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Cultura em busca de vitrines-literatura & mercado, morte do modernismo & populismo : (uma leitura do suplemento Letras & Artes, de A Manhã [Rio, 1946/53] acrescidos dos indices geral e remissivo de toda a materia publicada)

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Academic year: 2021

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Ano 3.* N . “ 93 1-8-1948 n M A 1 H A D i r e t o r : I'H iN A N l I U1S

UiTRAS E ARTES

O R I E N T A Ç A O DE johge lackkda C O L A B O R A D O n tS :

A d i.n i.is P ilh o , A le íitita ru S i lv e h a , A lc e u A n ir.ro so L im a , A l­ m e id a F is c h e r, A ln irid .t S id es. A lphonstisi G u im a r a c iis F ilh o , A n l- lt.il M a eh a d u , A n to n io R a n g e l H a n d eln » , A s c e n d in o L e ite , Au* ju s t o F r e d e r ic o S c h m u it, A u g u s to M e y e r. B a tis ta a a C o s ta . B re n o A c iiih , B rito B ro c u , C a g slan o R ic a rd o , C e c ília M e ire le s. C ris- ti.m o M a rtin s , O r o d o s A n jo s. C la ris s a Lis>pect<-r, C la u d to T . B a rb o s a . D a lto n T r e v isa u , D a n ta s M o ta . D in a h S . d e Q u e iro z , C a n o b r a v a , F e r n a n d o F e r r e i r a d e L u a n d a . F r a n k li n do O li­ v e ir a , G e r a ld o F e r ra z . G a b r ie l M u n h o z d a B u ch a. G u e r r e i r o B u­ n in s, G u s ta v o H a rro s» , H e r b e r t P a r e n t e s F o rte s , H e r m a n L i­ m a, J a y m c A d o u r d a C íim a ra , Jo fto C o n d ò , J o a q u im R ib e iro , J o ig e d e L im a , J o s é F . C o e lh o . J o s é G e r a ld o V ie ira , J o s é S . L e a l. I.e d o lv<>. l.u c in C a rd o s o , L u ls J a r d i m , M m u c lilo d e O r­ n e ia s , M atiiiel B a n d e ira , M a rc o s K o n d e r B eis. M .V io d a S ilv a B rito , M íi»io Q n in la n a . M a rq u e s B e b e lo , M u tilo M onde», No- v e lli J iiid n r , N<*11 D n t r i O i i a v l o d e F a r ia , O liv e ir a e S ilv a , O H » M .iii.i l \ » p c i i u x , 1'iiuln Koiiiii, P e r e g r in o J u n io r , l(«*n.dn A lin rid I. H*-n/i> M .t;.s.im nl, R ib e iro C o u to . H o d rlg o M . F . de A n d r a d e , l in g e r B a stid o , R o g é rio Cnr<;ão, R o la n d C orbfsdor, R o ­ s á rio Fn.» o, B u b c rn B iú ío ia , S a n ta R o sa , S e r g io M illie t, S e r v id o d e M H o, S j l v i n d a ( ’u n h a . T u sso d a S ilv e ira . T e m ls lo c le s L i- id ia re s . 'Ih ir r.s M a itin s M o re ira . U m b e rto P e r e g r in o , Vicc-ntc F e n c ir .i d.. S ilv a , W ilso n F ig u e ir e d o e X a v i e r 1’la c c r .

IL U S T R A D O R E S : A lf re d o C o schintU . A r m a n d o P n th e c c , A th o s RuIcAo, M a r d e r , F a j i j a O .t r o w e r . l b e r ô C a m a rg o . I .u ls J a r d i m , N o e m ia , O s w a ld « 0«*< ld i( P a u lo V in c e n t. P e r c y D e a n e , S a n ta Ito s a , V a n B o g g e r c V ile n K e r r . R io , D o m i n g o ,

Frontespício òc um* cdiçio IrjiKiu, da 1863, "O Pinlio Perdido”, d® Milton, traduzido por Chj- tcflubriind. pert oncflnKj 1 BJbliofeoa National . A gravura acima, quo repreicMa uma ©*>na da grand*

(2)

Ademir Dsmarchi

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Literatura & me rcado ? morte do modernismo & po pui. i smo

Apresentação ao suplemento Letras ê Artes,> de A Hanhrt (Rio, 1946/53)

com os Índices Geral e Remissivo de toda a matéria publicada

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA C ATARINA-UFSC

DEPTO , DE P OS.GRAD = EM t... I TERATLJRA BRASI L...E I RA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

(3)

TITULO DA DISSERTAÇÃO:

Cultura em busca de vitrines - Literatura & mercado, morte

do modernismo & populismo

(Uma leitura do suplemento Letras & Artes, de A Manhã

[Rio, 1946/53] acrescida dos índices Geral

e Remissivo de toda a matéria publicada)

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do

título de Mestre em Letras, na especialidade de Literatura

Brasileira, e aprovada em sua forma final pelo programa de

Pós-Graduação em Letras/Literatura Brasileira.

AUTOR:

Ademir Demarchi

Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Literatura

Brasileira e Teoria Literária:

Prof.& Dr

Lssia Barbosa

Orientador:

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Kenneth David Jackson

(4)

Neste trabalho, intitulado Cultura em busca de vitrines

Literatura & mercado? morte do modernismo & popul i s m o ,,

faz-se uma apresentação ao suplemento cultural Letras &

Artes ( 1 9 4 6 - 53 ) 5 do jornal A Hanha (Rio de Janeiro) e de seus aspectos mais relevantes ,,

Destaca-se as mudanças com relação à cultura nos anos 40 qu.eü saindo da sombra acolhedora do Estado,, procura s u s ­ tentação no mercado,, sendo Letras & Artes um veículo c u l t u ­ ral exemplar deste fato» 0 suplemente; é descrito como uma vitrine que expãs a cultura ao consumo e a intimidade de se­ us produtores à curiosidade do público,, A mudança provocou reações negativas motivadas pela perspectiva de ban a l iz ação da obra de arte ao ser reproduzida em série e entregue ao p ú b lic o c onsumidor ,, gerando tensões e k e m p 1 i f i. c a d a s n e s í e t r a b a1 h o „

Sa l ienta-se ainda dois aspectos importantes; a tentati­ va de acomodação da tradição com o moderno,, realizada pelos setores mais conservadores r e p r e s e n tados no grupo de Letras

& Artes que, num acalorado debate declarou a morte do m o d e r ­

nismo,, 0 outro aspecto abordado refere-se à participação dos escritores e intelectuais na gênese do então nascente popu .

lismo que levou Getálio Vargas pela segunda vez ao p o d e r „ São partes fundamentais deste trabalho também um Índice Geral e outro Remissivo de nomes citados ou estudados, concernentes a TODA a matéria publicada no suplemento em suas 2SS ediç&es no período de sua existência, 1946-53= Os índices f o ram concebidos visando facilitar-se a c o n s u1 1 a aos pesquisadores interessadas nos temas debatidos e nos autores que colaboraram no suplemento, destacando-se as indexaçíües d o mate r i a 1 p u b 1 i. c a d o c o m u m pequen o r e s u mo c r í t i c o o u informativo quando se refere à literatura brasileira»

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Abstract

In this work, entitled Culture in search of show cases

literature and m a r k e t ? death of modernism and p o p u l i s m5

there is a presentation of cultural supplement Letras &

Aries (1946-53 5 from the Rio de Janeiro newspaper A Manh'U

and its most relevant aspects.

The changes related to culture in the forties are emphasised,, Leaving the protective shadow of State, culture seeks support in the m a r k e t , being Letras & Artes an exemplar cultural vehicle of this fact« The supplement is described as a show-case that exposes culture to consume and the intimacy of its producer; to public curiosity« The change caused negative reactions due to perspective of vulgarization of work of art, being largely reproduced and delivered to consuming public, creating tensions exemplified in tAi.s work«

Two important, aspects are also pointed outs one., the attempt of matching tradition with m o d e r n , made by the most conservative sectors represented in Letras * A r t e s , which in a enthusiastic debate declared the death of modernism 5 the other aspect refers to participation of writers and intellectuals in the origin of the beginning p o p u 1ism that took Getulio Vargas to power for the second time»

Fundamental parts of this work are also a General Index and a Remissive Index of names cited or studied » regarding ALL subject published in the 288 issues of the supplement living period» between 1.946 and 1953= The indexes were conceived aiming at facilitating consultation by researchers interested in the debated themes and authors that collaborated in the supplement,, stressing the index of the published articles with a small review or a brief when concerning Brazilian literature«

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P A S S E A N D O PELAS V I T R I N E S

Para Carmem Lúcia B r a n d a l i s e ? que adora vidros

EEste longo passeio baudelaireano pelos fauoou rgs das páginas de jornais,, mirando suas vitrines,, nâo teria sido possível sem a bolsa financiada pela CAPES. Tampouco sem a elegante erudição que me apoiou na pessoa ds Raúl Antelo, para quem explicito meus agradecimentos. Faço.os extensivos a outros prestimosos colaboradores: à família de Jorge L a . cerda, representada pela 5ra. Kirana Lacerda e pela Sra„ Zoé Lacerda Westrupp que me atenderam prontamente confiando suas coleções de Autores & Livros e cie Letras & Aries s ao Arquivo Público do Estada de Santa Catarina e seus funcionários, re­ presentados pela Sra„ Leda Maria d'fivi.la da Silva Prazeres, que recebeu a guarda cias coleções e permitiu o livre tr ânsi­ to para o trabalhos à pesquisadora Valéria Gouveia G a m e n , também do Arquivo, que prestou assessoria na consulta ao arquiva pessoal de Jorge Lacerda? à prof. Rita de Cássia Barbosa que me esclareceu sobre Drummondp aos que interessa— damente comigo discutiram o trabalho,, Antônio Dimas, Hari le­ ne Wheinhardt e Aríete K o e n e n § ao apoio sempre solicito cie Maria Lúcia de Barros Camargo;; e ao Instituto Nacional do Livro que me forneceu graciosamente os volumes de Marilene Wheinhardt sobre o suplemento rí'G Estado de S * Paulo*

0 brilho das vitrines foi partilhada com várias colegas;; amigos, a quem dedico estas flaríeries enfim

concluídas depois de muitos devaneios e discussõess Cláudia Campos Soares, Adauri Antunes Barbosa, valentina da Silva Nunes Sue Ido, Susana S c r a m i n ,, vladimir Garcia, João Nilson Alencar e Amanda.

Expedie rt te

Trabalho realizado no período de 89 a 91 entre a Ilha de F'Iorianópo3. is e as de U r u b u q u e ç a b a , Santas e São vicentep escrito, composto e revisada pelo autor num microcomputador PC---XT ô40k b-:-32Mb com os softwares operacional DOS 3„ 0 e editor de textos !vlicrosoftWord 4,0 e impresso numa matricial Epson LX-810,,

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S U M A R I O

PRIMEIRA PAGINA ... i e ii

A t ítu I o de i nt rorfu çao . , ... ... , . . . i 0 suplemento no âmbito da história intelectual

e os i. nst rumen tos de .. . i

0 JORNAL A MANHn E 0 ESTADO NOVO * .. „ .. ii a iv

Ma ni pu 1 a f.?y:es getulí sías . . ... . . „ „ „ .-. i i

Gs suplementos culturais de A Manhã,, , ... „ „ „ „ . iii

0 prenúncio do fisi» = . „ „ „ „ „ ,, „ * ... . „ „ „ „ ... iii

O SURGIMENTO DE LETRAS & A R T E S . ... ...iv a vi

01 hos no me rcado ... „ . ,, » . . ,... ... . iv

Rev is ta i 1 us t rada e erudita „„„„„„„„„„„„„„ ,, ... „ ,, ,, „ „ = » „ v

Mo nó cu 1 os „ „ = / „ „ .. . .. v

DO A N TICOMUNISMO A MORTE DO MODERNISMO,,.,,,,,,.... „„..vi e vii

Dinamite sobre as i lu s d e s . .. / ... vi

A morte do m o d e r n i s m o . ... ... ...vi

Os subversivos morrem na Academia,,«« /...vii

A TENTATIVA DE ACGMODAÇAO COM 0

MODERNO E A VOLTA DOS VELHOS ATORES „ .... ... viii e ix

De vol ta pa ra o passado . . . / „ „ .. . „ ... vi i i.

/I volta dos velhos atores* „ „viii TENSÃO E C O N T R O L E ,, MASCARAS PARA OS A T O R E S ... .í k a xi

Os gagás de 2 2 „ . „ / .... ix

„ ,, „ e as v iúvas de Mário , . „ / . „ „ . „ „ „ „ . „ „ „ ... „ „ „ „ .. x

Bi nó cu los , „ „ x

PILHAS, PILHAGENS, COLEÇGES E VITRINES. „„„„„„ „ „ „„ „ „ „ „xi a xv

Fet i ches s o colecionado r „ = „ „ „ „ „„„„„„„„„„ „ „ xi

Sub/t rai r pa ra soma r . „ „ „ » „ „ „ „ ... . .. „ „ „„„„„„ ,, „ xii

Subi ite rato por obsessiva des pretensão „ „ „ » „ „ „ „ xii.

v i. t r i. nes ou... / „ „ „ „ .. ... . „ „ « „ „ „ ,, „ „ „ „ „ x i i. i

„ „ „ buracos por onde se vê „ „ „ . .. . .. .. .. „ ... „ xiv

(8)

IMBECILIZAÇrO E POPUL. I8 MO I L...UM INI ST A ,, xv a k v ü

A pe rda da au r a . „ „ xv

L&A situado na gênese do po pu 1 i smo „ „ „ ,, ... .. . , „ „ „ „ „ xvi

Crônica e um pouco de ficção „„„„„„„„„„„„„„„„„„„„„„„„ „ k v ü

A TITULO DE C O N C L U S Ã O ,, = ... ... „ .. . . . „ xviii e xix

Um a co nt i nua ç.'ào s s d j b ... .. xviii.

Vi t ri nes c o n s t r u t i v i s t a s „ . ... . „ .. xix

MAIS NOTICIAS DO SUPLEMENTO

E DETALHES SOBRE OS ÍNDICES,, „ „ „ „ = „ xix a xxiii

Período de abrangência e nume raçao . xix

Regularidade, número de páginas e e d i t o r e s = ,kx

Características deste t rabal ho „ „ „ „ „ „ .. . „ „ „ = „ xx

Caracterist icas da i n d e x a ç a o ... „ . xxi

O índice analítico da literatura fcrasiieira.. . . .xxii

Abrev i afftes... ... . .xxiii

NOTAS CONCERNENTES A I PARTE. xxiv a xxxiv BIBLIOGRAFIA,, ... . .. . . . . xxxv a xxxvii

II PARTE

I ND ICE GERAL DE LETRAS & ARTES „ ... .. 1 a 304 A a Z ... . .. ...„ 1. a 265 Sem autoria ou da editor i a ... . . ...„265 a 298 Co r res pondênci a ... „ „„„„„„„„„„„„ „ „ ... ,, „ „ „ „ »299

Concu rsos .. „ ,, „ „ „ ... 299 a 301

Grande concurso de contos de L&A,, „ „ „ „ = „ „ „ „ „ . . „ „ „ = „299

Concu rso de sonetos „ „ „ ,, „ „ „ .. . . „ 299

Colunas e seçoes diversas regularesfsem autoria 301 a 304

I. nfo rmaçdes ,, „ „ „ „ „ „ „ „ „ „301

Cu rios idades 1 i. te râ rias ... 302

Livros em r e ^ i s í a . . . ... .302

Rosa dos ventos ... .. . ,, „ « „ „ „ „ . „ „ „ „ . 302

Noticias est range i ras ... „ „ „ „ 302 a 304

Franca. „ ... . „ . . ,, „ „ ,, . . . . „ „ „ . . . . „ . 302

ífspanha. ... . „ „ ... „ „ „ 304

Ing 1. ate r r a .. . 304

NOTAS CONCERNENTES AOS ÍNDICES,, ... „305 a 306 ÍNDICES R E M I S S I V O S . ... .... „ .. . „ „ ..

Onomástico de A a Z ... „ R e v i s t a s , g r u p o s f idéias mais debatidas

307 a 345 308 a 344

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PRIMEIRA PAGINA

A títul o cie i n t roda ç%o

0 presente trabalho, estuda bibliográfico e interpreta- tivo do suplemento cultural do jornal A Hanha^ do Rio, Le­

tras & A r i e s , doravante designado apenas L&A? situa-se numa

das linhas de pesquisa literária que tem em Plínio Doyle um pioneiro pela sua indexação de revistas e jornais literâ™ r.io5 <1> e no IEB--USP um emtudo mais sistemático e abran­ gente, implementado por diversas teses de mestrado e doutorado apresentadas ao D L C v / F F L C H / U S P '^ » A importância destes estudos por sua vez têm se comprovado nas diversas edições fac-similares de vários desses p e r i ó d i c o s , facilitando o acesso a eles como fontes de pesquisa.

A abordagem que se fez de L&A inspirou-se nestes traba­ lhos pensando-se numa sistematização de toda a matéria pu. biicada no suplemento de modo a facilitar sua consulta a pesquisadores interessadas nele ou nos autores que lá cola­ boraram ou foram estudados. Neste sentido,, foi 0 Suplemento

Literário d" 0 Estada de S. Paulo; 1956-67 „ trabalho de Mari-

lene Wheinhardt, o que mais se aproximou do pretendido com

L&A e que deu bases para a metodologia a ser aplicada,

A sistematização realizada em L&A entretanto apresenta algumas diferenças metodológicas com relação ás utilizadas por M a r i lene Wheinhardt, principalmente quanto â elaboração de um índice orientado por gêneros literários. Esta idéia foi abandonada na indexação de L&A pela necessidade de uma atualização na concepção desses índices qua, face às q u e s ­ tões colocadadas pela modernidade, inadmite-se uma visada crítica de textos modernos norteada por uma noção classici- zante como a dos gêneros.

Sendo assim, encontra-se aqui, -além do estudo introdu­ tório, a indexação de todo o material, textual e i c o n o g r á f i ­ co , publicado em L&A no período de sua existência, de Í2mai4és a 7jun53»

A indexação é apresentada em dois índicess um geral com toda a matéria publicada nele e outro remissivo de autores citados ou estudadoss a este s o m a .se um índice remissiva c omplementar que abrange revistas, periódicos e movimentos e stéticos ou filosóficos mais representativos no suplemento» Oportun a m e n t e se fornecerá maiores detalhes quanto à metodologia e particularidades dos índices.

0 suplemento no âmbito da história i nte 1 e d u a l e os instrumentos de análise

0 estuda que antecede os índices, definido o suplemento e seus agentes como o cor pus a ser analisado, procura

situâ-1 os no c o n t e x t o d a h i s t o r i a c u 1 1 u. r a 1 c s > , o u r n a i s e s p e c i f i c a ­ mente da história intelectual C4) , Para instrumen tal :i. zá-lo fez-se necessária a definição de "classificações, divisões e delimitações que organizam a apreensão do mundo social como categorias fundamentais de percepção e apreciação do re­

(10)

a l " <t5>,1 tais como "representas:So<6)" 5 " prática c ^ 5 " e "apro- priação c& ’11 ,, de forma a ser possível situar o espaço ocupado pe I o suplemen to e seus rea 1i 2 ad o res , supon d a — as como localizados num campo em que se travam lutas pelo poder e pelo acúmulo de capital simbólica para uso em novas lutas''95.

Assim,, procurou-se situar o jornal 'A Manh'M e seus su­ plementos no contexto histórico em que surgiram, descrevendo sua rede ds relações e imbricações ideológicas entre o campo político e o campo cultural p a r a5 entSa, realizar-se uma análise de L&A nos aspectos considerados mais relevantes,, Deste modo,, o estudo não teve a intenção de esgotar as possibi 3. idades de interpretação dos temas passíveis de serem analisados mas, antes, de apontar os mais significativos para uma compreensão da importância do suplemento, numa adequação d o t rabalho ao tempo di s p o n í v e1 para sua r e a1 i zação «

□ JORNAL /I MANHA E 0 ESTADO NOVO

0 jornal /I /íanftã, do Rio, foi publicado no período de 1925 a 1929 e reapareceu em 1941,, desta vez durando até 1:953c 5 „ Este estudo enfoca sua segunda aparição, que deu. se como parte do patrimônio das [Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União, pertencentes ao governo, no período de Getúlio Vargas, constituindo-se num importante elemento de

ligação entre os campos político e intelectual ,,

Manipulações getulistas

A estratégia de Getúlio Vargas nestes anos visava ao monopólio dos meios de comunicação cie massa, rádio e impren. sa naquele momento, que além cia incorporação se dava também através; da censura, fiscalização e fechamento ou intervenção efetivadas pelo Departamento de Imprensa e Propaganda- D I P ' 1 1 5 ,, Este, como extensão de suas atividades, objetivava a divulgação, ou mais apropriadamente, a popu 1 arização dos; atos e idéias do regime getulista, veiculando o nascente ideário populista que impregnaria os diversos setores da so­ ciedade da época, dos integralistas que se somaram ao a p a r a ­ to constituído pelo governo aos; comunistas infiltrados na máquina sindical e também os intelectuais' J-Z) que, situados em meios; cie comunicação como o jornal A Nanhs ou seus s u p l e . mentos, contribuíram dirigindo seu imaginário e seus textos ao povo, explicitando habitus adquiridos;,,

Para fazer ressurgir em 1941 o jornal A M a n h a , Getúlio Vargas convidou o escritor Cassiano Ricardo, em nome cie sua larga experiência e convívio com as idéias; nacionalistas de direita que o aproximavam do autoritarismo, indo da publica­ ção de revistas como Novíssima (1925) e Planalto (1939) â participação no Integra! ismo ao lado de Plínio Salgado e ivie-- not ti Del Picchia e pela sua comprovada influência no meio intelectual c X3 > ,, numa tática de transferência do capital simbólico acumulado por Ricardo, concretizada com as; cola. borações que atraiu para o "órgão cio Estado N o v o " (1'l') = Essa

(11)

apropriação de prestigia é também constatável na eleição de Getúlio para a Academia, que só foi possível com a inter­ venção de Cassiano Ri cardo c x > ..

Ainda um outra fato que confirma o acerto de Getúlio na escolha de Cassiano Ricardo visando influência no meio intelectual é o da criação da ABDE nos espaços do jornal estado-novista

Os suplementos culturais de A Manhã

Para dirigir A Manrfk Cassiano Ricardo apoiou-se na A ca­ demia; convidando dois de seus membros para criar os s u p l e ­ mentos culturais do jornais Pensamento cia A m é r i c a , dirigido por Ribeiro Couto que, mesclado com artigos literários e po­ líticos preocupou-se com a integração "das três Ainéri- c a s " < :L~ '5 ,, e Autores e L x vros =, dirigido por íiúcio Leao que norteou~se por uma concepção enciclopédica da literatura, fazendo de cada edição um fascículo que. s o m a d o s5 dariam uma co 1 sção cie 16 vo 1 umes c x ® 5 „

Autores e Livros inspirou.se na mesma linha cio grupo B a n d e i r a , por "um Brasil nosso e original § por uma d e m o c r a ­

cia social e genuinamente b r a s i l e i r a " , preocupado em "dar uma função social á arte e à literatura, utilizando-as como processo de integração n a c i o n a l " * 1'5’1 ,, Este projeto,, de re­ presentar as diversas regiBes do país através da literatura fundamentando a idéia de uma nacionalidade, concretizou-se não somente em Autores e Livros como também na revista C ul ­

tura. Política < 150 > ,, outro òrqSfa do governo getul i s t a ,, com ca­

racterísticas peculiares a cada um s Autores e Livros preo­

cupou-se com a história da literatura enquanto que Cultura

Política procurou representar o país concebido pelo EIstado

a u t o r i t á r i o ,

0 prenúncio do fim

Entretanto,, com a má administração das Empresas Incor­ poradas ao Patrimônio da União,, o jornal A Manha acabou s e n . cio o maior prejudicado ao ter sua sede vendida para sanar dívidas do grupo, beneficiando A N o i t e „ 0 fato obrigou a ■transferência da redação para "um exíguo gabinete incomodo de A N o i t e , um gabinete reles, que abria para os pardieiros malcheirosos da Saú.de..Il‘í2'u „ Ha medida em que o jornal te-- ve suas máquinas transferidas para outros órgãos da Empresa, tendo inclusive que subordinar-se à gerência de A N o i t e , e x . plodiu uma crise que já se arrastava com a d iminuição das verbas para pagamento de colaboraçoes, a ponto de obrigar ' Mú c i o !...e ã o a custear Auto res e L i v r o s d o p r ó p r i o b olso, per-

dendo todos os colaboradores e obrigando-o com sua mulher a editar o suplemento, Múcio Leão cies 1 igou-se formalmente do jornal em 17mar45, numa longa carta em que faz o balanço cio que foi a colaboração com Cassiano R i c a r d o (2:a> =, Já este d e s ­

ligou-se logo em seguida, em 26jul45, para logo depois ir dirigir a Editora A Noite, também pertencente ao governo, substituindo outro emérito colaborador de Getúlio e dos suplementos e revistas do regime, Adonias Filho. Como

(12)

/luto-res e Livros, outros órgãos getulistas não /luto-resistiram, sendo

o casa ds Cultura Política que teve seu último número em maio de 45.

A crise não se enraizava somente nas precárias finanças das empresas g o v e r n i s t a s , mas também na próprio regime d i t a ­ torial que chegava aa seu fim; encerrando também a p ossi­ bilidade de continuidade de seu projeto,,

Queda de Getúli o ? queda de um projeto

Com a queda de Getúlio meses depois, em outubro de 45, entra-se num período de transição que somente se altera no ano seguinte,, quando acorre um rearranja no mercado de car­ gos ocupados pelos intelectuais. 0 fim do da Estado Novo e a fim de suas publicações estabelecem um vácuo, representado pela ausência de um projeto político que direcionasse as esforços dos intelectuais já habituados ao vínculo inte­

lectual -Estado,, p o lítica .literatura. Mão mais sendo possível dar uma função social à arte e à literatura imbri c a n d o .as num processo de integração nacional à sombra do governo, os intelectuais, artistas,, escritores,, tiveram que procurar outra via de sustentação«

E neste contexto sem pai que /I Manha busca uma razão para continuar existindo,, Com a saida de Cassiano Ricardo o jornal- passou a ser dirigido por Heitor Moniz por curto período de tempo, sendo logo em seguida assumido por Ernani Reis,, Sofreu, então,, remodelações, reiniciando uma etapa de prestigio editorial que o levaria a tiragens massivas para a época, já um ano após as mudanças e a criação do suplemento cultural LSiA ao qual se atribui o sucesso do jornal encontrando, deste modo, a razão para continuar existindos o m e r c a d o52 3 5„

G SURGIMENTO DE LETRAS & ARTES

'Olhos no m e rcado

Iniciando circulação em 12mai46, Letras & Artes foi

criado por Jorge Lacerda, um jornalista de afinidades inte­ gralistas que chegou á posição de "orientador" do suplemento graças â experiência acumulada na função cie confiança que exerceu em A Manha ao lado de Cassiano Ricardo, reforçada par extensas amizades nos meios culturais'2 4 1 „

Ao se definir como " o r i e n t a do r ” nas expedientes do suplementa, diferentemente de "diretor" como fazia Múcio Leão em Autores e Livros adicionando outro elemento que lhe ampliava a autoridade, "Da Academia Brasileira de Letras", Lacerda talvez buscasse uma palavra mais apropriada à sua condição de mera jornalista n ão.literato que teve apenas; um livro publicado, postumamente, reunindo seus discursos na Câmara dos Deputados,, E possível mesma que tenha sido esta condição de n ã o .literata que lhe permitiu fazer um s u p l e ­ menta sem a ranço de arquivo próprio cia Academia para buscar um jornal mais leve e palatável ao gosto da época.

(13)

A estratégia adotada por Lacerda na edição do suplemento abandonou o conservadorismo excessivo de Autores

e L i v r o s , que era expresso não somente na linha editorial

mas também na sua apresentação v i s u a l5 carregada e em afinidade com seu objetivo enciclopédico,, L & A ? em sentido oposto procurou a modernização ditada pela linguagem do m e r ­ cado cultural que,, em consonância com a época do apòs-gusrra transitava do modelo francês para o americano, privilegiando mais a imagem que o texto.

Revista i 1ust rada e erudita

A guinada deu ao suplemento a condição de uma revista ilustrada de cunho mais erudito que o normal encontrável nas revistas de massa como Revista da. Semana,, Fon F o n , Ca r e t a ,, Cena iluda? Vamos Ler etc,, 0 modela adotado em diversos a s .

pectos copiou o sucesso dessas revistas, indo do destaque para a ilustração à realização de concursos literários per- !nan8 n t e s <2S) e à literatura em gotas,, í ragmen tá r i a ,, presente nos aforismos e frases filosóficas que expunham as fraturas das novas formas de relaçüss no campo cultural !Z4,> . Embora abrangendo o texto e tendo nele um dos pilares de sua su s ­ tentação,, L&A buscou a mescla na pluralidade de linguagens,, i. n c o r p orando a f o t o g r afia, o d e s e n h o, a i 1 u. s t r a ç ã o , a r e p r o d u ç ã o de p i n t u ras , xilogravuras o u escul t u r a s ,, n u m a p r o . porção de razoável equiparação com os textos.

Não se caracterizando somente como literário,, L&A d i v i ­ diu seu espaço com a filosofia, as pesquisas folclóricas, a arquitetura, a música erudita ou popular como o jazz,, as a r ­ tes plásticas,, o teatro,, o cinema, a fotografia, o balé, a crônica de viagem e também o colunismo social voltado para os hábitos dos escritores ao mesmo tempo em que procurava fazer frente ás questões filosóficas e estéticas daquele momento» Ainda com relação a Autores s L i v r o s ,, abandonou a tendência obsessiva de numerar cada edição classificando-a por fascículo, número, volume,, Passou, entretanto, a partir­ ão n»° 6 ,, a numerar suas edipoei;;, por exigeíncia dos cole­ cionadores. . „

M o n ó c u l o s .»,

0 corpo de colaboradores de L&A foi constituída com re- a p r o veitamento de muitos dos que participavam anteriormente em Autores e Livros ou no jornal /I Wanftã, tendo ainda na Academia um sustentáculo respeitável. Com isso a instituição praticamente fez do suplemento seu órgão oficial, a ponto de publicar discursos e manter em L&A uma coluna intitulada "No Petit Trianon", editada por Peregrino Júnior que nela canta­ va as rotinas acadêmicas e as fofocas literárias do meio,

0 fato de ser jornal do governo, a ligação com a A c a d e ­ mia e a presença no suplemento de um grupo significativo de escritores com capital simbólico acumulado no apoio ao E s t a . do Novo, nos movimentos nacionalistas passados ou ligados ao

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movimento catól i c o c :E'r 3 ;i deu a L&A um aspecto conservador que se manifestaria em suas polémicas e nos textos publicados» DO ANTICOMUNISMO A MORTE DO MODERNISMO

Dinamite sobre as ilusões.,,,

A coluna assinada por Djalma Viana, pseudônimo de Adonias Filho, é um bom exemplo que situa o jornal ideologicamente!; deixando constantemente de tratar de seu assunto em "Através dos suplementos",, dedicado à crítica de outros jornais, Adonias Filho engrossou em suas crônicas a onda anticomunista que tomava conta do pais e era liderada pela cadeia de jornais de Assis C h a t e a u b r i a n d „ Dirigida à opinião pública, a campanha levaria ao rompimento de reiaçíües diplomáticas com a URSS e à cassação de entidades sindicais e por fim do Partido Comunista em Í 9 4 7 c3<33„ 0 tom de Adonias Filho é geralmente irónico e agressivo, como em crônica que tenta provar que Prestes é capitalista por ser acionário do jornal Tribuna P o p u l a r t "o maior acionista em boa linguagem b u r g u e s a " C29,„

Como Adonias Filho outros se colocaram na mesma pers­ pectivas na primeira edição também Guerreiro Ramos critica a intenção totalitária do marxismo,, situando-o lado a lado com o fascismo ao tentar "assegurar o monopólio da produção cul­ tura 1" c 3 0 3 „ Num outro aspecto de afinidade? com a guerra fr:i.a o suplemento publica também grandes anúncios de sucessos editoriais como Escolhi a l i b e r d a d e , de Victor Kravchenko, livro que trata da URSS,, anunciando-o como "uma dinamite sobre as i 1 u s o e s !! c 3X •% ou,, sobre o Brasil,, Por rompi c:om o Partido Comunista s de um obscuro capitão Davino Francisco

dos Santos,, ilustrado por algemas a r r e b e n t a d a s ; prometendo contar sua terrível experiência de adepto do credo verme 1 ho < 3:2 3 „

,4 mo r te do mode r n i smo

0 aspecto conservador do suplemento e sua vinculação com a Academia fez dele um espaço privilegiado para um d e b a ­ te sintomático de uma tensão ainda não resolvida no campo cultural e mais e specificamente literários o da luta entre o clássico e o moderno, desta vez retomado pelos participantes mais conservadores do modernismo,, Mais clássica que moderna,, a ala mais conservadora rio movimento sentiu-se vilipendiada pelo seu ataque aos valores clássicos mas cedeu e aderiu a ele num momento de fraqueza estratégica,, Agora, com forças suficientes para impor a sua leitura do movimento,, num momento desta vez de fraqueza de seus opositores, de resto mortos como Mário de Andrade, ou indiferentes e assimilados pela instituição como Manuel Bandeira, o g r u p o*3 3 5 retomou o debate em tom de polémica declarando a morte do modernismo.

Esta morte, já declarada na revista L a n t e m a

\/e r d e' 3 4 1 num balanço organizado pelo académico Tristâo de Athayde e que talvez nâo tendo atingindo a repercussão desejada, retorna para garantir a vitória de seu grupo com

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o mesmo Tristão inaugurando o primeiro número de £.&/!, num artigo de homenagem aos 10 anos da morte de Ronald de Carvalho, Intitulado "Ronald e o m o d e r n i s m o " , o artigo procura apropriar-se dos méritos do movimento atribuindo a Ronald a virtude de ser a "expressão literária mais significativa e mais ilustre" do modernismo, costumeiramente vi n c u l a n d o .o à ala de Graça Aranha, em oposição aos v a n g u a r d i s t a s , ao mesmo tempo em que afirma o fim do movimento *

A liq u i d a ç ã o d cs mode r n i. s mo transparece como um senti mento comum aos editores e colaboradores de L<%A? a ponto do tema nele se refletir insistentemente em interti t u1 o s , man­ chetes e textos. Meles a afirmação do fim do movimento se dá de forma incisiva e intimidatória com a naturalidade de ou­ tras campanhas que L&A promoveu em prol do Nobel a Gilberto Freyre ou em prol do busto para o túmulo de Alphonsus de Guimaraens,, Tanto que logo após o artigo inaugural de Tristão de Athayde este reapareceria em entrevista em que a intenção se explicita em intertítulo e textos "Morreu o m odernismo com Mário de A n d r a d e " <»»>„. Dado o mote, outras e ntrevistas foram realizadas com esta preocupação ao mesmo tempo em que se associava nelas o retorno ao soneto como sintoma de morte do movimento»

Os subversivos morrem na Academia. ,

Destas entrevistas uma das mais curiosas é a que se fez com Manuel Bandeira que, por ser um dos mais importantes m o ­ dernistas em atividade, acabou sendo escolhido para receber o ponto alto da provocação. Sua entrevista é editada com uma manchete em letras garrafais, a mais incisiva até então, que anuncias "Manuel Bandeira e a morte do modernismo",, Ao ser perguntado se achava que o movimento havia morrida com Mário de Andrade, "Bandeira responde p a u s a d a m e n t e " , como conta o próprio repórter, evitando a palavra morte e amenizando a resposta, porém concordando com a a s s e r t i v a 136* „ 0 pausado mal estar de Bandeira era mu 3. ti facetado s tendo sido um dos participantes da vanguarda modernista a desmoralizar os acadêmicos e clássicos poetas inimigas do novo código vanguardista, agara via-se na incômoda posição de ser ele próprio um acadêmico confirmador dos triunfa 1 ismos de Adonias F’ilho e Peregrino Júnior para os quais o modernismo agora era um bagaço passadista a ponto de vários modernistas terem sido "aceitos" pela ficademia<37), no que incluíam o próprio poeta de "Os sapos". Por outro aspecto o mal estar de Bandeira era, pode-se dizer, nauseante, uma vez que falar da morte do modernismo associada à recente morte de Mário de Andrade no tom retumbante de alivio e consumação com que o fato era tratada, era para ele uma petulância sem tamanho uma vez que, além de ser amigo de Mário,, estava empenhado em zelar por sua memória e continuidade, o que fazia ali mesmo em L&A ao publicar exaustivamente suas cartas'3 8 ’»

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v i i. i.

A TENTATIVA DE ACOMODAÇÃO COM 0 MODERNO E A VOLTA DOS VELHOS ATORES

O espaço aberto que a tradição encontrou para sua c on­ solidação e acomodação com relação ao moderno foi facilitado principalmente por motivos como o arrefecimento cias in­ vestidas da vanguarda modernista, motivado pelo perecimento instantâneo com que as novidades eram geradas, diluídas e assimiladas e pelo engajamento político dos modernistas, nascido do credo num papel histórico a desempenhar, próprio das vanguardas. 0 evanescimento do movimento criou o clima apropriado para a tradição sair do marasmo em que fora colocada e declarar a morte do modernismo«

Com esta atitude a tradição representada pela Academia e por escritores dissonantes com o projete; modernista p re­ sentes em L&A procurou a estabelecimento de diferença em re­ lação aos traços modernos como a retórica da ruptura, o mito cio começa absoluto, a consciência de papel histórica a d e ­ sempenhar que obriga o olhar para o futuro, a desumanizafão e devanesciüiento cio sujeita, a declínio da fé religiosa, a morte de deus e do autor, a perda de centro e da hierarquia»

Não á toa Murilo Mendes escreveu em Lanterna Ve r d e , em seu balanço sobre o modernismo, que "Enganar.se-ão com. pletamente os que julgarem que o chamado movimento m od e r ­ nista nada tem a ver com o declínio religioso da sociedade e da cultura modernas,, Pelo contrário, está-lhe intimamente

l i g a d o " < > „

De volta para o passado*«,

O rompimento com c; modernismo se caracterizou como uma tomada de posição com relação aos postulados da vanguarda, numa tentativa de buscar outros caminhos mais amenos para a já atormentada consciência que passava por uma segunda g u e r ­ ra „ A perspectiva cie esfacelamento de valores colocada pela vanguarda se viu reforçada pela guerra que apresentava um futura obscuro e um presente negro, apontando como saída uma fuga da historia,, Não mais preocupados com a busca d e s e s p e ­ rada do futura, patnos vanguardisfca, o grupo de L&A se volta para o passada de forma contundente numa tentativa de exor- cisar a consciência moderna do tempo e de reconciliar as tendências contraditórias de seus opositores buscando o equilíbriuo entre afirmação e negação, liberdade s a u t o r i d a . de, nihiiismo e futurismo, tensões típicas da vanguarda. A volta ao passado no que representa de restabelecimento cia ordem, da hierarquia e cia tradição por outro aspecto e n c o n ­ tra ecos no positivismo defensor da tutela estatal e no pensamento tradicional católico que sustentaram o pensamento estado-novista cie Cultura Po 1. í t i ca ('q-° } ,, continuado em

A volta dos velhos a t o r e s ,,,

Crentes que então os caminhos da poesia corriam em direção a deus, ac; amor, à angústia, á carne, ao homem e à

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mulher e á mistura do bem com o mal, chegando à paternidade e à caridade poéticas, como nas dá pistas Murilo K e n d e s <41> s £.&/!, em sua vol ta ao passado , ressucita a soneto num concurso que durou de julho de 1948 a inicias de 1949, em todas as suas edições, dele participando na comissão julgadora escritores como Bandeira, Drummond, Murilo Mendes, Cecília Meireles,, Cassiano Ricardo e Guilherme de Almeida»

A tentativa de diferença para com a vanguarda se deu impregnada da credo no eterno retorno nietischeano traduzido □or L&A na volta ao passado e às velhas formas, porém con-trad i toriamen te a uma leitura pós.moderna de Nietzsche que busca a diferença justamente na liquidação da m etafísica e no d e v a n e s c i m e n t o „ Ao decretar a morte do modernismo a tra­ dição refuta a tensão da modernidade que tem o pensamento como descoberta progressiva, em direção ao futuro, numa apropriação e reapropriação de fundamentas, em sentido o p o s ­ to à metafísica que leva constantemente à busca das origens,,

A experiência de L&A mostra que ao decretar a morte da vanguarda a tradição faz um retorno ás origens que se dá com a volta à religiosidade, à tentativa de re-humanização e reencontro do eu desaparecido na desarticulação simultânea da linguagem e da simultaneidade, 0 restabelecimento do soneto simboliza a segurança, não mais o devanescer-se mas o reencontrar-se com uma forma segura e conhecida, si.non.imia de reencontro com um deus ressucitado pelo retorno à tradição e às categorias unificadoras» Já não mais a busca do novo, nem a perseguição ao futuro mas o retorno ao passado, à metafísica e á tentativa de centrar o caos da m o d e r n i d a d e ,,

TE N ESPiO E CONTROLE, MASCARAS PARA OS ATORES

Os gagás de 22„ „

Concomitante á investida pela liquidação da vanguarda e sua tentativa para acomodação com o moderno a tradição vive a tensão própria do campo intelectual e seus novos atores em constante luta por postos, o que acrescenta a preocupação em abrir espaço para eles delimitando as regras de entrada no campo. 0 concurso de sonetos responde a essa questão ao mesmo tempo em que se insere na estratégia simbólica de luta pelo poder “sobre um uso particular de uma categoria p a r t i c u1 ar de signos e, desse modo, sobre a visão do mundo natural e s o c i a l " c 42>„

Além do concurso de sonetos o suplemento pr e o c u p o u — se em abrir outros espaços canalizadores da pressão exercida pelos novos escritores,, Assim, permitiu cantos de página como o "Cantinho para os n o v í s s i m o s ” criado por Alcântara Silveira em sua página semanal sobre "São Paulo nas letras e nas a r t e s " <43) ou páginas inteiras como "A palavra dos novos", em que, nesta, delimita suas responsabilidades para afiná-las com o s u p l e m e n t o <44) „ A tensíSfo exercida por eles fez algumas vezes aflorar a dúvida sobre se "estariam os novos nos matando, enfim?". Sérgio Milliet responde dizendo

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não ver perigo neles e ao mesmo tempo em que elogia seu entusiasmo cobra a conseqüência cie 2 2 c } „

a s viúvas de Mário*.*

Fazendo parte da estratégia de liquidação do modernismo também os novos são chamados a c o nfirma .la, nem sempre e n ­ grossando as vozes correntes» Manoel de Abreu destoa ao negar cidadania ao sonetos " 0 soneto está morto porque na rigidez de sua forma não se pode expressar a poesia moderna muito abstrata, muito t r an s c e n d e n t e ” c4 6 > „ E Autran Dourado, tentando fugir às classificaçoes geracionais do pensamento de Tristão de Athaycle e procurando distância das vinculaçcies diretas com o modernismo diz incisivos "Se abriram a porta para n ó s f devemos passar por ela e não ficar a vida inteira ensaiando, dando com a porta nos batentes,, Não sejamos viúvas de Mário de Andrade a vida inteira [» = „] Não somos anti-modernistasü mas também não somos n e o - m a d e r n i s t a s " t47)»

A delimitação de espaços próprios onde se m anifestem os novos escritores se combina com a definição das regras de ascensão permitidas que, ditadas pelos então ocupantes dos postos, passam pela recusa aos pressupostos ou atitudes s u b ­ versivas dos modernistas, restringindo o reconhecimento ao espaço permitido pela instituição,, Peregrino Júnior, neste sentido, é esclarecedor: "Num país onde para o escritor existem tão poucos prêmios e estímulos, a única instituição capaz,, pelo prestigie? e pela força, de assegurar ao escritor uma situação que equivale realmente a uma c o n - s a g r a ç ã o , é a Academia Brasileira,, A eleição acadêmica tem que ser, por. tanto,, o coroamento da vida intelectual de todos os homens de pensamento do Brasil» Tudo, pois, quanto há de mais natural e honesto" («3) „

Bi nó c u l o s „ *

Embora preso ás circularidades ideológicas que o carac. terizavam como conservador o suplemento fez tentativas de ampliar seu leque cie colaboradores, na perspectiva da e s t r a ­ tégia de controle do campo intelectual e seguindo as tendên­ cias do mercado que nos últimos anos estava se apresentando como a tábua de salvação para a cultura e principalmente pa­ ra o setor editorial que já se sustentava em grandes tira­ gens < >

Tendo como colaboradores um grupo cie prestígio ascendente no mercado editorial como era o caso de Ceei lia Meireles, Clarice Lispector, Lúcio C a r d o s o ,, Adonias Filhe; ou Ledo I vo , cien tre ou tros , o su p I emen to p ro curou. amp 1 iar sua influência atraindo escritores de prestigio solidificado no mercado ac; mesmo tempo em que tentava também amenizar sua aparência ideológica muito definida» Tentou-se então trazer para o jornal escritores como Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade e Aníbal Machado, anunciados com certo alarde, seguindo o objetivei da !! participação mais viva de elementos dos mais diversos grupos ou c o r r e n t e s" 5 como era o caso de Drummond e Machado que chegaram a ter um namoro com

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setores à esquerda á época dos congressos da ABDE e do próprio Qswald que além de irrascível militante de esquerda era também o temido enfant terrible ainda vivo do modernismo mais r a d i c a l .

Todos estes entretanto tiveram presença amena no s u p l e ­ mento, E se a apropriação simbólica não se podia dar pela presença efetiva da colaboração desses escritores,, ou de o u ­ tros de grande sucesso no mercado como José Lins cio R e g o5 que nunca colaborou em Í.&/Í, ela se dava por outras a r t i f í ­ cios =,

Um destes artifícios eram os Arquivos Implacáveis de José Condé, que ocupava duas páginas no suplemento e fazia presentes os grandes ausentes através de fotos,, manuscritos, entrevistas, desenhas etc,, ciando.lhes condição de estrela, expondo suas intimidades e alimentando a fome pelo fetiche. Afinado com sua época L&A apontava o declínio cia cultura s a avidez da massa sedenta pelo consumo do banal capitaneados pela estética h o1 1 ywoodyana aplicada ao meio intelectual. Antes porém de uma análise dessa vitrine que era a coluna de Condé, cabe aqui um devaneio sobre o colecionador e sua avidez em se apropriar dos objetos que fasiam a delícia dos

leitores, para si t u á .lo em seu campo como um satélite ocas intelectuais dos quais colecionava pertences numa forma de acumulação de capital simbólico fundamentador de sua existência no suplemento,

PILHAS s PILHAGENS, COLECCES E VITRINES

Feiichess o colecionador

0 c olec iona dor, transitando na época da fabricação em série, não quer o objeto comum que todos têm, mas somente aquele que possui uma aura, pela sua condição original, a i n ­ da não tocada pela reprodução em massa que o torna banal ,, Quer a primeira edição de uma obra, preferencialmente com a autenticação do autor, uma assinatura, uma dedicatória e s ­ pecial ; o primeiro exemplar cia primeira edição:; seu m a n u s ­ crito, o primeiro esboço, o bilhete, Na mesma perspectiva o colecionador ambicionará os objetos pessoais do autor pela aura que eles contém daquele que criou, que teve o dom de dar vida a um ser, sua criaturas o "mistério da criação ar­ tística", fundamento teológico cio colecionador,, Uma caneta, uma foto, um postal, um autógrafo. Tão mais raros quanto ir­ reais,, os objetas devem possuir a aura de sua existência única, uma bizarria própria, um é l a n , A foto cie um autor quando bebê, Octávio cie Faria com um ano, ou Edgard Cavalheiro travestido de cowóo >■■■', ou de cangaceira coma Newtori Freitas, ou flagrado num instante de intimidade como Manuel Bandeira com a mãe e a irmã ou ainda Getúlio Vargas de bigodes; a distinção, o desconhecido, o inabitual,

0 colecionador, aquele mais obsessivo em fidelidade à sua coleção, mais a ela que aos "santos" que produzem a aura cios objetos que ambiciona, tem somente uma ética, a de ampliar a sua coleção* Para o colecionador a posse é "a mais íntima relação que se pode ter com as coisas; não que elas

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estejam vivas dentro dele 5 é ele que vive dentro delas"., numa explicação de outro colecionador, Walter Ben j amin c 3 0 •> „

Su b/ 1 ra i r ps. rs soma r

Falar em ética do colecionador é falar na ética da c o l e ç ã o ’ sendo ela a possuir o colecionador, o encontro mais importands de todo exemplar é o de somar-se à coleção, tal ves mais que o de encontrar-se com o colecionador como quer Benjamin, p a r a o qual há uma é t i c a (de cole c i o n a d o r a ntecedendo à da coleção, residente na compra. Talvez não se possa dizer o mesmo de Condé, um colecionador possuído pela coleção a ponto de reconhecer o furto como ética , ou falta dela, para melhor dizer, como forma de ampliar sua coleção»

Autores e Livros se norteava pela em pilhagem em prol da

história da civilização» Em Condé tem-se a pilhagem numa outra versão iluminista da enciclopédia c i v i1 iz a t ó r i a » Sub/trair para somar» 0 desejo obsessivo de posse do objeto chega a anular a importância daquele que produz a sua aura " cr i a n d o - o " $ Condé., no artigo "Meu amigo Zé Lins [cio Rego]"., motivado pela doença deste, antes cie sua morte, diz em boa tradução, sua traição; "vivi com ele os últimos cinco anos de sua vida, quase (diariamente» Mas o meu maior deseje; era p o s suir, como c o 1 e c i o n a d o r 1 i. t e r á r i o , s e u s 1 i v r o s em manuscrito"

A mesma sanha se verificaria na tentativa de a p o s s a r .se cios bens de Monteiro Lobato, logo após a ida deste para Buenos Aires, em 1946 e que dá mais pistas sobre como se dá a relação do colecionador com os objetos que busca para sua coleçãos imaginoso, o colecionador cria a cena de uma a v e n ­ tura e suas batalhas para a posse do objeto, um bem que se conquista a duras penas, de onde se pode deduzir a j u s t i . f i. cativa d o r o u b o „ Indo a S ã o Paulo e n ã o c o n s e g u i n d o c o n . vencer Edgard Cavalheiro a doar— lhe o espólio pretendido, Condé retorna frustrado e ferido na vaidade de colecionador, narrando sua insatisfação nos Arquivos, sob o titulo de "Missão em São Paulo ou o fracasso de uma expedição" , onde diz que Cavalheiro não se distraiu em nenhum momento para que ele pLídesse se apossar de algLim ob j a t o c ":>:s 5 ., rüssao., expedição, aventura.

No caso do arquivo de Lobato, Condé comprova na pele o p o de r conferido pela posse dos o b j e t o s , des co bri ndo q u e o espólio de um morto transcende sua vida, mais pelo poder simbólico a c u m u1 a do q u e passa para s e u p o s suid o r dan d o .lhe uma sobrecarga em seu próprio capital, que pela falácia de que a obra continua o autor»

Sub 1 i te rato por obsessiva des p retensao

Condé encontrou na coleção de manuscritos, fotos., pos­ tais, caricaturas e outros objetos de escritores e artistas a razão de sua existência, a ponto de, com o acúmulo s i g n i ­ ficativo destes bens simbólicos, ganhar o direito de figurar ao lado dos textos cios escritores que venerava, embora d i ­ zendo não visar "nenhuma notoriedade p e s s o a l , antes procuro

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contribuir para que a glória dos outros cresça e se firme mediante esta c o n t r i b u i ç ã o 1':, chegando a reconhecer o lugar que lha cabia no meio intelectuais o de "subi itera to" » Por trás desta aparente despretensão não foi possível esconder o desejo de tornar-se um igual aos que venerava, nem tampouco o c u 11a r o u s o do pres t í g io acurnulado para out ros o bj e t i vos que propriamente a coleção» A manifestação do desejo deigualdade é e;<pli.citada nos Arquivos mesmo, através de um diário,; gênero em alta à época, em que publica notas sobre a intimidade que partilhava com escritores e a r t i s t a s ' “3 ) „ 0 uso do poder simbólico que acumulou seria usufruído de diversas maneirass no Jornal de Letras que fundou com os irmãos em 1949; no pedido de sustentação econômica a G s t ú 1i o {^ 3 , destinada ao jornal ; e nas Edições Condé, que publicou 10 histórias de bichos, em 1947,, prefaciadas por Carlos Drummond de Andrade que também as resenharia com pouca restrição e muitos elogios no L&A-, oculto sob o pseudônimo de Po li carpo Quaresma,, Neto' ® 3) „

Da amizade e do trabalho de secretariar escritores como fazia com José Lins do Rego, datilografando seus originais,, surgiu a coleção e dela o bilhete de entrada para o ambiente intelectual,, Obsessão,, autoaf i r m a ç ã o c 3<í> 5 « N-3:'o sendo r e l e v a n ­ te,, até mesmo por uma questão de etiqueta,, já que falamos de vitrines, o que sugere os estudos de Freud concernentes à obsessão, pelo que se refere á inti de Condé, sua o b ­ sessão é plenamente explicável no desejo expresso de a u t o — a fir m a r .se no campo,, malgré seu capital e bilhete de entrada que já o definem como "subi i. terato" „ Uma vez que é a posse ou o nada possuir que determina a posição numa classe, C o n ­ dé, nada sendo, vai encontrar no acúmulo de bens simbólicos alienados de seu caráter de mercadoria e no modo como usa esses bens transformando-os em símbolos, a fundamentação de sua distinção no campo cultural» E s t i m a .se então a importância adquirida pela sua obsessão de colecionador e o sucesso alcançado com os Arquivos implacáveis, sugestivo no nome que por si explica o material que ocupou as duas páginas semanais em L&A durante mais de três anos e depois transfer.iu.--se para as páginas de 0 Cruzeiro. Os Arquivos f o r a m mais que o senti, d o d e 1 i m i. t a d o n o n o me, u ma vitrine d o jornal para expor a intimidade da cultura e da política.

V i. t r i ne s o u, . „

A seção "Os arquivos i m p l a c á v e i s " , ocupou sempre duas páginas em L & A f subdividindo-se em várias seções: "Diário", que trazia anotações pessoais de Condé sobre e scritores com os quais convivia:? "Confissões", com o depoimento de algum escritor sobre gênese de liv.ro que havia publicado; "Album de família" publicava fotos pessoais de gente do meio cultural ou políticos " C o r r e s p o n d ê n c i a ” transcrevia cartas pessoais de escritores? "Curiosidades" apresentava algum ícone como foto, desenho, caricatura etc» que fugisse à atividade conhecida de seu autor; "Galeria política" trazia alguma curiosidade ligada a poli ticosp "Flash", uma ficha com hábitos e preferências de algum escritor, em tom de

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inquérito? "Pedaços de infância'', um depoimento sobre fato da infância do escritor,

Os Arqui vos se apresentaram como um simulacro de

vitrine pelas relaçBes ilusórias que passava ao público leitor expondes imagens da intimidade em profusão, quase desprezando o discurso cerrado, expositivo, do jornal.-, P rivilegiando o que ficava à margem do que se conhecia das personalidades freqüentadoras dos meios de comunicaçlo de massa os Arquivos situavam-se como um r e l a x , a pausa para descanso no meio cio jornal j entre uma critica e um poema,, a intimidade do poeta,,

«buracos por o ride se vê

vitrine que expunha a intimidade invadida pelo colecio­ nador 5 mostrava os objetos fetichizaclos pela sua origem, por terem pertencido a alguma personalidade do meio cultural ou político, estrelas circulando em esferas acima dos olhos da massa» Esta vitrine,, uma página nua ao expor o inabitual,, nua também por suprimir o texto e mostrar a imagem fazia as vezes de simulacro de crônica de hábitos e da intimidade dos artistas,, políticos,, escritores, sendo também para a massa

voyeu r simu.lacro de buraco de fechadura pa r onde se expu-

n ha o curioso, o apare n temente p r o i b i d o ,,

A aparente banalidade desses ícones num jornal s a b i d a ­ mente erudito se compensava pela forma letrada, erudita e aurâtica das personalidades que os autorizavam por ser cie quem e r a m ; "Mestre Aurélio numa caricatura feita por José L. i n s d o Rego ", !! Son e to escrito pelo g ove r n ad o r M i 1 ton Cam pos aos 17 anos cie idade" , Em afinidade com o projeto de fazer de Lê:A um suplemento de massas, Condé cumpre um papel f un­ damental ao assemelhá-lo aos magazines populares, i ncor. porando á literatura a linguagem dos magazines,, Embora tendo-os como modelo L&A mantém seu aspecto erudito não chegando a copiar exatamente a crônica ou reportagem de cos­ tumes típicas; da época, como uma da Revista da Semana sobre José Lins do Rego que expôe a intimidade de su.a família narrada com texto e fotos de Rego com a mulher e filhas, jo­ gando tênis ou na piscina em trajes de banho como as típicas estrelas hol l y w Q o d i a n a s c 2,75 „

L & A 5 ao mostrar objetos capturados pelo colecionador,

f ragmen tarí araen te , realiza uma espécie de comp 1 emen taçíao do imaginário da época ao fornecer aspectos da intimidade ou da gênese intelectual , encobertos; pela aura da erudição, referentes ao si a r.system da cultura» As personalidades, assim, se heroificam nas; páginas do suplemento ao mesmo tempo em que se assemelham ao comum dos mortais ao mostrar suas fraquezas e vaidades, combinando o banal e o erudito, como objetos buscando o meio termo do encanto,,

F ic h a s - f 1 a s h s , relações públicas

Com o mercado constituído para gar a n t i r o consumo de b ens simbólicos a u m e n t o u -se a curio s i dade sobre se u s produtores, originando os típicos a u t o .retratas como os

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"Flash" por C o n d é , que dava detalhes sobre a enfocada indo do número do sapato às de leitura,, Tascabiles bem.humorados,, as

remetem longinquamente às sempre mal -• humoradas fichas biográficas da ainda recente polícia e s t a d o - n o v i s t a „ Mudanças de tempos, mudanças de hábitos. Sendo o 1 ei tor— consumidor agora o inquisidor« em certa medida interessava mais a imagem pública do autor,, que propriamente sua obra,, 0 escritor era,, então, apresentado como um produto bem sucedido, numa atitude completamente diferente à que ocorria na década de 2 0 , por exemplo,, quando não havia um mercado constituído e a edição de obras e sua circulação mínima eram custeadas pelo próprio e s c r i t o r ' 3® ’ „

Relações públicas de primeira hora,, por outro lado,, certamente Condé teve facilitada a sua vida de colecionador ao se basear na disputa existente por um lugar no campo cultural,, que obrigava à exposição da intimidade, num constante retirar das gavetas de objetos curiosos que mantivessem seus donos em evidência no mercado,, conseqüentemente garantindo maior fama e prestígio e postos sol id ifiçados.

E. cie fato, há algo de cruelmente infantil na profusão de 'fotos de escrit o res em f r a 1 d a s , c o m b i n a n d o c o m f lorea d a s

páginas temáticas ilustradas por Santa Rosa e poemas sobre o jardim ou o Natal. Algo somente explicável no mercado, nos olhos ávidos do consumidor--lei tor movido por impulsos e tentando sair de sua nulidade na massa para adentrar no sonho de um poema banal a ponto de falar sua linguagem sem necessidade d e r sf lexão o u n o s o n h o de u ma foto d e 1 i n d o s bebês que,, inexplicavelmente se tornaram escritores,, p e r s o n a1 idades como as do cinema, modelos a serem seguidos, clones m o d eladores de identidade.

IMBECIL IZAÇPiO E POPULISMÜ XLUMINIS7A

A perda da aura

A busca de sustentação dos produtores de bens culturais no mercada não se deu de forma pacífica, sem traumas, o que? aponta para mais um dos sintomas que levaram ao retornes à tradiçãos a perda da aura pela obra de arte, provocada pela sua massificação diluidora que do culto religioso passava ao uso político como forma de emancipação das massas. A deglutição grosseira da arte pelas massas emergentes criou um sentimento de relutância e i n conformismo nos meios cult u r ais mais e r ud i tos ,, p r o vo can d o manifestações con t r a a massificação e diluição da obra cie arte, fato presente também em L&A*

Um dos i n c o n formados à Murilo Mendes que, na série que publica no L & A , Formaçao de d i s c o t e c a , m a n i f es t a .se contra a condensação das obras musicais, a p o n t a n d o .a como sintoma da agitada vicia iBodernat!S‘i') „ E , ao tratar do rádio, reconhece nele um ó.timo meio de difusão da música mas abomina os anúncios entre um e outro movimento de uma obra musical ,, dedicando-se a discorrer sobre a rádio.novela que considera

v eiculados em p e r s o n a I idade preferências fichas-flashs

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1' u in magnífico instrumento de inc u 1 tu r a , u m i n com p a r á v e 1 método de cretinizaçâo do nosso pobre povo" , "monumento da imbecilidade humana [ « » » 3 eis aí uma coisa que nos dá arrepios« A rádio.novela deforma, nâo sò a mentalidade das chamadas classes inferiores da sociedade,; como também a cie uma sensível porçao da classe média,; afastando-a da boa música e do teatro,; que, entre nós, se não é excelente, é pelo menos muito superior à r á d i o - n o v e l a " „

Lâà situado na gênese do populismo

A revolta contra a massi f .i cação diluidora da arte, provocadora da perda cie sua aura,, motiva no suplemento uma atitude típica de sua inspiração iluminista,, a de tentar educar as massas incultas e sedentas por informação,, Adonias F i 1 lio c heg a a teo r isar so b re a f i n a 1 i d ad e d o su p 1 emen to , reconhecendo nele uma missão,, a de levar ao povo a palavra dos 1 i t e r a t o s c<!3X 5 ,= Seu raciocínio nada teve de original ao inspirar-se numa fonte sua conhecida, a do Estado Novo que,, na Constituição de 1937, preconizava a função dos jornais como sendo a de "esclarecer a opinião p o p u l a r ” c<i2> „

0 h o r r a r à massificação da obra de arte por’ um la d o e a simpatia pelas :i.déias populistas por outro co loca os intelectuais de L&A na condição de contribuintes cia gênese populista cie então que se intensificaria levando Getúlio cie novo ao poder» Os traços do populismo aparecem no suplemento desde uma intensa ilustração de suas páginas com xilogravuras e desenhos que têm como tema o povo e o trabalhador, passando por textos de cunho iluminista e indo até textos de género diverso que expressam uma relação mais intimista do problema na consciência do escritor, explicitando habitus adqui r i d o s * 6 3 ’„

Carpeaux, um intelectual de formação extremamente erudita foi um dos que, diante do horror ao mau gosto cias massas e à sua desinformação, tentou reverter a situação criando uma coluna com o sugestivo nome de /I arte explicada

ao povo , oncle procurou explicar' o que era "Beleza e

deformação", "A Guanabara cie Portinari" , a "Madonna Eíixtina" ou a igreja cia Pampu 3. ha c 5 ,, Eivado da intenção cie educar o povo na forma paternalista em que este era considerado pelas elites, d i r i g i u .se a ele como se fosse a cera mole "onde se inscreveriam de maneira bem legível as idéias e as imagens forjadas pelos criadores i n t e l e c t u a i s " <6S!„

Sendo a preocupação cie salvar o povo um sintoma comum às elites intelectuais da é p o c a* * 6 ’ havia os que., como Murilo, preferiam realisticamente colocar a obra de arte bem longe dele,, venci o em sua diluição a sua liquidação, Almeida Fischer ao fazer uma entrevista com Marques Rebelo pergunta- lhes "A literatura deve descer até o povo, ou este elevar-se até ela?" E tem a respostas "No dia em que a literatura descer até o povo ela estará liquidada» Para as idéias fáceis e acessíveis há os jornais» Não creio que nenhum escritor realmente cie valor possa ficar satisfeito em ver sua literatura rebaixada a um vespertino formates tab léide » ,, „ " c > „

Referências