FÓRUM DO TURISMO 2015
A CCIPD vem, há já alguns anos, a organizar o FÓRUM do turismo sob a competente e empenhada liderança da Comissão Especializada desta área. Faço aqui o meu reconhecimento público do seu trabalho.
Os temas de eleição têm mudado de FÓRUM para FÓRUM, em função dos interesses mais evidentes em cada ano.
Nestes encontros, já foram tratados assuntos tão específicos como os trilhos e tão abrangentes como os transportes ou o marketing do turismo.
O FÓRUM do ano passado debruçou-se extensivamente sobre os transportes aéreos, numa altura em que se defendia uma liberalização que tardava em chegar. Uma grande questão na altura era como se daria a volta ao marasmo em que tinha caído a procura do destino. Tinha-mos a perceção clara de que era necessário um contributo muito melhor do sistema de transportes para a dinamização do sector.
O FÓRUM deste ano acontece num contexto muito diferente. Temos sete meses de contexto de liberalização, incluindo a época alta e a época média mas faltando cinco meses da época baixa.
Para avaliar a evolução do turismo precisamos das estatísticas das dormidas na hotelaria tradicional, que nos chegam com algum desfasamento.
Importantes são também as estatísticas de outras formas de alojamento, que vêm também com um desfasamento ainda maior.
Em breve saberemos os resultados do mês de Setembro para a hotelaria tradicional e de julho para todos os tipos de alojamento.
A leitura de indicadores avançados desta variável, como seja o número de passageiros movimentados, permite-nos antever a continuação de uma melhoria relativa e absoluta muito boa para a época, continuando a tendência dos meses anteriores. Pode, com segurança, anunciar-se que devemos mesmo superar, folgadamente, as estatísticas de dormidas de 2006 e 2007.
É um registo notável para o desempenho do turismo.
Esta circunstância suscita-nos uma série de reflexões que são, também, a base para uma série de propostas.
Quanto às reflexões:
i) importa sublinhar que a mudança do modelo de transportes aéreos, incluindo a liberalização, teve um impacto muito importante no turismo dos Açores em geral e no de São Miguel, em particular;
ii) o perfil dos turistas de hoje é diferente do de 2006/07 (naquela altura tínhamos muitos turistas que nos chegavam em “pacotes”, apoiados por programas públicos, enquanto que hoje temos muitos turistas que chegam aos Açores por programação própria utilizando novas ferramentas acessíveis a qualquer um);
iii) o alojamento é feito em formas cada vez mais diversificadas com o alojamento local a ganhar peso no conjunto;
iv) em 2015, deveremos ultrapassar ligeiramente (2 e 4%) os máximos do turismo dos Açores atingido em 2007;
v) 2016 deverá ser um ano de crescimento para níveis de turismo que nunca tínhamos atingido.
Com efeito, pode atribuir-se à mudança do modelo de transportes e, em especial, à liberalização, o surto de crescimento que se tem mantido desde o início do segundo trimestre. Este não será nunca o fator único a explicar o fenómeno do turismo mas a sua implementação foi determinante para provocar um efeito fundamental – a quebra acentuada do preço – com uma consequência igualmente fundamental – o aumento dos que nos visitam. A teoria do consumidor fazia-o prever e a prática confirmou-o. Caíram os preços das acessibilidades e subiu drasticamente a procura.
Interessante também é que muitos dos turistas que nos procuram hoje são diferentes dos que atraímos no primeiro surto do turismo do final do século passado e início do atual. A diferença é exatamente entre nós os atrairmos – muitas vezes com investimentos substanciais – e eles nos procurarem, com investimentos muito modestos. Uma vez entrados nas redes privadas de divulgação e venda de destinos e tendo algo para oferecer – um bom destino – a preços competitivos, os resultados aparecem e estão a aparecer, de facto. Não nos podemos esquecer deste fenómeno por duas razões: uma para podermos saber como e onde atuar nas vias agora abertas, utilizando instrumentos eficazes; outra para podermos abordar a solução para as ilhas com menor desempenho de forma eficaz se é a sustentabilidade que se pretende. Não faz sentido repetir modelos passados que apenas geram dependências, sem abordar seriamente a problemática da sustentabilidade e da concorrência, quando ela não existe. Fazer vista grossa à falta de concorrência onde ela deve existir é política errada. Mais errado fica se se compensar com operações dispendiosas de atração forçada. Foquemos a nossa atenção nas forças de mercado e certamente teremos políticas de “Low cost” com “altos resultados”, como aconteceu em S. Miguel.
Medir o sucesso, ou insucesso, de uma política requer informação adequada e atempada. Neste sentido é importante melhorar o sistema de produção estatística para que possamos mais tempestivamente saber como estamos a evoluir, medindo tudo o que deve ser medido. As dormidas na hotelaria tradicional são um indicador muito importante mas já não é possível não ter em linha de conta o que se está a passar nas outras formas de alojamento, nomeadamente o alojamento local e o alojamento em espaço rural. Captar correta e atempadamente a atividade nestes tipos de alojamento passa a ser muito importante embora se compreenda que será um desafio maior. Por isso, será necessário por um lado minimizar a economia paralela e, por outro, desenvolver indicadores avançados e mais imediatos como sejam as reservas feitas na hotelaria ou em outros serviços do turismo ou os passageiros movimentados nos aeroportos. A gestão detalhada no setor exige informação detalhada e imediata que só as autoridades competentes podem produzir. A este propósito, registe-se ainda a necessidade urgente de se atualizar as Contas Satélite do Turismo, um instrumento fundamental para se compreender as interligações do turismo dos Açores com os demais sectores desta nossa economia.
Não podia nesta intervenção, neste momento, deixar de falar um pouco sobre a medição, a já conhecida, do fenómeno do turismo nos Açores este ano.
As últimas estatísticas conhecidas reportam-se ao mês de agosto para as dormidas em unidades hoteleiras e para o mês de junho para todas as outras formas de alojamento. As estatísticas dos passageiros movimentados reportam-se a outubro.
Utilizando as dormidas na hotelaria tradicional podemos já dizer que, para os Açores, o acumulado de turistas, até agosto, aumentou 6% na comparação com 2006 e 4% com 2007. Para S. Miguel a variação foi de 3% e 2%, respetivamente. O recorde está quase garantido para os Açores e também para S. Miguel que, curiosamente, tem uma melhoria relativamente menor do que da Região no seu todo.
Já comparando com 2014, a melhoria é, até agosto, de 17% para os Açores e 21% para S. Miguel. Isto quer dizer que, nos anos passados, a quebra foi mais acentuada em S. Miguel que agora recupera mais depressa mas sem ultrapassar a sua posição relativa. Utilizando as dormidas totais, que incluem formas de alojamento para além da hotelaria tradicional, pode adicionar-se mais 8% do total de dormidas em 2007 e mais 14% em 2014. Quer isto dizer que as dormidas em alojamentos alternativos à hotelaria tradicional têm vindo a crescer de forma acentuada. Em 2015, o crescimento destas modalidades alternativas de alojamento foi muito notório, quando comparado com 2014. Em S. Miguel, nos primeiros dois meses de aplicação do novo modelo de transportes aéreos o crescimento foi de 80%. Ao terceiro mês foi de 22%. Aguardamos com expectativa a confirmação da tendência perspetivada, com a saída de novos
dados dentro de poucos dias. Estamos perante uma mudança inequívoca a merecer toda a atenção dos gestores do sector.
Como as estatísticas dos transportes constituem um indicador avançado do que se está a passar em termos de visitas, reconhecendo-se que parte do movimento é de residentes, podemos consolidar as nossas expetativas com aqueles valores.
Com efeito, os valores acumulados de passageiros desembarcados, até outubro, apontam para um crescimento homólogo de 35% nos transportes territoriais, 13% no interilhas, 0% no internacional e 19% no agregado. Já para S. Miguel, estes valores, para o territorial, apontam para um crescimento de 53%, evidenciado particularmente a partir de abril de 2015. Em setembro e outubro, o crescimento foi, respetivamente, de 66% e 79%, valores que fazem antever um bom desempenho também para as dormidas, nestes dois meses. Desde abril de 2015, a taxa média de crescimento mensal foi de 64% para o tráfego territorial.
Tendo atingido um nível de procura superior à dos ex anos áureos do turismo dos Açores – fenómeno que se reproduz também na maioria das ilhas do arquipélago - a expetativa para 2016 é que se batam novos recordes de turismo para a Região e para quase todas as ilhas. Temos de saber tirar bom partido deste surto e compreender os efetivos fatores de competitividade para que os possamos preservar e mesmo melhorar.
Não é tarefa simples porque à nossa volta estão todos os destinos empenhados em ser mais competitivos do que nós. O desafio é similar ao que se desenrola num jogo de futebol - equipa que pára de jogar ou joga menos bem perde o jogo.
Os avanços conseguidos até aqui não podem ser encarados como um dado adquirido. Adquirido parecia estar o filão nórdico que alimentou o nosso turismo na década passada apenas para se assistir à sua rápida atrofia.
Foi por isso que a CCIPD e a CCIA insistiram na necessidade de se reforçar, de forma significativa, o orçamento afeto ao turismo para 2016. Mais 7 ou 8% é um valor manifestamente insuficiente em absoluto e mais insuficiente se revela se considerarmos o esforço extraordinário de operações charter e contratadas, que o governo já decidiu para a Terceira e Pico. O orçamento não estica e ficam a faltar recursos para uma multiplicidade de ações de requalificação da nossa oferta quer em espaços públicos de visita de turistas quer na formação dos recursos humanos que farão grande parte da nossa hospitalidade.
A dinâmica de crescimento está longe de estar consolidada. Poupar agora em investimentos no sector é abdicar do ou deitar fora o potencial imenso de criação de empregos, sem igual noutros sectores.
Estamos a aprender muito com o resultado de uma política “no cost” de liberalização que ainda não esgotou o seu potencial em todo o arquipélago. Não será positivo cairmos na tentação de reverter para mecanismos antigos que contrariam os mercados. São caros e dão resultados parcos e insustentáveis.
Pela sua importância o sector do turismo reclama mais e melhor investimento público, no que compete ao setor público, para que o sector privado possa desenvolver a sua atividade numa base competitiva.
Não podia aqui deixar também de referir a falta que fazem os documentos de planeamento para o sector cuja divulgação começa a tardar para além do aceitável. Não que os empresários parem o seu trabalho porque não o fazem. É que neste, como noutros sectores, a política pública tornou-se fundamental para a competitividade seja pelo que faz ou pelo que não faz.
Permitam-me uma palavra de esperança na nossa capacidade coletiva de ultrapassar os constrangimentos mais evidentes, e os mais subtis, do sector do turismo, por tudo o que este representa em potencial de contributo para o desenvolvimento dos Açores. Temos a certeza de que os painéis escolhidos para o programa de hoje serão um contributo grande para o nosso esclarecimento sobre os rumos a seguir. Agradeço desde já a todos os convidados que acederam a dedicar um pouco do seu tempo para partilhar connosco os seus pensamentos sobre as matérias escolhidas. Serão sem dúvida competentes oradores e contribuintes preciosos para a nossa reflexão.
Gostaria de deixar uma nota especial de agradecimento ao nosso amigo Jorge Rita, Presidente da Associação Agrícola de S. Miguel e da Federação Agrícola dos Açores pela sua presença e participação num painel que visa discutir a excelência das nossas produções e o seu potencial de atração turística, numa simbiose que se pretende perfeita entre o turismo e as nossas outras realidades de entre as quais impera a da agricultura e agropecuária que não só nos dão produtos mas também paisagem. O nosso muito obrigado.
Por último, mas não menos importante, vai o nosso agradecimento pela disponibilidade do Sr. Secretário Regional do Turismo e Transporte para marcar presença nesta jornada, que afinal é de todos nós, contribuindo com a sua importante reflexão para o nosso esclarecimento.
Bem-haja a todos e muito obrigado! Ponta Delgada, 12 de novembro de 2015 o Presidente da Direção