ISCTEM
Análise Matemática II Curso de Engenharia Informática
_____________________________________________________________________________________ Funções de várias variáveis: plano tangente a uma superfície,
derivadas direccionais e gradiente.
1. Plano tangente a uma superfície e recta normal ao plano.
Seja
P
0(
x
0,
y
0,
z
0)
um ponto numa superfície S. Considerem-se todas as curvas diferenciáveis que passam porP
0 e para cada uma delas a recta tangente emP
0. Todas essas rectas pertencem a um mesmo plano, que é o plano tangente àsuperfície em
P
0.Teorema: Seja
P
0(
x
0,
y
0,
z
0)
um ponto na superfícieF
(
x
,
y
,
z
)
=
0
. SeF
é diferenciável em(
x
0,
y
0,
z
0)
e com derivadas parciais não simultaneamente nulas nesse ponto, então existe um plano tangente à superfície emP
0 de equação+
− )
)(
,
,
(
0 0 0 0 xx
y
z
x
x
F
F
y(
x
0,
y
0,
z
0)(
y
−
y
0)
+
F
z(
x
0,
y
0,
z
0)(
z
− )
z
0=
0
.
Demonstração:Para provar a existência de um plano tangente em
P
0, precisamos de mostrar quetodas as curvas diferenciáveis na superfície
F
(
x
,
y
,
z
)
=
0
que passam porP
0, possuem tangentes num plano comum. Vamos fazer isso, mostrando que a recta tangente emP
0 a qualquer uma dessas curvas é perpendicular ao vector=
n
(
F
x(
x
0,
y
0,
z
0),
F
y(
x
0,
y
0,
z
0),
F
z(
x
0,
y
0,
z
0))
.Isto obriga a que todas as rectas tangentes em
P
0, estejam contidas num plano que passa porP
0 e que possui n como normal. Se assim for, a equação desse plano é dada pela equação+
− )
)(
,
,
(
0 0 0 0 xx
y
z
x
x
F
F
y(
x
0,
y
0,
z
0)(
y
− )
y
0+
F
z(
x
0,
y
0,
z
0)(
z
− )
z
0=
0
.Seja então C uma curva diferenciável na superfície
F
(
x
,
y
,
z
)
=
0
que passa por)
z
,
y
,
x
(
P
0 0 0 0 .Vamos supor que as equações paramétricas dessa curva são:
( )
t xx= ,
y
=
y
(
t
)
,z
=
z
(
t
)
onde
t
é um parâmetro auxiliar real e queP
0(
x
0,
y
0,
z
0)
é o ponto correspondente a0
t
t
=
. Assim,)
t
(
x
x
0=
0 ,y
0=
y
(
t
0)
,z
0=
z
(
t
0)
.Como a curva C está contida na superfície
F
(
x
,
y
,
z
)
=
0
, todo o ponto(
x( ) ( ) ( )
t ,yt ,z t)
da curva satisfaz essa equação para todo ot
, isto é,( ) ( ) ( )
(
xt yt z t)
0F , , = .
Derivando ambos os membros desta equação em ordem a
t
, com o auxílio da regrada cadeia, obtém-se
0
dt
dz
z
F
dt
dy
y
F
dt
dx
x
F
=
∂
∂
+
∂
∂
+
∂
∂
.O primeiro membro desta equação pode ser escrito como o produto interno de dois vectores, i.e.,
(
)
(
)
(
)
( ) ( ) ( )
t 0 dt dz t dt dy t dt dx z y x z F z y x y F z y x x F = ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ , , . , , , , , , , ,ou, numa notação alternativa
0
t
z
t
y
t
x
z
y
x
F
z
y
x
F
z
y
x
F
x(
,
,
),
y(
,
,
),
z(
,
,
)
.
′
(
),
′
(
),
′
(
)
=
. Em particular, set
=
t
0, tem-se0
t
z
t
y
t
x
z
y
x
F
z
y
x
F
z
y
x
F
x(
0,
0,
0),
y(
0,
0,
0),
z(
0,
0,
0)
.
′
(
0),
′
(
0),
′
(
0)
=
.Note que o segundo vector no produto interno é o vector tangente à curva no ponto
)
z
,
y
,
x
(
P
0 0 0 0 , que, pela igualdade anterior, é perpendicular ao vector=
Definição: Considere a superfície de equação F
(
x,y,z)
=0. SeF
é diferenciável em(
x
0,
y
0,
z
0)
, então o vector n=(
F
x(
x
0,
y
0,
z
0),
F
y(
x
0,
y
0,
z
0),
F
z(
x
0,
y
0,
z
0))
é chamado vector normal à superfície F(
x,y,z)
=0 no pontoP
0(
x
0,
y
0,
z
0)
e a recta que passa porP
0 e é paralela a n é chamada recta normal à superfície emP
0.As equações paramétricas desta recta são
⎪
⎩
⎪
⎨
⎧
+
=
+
=
+
=
t
z
y
x
F
z
z
t
z
y
x
F
y
y
t
z
y
x
F
x
x
0 0 0 z 0 0 0 0 y 0 0 0 0 x 0)
,
,
(
)
,
,
(
)
,
,
(
Exemplo:Encontre as equações do plano tangente e da recta normal à superfície de equação
y
x
z
=
2 no ponto(
2
,
1
,
4
)
. Solução: ComoF
(
x
,
y
,
z
)
=
x
2y
−
z
, segue-seF
x(
x
,
y
,
z
)
=
2
xy
e Fy(x,y,z)= x2 e 1 z y x Fz( , , )=− . No ponto(
2
,
1
,
4
)
temosF
x(
2
,
1
,
4
)
=
4
eF
y(
2
,
1
,
4
)
=
4
e 1 4 1 2Fz( , , )=− . Assim, um vector normal à superfície no ponto
(
2
,
1
,
4
)
é=
n
(
F
x(
2
,
1
,
4
) (
,
F
y2
,
1
,
4
) (
,
F
z2
,
1
,
4
)
)
=4
i
r
+
4
r
j
−
k
r
.Logo a equação do plano tangente à superfície no ponto considerado é
0
4
z
1
y
4
2
x
4
(
−
)
+
(
−
)
−
(
−
)
=
e as equações paramétricas da recta normal são⎪ ⎩ ⎪ ⎨ ⎧ − = + = + = t 4 z t 4 1 y t 4 2 x
Nota: todas as definições e teoremas apresentados seguidamente podem ser
estendidos a funções de várias variáveis.
2. Derivadas
Direccionais.
Dada uma superfície definida pelo gráfico de uma função,
z
=
f
(
x
,
y
)
, já vimos como calcular o declive num pontoP
(
x
0,
y
0,
z
0)
da superfície, na direcçãoX
, que é dado pela derivada parcial em ordem a x,f
x(
x
0,
y
0)
, e na direcçãoY
, que é dado pela derivada parcial em ordem ay
,f
y(
x
0,
y
0).
Vamos agora ver como estas derivadas parciais podem ser usadas para calcular o declive da superfície num ponto numa direcção qualquer, isto é, para calcular a
derivada direccional.
Seja
z
=
f
(
x
,
y
)
uma superfície eP
(
x
0,
y
0)
um ponto do domínio def
. A "direcção" da derivada direccional é dada pelo vector unitárioj
sen
i
θ
cos
u
=
r
+
θ
r
onde
θ
é o ângulo que o vector faz com o eixo positivo doX
.Para encontrar o declive desejado vamos reduzir o problema a duas dimensões, intersectando a superfície com um plano vertical que passa pelo ponto
P
e é paralelo a u. Este plano vertical intersecta a superfície segundo uma curva C. O declive dasuperfície no ponto
(
x
0,
y
0,
f
(
x
0,
y
0))
na direcção u é definido como o declive da curva nesse ponto.Definição: Derivada Direccional
Seja
f
uma função de duas variáveis x ey
e sejau
=
cos
θ
i
r
+
sen
θ
r
j
um vector unitário. Então a derivada direccional def
na direcção de u, denotada porD
uf
,é
t
)
y
,
x
(
f
)
tsen
y
,
cos
t
x
(
f
lim
)
y
,
x
(
f
D
0 t u−
+
+
=
→θ
θ
desde que o limite exista.
Teorema: Derivadas Direccionais.
Se
f
é uma função diferenciável de x ey
, então a derivada direccional def
na direcção do vectoru
=
cos
θ
i
r
+
sen
θ
r
j
éθ
θ
f
(
x
,
y
)
sen
cos
)
y
,
x
(
f
)
y
,
x
(
f
D
u=
x+
y . Exemplo:Encontre a derivada direccional de
f
(
x
,
y
)
=
x
2sen
2
y
no ponto⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛
2
,
1
π
segundo a direcção do vectorv
=
3
i
r
−
4
r
j
. Solução:Cálculo das derivadas parciais:
( )
x
,
y
2
x
sen
( )
2
y
f
x=
( )
x,y 2x cos( )
2yf 2
y =
Como as derivadas parciais são contínuas,
f
é diferenciável e podemos aplicar oteorema anterior, começando por encontrar um vector unitário com a direcção de
j
4
i
3
j 5 4 i 5 3 v v u= = r− r
=
cos
θ
i
r
+
senθ
r
j
Note que v = (v1)2 +(v2)2 = 32 +42 =5. Usando este vector, tem-se:( )
(
2
x sen
2
y
)
cos
θ
(
2
x
cos
( )
2
y
)
senθ
f(x,y)
D
2 u=
+
( )
(
)
(
( )
)
⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛
+
⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛
=
5
4
y
2
cos
x
2
5
3
y
2
x sen
2
f(x,y)
D
2 u(
)
(
)
⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛
+
⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛
=
⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛
5
4
π
cos
2
5
3
senπ
2
2
π
,
1
f
D
u5
8
−
=
.3. Gradiente
Definição: Gradiente de uma função de duas variáveis
Seja
z
=
f
(
x
,
y
)
uma função de x ey
tal quef
x e fy existem. Então o gradiente def
, denotado por∇
f
(
x
,
y
)
, é o vectorj
(x,y)
f
i
(x,y)
f
f(x,y)
=
xr
+
xr
∇
. Exemplo:Encontre o gradiente de
f
(
x
,
y
)
=
y
ln
x
+
xy
2 no ponto(
1
,
2
)
.Solução Calculando x
y
2x
y
)
y
,
x
(
f
=
+
ef
y(
x
,
y
)
=
ln
x
+
2
xy
, vem(
ln
x
2
xy
)
j
i
y
x
y
f(x,y)
2⎟
r
+
+
r
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛ +
=
∇
No ponto( )
1,2 , o gradiente éj
4
i
6
f(x,y)
=
r
+
r
∇
.Teorema: Forma alternativa para a Derivada Direccional
Se
f
é uma função diferenciável de x ey
, então a derivada direccional def
na direcção do vector u éf(x,y). u
f(x,y)
D
u=
∇
Exemplo: Encontre a derivada direccional da função
f
(
x
,
y
)
=
3
x
2−
2
y
2 em⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛− 0,
4
3
na direcção de⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛−
=
,
0
4
3
P
paraQ
(
0
,
1
)
. SoluçãoComo as derivadas parciais
f
x(
x
,
y
)
=
6
x
ef
y(
x
,
y
)
=
−
4
y
são contínuas,f
é diferenciável e podemos aplicar o teorema anterior.Um vector na direcção indicada é
j
)
0
1
(
i
4
3
0
v
P
Q
PQ
⎟
r
+
−
r
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛ +
=
=
−
=
→ =i
j
4
3
r
+
r
e um vector unitário nesta direcção éj 5 4 i 5 3 v v u= = r+ r.
Como
∇
f(x,y)
=
f
x(x,y)
i
r
+
f
x(x,y)
r
j
=
6
x
i
r
−
4
y
r
j
, o gradiente em⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛−
=
,
0
4
3
P
éj
0
i
2
9
0
,
4
3
f
⎟
=
−
r
+
r
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛−
∇
. Consequentemente, em⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛−
=
,
0
4
3
P
a derivada direccional é 2 2 2y x 3 ) y , x ( f = −. u
0
,
4
3
f
0
,
4
3
f
D
u⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛−
∇
=
⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛−
⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛
+
⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛
−
+
=
j
5
4
i
5
3
.
j
0
i
2
9
r
r
r
r
10
27
−
=
. Propriedades do GradienteSeja
f
uma função diferenciável no ponto(
x
,
y
)
.1. Se
∇
f
(
x
,
y
)
=
0
entãoD
uf(x,y)
=
0
para todo o u.2. A direcção e sentido do crescimento máximo de
f
é dada por∇
f
(
x
,
y
)
. O valor máximo deD
uf(x,y)
é ∇f(x,y) .3. A direcção e sentido do decrescimento máximo de
f
é dada por−
∇
f
(
x
,
y
)
. O valor mínimo deD
uf(x,y)
é − ∇f(x,y) .Demonstração:
1.
Resulta directamente da definição de derivada direccionalD
uf(x,y)
=
∇
f(x,y). u
.2.
A derivada direccional def
na direcção de u é dada pelo produto interno dos dois vectores:∇
f
(
x
,
y
)
e u, tal que u =1.Seja
α
o ângulo entre estes dois vectores. Pela definição de produto interno,α
α
cos cos .u f(x,y) f(x,y) f(x,y). u= ∇ = ∇ ∇ .Sabendo que −1≤cos
α
≤1, a derivadaD
uf(x,y)
é máxima (o crescimento da função é máximo) quando cosα
=1, isto éα
=0. Daqui se conclui que os vectores∇
f
(
x
,
y
)
e u têm a mesma direcção e sentido. O valor máximo da derivada é ∇f(x,y) .