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A PESCA ARTESANAL E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS EM REGÊNCIA AUGUSTA- ES

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A PESCA ARTESANAL E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS EM REGÊNCIA AUGUSTA- ES

Flávia Amboss Merçon Leonardo Mestranda em Ciências Sociais Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Flavia.aml@gmail.com

INTRODUÇÃO

O artigo em questão é resultado do processo de construção da dissertação de mestrado ainda em andamento que busca analisar o processo de transformação social na localidade de Regência Augusta, palco simultâneo de ações desenvolvimentistas (atividades de petróleo e gás) e ações preservacionistas (criação de UC’s, Projeto TAMAR). Para a incursão reflexiva desse paper buscamos priorizar as análises sobre as ações desenvolvimentistas e a atividade pesqueira na região.

Nesse sentido, torna-se relevante salientar que atualmente o estado do Espírito Santo tem se destacado pela expansão de grandes projetos de desenvolvimento e infraestrutura (petróleo, gás e portos), sobretudo na faixa costeira do estado e a localidade de Regência também tem sido palco dessas ações. Tendo em vista as recentes descobertas de petróleo, gás, e a camada pré-sal, já é possível falarmos em uma “terceira fase” do ciclo econômico capixaba, conforme aponta o documento de planejamento do estado (MARCOPLAN, 2006). Diante desse cenário desenvolvimentista tem crescido também os impactos ambientais e as consequências sociais nas localidades cujos projetos são instalados. É sobre essa temática que este artigo visa contribuir.

Em relação aos aspectos metodológicos é importante salientar que os dados apresentados e analisados neste paper privilegiaram a etapa qualitativa da pesquisa1,

1 As distintas etapas da pesquisa qualitativa foram realizadas no período entre fevereiro de 2012 a março de 2014.

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composta por: observação participante; oficina (grupo focal)2 realizada com os pescadores artesanais; entrevistas semi-estruturadas3 com os principais agentes identificados em campo.

O CENÁRIO DE ESTUDO E A PESCA ARTESANAL

Regência Augusta – lócus proposto para as análises desse paper – está localizada no município de Linhares, litoral norte do estado do Espírito Santo e integra a microrregião do Rio Doce. Na localidade moram aproximadamente 1.033 pessoas e de acordo com dados da Associação de Pescadores de Regência (ASPER), há na região 54 pescadores registrados4 atualmente. Com apenas 40 hectares, é uma região que se destaca pela beleza natural. A região situa-se na margem sul da foz do rio Doce e ao norte faz fronteira com a Reserva Biológica de Comboios5 (PDIS Comboios, 2002).

A pesca artesanal sempre representou uma atividade tradicional na região, tornando-se um elemento fundamental para a obtenção de renda e alimento para as famílias de Regência. Além disso, é importante considerar que a atividade contribuiu também para a caracterização dos modos de vida e trabalho específicos dos moradores dessa localidade. De acordo com Antonio Carlos Diegues (1998), é possível utilizarmos o termo “maritimidade” para se referir a um conjunto de práticas sociais e simbólicas

2A metodologia de grupo focal foi realizada durante o desenvolvimento do Projeto de extensão: “Oficinas

de Direitos Sociais e Humanos, Políticas Públicas e Práticas Sociais de apoio ao Associativismo entre Pescadores e Pescadoras artesanal”, realizado durante o ano de 2012, pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Populações Pesqueiras e Desenvolvimento no Espírito Santo – GEPPEDES (com apoio do CNPQ) e coordenados pelas professoras Aline Trigueiro (UFES) e WiniFred Knox (UFES), do qual a autora é integrante.

3 Ao todo foram realizadas nove entrevistas em profundidade com pescadores e pescadoras da região. Os

nomes e dados pessoais foram omitidos para resguardar cada sujeito.

4 No entanto, além desse número, sabemos que existe uma quantidade maior e significativa de pessoas que dependem de forma direta ou indireta da atividade pesqueira nesta região, como é caso de filhas e esposas dos pescadores que muitas vezes não são registradas como pescadoras, apesar de contribuírem na atividade, seja limpando e cortando peixes, descascando camarões, remendando linhas de pesca, entre outras atividades.

5A Reserva Biológica de Comboios foi criada em 1984, pelo Governo Federal, através do Decreto 90.222,

com o objetivo de preservar as tartarugas marinhas. De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) ela é enquadrada na categoria de proteção Integral, não sendo permitido nenhum tipo de moradia nem uso extrativista na região.

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específicas aos grupos pesqueiros. O autor torna possível esse conceito, a partir de uma expansão do termo “ilheidade”, também trabalhado pelo autor, que se refere ao modo específico de vida e trabalho característicos das populações quem moram em ilhas (DIEGUES, 1998).

A palavra ileitê (origem francesa) está relacionada tanto a aspectos sociais e econômicos como aspectos simbólicos: como a orientação geográfica e climática, além de jogos de linguagem específicos. Dessa forma, “esse termo [maritimidade] é compreendido não só no sentido econômico, como também no aspecto simbólico que a vida próxima ao mar pode proporcionar ao imaginário coletivo, determinando modos específicos de vida e uso dos recursos do mar” (KNOX, 2009, p. 32). Em relação aos modos específicos de vida e trabalho dos trabalhos do mar é importante salientar o estabelecimento de uma intrínseca relação entre eles e a natureza, uma vez que, os primeiros são dependentes dos recursos do mar para a sua existência material e cultural.

Em contextos passados, a pescaria era realizada principalmente a canoa no rio Doce, pois “não carecia de ir ao mar para pescar, pescava de canoa no rio doce (...). Tinha bastante peixe: pegava Robalo, tinha bastante Mero também” (PESCADOR 9), ou então ela era realizada com redes na beira das praias de Regência e Comboios. Nessa época os pescadores relatam que não era necessário ter muitas redes: “A pescaria era boa, eu trabalhava com três redes só e tirava a parte do dono das redes, pagava minhas despesas toda e ainda sobrava um dinheirinho” (PESCADOR 4).

Hoje a atividade pesqueira não pode se limitar ao rio Doce ou a beira das praias de Regência e Comboios, tendo em vista a diminuição do pescado e as legislações ambientais tornou-se necessário percorrer distancias cada vez maior em busca de uma boa pescaria, além de aumentar o número de redes. Sobre as embarcações, que já foram a maior parte composta por canoas a remo, hoje são pequenos barcos motorizados que permitem que os pescadores se locomovam por todo o litoral do município de Linhares (Regência, Povoação, Degredo e Pontal do Ipiranga). Em relação ao processo produtivo,

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a atividade pesqueira na região pode ser caracterizada a partir das seguintes modalidades: pesca de rede de espera (com barco ou por água), caceio, espinhel, arrasto de camarão e tarrafa (com barco ou sem barco) (BICALHO, 2011).

Conforme exposto, a prática pesqueira em Regência vem sofrendo alterações com o passar do tempo. De acordo com os próprios moradores, um dos motivos apontados é chegada da indústria petrolífera na região. Para Giddens (1991), “a transformação local é tanto uma parte da globalização quanto a extensão lateral das conexões sociais através do tempo e do espaço” (GIDDENS, 1991, p. 70). Na visão do autor, a modernidade que é inerentemente globalizante impõem transformações que resultam em resignificações locais. Nesse sentido, as mudanças locais tendem a ser influenciadas por fatores como: capital mundial e mercado externo.

A CHEGADA DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA E ALGUMAS

CONSEQUÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS

As atividades relacionadas à indústria petrolífera na região tiveram início a partir da década de 1970, quando a Petrobras inicia atividades de sondagem para verificação da existência de petróleo na região. De acordo com o Plano de Manejo da Reserva Biológica de Comboios, as empresas Petrobras e Transpetro começaram a ocupar e desmatar a então Reserva Estadual da Ilha de Comboios (hoje Reserva Biológica de Comboios) para a construção de estradas e instalações do Terminal Aquaviário de Regência já no início da década de 1970, entretanto sem notificações formais.

Com efeito, a primeira descoberta de gás na foz do rio Doce – na formação de Regência (Bacia do Espírito Santo) ocorreu em 1978, no campo terrestre denominado Lagoa Parda. O gás processado nesse campo (que é responsável pelo processamento de todo gás produzido na Bacia do Espírito Santo6) é destinado ao mercado interno (ANP, 2003).

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Na década seguinte ocorreram as descobertas de gás em campos marítimos. Assim, a primeira descoberta marítima ocorreu no ano de 1988, no campo marítimo de Cangoá, que foi caracterizado como o primeiro do mar capixaba com reserva comercial. Posteriormente, em 1997, foi descoberto outro campo marítimo, o Peroá7, considerado de grande importância na época por possuir a maior reserva de gás natural do estado.

Destarte, a localidade de Regência, que tradicionalmente teve o predomínio da pesca como uma atividade econômica e social na região, passou por um processo de mudanças estruturais intensificadas pela instalação da indústria petrolífera. Nesse período de pesquisa e primeiras descobertas de gás na região, muitos pescadores trabalharam para a Petrobras ou empreiteiras na região.

De acordo com os pescadores muita coisa melhorou: construção de estrada8, crescimento da região, disponibilidade de empregos. Entretanto, consequências negativas também são sentidas pelos moradores. O crescimento demográfico e a subsequente pressão imobiliária são exemplos dessas consequências negativas decorrentes da expectativa de empregos criadas pela instalação da indústria petrolífera na região. Com o passar do tempo os empregos foram ficando mais escassos e direcionado para aqueles profissionais especializados, sobretudo externos a localidade, e com isso, os pescadores, em sua maioria com baixa escolaridade, não apresentavam mais utilidade para a atividade petrolífera na região. Aliás, a não contratação da mão de obra local é um problema recorrente na localidade.

Mesmo assim, as plataformas dos campos marítimos Cangoá e Peroá continuam em funcionamento, assim como as atividades no campo terrestre de Lagoa Parda, restringindo as atividades tradicionais na região como é o caso da pesca artesanal: “Cada vez que a Petrobras implanta seus poços de petróleo vai diminuindo mais o

7A produção do campo marítimo de Peroá juntamente com os campos Camarupim, Canapu e Golfinho são peças importantes para o fornecimento de gás natural nacional, de acordo com o site da Petrobrás.

8 Há danificação da estrada devido ao fluxo intenso de veículos da empresa é um problema recorrente,

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espaço pesqueiro dos pescadores. São 500 metros longe daquelas boias, não pode se aproximar não. As plataformas é a mesma coisa” (PESCADOR 7). Além disso, a iluminação das plataformas e embarcações petrolíferas atrapalham a chegada de peixes na costa, dificultando ainda mais a atividade pesqueira na região.

Ampliando esse cenário de intervenções da atividade petrolífera, em contexto mais recente a Petrobras também vem realizando atividades relacionadas às pesquisas sísmicas na região, o que tem limitado o espaço marítimo para exercer a atividade pesqueira, uma vez que, também não é possível pescar nas proximidades onde ocorre atividade sísmica. Além disso, segundo relato dos pescadores, tem se verificado uma similitude entre o período de atividades sísmicas e o período de escassez do pescado na região. Os relatos abaixo mostram a percepção dos pescadores acerca dessa atividade:

“A Petrobras com as plataformas dela atrapalha a pesca, pois não podemos pescar perto. E tem mais, tem a tal da sísmica né: eles explodem tudo dentro do mar, ai mata ou espanta os peixes todos. Ai não tem como pescar. Isso atrapalha muito” (PESCADOR 5).

“Se um trem daquele acusa sete mil metros de profundidade não vai acusar um peixe que ta passando ali do lado. Na verdade pode ser um troço de fazer pouca trepidação, mas prejudica. Porque aquele monte de gancho, com aquele monte de cabo de aço, arrastando no fundo, não vai assustar? O peixe vai correr né (...). Tem dois anos que a Petrobras fez isso aqui (...). Não sei se é por causa da sísmica, ou se é porque o peixe ta desaparecendo mesmo, mas dizer que sumiu uns 40% dos peixes, sumiu. Isso depois das sísmicas” (PESCADOR 9).

“As pesquisas são tudo ilusões (...). Tem as pesquisas da Petrobras, mas até hoje não veio nenhum beneficio que essas pesquisas trouxessem para o pescador (PESCADOR 4).

A CONFIGURAÇÃO DE UM CONFLITO

Diante do exposto compreendemos que desde a segunda metade século passado a localidade de Regência tem passado por um intenso processo de mudança social, que tem sido intensificada, sobretudo pelo desenvolvimento da indústria petrolífera, uma

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vez que, a instalação dessa atividade industrial traz consigo valores e representações acerca do ambiente que vai muitas vezes se apresentar de forma divergente com a atividade da pesca artesanal tradicional na região (MARTINEZ-ALIER, 2007; ACSELRAD, 2004).

Nessa perspectiva de análise, o meio ambiente pode ser interpretado como um espaço permeado por disputas entre diferentes agentes sociais que possuem lógicas e interesses na maioria das vezes antagônicos (ACSELRAD, 2004) como é caso dos interesses da indústria petrolífera e a atividade da pesca artesanal. Assim, para Henri Acselrad (2004):

Os conflitos são, portanto, aqueles envolvendo grupos sociais com modos diferenciados de apropriação, uso e significação do território, tendo origem quando pelo menos um dos grupos tem a continuidade das formas sociais de apropriação do meio que desenvolvem, ameaçada por impactos indesejáveis – transmitidos pelo solo, água, ar ou sistemas vivos – decorrentes do exercício das práticas de outros grupos (ACSELRAD, 2004, p.26).

Com efeito, o grupo pesqueiro na localidade de Regência tem tido seus modos de vida e trabalho alterados, tendo em vista a instalação e desenvolvimento da indústria petrolífera na região. Sobre isso é possível apontarmos transformações no território, como é caso do crescimento demográfico, da pressão imobiliária, do desemprego, da maior demanda de serviços públicos (água, esgoto, energia); Além de transformações no ambiente marinho: Iluminação das plataformas e embarcações petrolíferas que atrapalha a chegada dos peixes na costa, restrição da área de pesca em torno das plataformas, aumento do trafego de navios e a ocorrência de atividades sísmicas que ocasiona o afastamento de cardumes na região. Assim, é possível apontarmos a configuração de um cenário conflituoso na localidade de Regência, tendo em vista os interesses antagônicos que essas duas atividades apresentam.

Salientamos que grande parte dos estudos sobre essa temática de transformações sociais decorrentes da instalação de grandes projetos de desenvolvimento, como é o caso da indústria petrolífera, tem refletido sobre o espaço ambiental (ou o território) como um

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espaço de conflito (ACSELRAD, 2004, RIBEIRO, 2008) tendo como base a reflexão teórica sobre campo de poder elaborada por Pierre Bourdieu (2011a; 2011b). Dito isso, torna-se relevante considerar que a disputa entre os agentes ocorre muitas vezes de forma desigual, ou seja, em um contexto de grande assimetria de poder, tendo em vista os distintos tipos de capitais – como o capital econômico, o capital político, e o capital cultural – que cada agente é detentor (BOURDIEU, 2011a; 2011b).

De acordo com Ribeiro (2008), o processo de instalações e desenvolvimento dos complexos industriais e de infraestrutura, caracterizado pelo autor como Projetos de Infraestrutura de Grande Escala (PEGs) é um encontro que envolve principalmente dois tipos de agentes: os outsiders – representantes dos grandes empreendimentos – e os insider – os grupos locais. Os outsiders chegam à localidade com a promessa de novos empregos, de promover o desenvolvimento e o progresso para a região, se referindo aos impactos negativos como externalidades que serão compensadas pela modernização que o empreendimento acarretará a região. Nesse aspecto, o autor chama a atenção para a formação dos “dramas desenvolvimentistas”:

“Dramas desenvolvimentistas” são tipos complexos de encontros que juntam atores e instituições locais a outsiders. O fato de outsiders pretenderem planejar o futuro de uma comunidade é indicativo do seu poder diferencial no encontro. Em tais circunstâncias, instala-se uma dicotomia. Por um lado, há os objetivos e racionalidades dos planejadores; por outro lado, o destino e a cultura das comunidades. Antes da existência de um projeto de desenvolvimento, populações locais dificilmente poderiam conceber que seu destino era suscetível de ser seqüestrado por um grupo organizado de pessoas. Na realidade, planejamento — isto é, a determinação antecipada de como certa realidade será — implica a apropriação, por parte de outsiders, do poder das populações locais de serem sujeito dos seus próprios destinos.De sujeito de suas próprias vidas, essas populações se tornam sujeitas a elites técnicas prescientes. (RIBEIRO, 2008, p. 122).

Nesse sentindo, tendo em vista as limitações diante do campo de atuação (capital político e econômico) os agentes locais, como é o caso dos pescadores artesanais, sentem dificuldade de agir no sentido de impedir a atuação de outsiders na localidade, uma vez que, as estratégias de ação desses agentes são determinadas pela posição que eles próprios ocupam no interior do campo, ou seja, uma posição com menos capital

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político e econômico, o que o torna inferior nesse ambiente de disputa ambiental ou territorial.

À vista disso, o ambiente (ou o território) pode ser analisado como um campo de disputa no qual são estabelecidas relações de poder e lutas simbólicas no seu interior. Nesse campo, ações são legitimadas ou não, e dessa forma, o que podemos observar na localidade de Regência é uma sobreposição e legitimação dos interesses econômicos e globalizantes em detrimento dos interesses locais que estão tendo suas estratégias de ação imobilizadas diante do capital econômico e político dos agentes outsiders.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse paper buscamos priorizar as análises sobre as ações desenvolvimentistas, sobretudo aquelas relacionadas à indústria petrolífera e a atividade pesqueira na localidade de Regência. Assim, diante da emergência de um cenário desenvolvimentista na região tem crescido também os impactos ambientais e as consequências sociais. A escassez do pescado, as áreas restritas para a atividade pesqueira e a extinção de parte dos pesqueiros tradicionais são problemas apontados pelos próprios pescadores em relação à atividade pesqueira atualmente.

Nesse sentido, podemos apontar a existência de um cenário de injustiça ambiental (HERCULANO, 2008; ACSELRAD, 2010) na localidade pesquisada, pois há uma carga desproporcional em relação aos ganhos monetários que a atividade petrolífera proporciona e os ganhos que os pescadores artesanais estão tendo. Assim como, há também uma carga desproporcional nos impactos ambientais da atividade e as consequências sociais. Nesse caso, o grupo dos pescadores artesanais de Regência fica com os impactos ambientais e as consequências sociais negativas dessa atividade enquanto que outros grupos, sobretudo os outsiders se apropriam dos lucros e benfeitorias da atividade petrolífera.

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Portanto, tomando emprestadas as reflexões de Bauman (1999), o processo de globalização produz necessariamente o processo de localização. Assim, o processo de globalização não é sentido da mesma forma pelos diversos agentes sociais, ao contrário disso, para o autor existe uma polarização na ideia de globalização: ao mesmo tempo em que para alguns grupos sociais ela promove o avanço, a descoberta de novos horizontes, a limitação de barreiras, para outros, ela representa a separação, a segregação e a pobreza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACSELRAD, Henri (org). Conflitos Ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2004.

__________. Ambientalização das Lutas Sociais – O caso do movimento por Justiça Ambiental. Estudos Avançados, (24) 68, 2010.

BAUMAN, Zgmunt. Globalização: As Consequências Humanas. Rio de Janeiro, Zahar editora, 1999a.

BICALHO, Charlene Sales. Impactos do Projeto de Desenvolvimento na Pesca Artesanal de Regência Augusta. Anais do Seminário Nacional da Pós-Gradução em Ciência Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo, v°1, n°1, 2011.

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011a. __________. Razões Práticas – sobre a teoria da ação. Campinas, SP: Papirus, 2011b.

DIEGUES, Antonio Carlos Diegues. Ilhas e Mares: Simbolismo e imaginário. São Paulo, HUCITEC, 1998.

GIDDENS, Anthony. As Consequências da Modernidade. Tradução Raul Fiker. São Paulo: Editora UNESP, 1991.

GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Plano de Desenvolvimento

Espírito Santo 2025. Agosto de 2006. Disponível em:

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HERCULANO, Selene. O Clamor por Justiça Ambiental e contra o Racismo Ambiental. Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente (INTERFACEHS), v° 3, n°1, Artigo 2, Janeiro-Abril, 2008.

IBAMA. Plano de Manejo Reserva Biológica de Comboios – Fase 1. In: IBAMA, 1997.

MARTINEZ-ALIER, Joan. O Ecologismo dos Pobres: Conflitos ambientais e linguagens de valoração [Tradutor: Mauricio Waldman]. São Paulo : Contexto, 2007. PREFEITURA DE LINHARES. Plano de Desenvolvimento Integrado e Sustentável para as Comunidades do Entorno da Reserva Biológica de Comboios. Fundação Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisa das Tartarugas Marinhas, Regência, 2002. RIBEIRO, Gustavo Lins Ribeiro. Poder, redes e ideologias no campo do desenvolvimento. Novos Estudos, CEBRAP, nº80, março 2008.

KNOX, Winifred. Vivendo do mar: Modos de vida e de pesca. Natal, RN: EDUFRN, 2009.

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