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A utilização do resíduo sólido proveniente da construção civil: para a fabricação de tijolos ecológicos

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Academic year: 2021

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Luiz Eduardo Amante Machado

Resumo: A construção civil como um todo, trata-se de um processo sem interrupções, que

necessita de uma grande demanda de energia e consome uma elevada quantidade de recursos não-renováveis. Mesmo após a finalização da obra, as edificações convencionais continuam a contribuir com o impacto ambiental, gerando consigo altos índices de consumo de água, energia, poluentes, criação de microclimas, entre outros fatores. Só o setor da construção civil é responsável por gerar 67% da massa total de resíduos sólidos (ANAB,2007). A partir disso, pesquisadores começaram a estudar a reciclagem desses resíduos sólidos produzidos, desenvolvendo o tijolo ecológico feito destes resíduos.

Palavras-chave: Tijolo ecológico. Resíduos Sólidos. Sustentabilidade.

1 INTRODUÇÃO

A construção civil como um todo, trata-se de um processo sem interrupções, que necessita de uma grande demanda de energia e consome uma elevada quantidade de recursos não-renováveis. A todo momento novos projetos de edificações são executados, acarretando assim uma degradação ambiental local, onde em alguns casos, o seu impacto pode se desdobrar além do seu terreno de execução. Segundo dados, de 30% a 50% dos recursos naturais do mundo são utilizados no setor da construção civil, 34% do consumo de água e 55% da madeira extraída. Além disso o setor é responsável por gerar 67% da massa total de resíduos sólidos urbanos produzido (ANAB, 2007).

Mesmo após a finalização da obra, as edificações convencionais, ou seja, aquelas que não recebem um planejamento ou execução sustentável, continuam a contribuir com o impacto ambiental, gerando consigo altos índices de consumo de água, energia, poluentes, criação de microclimas, entre outros fatores. A repercussão das escolhas de projeto muitas vezes

Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Especialização em MBA em Gestão de Obras e Projetos da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, orientado pela professor e mestre José Humberto Dias de Tolêdo.

 Arquiteto e Urbanista. Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. E-mail: arqluizmachado@gmail.com.

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se estende até a etapa de reforma ou demolição, já que estes processos comumente não recebem as providencias necessárias para minimizar o se impacto no meio ambiente.

Por estes e outros motivos, existe a necessidade da mudança do paradigma da construção civil, ou seja, diminuir o uso de materiais poluentes, matérias primas não renováveis e a energia embutida para o desenvolvimento do material.

Pensando na quantidade de resíduos sólidos produzidos, uso excessivo da matéria prima, água e energia, pesquisadores desenvolveram os tijolos ecológicos (OLIVEIRA, 2009). Estes tijolos variam em sua composição conforme o pesquisador, tal como os tijolos feitos a partir de casca de ostra e mexilhões, desenvolvido por Bernadete Batalha Batista (ACKERMANN, 2008); casca do arroz, desenvolvido por Elisandra de Medeiros (MEDEIROS, 2010); entre outros, onde o destaque deste artigo, trata-se dos tijolos realizado a partir de resíduos sólidos provenientes da construção civil. Apesar de serem produzidos a partir de materiais distintos, os tijolos ecológicos foram desenvolvidos com o mesmo propósito, pensando principalmente na redução do impacto ambiental e a utilização de material considerado “lixo” para a sua composição (OLIVEIRA, 2009).

O reaproveitamento dos resíduos sólidos decorrentes da construção civil, surge como uma solução para minimizar o impacto ambiental, reduzir a extração dos recursos naturais não renováveis, diminuir a emissão de poluentes na atmosfera e contribuir para a redução do desmatamento (OLIVEIRA, 2009).

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo Geral

Compreender e salientar a importância da utilização de meios mais sustentáveis para a fabricação de elementos (tijolos) para a construção civil, já que este é um dos maiores consumidores de matéria prima e produtor de resíduos sólidos.

1.1.2 Objetivo Específicos

• Compreender sobre a composição dos principais resíduos sólidos e seu impacto; • Pesquisar o processo de extração da matéria prima e sua degradação no meio; • Demonstrar o impacto ambiental gerado pelo setor da construção civil;

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• Apresentar as principais diferenças entre o tijolo cerâmico, solo-cimento e o decorrente dos resíduos sólidos;

• Salientar a importância da utilização de materiais sustentáveis. 2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Sustentabilidade

O desenvolvimento sustentável é hoje uma necessidade real, e não apenas uma discussão a ser levantada (26º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL). A área de arquitetura sustentável, recebeu nos últimos anos um aumento significativo no número de pesquisas. O termo “desenvolvimento sustentável” foi criado em 1980 e consagrado com o Relatório Brundtland que definiu e fundamentou.

O desenvolvimento sustentável é um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de se atender às necessidades futuras (...) é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades. (RELATÓRIO BRUNDTLAND – Nosso Futuro Comum, 1988 p.46).

Segundo Idhea (2006), a sustentabilidade se divide em três aspectos:

• Exercer atividades econômica sem esgotar os recursos planetários, atendendo as necessidades da sociedade atual e futura;

• Desenvolver métodos mais conscientes e menos danosos ao ambiente;

• Estabelecer novos parâmetros de cidadania e convivência, com o objetivo de reduzir as diferenças sociais e dar qualidade de vida para todos.

Para o desenvolvimento sustentável das cidades, o Relatório Brundtland (1988) lista alguns aspectos necessários:

• Uso de novos materiais na construção;

• Reestruturação da distribuição de zonas residenciais e industriais; • Aproveitamento e consumo de fontes de energias mais sustentáveis; • Reciclagem de materiais e reaproveitamento;

• Consumo racional de água e alimentos;

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2.2 Resíduos sólidos produzidos pela construção civil

O setor da construção civil é responsável por 67% do total de resíduos sólidos urbanos gerados (ANAB, 2007). Segundo a resolução nº 307, artigo 2 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), resíduos sólidos são os materiais provenientes da construção, reforma, reparo e demolição de obras da construção civil, além dos materiais resultantes do preparo e escavação do terreno. Resíduos estes muitas vezes tóxicos, poluentes e não-biodegradáveis, gerando consigo problemas de poluição de solo e outros aspectos (JOHN, 2000).

Enquanto que em países desenvolvidos, a construção de novas edificações gera consigo 100Kg/m² de resíduos, o Brasil gera 300Kg/m², ou seja, três vezes mais do que os outros países (MONTEIRO, et al,2001). Firmando ainda mais esse desperdício, na execução, segundo Neto (2010), cerca de 1/3 do material adquirido para a obra, vai para o “lixo”.

Esse excesso de resíduo sólidos está diretamente relacionado a mão-de-obra não qualificada, falta de gestão nos canteiros de obra, uso de materiais não conformes ás normas técnicas e falhas de projeto.

Segundo Oliveira (2009), os resíduos sólidos produzidos nas obras brasileiras são formados principalmente por argamassas, concreto e blocos cerâmicos, como informado no gráfico a baixo (Gráfico 1).

Gráfico 1: Composição média do resíduo sólido no Brasil

Fonte: Oliveira, 2009

Conforme o Censo de 2010 do estado de Santa Catarina apresenta cerca de 1.432.192 unidades domiciliares (quase 72% das residências do Estado) de alvenaria em seu território, conforme podemos ver a baixo:

Tabela 1: Censo SC 2010 – paredes externas de domicílios particulares

Alvenaria com revestimento 1.319.039 Unidades domiciliares

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Madeira aparelhada 531.082 Unidades domiciliares

Taipa revestida 638 Unidades domiciliares

Taipa não revestida 553 Unidades domiciliares

Madeira aproveitada 25.639 Unidades domiciliares

Palha 19 Unidades domiciliares

Outro material 2.798 Unidades domiciliares

Fonte: Censo Demográfico de Santa Catarina 2010: domicílios – Amostra

Com base nos dados de Oliveira (2009) e o Censo (2010) pode-se notar que a quantidade de resíduos sólidos gerados no Estado é uma questão preocupante a ser levantada. Fazendo-se um cálculo simples e hipotético, para ilustrar o tamanho do problema, se cada uma das casas feitas de alvenaria do estado apresentam uma área de 100 m² construída, pode-se dizer que na execução de todas estas residências, foram produzidas cerca de 42.965.760 toneladas de entulhos. (1.432.192 unidades domiciliares, multiplicadas por 100 m² de cada unidade, multiplicada por 300 Kg/m² de resíduos gerados).

2.3 Formação dos materiais mais encontrados nos resíduos sólidos brasileiros

A resolução do CONAMA nº 307/2002, define que cada município elabore um plano de gerenciamento dos resíduos gerados pela construção civil.

Segundo Cinthia Martins (2014), especialista em aterro sanitário, o descarte do resíduo sólido no aterro sanitário reduz a vida útil do aterro, podendo levar até o esgotamento do mesmo, pois o material descartado muitas vezes não são absorvidos pelo meio ambiente. Além disso este descarte incorreto pode gerar a contaminação do solo ou do lençol freático e causam um impacto visual da área (G1, 2014).

Neste tópico serão apresentados os três materiais mais encontrados no resíduo sólido no Brasil segundo pesquisa de Oliveira (2009, p.4).

2.3.1 Argamassa

Responsável pelo maior volume de resíduo sólidos produzidos, a argamassa segundo a NBR 13529 da ABNT, é uma mistura de agregados miúdos, aglomerantes inorgânicos e água, podendo ter ou não aditivos.

A extração de areia causa consigo vários danos ao meio ambiente, tais como: supressão da vegetação; alteração do relevo; entre outros. Mas o problema mais grave é a possibilidade de contaminação de solo e do lençol freático pelos óleos e graxas das máquinas utilizadas para sua extração.

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Os Aglomerantes inorgânicos podem ser formados por: gesso; cal e cimento. E seu descarte inadequado pode gerar também a poluição do solo ou do lençol freático.

A má aplicação ou a estocagem errada gera consigo um descante grande do material, gerando assim o descarte de grande volume do material (OLIVEIRA, 2009).

2.3.2 Concreto

O concreto é o segundo material mais “consumido” pela humanidade, só perdendo para o consumo de água (ABCP, 2008). O cimento nada mais é do que um pó fino que apresenta propriedades aglomerantes, aglutinantes ou ligantes quando em contato com água. No mercado nacional, são dispostos de oito tipos de cimento, apresentando variações nas proporções de: clínquer e sulfato de cálcio; material carbonático e de adições (escórias, pozolanas e calcário). (ABCP, 2008).

A produção do cimento, principalmente em território nacional, gera uma grande quantidade de poluição, além de consumir materiais e energia de fontes não renováveis. A produção de cimento Portland é responsável por 6% de todas as emissões antropogênicas de CO₂ (JOHN, OLIVEIRA e AGOPYAN, 2006) e sua queima é responsável por 5% do consumo total de energia do setor industrial (BEN, 2007).

Na tabela 2 são apresentadas as energias embutidas necessárias para a criação de cada tipo de cimento Portland:

Tabela 2: Energia embutida dos cimentos

Material Energia

Cimento Portland CPI e CPV 3,8KJ/Kg

Cimento Portland CPII E 2,5KJ/Kg

Cimento Portland CPIV 2,1KJ/Kg

Cimento Portland CPIII 1,5KJ/Kg

Cal hidratada 2,0KJ/Kg

Fonte: Oliveira, 2009.

Além disso os agregados do cimento são formados de areia e brita, recursos esses não renováveis e que agridem muito o meio ambiente para sua extração.

Apesar de ser responsável pela emissão de 6% de CO₂, algumas empresas do ramo estão reutilizando o carbono liberado pelas usinas termelétricas, retirando cerca de 90% do CO₂ emitido, e a transformando em carbono de cálcio (CaCO3), matéria-prima responsável pela a fabricação do cimento Portland. (SANTOS, 2017)

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2.3.3 Cerâmica

A cerâmica, conforme Censo (2010, p.4), trata-se do material de vedação mais utilizada para a construção civil brasileira; ou seja, tijolo, blocos e a telha; onde são formados a partir da argila. Apesar de sua extração ser de “baixa” toxicidade para o meio ambiente, a retirada da argila faz com que sua cobertura vegetal seja removida e conforme o solo é retirado, o lençol freático torna-se mais vulnerável. Outro ponto é o esgotamento do solo causado pelo excesso da retirada do material.

A fabricação do material é dividida em: extração da argila; preparo da matéria-prima; moldagem; cozimento e esfriamento.

Para sua execução são emitidos os seguintes gases e materiais (JOHN, OLIVEIRA e LIMA, 2007, p.23):

• NOx, na combustão;

• SO2, no processo da combustão que utiliza enxofre; • CO₂, emitido na fase de queima e secagem;

• Fluoreto de hidrogênio, provocado pela decomposição térmica da matéria prima que contem flúor;

• Matéria particulado, resultante da extração, mistura, moagem e laminação. 2.4 Tijolos ecológicos feitos com resíduos sólidos da construção civil

Segundo o SEBRAE (2010), a característica que define os tijolos ecológicos, são a de permitir a reutilização de resíduos, em seu processo de produção; evitar a degradação ambiental, conter a extração da matéria-prima para sua fabricação e impedir o desmatamento para obter lenha para a queima. Além destes fatores, leva-se em consideração a economia de energia gerada pelo processo de fabricação do tijolo ecológico (NETO, 2010).

Segundo John (2000), são necessários levar alguns aspectos em consideração na hora de reciclar um material, tais como: risco de contaminação ambiental; custo da atividade; quantidade de trabalho necessário; maquinário necessário e energia para o seu desenvolvimento. Onde que muitas vezes, dentro das empresas, o principal aspecto levantado é o custo da atividade, sendo deixado os outros pontos de lado.

Para uma melhor compreensão e comparação, serão apresentadas as composições dos tijolos cerâmicos, solo-cimento e dos provenientes dos resíduos sólidos da construção civil.

2.4.1 Composição Dos Tijolos Cerâmicos

Os tijolos cerâmicos ou tijolo convencional, são formados principalmente a partir de argilas. No seu processo de produção, a argila é extraída de jazidas diferentes e misturadas.

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Posteriormente são misturadas, moídas, umedecidas e levadas a extrusora, popularmente conhecida como maromba.

Após este processo os tijolos já apresentam os formatos conforme as normais da ABNT, onde são levados as câmaras de secagem. Quando os tijolos encontra-se secos, estes são levados aos fornos para seu processo de queima, entre 900º C a 1000º C. Após esse processo os tijolos estão prontos para sua comercialização (GEROLLA, 2012).

Algumas empresas mistura a argila, durante o processo de mistura, com resíduos de blocos cerâmicos que não passaram no teste de qualidade para aumentar sua resistência e reuso do material, evitando desperdícios.

Segundo Grigoletti (2001), o processo de fabricação do tijolo cerâmico apresenta pontos negativos de maior relevância sobre impacto ambiental, tais como: degradação das áreas de extração da argila e esgotamento do recurso; possível assoreamento dos cursos da água pela movimentação de terra; combustão do carvão vegetal, contribuindo para a poluição aérea, chuvas ácidas e o aquecimento global; perda ou quebra de produto pela sua “fragilidade”.

Para melhor compreensão do processo de produção do tijolo convencional, é apresentado um fluxograma de seu método (Figura 1).

Figura 1: Fluxograma do processo de produção de tijolos cerâmico.

Fonte: 26º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÀRIA E AMBIENTAL, 2011

2.4.2 Composição Dos Tijolos De Solo-Cimento

O tijolo ecológico modular ou solo-cimento, são formados a partir da mistura homogenia de solo, cimento e água. O solo utilizado para a fabricação do tijolo pode ser retirado diretamente das jazidas ou do canteiro de obra, onde são provenientes de terraplanagens de edificações, aberturas de estradas, entre outros assim reduzindo o uso de recursos naturais e

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minimizando o impacto ambiental. (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO TIJOLO ECOLÓGICO)

No seu processo de fabricação são utilizadas um solo formado por área e argila, onde sua proporção ideal é aproximadamente 70% arenoso e 30% argiloso. Este solo é misturado com cimento na proporção de sete para um (7:1) e adicionado 5% de água. Diferente do processo de cura do tijolo cerâmico, que após seu processo de prensagem, o tijolo de solo-cimento é exposto ao ar livre para seu processo de secagem ou cura, assim evitando o processo de queima utilizado no cerâmico (26º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÀRIA E AMBIENTAL, 2011). Na figura 2, apresenta-se o fluxograma do processo de produção deste tijolo.

Figura 2: Fluxograma do processo de produção de tijolos ecológicos modulares

Fonte: 26º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÀRIA E AMBIENTAL, 2011.

Apesar de não utilizar o processo de queima, o tijolo apresenta cimento em sua composição, como anteriormente salientado no item 2.3.3 (p.6) a produção de cimento Portland é responsável por 6% de todas as emissões antropogênicas de CO₂ e responsável por 5% do consumo total de energia do setor industrial.

2.4.3 Composição Dos Tijolos Provenientes Dos Resíduos Sólidos Da Construção Civil

Já o tijolo ecológico formado com resíduos sólidos provenientes da construção civil, trata-se de uma adaptação do solo-cimento convencional utilizando o material granular

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para a sua composição. A ideia por trás do uso dos resíduos sólidos é a constatação de que o solo arenoso é melhor indicado para a obtenção do solo-cimento (SOUZA, 2006).

O primeiro passo para a fabricação dos tijolos ecológicos de resíduos sólidos é o recebimento e a estocagem do material em local adequado, evitando assim uma possível contaminação do solo e do lençol freático. Após o armazenamento do material, são realizadas inspeções do entulho com o objetivo de catalogar e separar os materiais que podem ser reutilizados ou reciclados em outros processos, tal como: vidro; papel; metais; plásticos e materiais orgânicos (FESTA, 2012).

Após a separação dos materiais, ocorre a trituração dos resíduos sólidos em um maquinário específico, conhecidos como britadores. Este maquinário apresenta diversos tipos de granulomas, tais como: areia; pedrisco; brita 0; brita 1; brita 2 e brita 3 (ECO MAQUINAS, s.d.).

Posteriormente ao processo de trituração, o material é exposto a um bactericida, para evitar o surgimento e proliferação de bactérias no futuro tijolo. Adiciona-se a esta areia artificial, cimento e água, e esta mistura é levada a prensa hidráulica. Após tomar forma, os tijolos são acomodados em seus locais para a cura e posteriormente teste de qualidade (FESTA, 2012).

Segundo trabalhos realizados na UNESP, os tijolos com resíduos sólidos incorporados apresentaram melhor resistência (Gráfico 2) e absorção, apresentando resultados muito mais satisfatórios dos estipulados nas normas brasileiros (SOUZA, 2006).

Gráfico 2: Influencia da quantidade de resíduos na resistência dos tijolos em sete e duzentos e quarenta dias

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Além dessas características, o uso dos resíduos, principalmente os de concreto, permitiu uma redução do consumo de cimentos e solo para a confecção do tijolo, como podemos ver na tabela a baixo (Tabela 3) (SOUZA, 2006).

Tabela 3: Porcentagem dos elementos do tijolo com resíduos sólidos

Equivalente em massa (%)

Solo (%) Resíduo (%) Cimento% Soma (%)

94,3 0,0 5,7 100,0 92,6 0,0 7,4 100,0 90,9 0,0 9,1 100,0 78,6 15,7 5,7 100,0 77,2 15,4 7,4 100,0 75,7 15,2 9,1 100,0 67,3 27,0 5,7 100,0 66,1 26,5 7,4 100,0 64,9 26,0 9,1 100,0 59,0 35,3 5,7 100,0 57,9 34,7 7,4 100,0 56,8 34,1 9,1 100,0 Fonte: SOUZA, 2006.

O aproveitamento dos resíduos sólidos para a fabricação dos tijolos, tem grande importância social, econômica e sustentável.

Segundo ensaio apresentado por Souza, foram analisadas duas amostras, uma de solo natural e outra com adição de resíduos de cimento. Estas amostras foram avaliadas em sua resistência a compressão, onde o ensaio de solo natural apresentou retração superior a 20mm recomendadas pelo Centro de Estudos e Pesquisa em Engenharia Civil (CEPED), atingindo valor de 24mm. Já a amostra com resíduos manifestou uma diminuição de 24% para 7% como podemos ver no gráfico a baixo (Gráfico 3) (SOUZA, 2006).

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Fonte: SOUZA, 2006.

Segundo NBR 8492, que preconiza a absorção máxima em 20%, os ensaios realizados em tijolos de solo cimento sem os resíduos apresentaram absorção de 17,2%, já o tijolo com 60% de resíduos sólidos, apresentou uma absorção de 12,6% (SOUZA, 2006).

Além dos ensaios apresentados, os tijolos foram testados em: compressão simples; retração linear; entre outros, sendo aprovados em todos os testes (SOUZA, 2006).

Ainda pode-se destacar outros pontos, tais como: redução da utilização das matérias primas não renováveis; diminuição da emissão dos poluentes; redução de custos; obra mais limpa; melhor isolamento acústico e térmico.

Já por outro lado, lista-se as suas desvantagens, tais como: falta de uma demolição seletiva e mão-de-obra qualificada (SILVEIRA, 1994; OLIVEIRA, 2009).

3 Método de Pesquisa

A metodologia adotada para este artigo, trata-se da pesquisa bibliográfica, visitas em websites e análise de dados. Os dados serão analisados a fim de uma melhor compreensão do tema, sua importância e necessidades.

A melhor compreensão do tema vem com o objetivo de alertar e instruir sobre a necessidade do uso de materiais mais sustentáveis e os problemas causados pelos resíduos sólidos e a extração das matérias primas encontradas na construção civil.

Para realizar as etapas, foram utilizados: ferramentas auxiliadas por computador; livros; artigos; websites; entre outros.

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Com base nos dados apresentados, evidenciamos que a reutilização dos resíduos sólidos como componente para a fabricação do tijolo é benéfico nos âmbitos sociais, econômicos e ecológicos.

Através das explicações de cada tópico, indo do conceito de sustentabilidade até o comparativo entre os tijolos, adotou-se uma lógica de raciocínio para explicar, ilustrar e tornar compreensível a importância do uso dos resíduos sólidos para minimizar os danos causados pela construção civil em geral.

Ao realizar o comparativo entre os tijolos convencionais, solo-cimento e o de resíduos sólidos, se evidencia a superioridade e os benefícios do uso do material e sua importância.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a expansão das cidades e o crescimento da demanda por habitações, o setor da construção civil contribui cada vez mais para a degradação ambiental, devido ao alto consumo de bens naturais não-renováveis, como também pela alta geração de resíduos sólidos. Por este motivo a gerencia sustentável dos resíduos é uma necessidade atual, pois os resíduos tornam-se um grande problema para as questões ambiental, exigindo um maior investimento para o tornam-seu gerenciamento, investimento este que poderia ser implantado em outros setores ou melhoria.

A utilização do resíduo sólido produzidos pela construção civil, como uma das matérias prima para a formação dos tijolos ecológicos, torna-se uma prática altamente sustentável, evitando o acumulo dos materiais nos aterros sanitários; valorizando a área urbana; reduz a extração das matérias primas; evita o desmatamento e reprimindo a contaminação do solo e do lençol freático.

Apesar de todas as suas vantagens, o paradigma da sociedade sobre o material de vedação e os novos materiais ou a falta de conhecimento dos novos materiais fazem com que o seu uso se torne restrito a alguns nichos que se preocupam com a sustentabilidade.

A sustentabilidade total, como mencionada por Oliveira (2009), ainda é uma utopia para a nossa realidade atual. Mas minimizar os danos causados ao meio, visando a melhor qualidade para o presente e principalmente para o futuro é a questão que os pensadores (e executores) tanto tentam introduzir na realidade da construção.

Sendo assim, os tijolos produzidos com os resíduos sólidos da construção civil, vieram para diminuir a degradação ambiental, mas necessitam ser melhor apresentados e

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explicados a sociedade para gerar uma demanda maior sobre o produto, assim reduzindo ainda mais a quantidade de resíduos sólidos produzidos.

THE USE OF SOLID RESIDUE FROM CIVIL CONSTRUCTION: FOR THE MANUFACTURE OF ECOLOGICAL BRICK

Abstract: Civil construction as a whole is an uninterrupted process, which requires a great energy demand and consumes a large amount of non-renewable resources. Even after the completion of the work, conventional buildings continue to contribute to the environmental impact, generating high rates of consumption of water, energy, pollutants, creation of microclimates, among other factors. Only the construction sector is responsible for generating 67% of the total mass of solid waste. From this, researchers began to study the recycling of these solid waste produced, developing the ecological brick made from these wastes.

Keywords: Ecologic brick. Solid Residue. Sustainability.

Referências

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2. ACKERMANN, Luciana. Bloco de construção verde leva conchas de ostra e de

marisco. Disponível em:

<http://oglobo.globo.com/economia/imoveis/bloco-de-construcao-verde-leva-conchas-de-ostra-de-marisco-3818699>. Acesso em: 13/04/2017.

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cimento brasileiro. Disponível em: <www.abcp.org.br/basico_sobre_cimento/tipos.shtml>.

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Revestimento de Paredes E Tetos de Argamassas Inorganicas. Rio de Janeiro, 1995.

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6. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO TIJOLO ECOLÓGICO. O tijolo

ecológico. Disponível em: <http://www.aniteco.com/o-tijolo-ecologico/>. Acessado em:

26/09/2017.

7. BEN. Balanço Energético Nacional 2007/Ano base 2006. Disponível em: <www.ben.epe.gov.br/downloads/BEN2007>. Acesso em: 10/04/2017.

8. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução Nº 307/2002. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=307>. Acesso em: 11/04/2017.

9. ECO MÁQUINAS. Tijolos ecológico a solução para os resíduos da construção civil. Disponível em: <https://ecomaquinas.com.br/index.php/bra/tijolos-ecologicos-com-residuos-da-construcao-civil>. Acessado em: 26/09/2017.

10. FESTA, L. Tijolos e pisos ecológicos: a solução do futuro, agora: depoimento. 2012. Oliberdade. Entrevista concedida a Dirceu Martins. Disponível em: <http://www.oliberdade.com.br/geral/tijolos-e-pisos-ecologicos-a-solucao-do-futuro-agora>. Acesso em: 15/04/2017.

11. G1. Resíduo sólido é despejado de forma ilegal em aterro sanitário de Goiânia. Disponível em: <http://g1.globo.com/goias/noticia/2014/10/resíduo sólido-e-despejado-de-forma-ilegal-em-aterro-sanitario-de-goiania.html>. Acesso em: 11/04/2017.

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Referências

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