cidade Velha), cujas ruínas constituem hoje objecto de estudo e investigação e atractivo turístico importante na ilha de Santiago.

O país tem um clima do tipo quente, subtropical seco, com uma temperatura média anual de 25º, características que conferem às ilhas – juntamente com a sua localização e a origem vulcânica, uma identidade geofísica rica, diversa e com acentuados contrastes paisagísticos: relevo acidentado e caprichoso e áreas completamente planas; paisagens verdejantes e paisagens áridas; extensas praias e encostas escarpadas; paisagens urbanas e cosmopolitas e paisagens rurais.

Estas condições naturais específicas, a par de uma cultura marcante e diversificada e de uma história rica, constituem um dos mais importantes atractivos do país no que diz respeito à sua competitividade como destino turístico, não obstante a sua fragilidade em termos de equilíbrio ambiental, que requer uma abordagem cuidadosa no quadro do desenvolvimento da actividade turística.

Com uma superfície de 4.033km2, alberga um total aproximado de 500 mil habitantes (dados do INE, 2008), concentrados sobretudo nas ilhas de Santiago (282,7 mil), São Vicente (76 mil), Santo Antão (48 mil) e Fogo (37 mil). De destacar, entretanto, o forte ritmo de crescimento da população nas ilhas do Sal e Boavista, sobretudo estimulado pelo

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26 crescimento do turismo nessas ilhas. A estrutura da população cabo-verdiana é marcada pela juventude (em 2008, 24% da população tinha menos de 15 anos e 59% tinha de 15 a 64 anos) e por agregados familiares numerosos (em média, 4,9 pessoas por família). O país regista igualmente um dos mais elevados indicadores de desenvolvimento social da África Subsaariana (IDHS de 0,705 em 2008), com 83% da população acima de 15 anos alfabetizada e esperança de vida de 71,3 anos.

Em termos de organização administrativa, Cabo Verde divide-se actualmente em 22 concelhos, que se subdividem em freguesias e estas em povoados ou bairros. A Cidade da Praia é a Capital do país. Existem, no entanto, outras 5 cidades: Mindelo (na Ilha de São Vicente), São Filipe (na Ilha do Fogo), Assomada (na Ilha de Santiago), Porto Novo (na Ilha de Santo Antão) e Ribeira Grande(antiga Cidade Velha, na Ilha de Santiago).1

Pode-se dizer que o turismo em Cabo Verde teve o seu início ainda na década de 60 do século passado, após a construção do aeroporto internacional na ilha do Sal. A imobiliária turística arranca igualmente na ilha do Sal, com a actuação de investidores sobretudo italianos (entre os quais os fundadores do actual Grupo Stefaninna), e também de investidores nacionais, que em 1991 fundam a empresa Turim para a construção de um aldeamento na baía da Murdeira.

No entanto, o crescimento do sector turístico como actividade económica relevante no processo de desenvolvimento de Cabo Verde é bastante recente (anos 90 do século passado), impulsionado por diversos factores onde podemos destacar a crescente visibilidade conferida pelo fenómeno Cesária Évora, a “descoberta” das ilhas por investidores do sector, primeiro, portugueses e italianos, seguida depois por espanhóis e

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Dados obtidos através do Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em Cabo Verde 2010/2013 p.27

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27 ingleses, a própria assumpção pelos sucessivos governos desde então, do turismo como uma das principais alavancas da economia cabo-verdiana.

Nos últimos 8 anos, o número de turistas em Cabo Verde cresceu a uma média de 11,4% ao ano - taxas superiores ao crescimento do turismo mundial – tendo passado de 145.000 turistas em 2000 para 333.354 em 2008. No mesmo período, as dormidas aumentaram de 684,7 mil para 1,8 milhões, um crescimento anual médio de 14,5% no período em referência.

Em 2008, não obstante os efeitos negativos da crise sobre o turismo mundial, Cabo Verde registou um aumento de 7% no fluxo de turistas em relação ao ano anterior, um crescimento, entretanto, inferior à média registada nos últimos anos. Por seu lado, o número de dormidas aumentou 27% em relação a 2007, como resultado do aumento da estadia média de 4,3 para 5,2 dias em 2008.

Contudo, apesar da diversidade em termos de produtos turísticos que Cabo Verde apresenta, nem todas as ilhas se têm beneficiado desta dinâmica. De facto, constata-se que em 2008 94,7% do fluxo de turismo concentra-se em 4 ilhas, Sal (57%), Santiago (20,1%), Boavista (9,9%) e São Vicente (7,6%). De realçar o crescimento do fluxo para a ilha da Boavista, que aumentou 4,9 pontos percentuais em relação ao ano anterior, fruto da abertura do aeroporto internacional na ilha em Novembro de 2007.

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28 Tal desequilíbrio resulta, sobretudo, das dificuldades nas ligações aéreas e marítimas entre as ilhas (insuficiência de ligações, preços elevados, desarticulação entre horários com impacto no tempo morto gasto em viagens, etc.), da insuficiência de infra-estruturas turísticas em algumas das ilhas e da deficiente promoção de todas as ilhas de forma integrada e complementar.2

No ano de 2012, a hotelaria registou cerca de 534 mil hóspedes, correspondendo a um acréscimo de 12,3% face ao ano de 2011. No mesmo período, as dormidas cresceram 17,9%. O Reino Unido foi o principal país de proveniência de turistas. Os turistas do Reino Unido foram os que permaneceram mais tempo em Cabo Verde, com uma estadia média de 9,1 noites. A ilha da Boa Vista foi a ilha mais procurada pelos turistas, representando cerca de 38,1% das entradas nos estabelecimentos hoteleiros.

Hóspedes e Dormidas

No período de Janeiro a Dezembro de 2012 os estabelecimentos hoteleiros registaram cerca de 534 mil hóspedes e 3,3 milhões de dormidas. Em termos absolutos representaram 58.583 entradas e 506.713 dormidas à mais do que os valores registados em 2011.

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Dados obtidos através do Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em Cabo Verde 2010/2013 p.50

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29 A análise por tipo de estabelecimentos, revela que os hotéis continuam sendo os estabelecimentos hoteleiros mais procurados, representando 85,0% do total das entradas. Seguem-se as pensões e as residenciais, com cerca de 5,2% e 4,8%, respectivamente. Relativamente às dormidas, os hotéis representam 91,8%, os caldeamentos turísticos 2,8% e as residenciais 2,2%.

Gráfico 2 - Hóspedes e Dormidas (%) segundo tipo de estabelecimento, 201

Tabela 3- Hospedes segundo o tipo de estabelecimento, por pais de residência habitual dos hóspedes, 2012

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30 A Ilha da Boa Vista, a semelhança do ano anterior, continua a ter maior acolhimento, com 38,1% do total das entradas, seguido da ilha do Sal, com 35,2% e Santiago com 12,9%. Em relação às dormidas, a ordem é a mesma: Boavista com 47,4%, Sal com 42,2% e Santiago, com 4,4%.

Fonte INE

Gráfico 3- Hóspedes e Dormidas (%) segundo ilhas, 2012

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31 A maioria dos turistas provenientes do Reino Unido preferiu como destinos as ilhas da Boa Vista e Sal representando, respectivamente 63,3% e 36,2% das dormidas e escolheram como local de acolhimento os hotéis, 99,7%.

As dormidas dos residentes na Alemanha distribuíram-se principalmente pelas Ilhas da Boavista (48,5%) e Sal (46,9%). Os hotéis foram os tipos dos estabelecimentos mais procurados pelos Alemães, representando cerca de 92,4%.

Os visitantes provenientes de Portugal escolheram como destinos principais as ilhas do Sal (40,5%), Boa Vista (40,3%) e Santiago (14,3%). Preferiram também, os hotéis como o principal meio de alojamento, representando 92,8%.

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32 Tabela 5 - Dormidas segundo o tipo de estabelecimento, por pais de residência dos hóspedes,

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33 No ano em apreço, em média, a taxa de ocupação-cama, a nível geral, foi de 57%, ligeiramente inferior à registada em 2011 (58%). As ilhas da Boa Vista e do Sal tiveram as maiores taxas de ocupação – cama com 82% e 57%, respectivamente.

Os hotéis foram os estabelecimentos hoteleiros com maior taxa de ocupação – cama, 66%. Seguem-se-lhes os hotéis-apartamentos e os aldeamentos turísticos, ambos com 23%.

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34 Os dados apurados pelo INE, mostram também que os visitantes provenientes do Reino Unido foram os que tiveram maior permanência média em Cabo Verde no ano em análise (9,1 noites). A seguir estão os provenientes da Alemanha (7,2 noites) e da Bélgica e Holanda com 7,0 noites. Os Cabo-verdianos residentes permaneceram, em média, 2,7 noites nos estabelecimentos hoteleiros durante o ano 2012.3

3

Todos os dados referentes as estatísticas do turismo no período de 2008 á 2012 foram obtidos através da Folha de Informação Rápida do INE Estatísticas do Turismo 2012 - Movimentação de Hóspedes (p.7, 14)

Gráfico 5 –Estadia média (noites) segundo o tipo de estabelecimento,por pais de residência dos hóspedes, 2012

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35 2.4 Potencialidade e Atractivos Turísticos

As características naturais e socio-culturais das ilhas constituem, como referimos atrás, uma das suas forças, nomeadamente por constituírem fortes atractivos turísticos, associados à imagem de um ambiente tropical, de praias de águas quentes e límpidas, gentes calorosas e múltiplas expressões culturais.

Enquanto destino cultural, encontramos em Cabo Verde inúmeras expressões que constituem elementos de atracção turística como a música, a dança, o teatro, as festividades locais, os locais e edifícios históricos, a gastronomia, a arte e o artesanato, as manifestações religiosas, as próprias actividades e modos de vida dos habitantes. Nestas várias manifestações culturais está presente o sincretismo entre as raízes africanas e europeias.

Começando pelo artesanato cabo-verdiano, destaca-se a cestaria em caniço, a tecelagem em algodão, a tapeçaria, a cerâmica e os trabalhos em casca de côco, batik, conchas e bonecas de trapos, sendo o pano di terra4o produto de maior referência, com um grande valor para a história e cultura cabo-verdiana. As datas festivas e os festivais constituem outro atractivo turístico de destaque, sendo a principal festa cabo-verdiana o Carnaval, festejado em todas as ilhas, com destaque para o de Mindelo. Existem ainda várias festas regionais, sobretudo de carácter religioso, associadas aos santos populares de cada região, como o Kola San Jon da ilha de Santo Antão, em que à tradicional missa e procissão se acrescenta a música e a dança. Em termos de cultura musical, Cabo Verde é conhecido

4

A história da nação cabo-verdiana está associada ao “pano di terra”. No passado, Cabo Verde, no sentido de alimentar as transacções do comércio da escravatura, desenvolveu uma verdadeira indústria familiar de panaria, a ponto de o historiador António Carreira afirmar: “Pomos sérias dúvidas se o tráfico de escravos chegaria a tomar as proporções que tomou, sem o algodão e sem os panos de vestir, estes sobretudo depois de introduzida a padronagem com desenhos em relevo. O algodão e o pano foram incontroversamente uma das mais importantes mercadorias usadas no tráfico” (www.areasprotegidas.cv).

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36 sobretudo pelas suas mornas e coladeiras, mas também por outros estilos musicais mais ritmados e dançáveis, como o funaná ou o batuque.

Alguns festivais são já uma referência, como é o caso do festival de Música da Baía das Gatas e o Festival de Teatro Mindelact, em São Vicente; o Festival de Gamboa e o recém-criado Kriol Jazz Festival, em Santiago. Na gastronomia, destaque para a cachupa, na fusão entre as influências africanas e portuguesas, e, nos produtos agro-pecuários, o queijo, os doces, os vinhos, licores e o famoso grogue5. Em termos de locais históricos destaca-se, na ilha de Santiago, a Cidade Velha, desde 2009 classificada pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como património da Humanidade, entre muitos outros locais de elevado valor histórico e artístico.

Os atractivos naturais, para além do sol e praia, são igualmente muito diversos, desde a paisagem lunar do vulcão da ilha do Fogo, à zona florestal do Planalto Leste, em Santo Antão, a observação de tartarugas na Boavista, ou as salinas do Maio e do Sal, muitos dos quais em contexto de áreas protegidas amplamente implantadas em todo o arquipélago. A este propósito, do ponto de vista de actividades desportivas e de lazer, Cabo Verde está sobretudo associado às actividades náuticas, como a pesca, o mergulho, a observação de corais, o windsurf, bodyboard ou surf, mas existem também muitas zonas montanhosas, propícias ao montanhismo e trekking6.

Cabo Verde goza ainda de aspectos importantes como excelentes condições e qualidade ambiental e um equilíbrio da relação do homem com a natureza; o património e tradição sociocultural; a identidade e estilos de vida distintos do das sociedades industriais e urbanas – função de reserva (ecológica, patrimonial, cultural) face ao mundo industrial; a morabeza; a segurança, a paz e a tranquilidade.

5

Grogue é uma aguardente de cana-de-açúcar fabricada por métodos artesanais. O mais conhecido e

apreciado é o da Ilha de Santo Antão

6

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37 2.5 Fragilidades e Constrangimentos

Apesar do grande potencial turístico de Cabo Verde, o seu desenvolvimento é dificultado pela presença de um conjunto de vulnerabilidades e constrangimentos, tais como:

– Carências ao nível das infra-estruturas básicas em algumas ilhas (condições de habitabilidade, qualidade da água, saneamento, recolha e tratamento de resíduos, sistema de saúde e educação, equipamentos de lazer, cultura e desporto);

– Fragilidade dos meios de transporte, comunicações, electricidade e acessibilidades; – Predominância de situações de pobreza;

– Destino procurado para turismo sexual;

– Pressões imobiliárias e turísticas, com expansão desordenada das áreas urbanas; – Falta de recursos financeiros para efectuar os investimentos necessários;

– Falta de informação para os turistas, quer no exterior, quer localmente;

– Dificuldade em garantir o abastecimento regular de bens e serviços em algumas ilhas do País;

– Procura turística interna limitada, ainda assim em crescimento.

Apesar de Cabo Verde dispor de algumas infra-estruturas, consultores externos consideram que a qualidade dos serviços turísticos – dominado pelo sol e praia – senão for melhorada poderá comprometer a sustentabilidade do sector a longo prazo; em particular, é urgente a implantação de sistemas de saneamento e de reciclagem de águas residuais, bem como a melhoria dos sistemas de recolha de resíduos sólidos.

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38 2.6 As Novas Tendências em Turismo

A indústria turística mundial tem enfrentado grandes desafios, tanto a nível local como a nível global, o que levou a novas preocupações em relação ao desenvolvimento sustentado e equilíbrio ambiental das zonas onde o desenvolvimento turístico tem maior impacto. Ao longo dos tempos, o turismo tem sido enaltecido e criticado, por investigadores, políticos, gestores e pelas próprias comunidades de acolhimento. Por um lado, o turismo é uma das principais actividades económicas do mundo, com efeitos positivos a diferentes níveis:

– A nível macroeconómico, contribuindo para o aumento dos rendimentos do Estado, entrada de divisas, atracção de investimento estrangeiro e estímulo ao investimento em geral, maior equilíbrio da balança comercial;

– Estímulo de diferentes actividades económicas – de forma directa: alojamentos, restaurantes, cafés e bares, serviços de lazer e organização de viagens e visitas, serviços locais (transporte, cabeleireiro, comunicações), produtos e serviços periféricos (tais como transporte domicílio-destino, compras de preparação para a viagem, feiras e salões); de forma indirecta: através das cadeias de abastecimento, nomeadamente em sectores como a agricultura ou a indústria local as pescas e a construção civil;

– Criação de emprego;

– Valorização dos recursos naturais e culturais, criando valor económico e protecção de recursos que de outra forma não teriam valor para as populações locais;

– Promoção do diálogo intercultural e abertura a outros modelos culturais; – Melhoria do nível e qualidade de vida;

– Melhoria das infra-estruturas em geral; – Promoção das artes e artesanato;

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39 – Aumento do nível educacional da população local (aprendizagem de novas competências, línguas e culturas estrangeiras).

Contudo, apesar dos potenciais impactos positivos do turismo sobre os países de acolhimento, esses impactos geralmente beneficiam apenas uma minoria da população e as externalidades negativas que acompanham as formas dominantes de turismo (turismo de massa, capitalista, industrial) são consideráveis:

– Geralmente, há uma excessiva dependência face ao investimento estrangeiro, sobretudo nos países menos desenvolvidos, com perda de controlo local sobre os recursos;

– É frequente a fuga de divisas, devido ao endividamento externo necessário para fazer face ao investimento inicial e porque as entradas são penalizadas pelas crescentes necessidades de produtos e serviços importados;

– Como consequência, as riquezas geradas pelo turismo são desigualmente repartidas, já que, sendo os territórios de acolhimento do turismo de massa países em vias de desenvolvimento, estes não controlam os fluxos turísticos, os quais são dominados por grandes grupos económicos sedeados nos países industrializados (Laurent, 2004: 35); – Os complexos turísticos constituem-se frequentemente como enclaves, sem articulação com os outros sectores da economia doméstica, utilizando uma variedade de estratégias para reter o turista, sem lhe dar a oportunidade de sair desses ambientes, para divertimentos e consumos fora das suas dependências (Coriolano e Almeida, 2007);

– A excessiva dependência face ao sector turístico é perigosa, dadas as flutuações, muitas vezes imprevisíveis, a que o sector está sujeito (nomeadamente por motivos como epidemias, terrorismo, catástrofes naturais, instabilidade política, oscilação das taxas de câmbio, acontecimentos mediáticos);

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40 – Grande parte do emprego no turismo é precária, desqualificada, mal-remunerado,sazonal, sendo frequentes os atentados aos direitos dos trabalhadores, bem como o desenvolvimento de redes de prostituição e trabalho infantil;

– O tecido social dos territórios de acolhimento é debilitado dada a repartição desigual das vantagens inerentes ao turismo, fonte de disparidades sociais agravadas pelas diferenças culturais e de poder de compra, bem como com a introdução de hábitos de consumo não sustentáveis;

– O contraste entre a riqueza dos turistas e a pobreza das comunidades locais deixa-as mais vulneráveis à violência simbólica (Amblés, 2002) e à exploração, podendo verificar-se um reforço de padrões neocoloniais (Brohman, 1996);

– Há uma tendência para a descaracterização cultural, com perda de identidade, alienação cultural e “folclorização” das culturas, em que as tradições locais se tornam comercializáveis e perdem a sua autenticidade;

– O aumento do número de turistas perturba as actividades da comunidade e entra em competição pelos locais de lazer e outros serviços e recursos;

– A utilização da área acarreta degradação ambiental – associada à construção de infra-estruturas, demasiada exploração dos recursos naturais, utilização de transportes com emissões de dióxido de carbono, pressão sobre os ecossistemas, poluição, distúrbio dos habitats naturais, artificialização das paisagens, conflitos no uso de recursos limitados como água e energia;

– A pressão turística estimula ainda a especulação imobiliária e os conflitos pela propriedade fundiária;

– Geram-se fortes desequilíbrios regionais dada a concentração do turismo apenas em algumas zonas mais atractivas.

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41 Para Alves de Oliveira (2008), o turismo que ele designa de capitalista assume-se como uma nova modalidade do processo de acumulação capitalista, onde uma minoria se apropria dos espaços e dos recursos neles contidos, apresentando-os como atractivos turísticos, transformados em objectos de consumo. Deste modo, regiões litorais originalmente ocupadas por comunidades tradicionais, grupos indígenas e pescadores, são expropriadas para dar lugar às segundas residências, aos grandes complexos hoteleiros, às cadeias internacionais, aos parques temáticos. O espaço do residente e os espaços dos turistas, o espaço esquecido do cidadão local e o espaço elitizado e luxuoso dos turistas, entram, assim, em conflito. O autor chama a atenção para o papel determinante do Estado nesse processo, já que este frequentemente se posiciona a favor dos empresários do turismo, dos proprietários de terra, dos agentes imobiliários.

Estas críticas e contradições estão na origem de uma nova consciência em relação aos impactos negativos do turismo convencional e de massas, evidenciando a necessidade de um turismo diferente. Tal preocupação está presente em diversos organismos internacionais, tais como a OMT através da pioneira Conferência de Manila (1980), do Código Ético Mundial para o Turismo (2001) e do programa STEP – Sustainable Tourism Eliminating Poverty (2002); a UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development) através de diversas conferências internacionais; a OIT com o seu contributo para a promoção do Turismo Comunitário, através da Redturs (Rede de Turismo Comunitário Latino-Americana);

Deste modo, se fundamenta a evolução recente do sector turístico que, segundo Laurent (2003), tem seguido por duas direcções:

– Uma melhoria qualitativa de uma parte das prestações do turismo de massa, nomeadamente ao nível da protecção do ambiente e recursos naturais e da luta contra a

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42 poluição no sector hoteleiro, do lazer e, marginalmente, dos transportes, numa perspectiva de responsabilidade social;

– A diversificação de uma oferta alternativa, de nicho, diferenciada, conforme se apresenta a seguir.

2.7 Turismo Social, Turismo Rural, Turismo Responsável, Ecoturismo, Turismo Justo e Turismo Comunitário.

Na aproximação ao conceito e às práticas de Turismo Comunitário, identifica-se um conjunto de formas alternativas de turismo que se têm vindo a afirmar em oposição às práticas dominantes do sector, surgindo com as mais diversas designações – Turismo Responsável, Turismo Rural, Turismo Social, Ecoturismo, Turismo Justo e Turismo Comunitário.

Apresenta-se de seguida uma breve definição de algumas das terminologias mais utilizadas.

Começando pelo Turismo Social, não sendo uma forma de turismo alternativo, é importante contemplá-la dada a sua frequente confusão com Turismo Comunitário. O Bureau Internacional de Tourisme Social define-o como o conjunto de relações e fenómenos resultantes da participação no turismo e, em particular, da participação de estratos sociais de baixos rendimentos. Esta participação é possível, ou facilitada, por medidas de natureza social bem definidas (BITS, 2003). Portanto, o Turismo Social visa promover o acesso ao turismo a todos os grupos populacionais, dando especial atenção a segmentos desfavorecidos, e referindo-se nomeadamente a medidas aplicadas pelos governos para encorajar as férias – um direito fundamental dos trabalhadores na maioria dos países. O seu objectivo é favorecer o acesso ao turismo para o máximo de pessoas, o que, segundo Poos(2006), tenderá a evoluir em direcção a formas de Turismo Solidário.

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43 No Turismo Rural, o viajante tende a estabelecer uma relação estreita com os habitantes a fim de facilitar as trocas e compreensão mútua, constituindo o turismo uma fonte complementar de rendimentos para as explorações agrícolas ou zonas rurais. Com origem nos anos 60-70, pode ser visto como um antecessor das Novas Formas de Turismo, já que constitui uma alternativa às grandes concentrações turísticas.

O Ecoturismo é definido como viagem responsável na natureza que conserva o ambiente e contribui para o bem-estar das populações locais (TIES, 2008). A principal motivação do turista é observar e apreciar a natureza, bem como as culturas tradicionais que prevalecem nas zonas naturais.“Ecoturismo é o segmento da actividade turística que utiliza, de forma sustentável, o património natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações”. (Marcos Conceituais – MTur)

O Turismo Justo baseia-se nos princípios do comércio justo, enfatizando a justa remuneração dos prestadores locais, a participação das comunidades de acolhimento, os processos de decisão democrática e os modos de produção amigos do ambiente (Poos, 2006; Ritimo, 2007). Os seus objectivos são maximizar os benefícios do turismo para os actores locais, através de parcerias justas e mutuamente benéficas com os parceiros nacionais e internacionais, e também apoiar os direitos das comunidades indígenas.

A abordagem PPT – Pro PoorTourism(Turismo “Pro-Pobres”) emergiu da pesquisa britânica sobre meios de vida sustentáveis e em particular dos trabalhos de Harold Goodwin (1998), estando na origem da criação da Pro PoorTourismPartnership do programa STEPSustainable Tourism Eliminating Poverty– da OMT. De acordo com a Pro Poor Tourism Partnership (2008) o PPT é um turismo que resulta num acréscimo de benefício sem rede para os pobres, frisando que não se trata de um produto ou nicho de

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44 mercado, mas antes uma abordagem ao desenvolvimento e gestão do turismo que visa ampliar os benefícios do sector para os pobres.

O Turismo Responsável coloca a ênfase no viajante, e não na comunidade que ele visita. No seu cerne está a tomada de consciência de que o viajante é responsável pelo efeito do turismo sobre a população e o ambiente, sendo que responsabilidade significa aqui uma atitude de respeito pelos lugares sem danificar nem a comunidade nem o ambiente (ICRT, 2002). Podemos dizer que o Turismo Responsável também é solidário, sendo que essa solidariedade se expressa sobretudo no estado de espírito com que o turista parte em viagem.

O Turismo Comunitário é constituído por formas turísticas propostas e geradas pelas comunidades, as quais se integram de forma harmoniosa nas diversas dinâmicas colectivas do local de acolhimento. Na medida em que uma comunidade implica, por definição, indivíduos com algum tipo de responsabilidade colectiva e capacidade de tomar decisões por órgãos representativos, o Turismo Comunitário implica um acréscimo de solidariedade e co-gestão (Laurent, 2003).

Em resumo, os vários conceitos e abordagens de turismo alternativo, embora distintos, são compatíveis e, em parte, sobrepõem-se. Qualquer classificação destes termos será sempre parcial e incompleta, não existindo uma definição única e generalizada. O essencial é que em todas as definições apresentadas está presente a ideia de responsabilização e de parceria ou solidariedade. Segundo Amo (2003), a riqueza de terminologias deriva da multiplicação destas parcerias, que contribui para dar um novo sentido ao turismo, já não apenas reduzido ao prazer ou ao ócio casual, mas aberto ao diferente, à procura de novas relações e à preocupação por um mundo mais justo.

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45 2.8 O Turismo Comunitário

As novas tendências da demanda mundial fazem com que o turismo conquiste constantemente novos espaços e incorpore novos atractivos à sua oferta. Neste cenário, inúmeros micro-empreendimentos familiares, cooperativos e comunitários enriquecem a oferta turística nos âmbitos local, nacional e internacional, ao incorporarem “um turismo com selo próprio”, a partir de uma combinação de atributos singulares e originais (MALDONADO, 2009).

Segundo a discussão de Beni (2006), para que a prática turística seja bem planeada, é necessário o envolvimento da comunidade local em todo o processo de desenvolvimento da actividade. Nesse sentido, as práticas do desenvolvimento endógeno apresentam-se como fortes instrumentos que devem ser utilizados no planeamento turístico.

De acordo com Beni o planeamento endógeno:

“ [...] visa atender às necessidades e demanda da população local por meio da participação activa da comunidade envolvida. Mais do que obter ganhos em relação à posição do sistema produtivo local na divisão nacional ou internacional do trabalho, o objectivo é buscar o bem-estar económico, social e cultural da comunidade local, o que leva à diferentes caminhos de desenvolvimento, conforme as características e capacidades de cada economia e sociedades locais.”(Beni,2006, p. 36),

Para Buarque (2002, p. 30), “[...]o desenvolvimento de uma localidade – município, micro-região, bacia, ou mesmo espaço urbano – deve ter um claro componente endógeno, principalmente no que se refere ao papel dos actores sociais, mas também em relação às potencialidades locais” Ou seja, este conceito transforma o território no qual a actividade é desenvolvida num grande agente de transformação, onde se trabalha evidenciando as potencialidades locais, promovendo o desenvolvimento sociocultural sustentável e melhor qualidade de vida paraa comunidade autóctone.

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46 Neste limiar, diante deste projecto de gestão do território com base no planeamento de actividades que possam promover níveis expressivos de desenvolvimento local, surge o Turismo de Base Comunitária (TBC) como alternativa económica para comunidades que, por um lado, possuem desvantagens sócio económicas, mas por outro, preocupam-se com a conservação da biodiversidade e dos aspectos culturais que as compõem.

O TC é caracterizado pela forma de associação em que as comunidades se organizam, através de arranjos produtivos locais, gerindo o território e as actividades económicas associadas ao turismo. Ao mesmo tempo, Maldonado (2009) fala da importância de se pensar no património comunitário como fonte de atracção e instrumento de desenvolvimento, ao definir que:

“O património comunitário é formado por um conjunto de valores e crenças, conhecimentos e práticas, técnicas e habilidades, instrumentos e artefactos, lugares e representações, terras e territórios, assim como todos os tipos de manifestações tangíveis e intangíveis existentes em um povo. Através disso, se expressam seu modo de vida e organização social, sua identidade cultural e suas relações com a natureza” (MALDONADO, 2009, p. 29).

Portanto, o turismo comunitário possibilita o contacto do turista com o património comunitário e o modo de vida das comunidades autóctones. Dá oportunidade ainda, que visitantes conscientes - estudantes, professores, pesquisadores e simpatizantes – entrem em contacto com assuntos relacionados à conservação da natureza (sistemas ecológicos) e, ao mesmo tempo, a conservação de modos de vida tradicionais (sistemas sociais) (SAMPAIO; ZECHNER; HENRÍQUEZ, 2008). O TBC pode ser entendido como aquele “[...]desenvolvido pelos próprios moradores de um lugar que passaram a ser os articuladores e os construtores da cadeia produtiva, onde a renda e o lucro ficam na comunidade e contribuem para melhorar a qualidade de vida” (CORIOLANO, 2003 p. 41).

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47 Trata-se, assim, de um novo conceito de turismo, o qual a priori não se diferencia totalmente das demais modalidades, pois também utiliza serviços de hospedagem e alimentação, bem como a integração de vivências. Contudo, podem ser apresentadas algumas características que distinguem o turismo comunitário das demais temáticas abordadas. Uma das diferenças é o entendimento da actividade turística como um subsistema interligado a outros sistemas como meio ambiente e educação. A segunda característica é a visão do turismo comunitário como um projecto de desenvolvimento territorial sistémico por meio da própria comunidade. A terceira característica está ligada a convivencialidade entre a população local e os visitantes, imbricada em um arranjo sócio produtivo de base comunitária (SAMPAIO; ZECHNER; HENRÍQUEZ, 2008).

Neste limiar, Sampaio (2005) complementa o conceito de turismo comunitário como um projecto de comunicação social que favorece as experiências de planeamento para o desenvolvimento de base local, na qual os residentes se tornam os principais articuladores da cadeia produtiva, bem como no resgate e conservação de seus modos de vida, os quais podem ser vivenciados através da actividade turística. Assim, estas comunidades tradicionais que vivem em espaços rurais podem conservar modos de vida próprios, manifestados em suas actividades produtivas agrícolas e através de seu artesanato local. Espera-se que o TBC proporcione às famílias autóctones oportunidades de desenvolvimento, sem interferir nas particularidades e dinamismo comunitário.

Do ponto de vista cultural, o Turismo de Base Comunitária significa aprendizagem, conhecimento, encontro de pessoas. Representam-se os valores, signos e símbolos que favorecem as relações interpessoais e de hospitalidade entre turistas e visitados. Oferece um local de encontro e convivencialidade, expressando sua essência nas trocas e intercâmbios culturais.

Referências

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