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Comissão Internacional de Grandes Barragens (CIGB)

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Comissão Internacional de

Grandes Barragens (CIGB)

Nesta entrevista ao CBDB, o engenheiro Flavio Miguez de Mello, integrante da Comissão

Internacional de Grandes Barragens (CIGB) e do Committee on Prospectives and New

Challenges for Dams, fala sobre o custo da implantação de obras hidráulicas fluviais

para controlar cheias. Segundo ele, o valor corresponde com sobras o gasto que poderia

ser evitado na ocorrência da primeira grande cheia. Miguez aborda ainda o impacto nas

tarifas brasileiras neste ano, o que está contribuindo decisivamente para o agravamento

da recessão econômica e para o acentuado aumento do desemprego. Apesar deste cenário,

o engenheiro diz acreditar que está havendo uma conscientização da importância das

hidroelétricas e de reservatórios de regularização plurianual. Confira!

Por Flavio Miguez de Mello, integrante

da Comissão Internacional de Grandes

Barragens (CIGB) e do Committee on

Prospectives and New Challenges for Dams

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Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) - Como surgiu

na Comissão Internacional de Grandes Barragens (CIGB) a necessidade de ser instituído o Committee on Prospectives and New Challenges for Dams?

Flavio Miguez de Mello - A CIGB foi instituída em 06 de junho de 1928 e aceita na Conferência Mundial da Energia em 03 de outubro do mesmo ano. A Comissão nasceu na França, época em que havia intensa atividade em implantação de barragens em vários países. Havia muito a ser aprendido em projeto e construção de barragens sendo, portanto, fundamental o intercâmbio de experiências adquiridas nos mais variados países. Para situar aquele cenário, costumo mencionar que a mecânica dos solos e a geologia de engenharia ainda não haviam sido instituídas como ramos da Engenharia Civil. Os critérios de projeto de grandes estruturas de concreto

eram rudimentares e a hidráulica fluvial enfrentava pela primeira vez, na maioria dos países que implantavam barragens, obras em rios muito caudalosos. À exceção de poucas nações de tradição hidrológica mais longa, como o Reino Unido e Espanha, as medições fluviométricas vinham sendo feitas há pouco tempo.

Nesse cenário dos anos vinte, era imperiosa a difusão da tecnologia aplicada a projeto e construção de barragens - e essa divulgação foi feita com eficiência pela CIGB. Nesses quase 90 anos, a Comissão cumpriu seus objetivos com muito mérito. No final da década de 60 do século passado, começou a surgir com ênfase uma maior preocupação com a preservação do meio ambiente. Então, a CIGB instituiu um comitê sobre meio ambiente sob a liderança de Flavio H. Lyra, na época presidente do CBDB. Já em 1973, a influência de barragens ao meio ambiente foi tema do Congresso Internacional de Madri. A partir dessa data, meio ambiente

Miguez em sua primeira reunião de Comitê Técnico na CIGB sobre meio ambiente, em Madri, em 1973, entre Pierre Londe e Flavio H. Lyra, que posteriormente se tornariam presidentes da CIBG.

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passou a ser tema quase obrigatório de todos os eventos da CIGB. Essa foi a primeira grande guinada de direção nas atividades da Comissão. Outras vieram em sequência, principalmente com relação à avaliação de segurança e estudos relativos à sismicidade, financiamento, métodos modernos de construção e modelos matemáticos em projetos, entre outros.

A CIGB sempre se atualiza para atender aos atuais quase cem comitês nacionais que a compõem. Atualmente, com o intenso crescimento populacional e o consequente aumento da demanda por água,

acrescido do desenvolvimento humano em várias regiões do globo e de crescentes necessidades de implantação de equipamentos urbanos e rurais da vida moderna, tem havido considerável procura por recursos hídricos. A crescente necessidade de produção de energia elétrica encontra nas hidroelétricas a solução para produção de baixo custo com recursos renováveis e de baixo impacto ambiental negativo. Por outro lado, a proteção de populações tem exigido obras de controle de cheias e construção e manutenção de barragens de disposição de rejeitos. A logística em países economicamente bem sucedidos mostra que o transporte fluvial é solução econômica e largamente usada em grandes cursos de água. Todas essas aplicações de engenharia hidráulica convergem para a implantação de barragens.

Entretanto, as novas obras de infraestrutura têm sido discutidas cada vez mais longamente. É nítido que tem havido necessidade de que os benefícios dessas obras sejam corretamente confrontados com os impactos negativos que elas produzem e isso não tem sido intensamente feito como deveria. O que tem sido observado é que os benefícios das obras de infraestrutura são desconsiderados pela maior parte da população e de formadores de opinião, enquanto os impactos negativos são maximizados e mesmo inventados com o objetivo de evitar - ou de retardar - a implantação dessas obras. Isto, certamente, em todos os casos observados, aumenta consideravelmente os custos, penalizando principalmente os que habitam nos países menos desenvolvidos e que mais carecem dessas intervenções.

Tal cenário adverso à necessária implantação de novas barragens, principalmente em países em Miguez após reunião de Comitê Técnico da CIGB,

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desenvolvimento, desafia o comitê a trabalhar na análise de perspectivas para a aplicação de novas barragens para quem mais precisa.

CBDB - Como foi a transformação das preocupações e dos

obstáculos para a implantação de barragens em outros países?

Miguez - Qualquer obra de infraestrutura impacta o meio ambiente, tanto positiva como negativamente. A correta concepção de um empreendimento implica em profundas análises comparativas entre os custos ambientais e os seus benefícios. Há difundido em vários países conceitos errôneos que consideram como impactos ambientais somente os impactos negativos que são praticamente inevitáveis em todas as atividades humanas, mesmo no simples ato de respirar. Com ênfase apenas nos impactos negativos, pessoas e entidades que se autoproclamam ambientalistas, exercem pressões políticas procurando evitar qualquer empreendimento agrícola, industrial ou de infraestrutura. Esses movimentos são também aproveitados por políticos desinformados ou tendenciosos, a procura de votos e de prestígio junto à população. As barragens não costumam ser exceção a essa regra.

Para contrabalançar essas pressões, há que serem enfatizados os inúmeros benefícios acarretados por barragens e reservatórios, tais como: o combate às secas, a irrigação fundamental para produção de alimentos, o controle de cheias que assolam as regiões com graves consequências, o abastecimento urbano e industrial, a produção de energia elétrica a partir de fonte renovável, o transporte fluvial, a disposição de rejeitos industriais e de mineração, entre tantos outros.

CBDB - E como essa transformação tem ocorrido no Brasil? Miguez - O Brasil teve, a partir dos anos 50 e 60 do século passado, um importante desenvolvimento em obras

envolvendo barragens, principalmente em obras de combate às secas e para produção de energia elétrica e regularização de cursos d’água. Assim, vastas áreas do Polígono das Secas foram beneficiadas com a implantação de inúmeros açudes e as regiões Sul, Sudeste e Nordeste foram beneficiadas com a implantação de reservatórios de grandes hidroelétricas que propiciaram a regularização de rios caudalosos como o rio São Francisco e o rio Grande. Entretanto, a partir dos anos 80 apareceram oposições aos benefícios gerados por novos projetos, mesmo os de controle de cheias e de irrigação. Os projetos hidroelétricos passaram a demandar vários anos para serem aprovados e licenciados. Para garantir a aprovação, esses projetos passaram a ser com reservatórios operados a fio d’água, o que resultou em aproveitamento parcial e mais dispendio do potencial disponível.

Chegou-se ao cúmulo de ter sido extinta pelo governo Collor a única entidade que visava múltiplos aproveitamentos de recursos hídricos e defesa contra inundações sem que, até a presente data, tenha havido qualquer tentativa de ser criada outra entidade para essa importante finalidade. Em recente levantamento, demonstrei que o custo da implantação de obras hidráulicas fluviais para controle de cheias corresponde com sobras ao custo evitado na ocorrência da primeira grande cheia.

É frequente observarmos a população assistir despreocupadamente notícias veiculadas pela mídia dos flagelos de cheias descontroladas como as atuais (meados de 2015) no Sul e secas arrasadoras como as que presentemente ocorrem no Nordeste. Essa despreocupação também, infelizmente, ocorre nos governantes.

A partir de 2012 passou a incidir no território nacional, especialmente nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-oeste, uma estiagem severa, mas que não se compara à severidade do chamado período crítico entre 1949 e 1956 - que se ocorresse nos dias atuais

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seria devastadora. Essa estiagem atual fez com que, por anos seguidos, passassem a ser despachadas pelo ONS todas as termoelétricas cuja operação é muito mais cara e muito mais deletéria ao meio ambiente. A reação da população começou a ocorrer, não pela maior poluição, mas sim pelo impacto nas tarifas que ultrapassou neste corrente ano, a aumentos de 50% nos primeiros oito meses, tornando a tarifa brasileira para a indústria a mais elevada do mundo, o que está contribuindo decisivamente para o agravamento da recessão econômica e para o acentuado aumento do desemprego. Por esses motivos, por doer no bolso, a partir desse ano passou a haver uma conscientização da importância das hidroelétricas e de reservatórios de regularização plurianual. Espero que isso faça retrocedermos para um planejamento correto, como o dos anos 50 e 60.

CBDB - O senhor foi selecionado para esse comitê ad hoc da CIGB. A que o senhor atribui essa escolha?

Miguez - Na formação de um comitê ad hoc, a seleção dos membros é responsabilidade da CIGB. Talvez pelo fato de eu estar colaborando com a CIGB desde 1973, por ocasião da minha primeira participação em reunião de comitê técnico, o comitê sobre meio ambiente acima mencionado, eu tenha sido lembrado para essa tarefa. A CIGB procura ter poucos membros em comitês ad hoc, e representatividade de todas as regiões de países com atuação mais destacada. Desde 1962, o CBDB tem tido

destaque na CIGB. Tenho certeza que para minha indicação também pesou a recomendação da presidência do CBDB - que era exercida pelo engenheiro Erton Carvalho.

CBDB - De quais nacionalidades são os membros desse comitê ad hoc?

Miguez - Nós somos nove integrantes nesse comitê. Sua formação seguiu os critérios referidos acima. Os integrantes são da França, Estados Unidos, Itália, Rússia, Índia, Japão, Marrocos, Turquia e Brasil.

CBDB - Como tem sido o desenvolvimento do trabalho do comitê ad hoc?

Miguez - Temos evoluído pesquisando nas diversas regiões, como tem sido a evolução populacional e do incremento das necessidades de abastecimento de água e de suprimento de alimentos, fatores que implicam diretamente na necessidade de novos reservatórios. Estamos procurando estimar os efeitos de possíveis mudanças climáticas que possam influenciar nos recursos hídricos e na formação de cheias em áreas com importante ocupação territorial. Estamos procurando indicar os desafios e os obstáculos para implantação de barragens em termos legais, técnicos, financeiros, econômicos, políticos e ambientais. Outra linha de ação é estimar as consequências do envelhecimento de barragens e reservatórios existentes.

““Qualquer obra de infraestrutura impacta o meio

ambiente, tanto positiva como negativamente. A

correta concepção de um empreendimento implica

em profundas análises comparativas entre os custos

Referências

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