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A CONSTRUÇÃO DE PARÂMETROS PARA O ENSINO DO DESENHO DE ESTAMPARIA CORRIDA

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Academic year: 2021

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A CONSTRUÇÃO DE PARÂMETROS PARA O ENSINO

DO DESENHO DE ESTAMPARIA CORRIDA

Celso Tetsuro Suono

UTFPR – Câmpus Apucarana, Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda suono@utfpr.edu.br

Tamissa Juliana Barreto Berton

UTFPR – Câmpus Apucarana, Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda tamissa@utfpr.edu.br

Gisely Andressa Pires

UTFPR – Câmpus Apucarana, Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda giselypires@utfpr.edu.br

Resumo

No Design de Superfície (DS) percebe-se a necessidade de estudos que contribuam para o entendimento dos processos, dos sistemas e das ferramentas projetuais próprias desse meio. Este trabalho pretende trazer contribuições para a construção de parâmetros no ensino e no aprendizado do conteúdo de desenho de estamparia corrida para os cursos de moda, com proposta metodológica para encaixe de motivos de desenho por meio de sistema de vértices. Apresenta como resultado uma classificação de nomenclatura para as diferentes possibilidades construtivas de rapport para estampas impressas em grandes áreas.

Palavras-chave: design de superfície, desenho de estamparia corrida, rapport.

Abstract

In Surface Design it can be noticed the necessity of studies that contribute to comprehension of process, systems and proper project tools of this environment. In this way, this work intents to contribute for building of parameters in teaching and learning this content of printing drawing made with cylinder to fashion area courses, with methodological purpose to fitting drawing motifs through a system of vertices. It presents as result a nomenclature tabulation to different building possibilities of rapport to prints in big areas.

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Introdução

A expressão “Design de Superfície” ou “Surface Design” foi introduzida no Brasil pela designer gaúcha Renata Rubim após retornar de um período de estudos entre os anos de 1985 e 1987, quando frequentou o departamento de Design Têxtil, na Rhode Island School of Design, nos Estados Unidos.

O DS se dá na fabricação de diversos produtos por meio de matérias-primas como a cerâmica, o vidro, o plástico, o papel e o tecido. No caso do setor de moda e têxtil, é comum verificar o uso constante de tecidos estampados em peças de vestuário criadas pelos designers para as suas coleções.

Chataignier (2006) define os tecidos estampados como sendo aqueles que após a tecelagem, recebem no acabamento a aplicação de desenhos variados e decorativos, com uma ou mais cores e que são percebidos apenas do lado direito do tecido.

Com o crescimento gradativo de cursos técnicos e superiores responsáveis pela inserção de novos profissionais de moda para o mercado, percebe-se a necessidade de reflexões sobre o cuidado na formação dos alunos, em especial àqueles que pretendem desenvolver projetos para superfícies.

O DS ocupa no mercado status em plena expansão e se consolida como campo de conhecimento científico e de atuação profissional. É importante que haja o direcionamento de estudos sobre as particularidades desse campo, no sentido de promover novas abordagens no ensino e no aprendizado dos processos, dos sistemas e das ferramentas projetuais utilizados para projetos nessa área.

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O design de superfície

Rubim (2010) afirma que o DS é sempre um projeto destinado para uma superfície, seja ela de que natureza for. De acordo com Rüthschilling, a definição de superfícies pode ser dada da seguinte maneira:

As superfícies são objetos ou parte dos objetos em que o comprimento e a largura são medidas significantemente superiores à espessura, apresentando resistência física suficiente para lhes conferir existência. A partir dessa noção, entende-se a superfície como um elemento passível de ser projetado. Alia-se a isso, muitas vezes, seu caráter autônomo em relação ao resto do objeto, o que configura o design especificamente desenvolvido para essas superfícies como uma nova especialidade. (RÜTHSCHILLING, 2008, p. 24)

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Para Rüthschilling (2008), o DS não se limita apenas à “inserção de desenhos, cores e texturas sobre um substrato, cuja função principal seria apenas conferir qualidades às superfícies por meio de projetos de revestimento”. Conforme descreve a autora, a noção de superfície como elemento bidimensional pode ser ampliada e passar a ser considerada como estrutura gráfica espacial com propriedades visuais, táteis, funcionais e simbólicas, com atributos que a tornam uma estrutura auto-sustentável e independente de qualquer suporte, ou seja, uma superfície-objeto.

Tais resultados orientam caminhos para “novas experiências visuais e sensações perceptivas através de estímulos sensoriais” que mudam as relações entre objeto e observador (RÜTHSCHILLING, 2008, p. 52). Isso tem demonstrado que o DS representa um campo bastante amplo para investigação, com muitas fronteiras que ainda precisam ser exploradas.

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O desenho decorativo e o design de superfície

Em seu livro “Curso de Desenho para os Cursos de Nível Médio”, publicado no ano de 1970, Penteado entendia a decoração como a forma mais primitiva de arte. Esse pensamento configurava a introdução dos conceitos de desenho decorativo nos cursos de nível médio nas turmas anteriores aos anos de 1970, atribuindo aos alunos da época fundamentos sobre esse conteúdo na formação educacional.

O autor considerava o conceito de “decorativo” como sendo o “estilizado” e explicava que o processo de estilização obedecia à tendência de reduzir ao essencial tudo aquilo que se podia encontrar na natureza e que interessava às artes plásticas. Com o tempo, a ideia de decoração sofreu mudanças e o termo “decorativo” foi substituído por outra terminologia na área do design, definida como “design de superfície”.

É interessante observar que determinados conceitos dos ensinamentos de Penteado sobre o desenho decorativo ainda são aplicados até os dias de hoje em projetos de DS. Para o autor, o “decorativismo” apresentava uma tendência para a “padronização”, que era alcançada por meio da análise objetiva da forma modelada de acordo com esquemas e ritmos regulares.

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O design de estamparia corrida

Existem diversos processos e tipos de aplicações para a estamparia. Dentre os mais empregados, destaca-se a “estamparia localizada” – conhecida também como estamparia com quadros – e a “estamparia corrida” ou estamparia com rolos.

De acordo com Udale (2009), uma das principais vantagens da estamparia cilíndrica é que ela permite a impressão dos desenhos em superfícies com grandes

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extensões, sendo uma técnica mais rápida e eficiente se comparada à estamparia com quadros.

No desenvolvimento das padronagens para a estamparia corrida, o designer pode utilizar de técnicas e de ferramentas que facilitam o raciocínio projetual e que colaboram para o alcance dos resultados. A “modularização” é uma das ferramentas que contribui nos aspectos metrológicos de fabricação dos produtos industriais e que, segundo Filho (2009), “favorece a montagem e desmontagem dos conjuntos bem como a customização de acordo com preferências, interesses e necessidades individuais dos usuários”.

Uma técnica utilizada nas indústrias brasileiras é aquela que trabalha a composição de estampas corridas como um desenho em repetição modular, também conhecido como “rapport”. As pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de Design de Superfície da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – NDS-UFRGS – apresentam o processo de “encaixe dos motivos entre módulos” como uma técnica que prevê os pontos de encontros das formas entre um módulo e outro e que quando justapostos de maneira predeterminada pelo sistema de repetição definido ou escolhido pelo designer, forma o desenho (RÜTHSCHILLING, 2008, p. 64).

Segundo Rüthschilling (2008), o encontro dos elementos de desenho entre os módulos é responsável pela continuação e pela fluência visual que traz como resultado uma composição harmoniosa gerada pela junção dos mesmos. O posicionamento dos módulos também se caracteriza como aspecto importante para o desenvolvimento dos projetos de DS, pois essas escolhas tornam-se responsáveis pela geração de resultados estéticos com efeitos variados (Figura 1).

Figura 1: Rapport de listras e resultados de efeitos conforme posicionamento dos módulos. (Fonte: adaptado de Rütschilling, 2008, p. 64 e 69)

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A construção de parâmetros para o desenvolvimento do rapport

Alguns estudos experimentais com relação ao ensino e ao aprendizado do desenho de estamparia corrida foram desenvolvidos com alunos de design de moda de duas instituições de ensino superior – uma particular e outra pública – respectivamente localizadas nas cidades de Maringá e Apucarana, na região norte do Paraná.

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Esses estudos deram início por volta do ano de 1998 e foram inseridos nas instituições de ensino a partir do ano de 2001, sendo prosseguidos até os dias de hoje. É possível perceber algumas semelhanças desses estudos com a técnica de “encaixe dos motivos entre módulos”, difundida e aplicada pelo NDS-UFRGS. Por outro lado, ações experimentais em sala de aula demonstraram a existência de algumas particularidades que diferenciam esses estudos com outros já existentes e que são aplicados no ensino e no aprendizado para a construção do rapport.

Um desses aspectos é aquele que se refere à determinação de uma nomenclatura para os tipos de rapport na elaboração de estampas produzidas com maquinários cilíndricos. Essa nomenclatura classifica o rapport em seis tipos denominados como “rapport direto”, “rapport saltado”, “rapport barrado”, “rapport rotativo” (simétrico ou assimétrico), “rapport espelhado ou rebatido” e “rapport duplo-espelho”.

A inserção dessa nomenclatura nos meios acadêmicos no estado do Paraná ocorreu por volta do ano de 1998 pela professora Vera Lígia Gilbert – na época docente e coordenadora do curso de moda da Faculdade Santa Marcelina na cidade de São Paulo. Nesse período, Gilbert ministrou a disciplina de Estamparia Têxtil na primeira turma de especialização em Estilismo em Moda da Universidade Estadual de Londrina – um curso de pós-graduação que tinha como foco a formação de docentes para atuar no curso superior de moda do município.

Posteriormente, os ensinamentos de Gilbert começaram a ser repassados pelo professor Celso Tetsuro Suono – aluno da primeira turma de especialização da UEL – para outras instituições. As primeiras incursões aconteceram no curso de moda do Centro Universitário de Maringá, entre os anos de 2001 e 2006 e a partir do ano de 2007, passaram a ser trabalhadas nas turmas do curso superior de tecnologia em design de moda da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, no município de Apucarana, e que continuam sendo aplicadas até os dias de hoje.

As técnicas para a construção dos diversos tipos de rapport difundidas por Gilbert por meio de exercícios manuais e artísticos foram adaptadas por Suono com o uso de ferramentas gráficas informatizadas para alcançar resultados mais precisos na composição dos desenhos. Por outro lado, ao longo dessa experiência notou-se que apenas os conhecimentos sobre a classificação dos tipos de rapport e o uso de ferramentas informatizadas começavam a se tornar insuficientes para atender os objetivos no aprimoramento do ensino e do aprendizado do desenho de estamparia corrida para as turmas.

Em função disso, Suono iniciou alguns estudos para identificar determinadas características que pudessem subsidiar a lógica para a construção de cada tipo de rapport apresentado por Gilbert. Uma das particularidades identificadas por ele foi a de

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que a relação da nomenclatura para cada tipo de rapport poderia estar atrelada ao fato de como os elementos da composição se encaixavam em função de uma parte do módulo, ou seja, o “vértice”. A partir daí, surgiu como proposta a construção de parâmetros que pudessem contribuir na compreensão para cada tipo de sistema e que são apresentados na sequência.

Rapport Direto:

As dimensões atribuídas para o desenvolvimento do rapport direto basicamente devem seguir as especificações técnicas determinadas pela largura do tecido e pelo perímetro do cilindro. Esse tipo de rapport parte do princípio da construção da estampa com apenas um módulo. O encaixe dos elementos posicionados nos vértices horizontal e vertical deve coincidir, diretamente, com a combinação desses mesmos elementos nos próximos vértices paralelos para cada sentido.

Essa relação pode ser observada no esquema da Figura 2, em que os elementos posicionados no vértice 1 (sentido horizontal) se encaixam no próximo vértice paralelo do mesmo sentido (vértice 1’). Essa mesma situação também se faz presente para os elementos posicionados nos vértices em sentido vertical (vértice 2 e vértice 2’). Esse tipo de sistema costuma apresentar resultados de estampas com efeito estático, evidenciando mais a percepção visual para linhas ortogonais de direcionamento.

Figura 2: Rapport Direto e sistema de distribuição dos módulos. (Fonte: Dos autores, 2001)

Rapport Saltado:

Para facilitar a construção do rapport saltado é aconselhável que se faça uma divisão da área total do rapport em duas partes iguais (S1 e S2). O encaixe dos elementos posicionados em todos os vértices horizontais e verticais da primeira área (S1) segue o mesmo princípio de combinação nas paralelas, porém com uma pequena diferença. Nesse caso, a combinação dos elementos acontece em paralelas intercaladas, ou seja, os desenhos alocados sobre os vértices da primeira área (S1) farão o seu encaixe somente nos vértices da segunda área (S2).

Conforme demonstra a Figura 3, os elementos posicionados sobre um determinado vértice (vértice 1) devem saltar o próximo vértice paralelo e fazer o encaixe de seus desenhos no vértice paralelo seguinte (vértice 1’). O efeito visual

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atribuído com o uso desse sistema promove, propositalmente, a percepção visual dos elementos em linhas de direcionamento no sentido diagonal, proporcionando maior dinamismo estético sobre o resultado final da estampa.

Figura 3: Rapport Saltado e sistema de distribuição dos módulos. (Fonte: Dos autores, 2001)

Rapport Barrado:

Antes de tudo, é importante fazer uma diferenciação entre “faixa” e “barrado”. A faixa se constitui de uma composição feita com elementos bem simples e pode estar localizada em qualquer posição do vestuário. Já o posicionamento de uma estampa barrada deve-se fazer presente somente na parte inferior da peça, ou seja, na barra da roupa.

O rapport barrado apresenta como resultado uma composição com motivos e desenhos organizados de maneira um pouco mais complexa do que na faixa. Devido à essa complexidade, recomenda-se que a área total do rapport seja subdividida em várias partes para setorizar a distribuição dos desenhos.

Outro aspecto importante que deve ser observado no desenvolvimento desse tipo de rapport é aquele que diz respeito quanto às dimensões das partes localizadas nas extremidades da área total do próprio rapport. A parte da extremidade inferior costuma ser denominada como “zona morta” e recomenda-se trabalhar com motivos simples ou até mesmo nenhum tipo de elemento – isso porque no momento em que é feita a costura da barra da peça há uma perda aparente do desenho da estampa. Além disso, aconselha-se também que a altura da zona morta tenha no mínimo uma medida que varie entre 5 e 7 centímetros, pois os acabamentos padrões de costura nas barras das peças costumam variar entre 1 e 3 centímetros.

Quanto à parte da extremidade oposta à zona morta – especificada no exemplo da Figura 4 como “área B3” – é preciso ter o cuidado de considerar para a sua altura um valor que seja múltiplo da medida restante para o fechamento da composição da estampa, pois é essa parte que irá se repetir na extensão superior do tecido. Conforme se observa, os elementos posicionados sobre o vértice vertical (vértice 1)

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executam o encaixe dos desenhos no próximo vértice vertical paralelo (vértice 1’) e seguem o mesmo raciocínio de combinação de elementos utilizado no rapport direto.

Figura 4: Rapport Barrado e sistema de distribuição dos módulos. (Fonte: Dos autores, 2001)

Rapport Rotativo (Simétrico ou Assimétrico):

Segundo Perazzo & Valença (1997), uma composição simétrica é aquela em que os elementos se associam a outros idênticos, que estão rebatidos e situados no lado oposto de um eixo. A compreensão de simetria no rapport rotativo se dá pela disposição dos desenhos organizados a partir de um eixo no sentido diagonal que se inicia no ponto inferior da extremidade esquerda do módulo e que se estende até o ponto superior da extremidade direita.

De acordo com Calfa (1996), a geometria descritiva é a parte da matemática aplicada que tem por objetivo representar sobre um plano as figuras do espaço, de modo a resolver, com o auxílio da geometria plana, os problemas em que se consideram três dimensões.

Algumas convenções da geometria descritiva são utilizadas para facilitar o entendimento e a construção do rapport rotativo. A principal delas é a adoção do sistema e da nomenclatura que convenciona os planos de projeção, perpendiculares entre si, em quatro regiões denominadas como “diedros”.

Um aspecto importante a ser observado na construção do rapport rotativo é que existe uma limitação quanto à escolha das formas dos módulos para esse tipo de rapport. Ao contrário dos sistemas anteriores – rapport direito, rapport saltado e rapport barrado, que trabalham como parâmetro principal o encaixe dos elementos da estampa posicionados nos vértices a partir de linhas paralelas – o rapport rotativo utiliza um sistema de encaixe feito por meio de linhas perpendiculares entre si e que partem do mesmo ponto de origem.

Para que haja uma combinação adequada e correta dos elementos entre os vértices de encaixe é necessário o uso de formas com dimensões iguais nessas mesmas linhas. Dessa maneira, apenas formas quadradas e circulares são aceitáveis para a construção do rapport rotativo. Por outro lado, a observação comparativa quanto ao uso dessas duas formas – quadrados e círculos – revelou ainda outra

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característica importante que determina a delimitação das áreas para o módulo do rapport.

No caso das formas quadradas, a única possibilidade de escolha para o tamanho do módulo equivale a uma fração de ¼ da composição, enquanto que nas formas circulares existem alternativas de se trabalhar com frações de áreas diferentes. Isso ocorre em função de todos os vértices de encaixe para as formas circulares equivalerem ao raio da circunferência, tendo dimensões iguais em todos os sentidos (Figura 5).

Figura 5: Possibilidades de áreas para o módulo do Rapport Rotativo. (Fonte: Dos autores, 2001)

No desenvolvimento do rapport rotativo existe a opção para distribuir os elementos dentro do módulo tanto no contexto simétrico quanto no assimétrico, porém vale ressaltar um aspecto interessante que os diferencia quanto ao encaixe dos desenhos posicionados nos vértices.

Apesar de utilizar como critério de distribuição um sentido de rotação anti-horário – que parte do ponto de encontro dos vértices a serem combinados e que são perpendiculares entre si – o resultado adquirido na composição final do rapport rotativo simétrico acaba por produzir o mesmo efeito quando efetuado o espelhamento dos módulos nos outros diedros. As práticas experimentais em sala de aula demonstraram que esse fenômeno costuma ocasionar confusão no raciocínio projetual dos alunos, promovendo o surgimento de erros na representação gráfica dos esquemas de construção para esse tipo de rapport.

Essas dúvidas sobre a lógica da construção e do encaixe para o rapport rotativo simétrico acabam sendo esclarecidas quando os alunos desenvolvem a construção do rapport rotativo assimétrico logo na sequência. Isso acontece porque caso eles façam o encaixe dos vértices por meio de espelhamento ao invés do uso da rotação anti-horária, o resultado da distribuição da composição final acaba por não apresentar o efeito estético rotativo para os elementos que formam o desenho da estampa (Figura 6).

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Figura 6: Rapport Rotativo (simétrico e assimétrico) e sistema de distribuição dos módulos. (Fonte: Dos autores, 2001)

Rapport Espelhado ou Rebatido:

O rapport espelhado – também conhecido como rebatido – se caracteriza pelo procedimento em se rebater o módulo do rapport uma única vez para determinada direção. Conforme se observa na Figura 7, a combinação dos elementos que são posicionados nos vértices em que não acontece o rebatimento segue o mesmo princípio de encaixe do sistema direto, ou seja, em linhas paralelas (vértice 1 e vértice 1’).

Figura 7: Rapport Espelhado ou Rebatido e sistema de distribuição dos módulos. (Fonte: Dos autores, 2001)

A principal particularidade na construção desse rapport recai sobre o cuidado na escolha dos desenhos que são alocados exatamente no vértice em que o espelhamento acontece (vértice 2). Nesse caso, é necessária a aplicação de elementos simétricos sobre essa linha, pois o rebatimento implica no surgimento da metade desses mesmos elementos para o lado oposto em sentido inverso.

Quando se opta por não trabalhar com elementos sobre o vértice rebatido é recomendável que se posicione os outros elementos internos do módulo próximos ao

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eixo espelhado, pois isso ajuda a evitar a percepção de uma linha divisória entre o módulo do rapport e o módulo rebatido.

No rapport espelhado ou rebatido também é importante considerar a articulação dos desenhos que possuem lados diferentes (cabeça e pé), posicionando-os em várias direções, uma vez que a quantidade e o tamanho dos motivos na composição acabam influenciando na boa adequação do resultado final da estampa.

Dessa forma, recomenda-se trabalhar com desenhos menores e em quantidade maior, de modo que os elementos ocupem o máximo possível da área do módulo. Essa prática costuma evitar a ideia do desenho da estampa estar “de ponta cabeça” e deixa quase imperceptível a visão do módulo espelhado.

Rapport Duplo-Espelho:

Ao contrário do rapport rotativo – que limita o uso de apenas dois tipos de formas (quadrados e círculos) – o rapport duplo-espelho permite o uso de estruturas como quadrados, círculos, retângulos e elipses. Isso porque o encaixe dos elementos posicionados nos vértices acontece na própria linha em que eles se encontram.

A compreensão da distribuição dos módulos nesse sistema é a mesma utilizada no rapport rotativo, com a organização feita por meio de diedros. Uma vez que os resultados dos desenhos alocados nos eixos de rebatimento se constituem na metade desses elementos em sentido oposto, é fundamental trabalhar com formas que sejam simétricas ou contínuas.

A principal característica para esse tipo de rapport é que o raciocínio para a lógica do espelhamento do módulo acontece sob a condição do uso de todos os vértices de encaixe (horizontal e vertical) e em duas etapas distintas.

Na primeira delas, o módulo do rapport é rebatido para o lado esquerdo em função do vértice vertical e em direção ao 2º diedro (1º espelhamento). Nessa etapa temos como resultado parcial a metade da composição do desenho da estampa. Em seguida, os módulos localizados nos 1º e 2º diedros são selecionados ao mesmo tempo e rebatidos para baixo em função do vértice horizontal (2º espelhamento), trazendo como resultado final a visualização de toda a estampa (Figura 8).

Figura 8: Rapport Duplo-Espelho e sistema de distribuição dos módulos. (Fonte: Dos autores, 2001)

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Conclusão

O campo do DS aponta para muitos territórios que podem ser explorados para investigação. Os parâmetros para a representação gráfica na construção de desenhos de estampas produzidos com maquinários cilíndricos e que são apontados neste estudo, apresentam uma soma às pesquisas já existentes e têm o intuito de trazer novas contribuições para os interessados sobre o assunto.

Cientes de estar à mercê de diversos questionamentos e de algumas contestações, as contribuições trazidas neste trabalho não pretendem, sob nenhum aspecto, representar uma privilegiada incursão dos parâmetros aqui apresentados para as instituições de ensino. Muito pelo contrário: o objetivo principal consiste em promover reflexões que aprimorem o conhecimento científico e propaguem as particularidades existentes em projetos de DS – em especial no que diz respeito ao ensino e ao aprendizado das possíveis técnicas e ferramentas que podem ser utilizadas na concepção do desenho de estamparia corrida e que facilitem o raciocínio projetual dos alunos em exercícios nos meios acadêmicos.

Agradecimentos

À professora Vera Lígia Gilbert, pelos ensinamentos sobre o desenho de estamparia corrida introduzidos na primeira turma de pós-graduação em especialização em Estilismo em Moda, da Universidade Estadual de Londrina, no ano de 1998.

Referências

CALFA, Humberto Giovanni. Noções de geometria descritiva. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1996.

CHATAIGNIER, Gilda. Fio a fio: tecidos, moda e linguagem. São Paulo: Estação das Letras, 2006.

FILHO, Antonio Nunes Barbosa. Projeto e desenvolvimento de produtos. São Paulo: Atlas, 2009.

PENTEADO, José de Arruda. Curso de desenho: para os cursos de nível médio. 9ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1970.

PERAZZO, Luiz Fernando; VALENÇA, Máslova T. Elementos da forma. Rio de Janeiro: Ed. Senac Nacional, 1997.

RUBIM, Renata. Desenhando a superfície. 2ª ed. São Paulo: Edições Rosari, 2010. RÜTHSCHILLING, Evelise Anicet. Design de superfície. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2008.

UDALE, Jenny. Fundamentos de design de moda: tecidos e moda. Porto Alegre: Bookman, 2009.

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