Anjo no nome, Angélica na cara, Isso é ser flor, e Anjo juntamente, Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara? Quem veria uma flor, que a não cortara De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente, Que por seu Deus, o não idolatrara? Se como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu custódio, e minha guarda Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. Gregório de Matos
Outros Sonhos Chico Buarque
Composição: Chico Buarque Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia Sonhei que ela corava Quando me via
Sonhei que ao meio-dia Havia intenso luar
Se empetecava João Se impiriquitava Maria Doentes do coração
Dançavam na enfermaria E a beleza não fenecia Belo e sereno era o som Que lá no morro se ouvia Eu sei que o sonho era bom Porque ela sorria
Até quando chovia Guris inertes no chão Falavam de astronomia E me jurava o diabo Que Deus existia
De mão em mão o ladrão Relógios distribuía
E a polícia já não batia De noite raiava o sol
Que todo mundo aplaudia Maconha só se comprava Na tabacaria
Drogas na drogaria
Um passarinho espanhol Cantava esta melodia E com sotaque esta letra De sua autoria
Sonhei que o fogo gelou Sonhei que a neve fervia E por sonhar o impossível, ai Sonhei que tu me querias Soñé que el fuego heló Soñé que la nieve ardia
Y por soñar lo impossible, ay, ay Soñe que tu me querias.
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Partido Alto Cássia Eller
Composição: Chico Buarque Deus é um cara gozador
Adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo Tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado Me botar cabreiro
Na barriga da miséria Eu nasci brasileiro
Eu sou do Rio de Janeiro Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, oh nega E se Deus não dar
Como é que vai ficar, oh, nega? "à Deus dará" , "à Deus dará" Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, oh nega E se Deus negar
eu vou me indignar e chega Deus dará , Deus dará
Jesus Cristo ainda me paga Um dia ainda me explica
Como é que pôs no mundo Essa pobre titica
Vou correr o mundo afora Dar uma canjica
Que é pra ver se alguém se embala Ao ronco da cuíca
Um abraço pra aquele que fica, meu irmão Deus me deu mãos de veludo
Prá fazer carícia
Deus me deu muitas saudades E muita preguiça
Deus me deu pernas compridas E muita malícia
Pra correr atrás de bola E fugir da polícia
Um dia ainda sou notícia Deus me fez um cara fraco desdentado e feio
Pele e osso, simplesmente Quase sem recheio
Mas se alguém me desafia E bota a mãe no meio
Eu dou porrada a três por quatro E nem me despenteio
Porque eu já tô de saco cheio.
Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais carepa: Com sua língua ao nobre o vil decepa: O Velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos falar pode, mais increpa: Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. A flor baixa se inculca por Tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa: Mais isento se mostra, o que mais chupa. Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa Em apa, epa, ipa, opa, upa.
A UMA QUE LHE CHAMOU "PICA-FLOR" (261) Se Pica-flor me chamais
Pica-flor aceito ser mas resta agora saber se no nome que me dais meteis a flor que guardais no passarinho melhor. Se me dais este favor sendo só de mim o Pica e o mais vosso, claro fica que fico então Pica-flor.
Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse
trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito
Alexandre de andar em tão mau ofício: porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome: Eodem loco ponem latronem, et piratam quo regem animum latronis et piratae habentem. Se o rei de Macedônia, ou de qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.
Quando li isto em Sêneca não me admirei tanto de que um estóico se atrevesse uma tal sentença em Roma, reinando nela Nero. O que mais me admirou e quase envergonhou, foi que os nosso oradores evangélicos em tempo de príncipes católicos e
timoratos, ou para a emenda, ou para a cautela, não preguem a mesma doutrina.
O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais
alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem São Basílio Magno. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias, ou a
administração das cidades, os quais já com mancha, já com forças roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo: os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.
Diógenes que tudo via com mais aguda vista que os outros homens viu que uma grande tropa de varas e ministros da justiça levava a enforcar uns ladrões e começou a bradar: lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos... Quantas vezes se viu em Roma a enforcar o ladrão por ter roubado um
carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo, um cônsul, ou ditador por ter roubado uma província?... De Seronato disse com discreta contraposição
Sidônio Apolinário: Nom cessat simul furta, vel punire, vel facere. Seronato está sempre ocupado em duas coisas: em castigar furtos, e em os fazer. Isto não era zelo de justiça, senão inveja. Queria tirar os ladrões do mundo para roubar ele só!
Declarando assim por palavras não minhas, senão de muito bons autores, quão honrados e autorizados
sejam os ladrões de que falo, estes são os que disse, e digo levam consigo os reis ao inferno.
Altar Particular Maria Gadú
Composição: Maria Gadú
Meu bem que hoje me pede pra apagar a luz E pôs meu frágil coração na cruz
No teu penoso altar particular
Sei lá, a tua ausência me causou o caos No breu de hoje eu sinto que
O tempo da cura tornou a tristeza normal E então, tu tome tento com meu coração Não deixe ele vir na solidão
Encabulado por voltar a sós
Depois, que o que é confuso te deixar sorrir Tu me devolva o que tirou daqui
Que o meu peito se abre e desata os nós Se enfim, você um dia resolver mudar Tirar meu pobre coração do altar
Me devolver, como se deve ser
Ou então, dizer que dele resolveu cuidar Tirar da cruz e o canonizar
Digo faço melhor do que lhe parecer
Teu cais deve ficar em algum lugar assim Tão longe quanto eu possa ver de mim Onde ancoraste teu veleiro em flor Sem mais, a vida vai passando no vazio
Estou com tudo a flutuar no rio esperando a resposta ao que chamo de amor