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MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

PROCURADORIA GERAL

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

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PROCESSO PGT/CCR/PP/Nº 3676/2013

ORIGEM: PTM DE SANTA MARIA - PRT 4ª REGIÃO

PROCURADORA OFICIANTE: DRA. BRUNA IENSEN DESCONZI INTERESSADO 1: ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO

INTERESSADO 2: SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE ENCRUZILHADA DO SUL

ASSUNTO: Liberdade e Organização Sindical (08.01.02.)

RECURSO. SINDICATO RURAL. DECLARAÇÃO DE ATIVIDADE RURAL PREVISTA EM LEI. COBRANÇA DE TAXA. LEGALIDADE. A atuação ministerial, no caso,

não reveste ingerência indevida na atividade sindical, mas a garantia de direito dos trabalhadores rurais representados. A declaração de desempenho da atividade rural apresenta-se necessária para a aposentadoria pelo INSS do trabalhador rural, sendo prevista em lei, que dispõe sobre a possibilidade dessa comprovação se dar mediante declaração do Sindicato respectivo. Trata-se, portanto, de atuação da entidade sindical na defesa de interesse e de direito de integrante da categoria representada, o que se insere entre as atribuições que lhe são inerentes, que não podem ocorrer mediante cobrança de taxa, onerando o trabalhador. Ademais, a cobrança da referida taxa se dá de forma genérica, sequer para justificar despesas havidas em face das dificuldades inerentes. É salutar lembrar que os sindicatos têm o compromisso social de bem representar e proteger os direitos daqueles que compõem a classe profissional

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representada. Recurso a que se dá provimento para não homologar o arquivamento do feito.

I – RELATÓRIO

Trata-se de denúncia encaminhada pela Advocacia-Geral da União (Procuradoria Seccional de Santa Maria/RS), em face do SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE ENCRUZILHADA DO SUL, em razão de a entidade sindical estar cobrando dos trabalhadores rurais que representa taxa para emissão de declaração de exercício de atividade rural e a organização dos documentos específicos, com vistas ao requerimento da aposentadoria junto ao INSS.

O Órgão oficiante indeferiu liminarmente a representação, mediante os seguintes fundamentos, verbis:

“Verifica-se que tal declaração não é indispensável para a comprovação do exercício de atividade rural (art.106, III, da Lei 8.213/91). Ainda, assiste ao interessado o direito de ajuizar ação judicial declaratória perante a Justiça do Trabalho (art. 11, §1º, da CLT).

A matéria diz respeito à autonomia sindical prevista no art. 8º, I, da CF/88; não tendo sido recepcionadas as disposições da CLT que restringiam tal autonomia. A conduta do sindicato não afronta a liberdade sindical, eis que o documento sequer é imprescindível.

A assistência judiciária a ser prestada pelo sindicato limita-se ao âmbito da Justiça do Trabalho (art. 14 da lei nº 5.584/70). Por fim, o valor cobrado é razoável aos fins a que se destina”. (fl. 52)

Em virtude da decisão proferida, o denunciante apresentou recurso administrativo às fls. 55/60.

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É, em síntese, o relatório.

II – ADMISSIBILIDADE

O apelo foi apresentado de forma tempestiva, motivo pelo qual dele conheço

.

III – VOTO

A denúncia noticia que o Sindicato em questão estaria exigindo retribuição pecuniária para emissão da Declaração de Exercício de Atividade Rural para o trabalhador rural requerer a aposentadoria junto ao INSS.

O Órgão oficiante indeferiu a representação, considerando, em síntese, que referida declaração não é indispensável para a comprovação da atividade rural, cabendo ao próprio interessado, se for o caso, ajuizar ação declaratória perante a Justiça do Trabalho a fim de reconhecer o período trabalhado e, por fim, entendeu que a matéria diz respeito à autonomia sindical, sendo razoável o valor cobrado “aos

fins a que se destina” (fl. 52).

Inconformado com a decisão, o INSS apresenta petição, requerendo, inicialmente, a reconsideração da decisão, e, caso esta não ocorra, seja recebida como recurso (fls. 55/60). Reporta-se à Instrução Normativa nº 45/INSS/PRES, de 06.08.2010, em especial, seus arts. 87, 115 a 133, sustentando que:

“Na praxe previdenciária, observa-se que a apresentação de uma declaração emitida pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais influencia, e muito, a concessão de benefício, tanto na via administrativa quanto judicial. Tanto que não são raros os casos de segurados que acreditam ter se “aposentado pelo Sindicato”.

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Por fim, diz que:

“... o Sindicato que cobra pela declaração está vinculando a sua emissão ao pagamento: só será emitida declaração para aquele que pagar, independentemente de ele ser trabalhador ou não. Pessoas que não são trabalhadores rurais, sequer foram filiadas ao Sindicato, podem, assim, obter facilmente a declaração, mediante simples pagamento, visando constituir prova para obtenção de benefício previdenciário.

Em tese, se a declaração é emitida para qualquer um que pagar o Sindicato, essa declaração põe em risco o interesse público, com provável concessão de um benefício indevido.

Ademais, se a autonomia sindical é irrestrita e sem limites, a ponto de não se ver qualquer irregularidade no possível comércio de declarações de atividade rural, emitidas pelo Sindicato a favor de qualquer um que por elas pagar, o INSS terá de rever a confiança depositada

nestas instituições.”

O Órgão oficiante manteve o arquivamento do feito (fl. 62), emitindo as seguintes considerações sobre os fundamentos do apelo:

“No caso apontado pelo INSS, e conforme se comprova pelos documentos juntados às fls. 32 e 42, há material que informa a investigação da Polícia Civil de outro Estado da Federação em face do Sindicato, a título de estelionato; bem como de e-mails que demonstram que a declaração não foi suficiente para comprovar a situação de seguro especial. Nota-se ainda que a esfera do Judiciário Estadual por vezes contesta a declaração emitida, não concedendo qualquer valor probatório, ou seja, tal matéria não está afeta à Justiça do Trabalho e assim este Órgão Ministerial não possui atribuição à tal investigação.

Ademais, caso o INSS discorde da declaração emitida por esta não refletir à realidade, há um crime sendo tipificado, ao qual o Ministério Público do Trabalho não possui legitimidade para propor qualquer ação, aliado ao fato desta declaração não ser obrigatória para a comprovação da condição de segurado especial.

Ao Sindicato cabe a cobrança da arrecadação via imposto sindical, bem como à possibilidade de filiação a este, ao qual repercute na concessão de direitos e deveres aos filiados, como o pagamento de mensalidade sindical. Se o Sindicato atesta que tal segurado é especial e tal

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assertiva não é verdadeira, como dito acima, isto é crime ao qual não é este Ministério Público o legitimado para tanto.”

Em suas contrarrazões ao recurso (fls. 145/147), o Sindicato denunciado diz que a declaração em questão “não é essencial à comprovação do exercício de

atividade rural do segurado, o qual, alternativamente, pode utilizar de qualquer um dos documentos elencados no referido dispositivo legal” (fl. 146). Invoca para tanto o

art. 106, III, da Lei nº 8.213/91.

Afirma, ainda, que não há impedimento legal para a cobrança de taxa para a emissão da declaração, sendo o valor cobrado razoável em face do “considerável

dispêndio de documentação e tempo para investigar a veracidade das informações prestadas pelo segurado, no sentido de comprovar de forma robusta o efetivo exercício de sua atividade” (fl. 146).

Sobre a autonomia sindical, cita trecho de José Carlos Arouca, da obra indicada, em que este afirma que “autonomia, num primeiro momento tem a ver com

a liberdade frente ao Estado, mas aí, não como poder concorrente e sim como direito de não se subordinar a seu comando, ficando a salvo, pois de qualquer ingerência em sua administração ou intervenção capaz de comprometer suas atividades” (fl. 146).

Por fim, nega veementemente que estaria fornecendo declaração a quem não integra a categoria representada. Junta cópia do Estatuto Social.

De fato, os sindicatos são instituições reconhecidas constitucionalmente, possuindo autonomia e liberdade de organização e administração (CF, art.8º), sendo vedada qualquer interferência do Estado, aliás, como bem observa José Carlos Arouca, citado pelo Sindicato.

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No entanto, isso não significa que os sindicatos detêm total e ampla liberdade, uma vez que, como qualquer organização, se pauta pelo disposto em seu estatuto social e pelos princípios e regras específicas da legislação pátria.

No caso, não há no Estatuto Social da entidade qualquer cláusula que autorize a cobrança de contribuições por serviços prestados que se relacionem às atribuições que lhe competem. Ademais, a Consolidação das Leis do Trabalho não autoriza a cobrança de qualquer contribuição, senão aquelas previstas em lei, o que não é o caso.

Por outro lado, o disposto no art. 513, alínea “e”, da CLT, não lhe dá respaldo, uma vez que a disposição se atém aos limites impostos no art. 8º, da Constituição Federal, e as contribuições associativa e assistencial se limitam aos associados, exceção feita à contribuição sindical prevista no art. 579 da CLT. E, mesmo esta, ainda que cobrada compulsoriamente de todos os integrantes da categoria, associados e não associados, encontra destinação específica, a teor do que preconiza o art. 592, do mesmo diploma legal.

Assim sendo, vê-se que, muito embora seja frequente a discussão jurídica sobre a revogação ou não de determinados artigos previstos na CLT referentes ao Titulo Organização Sindical, entendo, data venia, que permanecem em vigor os dispositivos citados.

Deve-se ressaltar também que é o Sindicato que, em seu Estatuto Social diz ser prerrogativa da entidade, entre outras, “colaborar com o Estado, como órgão

técnico e consultivo, no estudo e solução dos problemas que se relacionam com as atividades da categoria profissional que representa” (art. 2º, III).

E, no caso, a Instrução Normativa do INSS, a que se reporta o recorrente, ao considerar a declaração emitida pelo Sindicato como documento hábil para a

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apreciação do pedido de aposentadoria, solicitada por trabalhador rural, reconhece esse papel, assim como privilegia a atribuição da entidade como seu legítimo representante, conhecedor, portanto, das condições de trabalho específicas, para o seu acesso a benefício da previdência social.

Nesse sentido, caminha a atuação do órgão ministerial, que, em nenhum momento, se apresenta de controle ou de fiscalizador da entidade sindical, mas de defesa do direito do trabalhador de buscar e obter a representação sindical devida, sem que isso lhe traga ônus adicionais, sequer discutidos e avalizados pela assembleia dos interessados.

É direito do trabalhador discutir e decidir com os demais pares quanto à eventual obrigação por contribuições para o Sindicato. Este não pode é impor de livre arbítrio contribuições para a prestação de serviços que lhe são inerentes. A tanto não chega a autonomia e liberdade sindicais que, frise-se mais uma vez, encontra limites na lei e no estatuto social da entidade.

É salutar lembrar que os sindicatos têm o compromisso social de bem representar e proteger os direitos daqueles que compõem a categoria profissional respectiva. Logo, deverão sempre prestar gratuitamente a necessária assistência ao trabalhador, sem jamais condicionar sua atuação a qualquer pagamento, excepcionadas, como já exposto, as contribuições previstas em lei.

Feitas essas colocações, tem-se que o fato de a declaração em discussão não ser indispensável para a comprovação do exercício de atividade rural, uma vez que ela pode ser emitida por outras autoridades, conforme a citada Instrução Normativa do INSS, não justifica o procedimento do Sindicato.

Observe-se que a previsão de o Sindicato poder atestar o exercício da atividade profissional é um reconhecimento do seu papel de representante do

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trabalhador rural e defensor dos seus interesses e direitos. Ademais, embora o art. 106, III, da Lei nº 8.213/91, não fale em indispensabilidade da declaração, ele é expresso em dizer que a comprovação do exercício de atividade rural será feita, alternativamente, entre outros documentos, por meio de declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural. Portanto, ela, efetivamente, se apresenta como um documento hábil e facilitador para o trabalhador rural.

Em decorrência, dizer que o trabalhador rural pode ajuizar a ação competente perante a Justiça do Trabalho para buscar o reconhecimento de sua atividade rural não simplifica a questão, uma vez que o acesso à justiça não se concretizará sem a devida assistência sindical, o que retorna ao Sindicato. Mais simples e menos oneroso para este e para o trabalhador é a própria entidade sindical emitir a declaração.

De outro lado, correto o Órgão oficiante quando diz que, em caso de declaração que não corresponda à realidade, a circunstância tipifica crime, o que afasta a atuação ministerial (fl. 62). No caso, entretanto, discute-se a cobrança pelo Sindicato de valor para emitir a declaração e legalidade dessa cobrança, o que, s.m.j., se insere nas atribuições ministeriais por envolver o direito do trabalhador de ser representado pelo seu ente de classe sem ônus, salvo as contribuições legalmente previstas, considerando-se a condição de filiado ou não e, em decorrência, de a entidade sindical cumprir para com o seu representado o seu papel de defensor dos seus interesses e direitos.

Registre-se que essa atuação se dá no exercício das atribuições que competem ao órgão ministerial de defender os interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, CF) e de promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção... de outros interesses difusos e coletivos (art. 129, III, CF). Em nenhum momento, essa atuação implica em ingerência na administração sindical ou em intervenção capaz de comprometer suas atividades, preservadas totalmente, nos

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exatos termos da doutrina preconizada por José Carlos Arouca, referência do Sindicato recorrido.

Diante do exposto, dou provimento ao recurso para não homologar o arquivamento do feito.

IV – CONCLUSÃO

Nessas condições, conheço do recurso e, no mérito, dou-lhe provimento. Em consequência, deixo de homologar o arquivamento do feito.

Brasília, 30 de agosto de 2013.

Eliane Araque dos Santos

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