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Pº R. P. 130/2009 SJC-CT- Execução fiscal Conversão do arresto em penhora Penhora já registada Entrada em regra de custas dos emolumentos devidos.

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Pº R. P. 130/2009 SJC-CT- Execução fiscal – Conversão do arresto em penhora – Penhora já registada – Entrada em regra de custas dos emolumentos devidos.

PARECER Relatório

1. O Chefe do Serviço de Finanças da …interpõe recurso hierárquico da decisão de

recusa dos registos pedidos a coberto das aps. 4888, 5107 e 5303, de 27 de Março de 2009, que respeitam à conversão do arresto registado sobre as fracções autónomas A e B do prédio n.º 2922, da freguesia da … e sobre o prédio n.º236, da freguesia de ….

2. Os registos foram recusados com fundamento na insuficiência do título (art.

69.º/1/b do CRP), por se entender que a conversão do arresto em penhora depende de despacho judicial nesse sentido, e no facto de sobre as aludidas descrições se encontrarem já registadas duas penhoras reportadas, uma, ao processo de execução fiscal n.º 1228200801025210 (ap. 4678, de 2009/03/26) e, outra, ao processo de execução fiscal n.º 1228200801027581 (ap. 4764, de 2009/03/26), nos quais também se proferiu o despacho a ordenar a conversão do arresto em penhora ora trazido a registo.

3. No requerimento de recurso, alega-se que a conversão do arresto em penhora é

efectuada mediante despacho a proferir pelo órgão de execução fiscal, o qual tem competência para ordenar a penhora independentemente de qualquer intervenção judicial, e que a conversão do arresto em penhora, para além do benefício da anterioridade do registo da providência cautelar, permitirá inutilizar a oposição ao arresto decretado que corre termos no Tribunal Administrativo e Fiscal de ….

4. No despacho de sustentação da recusa, é questionada a eficácia do arresto antes

do trânsito em julgado da decisão judicial que o decretou, alinhando-se o entendimento de que a especialidade da legislação atinente ao procedimento tributário e a pendência do procedimento cautelar determinam que a conversão do arresto em penhora se faça por despacho judicial, e é, mais uma vez, salientado o facto de haver já registos de penhoras (aps. 4678 e 4764, de 2009/03/26), à

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margem do arresto e sem conexão com ele, no âmbito dos processos de execução fiscal ora referenciados.

Questão prévia

1. Considerando que pela impugnação judicial é devida a quantia prevista no

artigos 27.º/5 do Regulamento Emolumentar dos Registos e Notariado (RERN), cumprirá, antes de mais, apreciar a questão prévia suscitada na proposta de remessa do recurso hierárquico ao Conselho Técnico e que reside em saber se aqueles emolumentos deverão entrar em regra de custas, com dispensa de pagamento prévio, ou se, ao invés, há que notificar o interessado para efectuar o pagamento prévio.

2. Antes da entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, dispunha

o art. 150.º do Código de Registo Predial que pelos actos praticados nos serviços de registo predial eram cobrados os emolumentos constantes da respectiva tabela, salvo os casos de isenção previstos na lei e as contas que tivessem de entrar em regra de custas de processo, as quais eram pagas com as custas a que houvesse lugar.

2.1. Sempre que o encargo com o acto de registo em causa integrasse o conceito

de «custas de processo», a conta respectiva era paga com as custas, ou seja, no momento em que processualmente devesse ocorrer a cobrança das custas judiciais, dispensando-se, assim, a entrega do preparo (quantia provável do total da conta) no acto da apresentação ou no momento do pedido (art. 151.º), bem como a sua regularização até ao momento da feitura do registo (cfr. o disposto nos arts. 69.º/1/f e 73.º/5 do CRP, na redacção anterior ao Decreto-Lei n.º116/2008).

3. Com o Decreto-Lei n.º 116/2008, é eliminado o dever de entrega da quantia

provável da conta colocando-se no seu lugar um dever de pagamento imputado ao sujeito activo dos factos, com entrega adiantada, em simultâneo com o pedido de registo ou antes deste, a cargo do apresentante (art. 151.º/1/2 e 3), e sem prejuízo das especificidades ligadas à atribuição do dever jurídico do pedido do registo (art. 8.º-A do CRP) a sujeitos diversos do sujeito activo do facto (art. 151.º/ 5 e 6).

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4. Não deixa, todavia, de se prever um regime de excepção para as quantias que

devam entrar em regra de custas, que passa por descontar as ditas quantias na receita do Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça, I.P, (IGFIJ), cobrada pelos serviços de registo, não obstante a eventual incobrabilidade da conta de custas ou o benefício de apoio judiciário do requerente (art. 151.º/8), devendo o montante que for obtido por via das custas judiciais constituir receita daquela entidade (art. 151.º/7).

4.1. E, por isso, fora dos casos previstos no art. 151.º/41, continua a caber o

apuramento das contas que, à luz do normativo específico das custas processuais, deverão entrar em regra de custas, ou seja, dos custos devidos pela actividade registal (acto de registo, emissão de certidão ou qualquer outra actividade sujeita a tributação emolumentar) que são susceptíveis de integrar o conceito de «custas processuais», mas, agora, por forma a ponderar do seu enquadramento no aludido procedimento de desconto na receita do IGFIJ.

4.2. Assim, quando se trate de acto (ou documento) de registo inerente a um

processo que corra termos em tribunal judicial, administrativo ou fiscal, importa agora atentar no conceito de custas processuais definido no art. 447.º do CPC e no art. 3.º do Regulamento das Custas Processuais (RCP), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro, que compreende a taxa de justiça, os encargos e as custas de parte (art. 447.º do CPC e art. 3.º do RCP)2.

1 Sobre as quantias devidas pelos registos de acções, decisões e outros procedimentos e providências

judiciais promovidos pelos tribunais já se diz, no art. 151.º/4 do CRP, que as mesmas entram em regra de custas, e, como tal, bastará dar cumprimento ao disposto no art. 151.º/7 do CRP, deduzindo o valor respectivo na receita do Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça, I.P., entidade criada pelo Decreto-Lei n.º 128/2007, de 27 de Abril, que sucedeu nas atribuições do Instituto de Gestão Financeira e Patrimonial da Justiça e a quem compete arrecadar e administrar as receitas provenientes do sistema judicial e do sistema registal e notarial que lhe sejam atribuídas nos termos da lei.

2 Por ora, apenas pretendemos fazer uma apreciação geral do problema à luz dos preceitos legais

vigentes em matéria de custas processuais, mas, perante o caso concreto, obviamente, cumprirá ter em conta as disposições atinentes ao âmbito temporal de aplicação do Regulamento das Custas Processuais citado no texto, aplicando-se, se for o caso, a LA, ou seja, o Código das Custas Judiciais (CCJ) revogado (cfr. o art. 27.º do Decreto-Lei n.º 34/2008).

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4.2.1. Sendo que, para efeitos do disposto no art. 151.º/7 do CRP, o que deste

conceito de custas processuais avulta é a vertente «encargos com o processo»3,

uma vez que a taxa de justiça corresponde ao montante devido pelo impulso processual de cada interessado ou sujeito processual e as custas de parte compreendem o que cada parte haja dispendido com o processo e tenha direito a ser compensada em virtude da condenação da parte contrária4.

4.2.2. Face ao elenco dos encargos com o processo definido no art. 16.º do RCP,

entrarão em regra de custas os pagamentos devidos pela produção ou entrega de documentos, realização de registos ou prestação de serviços de registo requisitados pelo tribunal a requerimento ou oficiosamente (art. 16.º/1/d), bem como os que sejam devidos pela passagem de certidões exigidas pela lei processual, quando a parte responsável beneficie de apoio judiciário (art. 16.º/1/f)5-6.

4.2.3. Mas poderá entrar também o pagamento devido por acto de registo que se

integre no âmbito da acção, que possa interferir com o seu desenvolvimento, ou que, comprovadamente, constitua condição de reconhecimento do direito que nela se invoque, e que seja pedido pela parte que beneficie de apoio judiciário (art. 16.º

3 De acordo com o disposto no art. 447.º/3 do CPC, são encargos do processo todas as despesas

resultantes da condução do mesmo, requeridas pelas partes ou ordenadas pelo juiz da causa.

4 No dizer de Salvador da Costa, Regulamento das Custas Processuais Anotado e Comentado, 2009, p.

51, a distinção entre encargos e custas de parte é problemática, pois, como as custas de parte compreendem o que cada parte despendeu com o processo, elas traduzem-se em encargos com o processo. Mas, diz o autor, dir-se-á que as custas de parte se traduzem no quantitativo monetário devido pela parte vencida à parte vencedora, conforme a proporção do vencimento, com a limitação prevista na lei, por virtude do que a última teve de despender com o processo em causa.

5 Como refere Salvador da Costa, ob. cit., p.245, o artigo 16.º do RCP acaba por substituir o que

constava dos artigos 32.º e 89.º do CCJ, de cuja estrutura não diverge essencialmente.

Concatenando os preceitos da LN com os da LA, concluímos que o disposto no art. 16.º/1/d) do RCP não destoa do que essencialmente constava do art. 32.º/1/b) do CCJ, embora se reconheça o carácter inovador do art. 16.º/1/f), que, na verdade, não parece encontrar correspondência no CCJ.

6Obviamente, a questão do pagamento só se coloca quando a emissão de documentos ou a realização

do registo esteja sujeita a tributação emolumentar por força do disposto no RERN e, portanto, não beneficie de nenhuma gratuitidade ou isenção estrutural (cfr., a este propósito, o Despacho nº 1/2003, publicado no BRN n.º 1/2003, caderno I, e o art. 14.º/2/c do RERN).

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da Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho), mas aqui por via de um resultado interpretativo assente no conceito de encargos com o processo a que alude o art. 16.º/1/a) e d) da Lei n.º 34/2004, na relevância do acto de natureza registal como prova a apresentar em processo no âmbito do qual tenha sido concedido o benefício de apoio judiciário, nos termos já referidos7, e, fundamentalmente, no escopo do

sistema de acesso ao direito e aos tribunais, que, face ao disposto no art. 1.º/1 da Lei n.º 34/2004, visa assegurar que a ninguém seja dificultado ou impedido, em razão da sua condição social ou cultural, ou por insuficiência de meios económicos, o conhecimento, o exercício ou a defesa dos seus direitos.

4.3. Assim sendo, no que concerne a contas que devam entrar em regra de custas

judiciais, cremos que a diferença entre o regime anteriormente previsto (art. 150.º/2 do CRP, na redacção anterior ao Decreto-Lei n.º 116/2008) e o que agora dispõe sobre a matéria (art. 151.º/7 do CRP) se analisa essencialmente no facto de que, antes, a unidade orgânica prestadora do serviço assumia a qualidade de

credora das quantias devidas, e, por conseguinte, só após o recebimento, nos

termos e com a oportunidade ditados pelo normativo regulador das custas processuais, se procedia ao registo contabilístico das mesmas como receita do serviço, e agora, a despeito de quaisquer vicissitudes, como a incobrabilidade da conta de custas ou o apoio judiciário, as quantias são descontadas na receita do Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça, I.P., cobrada pelos serviços de registo, passando aquele Instituto a ocupar, por inteiro, o lugar de entidade ou serviço credor das quantias relativas a encargos que devam figurar da conta do processo e que representem despesa emolumentar8.

4.4. Questão mais complexa é a que se coloca quando a conta respeite à prestação

de um serviço de registo predial requisitado no âmbito da fase administrativa do processo de execução fiscal, como é o caso dos autos, em que a receita arrecadada compete a outras entidades, que não o Instituto de Gestão Financeira e de

7 Cfr. o despacho n.º 26/2002, publicado no BRN n.º 2/2002, e o parecer proferido no Proc. RP

163/2001 DSJ-CT, publicado no BRN n.º 6/2002, Caderno II.

8 Nesta perspectiva, afigura-se adequado fazer constar da conta do acto de registo a menção de que as

quantias nela indicadas pertencem ao Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça, I.P., de forma a permitir que o pagamento se faça directamente a este Instituto.

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Estruturas da Justiça, I.P., e em que os actos de registo ou documentos produzidos pelos serviços de registo se inserem no âmbito da actividade desenvolvida pelo órgão processual, oficiosamente ou a requerimento dos interessados.

4.4.1. Aqui, o enquadramento normativo das custas processuais é o que,

essencialmente, resulta do Regulamento das Custas dos Processos Tributários (RCPT)9, de que se destacam a abrangência do conceito de custas, compreendendo

os encargos definidos no art. 20.º, e o destino da receita, que, de acordo com o disposto no art. 4.º do RCPT, na redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 324/2003, de 27 de Dezembro, reverte para a DGCI, e do disposto no Código de Processo e de Procedimento Tributário (CPPT)10.

4.4.2. E também aqui, as despesas com a produção de documentos ou a realização

de registos, que constituam actos inerentes ao processo de execução e que sejam requisitados pelo órgão processual respectivo, são susceptíveis de integração no conceito lato de encargos (art. 20.º do RCPT) e, por conseguinte, no conceito de custas de processo.

4.4.3. O ponto está em saber se estes encargos cabem na facti-species do art.

151.º/7 do CRP, se, ao invés, devem ser pagos em simultâneo com o pedido ou antes deste, conforme a regra geral contida no art. 151.º/1, ou se lhes deve ser aplicado outro regime de excepção.

4.4.4. Na verdade, uma interpretação conjugada dos n.ºs 7 e 8 do art. 151.º do

CRP permite sustentar que o procedimento de desconto na receita do IGFIJ só se aplica quando estejam em causa custas que devam constituir receita do mesmo

9 Na revogação do Regulamento das Custas dos Processos Tributários (aprovado pelo Decreto-Lei n.º

29/98, de 11 de Fevereiro, alterado pelos Decretos-Leis n.º 257/98, de 17 de Agosto, e 307/2002, de 16 de Dezembro) levada a cabo pelo Decreto-Lei n.º 324/2003, de 27 de Dezembro, são excepcionadas as normas referentes a actos respeitantes à fase administrativa dos processos abrangidos pelo artigo 1.º do mencionado Regulamento, pelo que parte da actividade processual da execução fiscal continua a ser regida pelo RCPT, cabendo ao Regulamento das Custas Processuais tratar da matéria de custas atinentes ao processo judicial tributário (cfr. art. 2.º do RCP), ou seja, ao que tem por fim a tutela plena, efectiva

e em tempo útil dos direitos e interesses legalmente protegidos em matéria tributária, através das várias espécies processuais previstas no art. 97.º do CPPT (Salvador da Costa, ob. cit., p. 247).

10 Sobre o processo executivo do sistema de solidariedade e segurança social, cfr. o disposto no

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Instituto (cfr. a Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de Abril) ou encargos que caiba a este Instituto adiantar (art. 19.º do RCP) ou assegurar (art. 23.º/2 do RCP)11, pois,

de outra forma, seriam imputadas na esfera patrimonial do IGFIJ vicissitudes, como a incobrabilidade da conta de custas e o adiantamento da receita emolumentar pertencente a outras entidades (art. 21.º/12 e 13 do RERN), que, por via das suas atribuições, não lhe cumpriria suportar12.

4.4.5. Cremos, todavia, que, no caso dos autos, não deve valer também a regra

geral contida no art. 151.º/1 do CRP, porquanto se estabelece, no art. 231.º/1/b) do CPPT, um regime de excepção que implica que o pagamento se faça em momento posterior ao da prestação do serviço, afigurando-se compatível com o entendimento de que a impugnação da qualificação constitui desenvolução do pedido de registo uma interpretação extensiva do mencionado preceito do CPPT no sentido de dispensar o pagamento adiantado do próprio processo de recurso hierárquico (art. 11.º do CC)13.

5. Parece-nos, assim, que, às contas relativas aos pedidos de registo a que se

referem os autos e ao recurso hierárquico correspondente, se aplica o procedimento expresso no art. 231.º/1/b do CPPT, de que resulta um regime

11Na vigência do CCJ, já competia a este Instituto arrecadar e administrar as receitas relativas a custas

dos processos judiciais e efectuar os pagamentos inerentes a estas, sem prejuízo da inovação que representa o que agora se dispõe no art. 23.º do RCP.

12 Faz-se notar que, à luz do disposto na Lei n.º 34/2004, parece competir ao IGFIJ o pagamento das

despesas derivadas de apoio judiciário, sendo que este apoio judiciário, designadamente, na modalidade prevista no art. 16.º/1/a) da dita Lei, é susceptível de ser usado no âmbito da fase administrativa do processo de execução fiscal (cfr. Jorge Lopes de Sousa, Código de Procedimento e de Processo Tributário anotado e comentado, II volume, p.122, e Código de Procedimento e de Processo Tributário anotado e comentado, I volume, pp. 934/938).

13 Não nos parece que as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 116/2008 representem uma

revogação do que, neste âmbito, dispõe o CPPT, pois a verdade é que já antes a regra geral contida no art. 151.º/1 do CRP assentava no pagamento prévio não das quantias devidas, mas do quantitativo provável da conta, e nem por isso a fase administrativa do processo de execução fiscal deixava de beneficiar da dispensa de preparo, ressaltando, por outro lado, do disposto no art. 151.º/7 do CRP, a manifestação de um princípio geral de acolhimento de procedimentos de excepção quando estejam em causa contas que devam entrar em regra de custas.

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especial de pagamento posterior à prestação do serviço, mediante o envio da conta ao serviço requerente.

Fundamentação

1. Compulsados os documentos juntos aos autos, verificamos que, no

procedimento cautelar (Proc. n.º 260/08.9BECTB, do Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco) instaurado pela Direcção de Finanças da …, na qualidade de representante da Fazenda Pública, foi requerido e decretado o arresto do prédio descrito sob o n.º 236/19880603, da freguesia de …. e das fracções autónomas A e

B do prédio descrito sob o n.º 2992/20010321, da freguesia de ….

1.1. O aludido arresto, fundado no receio da diminuição de garantia de cobrança de

créditos tributáveis e na circunstância de ter sido já liquidado o IRS referente ao ano de 2004 e de se encontrar em fase de liquidação o IVA referente ao mesmo período tributário, foi registado a coberto das aps.11 (descrição n.º236/19880603), 12 (descrição n.º 2922/20010321-B) e 13 (descrição n.º 2922/20010321-A), de 2008/06/09, e a pedido do Chefe do Serviço de Finanças da….

1.2. Na sequência do procedimento cautelar, foram abertos dois processos de

execução fiscal, um com o n.º 1228200801025210, relativo a dívidas de IRS do ano de 2004, e outro com o n.º 1228200801027581, relativo a dívidas de IVA do ano de 2004, tendo sido realizada, em cada um deles, penhora dos mencionados imóveis, da qual se lavrou auto, em 17 de Março de 200914, e requereu registo, a

coberto das aps. 4678 e 4764 de 2009/03/26.

1.3. Na requisição de registo que serviu de base à cada uma das mencionadas

penhoras, foi produzida declaração no sentido de que os bens penhorados constituíam objecto do arresto registado, porém, nenhuma consequência foi retirada de tal declaração, realizando-se o registo das penhoras como actos

14 Na realização das penhoras, manteve-se a tramitação prevista no art. 231.º do CPPT na redacção

anterior à Lei 67-A/2007, de 31 de Dezembro, olvidando-se, assim, a modificação legislativa, designadamente, no que concerne à eliminação do auto de penhora como formalidade inicial (cfr. os arts. 231.º/5 e 838.º/3 do CPC).

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autónomos, desligados, portanto, quer no plano funcional, quer tabularmente, do dito arresto15.

1.4. No dia seguinte ao da formulação do pedido de registo das penhoras

realizadas nos processos de execução fiscal em curso para cobrança do IVA e do IRS do ano de 2004, foram, nos mesmos processos, proferidos despachos a converter o arresto decretado em penhoras, uma por cada processo de execução fiscal, solicitando-se, no mesmo dia, pelas aps. 4888 (descrição n.º 2922/20010321-A), 5107 (descrição n.º 2922/20010321-B) e 5303 (prédio n.º 236/19880603), os correspondentes registos e juntando-se, para o efeito, certidões extraídas de ambos os processos.

2. Ora, em relação a cada um dos prédios, a actuação descrita levanta

imediatamente dois problemas: um assente na unicidade do procedimento cautelar e da providência nele decretada e na subsequente duplicidade processual principal, e o outro relativo à transformação do arresto em penhora, sem que se comprove a extinção da penhora já realizada no mesmo processo de execução fiscal.

3. Quanto à divisão da providência cautelar que, de facto, ocorre, mediante

conversão em duas penhoras distintas (uma em cada processo de execução fiscal), resulta do disposto nos arts. 136.º e seguintes do CPPT que o arresto de bens do devedor de tributos ou do responsável solidário ou subsidiário pode ser destinado a assegurar mais do que uma liquidação de tributos. Todavia, se vierem a ser instaurados processos de execução fiscal distintos, a falta de apensação destes processos (art. 179.º do CPPT)16ou a falta de repartição dos bens objecto de

arresto pelos processos que, no conjunto, visem a cobrança de tributos figurados no procedimento cautelar, em regra, limitará o âmbito de eficácia da providência.

15 Faz-se notar que, na nossa opinião, a declaração aposta na requisição de registo da penhora apenas

poderia servir de suporte ao desencadeamento do processo de suprimento de deficiências com vista a apurar o sentido e alcance da mesma e, por consequência, do pedido de registo em causa, e não para, sem mais, transformar o arresto em penhora.

16Sobre o benefício da apensação dos processos quando existam várias penhoras dos mesmos bens em

diferentes processos de execução fiscal, Rui Duarte Morais, A Execução Fiscal, 2.ª edição, p. 145, (316), e Jorge Lopes de Sousa, Código de Procedimento e de Processo Tributário anotado e comentado, II volume, p.228.

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3.1. Com efeito, o arresto pode surgir como preliminar da execução fiscal, dentro

do condicionalismo previsto no art. 136.º do CPPT, e, se o pagamento não for efectuado, após a instauração do processo de execução fiscal para cobrança coerciva da quantia em dívida, o arresto será convertido em penhora (art. 214.º/3 do CPPT), sendo que, o que até aí era arresto, passa a ser penhora17, com as

consequências previstas no art. 822.º/2 do Código Civil, designadamente, ao nível da anterioridade da garantia.

3.2. Tal modificação implica que, uma vez transformado em penhora no processo

de execução fiscal, o arresto não possa valer já, com a mesma natureza e com os mesmos efeitos, noutro processo de execução fiscal e em relação ao mesmo bem18,

nomeadamente, de forma a ser transformado em penhora ou até, segundo alguma doutrina, para aí ser invocado como garantia real19.

3.3. Do mesmo modo, na perspectiva do registo, não se concebe que a inscrição de

arresto possa subsistir, a um tempo, como registo da providência cautelar (reduzida a parte da quantia por que se promoveu o arresto) e como registo de penhora, por via de uma conversão parcial do arresto em penhora (com referência aos tributos que representam a outra parte da quantia por que se promoveu o

17 Alberto dos Reis, Processo de Execução, v. 2º, p. 163.

18 Como refere José Lebre de Freitas e Armindo Ribeiro Mendes, Código de Processo Civil Anotado,

volume 3.º, p. 423, com a conversão, os efeitos do arresto previstos no art. 622.º do CC, que como tal se extinguem, são absorvidos pela penhora, deixando de ter existência própria, e o que se passa é que, simultaneamente, se produzem os efeitos processuais próprios da penhora, o primeiro dos quais consistente na destinação do bem à venda executiva.

19 Cfr. Jorge Lopes de Sousa, ob. cit., p. 446 e p. e 492, e Salvador da Costa, O Concurso de Credores,

2ª edição, pág. 13.

Considerando o arresto como figura que não consubstancia um direito real (de garantia) completo, mas apenas um direito real in faciendo, Rui Pinto Duarte, Curso de Direitos Reais, 2.ª edição revista e aumentada, pp. 259/260.

No sentido de que o arresto não convertido em penhora é uma mera providência cautelar, não constituindo garantia real para efeito de reclamação de crédito em processo executivo e não concedendo qualquer preferência para efeitos de graduação ou pagamento do crédito, Acórdão do STJ de 03/05/2007 (Proc. 07B747) e Acórdão da Relação de Lisboa de 01/10/1998 (Proc. 0024272), disponíveis em www.itij.mj.pt.

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arresto e que já se encontrem em fase de cobrança coerciva), ou deixe de figurar como inscrição de um arresto para passar a figurar como inscrição de dois factos da mesma natureza (duas penhoras) incidentes sobre o mesmo bem.

4. Acontece, por outro lado, que, à data da conversão do arresto em penhoras,

cada um dos processos de execução fiscal em tabela contava já com um acto de penhora sobre cada um dos bens arrestados, o que, tendo em conta a função e os efeitos deste acto – penhora – e o disposto no art. 68.º do CRP, não poderia deixar de ser considerado, como foi, no âmbito da qualificação ora impugnada.

4.1. Como se sabe, a penhora é o acto fundamental do processo executivo, de que

as restantes fases do processo são como que o desenvolvimento natural, mas que não esgota em si mesma a sua finalidade, já que é dirigida aos actos ulteriores de transmissão dos direitos do executado para, através deles, directa ou

indirectamente, ser satisfeito o interesse do exequente20.

4.2. Também tabularmente, podemos dizer, a inscrição de penhora dá expressão a

um iter para atingir um determinado fim21, seguindo-se, normalmente, a inscrição

de aquisição, por adjudicação ou venda no processo de execução, a que aquele registo servirá de suporte, designadamente, para efeitos de trato sucessivo, dado que a ineficácia relativa dos actos dispositivos subsequentes à penhora (art. 819.º do CC) se traduzirá, em termos de registo, não no impedimento à inscrição destes actos, mas na inscrição definitiva dos actos consequentes da penhora (art. 34.º/4/2.ª parte do CRP)22.

4.3. E é justamente para acautelar esta consequência que, no art. 58.º/3 do CRP,

se impede o cancelamento da penhora ou do arresto antes do registo definitivo de aquisição por adjudicação ou venda no processo de execução respectivo. Doutra forma, se tal penhora ou arresto pudesse ser cancelado antes do registo definitivo a favor do adquirente no processo de execução e um terceiro adquirente conseguisse registar o seu direito antes do adquirente o fazer, teria este então de submeter-se

20 José Lebre de Freitas, A Acção Executiva, Depois da reforma da reforma, 5.ª edição, p.263. 21Cfr. a deliberação proferida no P.º R. P. 279/2008 SJC-CT.

22 Como refere Mouteira Guerreiro, Noções de Direito Registral, 1.ª edição, p. 77, a ressalva feita na

última parte do art.34.º/2 (agora, art. 34.º/4 do CRP) não constitui excepção ao princípio do trato sucessivo, porque antes o confirma, permitindo que acompanhe a verdade jurídica.

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ao encadeamento lógico do trato sucessivo, frustrando-se, assim, o objectivo ínsito na parte final do art. 34.º/4 do CRP23.

4.4. No entanto, estando assegurado o trato sucessivo relativamente à aquisição

no processo de execução, mediante a subsistência do registo do arresto ou da penhora pertinente ao dito processo (art. 58.º/3 do CRP), nada impede que, a despeito da provisoriedade ou da falta de registo daquela aquisição, os efeitos da venda executiva previstos no art. 824.º do CC sejam tabularmente executados quanto aos demais direitos que caducam24, afigurando-se, portanto, viável o

cancelamento dos direitos de garantia que onerem os bens transmitidos, à excepção do arresto ou da penhora de que depende a aquisição, bem como dos demais direitos reais previstos no aludido preceito da lei civil.

4.5. Ora, no caso em apreço, a existência de dois registos de penhora (uma

apoiada no art. 231.º do CPPT e outra resultante da transformação do arresto nos termos do art. 214.º/3 do CPPT) sobre os mesmos bens e no mesmo processo não só não permitiria descortinar o acto de destinação do bem à venda executiva processualmente relevante como impediria que, uma vez realizada a venda executiva, se pudesse balizar o âmbito de actuação do disposto no art. 58.º/3 do CRP, dada a impossibilidade de eleger a inscrição que efectivamente serviria de suporte ao registo de aquisição por compra no processo de execução fiscal25.

23 Cfr. Isabel Pereira Mendes, Código do Registo Predial anotado e comentado, 11.ª edição, p. 202, e

parecer do Conselho Técnico proferido no Proc. n.º R.P. 52/98 DSJ-CT, publicado no BRN n.º 10/98, II Caderno.

24 A oficiosidade prevista no art. 101.º/5 do CRP não é, a nosso ver, impeditiva do cancelamento dos

registos do direitos reais que caducam, nos termos do n.º 2 do art. 824.º do CC, a pedido de qualquer interessado (art. 36.º do CRP), pois o princípio da instância não deixa de prevalecer sobre a regra excepcional da oficiosidade, que deve ser tratada como subsidiária que é (Rocheta Gomes, Instância e Oficiosidade no Registo Predial, separata do BRN, Maio de 1984, p.9).

25Considerando o disposto no art. 95.º/l) do CRP, no averbamento de conversão do arresto em penhora

cabe também indicar o número do processo de execução fiscal, de modo a favorecer o conhecimento da sua ligação com os actos subsequentes, designadamente, para efeitos do disposto no art. 34.º/4/2.ª parte e 58.º/3 do CRP.

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4.6. Ainda que não se trate dos mesmos factos, dado que as penhoras, resultantes

da conversão do arresto, ora trazidas a registo não serão as mesmas que foram inscritas a coberto das aps. 4678 e 4764 de 2009/03/26, trata-se dos mesmos bens e dos mesmos processos, e, por isso, ainda que não houvesse, como há, um problema de indivisibilidade do arresto, importaria sempre solucionar, em cada um dos processos de execução, esta dupla afectação jurídica dos bens, demonstrando a extinção do acto de penhora anteriormente realizado e obtendo o correspondente cancelamento, para que a penhora pudesse ingressar então como o resultado da conversão do arresto26-27.

5. Finalmente, importa dizer que «o processo de execução fiscal é um processo

misto, por ter uma fase administrativa e uma fase judicial»28, cuja especialidade

reside em ser a administração fiscal (entidade externa ao tribunal) a praticar a maioria dos actos processuais29.

5.1. Donde, em face das disposições conjugadas dos artigos 214.º/3, 215.º e 231.º

do CPPT, a conversão do arresto de bens imóveis em penhora ocorrerá, normalmente, de forma idêntica à da penhora de imóveis, ou seja, mediante comunicação emitida pelo órgão da execução fiscal à conservatória do registo

26 Como se refere no Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra de 10-03-2009, Proc.

162/05.0TBVZL-B.C1, o arresto e a penhora, mesmo nos casos em que ambos visam como escopo último a cobrança do

mesmo crédito, são actos processuais distintos, praticados em processos diferentes. O arresto no procedimento cautelar pertinente; a penhora no adequado processo de execução.

27 Naturalmente, não nos compete dizer se a conversão do arresto em penhora pode determinar a

inutilidade superveniente da oposição ao arresto (justificação dada pelo recorrente para a decisão de converter o arresto em penhora, quando os bens arrestados se encontravam já penhorados por via das formalidades previstas no art. 231.º do CPPT e nenhum registo incompatível se havia interposto entre o registo do arresto e o registo da penhora já efectuada), contudo, não nos parece de mais sublinhar que, para alguma doutrina e jurisprudência, nem a oposição ao arresto representa um obstáculo imediato à conversão do arresto em penhora (José Lebre de Freitas e Armindo Ribeiro Mendes, ob. e p. cit.), nem esta conversão implicará a inutilidade superveniente daquela oposição (cfr. Acórdão da Relação de Lisboa de 10-10-2006, Proc. 6355/2006-7, disponível em www.itij.mj.pt).

28Acórdão do STA de 19 de Fevereiro de 1992, apud Rui Duarte Morais, A Execução Fiscal, p. 41. 29 Rui Duarte Morais, ob. pp. 41/43.

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predial competente, pelo que não podemos sufragar a exigência de um despacho judicial a converter o arresto em penhora30.

6. Pelo exposto, propomos a improcedência do recurso e, em consonância,

firmamos aos seguintes

CONCLUSÕES

I – O disposto no artigo 151.º/7 do Código do Registo Predial só tem aplicação quando estejam em causa custas que devam constituir receita do Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça, I.P, ou encargos que caiba a este Instituto adiantar ou assegurar.

II- De acordo com o disposto no artigo 231.º/1/b) do Código de Procedimento e de Processo Tributário, o valor dos emolumentos e a conta são comunicados ao órgão de execução fiscal após a prestação do serviço, pelo que, no pedido de registo de penhora a favor da Fazenda Nacional, não deve prevalecer a regra geral estatuída no artigo 151.º/1 do Código do Registo Predial, que determina que o pagamento dos emolumentos e taxas devidas pelos actos praticados nos serviços de registo se faça em simultâneo com o pedido ou antes dele.

III- A conversão do arresto em penhora, embora deva ingressar no registo por averbamento, não deixa de constituir um acto processual distinto,

30 Já antes da alteração legislativa conducente à simplificação das formalidades da penhora de imóveis

no processo de execução fiscal (Lei n.º 67-A/2007, de 31/12) se entendia bastar o mero despacho do órgão exequente, dado tratar-se de um processo que, apenas em último termo, é judicial, pois corresponde ao exercício de uma actividade que assume fundamentalmente um carácter administrativo, embora parcialmente jurisdicionalizada (cfr. Rui Morais, ob. cit., pp. 43/44 e 97, que, na nota 83, p.44, faz questão de recordar que foi a distinção entre o que, num processo de execução, são actos correspondentes ao exercício de uma função judicial e os que não o são que esteve na base da reforma da acção executiva cível de 2003, com o cometimento ao agente de execução da prática da maioria destes últimos, tendencialmente, os mesmos actos para que, segundo o CPPT, é competente o órgão de execução fiscal e, acrescentamos nós, entre os quais se inclui a conversão do arresto em penhora (cfr. o art. 846.º do CPC).

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praticado em processo diferente, que tem como efeito destinar o bem à venda executiva.

IV- Donde, a publicidade que deste efeito se obtém através do registo não logrará o escopo de segurança do comércio jurídico imobiliário previsto no artigo 1.º do Código do Registo Predial se, no momento do registo a que alude o artigo 101º/2/b) do Código do Registo Predial, estiver já registado, com referência ao mesmo bem ou direito, um outro acto de penhora realizado no mesmo processo de execução e para garantia da mesma quantia exequenda .

Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 30 de Julho de 2009. Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, Maria Eugénia Cruz Pires dos Reis Moreira, Luís Manuel Nunes Martins, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, António Manuel Fernandes Lopes, João Guimarães Gomes de Bastos.

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