Ana Paula Sabchuk Fernandes – UEPG ana-sabchuk@hotmail.com
Rita de Cássia Oliveira soliveira13@uol.com.br
Cintia Aparecida Canani cicacanani@yahoo.com.br
Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: PIBIC/Araucária Resumo
Perceber que a sociedade brasileira vem envelhecendo e vivendo mais não é suficiente, mas perceber qual é o significado deste envelhecimento para a sociedade e qual é o papel que ela ocupa. Desta forma tornou-se necessária a criação de novos espaços de convivência e participação social para o idoso a fim de que não fiquem somente restritos aos afazeres domésticos e familiares. A Universidade Aberta a Terceira Idade vem como uma nova possibilidade de resgatar a identidade do idoso dentro da sociedade, respeitando sua experiência adquirida e potencializando novos saberes e vivências. Este trabalho busca mostrar que estas vivências quando se dão em um espaço lúdico tende a quebrar barreiras e auxiliar no aprendizado e na relação com o outro e a sociedade.
Palavras-chave: Lúdico, envelhecimento, Universidade Aberta a Terceira Idade (UATI). Introdução
Pensar o envelhecimento nos dias atuais é pensar em novas possibilidades de vivências, conhecimentos, sentimentos e participação na sociedade. Já não cabe para os dias atuais pensar no idoso como alguém que fica somente em casa a tricotar e cuidar de netos, a realidade se mostra de maneira oposta a este pensamento, prova disto são a Universidade Aberta a Terceira Idade com turmas cada dia mais numerosas.
“Faz parte do nosso imaginário que, com a aposentadoria e com a velhice, o lazer ocuparão a totalidade do tempo, mas a realidade contemporânea mostra outra coisa.” (CASTRO, 2001, p. 25)
Nesta perspectiva torna-se necessária a busca por novas estratégias de ação ao trabalhar com estes alunos a fim de que as atividades sejam mais atrativas e motivadoras e propiciem uma maior interação no grupo.
Dentro do contexto atual, a educação surge como uma maneira de instrumentalizar os idosos para vencerem os obstáculos impostos pela idade e pala sociedade, proporcionando-lhes o aprendizado de novos conhecimentos e oportunidades para buscarem seu bem estar físico, psíquico, emocional e social. (CASTRO, 2004, p. 60)
Como forma de ação para promover a valorização do idoso e sua interação entre o meio utiliza-se da ludicidade, com atividades mais prazerosas e descontraídas promovendo assim maior interação no grupo e buscando assim promover também sua participação na sociedade.
O jogo é um formativo em dupla mão direção: junto ao aluno e ao professor. Para o professor, o jogo tem o potencial de promover novas e melhores formas de ensinar em geral, para qualquer disciplina, diferentes maneiras de interagir com a turma e de se posicionar dentro da sala, como coordenador das atividades e facilitador do aprender do aluno em vez de centro irradiador das decisões e do saber. (AMARAL, 2003, p.230)
Ao freqüentar a Universidade da Terceira Idade e vivenciar atividades lúdicas que promovam a interação entre as pessoas do grupo, a convivência e a auto expressão são fortalecidos laços afetivos, amizades e auto confiança fazendo com que a participação social do idoso seja mais ativa.
A Universidade Aberta a Terceira Idade e Direito a Educação
O trabalho com a terceira idade nos faz refletir sobre quais são suas expectativas da pessoa idosa ao buscar a UATI na Universidade Estadual de Ponta Grossa, e em conseqüência como é a participação social deste idoso e qual a contribuição que a UATI traz para o seu aluno. Para isso faremos uma breve reflexão a respeito do que a legislação brasileira a respeito a educação.
De acordo com a Constituição Federal (1988) o direito à educação é assegurado independente da idade em seu artigo 6º: “São direitos sociais a educação, [...]. Já no artigo 205 afirma-se que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família.”
Sendo a educação um direito de todos, é também direito do idoso ter acesso a educação que respeitem suas vivências e particularidades bem como a participação na sociedade como um todo, assegurado no artigo 2º do Estatuto do Idoso (2003): “O idoso goza da todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que se trata esta lei, assegurando-se-lhe, por meio da lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.”
O capítulo V ainda do Estatuto do Idoso, artigo 20 prescreve que: “O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade.”
Mas especificamente sobre a educação o artigo 21 garante: “O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados.”
E ainda promove a participação social do idoso por meio de atividades culturais e de lazer no artigo 23: “A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante descontos de pelo menos 50% (cinqüenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais.”
Torna-se então um dever da sociedade de propiciar a terceira idade espaços de educação, socialização, participação em atividades de lazer e culturais entre outros de maneira que garanta oportunidade de aperfeiçoamento compatíveis com a sua idade.
Desta forma, busca-se na UATI novas alternativas de significado para os saberes adquiridos nesta fase da vida e sua relação com a sociedade, pois já não se busca mais qualificação profissional e sim busca-se mais a satisfação pessoal aos resultados obtidos, portanto torna-se imprescindível trabalhar de forma dinâmica, atrativa e lúdica.
O uso de recursos lúdicos na prática pedagógica passa a ser então uma boa ferramenta para a reformulação de idéias e estimula a participação social da terceira idade.
Conforme afirma Bacelar (2002, p. 54): “O jogo entra com o objetivo de proporcionar alegria, prazer, para ajudar a eliminar inibições e como entretenimento. Devem ter poucas regras e dar oportunidade para a criatividade dos participantes, devendo acentuar o caráter sociável.”
A participação social do idoso tende a ser ampliada pela convivência com o outro, fortalecer os vínculos de amizade como nos passeios, eventos culturais, etc, permitindo com que estes alunos participem em diversos segmentos da sociedade nos quais já não estavam envolvidos.
O uso de recursos lúdicos na prática pedagógica passa a ser então um boa ferramenta para a reformulação de idéias e provocando a participação social da terceira idade.
Os sujeitos da UATI
Para falar e compreender o perfil do aluno da UATI e obter os dados necessários a esta pesquisa realizou-se um questionário para perceber qual é a relação que o idoso possui com a sociedade antes de freqüentar a UATI, quais são suas expectativas com o curso e qual a relação da ludicidade e do jogo para a relação com o grupo e a sociedade.
Busca-se assim, uma maior conscientização da relevância do lúdico na aprendizagem de novos conhecimentos e como facilitador de relações sociais por ter um caráter prazeroso levando a inibição e a participação do idoso.
Portanto, com base na análise dos dados coletados serão selecionados e contemplados alguns fatores pessoais e sociais que visam auxiliar o entendimento sobre papel da UATI e do lúdico para os idosos e para promoção de sua participação na sociedade.
Da análise dos dados dos participantes da UATI referente ao sexo observa-se o predomínio feminino, dos 50 participantes: Masculino 06 (12%), Feminino 44 (88%); Quanto a idade possuem: 60 anos completos 02 ( 40%), de 65 a 70 anos 07 ( 14%), acima de 70 anos 23 ( 46%);
Que possuem ocupação: aposentado 20 (40%), cuidar dos netos 03 (06%), trabalhos manuais 03 ( 06%), canta no coral 01 (02%), do lar 19 ( 38%), a UATI 01 (02%), pensionista 02 ( 04%), não respondeu 01(02%); Quanto o estado civil: Casado 22 ( 44%), Solteiro 09 ( 18%), Viúvo 17 (34%), Separada 02 (04%).
Quando perguntados sobre quantas pessoas moram com você: Mãe 04 (08%), genro e netos 06 (12%), sozinha 08 (16%), não respondeu 01 (02%), filho 09 (18%), esposo e filhos 12 (24%), esposo e netos 03 (06%), somente o esposo (a) 07(14%).
Quais eram suas principais atividades antes de entrar para a UATI: Igreja 08 (06%), cuidar dos netos 04 (08%), trabalhos manuais 03 (06%), não participava de nada apenas cuidava da mãe 01(02%), empresário no ramo de madeira 01(02%), em escola 02 (04%),
balconista 01 (02%), trabalhava no comércio 04 (08%), fazia ginástica 02 ( 04%), costureira 03 (06%), cuidar da casa 11 (22%), não especificado 03 (06%), hidroginástica 02 (04%), fazer visitas 01 (02%), trabalho voluntário 01 (02%), grupo da 3ª idade do bairro 01 (02%), clube de mães 01(02%) curso de computação 01 (02%);
De que forma você define a sua participação na sociedade: Participa na igreja 12 (24%), Participativa 09 (18%), pouco ativa 22 (44%), gosta de freqüentar bailes e festas 01 (02%), não respondeu 06 (12%);
Qual foi a motivação que o levou a participar da UATI: 20 procurar aprendizado (40%), 15 para ter convivência com o outro ( 30%), 10 para ocupar-se de atividades (20%), 03 para estar atento ao meio (06%), 02 colaborar socialmente (04%).
Quando perguntados se atividades prazerosas – lúdicas- facilitam na satisfação e no relacionamento entre as pessoas 02 (04%) Não responderam, 01 (02) diz não gostar deste tipo de atividade e 47 aluno (94%) responderam preferir atividades lúdicas e elencaram algumas razões para a escolha como: motivação da aula, auxilia na sensação de bem estar, auxilia na interação e na troca de informações e conhecimento; a conviver em sociedade e conhecer pessoas; auxilia na aprendizagem; sentimento de prazer em participar; me sinto mais a vontade; assim conseguimos conhecimentos mútuos.
Selecionamos algumas respostas que contribuem para perceber a importância da participação do aluno na UATI para sua vida e sua participação e valorização na sociedade com o uso do lúdico:
“Estar interagindo em grupo, e vivenciando a realidade da pessoa da 3ª idade na qual esperamos aprender com exatidão os nosso direitos, deveres e a melhor forma de nos portarmos diante da nossa realidade.” (aluna 1)
“As minhas expectativas são em aprender mais, ampliar meus horizontes de conhecimentos e amizades. Poder ser útil para a sociedade e sair da rotina de casa que vai nos matando aos poucos sem percebermos o quanto nos faz mal, ser mais seu útil, ser feliz e transmitir um pouco de felicidade para os outros que estão a nossa volta”.(aluna 2)
A atividade lúdica ou prazerosa é apontada por 47 (94%) dos alunos como facilitador das relações sociais e facilitador da aprendizagem, e ainda o trabalho em grupo é apresentado como preferido por 41 (82%) dos alunos, 03 (06%) preferem o trabalho realizado individual, 03 (06%) gostam das duas formas de trabalho e 03 (06%) não respondeu .
“Parece-me que, para um sujeito que envelhece, o grupo se torna um fator importante e possibilitador de identificações e novas construções. Além da escuta, o trabalho em grupo permite o surgimento de um outro semelhante, oportunizando vínculos que a sociedade já não mais mantém.” (CASTRO, 2001, p.68).
Desta forma podemos perceber o papel da UATI na vida do aluno idoso e as vantagens apontadas por eles na realização de atividades lúdicas e em grupo que auxiliam na forma de aprendizado, de relação com o outro e com eles mesmos e a maneira de encarar sua nova posição na sociedade, de maneira mais autônoma, segura, participativa e significativa.
Considerações Finais
Sendo a educação um direito irrevogável cabe as instituições escolares, neste caso a Universidade Aberta a Terceira Idade, adequar os currículos a essa faixa etária e como os procedimento metodológico defendemos o uso de atividades lúdicas que além de auxiliar no processo de ensino aprendizagem também facilita a relação entre os idosos e conseqüentemente sua relação social acaba sendo ampliada pela sua rede de relações sociais. Estes resultados nos mostram a importância da sociedade em propiciar espaços para a participação do idoso, espaços esses que levem em conta suas potencialidades e singularidades.
A análise dos dados coletados nesta pesquisa auxilia a compreender a importância da criação de espaços de convivência que sejam fora do núcleo familiar para a qualidade de vida do idoso e, com o uso de atividades lúdicas criar um ambiente agradável e favorável ao aprendizado que privilegiem as relações em grupo e relações de qualidade.
A UATI se apresenta assim como uma alternativa para o resgate da participação social do idoso que de acordo com do dados dos questionários analisados as principais atividades executadas antes de freqüentarem a UATI eram para mais da metade dos idosos restrita aos cuidados domésticos e frequentarem a igreja, mostrando assim a pobreza de participação nos diferentes segmentos da sociedade.
Desta forma, por meio das possibilidades oferecidas pelo lúdico os idosos, tornam-se agentes ativos no processo de aprendizagem e também na sociedade.
REFERÊNCIAS
AMARAL, S. Psicopedagogia: um portal para a inserção social. Petrópolis- Rio de Janeiro: Vozes, 2003.
BACELAR, R. Envelhecimento e produtividade: processos de subjetivação. 2. ed. rev. Recife: Fundação Antônio dos Santos Abranches- FASA, 2002.
BRASIL. Constituição Federal 1988.
BRASIL. Estatuto do Idoso 2003.
CASTRO; O. P. (org) Envelhecer: um encontro inesperado (realidade e perspectivas na trajetória do envelhecente). Sapucaia do Sul: Nota Dez, 2001.