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A edificação do poder eclesiástico na Primeira Idade Média: o exemplo da Vita Caesari Episcopi Arelatensis. THIAGO FERNANDO DIAS*1

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Episcopi Arelatensis.

THIAGO FERNANDO DIAS*1

Introdução:

O colapso da unidade administrativa imperial decorrente dos movimentos migratórios e o estabelecimento de diversos reinos germânicos no Ocidente medieval, exacerbou uma crise de autoridade a partir do final do século V. A estrutura do poder imperial, mesmo que abstrata e com sua supremacia contestável dentro da comunidade na Primeira Idade Média, deixou de ser totalmente perceptível e teve a inserção de novos elementos que ocasionaram uma evidente desordem no arcabouço administrativo.

Mesmo que a intenção de muitos dos povos germânicos não era depredar sistematicamente as instituições encontradas (SILVA, 2014: 181), a partir desse momento, a capacidade de resistência a invasores externos, proteção, administração, coesão interna ou mesmo a opressão de qualquer ato adverso dentro de um determinado território, não estava mais a cargo de um administrador como o prefeito pretoriano, comandante militar ou do rei submisso a um imperador.

Para manter e perdurar uma influência adquirida no século IV, ao se aliar com a administração imperial que detinha o poder, a Igreja, por meio dos bispos, seus principais representantes, buscou no modelo hierárquico do Império – com suas características dinásticas e de longa duração –, os princípios de legitimidade para respaldar seus interesses de perpetuadores de uma tradição como, por exemplo, a sucessão apostólica que remetia ao principal apóstolo de Cristo, Pedro (Mt 16:18). Atitude que, embora não tenha ligação com a hereditariedade monárquica, evidência uma forte ligação com a ideia de contiguidade e hierarquia.

Nos primeiros decênios do século IV, a Igreja teve uma forte identificação com a organização do Império, com o tempo, mesmo que momentaneamente atrelada a ele, a Igreja tornou-se uma verdadeira entidade para estatal autônoma, cuja coesão e dinamismo

* Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus

de Assis. Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Integrante do Núcleo de Estudos Antigos e Medievais (NEAM/UNESP)

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asseguram a sobrevivência nesse contexto conturbado e a tornou seu substituto natural (BANNIARD, s/d: 94). Desse modo, com a evidente derrocada imperial, a Igreja distanciou-se e não atrelou distanciou-seu futuro à sorte da política do Império, assim, ela apenas utilizou a organização para se legitimar e dar continuidade ao seu poder.

Em um primeiro momento, já no interior dos reinos romano-germânicos, procurando sobrepor às instituições do Império, consolidar suas diretrizes e se estabelecer no cotidiano da sociedade, “o episcopado fundou mosteiros nas áreas rurais, promoveu um lato movimento à realização de concílios, procurou instrumentalizar a preparação intelectual do corpo eclesiástico e buscou se fortalecer como grupo” (SILVA, 2014: 182).

Para o segmento eclesiástico, essa mudança no âmbito estatal não significou a perda de influência do clero, especialmente nas áreas urbanas pois, inicialmente, com a sucessiva formação dos reinos germânicos e uma nova estruturação política, o clero conseguiu, mesmo com ocasionais desavenças com os novos monarcas, conservar sua posição idiossincrática dentro da nova estrutura, a partir do momento que as instituições urbanas começaram a ficar a disposição e à mercê de uma administração. Os bispos, mais do que nunca, beneficiaram-se e viram seu poder crescer consideravelmente. Eles conseguiram um impulso na sua atuação com destaque não apenas na esfera religiosa, mas também civil (SILVA, 2002: 67).

Esse processo demonstra que os poderes locais de autoridades espirituais dos epíscopos estavam consolidando-se cada vez mais, contudo, nesse momento, com o poder secular dissociado do poder eclesiástico, os bispos procuraram, ao se apoiar na tradição apostólica como uma forma de obter influência e exercer o papel de lideres e principais representante da Igreja, mesmo que ainda muito circunscrito a sua congregação e seu bispado ou nos limites das cidades, uma organização e unidade administrativa onde os mesmos detinham a autonomia e regência.

A noção de autoridade episcopal na Primeira Idade Média:

Embora difícil de determinar, é indispensável ter como base alguma explicação para melhor compreensão do fenômeno da auctoritas – palavra latina que denota algo como poder

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ou superioridade2. No âmbito eclesiástico, no início da Idade Média, referida de maneira um

pouco diferente, mas com a mesma função, autoridade pode ser definida como a capacidade de comandar e ser capaz de obter a obediência para assim governar a Igreja e desempenhar o controle sobre a congregação.

Desse modo, no sentido mais genérico do termo, que provinha na antiguidade da qualidade individual (nascimento, riqueza, posição política, entre outros fatores), passa a não ser mais atributo do indivíduo, mas proveniente de Deus e investida em sua representante na terra e seus mandatários. Apoiando-se no trecho das Cartas aos Romanos em que defende: “submetam-se todos às autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram instituídas por Deus. Quem se opõe à autoridade, se opõe a ordem estabelecida por Deus” (Rm. 13:1-2), a Igreja adotou como prerrogativa o pressuposto que a autoridade suprema era Deus e deveria ser respeitada sempre e, ainda, fiscalizada pelos membros da hierarquia eclesiástica que encarnavam a própria autoridade divina.

Inferindo que qualquer forma de origem ou execução da autoridade antevê a disponibilidade de alguns em obedecer ou conformar suas condutas ás imposições daqueles os quais exercem o poder, para os cristãos – os germânicos que logo foram cristianizados – a noção de auctoritas, foi rapidamente assimilado visto que o quadro administrativo da Igreja se assemelha ao do Estado romano e sua hierarquia, assim, logo que suas funções ficaram vacantes, foi-se necessário, qualquer que fosse, uma nova organização para preencher a lacuna deixada.

Esse controle eclesiástico pode ser empregado diretamente por um bispo ou delegado a intermediários, entretanto, não existia a garantia de ser empregado completamente. Mesmo dentro das cidades, a difícil disseminação de vários elementos e embates de autoridades, deixa claro que um poder coercitivo, em geral, não era totalmente eficiente. A própria estrutura da Igreja, que não era una, sequer em sua ortodoxia ou sede administrativa estava fragmentada e com suas autoridades, muitas vezes, em conflitos. Foi apenas a partir de meados do século terceiro que a tradição de São Pedro investiu Clemente como seu sucessor, o vigário de Cristo e bispo de Roma, contudo, sua primazia era parcial e frágil, muitas vezes de limitada abrangência e em constante conflito.

2 A palavra latina auctoritas, não tem um significado estático, ela é definida de várias maneiras: exemplo, poder,

autoridade, reputação, garantia, dignidade, respeito, prestigio, influência, afirmação, credibilidade. FARIA, E.

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Objetivando trabalhar com a questão da autoridade eclesiástica nesse exato momento mesmo da história do cristianismo, a historiadora alemã Claudia Rapp propõe uma interpretação bastante plausível sobre o processo de constituição da autoridade eclesiástica no início da Idade Média. Em seus estudos, Rapp descreve o conceito de autoridade como englobando três ideais importantes e inter-relacionadas, são elas: pragmática, espiritual e asceta (RAPP, 2005: 16-17).

A primeira, o preceito de autoridade pragmática, é expresso por meio da atividade pública para com os outros. Advém de suas ações pessoais e dirige-se para a comunidade, ou seja, para o benefício alheio. Esta característica da autoridade é mais restritiva do que as outras duas na medida em que depende muito da posição social, normalmente por advir de família abastada; da riqueza pessoal, por deter considerável quantidade bens e pela habilidade para impor-se como autoridade. Além disso, a autoridade pragmática é a autoridade pública presente em todos os momentos de auxílio da comunidade em quesitos seculares (RAPP, 2005: 16-17). Esse elemento fica aparente na hagiografia de Cesário de Arles no momento em que o bispo, além de vir de família abastada, proprietários de terra do centro-norte da Gália (VC. I. 3), toma conta das finanças da cidade (VC. I.27; I. 32) e recebe doações de monarcas para a manutenção da comunidade (VC. I.37).

O segundo, o aspecto espiritual, é uma característica pessoal cuja fonte principal é Deus. Assim, suas atitudes estariam legitimadas por sua ligação e proximidade com o divino, sua função seria intermediar, por meio de ações espirituais, a realização de milagres ou interceder, junto à natureza, em ocasiões adversas. Esse aspecto da autoridade parece mais aplicável às questões religiosas como a capacidade ou a sanção para ensinar e propagar, através da pregação, as práticas litúrgicas. Ao mesmo tempo, condenaria as práticas não concernentes à doutrina (RAPP, 2005: 16-17). Outra característica também aparente na vida de Cesário. O bispo, com seus atos de intervenção divina, um se destaca mais, ao interceder por um traidor – que acusou o próprio bispo de tramar a entrega da cidade sitiada aos Borgonheses – seria apedrejado pela população de Arles, Cesário defendeu o acusado, fez cessar a vingança e perdoou-o. Como aprovação divina de seu ato, uma chuva abundante caiu em meio a uma seca que ameaçava a lavoura (VC. I. 26)

Por fim, não menos importante, a autoridade asceta, que também surge de ações pessoais, mas ao contrário da autoridade pragmática, que se dirige para o benefício de outros,

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a autoridade asceta, é obtida através de suas próprias ações e é dirigida para seu amago, para as realizações pessoais em seu consciente religioso. Amiúde, era resultante de uma educação cenobítica. Na visão de Rapp, a autoridade espiritual e, sobretudo a ascética, foi um locus para uma justificativa da autoridade pragmática, servindo, a autoridade ascética, de elo para as duas no auxílio e fortalecimento da auctoritas. Ao serem somadas, as características poderiam, mas não necessariamente conseguiam levar o bispo a um patamar mais elevado dentro da congregação, um nível divino ou em contato com ele (RAPP, 2005: 16-17). Autoridade asceta que também estava presente na trajetória do bispo de Arles. Ao ter uma educação monástica fornecida pela ilha de Lérias, Cesário adquiriu boa parte de suas referencias intelectuais e eclesiásticas. No local, dedicou-se muito as atividades ascéticas, orações, leituras, canto e vigílias, especialmente, conheceu a literatura leiriense, a tradição patrística latina, com destaque para as obras de Agostinho e João Cassiano, o primeiro, viria orientar na elaboração de muitos de seus sermões, o segundo, em partes, na sua vida ascética e devocional (VC. I. 6-7).

A definição proposta pela historiadora torna-se profícua devido à questão de analisar a pregação pelo prisma do bispo como uma forma de autoridade que detinha legitimidade para cobrar dos fiéis a obediência aos preceitos litúrgicos e, ao prelado, de cumprir seu papel de evangelizador e membro de uma estrutura hierárquica. Desse modo, algo que não pode ser negligenciado da autoridade do bispo, no período, é a sua implacável insistência na edificação e norteamento da ortodoxia cristã, o que constituía uma afirmação implícita do direito de decidir os limites da crença, do correto e incorreto a ser praticado dentro de um determinado espaço.

Em particular, ao tomarmos Cesário como exemplo desse cenário de edificação da autoridade eclesiástica, em suas pregações, o bispo realiza, muitas vezes, um discurso anti pagão/herético, que são comumente utilizados como uma ferramenta para estabelecer preceitos ortodoxos e de se estabelecer como o detentor de um saber. As pregações, assim como o combate aos conflitos religiosos, tiveram lugar de destaque na realidade do bispo e, ainda, eram visíveis a todos na comunidade. De modo geral, a tentativa de normatizar os preceitos cristãos, as admoestações eram realizadas em igrejas – urbanas ou rurais – em praças, locais privados, tribunais, como também na realização de concílios locais ou de maior abrangência. Portanto, podemos afirmar que as pregações que concerne à condenação das

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práticas recalcitrantes, são retratadas como ferramentas para definição dos preceitos cristãos e demonstram a desenvoltura do prelado como líder religioso que legítima sua autoridade constantemente.

A ampliação da autoridade eclesiástica no Ocidente germânico:

No século V, alguns indícios evidenciam o alargamento do status pragmático do bispo e a ampliação na sua atuação como chefes polivalentes de um mundo desorganizado. Concomitante ao fortalecimento e defesa de seus interesses, entre os vários predicados, inclui a ampliação do papel político: ao negociar com os germânicos e de estender sua jurisdição para além das comunidades cristãs, o acolhimento “das funções de defesa e da magistratura citadina, ao intercederem junto aos grupos germânicos e hunos, ou, no limite, junto à própria administração imperial itálica em favor das cidades (SILVA, 2009: 6)”; a participação no campo social: ao proteger os pobres contra os poderosos, distribuindo viveres e esmolas, auxiliando também, dessa forma, no âmbito econômico, chegando até ao controle monetário com a cunhagem de moedas; como também na esfera militar: ao organizar a resistência ao lutar “com armas espirituais” quando as armas materiais não existiam (LE GOFF, 2005: 40). Outro elemento que auxiliou no estabelecimento e consolidação dessa nova organização foram os cânones, por meio das deliberações dos concílios locais, suas decisões foram elevadas a categoria de lei (SILVA, 2002: 82) e deveriam ser respeitados por todos do reino e muitas vezes, sua execução era administrada pelos bispos.

Mais uma possível explicação para a permanência e expansão da atuação eclesiástica dentro dos reinos germânicos – que ocorreu no Ocidente Medieval como um todo –, é que os bispos atuaram como um contrapeso local em detrimento a autoridade monárquica que muitas vezes não seguiam a fé de Nicéia. Nesta sociedade fragmentada pelos reinos germânicos, eles protegeram os interesses da comunidade local, com destaque, sobretudo, na Gália, onde eles defendiam, mesmo que apenas por meio de conexões familiares, os interesses dos proprietários de terra tendo em vista que muitos bispos desse período vieram deste segmento da sociedade.

Segundo Patrick Geary, ao invés de reclamar seus direitos a um governo central, essa aristocracia ficou muito mais confortável permitindo que o bispo – muitos escolhidos entre os

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aristocratas locais ou pertencente a essas famílias proeminentes em outras localidades – dirigisse o que restava da esfera pública “a res publicae, no nível local das civitas, que incluiu a cidade e seu território imediato (GEARY, 1988: 93)”. Desse modo, o apelo de seguir o conselho dos bispos não é mais que um apelo para ele seguir o conselho da aristocracia galo-romana, ficando evidente que o poder sobre o povo foi realizado pelos grandes proprietários de terras, que eram a verdadeira autoridade do momento. Contudo, sua autoridade não provinha apenas desse fator, ele é apenas um complemento da figura multifacetada do prelado.

Essa característica de defender seus interesses familiares e aristocráticos não entra em conflito com os valores eclesiásticos de proteção a Igreja. Como em quase todos os casos, as preocupações dos proprietários de terra estavam em consonância com os interesses da Igreja, similarmente, desde sua legitimação como representante da religião oficial, uma grande proprietária de terras3. Para Peter Brown, seus interesses eram consoantes, pois os aristocratas assumiram o governo da Igreja no século V, e talvez seja a relação mais duradoura do período (BROWN, 1999: 79) consoante a essa afirmação, Geary ressalta que essa relação é tão profunda que, a igreja episcopal e a aristocracia provincial, não passavam de duas instituições inseparáveis. (GEARY, 1998: 123). Portanto, ambos foram agentes conservadores agindo para preservar o status de privilégio e poder dentro dessa nova realidade com novos governos. Essa troca de interesse no primeiro sermão de Cesário de Arles, nele, o bispo ao pregar para demais clérigos, não condena o envolvimento dos eclesiásticos com as atividades agrícolas. Ele até designa um setor do clero para preservar e realizar tal prática (SC. 1.7.)

Portanto, os prelados eram selecionados dentro de uma ordem – geralmente relacionada a seu nascimento e tradição familiar –, nos primeiros anos do século IV, era comum, mas não necessariamente ocorria, a ascensão ao ofício episcopal por meio de cargos advindos dos grupos curiais, senatoriais ou aristocráticos, sobretudo na Gália. Isso significa que era a partir do cumprimento da função que anteriormente fazia parte do Império que se adquiria o posto de liderança citadina (LIZZI TESTA, 2009: 529). O que significa que os epíscopos passaram a incorporar funções concernentes, anteriormente, aos membros da

3 Já no século V, a Igreja era, depois do Estado Romano, a maior proprietária de terras no Ocidente. Era uma

recomendação de Santo Agostinho que todo cristão deveria deixar a Igreja em testamento “a parte de um filho,” e caso não tivesse descendente, deveria nomeá-la sua herdeira. FRANCO JUNIOR, Hilário. A Idade Média e o

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administração imperial, tornando-se, amiúde, os representantes políticos das civitates (BANNIARD, s/d: 92).

A titulo de exemplo, dentro outros tantos bispos que desempenharam o papel de líder político e espiritual das civitates, esta Cesário, que desde que assumiu seu posto de bispo de Arles, reivindicou o adjetivo de líder espiritual em virtude de ser escolhido por Deus para conduzir seus fiéis pelo caminho de cristo, e procurou estabelecer-se como o mais alto sacerdote local, além de desempenhar firmemente seu papel como governante secular em virtude de seu posicionamento junto ao poder político. Para o então bispo, ele não estava fazendo nada mais do que a ideal função do prelado que era assegurar a salvação do povo a ele confiado e cuidar para que eles levassem uma vida cristã digna do reino dos céus (SC. 1).

Em um sermão dirigido a outros bispos, sobretudo seus sufragâneos – o que evidencia sua autoridade diante da hierarquia de Arles –, Cesário deixa claro qual o escopo do ofício episcopal, era um fardo a ser carregado por esse escolhido por Deus (SC 1. 1.3; 1.19), para ele, eles seriam os timoneiros da comunidade (SC. 1.19).

Entre as diversas estratégias pastorais para empregar esta que seria a incumbência do ofício eclesiástico, Cesário utilizou-se muito da proximidade com a comunidade, direcionou muitos de seus clérigos a desempenharem e propagarem as funções ascetas, como também para supervisionar seu rebanho em suas práticas (SC. 1.4-8). Com isso, antes de tudo, ao ordenar diversos clérigos a reproduzirem sua prática ascética, Cesário estaria reforçando seu controle sobre eles como se estivesse dentro de um mosteiro onde fortaleceria seus laços de obediência e seria o abade dessa comunidade, ainda, ao fazer isso, o prelado se colocaria como um produtor e principal exemplo a ser seguido pelos demais, eclesiásticos ou laicos.

Conclusão:

Não obstante, encontramos, a partir da hierarquização eclesiástica, uma diferenciação e distanciamento do que ocorreu com o cristianismo em seu período inicial, nesse momento, a notoriedade episcopal e o prestigio dos demais sacerdotes por meio do reconhecimento destes personagens pelas auctoritas, afasta-se da noção de comunidade dos primeiros anos do cristianismo que prezava por uma igualdade entre os membros da congregação. Com isso, uma nítida separação entre os membros do clero e seus fiéis, estabelecem, desde então, uma

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diferenciação permanente. Esse distanciamento precisou ser justificado ou, de certa forma, legitimado pelos eclesiásticos, para isso, foi necessário consolidar a submissão à hierarquia e as diretrizes oriundas da Igreja, pregadas pelos bispos e demais integrantes do clero onde a valorização da figura do mestre espiritual através da auctoritas fez-se necessária. Essa

auctoritas, recorrentemente, era consolidada e atestada pelo predicado político do epíscopo.

Não obstante, em uma sociedade habituada com uma estrutura administrativa hierarquizada onde a centralização do poder na figura do Imperador era, muitas vezes, vista como um preceito divino, não foi difícil para os bispos incorporar tal princípio à sua figura, sobretudo, ao prelado de Roma.

Referências:

Documentos:

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CIPRIANUO; FIRMINO; VIVENTIO; Vita Santi Caesarii Episcopi. disponível em: http://www.documentacatholicaomnia.eu/02m/0468-542,_Caesarius_Arelatensis_Episcopus,_ Vita_Operaque_ [Firmino_Et_Viventio_Episcopis],_MLT.pdf <acessado em 16 jun. 2011>

Bibliografia:

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BROWN, Peter. A ascensão do cristianismo no Ocidente. Tradução de Eduardo Nogueira. Lisboa: Editorial Presença, 1999.

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FARIA, Ernesto. Dicionário Escolar Latino – Português. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Brasilia. 1962.

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LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. Bauru: EDUSC, 2005.

LIZZI TESTA, Rita. The Late Antique Bishop: Image and Reality. In: ROUSSEAU, Phillip (ed.). A Companion to Late Antiquity. Oxford: Blackwell, 2009. pp. 525-38.

RAPP, Claudia. Holy Bishops in Late Antiquity: The Nature of Christian Leadership in

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SILVA, L. R. Algumas Considerações Acerca do Poder Episcopal nos Centros Urbanos Hispânicos – Século V ao VII. In: Questões & Debates, Curitiba, n. 37, p. 65-82, 2002

SILVA. Paulo Duarte. Ciclo Pascal e normatização litúrgica no século VI: análise

comparativa dos casos de Arles e Braga. Dissertação (Mestrado em História Comparada)

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