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Cópia da sentença proferida pelo 6. Juízo Cível da Comarca de Lisboa no processo de registo de marca internacional n

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Cópia da sentença proferida pelo 6.° Juízo Cível da Comarca de Lisboa no processo de registo de marca internacional n.° 574 093.

Cópia dactilografada das partes manuscritas da sentença proferida a fls. 61 e seguintes dos autos de recurso de marca registados sob o n.° 687/93 da 2.' Secção, em que são recorrente The Procter & Gamble Company e recor- ridos o director do Instituto Nacional da Propriedade Industrial e Henkel KGaA.

The Procter & Gamble Company, americana, com sede em One Procter & Gamble Plaza, Cincinnati, Ohio, Esta- dos Unidos da América, interpôs o presente recurso, nos termos do disposto nos artigos 203.° e seguintes do Código da Propriedade Industrial, do despacho proferido pelo direc- tor do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Pro- priedade Industrial de 14 de Setembro de 1992 que con- cedeu protecção em Portugal à marca internacional n.° 574 093, Mister Green, requerida por Henkel KGaA, com os seguintes fundamentos:

1 - Em 22 de Julho de 1991 a sociedade Henkel KGaA requereu protecção em Portugal para a marca internacional

n.° 574 093, Mister Green, destinada a assinalar os seguin- tes produtos (doc. n.° 2):

Classe 3.': «Savons; préparations pour blanchir et autres substances pour lessiver; matières auxiliaires pour le linge; produits chimiques pour laver la vais- selle et pour rincer le lingue; matières à détacher; produits chimiques pour astiquer, polir et nettoyer les métaux, le bois, les pierres, la porcelaine, les matiè- res synthétiques et les textiles; tous les produits préci- tiés étant compris dans cette classe, avec et sans effet désinfectant.»

2 - Contra este pedido foi deduzida reclamação, nos termos previstos no Código da Propriedade Industrial, con- forme cópia junta (doc. n.° 3).

3 - Na reclamação invocava-se a prioridade de apre- sentação do pedido de registo da marca nacional n.° 261 828, Mister Verde, destinada a assinalar idênticos produtos da marca, classe 3.', «detergentes e destratantes para sanitas», alegando-se, em resumo, que as marcas em litígio assina- lam produtos idênticos ou manifestamente afins e que entre as mesmas se estabelece fácil e imediata confusão, pelo que a marca pedida, por constituir manifesta imitação da- quela, não deveria ser concedida.

4 - Todavia, o técnico do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial que se pronunciou no processo administrativo não atendeu à reclamação apresentada. 5 - O que levou o director do Serviço de Marcas a deferir o pedido de registo da marca recorrida (doc. n.° 5). 6 - É a impugnação desse despacho que constitui o objecto do presente recurso.

7 - O tribunal é competente e a recorrente tem legiti- midade para recorrer, porquanto tinha anteriormente pe- dido o registo da marca n.° 261 828, Mister Verde (doc. n.° 4), destinada a assinalar os mesmos produtos, a qual é imitada pela marca a que aquele despacho deu protecção em território português.

8 - Cumpre, pois, fazer uma recapitulação dos princí- pios legais aplicáveis e proceder, em seguida, à sua ade- quada interpretação e aplicação aos factos.

9 - Dispõe o artigo 113.° do Código da Propriedade In- dustrial - adiante referido abreviadamente por CPI - que será recusada protecção em território português a marcas do registo internacional quando se verifique qualquer dos fun- damentos que podem motivar a recusa do registo nacional. 10 - Por seu lado, o artigo 172.° do CPI estabelece que o registo será concedido àquele que primeiro apresentar o pedido com os respectivos documentos em forma legal. 1 1 - Consequentemente, o exame do processo de con- cessão do pedido de registo de marca implica a obrigação de verificar se não há qualquer pedido pendente que com o mesmo possa eventualmente estar em oposição, porque o requerido em data anterior beneficiará da prioridade que o artigo 172.° do CPI lhe confere.

12 - Conforme Acórdão do Supremo Tribunal de Jus- tiça de 4 de Maio de 1971 (in Boletim do Ministério da Justiça, n.° 207, p. 200):

A dita disposição legal existe para dar a prioridade dos registos pela prioridade de apresentação dos reque- rimentos respectivos e tem a maior utilidade exacta- mente quando, como no caso dos autos, se pretendem obter dois registos incompatíveis.

13 - Sucede que o pedido de registo da marca n.° 261 828, Mister Verde, da recorrente, foi apresentado com os respecti-

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vos documentos em forma legal em 7 de Fevereiro de 1990 (doc. n.° 4) enquanto o pedido da marca recorrida só foi apresentado em 22 de Julho de 1991 (doc. n°2).

14-Pelo que a recorrente beneficia de prioridade de apresentação no que respeita àquelas marcas apresentadas em oposição.

15-Por seu lado, o n.° 12.° do artigo 93.° do CPI es- tabelece que deve ser recusado o registo da marca que, em todos ou alguns dos seus elementos, contenha reprodução ou imitação, total ou parcial, de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou produto semelhante, que possa induzir em erro ou confusão no mercado.

16 - Intimamente ligado com esta disposição legal, e desenvolvendo e precisando o seu destino, o artigo 94.° considera uma marca imitada ou usurpada, no todo ou em parte, quando:

a) Se destine a objectos ou produtos inscritos no re- pertório sob o mesmo número ou sob números diferentes mas de afinidade manifesta;

b) Que tenha tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética com outra já registada que induza facil- mente em erro ou confusão o consumidor, não podendo este distinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto.

17 - Começando pelo primeiro requisito estabelecido pelos artigos 93.°, n.° 12.°, e 94.° - destinarem-se as mar- cas em litígio aos mesmos produtos ou produtos semelhan- tes; inscritos no repertório sob o mesmo número ou núme- ros diferentes mas de afinidade manifesta -, facilmente se verifica que o mesmo acontece no caso sub judice:

Classe 3.': «Sabões; preparações para branquear e outras substâncias para lixívias; materiais auxiliares para as roupas; produtos químicos para lavar a loiça e para limpar a roupa; materiais para tirar nódoas; produtos químicos para brunir, polir e limpar os metais, a ma- deira, as pedras, a porcelana, os materiais sintéticos e têxteis; todos os produtos pré-citados que estejam com- preendidos nesta classe, com ou sem efeito desinfec- tante» - no caso da marca recorrida (doc. n.° 2); Classe 3.': «Detergentes e destratantes para sani- tas» - no caso da marca recorrente (doc. n.° 4). 18 - Razão por que não deveria ter sido deferido o pedido de protecção da marca n.° 574 093, Mister Green, para aqueles produtos, porquanto já tinha sido anterior- mente apresentado um pedido com os respectivos do- cumentos em forma legal para o registo da marca Mister Verde para os mesmos produtos e produtos semelhantes, pertencentes à mesma classe 3.ª

19-Como se assinala no douto Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 3 de Abril de 1970 (in Boletim do Ministério da Justiça, n.' 196, p. 265), como a lei não define o conteúdo da afinidade, esta tem de ser apreciada em todos os casos, tendo como base os destinos e aplicações idênticos, isto é, a mesma utilidade e finalidade dos produtos.

20 - No mesmo sentido se pronunciaram, entre vários, os Acórdãos do mesmo venerando tribunal de 8 de Janeiro de 1974 e de 21 de Maio de 1981 (in Boletim do Ministério da Justiça, n.os 233, p. 214, e 307, p. 291).

21 - Está fora de qualquer dúvida que as marcas em lítigio se destinam a assinalar os mesmos produtos, ou pro- dutos afins, dado que todos eles são comercializados nos mesmos estabelecimentos, têm aplicações idênticas, con- correm entre si no mercado, razão, aliás, por que são todos incluídos na mesma classe 3.ª

22 - Também não dá lugar a dúvidas verificar-se no caso sub judice o segundo requisito estabelecido pelos arti- gos 93.°, n.° 12.°, e 94.° do CPI - a existência de uma semelhança gráfica e fonética entre as marcas que induz facilmente em erro ou confusão o consumidor, não podendo este distinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto.

23 - Consoante pacificamente entendem a jurisprudên- cia e a doutrina:

a) A marca deve ser recusada quando possa induzir facilmente em erro ou confusão o consumidor, que a não poderá distinguir de outra, senão depois de exame atento ou confronto;

b) A comparação entre as marcas deve ser feita tendo em conta as semelhanças de conjunto, e não as eventuais diferenças de pormenor;

c) A comparação deve ser feita tendo em atenção que o consumidor não tem simultaneamente as duas marcas debaixo dos olhos;

d) Deve mais tomar em consideração o consumidor de atenção média;

e) As instâncias devem apurar como matéria de facto os elementos que permitam apurar se houve ou não imitação, e não pronunciar-se apenas sim- plesmente sobre a possível' semelhança entre as marcas, formulando um juízo de valor que anteci- paria a questão de direito e impossibilitaria a revi- são do julgado.

24 - É aplicando ao caso vertente os princípios enun- ciados que terá de fazer-se a comparação entre as marcas Mister Verde e Mister Green.

25 - Facilmente se verifica que:

a) Ambas as marcas são puramente nominativas; b) Cada uma delas é constituída por duas palavras; c) Das quais, a primeira palavra é totalmente idênti-

ca nas duas marcas «Mister»;

d) Sendo a segunda palavra da marca recorrida uma pura e simples tradução da marca em oposição. 26 - Consequentemente, a marca registanda não só re- produz o primeiro elemento da marca em oposição, confe- rindo às marcas em confronto uma semelhança gráfica e fonética indesmentível.

27 - Como traduz pura e simplesmente o seu segundo elemento, o que aumenta indiscutivelmente a semelhança entre as marcas, dada a identidade ideológica que lhes con- fere.

28 - Note-se, aliás, que o artigo 95.° do CPI refere expressamente que o pedido de registo que, no todo ou em parte essencial, constitua tradução de outra notoriamente conhecida como pertencente a cidadão de outro país da União deve ser recusado, o que é manifestamente aplicável no caso em apreço.

29 - A marca registanda, não só reproduz parte da marca em oposição, como traduz a restante parte da mesma.

30 - Como é intuitivo e absolutamente correcto, a ju- risprudência tem sublinhado a importância que tem o as- pecto da semelhança ideográfica na apreciação da possibili- dade de confusão entre marcas.

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31 - Com efeito, pretendendo-se evitar que se induza em erro ou confusão o consumidor, dado que normalmente este não tem as duas marcas simultaneamente debaixo dos olhos, é evidente o destaque que deve merecer o facto de as marcas terem exactamente o mesmo significado - «O Senhor Verde» -, dado que hoje em dia o consumidor português sabe perfeitamente que «Verde» é a tradução portuguesa de «Green» .

32 - Note-se que o consumidor que a lei tem em aten- ção é o consumidor distraído, menos atento, que procura um determinado produto tendo no espírito ideia mais ou menos distinta de uma marca.

33 - Este aspecto é extraordinariamente importante, pois actualmente a publicidade atingiu um tal estádio de de- senvolvimento que leva o destinatário menos atento a reter, muitas vezes não conscientemente, a designação de certas marcas; essa retenção subconsciente levá-lo-á, ao procurar adquirir certo produto, à escolha da marca publicitada.

34 - Sendo assim, a existência no mercado de marcas semelhantes originará a aquisição indistinta pelo consumi- dor, influenciado inconscientemente, ou melhor dizendo, levará o consumidor a ser atraído pelas marcas que exibem afinidades gráficas, fonéticas e ideológicas.

35 - Face ao exposto, só se pode concluir pela exis- tência de manifesta semelhança gráfica e fonética entre as marcas em causa, susceptível de induzir facilmente em erro ou confusão o consumidor, que as não poderá distinguir senão depois de exame atento ou confronto.

36 - Acresce que, segundo o n.° 4.° do artigo 187.° do CPI, é fundamento de recusa do registo de marca «o reco- nhecimento de que o requerente pretende fazer concorrên- cia desleal ou que esta é possível independentemente da sua intenção».

37 - A recorrente não afirma que a sociedade recorrida busca mover-lhe concorrência desleal.

38 - Mas a intenção não é necessária, basta a mera possibilidade de existir concorrência desleal.

39 - O despacho recorrido violou, pois, os artigos 113.°, 172.°, 93.°, n.° 12.°, 94.°, 95.° e 187.°, n.° 4.°, do Código da Propriedade Industrial.

40 - Consequentemente, o mesmo despacho é ilegal e deve ser revogado, recusando-se protecção em Portugal à marca internacional n.° 574 093, Mister Green.

Cumprido o artigo 206.° do Código da Propriedade In- dustrial, respondeu o director do Serviço de Marcas nos termos de fl. 37, que aqui se reproduzem.

Notificada, a titular da marca recorrida deduziu oposi- ção, alegando:

1.° O presente recurso vem interposto do despacho do Ex.mo Sr. Director do Serviço de Marcas do Ins- tituto Nacional da Propriedade Industrial de 4 de Setembro de 1992, que concedeu protecção à marca da oponente, registada internacionalmente sob o n.° 574 093 e constituída pela designação «Mister Green».

2.° No acto recorrido a protecção no nosso país da marca da oponente foi concedida pelo Instituto Nacio- nal da Propriedade Industrial para os seguintes pro- dutos, na classe 3.': «Savons; préparations pour blan- chir et autres substances pour lessiver; matières auxiliaires pour le linge; produits chimiques pour la-

ver la vaissele et pour rincer le linge; matières à déta- cher; produits chimiques pour astiquer, polir et net- toyer les métaux, le bois, les pierres, la porcelaine, les matières synthétiques et les textiles; tous les pro- duits précités étant compris dans cette classe, avec et sans effet désinfectant.»

3.° Na petição de recurso a recorrente tenta, em suma, persuadir o tribunal de que a marca Mister Verde deveria obstar ao registo da marca Mister Green. 4.° Ressalvado o devido respeito, a recorrente não tem a mínima razão, improcedendo todos os funda- mentos invocados no presente recurso: o despacho sub judice não merece censura, constituindo, e mani- festamente, uma correcta aplicação da lei vigente, bem como dos princípios consagrados na jurisprudência e na doutrina sobre estas matérias.

Com efeito,

5.° Os argumentos que a recorrente desenvolve são os mesmos que oportunamente já expendera na recla- mação administrativa apresentada e que foram basta e justamente ponderados na fundamentação absorvida pelo despacho recorrido e vertida no parecer do Ex.mo Técnico do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, nos termos em que se passam a citar:

Reclamou The Procter & Gamble Company, que opõe o pedido de registo nacional n.° 261 828, . Mister Verde, destinado a «detergentes e destra-

tantes para sanitas» - na classe 3.ª

A meu ver não procede a reclamação apresen- tada. Ao contrário do que nela é afirmado não se verifica semelhança gráfica e fonética entre as expressões em conflito: «Mister Verde», por um lado; «Mister Green», por outro; (a designa- ção comum «Mister» é o sinal mais fraco do conjunto).

Quanto ao facto de a marca registanda corres- ponder à tradução literal da marca nacional opo- nente (podendo daí resultar uma confusão «ideo- gráfica») é aspecto não considerado no conceito de imitação definido no artigo 94.° do Código da Propriedade Industrial, que refere as seme- lhanças: gráfica, figurativa ou fonética. Ora, não se verificando qualquer destas e não se vendo que, para o público consumidor médio, as mar- cas em confronto se possam, facilmente, con- fundir, proponho o deferimento do registo em apreciação.

6.° A recorrente imputa ao douto despacho recor- rido a pretensa violação dos artigos 113.°, 172.°, 93.°, n.° 12.°, 94.°, 95.° e 187.°, n.° 4.°, todos do Código da Propriedade Industrial (CPI).

7.° Antes de mais, cumpre clarificar que nunca pode- ria estar em causa o disposto no artigo 95.° do CPI, pois a aplicação deste preceito visa impedir o registo de marca incompatível com outra marca «notoriamente conhecida», facto este a que - notoriamente - não se subsume o caso da marca Mister Verde.

8.° Por seu turno, o artigo 93.°, n.° 12.°, estipula que o registo de uma marca deve ser recusado quando todos ou alguns dos seus elementos contenham «re-

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produção ou imitação total ou parcial de marca an- teriormente registada por outrem para o mesmo pro- duto ou produto semelhante que possa induzir em erro ou confusão no mercado».

9.° O artigo 94.° do mesmo diploma considera imi- tada ou usurpada no todo ou em parte a marca desti- nada a objectos ou produtos inscritos no repertório sob o mesmo número ou sob números diferentes, mas de afinidade manifesta, que tenha tal semelhança grá- fica, figurativa ou fonética com outra já registada que induza facilmente em erro ou confusão o consu- midor, não podendo este distinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto.

10.° Como resulta claro dos preceitos legais cita- dos, a aplicação do artigo 93.°, n.° 12.°, supõe sempre uma marca anterior registada por outrem. Ora, re- sulta dos autos que a recorrente não detém o registo, mas um simples pedido de registo da marca Mister

Verde.

11.° A falta de um pressuposto básico constante dos preceitos dos artigos 93.°, n.° 12.°, e 94.° do CPI, obstaria, naturalmente, e de per si, à aplicação directa de tais disposições pelo Instituto Nacional da Proprie- dade Industrial no acto recorrido, pelo que a aludida violação de modo nenhum se verifica, bem ao contrá- rio do que pretende a recorrente.

12.° Além do artigo 93.°, n.° 12.° - que, como se viu, não tem aplicação directa no caso dos autos -, o artigo 187.°, n.° 4.°, estipula que é fundamento de recusa do registo o «reconhecimento de que o reque- rente pretende fazer concorrência desleal ou que esta é possível, independentemente da sua intenção».

Todavia,

13.° Sobre a pretendida violação desta regra afigu- ram-se bem vagas as alegações da recorrente.

Contudo, por mera cautela e sem conceder, 14.° Sempre dirá a oponente que, ainda que a recor- rente possuísse já um registo oponível à marca inter- nacional n.° 574 093, Mister Green, os critérios ínsi- tos nos artigos 93.°, n.° 12.°, e 94.°, que, como se sabe, e a jurisprudência tem repetidamente afirmado, são de aplicação cumulativa, não se verificariam, como bem sublinha o acto recorrido.

15.° A diversidade gráfica e fonética entre as mar- cas sub judice é questão que não sofre quaisquer dúvi- das.

16.° E dos elementos comuns existentes entre ambas as marcas não resulta manifestamente qualquer indu- ção em erro ou confusão, sobretudo «fácil», como exige o artigo 94.° do CPI.

17.° Efectivamente, tem razão o parecer do INPI ao considerar a designação «Mister» como o sinal mais fraco do conjunto, pois coexistem pacificamente no registo diversas marcas inclusas dessa mesma palavra e para produtos da mesma classe 3.3 É o caso, pelo menos, das seguintes marcas do registo nacio- nal, como poderá a autoridade recorrida ex officio confirmar:

N.° 149 227, Mister L (cf. fotocópia do Boletim da Propriedade Industrial, que se junta - doc. n.° 1).

N.° 253 725, Mister Solos (cf. fotocópia do Bo- letim da Propriedade Industrial, que se jun- ta - doc. n.° 2).

N.° 194 109, Mister Richard (cf. fotocópia do Bo- letim da Propriedade Industrial, que se junta - doc. n.° 3).

18.° Por conseguinte, pela sua vulgaridade, é de menor importância a utilização da designação «Mis- ter» na marca da recorrida particular. O requisito da novidade tem de apurar-se por outros elementos adi- cionais, sem os quais, aliás, a marca não seria re- gistável (cf. artigo 79.°, § 1.°, do CPI).

19.° Quanto à palavra adicional no caso das mar- cas sub judice, a diferença gráfica e fonética não podia ser maior: «Verde» é totalmente distinto de «Green», como se torna óbvio.

20.° É certo que «Green» é o termo da língua in- glesa correspondente a «Verde»; mas isso não obsta a que se tratem de duas palavras com composições gráfico-fonéticas totalmente distintas.

21.° Na classificação do Professor P. Roubier so- bre os sinais constitutivos de marcas (in Le droit de la propriété industrielle, 1954, p. 548) distinguem-se os sinais auditivos (marcas nominativas ou verbais que evocam um som) dos sinais visuais (marcas figu- rativas ou emblemáticas que evocam sinais visuais). Roubier rejeita liminarmente uma terceira espécie, di- tas «marcas intelectuais» (que evocam uma ideia), considerando justamente que:

A marca deve ser considerada como um sinal cujo fim é dirigir-se aos sentidos, seja ao ou- vido, seja aos olhos, seja, em simultâneo, ao ouvido e aos olhos.

22.° Ora, sobre palavras correspondentes escritas em idiomas diversos, o Prof. Roubier sustenta (op. cit., p. 549) que o importante é o conjunto dos sons que fere o ouvido, e não a ideia que podem suscitar. Por isso, na sua opinião, se alguém possui em Fran- ça a marca Sun (sol em inglês) não pode pretender impedir outrem de utilizar a marca Helios (sol em grego).

23.° Crê-se que o mesmo entendimento deve ser acolhido na exegése do nosso direito industrial. De facto,

24.° No conceito legal de imitação definido no ar- tigo 94.° do CPI é o substrato gráfico-fonético-figura- tivo que importa primacialmente considerar no con- fronto entre as marcas, e não o facto de ambas as marcas se referirem a uma mesma ideia.

25.° É por isso que no artigo 95.° do CPI, relativo à protecção da marca notoriamente conhecida, o legislador distinguiu explicitamente «imitação» de «tradução».

26.° Na falta de similitude auditiva, portanto, a «tradução» é um critério considerável apenas para tutela da marca notória, o que, aliás, não passou desapercebido - e bem - ao examinador do Insti- tuto Nacional da Propriedade Industrial.

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27.° Neste sentido também refere o Dr. Justino Cruz no Código da Propriedade Industrial Anotado (2.' ed., p. 227):

É evidente que não poderá, apenas com base no seu sentido ideográfico, considerar semelhan- tes marcas nominativas como cão e perro, mari- posa e borboleta, cobra e serpente.

28.° Além disso, no caso dos autos, a falta de si- militudes gráficas ou fonéticas entre as marcas deter- mina uma efectiva impossibilidade de erro ou confu- são do consumidor.

29.° Recorde-se a doutrina do Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 27 de Março de 1979 (in Bo- letim do Ministério da Justiça, n.° 285, p. 354) que tem sido constante na jurisprudência: é o consumidor médio, eventual e desprevenido, e não o perito ou especialista que a lei teve em vista proteger de erros ou confusões. Ora,

30.° O consumidor médio português não vai esta- belecer facilmente a associação entre «Green» e «Verde», não só porque são distintos os aspectos grá- ficos e auditivos das palavras, mas também porque, dado o nível médio de qualificação da população por- tuguesa, «extremamente baixo em comparação com os níveis dos restantes países da CEE» (cf., Portugal: O Desafio dos Anos 90, Ernâni Rodrigues Lopes e outros, p. 62) o risco de uma «confusão intelectual» é realmente muito diminuto.

31.° Acresce que não estão em causa propriamente produtos de consumo sofisticado, mas, tão-somente, «detergentes e destratantes para sanitas».

32.° Ora, como alerta, e bem, o Dr. Justino Cruz (op. cit., p. 222), na avaliação da possibilidade de confusão, «importa ter em conta a condição social e a cultura do público a que os produtos são destina- dos, a natureza e forma da mercadoria» (cf. sentença do 3.° Juízo Cível de 13 de Novembro de 1978, in Boletim da Propriedade Industrial, n.° 5 - 1980, p. 804).

33.° Não se verificando nem as similitudes grá- fico-fonéticas entre as marcas Mister Verde e Mister Green, nem tão-pouco a possibilidade de indução em erro ou confusão fácil dos consumidores, forçoso é concluir que o recurso não pode proceder, devendo em consequência manter-se na íntegra o despacho recorrido.

Apreciando o recurso interposto, consigna-se ter sido atempadamente interposto, com legitimidade e pelo pro- cesso próprio, inexistindo quaisquer questões prévias que ao conhecimento do seu objecto possam obstar.

Conhecendo do objecto do recurso:

Por despacho publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 9 - 1992, de 31 de Março, o director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial concedeu protecção em Portugal à marca interna- cional n.° 574 093, Mister Green, destinada a assinalar pro- dutos de limpeza da classe 3.ª

A recorrente, com o fundamento de que, gozando do privilégio da prioridade de apresentação do pedido de re- gisto da marca nacional n.° 261 828, Mister Verde, destinada

a assinalar idênticos produtos da classe 3. , a marca pedida constitui manifesta imitação daquela.

O recurso fu6da-se, pois, no que dispõe o artigo 93.°, n.° 12.°, do Código da Propriedade Industrial, nos termos do qual será recusado o registo das marcas que constituam «reprodução ou imitação total ou parcial de marca anterior- mente registada por outrem para o mesmo produto ou pro- dutos semelhantes que possam induzir em erro ou confusão no mercado».

A recorrente tem a seu favor a prioridade do registo. Vejamos agora se entre as duas marcas, Mister Green e Mister Verde, existe ou não confusão.

Como ensina o Prof. Ferrer Correia in Lições de Direito Comercial, vol. I, p. 328, «consagra o artigo 93.', n.° 12.°, do Código da Propriedade Industrial o princípio da unidade ou especialidade da marca».

Escreve o citado autor na obra e volume citados: «Ainda como sinal distintivo que é das mercadorias, a marca há-de ser constituída por forma tal que se não confunda com outra anteriormente adoptada para o mesmo produto ou semelhante. Aliás, a marca deixaria de desempenhar a sua finalidade distintiva, para se transformar em elemento de confusão.»

Como facilmente se depreende da indicação dos produ- tos a assinalar por ambas as marcas, existe semelhança e afinidade entre os produtos comercializados.

«O conceito de imitação do artigo 94.° do Código da Propriedade Industrial visa evitar a fácil indução em erro do consumidor médio e não perito ou especializado. Tra- tando-se de marcas nominativas, é pelos elementos fonéti- cos e gráficos que se há-de emitir juízo acerca da facili- dade de indução em erro, devendo atender-se menos às diferenças oferecidas pelos diversos pormenores do que às suas semelhanças, resultantes do conjunto dos seus ele- mentos» - Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 23 de Julho de 1980, in Boletim do Ministério da Justiça, n.° 299, p. 345.

Segundo a tese deste aresto, verifica-se que ambas as marcas são semelhantes no que concerne à palavra «Mister». Por outro lado, é fácil de verificar que a palavra «Green» é a tradução inglesa da palavra «Verde» da marca da recor- rente.

E também é fácil de concluir que hoje em dia qualquer consumidor médio conhece perfeitamente o significado da palavra «Green».

Também não se compreende por que razão a requerida continua a defender a não semelhança da tradução, pois não havendo outros interesses, tanto fazia que fosse «Mis- ter Green» como «Mister White» ou «Mister Yellow».

Conclui-se pois que entre as duas marcas existe confu- são, já que uma é a tradução clara da outra.

E sendo assim, nos termos dos artigos 93.°, n.° 12.°, 94.° e 95.° do Código da Propriedade Industrial, revoga-se o despacho que concedeu protecção à marca internacional n.° 574 093, Mister Green.

Sem custas, por delas estar isento o recorrido. Transitado, cumpra o artigo 210.° do CPI. Registe e notifique.

23 de Junho de 1994. - Lino Augusto Pinto. Está conforme.

Lisboa, 17 de Novembro de 1994. - A Escrivã-Adjunta, Ana Catita.

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