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VI Congreso ALAP Dinámica de población y desarrollo sostenible con equidad

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VI Congreso ALAP

Dinámica de población y desarrollo sostenible

con equidad

Religião e seletividade conjugal: Perfil das uniões na

população de origem asiática no estado de São Paulo em

2010

Márcio Mitsuo Minamiguchi

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Religião e seletividade conjugal: Perfil das uniões na população de origem asiática no estado de São Paulo em 2010

Márcio Mitsuo Minamiguchi

Objetivo:

Este trabalho pretende dar alguma elucidação sobre a forma como determinadas religiões podem influenciar na formação de uniões com exogamia por raça/cor entre a população de origem asiática no estado de São Paulo a partir de informações do censo demográfico de 2010.

Motivações e justificativa

O padrão de formação de uniões da população de origem asiática no Brasil ainda é um fator muito pouco estudado. E essa parcela relativamente pequena da população possui diversas peculiaridades no que se refere à sua inserção dentro da sociedade brasileira, por ser visto como um grupo muitas vezes mais fechado.

Nesse sentido, casamentos exogâmicos constituem um fator importante como medida de inserção social de um grupo minoritário diferente, principalmente para um grupo que tem a estrutura familiar como fator central na esfera produtiva e na vida social, e que no início do processo migratório teve como um dos fatores para o êxito na esfera econômica a força de uma identidade étnica que gerava uma solidariedade e cooperação, aspectos centrais para entender a mobilidade social.

E dentro desse ambiente, a tendência ao casamento endogâmico seria muito forte. Assim, um bom indicativo da força dos laços de identidade étnica se enfraquecendo e dando lugar a um sentido de pertencimento mais ao país seria o casamento interracial. Assim, assume-se o pressuposto de que quanto mais inserido um indivíduo estivesse, mais ele teria propensão a se casar fora de seu grupo.

Além da família, outro elemento importante no contexto de inserção dos asiáticos no Brasil foi a religião, e que pode reforçar os laços de identidade étnica, como o caso do budismo para chineses e japoneses ou o protestantismo para os coreanos.

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Partindo desse contexto, a ideia é avaliar como a religião pode influenciar o processo de escolhas de cônjuges. A escolha da religião se deve ao fato de diversos estudos apontam que a filiação e o envolvimento religioso estão associados à formação de famílias.

E atualmente, com o crescimento das religiões evangélicas de origem pentecostal também entre a população de raça/cor amarela, existem novas questões que emergem. E como se trata de religiões cujo pertencimento é dado por conversão, poderia indicar uma forma diferente de pertencimento e de identidade, por não fazerem parte de seu grupo étnico.

Portanto, se religião é importante para a inserção cultural, o pertencimento a determinadas crenças poderiam estar relacionadas a uma maior prevalência de uniões exogâmicas.

A limitação do estudo ao estado de São Paulo, além de ser a unidade da federação com o maior número de pessoas de origem asiática, se deve ao fato de não estar muito claro esse aumento em nível nacional do contingente de pessoas que se auto-declaram amarelas. No Brasil, o número de pessoas que se auto-declararam amarelas salta de 761.583 para 2.0105.353 entre os anos de 2000 e 2010. No estado de São Paulo, essa evolução é de 456.420 para 570.150 no mesmo período. Como existe um percentual muito pequeno de pessoas amarelas budistas fora de São Paulo em relação ao que é verificado entre os paulistas, é necessário olhar com mais cautela essa evolução.

Limitações:

Como não existe informação a respeito do tempo em que a pessoa pertence àquela religião, não é possível saber se a conversão ocorre antes ou depois da formação da união. Além disso, não é possível saber se pertencer a determinada religião é devido à união, ou se o pertencer à religião que possibilitou a união.

Também não existe a identificação de origem étnica no Censo e, por esse motivo, neste trabalho a população que se declara amarela será utilizada como proxy para a população de origem asiática, com todas as limitações que essa classificação pode ter.

Mesmo considerando a proxy adequada, como não se trata de um grupo homogêneo, a não identificação do país de origem dos ascendentes trazem restrições à análise no sentido de não captar uniões de asiáticos de diferentes origens.

A limitação dos dados também impede separar os indivíduos que possuem origem mestiça que se declaram amarelos e que, por já terem nascido de uma união exogâmica, provaveltente poderiam ter uma maior propensão a se unir com uma pessoa de raça/cor diferente.

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População de origem Asiática no Brasil

Os principais fluxos de população asiática conhecidos no Brasil são de japoneses, chineses, coreanos e taiwaneses, que compreendem quase a totalidade dos indivíduos de naturalidade estrangeira em 2000 no Brasil (MCKENZIE e MISTIAEN, 2007). Importantes fluxos migratórios a partir desses países foram registrados ao longo do último século advindos desses países, sendo que os três últimos são mais recentes que os japoneses em termos do momento de maior volume de chegadas (OLIVEIRA e MASIERO, 2005). Destaca-se também a importância da capital paulista como grande receptora desses fluxos migratórios, principalmente os mais recentes.

Segundo Oliveira e Masiero (2005), os japoneses juntamente com seus descendentes são mais de 1,3 milhão os chineses cerca de 200 mil e os sul-coreanos, legalizados e ilegais, 80 mil, e destacam que é interessante ressalvar que a relação entre Brasil e Ásia até a década de 1950 ficou restrita quase que unicamente restrito ao campo sociocultural representado pelo fluxo migratório japonês. Por outro lado, esses fluxos praticamente se esgotam ao final dos anos 1960, quando os fluxos de imigrantes vindos da China e da Coreia do Sul passam a ser importantes.

Importante pensar que, tal como ocorre na América do Norte, essa é uma parcela da população que possui um tipo de inserção cultural que ocorre de forma mais lenta do que ocorreu com as imigrantes de origem europeia.

Por esse motivo, este trabalho tem como objetivo explorar a formação de uniões dessa população. Uma vez que casamentos exogâmicos representam um campo relacionado também a esse processo de aculturação, já que demonstra uma inserção maior na cultura. Como nenhuma cultura é uma ilha, e consegue permanecer enquanto tal, e acabam entrando em contato com tradições alternativas (FERRETTI, 2008).

Estrutura familiar e processo de inserção na sociedade brasileira

Como ainda são raros os estudos acerca do processo de inserção de chineses e coreanos na sociedade brasileira, me concentrarei mais no caso japonês, que se trata de um processo de migração mais antigo (considerando que, embora a migração chinesa no Brasil date do século XIX, mas não tínhamos fluxos consideráveis até a segunda metade do século XX) e que está de certa forma mais inserida.

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Um estudo bastante importante, e que trata exatamente da estrutura familiar e processo de aculturação dos imigrantes japoneses no Brasil é a tese de Ruth Cardoso (de 1972, publicada em 1995), que trata da especificidade cultural na forma de integração dos imigrantes japoneses no Brasil.

A importância do sistema familiar é destacada pela autora, como unidade de produção e consumo e também como forma de organização social, ainda mais em um contexto em que o tipo de política migratória no Brasil foi mais no sentido de atrair famílias para as áreas rurais, diferentemente dos EUA e do Peru, onde o principal fluxo inicial era de homens solteiros.

Mas existe grande semelhança das atividades profissionais que desempenhavam nos países com fluxos consideráveis de migrantes japoneses até meados do século XX, com grande parte dedicada à lavoura e outra parte dedicada a comércio e serviços.

Cardoso (1995) ainda destaca o sucesso que os japoneses encontraram em suas oportunidades de trabalho, e por isso tiveram pouca dispersão ocupacional no início, um processo de ascensão que impressiona, não pelo sucesso estrondoso de alguns membros do grupo, mas por ter sido algo alcançado por quase a totalidade dos membros da Colônia. A identificação étnica era importante no sentido de gerar esses tipos de cooperação e solidariedade capaz de permitir a mobilidade social assistida por esses migrantes.

Desse modo, o sistema de produção baseado em formas associativas, e o sistema familiar de trabalho é considerado como um elemento chave desse processo de ascensão. Cardoso (1995: 159) destaca que:

A utilização deste sistema de cooperação no trabalho se tornou possível porque conseguiram manter o sistema familiar japonês, mesmo naqueles países em que a imigração tinha sido predominantemente masculina. A família japonesa é a unidade básica para constituir a Colônia, e foi a sua manutenção que permitiu a recriação de instituições que alicerçam a definição de um universo étnico homogêneo e solidário. Os chineses e coreanos migraram majoritariamente para as áreas urbanas, diferentemente dos japoneses, mas é possível enxergar essa mesma forma de associativismo e de relações familiares na esfera produtiva e a existência de uma solidariedade interna possivelmente fazem parte das formas de organização social também dentro desses grupos de migrantes, já que também é possível localizar a concentração em alguns setores de atividades, tal como os comércios para chineses e o setor de confecções entre os coreanos (OLIVEIRA e MASIERO, 2005; SHOJI, 2004).

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Além disso, os investimentos em capital humano, destacadamente a importância dada à educação e a mudança para as áreas urbanas contribuiu para um processo de ascensão social das gerações seguintes, e para a prevalência de profissionais de nível superior, além da inserção em uma maior variedade de carreiras diferentes daquelas mais relacionadas aos imigrantes.

Assim, conhecer a estrutura familiar é fundamental no sentido de pensar no processo de inserção social dessa comunidade no Brasil. Skinner aborda (1997) que, entre outros fatores, o sistema de família influencia também na esfera da formação de uniões.

E, nesse sentido, a lógica de organização social e produtiva familiar e a solidariedade interna seria capaz de produzir uma tendência bastante grande a contrair casamentos endogâmicos. E, de fato, a tendência à endogamia inicialmente era muito forte. Mesmo na América do Norte, onde foi promovida a migração japonesa de homens, manteve-se ainda assim a prevalência de casamentos endogâmicos, através da importação de esposas (CARDOSO, 1995).

Por outro lado, na medida em que a tendência é de maior inserção e de mobilidade social, a tendência de casamentos exogâmicos ficaria mais forte.

Papel da religião na inserção cultural

No processo de inserção social, a religião tem um papel bastante importante, na medida em que o catolicismo substitui o xintoísmo como religião de pertencimento aos descendentes de japoneses no Brasil (SHOJI, 2011).

Essa é uma dimensão bastante importante dentro desse processo de integração, uma vez que na primeira metade do século XX, existia uma percepção da existência de um sentimento antijaponês camuflado, tendo como causas não somente a língua, mas também raça, hábitos e religião. André (2010) menciona que era recomendado pelo próprio governo, pelas empresas de colonização e por intelectuais japoneses, que os imigrantes fossem reservados quanto à religiosidade e, se possível, a conversão ao catolicismo. Dessa forma, a ausência de manifestações religiosas na esfera pública por parte dos imigrantes fazia parte das estratégias de assimilação dos japoneses.

A partir da segunda metade do século XX, as expressões religiosas dos japoneses passam a ganhar mais terreno, pelo menos na esfera pública, através da existência de mais festividades e manifestações de caráter sagrado. Além disso, passa a ocorrer a chegada de monges budistas, que eram inexistentes até a Segunda Guerra Mundial e a emergência de novas religiões orientais (Seichô-no-ie, Tenrikyô, Holiness, Sokka Gakkai) (ANDRÉ, 2010).

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O japonês, dessa forma, tem um contato com diferentes formas de religiosidade e isso é apropriado de formas diferentes. A maior parte se converte ao catolicismo, mas essa apropriação religiosa não ocorre com o abandono do budismo e xintoísmo, mas uma reconfiguração da vida religiosa, com o convívio de imagens católicas e oratórios budistas nas casas (ANDRÉ, 2010).

Na história das migrações de asiáticos para o Brasil, dado o momento de tensões e de um sentimento nacionalista e racista na Segunda Guerra Mundial, o processo de adaptação é bastante diferente, e é destacado no campo religioso (SHOJI, 2010), já que o momento de chegada dos chineses e coreanos era mais decorrente de conflitos (Guerra Civil Chinesa e Guerra da Coreia) em seus países de origem.

No caso dos coreanos, destaca-se o fato de ser o país com a maior proporção de cristãos (principalmente protestantes) entre essas nações do extremo oriente, e devido à assistência de igrejas protestantes fornecida aos imigrantes recém-chegados, muitos ainda se converteram ao cristianismo. Por esse motivo não é espanto o fato da comunidade coreana na cidade de São Paulo contar com 42 igrejas protestantes, sendo a comunidade presbiteriana a mais representativa (YANG, 2011).

Já entre os chineses, as principais expressões religiosas são relacionadas ao budismo, espalhando templos por diversas cidades do país. Uma característica que difere as atividades religiosas chinesas é a presença de organizações mais globalizadas, além dos templos étnicos independentes. Os templos budistas étnico-independentes surgem de iniciativas locais e são centrados na comunidade imigrante, de forma semelhante ao que ocorre com japoneses e coreanos. Já as organizações globalizadas mantém frequente contato com as suas representações internacionais e, embora etnicamente ligado à cultura chinesa, busca também uma penetração e uma divulgação também entre os brasileiros.

Ainda hoje temos entre a população amarela uma maioria de católicos, como no restante da população. Contudo, essa parcela da população também compõe o cenário de aumento da proporção de evangélicos e de pessoas sem religião no Brasil.

E o crescimento de evangélicos se deu, sobretudo, entre as igrejas não tradicionais, ao passo que ocorreu uma redução da proporção dos grupos religiosos que seriam mais associados aos asiáticos (budistas, católicos e evangélicos de missão).

Por esse motivo, é importante pensar nas possibilidades a respeito dessa mudança e o que poderíamos ter de implicações no cenário de inserção das pessoas de origem asiática.

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Gráfico 1: Percentual da população por religião. População total e de raça/cor amarela no Estado de São Paulo em 2000 e 2010.

Fonte: IBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010.

Por esse motivo, o cenário possível é avaliar os diferenciais por religião em termos de uniões exogâmicas, que seria um dos sinais mais claros de forte inserção cultural em uma cultura que valoriza os laços de família e uma visão de pertencimento a uma comunidade.

Thorton et al. (2007) vêem ainda que a religião tem grande influência nos comportamentos e valores em relação à vida sexual e à família.

O diferencial em relação ao tipo de filiação religiosa e tipo de união mostra que existem algumas claras diferenças entre as diferentes crenças e a prevalência de uniões consensuais, notavelmente mais baixas para budistas e membros de outras religiões orientais, e mais alta entre os sem religião e os espíritas.

Contudo, parte dessa diferença pode ser influenciada por efeito de composição de cada uma dessas religiões. Mas isso sugere possíveis efeitos da religião no contexto de formação de famílias entre os asiáticos no Brasil.

A composição da população de raça/cor amarela é bastante diferente da verificado para a população como um todo, fator relacionado à sua origem étnica. E dentro desse perfil de composição por religião, temos na Tabela 1 uma diferente composição por de tipos de união conjugal segundo cada religião.

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E uma vez que religião tem aspectos que influenciam no tipo de união conjugal, surge parte da motivação para este trabalho, para buscar também religião como fator a que influencia também nas uniões com os grupos de cor/raça majoritários no Brasil.

Tabela 1: Percentual de pessoas de raça/cor amarela com 10 anos ou mais de idade unidas, por tipo de união conjugal e religião. Estado de São Paulo, 2010.

Casamento civil e religioso Somente casamento civil Somente casamento religioso União consensual Total

Católica Apostólica Romana 64,3% 18,1% 0,8% 16,8% 56,5%

Evangélicas de Missão 64,9% 19,8% 2,9% 12,3% 2,0%

Evangélicas de origem pentecostal 49,6% 31,2% 0,7% 18,5% 5,7%

Evangélica não determinada 61,4% 23,2% 1,5% 13,9% 4,6%

Espírita 53,0% 23,6% 0,0% 23,4% 3,3%

Budismo 52,4% 38,1% 0,8% 8,7% 10,8%

Outras religiões orientais 65,6% 27,0% 0,7% 6,6% 3,1%

Sem religião 36,5% 35,9% 0,6% 26,9% 10,9%

Não determinada e multiplo pertencimento 53,8% 26,6% 3,0% 16,7% 0,5%

Não sabe/ sem declaração 56,6% 20,4% 2,3% 20,7% 0,1%

Outras 52,7% 29,5% 2,6% 15,1% 2,2%

Total 58,3% 24,0% 0,9% 16,8% 100,0%*

Fonte: IBGE, Censo 2010. *N= 278.905

Estratificação racial e seletividade conjugal

Uma das características mais marcantes em muitas sociedades é a estratificação étnica e racial, e o fator religião é também um componente importante dessa questão, uma vez que está também associada muitas vezes a parcelas da população que sofrem com uma certa segregação ou discriminação.

Nesse sentido, embora no Brasil não exista uma estratificação social de cunho religioso, pensada para a população como um todo, ainda assim, as características socioeconômicas relacionadas à parcela da população preta, parda e indígena apontam para uma situação menos privilegiada.

E, dentro desse contexto de estratificação por raça/cor, temos o nosso padrão de seletividade conjugal, o que, dado que implica em uma escolha relacionada a laços afetivos e de afinidade, não é produto de um jogo aleatório, como destaca Petrucelli (2000), mas expressão de regras sociais determinadas que tendem a facilitar alguns tipos de união e dificultar outros. O autor salienta que o Brasil mantém altos níveis de casamentos endogâmicos, que é reflexo da sociedade estratificada socialmente com um padrão altamente

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associada à raça, o que confere uma proporção relativamente baixa de intercâmbios maritais entre os grupos raciais (PETRUCELLI, 2001).

Os estudos envolvendo formação de uniões no Brasil em sua maioria abordam somente os três grupos de raça/cor numericamente maiores (brancos, pretos e pardos). Por esse motivo, são escassos os trabalhos que de alguma forma abordam a população indígena e amarela, esta última foco deste trabalho.

Como se trata de um grupo que representa uma parcela pequena da população, guarda também certas peculiaridades em relação ao restante, que não se restringe somente à sua própria forma de classificação, mais relacionado à origem étnica do que à cor da pele, simplesmente.

Como grande parte da população de origem asiática, principalmente japoneses, está há algumas gerações no país, ela está bastante inserida na cultura brasileira. Nesse sentido, poderíamos relacionar essa aculturação à perspectiva da assimilação de Gordon, mencionada no exemplo de Saenz e Morales (2005) para os imigrantes nos EUA. E, uma vez que os grupos minoritários adquirissem a assimilação estrutural primária, estariam também mais propensos a se casar com membros dos grupos majoritários. Contudo, essa perspectiva é também criticada por ser baseada em grupos de imigrantes Europeus. E no Brasil, certamente como ocorreu nos EUA, os imigrantes europeus conseguiram uma assimilação mais rápida, assim como tinham uma maior tendência a contrair uniões com os nativos.

Le (2013), analisando o perfil de casamentos dos descendentes de asiáticos que tiveram sua criação nos EUA encontra taxas relativamente altas de casamentos mistos na atualidade, principalmente entre as mulheres do extremo oriente (China, Japão e Coreia), em um contexto de país com um histórico de anti-miscigenação bastante diferente do padrão de uniões que encontramos no Brasil.

Um dos aspectos que devem ser levados em consideração dizem respeito ao papel da ascensão social, já que casais tendem a se parecer em consideração às características de status, como classe social de seus pais e nível educacional e ocupacional (SMITS, 2003). Nesse contexto, tenho a hipótese de que, como em um primeiro momento os migrantes estão inseridos dentro de um espectro relativamente pequeno de ocupações, a tendência é que as relações sociais se dêem dentro de um grupo muito mais restrito, o que favoreceria os casamentos intrarraciais, ao passo que a ascensão social por meio principalmente da educação poderia provocar um efeito contrário para as gerações seguintes.

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Seletividade conjugal entre pessoas de raça/cor amarela

No estado de São Paulo, assim como nos EUA, é verificada uma prevalência relativamente alta de uniões mistas entre a população de origem asiática. Contudo, a endogamia por raça/cor é característica de mais da metade das uniões (TAB. 2), tanto entre homens quanto entre mulheres, não demonstrando um alto grau de restrições dentro do mercado de uniões.

Contudo, como se trata de uma fração minoritária da população, sua ocorrência é consideravelmente alta, principalmente em se tratando de uma população cuja maioria é formada por japoneses e descendentes que possuem um histórico de migração que teve sua maior intensidade até os anos 1960, o que significa que boa parte da população provavelmente é de filhos, netos e até bisnetos dos imigrantes, e nesse caso a relação com suas origens étnicas tenderiam a ficar mais distantes.

Tabela 2: Distribuição por raça/cor dos cônjuges das pessoas de raça/cor amarela unidas. Estado de São Paulo, 2010.

Raça/cor do cônjuge Homens Mulheres Total % Total % Branca 42.887 32,3% 32.822 26,4% Preta 1.995 1,5% 3.520 2,8% Amarela 75.703 57,1% 75.703 61,0% Parda 11.890 9,0% 12.009 9,7% Indígena 150 0,1% 97 0,1%

Fonte: IBGE, Censo 2010

Desse modo, analisar o padrão por idade da prevalência de uniões endogâmicas seria importante. Entre os mais velhos poderíamos estar falando dos imigrantes de fato e seus filhos, ao passo que entre os mais jovens poderiam estar incluídos uma maior proporção de descendentes de gerações mais distantes.

E nesse sentido, o crescimento da endogamia por raça/cor nas gerações mais velhas seria algo óbvio, como podemos observar no GRÁF. 2, que mostra uma tendência quase linear de crescimento da prevalência de endogamia com o avanço da idade.

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Entre as pessoas com mais de 80 anos, principalmente mulheres, quase a totalidade das uniões são com pessoas de mesma raça/cor, ao passo que entre os mais jovens, a prevalência é bastante pequena.

Gráfico 2: Percentual de uniões endogâmicas raciais entre as pessoas de raça/cor amarela unidas, por idade e sexo(%). Estado de São Paulo, 2010 .

Fonte: IBGE, Censo 2010

No que se refere à natureza da união, é possível verificar que existe uma prevalência muito maior de uniões formais dentro das uniões endogâmicas. Por outro lado, principalmente nas uniões mistas entre homens amarelos com mulheres não amarelas, existe uma grande frequência de uniões consensuais (TAB. 3).

Parte desse diferencial pode ser explicado pela mais alta prevalência mais alta de uniões interraciais entre os mais jovens, que teriam também uma maior propensão a estar em uniões informais.

Idade

Homens Mulheres

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Tabela 3: Cônjuges de homens e mulheres de raça/cor amarela, segundo natureza da união (em %). Estado de São Paulo, 2010.

H. amarelos / M. amarelas H. amarelos / M. não amarelas M. amarelas / H. não amarelos

Casamento Civil e Religioso 67,0% 42,8% 52,9%

Somente Civil 23,3% 25,6% 22,3%

Somente Religioso 1,0% 1,0% 0,7%

União Consensual 8,7% 30,6% 24,1%

Fonte: IBGE, Censo 2010

Contudo, mesmo observando diferenciais quando analisada a prevalência de uniões consensuais para cada grupo de idade, é possível observar que existe uma prevalência de uniões informais maiores dentro dos casais exogâmicos. Os maiores diferenciais passam a surgir a partir da faixa etária de 35 a 40 anos de idade. É possível que parte desse maior diferencial possa existir em função de recasamentos, e pode ser uma hipótese interessante a ser testada, embora um segundo casamento, quando formal, não possa ser captado pelo censo. A prevalência de uniões consensuais, sobretudo entre os casais mais jovens e uma queda bastante acentuada até os 40 anos de idade pode apontar para um tipo de união que pode ter um padrão de ensaio para o casamento, pelo menos entre os casais endogâmicos.

Gráfico 3: Percentual de uniões consensuais entre as pessoas de raça/cor amarela unidas, por idade, sexo e endogamia e exogamia racial (%). Estado de São Paulo, 2010.

Fonte: IBGE, Censo 2010

H - Exo H - Endo M - Exo M - Endo

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Pelo seu papel central dentro do processo de migração, os diferenciais em termos de religião também deveriam possuir uma influência sobre a seletividade conjugal, e de fato são nítidas as diferenças quando se considera determinados grupos religiosos e a prevalência de uniões intra-raciais dentro da população de origem asiática.

Os catolicismo, por fazer parte da dinâmica de inserção dos japoneses no Brasil, bem como o presbiterianismo como parte da história dos coreanos tenderiam a possuir uma prevalência maior de uniões endogâmicas. O mesmo ocorre com o budismo e com as outras religiões orientais, que por se tratarem de religiosidades de origem étnica, expressariam um nível de pertencimento à comunidade também relacionada ao fator religião.

Por outro lado, as religiões evangélicas levariam a uma maior propensão aos casamentos endogâmicos. E isso mesmo levando em consideração que algumas religiões étnicas, principalmente ligadas aos coreanos, possam ter sido incorporadas em “outros evangélicos” pela dificuldade de classificação.

Outro importante fator a ser destacado é que temos informações sobre filiação religiosa, mas não sobre envolvimento religioso no Censo Demográfico, que talvez tornasse as diferenças mais relevantes. Dentro da religiosidade japonesa, seria importante conhecer também o papel da convivência entre o catolicismo aliado à influência das religiões orientais.

Tabela 4: Percentual de uniões endogâmicas entre as pessoas de raça/cor amarela unidas, por religião. Estado de São Paulo, 2010.

Homens Mulheres

Católicos 54,9% 59,9%

Presbiterianos 68,6% 81,4%

Outros Evangélicos de Missão 48,2% 44,9%

Outros Evangélicos 41,1% 42,4%

Budistas 86,5% 89,3%

Outras religiões orientais 81,5% 85,5%

Ateus e sem religião 54,5% 61,0%

Outros 42,8% 49,1%

Fonte: IBGE, Censo 2010

Já o nível de instrução é outro componente importante, uma vez que uma das estratégias de ascensão social dos imigrantes do extremo oriente é o investimento na educação dos filhos.

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Importante notar que, principalmente a educação de nível superior parece ter um efeito positivo sobre a união endogâmica, principalmente entre os homens. Entre as mulheres, esse efeito é positivo até os 50 anos, quando passa a ser negativo (GRÁFs 4 e 5).

Gráfico 4: Prevalência (em %) de endogamia racial entre os homens de raça/cor amarela, segundo idade e nível de instrução. Estado de São Paulo, 2010.

Fonte: IBGE, Censo 2010

Gráfico 5: Prevalência (em %) de endogamia racial entre as mulheres de raça/cor amarela, segundo idade e nível de instrução. Estado de São Paulo, 2010.

Fonte: IBGE, Censo 2010

Idade 0 a 7 8 a 10 11 a 14 15+ Idade 0 a 7 8 a 10 11 a 14 15+

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As possíveis influências do papel da educação nesse contexto podem ser discutidas. Mas uma vez que o estado de São Paulo tem uma forte presença de pessoas de origem asiática dentro das universidades, muito maior que fora dela, esse pode ser um ambiente que propicia mais à formação de casais de mesma origem.

Certamente é possível fazer diversas hipóteses sobre esses achados, mas nada conclusivo neste primeiro momento, mas serve de guia para um caminho a se seguir. Como a endogamia está muito sujeita a variações devido à idade, mas que somente ela parece não explicar tudo, já que existem variações segundo tipo de união e nível de educação nas diferentes faixas etárias, é preciso evoluir na metodologia para um trabalho mais acabado.

Considerações e questões a serem discutidas

O cenário em 2010 sobre o padrão de exogamia entre as pessoas de origem asiática em São Paulo apresentado neste trabalho foi somente uma breve análise exploratória, que merece ser trabalhada com mais cuidado, com a aplicação de metodologias que possam dar conta das perguntas que surgem.

Casamentos interraciais e a religião demonstram serem dimensões importantes no processo de inserção e de aculturação de comunidades estrangeiras, nos mais diferentes países, e esse fator motiva este trabalho.

No caso da religião, o sentido de comunidade ao qual representa, muitas vezes é fator de maior solidariedade interna e que reforça os laços de pertencimento a um determinado grupo, principalmente quando está na interseção do pertencimento étnico, a exemplo do que ocorre com o budismo em relação aos asiáticos (ou especificamente o protestantismo entre os coreanos).

Por outro lado, com a emergência dos evangélicos, com aumento também entre a população de raça/cor amarela, na medida em que se trata de uma fé por conversão, e não adquirida de nascimento, poderia significar uma identidade de pertencimento a um grupo diferente, por motivo de crença e não de identidade étnica, que poderia ser um fator que tornaria as barreiras mais flexíveis para casamentos exogâmicos.

Outro grupo que deve ser estudado com certo cuidado é o das pessoas sem religião, uma vez que, dada a alta prevalência de uniões consensuais. Pode estar também inserido em um contexto de maior secularização, mas na ausência de uma análise mais crítica a respeito, esse fato fica somente como especulação. Embora as uniões consensuais ocorram em maior medida nas uniões exogâmicas, a prevalência de endogamia racial entre os amarelos ateus e

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não religiosos não é muito diferente da católica, que teve uma presença bastante destacada no processo migratório japonês.

Como a religião esteve intimamente ligada aos processos de inserção no Brasil dos grupos de imigrantes do extremo leste da Ásia e como talvez a expressão máxima de uma inserção social seja por meio dos casamentos, esses dois fatores devem estar relacionados. E certamente é um tema motivador para diversas discussões.

Bibliografia:

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Referências

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