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A PULSÃO DE MORTE E VIDA EM JOÃO CABRAL DE MELO NETO: UMA CRITICA SOBRE O SUJEITO NORDESTINO NA OBRA MORTE E VIDA SEVERINA.

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A PULSÃO DE MORTE E VIDA EM JOÃO CABRAL DE MELO NETO: UMA CRITICA SOBRE O SUJEITO NORDESTINO NA OBRA MORTE E

VIDA SEVERINA.

Tatiana da Silva Manêra Prof. Marcio do Prado (Orientador)

RESUMO

João Cabral de Melo Neto propõe uma reflexão da realidade social brasileira. Neste sentido, pesquisar sua obra (Morte e Vida Severina) implica em abordar também aspectos políticos e culturais da região do Nordeste. A cultura Nordestina destaca-se pelo seu povo, que mesmo diante da morte, busca a todo o momento a vida. Portanto, analisar esta obra a partir da visão freudiana permite uma compreensão psíquica dos sofrimentos e esperanças de um retirante que convive com a sua realidade. A morte é usada para conscientizar o leitor acerca dos problemas sociais brasileiros, especificamente dos nordestinos. Ao ler a obra por inteira, concluímos que a todo tempo Severino, o personagem retirante, é seguido, com uma pulsão, ou, talvez com seu próprio destino; a morte. O objetivo é analisar criticamente a obra, e tecer sobre ela uma proposta de eu - lírico sofredor. Assim, podemos através de uns trechos selecionados e analisados, observar a pulsão de morte, e a pulsão de vida, já que esta é tão retratada e influenciada no poema estudado.

Palavras-chave: Morte e Vida Severina; sujeito nordestino; morte e vida.

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INTRODUÇÃO

Um bom texto literário tem um importante papel de trazer para o leitor refletir sua realidade social, e de certo modo, fazer com que haja um posicionamento social. Através do poeta João Cabral de Melo Neto, em sua obra Morte e Vida Severina, é possível verificar uma valorização da figura do nordestino, como um sujeito sofredor. Morte e Vida Severina retrata a típica realidade do Pernambucano que foge da seca em busca do Recife e acaba morando numa favela ribeirinha. ―Severino, o emigrante que sai da caatinga em busca de uma vida melhor no litoral, é o estereótipo do nordestino oprimido pela seca, pela fome e pela exclusão social‖.

Embora o sendo, nunca perde a valorização da vida, a começar pelo título da obra, que logo, já nos remete essa ideia e que segundo a teoria de Freud, acredita-se que há duas pulsões que exercem no individuo: a de morte; e a de vida.

Na obra percebe-se que embora diante da seca, o sujeito caminha para a morte, há em contraposição, a outra pulsão; que a remete literalmente para a vida.

A questão da pulsão de morte faz parte do segundo dualismo pulsional proposto e encontra-se em oposição às pulsões do ego ou da (autoconservação) que constituem as chamadas pulsões de vida ou de Eros. Este último é mais um dentro de muitos termos retirados da filosofia, poesia e mitologia, utilizados por Freud para designar e representar algum conceito. Na psicanálise, designa o conjunto das pulsões de vida que têm uma tendência a constituir e conservar unidades cada vez maiores, com o objetivo de preservar a existência do organismo.

A pulsão de morte propriamente dita visa à redução completa dessas tendências e tensões, a um (re) conduzir o ser vivo para um

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estado inorgânico, que seria a forma mais primitiva do ser: o estado inanimado. Freud afirma que as formas primitivas de vida não teriam em si mesmas, desejo de mudar, então elas simplesmente permaneceriam repetindo o mesmo curso de vida, caso nenhuma exigência externa viesse a modificar esse quadro.

Então, se “tudo o que vive morrer por causas internas, logo o objetivo de toda vida é a morte” (p. 56). Assim, a função das pulsões de vida seria o de garantir, ou descobrir caminhos, para que o organismo siga sua rota até a meta final da vida sem ser interrompido por causas externas, podendo retornar ao estado inorgânico à sua própria maneira: “o que nos resta é o fato de que o organismo deseja morrer apenas do seu próprio modo” (p. 57).

É interessante notar a incansável insistência de qualquer pulsão, mesmo que reprimida, para alcançar a satisfação representativa de alguma experiência primária que foi prazerosa. É muito claro dentro do pensamento freudiano a exigência dualista proposta no caso das pulsões e o conflito interno que essas duas tensões exercem num individuo.

DISCUSSÃO

João Cabral de Melo Neto propõe uma reflexão da realidade social brasileira. Neste sentido, pesquisar sua obra (Morte e Vida Severina) implica em abordar também aspectos políticos e culturais da região do Nordeste. A cultura Nordestina destaca-se pelo seu povo, que mesmo diante da morte, busca a todo o momento a vida.

Portanto, analisar esta obra a partir da visão freudiana permite uma compreensão psíquica dos sofrimentos e esperanças de um retirante que convive com a sua realidade. A morte é usada para conscientizar o leitor acerca dos problemas sociais brasileiros, especificamente dos

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nordestinos.

Ao ler a obra por inteira, concluímos que a todo tempo Severino, o personagem retirante, é seguido, com uma pulsão, ou, talvez com seu próprio destino; a morte.

ANÁLISE

Esta pesquisa demonstra através do poema Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto; a reflexão histórica e social da realidade da população nordestina do Brasil a partir do conceito freudiano de pulsão de vida e morte.

Para dar suporte a minha pesquisa, selecionei algumas cenas no poema estudado que de fato seja esclarecedor à minha proposta. Para dar seguimento, foram analisadas as cenas 1, 5, 7, 9,13, e 18.

Cena 1: Severino se apresenta ao público ―O meu nome é Severino... Somos muitos Severinos Iguais em tudo na vida: Na mesma cabeça grande Que a custo é que se equilibra, No mesmo ventre crescido Sobre as mesmas pernas finas, E iguais também porque o sangue Que usamos tem pouca tinta. E somos Severinos

Iguais em tudo na vida, Morremos de morte igual, Mesma morte severina : Que é a morte severina:

Que é a morte de que se morre De velhice antes dos trinta, De emboscada antes dos vinte, De fome um pouco por dia ... Somos muitos Severinos Iguais em tudo e na sina:‖ ·

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Neste primeiro trecho, quando Severino se apresenta, o pessimismo flui com sua identidade, ou talvez, com sua falta dela. A de se perceber no trecho a seguir, que há uma sina a todo Severino, não somente do personagem, e sim de todos que habitam no sertão.

Cena 5: Cansado da viagem o retirante pensa em interrompê- la uns instantes e procurar trabalho por ali onde se encontra.

— ―Desde que estou retirando só a morte vejo ativa,

só a morte deparei e às vezes até festiva; só a morte tem encontrado quem pensava encontrar vida, e o pouco que não foi morte foi de vida severina

(aquela vida que é menos vivida que defendida, e é ainda mais severina para o homem que retira). Penso agora: mas porque parar aqui eu não podia e como o Capibaribe interromper minha linha? ao menos até que as águas de uma próxima invernia me levem direto ao mar ao refazer sua rotina?

Na verdade, por uns tempos, parar aqui eu bem podia e retomar a viagem

quando vencesse a fadiga‖.

Logo embora, Severino, em meio a tantas decepções, enfim chega a zona da mata, e o que faz pensar numa vida nova, compara seu sertão e sua sina de onde lá vivia. Há a pulsão de vida, pois Severino se encanta e pela primeira vez se vê numa vida mais viva, por isso pensa logo em interromper a viagem.

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Cena 7: O retirante chega à Zona da Mata, que o faz pensar, outra vez, em interromper a viagem.

— ―Bem me diziam que a terra se faz mais branda e macia quando mais do litoral a viagem se aproxima. Agora afinal cheguei nesta terra que diziam. Como ela é uma terra doce para os pés e para a vista. Os rios que correm aqui têm a água vitalícia. Cacimbas por todo lado; cavando o chão, água mina. Vejo agora que é verdade o que pensei ser mentira. Quem sabe se nesta terra não plantarei minha sina? Não tenho medo de terra (cavei pedra toda a vida), e para quem lutou a braço contra a piçarra da Caatinga será fácil amansar

esta aqui, tão feminina. Mas não avisto ninguém, só folhas de cana fina; somente ali à distância aquele bueiro de usina; somente naquela várzea um banguê velho em ruína. Por onde andará a gente que tantas canas cultiva? Feriando: que nesta terra tão fácil, tão doce e rica, não é preciso trabalhar todas as horas do dia, os dias todos do mês, os meses todos da vida. Decerto a gente daqui jamais envelhece aos trinta nem sabe da morte em vida, vida em morte, severina; e aquele cemitério ali, branco na verde colina, decerto pouco funciona e poucas covas aninha.‖.

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As esperanças vão morrendo – Severino apressa o passo. A morte é a mesma em toda à parte. Novamente reitera os propósitos de sua viagem.

Cena 9: O retirante resolve apressar os passos para chegar logo ao Recife.

— Nunca esperei muita coisa, digo a Vossas Senhorias. O que me fez retirar não foi a grande cobiça; o que apenas busquei foi defender minha vida de tal velhice que chega antes de se inteirar trinta; se na serra vivi vinte, se alcancei lá tal medida, o que pensei, retirando,

foi estendê-la um pouco ainda. Mas não senti diferença

entre o Agreste e a Caatinga, e entre a Caatinga e aqui a Mata a diferença é a mais mínima. Está apenas em que a terra é por aqui mais macia; está apenas no pavio, ou melhor, na lamparina: pois é igual o querosene que em toda parte ilumina, e quer nesta terra gorda quer na serra, de caliça, a vida arde sempre, com a mesma chama mortiça. Agora é que compreendo porque em paragens tão ricas o rio não corta em poços como ele faz na Caatinga: vivi a fugir dos remansos a que a paisagem o convida, com medo de se deter

grande que seja a fadiga. Sim, o melhor é apressar o fim desta ladainha, o fim do rosário de nomes que a linha do rio enfia; é chegar logo ao Recife,

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derradeira ave-maria do rosário, derradeira invocação da ladainha, Recife, onde o rio some e esta minha viagem se fina.

Em contraposição, com a pulsão da morte, nada mais natural, aparecer para em conflito, a pulsão da vida, que através deste trecho, o renascimento, a vida, nos é proposta.

Cena 13: Uma mulher, da porta de onde saiu o homem, anuncia-lhe o que se verá.

— Compadre José, compadre, que na relva estais deitado: conversais e não sabeis que vosso filho é chegado? Estais aí conversando em vossa prosa entretida: não sabeis que vosso filho saltou para dentro da vida? Saltou para dento da vida ao dar o primeiro grito; e estais aí conversando; pois sabei que ele é nascido.

Este traz um símbolo muito forte, é o anuncio do nascimento do filho do seu José, o renascimento de um ser.

E no final do poema, Severino tem a resposta de Mestre Carpina, ―se não vale mais saltar fora da ponte e da vida?‖

Cena 18: O Carpina fala com o retirante que esteve de fora, sem tomar parte em nada.

— Severino retirante, deixe agora que lhe diga: eu não sei bem a resposta da pergunta que fazia, se não vale mais saltar fora da ponte e da vida; nem conheço essa resposta, se quer mesmo que lhe diga; é difícil defender,

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só com palavras, a vida, ainda mais quando ela é esta que vê, Severina; mas se responder não pude à pergunta que fazia,

ela, a vida, a respondeu com sua presença viva. E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio,

que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida;

mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida; mesmo quando é uma explosão como a de há pouco, franzina; mesmo quando é a explosão de uma vida Severina.

Entendemos deste trecho à exaltação à vida, e nos deparamos mais uma vez, com a pulsão da vida.

CONCLUSÃO

A situação conflituosa já nos apresenta no início do poema, quando Severino encontra dificuldades para diferenciar-se dos outros tantos Severinos , filhos de tantas outras Marias, que, além de possuírem o mesmo nome e biotipo, são também marcados pela mesma sina da seca, oprimidos pela mesma realidade e fadados à mesma vida (e morte). Severino não consegue estabelecer sua individualidade e seu nome passa a designar todo e qualquer retirante que foge da seca. São todos severinos com as mesmas origens e com o mesmo destino. Não há, portanto, para quem vive uma vida severina , condições para estabelecer uma identidade particular. Todos os sertanejos vão se tornando severinos, isto é, adquirindo a mesma atitude de alheamento diante da realidade, impotência diante da vida e impassividade diante da morte.

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A vida e a morte representam inicio e fim, ou só fazem parte de um ciclo inacabado.

Cremos que João Cabral a partir desta tensão consegue retratar o quanto as amarguras e o quadro de opressão da vida sertaneja podem desumanizar e despersonalizar o homem do sertão.

Contudo, quando a esperança parece finalmente sucumbir ante esta seqüência de decepções, mais um contraste se apresenta: surge uma vida, que encerra em si um otimismo latente. É a renovação do ciclo. Quando tudo parece perdido, nasce mais uma vida Severina que passará pelas mesmas severinidades do Nordeste, que terá as mesmas esperanças e sofrerá as mesmas desilusões.

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REFERÊNCIAS

MELO NETO, J.C. Morte e Vida Severina e Outros Poemas para Vozes. Rio de Janeiro: 34 1994.

MELO NETO, J.C. 1942-1982 – São Paulo: Nobel, 1987. FREUD, S. “Além do Princípio do Prazer”, ibid pág.75/76

BOSI, Alfredo. Cultura brasileira. Série Fundamentos. 4 edição. São Paulo/SP. Àtica , 1999.

MELO NETO, J.C. Morte e Vida Severina e outros poemas para vozes. 4 edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

____________. A poesia crítica de João Cabral de Melo Neto. IN: CULT- Revista Brasileira de Literatura, ano III, n 29.

____________. Poesias Completas: 1940-1965. 2.ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1975.

BARBOSA, João Alexandre. A Lição de João Cabral. IN: Cadernos de Literatura Brasileira. São Paulo, Instituto Moreira Salles, 1996.

REGO, J.L. Introdução. IN: LUZ, Z. Brasi caboco e sertão em carne e osso. Recife/PE; Litoral. 1999.

ALMEIDA, Bruno Henrique Prates. Pulsão de Morte: Convergências e Divergências entre Sigmund Freud e Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2007.

FREUD, S. Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos. E.S.B.

FREUD, S. Além do Princípio de Prazer. Em Edição Standard das Obras Completas de

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