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A Páscoa de fé de S.Teresa de Lisieux

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Academic year: 2021

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(1)

- «Estas trevas são luminosas, mas, apesar de tudo, são trevas»1.

- «Oh, pedi a Jesus, vós que sois a m i n h a luz, q u e ele não permita que as almas sejam privadas p o r m i n h a causa das luzes que lhes são necessárias, mas que as minhas trevas sirvam para iluminà--las...»2 .

- «No fim de contas, para m i m é igual viver o u m o r r e r . N ã o vejo b e m o que terei a mais depois da m i n h a m o r t e que não tenha já nesta vida.

Verei a Deus, é verdade! Mas quanto a estar com ele, já estou inteiramente na terra»3.

- «Vejo o que acreditei, possuo o q u e esperei, estou unida Aquele que amei, c o m toda a m i n h a capacidade d e amar»4.

Introdução

O c o n f l i t o da l u z e das t r e v a s s e r v i u n a r i c a t r a d i ç ã o b í b l i c a , patrística e m e d i e v a l5, aliás, c o m o a i n d a h o j e6, p a r a d e s e n v o l v e r o

' C t 78. A autora carrega ainda mais as tintas: «as mais espessas trevas» (Ms C , 5 v°).

2 C t 112. «Que todos aqueles q u e não são iluminados pela antorcha da fé a

vejam p o r fim brilhar» (Ms C , 6 r°).

3 C A 15.5.7. 4 C t 245.

5 «Deus é luz e n ' E l e não há trevas» (1 J o 1,5); «a luz brilha nas trevas» (Jo

1,5). « C h a m o u - n o s das trevas à sua luz admirável» (1 Pe 2,9), para «reflectirmos c o m o n u m espelho a glória d o Senhor» (2 C o 3, 18). «Deus q u e disse, q u e das trevas r e s p l a n d e c e s s e a l u z , é q u e b r i l h o u n o s n o s s o s c o r a ç õ e s , p a r a f a z e r resplandecer o c o n h e c i m e n t o da glória de D e u s , q u e se r e f l e c t e na face de

(2)

tema da intercomunicação luminosa de Deus c o m o h o m e m , em

termos de noite, treva, obscuridade, c o m o no caso de Teresa do

M e n i n o Jesus e da Santa Face

7

. N a verdade, tanto Deus como o

h o m e m são u m mistério a explorar

8

, uma noite escura u m para o

o u t r o

9

, uma prova recíproca de reconhecimentos e de amores

10

.

C r i s t o . . . T r a z e m o s s e m p r e n o nosso c o r p o a m o r t e de Jesus, para q u e t a m b é m a vida de Jesus se manifeste n o nosso c o r p o mortal» (2 C o 4,6.10); «que há de c o m u m e n t r e a luz e as trevas?» (2 C o 6,14). Teresa, «filha da luz» (Ms B, 4 r°), «foi mais hábil nos seus negócios q u e os filhos das trevas» (Lc 16, 8).

6 «Toda a vida dos h o m e n s , q u e r individual, q u e r colectiva, se apresenta

c o m o u m a luta verdadeiramente dramática e n t r e o b e m e o mal, entre a luz e as

trevas» (GS.13).«Trava-se ao l o n g o da história h u m a n a u m a dura batalha contra o poder das trevas; c o m e ç a d a nas origens d o m u n d o , durará, c o m o diz o Senhor, até

ao ú l t i m o dia. E m b r e n h a d o nesta liça, o h o m e m deve lutar c o n t i n u a m e n t e para aderir ao b e m e, só à custa de grandes esforços c o m o auxílio da graça de Deus, é capaz de realizar a sua u n i d a d e interior» (GS.37).

7 «Este b e m - a m a d o instrui a m i n h a alma, fala-lhe n o silêncio, nas trevas»(Ct 135). «Permitiu q u e a m i n h a alma fosse invadida pelas mais espessas trevas» (Ms C , 5 v°). «Ela vê as trevas» (Ct 144), a saber, «a n o i t e mais clara q u e o dia» (SI 138,12). D e facto, «Deus é a luz d o h o m e m » ( C H 3,70), escreve S. J o ã o da C r u z , mas até q u e aconteça o «fiat lux» (Gn 1,3), até q u e ele veja mais claro de n o i t e q u e de dia, c o m a luz espiritual, p e r m a n e c e «escuro e cego» (2 N 8,4), para ver na luz de Cristo (SI 35,10), a luz da vida (Jo 8,12). O t e r m o «luz», p e r c o r r e 72 vezes os escritos teresianos, e m capicua c o m o de «trevas», q u e surge 27 vezes nos seus textos (Cf. Les Mots de Sainte Thérèse de l'Enfant-Jésus. Concordance Génerale, Cerf, 1996).

8 S. Teresa de Jesus, 4 M 2,5.

9 S. J o ã o de C r u z , 1 S 2,1. P a r e c e - n o s que, na linha paulina de 1 C o 1,25, o

referido autor, trata c o m o n i n g u é m , o aspeco l u m i n o s o e obscuro da fé (Cf. 2 N 5, 2; 8, 2; 13, 1.10;.16,11).

10 «Atrever-me-ia a dizer q u e um Deus que nos provasse, q u e nos dissesse o que

de v e r d a d e somos, ficaria já, p o r isso m e s m o , provado, e q u e não haverá m e l h o r prova de D e u s q u e e s t a . U m D e u s q u e prova, n ã o é u m D e u s provado?...(Cf. A. Gesche, Dios, prueba dei hombre, e m ST 120, 1991, 2 5 1 - 2 6 5 ) . N a verdade, Deus p r o v a o h o m e m (Hb 12,10) e, c o m o h o m e m , foi p r o v a d o e m t u d o , c o m o nós, mas sem p e c a d o (Hb 4,15). N o dizer de Teresa de Jesus, «prova D e u s a seus amadores» (V 11,11), pois, «bem o sabe fazer» (3 M 1,7). A prova é tanto o o b j e c t o da sua oração - «prove-nos o S e n h o r , para q u e depressa nos conheçamos» (3 M 2,1) - q u a n t o da sua ascese: « p r o v ê m o - n o s a nós m e s m o s antes q u e o S e n h o r n o s prove» (3 M 1,2). N o pensar de S. J o ã o da C r u z , D e u s c o m e ç a p o r «provar-nos n o pouco...» ( C H 2,27). O m e s m o pensar e m Teresa de Lisieux: «Se fores fiel nas p e q u e n a s coisas...ele será O B R I G A D O a a j u d a r - t e nas grandes» (Ct 161).

(3)

«Nós conhecêmo-nos e dirigimo-nos num círculo

incri-velmente reduzido. Imediatamente para além desse círculo começa

uma noite impenetrável, e, no entanto, carregada de presenças,

a noite de tudo o que está em nós e à volta de nós, sem nós e

contra a nossa vontade...Realmente, a partir de certa distância,

tudo é negro, e no entanto, tudo está cheio de ser à nossa

vol-ta. Aí estão as trevas, carregadas de promessas e de ameaças,

que o cristão terá de iluminar e animar com a Divina

Pre-sença»

11

.

U m cristão h o u v e que, no século X V I , deu o testemunho de

uma fé viva e adulta c o m o «meio único, p r ó x i m o e proporcionado

para a c o m u n h ã o c o m Deus», e deixou «ditos de luz para o

cami-n h o e de amor cami-no camicami-nhar» do cristão — «o justo viverá da fé»

( R m 1,17) — , que há-de guiar-se pela fé — «sem outra luz n e m

guia senão a que no coração ardia» — , a única luz que — «com sua

treva ilumina e dá luz à treva da alma»

12

— , nas noites escuras da

prova da vida

1 3

.

«E, ainda que trevas padeço

nesta vida mortal,

não é tão crescido o meu mal,

porque, se de luz careço,

tenho vida celestial,

porque o amor dá tal vida,

quanto mais cego vai sendo,

que tem a alma rendida,

sem luz e às escuras vivendo»14.

11 T . de C h a r d i n , O Meio Divino, Edit. Presença, Lisboa, pp. 7 8 - 7 9 . 12 S. J o ã o da C r u z , 2 S 9; D . Pról.; P. V,3; 2 S 3,5.

13 J. Paulo II, Carta Apostólica por ocasião do IV Centenário da morte de S. João

de Cruz, n. 4. Para ele,«padecer trevas (é) para grande luz» (Ct 1), «porque o mais

p u r o padecer traz mais í n t i m o e p u r o entender» ( C B 36,12). Nesta óptica de fé, a prova e a cruz da vida é a p o r t a da sabedoria e a n o r m a da vida cristã: « Q u a n d o se lhe oferecer algum dissabor e desgosto, recorde-se de Cristo crucificado e cale; viva

em fé e esperança, ainda q u e seja às escuras, q u e nessas trevas ampara D e u s a alma»

(Ct 20).

14 S. J o ã o de C r u z , P. X I , 2. Ele viveu n u m a sociedade sacralizada, e m q u e

práticamente todos criam e m D e u s , sem q u e na teologia eclesial se pusesse o problema do ateismo m o d e r n o .

(4)

U m a cristã houve, filha deste «Mestre na fé»

15

, que às portas do

século X X , r e t o m o u a simbólica joanina da luz do amor infinito e

da imensidade das trevas obscuras do pecado, para testemunhar a

sua experiência simultânea do máximo de luz (gozo) e do máximo

de trevas (dor), a sua participação n o mistério da R e d e n ç ã o " ' , a sua

noite de fé esclarecida pelo amor.

«Ainda q u e eu sofra sem Luz Nesta vida que não é senão u m dia Possuo ao m e n o s na terra

A vida Celeste do Amor....

15 «Na idade dos 17 e 18 anos n ã o tinha o u t r o alimento espiritual senão o

de N o s s o P. S. J. da C . - Ah! quantas luzes n ã o adquiri c o m as suas obras!» (Ms A, 83 r°).

16 Para S. J o ã o , o pecado consiste e m preferir as trevas à luz» (J. F. Six, Una

luz en la noche, S. Pablo, M a d r i d , 1996, p. 41). Para dar a e n t e n d e r a situação e m

q u e se e n c o n t r a a partir da Páscoa de 1896, Teresa desenvolveu, e m t o d o o seu relato, a m e t á f o r a das «trevas» e da «luz»: «O R e i da pátria do sol brilhante veio v i v e r t r i n t a e três a n o s n o país das trevas. M a s i n f e l i z m e n t e as trevas n ã o c o m p r e e n d e r a m q u e este rei D i v i n o era a luz do mundo» (Ms C , 6 r°). A o 1er o c o m e n t á r i o de L a m e n n a i s à Imitação, d i z - n o s : «Nosso S e n h o r nos J a r d i m das Oliveiras gozava de todas as delícias da T r i n d a d e , e, n e m p o r isso, a sua agonia era m e n o s cruel. É u m mistério, mas asseguro-lhe q u e c o m p r e e n d o qualquer coisa, p o r q u e eu mesma o provo ( C A 6.7.4). «Em Cristo, dava-se na terra e dá-se ainda n o céu, a m á x i m a tensão possível entre «espírito» e «carne», entre a imediata visão do Pai e o a b a n d o n o d o Pai....Nesta tensão, m o v e - s e a c o n t e m p l a ç ã o da Igreja e de cada u m u m dos seus m e m b r o s » ( H . U . v . Balthasar, La oración contemplativa, Madrid, 1988, p. 190). Teresa, invadida pelas «trevas mais espessas», apropriou-se d o pecado contra a fé (Ms C , 6 v°-7 r°), t o r n o u - s e «mãe das almas» (P. 24,22) pela difusão da luz d o A m o r n o coração da Igreja (Ms B, 3 v°). A o c o n t e m p l a r a i m a g e m d o C r u c i f i c a d o , foi iniciada n o a m o r r e d e n t o r das almas dos grandes pecadores (Ms A, 45 v°). Provava o seu a m o r ao R e d e n t o r «atirando flores...» (Ms B, 4 v°). A «sua luz b r i l h o u nas trevas» (Is 58 ,10), na «lâmpada da caridade fraterna» (Ct 246), que «ilumina a todos os q u e estão e m casa» (Ms C , 12 r"). «O a m o r aos que t ê m fome...converte-se, para ela, e m luz n o m e i o da noite» (J. F. Six. o.c., p. 236). «Na sua paixão, Teresa está atravessada de parte a parte por esta relação entre a luz e as

trevas. Para Teresa c o m o para Jesus, os pecadores tão fraternal e tão p r o f u n d a m e n t e

amados, são ao m e s m o t e m p o os mais terríveis perseguidores, são p o r excelência os seus inimigos. A m a n d o os q u e p e c a m contra a fé, Teresa pratica ao m á x i m o o a m o r aos inimigos. A sua fé está animada e sustida mais d o q u e n u n c a pela caridade. O assombroso "Quero crer" de Teresa é a expressão mais clara da fé em estado

puro. A separação e n t r e a fé e a visão, h a b i t u a l m e n t e simbolizada pelo véu, v e m

simbolizada na santa p o r u m m u r o » (F.M. Léthel, Connaître l'amour du Christ, Ed. d u C a r m e l , Venasque, 1989, pp. 524-527).

(5)

N o c a m i n h o q u e t e n h o d e s e g u i r E n c o n t r o m a i s q u e u m p e r i g o , M a s p o r A m o r e u q u e r o v i v e r N a s T r e v a s d o e x í l i o »1 7. D e f a c t o , a « c r i a n ç a d e c a t o r z e a n o s » , t e s t e m u n h a a s u a e x p e -r i ê n c i a d e f é , e m t e -r m o s d e u m i m e d i a t i s m o a t é e l a i n a u d i t o : « O c a m i n h o p e l o q u a l s e g u i a e r a t ã o r e c t o , t ã o l u m i n o s o q u e n ã o p r e -c i s a v a d e o u t r o g u i a s e n ã o J e s u s . . . i n s t r u i a - m e e m s e g r e d o s o b r e as coisas d o s e u amor»n. A p r o p r i a - s e d a s p a l a v r a s d e s e u « P a i e s p i r t u a l » , S . J o ã o d a C r u z , p a r a r e d i z e r a m e s m a v i v ê n c i a a m o r o s a d a s u a f é o r a n t e . « N ã o t i n h a n e m g u i a , n e m l u z , A n ã o ser a q u e b r i l h a v a e m m e u c o r a ç ã o , Esta l u z m e g u i a v a M a i s s e g u r a m e n t e d o q u e a d o m e i o - d i a A o l u g a r o n d e m e e s p e r a v a A q u e l e q u e m e c o n h e c e p e r f e i t a m e n t e »1 9. A o p r e t e n d e r « a c o m p a n h á - l a » n a s u a « b i o g r a f i a d e f é »2 0- «a p r o v a a q u e a s u a f é f o i s u b m e t i d a » ( T g 1 , 3 ) — n ã o s ó e v i d e n

-17 P. 30,2. «Só há u m a coisa a fazer d u r a n t e a noite, a única n o i t e da vida q u e

só virá uma vez, é amar, A m a r Jesus c o m toda a força d o nosso coração e salvar-lhe almas para q u e seja amado...Oh! fazer amar Jesus!» (Ct 96). «Mesmo d u r a n t e "a noite do n a d a " (Ms C , 6 v°), optará, c o m mais generosidade q u e n u n c a , pelo c a m i n h o d o amor» (A. Olea, Creer amando o ei mensaje de Teresa de Lisieux, Edit. M o n t e C a r m e l o , Burgos, 1996, p. 265).

18 Ms A, 48 v°.

" S. J o ã o da C r u z , P o e m a En una noche oscura, estrofes 3 - 4 . C f r . M s A, 49 r°.

20 Nasceu a 2 de J a n e i r o de 1873, n u m m e i o de fé excepcional (Ms A, 22

r°). Foi baptizada a 4 de J a n e i r o , pelo abade L u c i e n D u m a i n e , na Igreja de «Notre-Dâme» de A l e n ç o n , sendo sua m a d r i n h a sua irmã mais velha Maria que, c o m Paulina, depois da m o r t e da mãe, e d u c a r a m a m e n i n a na fé cristã (Ms A, 18 v°). Estudou as verdades da fé n o catecismo e era o « p e q u e n o doutor» d o abade D o m i n (Ms A, 37 v°). «Teresa, desde criança, era m u i t o reflexiva e queria a t o d o o custo instruir-se nas coisas da fé...» (M. Inês, Pr. 2, p. 150). O s «novíssimos», os mistérios da vida f u t u r a , a p r e n d e u - o s d o abade A r m i n j o n (Ms A, 47 r°). Ela «buscou a verdade da fé» ( C A 30.9) e estava f i r m e m e n t e enraizada e m Cristo (Mt 7, 24-27). A vida de Teresa foi, desde a sua mais terna infância, uma vida teologal de u n i ã o c o m «o Jesus d o Amor» (Cf.F. M . L é t h e l , Le Jesus de l'Amour. Le

(6)

ciamos que a sua «prova de alma»

21

foi essencialmente uma «prova

de fé»

22

, melhor dito, uma «prova contra a fé»

23

, melhor ainda, uma

«tentação c o n t r a a fé»

2 4

, c o m o realçamos que a «história da sua

vocação»

2 5

, enquanto «verdadeira vocação para o Carmelo»

2 6

, não

S e t e m b r o , 1994; Id., L'Amour de Jésus, e m Thérèse de 1'EnfantJésus Docteur de

l'Amour, V e n a s q u e , 1 9 9 0 , p p . 1 1 3 - 1 5 5 ) . N a v e r d a d e , a fé, e n q u a n t o adesão

amorosa a Cristo (Cf. L. Meuville, Le regard de foi que provoque la Miséricorde, em

Thérèse de l'Enfant-Jésus Docteur de l'Amour, p . 2 0 3 ) c o n s t i t u i u m c l a r o

«deslocamento d o c e n t r o de gravidade da sua vida» (Cf. Cardeal Garrone, Leçons

sur la foi, Apostolat de la Prière, T o u l o u s e , 1955, p. 66; Id., Teresa de Lisieux e a alegria de crer, E d . Paulinas, S. Paulo, 1972). Ela preferiu as sombras da fé às luzes

da fé ( C A 13.8), o «não-ver» ( C A 4.6.1) ao «tudo ver e t u d o entender» (CA 11.8.5). O t e r m o «fé» aparece 57 vezes nos seus escritos (Cf. Les Mots). «Em Teresa, a fé absorve t u d o , sem nada q u e lhe faça sombra, ela reina em toda a sua vida; u m a vida que, literalmente, é u m a consequência da sua fé» (A. C o m b e s ,

Santa Teresa de Lisieux y su Misión. Las grandes leyes de la espiritualidad teresiana, San

Sebastian, 1957, p. 26).

21 C A 2 1 / 2 6 . 5 . 1 0 . A «prova de alma» consiste essencialmente nos pensamentos

de dúvida contra a fé ( C A 10.8.7), nos p e n s a m e n t o s extravagantes q u e t e m que evitar ( C A 4.6.3).

22 C o m Teresa, q u e a m o u e a d o r o u Jesus na «sombra da fé» (P. 24,27), que

aceitou a m o r o s a m e n t e o «véu da fé» (CA 11.8.5) e fez da sua «petite voie» u m c a m i n h o de fé ( C A 4.6.1), r e f e r i m o - n o s apenas à obscuridade geral da sua vida de fé, de q u e Maria é e x e m p l o para t o d o s (P. 54,15). E n f i m , relê a «noite da sua vida» (Ct 141) na perspectiva da prova da sua fé (Ct 142).

23 M s C , 31 r°. «A fé é o t e r r e n o p o r excelência da prova, q u e p õ e e m causa o p r ó p r i o o b j e c t o da sua fé» (G. M . G a r r o n e , Ce que croyait Thérèse de Lisieux, M a m e , T o u r s , 1968, p. 57). «Nada há m e l h o r para a fé q u e a prova» (A. C o m b e s , « C o n t e m p l a t i o n et apostolat», Paris, 1950, pp. 89-97).

24 M s C , 11 r «As tentações contra a fé» a u m e n t a r a m nela «o espírito de

fé»: a partir deste espírito de fé a u m e n t a d o viu q u e na sua relação c o m a sua prioresa havia não só u m v í n c u l o afectivo, mas q u e ela era u m a presença viva, para ela, d o m e s m o Jesus. N o m e i o das trevas, nas q u e j á não vê nada, e m q u e Jesus se escondeu, está a prioresa, q u e é u m a bússula q u e indica Jesus» (J. F. Six, o.c., p. 175).

25 Ms A, 53 v

26 M s A, 52 r°. E «a certeza d u m c h a m a m e n t o divino» para se «esconder n o

deserto d o Carmelo» (Ms A, 26 r°). «Este lugar, era o C a r m e l o ; antes de «descansar à sombra d ' A q u e l e q u e eu desejava», devia passar p o r muitas provas, mas o apelo D i v i n o era tão insistente q u e e m b o r a m e fosse preciso atravessar as chamas, tê-lo-ia feito para ser fiel a Jesus...» (Ms A, 48 r°). «Se v e r d a d e i r a m e n t e eu não tivesse vocação, teria desistido l o g o ao princípio...» (Ms A, 49 v°). «Bem dolorosas provas d e v i a m a i n d a p r o v a r a m i n h a v o c a ç ã o » (Ms A, 5 0 r°). « D e v i a m o s t r a r a

(7)

foi apenas uma «existência sofrida»

27

e uma «existência gozada»

28

,

de «fidelidade provada» ( R m 5,4), c o m o ainda uma autêntica

«pai-xão escondida»

21

*, uma verdadeira «prova pascal»

30

, uma «purificação

solidez da m i n h a vocação...agradou-lhe f a z e r - m e c o m p r a r a m i n h a vocação à custa de tão grandes provas» (Ms A, 53 v°). Apesar da eloquência da sua a r g u m e n t a ç ã o , j u n t o d o bispo de Bayeux - «desejo f a z e r - m e religiosa desde o despertar da razão» (Ms A, 6 r°) e «desejei o C a r m e l o logo q u e o c o n h e c i bem» (Ms A, 26 r°), teve que fazer a viagem a R o m a «a fim de reforçar a sua vocação» (Ms A, 55 r°). E m b o r a , na viagem, «houvesse de facto c o m q u e d e m o l i r u m a vocação p o u c o firme» (Ms A, 55 v°), Teresa, «considera-se feliz p o r ter ido a R o m a . . . p o r q u e , «compreendeu a sua vocação e m Itália» (Ms A, 56 r°). «Esperava q u e o r e i n o d o C a r m e l o m e pertenceria e m breve...Jesus preparava-lhe o seu reino, o seu cálice, apresentado pelo Santo Padre» (Ms A, 62 v°). «O Sr. P. R é v é r o n y dali p o r diante n u n c a deixou de m e provar q u e estava finalmente c o n v e n c i d o da m i n h a vocação (Ms A, 64 v ° ) . . . p r o m e t e u - m e fazer tudo o que pudesse a fim de que eu entrasse para o

Carmelo...(Ms A, 66 r°). «Antes de ver abrirem-se diante de m i m as portas da

prisão bendita pela qual tanto suspirava, tinha ainda q u e lutar e sofrer» (Ms A, 67 r°). «Por fim c h e g o u a h o r a a r d e n t e m e n t e desejada» (Ms A, 68 v°). «Assim p r o c e d e u Jesus para c o m a sua p e q u e n a Teresa: depois de a ter p r o v a d o m u i t o t e m p o , c o l m o u todos os desejos d o seu coração» (Ms A, 67 r°). Volta a falar da sua vocação.na véspera da sua profissão: « N e m u m a só dúvida sobre a m i n h a vocação m e viera ainda ao p e n s a m e n t o . . . a m i n h a vocação a p a r e c e u - m e c o m o u m sonho...Eu não tinha vocação1....» (Ms A, 76 r°). Ironia d o destino, n ã o só lhe é r e c o n h e c i d a a

sua vocação missionária (Ms C 10 r°), c o m o ela própria sente e m si «outras vocações» (Ms B, 2 v°), n o m e a d a m e n t e a de «ser o A m o r na Igreja» (Ms B, 3 v°).

27 «A m i n h a alma a m a d u r e c e u n o crisol das provas exteriores e interiores»

(Ms A, 3 r°). N a verdade, d u r a n t e os primeiros c i n c o anos, Teresa viveu na «escola d o sofrimento» (Ms A, 69 v°). Cf. ainda A. C o m b e s , Saint Thérèse de l'Enfant-Jésus

et la soujfrance, Vrin, 1948. « U m dia da carmelita passado sem sofrer é u m dia p e r

-dido» (Ct 47). «Mesmo n o m e i o dos mais amargos sofrimentos, sinto s e m p r e q u e é a sua doce m ã o q u e golpeia» (Ct 43). «O D e u s de Teresa n ã o elimina o sofri-m e n t o , sofri-mas " p r o v a - n o s n o q u e nos é sofri-mais q u e r i d o " » (A. Olea, o.c., p. 101). Para intuir a gravidade d o seu s o f r i m e n t o físico (cf. C A 23.8.1; 26.8.3; 10.8.5; 25.9.2; 29.9.9) e do seu s o f r i m e n t o espiritual (cf. C A 2 1 / 2 6 . 5 . 2 ; 10.7.13; 19.8.1; 13.6).

28 Ms A, 36 v°. Consolada c o m a «inefável doçura» de Jesus, Teresa, para

q u e m «Jesus foi sempre a sua doçura inefável», p e d e - l h e : «Ó Jesus! doçura inefável, mudai para m i m e m amargura todas as consolações da terra!». E q u e a vida sorria-lhe: «era na terra o Ideal de felicidade» (Ms A, 49 v°). Mais tarde, v e m a síntese: «quero sofrer p o r a m o r e gozar p o r amor» (Ms B, 4 v°).

29 A sua glória de um dia foi seguida p o r u m a «dolorosa paixão e esta paixão

não foi só para ele...» (Ms A, 73 r°). «E a m a i o r cruz q u e teria p o d i d o imaginar» (Ct

155). «No rosto irreconhecível de seu pai vê a face d o S e n h o r , o abismo de a m o r h u m i l d e d o S e n h o r p o r nós» (Ct 87), p o r seu Papá (Ct 91): «um golpe de amor» ( C t 9 4 ) . « N o n o s s o q u e r i d o p a i , J e s u s f e r i u - n o s n a p a r t e e x t e r i o r m a i s

(8)

activa e passiva» das motivações humanas da sua fé, esperança e

caridade

3 1

.

sensível d o nosso coração...» (Ct 137). Cf. ainda G. G a u c h e r , La Passion de Thérèse

de Lisieux, C e r f D D B 1972. «A paixão de Teresa é a mais fiel representação da

paixão d o Senhor» (F.M. Léthel, Connaître, p. 518). «O seu c a m i n h o da infância espiritual mais q u e u m ê x o d o foi u m a via-sacra» (J.M. Cabodevilla, Hacerse como

ninos. Necedad para los sábios y escândalo para los justos, B A C , Madrid, 1994, p. 153). 30 J. C o r b o n , art. «epreuve» e m Vocabulaire de Théologie Biblique, Cerf, 1970,

col. 377: «a prova é pascal». D e facto, foi «nos dias tão alegres d o t e m p o pascal» de 1896 q u e Teresa recebeu a «graça de Páscoa» (Ms C , 5 v°), isto é, de vir a ser o espelho e representação da «Paixão interior de Jesus», na aparente banalidade da sua d o e n ç a d e c o r p o e a l m a , m a s q u e , na r e a l i d a d e , f o i , ao m e s m o t e m p o , i n t e n s a m e n t e obscura e dolorosa, sob o ângulo da fé - «o véu de fé...tornou-se n u m muro q u e se eleva até aos céus» (Ms C , 7 v°) - e a d m i r a v e l m e n t e luminosa e b e m - a v e n t u r a d a , sob o prisma d o amor. Teresa, p o r é m , c o m u n i c o u mais às suas Irmãs o esplendor d o a m o r q u e as terríveis tentações contra a fé. O Ms B é, c o m p a r a d o c o m o Ms C , a luz d o a m o r n o coração da Igreja a vencer a noite do p e c a d o n o coração d o m u n d o . N u m a palavra, a prova de Teresa é a sua identi-ficação c o m Cristo, o grão de trigo, q u e m o r t o , deu m u i t o f r u t o (CA 11.8.2). S u b j e c t i v a m e n t e , a noite é morte, mas o b j e c t i v a m e n t e é já ressurreição (Ms C , 4 v°). C o m o discípula de S. J o ã o da C r u z , sabe q u e o p r o j e c t o de uma m u l h e r nova (2 N 3,3), exige t a n t o u m a activa e «viva m o r t e de cruz» (2 S 7,11), q u a n t o uma passiva «morte de espírito cruel»: «neste sepulcro de escura m o r t e c o n v e m - l h e estar para a espiritual ressurreição q u e espera» (2 N 6,1). « Q u e D e u s seja apreensível e m t u d o e através de t u d o o q u e é vida, p a r e c e - n o s fácil de e n t e n d e r . Mas p o d e D e u s e n c o n t r a r - s e e m t u d o e através de t u d o o q u e é morte? É isto q u e para nós é desconcertante. C o n t u d o , é preciso chegar a r e c o n h e c ê - l o c o m u m olhar habitual nas passividades de d i m i n u i ç ã o e x t e r n a s e internas, s o b r e t u d o na M o r t e q u e transforma a vida até q u e c h e g u e m o s , não apenas a m o r r e r c o m u n g a n d o , mas a c o m u n g a r m o r r e n d o » (Cf. T . de C h a r d i n , o.c., p p . 7 7 - 1 0 2 ) . « Q u e m souber m o r r e r e m t u d o , terá vida e m tudo» (D. 176). Teresa alcançou a iluminação (Ms A,32 r°), a consciência l u m i n o s a d o seu «nada» ( C A 13.8), na p o b r e z a de espírito, na instrução secreta d o m e i o - d i a (Ms A, 49 r°). A estatística confirma esta vida cheia de provações: o t e r m o «épreuve» (prova) aparece 143 vezes nos seus escritos e o t e r m o «éprouver» (pôr à prova) surge 30 vezes (Cf. Les Mots, pp. 328-329).

31 «Agora, ela purifica t u d o o q u e se poderia e n c o n t r a r de satisfação natural n o

desejo q u e tinha d o Céu» (Ms C , 7 v°). A t é aí, Teresa «cria» e «sentia» o C é u (Ms C , 6 v°), q u e «há u m Céu» (Ms B, 2 v°); a prova, p o r é m , purifica-a de t o d o o

gozo da fé (Ms C , 7 r°), purifica-a na sua esperança d o céu, a saber, n o desejo da

m o r t e para vêr a D e u s (Ms C , 4 v°), n o d o martírio ( C A 4.8.7), purifica-a na sua caridade fraterna de toda a consolação natural (Ms C , 22 r°), para a «consumir r a p i d a m e n t e n o Amor» ( C A 31.8.9). Para o estudo da purificação da fé de Teresa de Lisieux (Cf. G r e g o r i o de Jesús C r u c i f i c a d o , Las noches sanjuanistas vividas por

Santa Teresa dei Nino Jesús, e m Ephem. Carm., 11 (1960), pp. 3 5 2 - 3 8 2 ) . Mais

(9)

«Deus dignou-se fazer passar a m i n h a alma p o r muitas espé-cies de provas; sofri m u i t o desde que estou sobre a terra, mas se na infância sofri c o m tristeza, já não é assim que sofro agora, é na alegria e na paz, s i n t o - m e v e r d a d e i r a m e n t e feliz p o r sofrer... Haverá acaso alma menos provada do que a m i n h a a julgar pelas aparências?»32.

Esta sua p ú b l i c a c o n f i s s ã o s o b r e a p r o v a t e o l o g a l d o s o f r i m e n t o , o u t r o r a triste, a g o r a , e m alegria e p a z , c o m o q u e p o d e d i v i d i r a sua v i d a e m d u a s m e t a d e s , d i s t i n g u i d a s , c o m o fase laical da sua v i d a f a m i l i a r e p r i m e i r o s a n o s d e r e l i g i o s a c a r m e l i t a , e c o m o fase d e f i -n i t i v a d e f i d e l i d a d e t e o l o g a l , a t i -n g i d a p e l o a b a -n d o -n o -nas m ã o s d e D e u s e p e l a r e s i s t ê n c i a n a f é aos a t a q u e s das f o r ç a «diabólica».

« . . . S i n t o - m e mais feliz n o C a r m e l o , m e s m o n o m e i o de provações interiores e exteriores do q u e n o m u n d o , cercada pelas comodidades da vida e sobretudo pelas doçuras do lar paterno!...»3 3.

N u m p r i m e i r o m o m e n t o , a b o r d a r e m o s a « n o i t e da sua alma», e n t e n d i d a c o m o p r o v a d a sua f é e f i d e l i d a d e v o c a c i o n a l e, n u m s e g u n d o m o m e n t o , a p r o x i m a r - n o s - e m o s d a s u a « p r o v a - t e n t a ç ã o c o n t r a a fé», q u e f o i o u t r a m a r i a n a « k é n o s e d a f é »3 4, s e m p r e g r a t a

c o n s c i ê n c i a d a G r a ç a d o q u e D e u s f e z p o r ela.

« E n c o n t r o - m e n u m a época da m i n h a existência e m que posso lançar uma vista de olhos sobre o passado; a m i n h a alma a m a d u -receu n o cadinho das provas exteriores e interiores; agora c o m o a flor fortificada pela tempestade volto a levantar a cabeça e vejo que e m m i m se realizaram as palavras do salmo X X I I . (O Senhor é m e u Pastor, nada m e faltará. Faz-me repousar e m pastos agra-dáveis e férteis. C o n d u z - m e c o m doçura ao l o n g o das águas.

Teresita, e m Espíritu y Vida. Revista Caribena de Espiritualidad, vol III, 1996, pp.

135-145).

12 Ms C , 4 v°. 35 Ms A, 65 r°.

34 Cf. J. Paulo II, R M 18. Para Teresa a k é n o s e da fé é a fé mais provada e mais h e r o i c a m e n t e fiel ao a m o r gozoso de Jesus e aos pecadores contra a fé (Ms C , 7 r°). N a sua juventude, a fé era-lhe clara: «como era transparente e ténue o v é u q u e ocultava Jesus aos nossos olhares! (Ms A, 48 r°). D e p o i s da Páscoa de 1896, a fé foi-lhe obscura: « Para m i m não é apenas u m v é u , mas um muro q u e se eleva até aos céus e e n c o b r e o f i r m a m e n t o estrelado» (Ms C , 7 v°).

(10)

C o n d u z a m i n h a alma sem a fatigar...E mesmo quando eu descer ao vale da sombra da m o r t e , não temerei n e n h u m mal, p o r q u e vós estareis comigo, Senhor!...). Sempre o Senhor foi para comigo cheio de compaixão e b o n d a d e . . . L e n t o e m punir e abundante em misericórdias!...(S. CII,v.8)3 5.

«A noite da minha alma»

Atrevemo-nos a dizer, fazendo b o m uso da linguagem activa e

passiva d o a u t o r da Noite Escura, q u e Teresa, n o t e m p o e m q u e se

vestia de fé, esperança e caridade de Cristo (2 S 6), deixava-se

revestir de fé, esperança e a m o r a Jesus (2 N 21). Ela, c o m o

escreveu alguém, possuia u m «coração teologal»

36

. Pequenina ainda,

era já visitada, n o seio da sua família, pelo «Sol nascente».

«Ah! se D e u s n ã o tivesse c o n c e d i d o e m a b u n d â n c i a tão benéficos raios à sua florzinha, n u n c a ela teria p o d i d o aclimatar-se à terra, era ainda demasiado frágil para suportar as chuvas e tempestades, precisava de calor, de doce rocio e brisas primaveris; n u n c a lhe faltaram todos estes benefícios, Jesus fez-lhos encontrar, m e s m o sob a neve da prova!»37

N a verdade, «quando tudo lhe sorria à face da terra», «novo

período ia começar para a sua alma, em que devia passar pelo

cadinho da prova e sofrer desde a infância a fim de poder mais

depressa ser oferecida a Jesus». «Como as flores da primavera c o m e

-çam a germinar sob a neve e abrem aos primeiros raios do Sol,

assim a florzinha teve de passar pelo inverno da prova»

3 8

. Refere-se

ao trauma ocasionado pela m o r t e de Zélia, sua mãe, compensado,

35 M s A, Pról. 3 r°- 3 v°. Teresa antecipa-nos aqui já a noite c o m o dimensão

de toda a vida ( c o m u m a t o d o s os crentes), c o m o etapas difíceis d o c a m i n h o

espiritual, c o m o necessidade absoluta e c o m o graça de Deus.

36 A fé, a esperança, e a caridade são «as linhas mestras da vida teologal na

versão teresiana» (Cf. V i c t o r Sion, Realismo espiritual de Teresa de Lisieux, Braga, 1974, p.219). «Ela estava " p o s s u í d a " p o r Deus» (Maria d o Sagrado Coração, L C 170, 17.9. 1896).

37 M s A, 13 r°- 13 v°. «Entre os 9 e 10 anos (Ms A, 22 v°), sofre a primeira

grande crise» (A. Olea, o.c., p p . 3 9 - 5 4 ) . 38 Ms A, 12 r°.

(11)

de imediato, c o m a livre escolha de Paulina, c o m o sua Mamã

3 9

,

que «veio a perder», quando Jesus lha arrebatou a 2 de O u t u b r o

4 0

,

deixando-lhe o coração mergulhado em tristeza, p o r «perder a sua

Paulina»

41

.Refere-se ainda «às provas que deviam visitar seu pai» e

que deveriam de ser t a m b é m as de suas filhas

42

. C o m e n t a ela :

«Infelizmente estava apenas n o começo da minha prova!...»

43

. D e

-pois da primeira c o m u n h ã o — «os mais radiosos dias são seguidos

pelas trevas»

44

- sentiu, não só u m grande desejo do sofrimento, mas a

certeza íntima de que Jesus lhe reservava grande n ú m e r o de

cru-zes»

45

. Durante a terrível doença dos escrúpulos, que durou ano e

meio, é-lhe impossível dizer o que sofreu

4 6

.

^ Ms A, 13 r°. A d o p t a ainda a m e s m a l i n g u a g e m «sofredora»- «o mais doloroso dos três» (Ms A, 13 r°)- para classificar o p e r í o d o da sua existência, q u e vai desde a m o r t e de sua m ã e até ao C a r m e l o , q u a n d o já «todas as suas provas t i n h a m t e r m i n a d o e o i n v e r n o de sua alma passara para sempre» (Ms A, 12 v°).

40 «A dolorosa prova q u e veio despedaçar o coração da Teresinha...» (Ms A,

25 v°) e a «espada q u e lhe p e n e t r o u o coração», essa «prova q u e parecia m u i t o superior às suas forças», considerou-a, a posteriori, u m a grande graça, e m b o r a a surpresa a tivesse feito chorar lágrimas b e m amargas (Ms A, 2 5 v°).

41 Teresa encontrava-se necessitada de purificação: «a m i n h a alma está L O N G E

de estar amadurecida, devia ainda passar p o r m u i t o s cadinhos antes de atingir o t e r m o tão desejado...» (Ms A, 27 r°).

42 «Um dia D e u s m o s t r o u - m e n u m a visão v e r d a d e i r a m e n t e extraordinária, a

i m a g e m viva da prova q u e Ele teve p o r b e m a n u n c i a r - n o s c o m antecedência» (Ms A,20 r°). P o r é m , «foi d o seio da glória q u e nos alcançou esta d o c e consolação de c o m p r e e n d e r m o s q u e 10 anos antes da nossa grande prova j á D e u s n o - l a mostrava... c o m o p r o p o r c i o n a as provas às forças q u e nos dá» (Ms A, 21 r°).

43 Ms A, 28 v°.

44 Ms A, 36 r°. 45 Ms A, 36 r°.

46 M s A, 3 9 r°. «Aos 12 a n o s e m e i o , s o f r e a segunda grande crise da

adolescência, superada mais c e d o q u e a maioria da g e n t e , c o m a entrega generosa aos outros (Ms A, 45 v°- 46 v°), misturada c o m a d o e n ç a dos escrúpulos, vencida pela consciência de ser amada na terra e n o céu (Ms A, 44 r°), já q u e o t e m o r a inibe» (A. Olea, o.c., p. 70). Apesar d o «grande desejo de praticar a virtude...era ainda m u i t o imperfeita». Aos 14 anos, n ã o c o n s e g u i a ainda c o r r i g i r - s e deste defeito: « T o r n a v a - m e v e r d a d e i r a m e n t e insuportável p o r causa da m i n h a grande sensibilidade e c h o r a v a p o r t e r c h o r a d o ...estava a i n d a c o m os b a b e i r o s da infância...Era preciso q u e D e u s fizesse u m p e q u e n o milagre para m e fazer crescer n u m instante» (Ms A, 44 v°). A t r i b u i u este «milagre psicológico» ao M e n i n o Jesus...na sagrada c o m u n h ã o recebeu a força de D e u s , q u e invadiu a sua psicologia

(12)

M e s m o antes de ser carmelita, já a j o v e m de Lisieux padecia a

influência da pedagogia amorosa de Jesus

47

na fragilidade da sua

psi-cologia humana, verdadeira purificação (educação) da sua feminina

sensibilidade, naquele gracioso Natal de 1886, que «transformou a

noite da (sua) alma em torrentes de luz»

48

.

«Não foi nesse dia que eu recebi a vocação religiosa. Nosso S e n h o r q u e r e n d o só para si o m e u p r i m e i r o olhar, dignou-se p e d i r - m e o m e u c o r a ç ã o desde o b e r ç o , se assim m e posso exprimir. A noite de Natal de 1886 foi, é verdade, decisiva para a m i n h a vocação, mas para a designar mais claramente devo chamá-la antes a noite da m i n h a conversão»4 9.

Ela própria conta que, «à mesma hora em que no ano anterior

tinha recebido a (sua) graça», depois de ter confidenciado com

message de Thérèse de Lisieux, C e r f , 1994, p. 127). «É necessário sair da infância...o

c r e n t e t e m q u e a b a n d o n a r a casa o n d e n a s c e u , t e m q u e sair da i m a n ê n c i a e g o c ê n t r i c a de sua p r i m e i r a infância para e n t r a r na m a i o r i d a d e , na c h a m a d a i n f â n c i a e s p i r i t u a l . . . N o c a s o d e T e r e s a , a n t e as p a l a v r a s d e seu P a i , ela c o m p r e e n d e u q u e a sua infância tinha t e r m i n a d o e q u e se convertia n u m a pessoa adulta, q u e c o m e ç o u a c u l t i v a r a i n f â n c i a espiritual: m o r r e u T e r e s a - c r i a n ç a , ressuscitou Teresa j o v e m » 0 . M . Cabodevilla, o.c., pp. 149- 152).

47 «Deus f e z - m e passar p o r m u i t a s p r o v a s antes de m e fazer entrar n o Carmelo...» (Ct 36). «Antes de descansar à sombra d ' A q u e l e que eu desejava, devia passar p o r muitas provas, mas o apelo D i v i n o era tão insistente q u e e m b o r a m e fosse preciso atravessar as chamas, t ê - l o - i a feito para ser fiel a Jesus» (Ms A, 49 r°).

48 M s A, 4 4 v°. «A santa c o n h e c e e v i d e n t e m e n t e a metáfora «noite» e o seu

alcance na d o u t r i n a sãojoanista, mas e m n e n h u m a parte de seus escritos se serve dela para expressar p r e c i s a m e n t e as suas vivências das «noites» místicas. Usa f r e q u e n t e m e n t e a m e t á f o r a «noite», mas dá-lhe u m sentido diverso d o q u e t e m n o Santo, aplicando-a a situações de alma m u i t o diversas. C h a m a , por exemplo, noite ao estado q u e atravessa a sua alma desde a m o r t e de sua mãe até ã sua famosa conversão d o dia de Natal (Ms A, 44 v°). Mas, p o r muita importância que este ú l t i m o a c o n t e c i m e n t o p ô d e ter na transformação da sua alma, não p o d e de m o d o n e n h u m c o m p a r a r - s e c o m o efeito das noites sãojoanistas, n e m o que Santa Teresa d o M e n i n o Jesus chama n o i t e coincide, pelo m e n o s f o r m a l m e n t e , c o m as descritas p o r S. J o ã o da Cruz» ( G r e g o r i o de J. C . , a.c., p. 354). «Nesta noite de luz c o m e ç o u o terceiro p e r í o d o da m i n h a vida, o mais belo de todos, o mais cheio de graças d o Céu...» (Ms A, 45 v°). Aos 14 anos era já o excesso de luz: «O c a m i n h o pelo qual seguia era tão recto, tão l u m i n o s o q u e n ã o precisava de o u t r o guia senão Jesus» (Ms A, 48 v°).

49 « Q u e r e n d o Jesus m o s t r a r - m e q u e eu m e deveria libertar das imperfeições da infância...Teresa j á n ã o era a mesma, Jesus t i n h a - l h e transformado o coração»

(13)

Celina as suas «lutas e sofrimentos...sobre a sua vocação», tinha

decidido entrar n o Carmelo, na noite de Natal de 1887. P o r é m ,

antes de sentir a coragem de anunciar o seu segredo ao Pai, teve

que sofrer muitas lutas íntimas

5 0

. Depois de o ter feito, «a sua

voca-ção devia ainda ser provada p o r dolorosas provas». A negativa que

recebeu do tio Isidoro Guérin, diz ela, c h o c o u - a de tal m o d o que

«se retirou c o m o coração mergulhado na mais p r o f u n d a

amar-gura»

51

. Seria preciso u m milagre para ele se decidir a deixá-la partir.

Entretanto, Teresa ora et labora c o m «amarga tristeza» e, essa noite,

de quinze dias de intervalo, em que «a semente é lançada à terra e

germina e cresce sem que o h o m e m o saiba» (Mc 4,27), é t e m p o

de salvação, melhor dito, de provação de sua vocação, p o r parte da

Presença-Ausente.

«Antes de deixar brilhar à m i n h a alma u m raio de esperança, Nosso Senhor quis enviar-me bem doloroso martírio que d u r o u três dias. O h ! n u n c a c o m o durante esta prova c o m p r e e n d i tão b e m a dor da SS.ma Virgem e de S. José à procura do divino M e n i n o

Jesus...Estava n u m triste deserto o u m e l h o r a m i n h a alma era c o m o u m frágil barco e n t r e g u e sem piloto à m e r c ê das vagas alterosas...Bem sei, Jesus estava presente d o r m i n d o sobre o m e u barquito, mas a noite era tão negra que m e era impossível vê-lo, nada m e alumiava, n e m u m só relâmpago vinha rasgar as nuvens sombrias...Sem dúvida é u m a triste claridade a dos relâmpagos, mas ao menos, se a tempestade se desencadeasse abertamente, teria p o d i d o descobrir Jesus n u m instante...era a noite, a noite p r o f u n d a da a l m a . . . c o m o Jesus n o j a r d i m da agonia, s e n t i a - m e só, n ã o e n c o n t r a n d o consolação n e m na terra n e m da parte do C é u , Deus parecia t e r - m e abandonado!!!...»5 2.

(Ms A, 45 r°). C h a m a - l h e , dez anos mais tarde, «a n o i t e da m i n h a conversão» (Ct 201). «Esta n o i t e na n o i t e é a primeira manifestação séria da noite, a primeira purificação digna de tal nome...» (A. M u n o z , a.c., pp. 139-140).

50 Ms A, 50 r°.

51 Ms A, 51 r C e r t a de q u e D e u s n ã o a abandonaria (Ct 27), refugia-se na oração: «A m i n h a única consolação era a oração, suplicava a Jesus q u e fizesse o

milagre p e d i d o pois só à custa dele poderia c o r r e s p o n d e r ao seu c h a m a m e n t o » .

Depois que foi ver o seu tio, três dias depois, este diz-lhe q u e «não era preciso pedir u m milagre». Ela c o m e n t a : «para m i m o milagre estava c o n c e d i d o , o m e u tio já não era o mesmo» (Ms A, 51 v°).

52 É a primeira prova da sua fé (Ms A, 51 r°). « T a m b é m não é p r o p r i a m e n t e noite a que tão r o m a n t i c a m e n t e nos descreve c o m o consequência da negativa de

(14)

O «consentimento» do tio modificou, por completo, o seu

estado de ânimo, aliás, reflectido na natureza, imagem da alegria da

sua alma.

«Em minha alma t a m b é m a noite cessara. Jesus ao acordar t i n h a - m e restituído a alegria, o rugido das vagas acalmara; em lugar da ventania da prova, u m a ligeira brisa enfunava a minha vela e eu julgava aportar em breve à praia bendita que já avistava tão perto. Ele estava de facto m u i t o perto do m e u barquinho, p o r é m mais de uma tormenta se devia ainda desencadear e ocul-t a n d o - l h e a visocul-ta do farol luminoso, fazê-lo ocul-ter m e d o de se afasocul-tar sem r e t o r n o da praia tão a r d e n t e m e n t e desejada...»53.

A oposição do P. Delatrõette, apesar de lhe liquefazer a alma,

não lhe quebrou a vontade, pois estava resolvida a atingir os (seus)

fins», a mostrar a solidez ds sua vocação». «Só o amor a Jesus — a

caridade tudo pode» ( I C o 13,7) — a podia levar a vencer as suas

dificuldades», especialmente a da sua enorme timidez de falar a u m

Bispo que, c o m sua diplomacia, não apenas ficou contente de ela

fazer a viagem a R o m a a fim de reforçar a sua vocação, mas, como

que profetizou de que certamente receberia a resposta em Itália»

54

.

Ao sair da casa do Bispo, desconsolada e triste, deixou correr as

lágrimas, não só pela inutilidade da viagem, mas porque,

pare-cendo-lhe que o seu f u t u r o estava truncado para sempre, a «sua

alma se a f u n d o u na amargura e na paz», embora «consolada», a

seguir, pelas Irmãs

5 5

. Ela «iria até ao Santo Padre se o Senhor Bispo

seu tio à sua entrada n o C a r m e l o aos q u i n z e anos (Ms A, 51 r°)...Estamos ante a e n c e n a ç ã o t e a t r a l d e u m a p e q u e n a t r a g é d i a , d e v i d o ao seu a m o r p r ó p r i o , contrariado pelo seu tio...A v o n t a d e forte de ser carmelita, aos 15 anos, parece u m a manifestação egoísta d o seu a m o r p r ó p r i o contrariado e, p o r isso m e s m o , necessitado de purificação na n o i t e passiva d o sentido» (Gregorio de J. C . , a.c., pp. 3 5 4 - 3 5 5 e 364). «Para T e r e s i n h a , a vocação foi u m a noite escura, expressa n u m a

corrida de obstáculos, m u i t o compreensíveis e naturais a m a i o r parte deles, mas n e m

p o r isso m e n o s n o i t e escura» (A. M u n o z , a.c., p. 141).

53 M s A, 51 v°.

54 M s A, 53 v° e 55 r°. Aí recebeu a resposta papal, é certo, mas ainda e m

t o m profético: «Haveis de entrar se Deus quiser\...» (Ms A, 63 v°), aliás, r e c o n h e c i d o p o s t e r i o r m e n t e p o r Teresa: «as últimas palavras d o santo Padre deviam t e r - m e c o n s o l a d o : n ã o e r a m de f a c t o u m a v e r d a d e i r a p r o f e c i a ? Apesar de t o d o s os obstáculos, o q u e Deus quis já se realizou. N ã o permitiu às criaturas fazerem o que elas q u e r i a m , mas a sua vontade Divina...» (Ms A, 64 r°).

(15)

n ã o lhe quisesse p e r m i t i r a e n t r a d a para o C a r m e l o aos 15

anos»

5 6

.«Devia iniciar o u t r a v i a g e m mais longa, a da cidade

eterna»

5 7

, pois, «devia fazer absolutamente tudo o q u e estava em

seu poder para corresponder ao que Deus lhe pedia»

58

.

«Roma locuta, causa finita»

59

. Não, não acabou aqui (ali) a sua

causa

6 0

. M u i t o e m b o r a o «fiasco» da audiência papal lhe tivesse

causado u m mar de lágrimas, n o f u n d o do coração estava em paz,

ainda que a amargura lhe enchesse a alma, porque Jesus se calava,

parecia ausente, sem nada lhe revelar a sua presença

6 1

. C o n t u d o ,

Jesus, a q u e m se tinha o f e r e c i d o , ouvira a sua prece. N a sua

liberdade, «quis ver o que havia p o r dentro»

6 2

, se «ela queria tudo o

que ele queria»

63

. Ela queria entreter o menino Jesus «que, durante o

seu sono, sonhou que se entretinha c o m o seu brinquedo»

6 4

. A

Madre Inês m a n d o u - a «de Anás para Caifás» (Jo 18,24), isto é, que

56 Ms A, 52 r°. «O Santo Padre era a sua esperança» (Ms A, 66 r°). E, seu

pai, dissera ao Sr. Bispo q u e se lhe n ã o permitisse entrar para o C a r m e l o ela pediria essa graça ao S u m o Pontífice» (Ms A, 55 r°).

57 M s A, 55 v°.

58 Ms A, 64 r°. «Creio q u e fiz o q u e D e u s queria de m i m , agora só m e resta

rezar» (Ct 36). «Queria q u e eu conquistasse a fortaleza d o C a r m e l o à p o n t a de espada» (Ct 201).

5'' «Oh! Santíssimo Padre, se dissésseis q u e sim, toda a g e n t e concordaria!...»

(Ct 36).

«Ah! t u d o acabara, a v i a g e m não tinha a m e u s olhos mais n e n h u m e n c a n t o pois falhara o seu objectivo» (Ms A, 64 r°).

61 A prova de R o m a p o t e n c i o u a sua vida teologal: «...sentiame a b a n

-donada...só, só t e n h o Deus» (Ct 36). «Não encontrava n e n h u m auxílio na terra q u e m e parecia u m deserto árido e sem água; a m i n h a única esperança residia só e m Deus...acabava de e x p e r i m e n t a r q u e mais vale recorrer a Ele d o q u e aos santos...» (Ms A, 66 r°). C o n t u d o , escreve ela, n ã o deixava de «esperar c o n t r a toda a esperança» (Ms A, 64 v°).

',2 Ms A, 64 r°.

61 «Eu sou a bolinha d o M e n i n o Jesus; se ele quiser q u e b r a r o seu b r i n q u e d o ele é l i v r e , eu só q u e r o t u d o o q u e ele q u e r » ( C t 3 6 ) . « A b a n d o n e i - m e c o m p l e t a m e n t e , tinha feito t u d o o q u e dependia de m i m , t u d o , até falar ao S.to Padre, p o r isso não sabia q u e mais havia de fazer» (Ms A, 67 r°).

64 Dissera-lhe b o n d o s a e sabiamente o S. Padre: «fazei o q u e os vossos

superiores vos disserem» (Ms A, 63 r°). Já antes o Sr. Bispo de B a y e u x lhe respondera q u e antes de se decidir lhe era indispensável falar c o m o Superior d o C a r m e l o (Ms A, 54 v°).

(16)

e s c r e v e s s e a o Sr. B i s p o p a r a q u e c u m p r i s s e a sua p r o m e s s a6 5. C a d a m a n h ã , d e p o i s d a missa, ia a o c o r r e i o , m a s , c a d a m a n h ã , r e c e b i a n o v a d e c e p ç ã o , p o r q u e a r e s p o s t a f a z i a - s e e s p e r a r . « N ã o tardarás, se e u e s p e r o »6 6. N ã o se abalava n a fé. P e d i a a J e s u s q u e l h e q u e b r a s s e os laços. E l e q u e b r o u - o s , m a s d e u m a m a n e i r a m u i t o d i f e r e n t e da q u e ela e s p e r a v a6 7.

«A bela festa de Natal chegou e Jesus não acordou...Deixou p o r terra a sua bolinha, sem m e s m o lhe lançar u m olhar...O m e u coração estava quebrado ao ir à missa da meia-noite, tanto contava assistir a ela p o r trás das grades do Carmelo!...Esta prova foi m u i t o grande para a m i n h a fé, mas Aquele cujo coração vela durante o sono, f e z - m e c o m p r e e n d e r q u e àqueles cuja fé é c o m o o grão de mos-tarda, ele c o n c e d e milagres e faz m u d a r de lugar as montanhas, a fim de confirmar esta fé tão pequena; mas para os seus íntimos, para a sua Mãe, não faz milagres antes de ter provado a sua fé. N ã o deixou Ele m o r r e r Lázaro, apesar de Marta e Maria lhe terem m a n d a d o avisar q u e estava doente?...Nas bodas de Caná, t e n d o a SS.m1 V i r g e m pedido a Jesus que socorresse o D o n o da casa, não

Lhe respondeu q u e a sua hora ainda não tinha chegado?...Mas d e p o i s da p r o v a , q u e r e c o m p e n s a ! a água t r a n s f o r m a - s e e m vinho...Lázaro ressuscita!...Assim agiu Jesus c o m a sua p e q u e n a Teresa: depois de a ter provado muito tempo, colmou todos os desejos do seu coração...»6 8.

A m a n e i r a m u i t o d i f e r e n t e d e J e s u s a «libertar» das «ataduras» d o m u n d o d e u s e , c o m o a c a b a m o s d e v ê r , d e u m m o d o d i r e c t o -- i n d i r e c t o — « D e u s e s c r e v e d i r e i t o p o r l i n h a s tortas» — p o r m e i o

65 N a sua c o m o ç ã o e afecto, dera-lhe u m a réstea de esperança, ao dizer-lhe,

na despedida, q u e «nem t u d o estava p e r d i d o . . . q u e c e r t a m e n t e receberia a resposta e m Itália» (Ms A, 55 r°).

66 S. J o ã o de C r u z , D . 29.

67 «Era tão grande a confiança q u e n ã o deixava de esperar q u e m e fosse

p e r m i t i d o entrar a 15 de D e z e m b r o » (Ms A, 67 r°).

68 E a segunda prova da sua fé: «esta prova foi m u i t o grande para a m i n h a fé»

(Ms A, 67 Vo). A p a r e n t e m e n t e inactivo - «Jesus n ã o acordou» - , mas passivamente super-activo, ao prová-la na fé, d u r a n t e m u i t o t e m p o , usou, n ã o de u m a pedagogia extraordinária, c o m o c o s t u m a fazer c o m os de p o u c a fé, p o r m e i o d o «milagre», mas ordinária, a saber, pela mediação de pessoas e a c o n t e c i m e n t o s ia-a fortalecendo na sua fé e v o c a ç ã o . N a v e r d a d e , «Jesus e s t a v a - l h e a p r e p a r a r o seu r e i n o , r e s e r v a n d o - l h e cruzes e provas, c o m o o Pai lho p r e p a r o u (Ms A, 62 v°) e Ele o p r e p a r o u aos seus apóstolos (Ct 165).

(17)

da prova da sua fé nos acontecimentos aparentemente contrários aos

desejos do seu coração. Assim, o silêncio de Jesus — «muito

pequeno para falar» — foi substituido — «em vez de Jesus» — pelo

cântico das Carmelitas. A distracção de Jesus — «nem mesmo lhe

lançou u m olhar» — foi compensada pela surpresa de Celina, a de

u m pequeno barco que levava o pequeno Jesus dormindo, c o m a

pequena bola j u n t o de Si e na vela branca escrito: «Eu d u r m o , mas o

meu coração vigia» e, no barco, esta única palavra: «Abandono!». A

dormição de Jesus — «deixou a sua bolinha p o r terra» — era,

afinal, o advento do Esposo — «tinha na mão uma bola em que

estava escrito o m e u nome»

6 9

- , o assomo d'Aquele cujo coração

vigiava — «na missa da meia-noite» — , visitava — «na tarde radiosa

de festa» — o seu coração quebrantado de lágrimas, e consolava —

«cada palavra derramava-me na alma b e m doce consolação» — ,

desta vez, pela delicadeza do maternal coração da M a d r e , que

sempre a colmara c o m as mais raras ternuras, imagem «d'Aquele

cujo coração vela durante o sono» e que «colmou todos os desejos

do seu coração».

Ela p r ó p r i a , apesar de « n i n g u é m ser b o m j u i z e m causa

própria», como experta na leitura dos «sinais dos tempos» da sua

vida

7 0

, submetia-se, na noite da sua alma, n o e n c a d e a m e n t o dos

acontecimentos, ao critério dos outros, interpretado como graça da

v o n t a d e divina de p r o v a r a sua fé, e x i g i n d o - l h e o «sim» da

fidelidade vocacional.

«Ah! se Jesus ainda não falava à sua p e q u e n a noiva, se os seus olhos divinos continuavam fechados, ao menos, revelava-se-lhe por meio de almas que c o m p r e e n d i a m todas as delicadezas e o a m o r do seu coração»7 1.

m O «livro da natureza» (Ms A, 2v°) é t a m b é m , de ordinário, u m livro de

teologia: «Já tinha descoberto, na c o n t e m p l a ç ã o das estrelas, o seu n o m e escrito n o Céu» (Ms A, 18 r ° ) . N o tecido da «história», lida na fé, costuma D e u s falar: «Per-g u n t a v a - m e q u e n o m e iria ter n o C a r m e l o . . . D e r e p e n t e , pensei n o P e q u e n o Jesus que tanto amava e disse para c o m i g o : «Oh! c o m o ficaria c o n t e n t e se m e chamas-sem Teresa d o M e n i n o Jesus!». Não disse nada n o l o c u t ó r i o acerca d o sonho q u e tivera b e m acordada, mas p e r g u n t a n d o a boa M a d r e M. de Gonzaga às Irmãs q u e n o m e m e poderia ser dado, v e i o - l h e ao p e n s a m e n t o o m e s m o n o m e c o m q u e tinha sonhado...Fiquei m u i t o c o n t e n t e e considerei esta feliz coincidência de p e n s a m e n t o s c o m o uma delicadeza d o m e u B e m - A m a d o P e q u e n o Jesus» (Ms A, 31 r°).

7" GS 4; 11; 44 b; P O 9 b; 18 b.

(18)

A p e q u e n a bola b e m precisava de vigiar para aceitar levar

sozinha a cruz de Jesus, tanto mais dolorosa quanto lhe era

incom-preensível, quer dizer, a decisão tomada pelo Carmelo, depois da

resposta do Sr. Bispo, de retardar a sua entrada para depois da

quaresma.

«Não pude conter as lágrimas ao pensar em tão longa

demo-ra. Esta prova teve para mim um carácter muito particular, via os

meus laços rompidos do lado do mundo e desta vez era a arca santa

que recusava a sua entrada à pobre pequena pomba...Quero crer

que devo ter parecido pouco razoável ao não aceitar alegremente

os meus três meses de exílio, mas creio também que, sem o

parecer, esta prova foi muito grande e me fez crescer bastante no

abandono e nas outras virtudes»

72

.

«Foi pior a emenda que o soneto». T e v e «três meses» de espera,

durante os quais se preparou para ser esposa de Jesus que, com

abundantes graças, correspondia à sua vida séria e mortificada, à sua

prática de nadas, n u m a palavra, à sua fé e abandono. Podia chegar a

hora ardentemente desejada das bodas de Caná, onde, mediante o

p e d i d o da Virgem, mãe

7 3

e m o d e l o da sua e nossa c o m u m fé

7 4

,

Jesus iria fazê-la provar da água transformada em vinho, a amargura

da sua glória

75

.

N a manhã de 9 de Abril de 1888, «depois de ter lançado u m

último olhar aos Buissonnets», deixou o seu n i n h o familiar e entrou

n o «deserto» do Carmelo, já m u i t o avançada no caminho da oração

e do sofrimento, sem qualquer ilusão sobre a vida religiosa

76

, onde

72 Ms A, 68 r°. 73 M s A, 67 v°. 74 P 54, 156. 75 C t 81.

76 Teresa possuía u m alto realismo espiritual: « E n c o n t r e i a vida religiosa tal

c o m o a tinha imaginado, n e n h u m sacrifício m e s u r p r e e n d e u . . . O s primeiros passos e n c o n t r a r a m mais espinhos d o q u e rosas!...(Ms A, 69 r°).Conta q u e «uma das suas primeiras recordações» se refere à génese da sua vocação religiosa, nascida p o r osmose fraterna de Paulina, seu ideal h u m a n o e seu e x e m p l o cristão, aos dois anos (Ms A, 6 r°). Aos n o v e anos, ao ouvir dela a explicação da vida d o C a r m e l o , adquiriu a certeza do c h a m a m e n t o divino, e queria ir para o C a r m e l o não por causa de Paulina, mas apenas p o r Jesus» (Ms A, 26 r°). «Sentia q u e o q u e m e fazia viver era a esperança de ser um dia carmelita» (Ms A, 29 v°). «Esta adolescente de quinze anos t e m c e r t a m e n t e a m a t u r i d a d e de u m a j o v e m de vinte anos, já madura

(19)

encontrou uma P A Z tão doce e p r o f u n d a

7 7

, que nunca a

aban-d o n o u n o meio aban-das maiores provas, meaban-diaban-das por Deus

7 8

, que nos

dá a força para as suportar

7 9

.

Imediatamente fez-se ao ritmo difícil da vida de C o m u n i d a d e ,

e, apesar dalgumas graças sensíveis

80

, viveu habitualmente a ausência

de Jesus e orou na maior secura da solidão

81

. A aridez era o seu

pão quotidiano

8 2

. O retiro de 1889, para a tomada de hábito,

ape-para dar o passo...levada ao C a r m e l o pela alegria de amar Jesus (Ms A, 53 v°), e não p o r qualquer outra ilusão, q u e escondesse a cruz d o s o f r i m e n t o (Ms A, 69 v°). «Nos primeiros anos de sua vida religiosa sofreu a terceira grande crise, devida à i m a g e m de u m " D e u s de cólera", q u e i n f u n d e mais " t e m o r " q u e " a m o r " , às picadelas de alfinetes e às ráfagas de v e n t o das irmãs, à d o e n ç a de seu pai, à secura na oração, ao c o n h e c i m e n t o de sua miséria...» (A. Olea, o.c., pp. 7 5 - 1 1 4 ) .

77 Ms A, 69 r° 78 C A 25.8.2.

79 C A 27.7.15. «Sinto q u e posso suportar ainda maiores provas...Nesse dia

não disse q u e podia sofrer ainda mais» (Ms A, 7 3 r°).

80 P o r e x e m p l o , a neve n o dia da sua t o m a d a de hábito (Ms A, 72 v°), o grande f e r v o r na hora da m o r t e da M . G e n o v e v a (Ms A, 78 v°), a resposta imediata ao seu desejo de saber se seu pai estava n o C é u (Ms A, 82 v°), a descoberta de q u e o P. R o u l l a n d b e n e f i c i o u da sua oração (Ct 201)...

81 Teresa, já c o n h e c e d o r a das leis da n o i t e - «Jesus esconde-se, mas nós descobrimo-lo» - prova, quer a amargura de n ã o sentir Jesus presente - «Se ainda sentíssemos Jesus...ele parece a mil léguas» - , quer a doçura da presença: «Ele n ã o está longe, está tão p e r t o . . . q u e r dar-nos u m a bela recompensa» (Ct 57).

82 Ms A, 73 v°. Teresa encontrava-se e m plena n o i t e passiva dos sentidos.

« C o m ânsias de a m o r inflamada», podia já sofrer p o r D e u s u m p o u c o de carga e secura sem voltar atrás (S. J o ã o da C r u z , 1 N 8, 3): «Ele gosta mais de m e deixar e m trevas q u e de m e dar u m falso clarão q u e não seja ele!...Hoje, mais q u e o n t e m , fui privada de toda a consolação» (Ct 76). Esta passividade mística da purificação da sensibilidade de Teresa c o m p r o m e t i a a c t i v a m e n t e toda a sua existência de m u l h e r consagrada, e x i g i n d o - l h e fortaleza - «tudo será para ele...» (Ct 76) - e criatividade para «andar paio p r ó p r i o pé a grande n o v i d a d e d o trato c o m D e u s q u e , n o m e l h o r t e m p o , q u a n d o a n d a v a a seu sabor e g o s t o n o s e x e r c í c i o s espirituais e q u a n d o mais claro a seu parecer lhe luzia o sol dos divinos favores, lhe obscureceu de toda esta luz» (1 N 8, 3). «A secura na oração e o p o u c o gosto na virtude são contemplados c o m o elementos integrantes da c o m u n h ã o c o m Cristo crucificado. É necessário m o r r e r c o m Ele para ressuscitar i n t e r i o r m e n t e (S. J o ã o de C r u z , C t 7). O s e n t i d o c r u c i f i c a - s e na n e g a ç ã o d o g o s t o , p a r t i c i p a n d o nas amarguras d o A m a d o (Id., D . 91. e 96). Sobre o tema (cf. S. Castro, Jesucristo en la

Mística, T e r e s i a n u m , 1990/ II, p. 360). A experiência desértica mais p r o f u n d a da

«in-experiência» de Jesus: «o coração d o deserto é o deserto d o coração» (C. Meester, o.c., p. 34). D e facto, na «noite d o deserto», Teresa está e m plena n o i t e

(20)

sar de decorrer em «música calada», foi u m «mergulho nas trevas»,

ainda que em paz e amor

8 3

. O retiro de 1890, que precedeu a sua

profissão, c o m o todos os que o seguiram, foi de grande aridez e,

longe de lhe trazer consolação, trouxe-lhe a secura mais completa e

quase o abandono

8 4

. Relata assim a sua «prova antes de pronunciar

os votos».

« N a v é s p e r a (da sua p r o f i s s ã o ) l e v a n t o u - s e n a m i n h a a l m a u m a t e m p e s t a d e c o m o n u n c a t i n h a v i s t o . . . N e m u m a só d ú v i d a s o b r e a m i -n h a v o c a ç ã o m e v i e r a a i -n d a a o p e -n s a m e -n t o , e r a p r e c i s o q u e e u c o n h e c e s s e esta p r o v a . . . a m i n h a v o c a ç ã o a p a r e c e u - m e c o m o u m sonho...As m i n h a s t r e v a s e r a m t ã o d e n s a s q u e n ã o via n e m c o m p r e e n -d i a s e n ã o u m a coisa: E u n ã o t i n h a vocação!...Ah! c o m o -d e s c r e v e r a a n g ú s t i a da m i n h a a l m a ? . . . L o g o q u e a c a b e i d e falar ( c o n f e s s a r a m i n h a t e n t a ç ã o d o d e m ó n i o ) as m i n h a s d ú v i d a s d e s a p a r e c e r a m . . . »8 5.

passiva d o sentido, e Jesus «fala-lhe n o silêncio, nas trevas» (Ct 135). Mais tarde, ao sofrer a purificação passiva da «satisfação natural» d o seu desejo d o C é u (Ms C , 7 v°), e das m o t i v a ç õ e s h u m a n a s da sua fé (Ms C , 6 v°), é obrigada a «viver a sua fé privada de toda a consolação» (E. R e n a u l t , L'epreuve dc la foi. Le combat de Thérèse

de Lisieux, C e r f , Paris, 1991, p. 63).

83 «Nada j u n t o de Jesus, securaí Sono! A o m e n o s há silêncio!...que faz b e m à

a l m a . . . Q u e r i a t a n t o amá-lo! A m á - l o c o m o n u n c a foi amado» (Ct 74). Teresa é ave n o c t u r n a q u e vivia de fé: «desejou mais n ã o ver a Deus...e ficar na noite da fé que outros desejam v e r e c o m p r e e n d e r » ( C A 11.8.5). «Estas trevas são luminosas, mas, apesar de t u d o , são trevas» (Ct 78). Desta c o m u n i c a ç ã o e m silêncio falava ela, n o m e s m o dia, a sua irmã Maria, d i z e n d o - l h e q u e a sua oração está a ser a de uma p o b r e , incapaz de orar: «o p o b r e c o r d e i r i n h o n ã o p o d e dizer nada a Jesus e, s o b r e t u d o , Jesus não lhe diz absolutamente nada» (Ct 75). A l é m disso, «a prova d o P a p á . . . m u i t o m e fez sofrer...Deus q u e m e queria provar» (Ms A, 74 v°-75 v°). «Para purificar o seu afecto demasiado sensível a seu pai, D e u s serviu-se da prova mais dolorosa q u e lhe poderia enviar: a e n f e r m i d a d e d o pai três anos de martírio -q u e foi a prova mais terrível de sua vida, e m -q u e a u m t e m p o f o r a m educados o seu a m o r p r ó p r i o e a sua sensibilidade, graça inapreciável q u e D e u s lhe concedeu» (Gregorio de J. C . , a. c., p. 366).

84 M s A, 75 v°- 76 r°. Trata-se de «amor seco»: «é u m grande a m o r amar

Jesus sem sentir a doçura deste a m o r . . . o q u e é u m martírio» (Ct 94), antídoto para o o r g u l h o espiritual (Ct 81). R e l a t a u m e n c o n t r o c o m a M . G e n o v e v a : «Naquele dia sentia-me e x t r e m a m e n t e provada, quase triste, e m tal n o i t e q u e já n e m sabia se era amada p o r Deus» (Ms A, 78 r°). «Era dura a sua vida de fé escura» (F. Ibarmia,

Dios como plenitud dei existir en Teresa de Lisieux, e m RE 54 (1995) 345). «E a prova

mais dura q u e lhe p o d i a advir» (F. Ibarmia, El «Caminito» de Teresa de Lisieux, em

RE 55 (1996), p. 231).

85 M s A, 7 6 r°- 76 v°. «A M a d r e G e n o v e v a tinha passado pela mesma prova q u e eu antes de p r o n u n c i a r os votos» (Ms A, 78 v°). Já antes atribuíra ao d e m ó n i o

(21)

Embora Jesus dormisse c o m o sempre dentro do seu barquinho,

sem acordar antes do seu grande retiro da eternidade, contudo,

como refere ela, ele foi q u e m escolheu o caminho — o

subterrâ-neo

86

— que ela estava disposta a percorrer obscuramente, não só,

para u m dia alcançar o cimo da m o n t a n h a do A m o r

8 7

, mas ainda,

para que as suas trevas servissem para iluminar as almas

88

. Jesus,

entretanto, acordou três vezes e, por três vezes, levou consigo u m a

irmã da C o m u n i d a d e , para que onde «reinava a morte», reinasse a

vida

89

.

Conta ela que, durante o retiro de 1891, pregado pelo P. Prou,

«tinha grandes provas interiores de toda a espécie (até m e perguntar

por vezes se o C é u existia)... O confessor a d i v i n h o u - m e a alma e

lançou-me a toda a vela nas vagas da confiança e do amor...»

9 0

.

a sua estranha doença: «Creio q u e o d e m ó n i o tinha r e c e b i d o u m p o d e r exterior sobre mim» (Ms A, 28 v°- 29 r°). Agora «o acto de h u m i l d a d e q u e tinha feito aca-bava de p ô r e m fuga o d e m ó n i o » (Ms A, 7 6 v°). É, de facto, o Triunfo da

Humil-dade sobre o o r g u l h o de Satanás ( R P 7). «O belo dia das m i n h a s núpcias c h e g o u ,

foi sem n u v e n s . . . S e n t i a - m e v e r d a d e i r a m e n t e R A I N H A » (Ms A, 76 r°-76 v°).

86 C t 110. E o «laissez-faire» d o «abandono» de Teresa, c o n v e n c i d a de q u e

Jesus, o a m o r fiel, t o m a n d o - a pela m ã o , a c o n d u z i r á ao c i m o da m o n t a n h a d o a m o r (C. Meester, o.c., p. 54).

87 C t 112.

88 Ms C , 6 r°. Estamos ante u m a p r e m o n i ç ã o da sua «prova de fé» vivida c o m

espírito apostólico para os incrédulos: « Q u e as minhas trevas sirvam para esclarecer as almas» (Ct 112). Esta sua «noite ditosa» - «a m i n h a alma está sempre n o subterrâneo, mas é aí m u i t o feliz» ( C t 115) esta sua «noite luminosa» - «só Ele era o director da m i n h a alma» (Ms A, 80 v°) - , esta sua «noite amável» - «amemos não sentir nada» (Ct 197) - , e «amorosa» - «amo-O mais q u e a mim» (Ct 110) - , serviu-lhe para discernir c o m atino a «noite escura» de Celina, idêntica à sua (Ct 143), e ajudá-la a aceitar a n o i t e da sua alma c o m o «um M E N I N O c o m p l e t a m e n t e só n o mar, n u m barco p e r d i d o n o m e i o das ondas agitadas», d e i x a n d o q u e Jesus d u r m a e ela não o ouça n e m veja até ao levantar da aurora (Ct 144). Ambas se «deixaram conduzir d o c e m e n t e ao l o n g o das águas» (Ct 142), isto é, «irem d o c e m e n t e na paz e n o a m o r de Jesus» (Ct 143), q u e «gosta mais de as ver esquivar na n o i t e as pedras do c a m i n h o q u e caminhar e m p l e n o dia n u m a estrada embelezada de flores q u e poderia atrasar a sua caminhada» (Ct 211).

m E a noite escura da C o m u n i d a d e de Lisieux: «Declarou-se na c o m u n i d a d e

uma epidemia de g r i p e . . . O dia dos m e u s 19 anos foi festejado c o m u m a m o r t e , e m breve seguida p o r mais duas» (Ms A, 79 r°).

Ms A, 80 v°. Seis anos depois, o S e n h o r enviar-lhe-ia a grande p r o v a da sua fé e da sua vida. «A espiritualidade c o m u m n o C a r m e l o d u r a n t e o século X I X falava m u i t o d o pecado, d o d e m ó n i o , de vítimas, de c o o p e r a ç ã o na redenção; isto

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