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Desenvolvimento e distribuição de renda: novos elementos para o debate

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Academic year: 2021

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(1)Revista de Direito Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008. Alessandro Gonçalves da Paixão Faculdade Latino Americana alessandro.paixao@unianhanguera.edu.br. Cesar Augustus Labre Lemos de Freitas Faculdade Latino Americana labrelemos@ueg.br. DESENVOLVIMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE RENDA: NOVOS ELEMENTOS PARA O DEBATE. RESUMO Um dos temas mais controversos na atualidade são as formas como se estabelecem a relação entre as estratégias de desenvolvimento e como isto pode melhorar as condições materiais de existência social de forma cada vez mais ampla. Ainda hoje, mesmo com a vasta elaboração teórica a respeito do assunto, não se consegue chegar a um consenso, mesmo mínimo, a respeito de determinadas questões, como: até onde a influência das políticas de renda distributiva pode ou não afetar o crescimento econômico? No capitalismo, é possível o crescimento, sem que haja renda concentrada? O objetivo deste é apresentar, de forma concisa, conceitos que propiciem um melhor conhecimento a respeito de um tema que está presente em todos os setores da sociedade. Palavras-Chave: Desenvolvimento, crescimento, distribuição.. ABSTRACT One important theme which is discussed nowadays is based in the way how the development strategies happen and the effect they have in material conditions of social existence order ever wider. In the present moment, considering the vast and theoretical elaboration about this subject, it is supposed we do not have agreement about some specific questions, such as: how can the influence of politics over the income distribution affect the growth in the economy? Is it possible to have a growth in the capitalism without income concentration? Finally, the aim of this article is to show, in a particular way, the concepts that can help us to have a better knowledge about an issue which is presented in every sector of society. Keywords: Development, growth, distribution.. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 13/05/2008 Avaliado em: 07/07/2008 Publicação: 11 de agosto de 2008 215.

(2) 216. Desenvolvimento e distribuição de renda: novos elementos para o debate. 1.. INTRODUÇÃO Para pensar o desenvolvimento é de fundamental importância estabelecer um extenso debate com diversas áreas do conhecimento, que permita construir uma interpretação que dê conta de entender as diversas formas contraditórias como isto ocorre no capitalismo. O desenvolvimento não significa necessariamente que as condições materiais de vida de uma ampla parcela da população se tornem favoráveis, mas sim que as estruturas sociais passam por diversos processos de mutação que podem ou não interferir de forma positiva neste aspecto. Isto vai depender sobremaneira das formas de articulação entre os diversos segmentos sociais no sentido de conseguir ampliar a apropriação da riqueza social produzida. Diante disso, não é fácil medir o desenvolvimento de um país ou região, pois o seu conceito não está totalmente definido. Isto ocorre principalmente em decorrência de que o entendimento do que seja uma boa ou má qualidade de vida ser bastante relativo, variando entre as diversas culturas existentes. Assim, é necessário construir conceitos que dêem conta elucidar esta realidade. Segundo Castro (2003, p. 103): Para bem compreender em que deve consistir uma estratégia global de desenvolvimento, é necessário primeiramente definir, com clareza e precisão, a noção de desenvolvimento. O mundo sempre viveu sob o impacto de mitos ou idéias-força e o grande mito do século XX é o “desenvolvimento”, assim como a “liberdade” foi o do século XVIII.. Isto significa, portanto, que o entendimento do conceito passa necessariamente por uma contextualização histórica de como o mesmo foi produzido e diante disso, quais interesses a práxis social estabelece como prioritários a ser atendidos. Pensar o conceito como algo externo a dinâmica da sociedade que o criou e, portanto dos interesses contraditórios que permeiam a estrutura da sociedade capitalista, é confundir aparência com essência ou mesmo entender a dinâmica social em seus aspectos reificados o que não permite compreender o movimento real das coisas enquanto algo permeado das contradições. A lógica de construção deste artigo parte da seguinte estrutura: na primeira parte, se estabelece um debate sobre as diversas formas de se entender o desenvolvimento e como o conceito vai sendo apresentado, dependendo do contexto histórico em. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229.

(3) Alessandro Gonçalves da Paixão, Cesar Augustus L. L. de Freitas. que vai sendo produzido. Na segunda parte, compreender as diversas mutações sociais que vão ocorrer a partir de meados do século XX o que vai gerar uma série de novas demandas que vão colocar em xeque as perspectivas da forma de desenvolvimento hegemônica. Para finalizar, será feita uma discussão sobre as contradições do processo de desenvolvimento e como isto ocorre no Brasil.. 2.. DEBATE SOBRE OS CONCEITOS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO A idéia hegemônica de desenvolvimento como elemento norteador das políticas econômicas nasce em janeiro de 1949 no discurso de posse do presidente Harry Truman, quando o mesmo coloca como fundamental importância a democratização e expansão do progresso industrial como forma de garantir o crescimento econômico e melhoria de vida de todas as áreas consideradas como não desenvolvidas do planeta. Isto também vai se estabelecer como estratégia política de garantir o não avanço do império soviético, em um primeiro momento na Europa e Ásia e a partir da década de 1960 na América Latina. Esta idéia então foi precedida de várias interpretações que tentaram dar conta de estratégias políticas, econômicas e sociais que permitissem a superação da situação de denominada de subdesenvolvimento. Segundo Gómez (2005, p. 2): De forma breve, mas contundente, Truman estabelece os fundamentos de um instrumento que reforçará as estratégias de controle social existentes estabelecerá uma nova geografia política: a divisão do mundo em países desenvolvidos e subdesenvolvidos; a consolidação de um modelo de “desenvolvimento” à imagem e semelhança dos países desenvolvidos, que os subdesenvolvidos deveriam seguir; e, a direção de todo o processo nas mãos dos organismos internacionais de controle (Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Organização das Nações Unidas, etc.), dominados pelos países desenvolvidos (com os Estados Unidos na frente). De forma resumida, esses fundamentos, que aquele discurso seminal propunha, ainda hoje conformam as bases do mito/espectro/crença do “desenvolvimento”.. Dentre as interpretações para o fenômeno, Rostow (1961) apresenta uma idéia de linearidade para o desenvolvimento. Este considera que o processo de desenvolvimento se daria em cinco etapas distintas: A sociedade tradicional, as precondições para o arranco, o arranco, a marcha para a maturidade e a era do consumo em massa. Estas condições seriam suficientes para romper com os atrasos que entravavam o desenvol-. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229. 217.

(4) 218. Desenvolvimento e distribuição de renda: novos elementos para o debate. vimento. Entretanto, esta análise desconsidera as particularidades históricas que distinguem as diversas regiões. Diante disso e como tentativa de compreender a relação entre regiões de capitalismo desenvolvido e as regiões onde o capitalismo não apresentava as mesmas condições foi criada a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) foi criada em 1948 pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas com o objetivo de incentivar a cooperação econômica entre os seus membros e também desenvolver estudos que contribuissem no sentido de pensar alternativas para a superação de subdesenvolvimento na América Latina (BIELCHOWSKY, 2000). A perspectiva cepalina vai se desenvolver em contraposição a análise de Rostow apresentando o desenvolvimento não como um aspecto de estapas, mas sim levando em consideração as particularidades históricas das estruturas periféricas do capitalismo, como era o caso da América Latina. Segundo Bielchowsky (2000, p. 22): Não se tratava de comparar o subdesenvolvimento periférico com a história pretérita das economias centrais. Para os autores cepalinos, o desenvolvimento nas condições da perifeira latinmo-americananão seria uma “etapa” de um processo universal de desenvolvimento - como era, por exemplo em Rostow mas um processo inédito, cusos desdobramentos históricos seriam singulares à especificidade de suas experiências, cabendo esperar-se sequências e resultados distintos aos que ocorreram no desenvolvimento cêntrico.. Isto significa que as estratégias para superar o subdesenvolvimento deveriam obedecer a uma análise criteriosa das particularidades locais e diante disso, apresentar elementos que fossem compatíveis com o contexto socio-histórico da realidade em estudo. As análises cepalinas foram de fundamental importância na orientação das políticas de industrialização que se seguiram na América Latina a partir da década de 1950, principalmente no México, Argentina e Brasil. O desenvolvimento econômico, que historicamente começa a acontecer nos países ou estados-nação que realizaram sua revolução burguesa, é caracterizado pelo aumento da produtividade social. Este aumento vem acompanhado por continuo processo de acumulação de capital e incorporação de progresso técnico. De acordo com Furtado (1961, p. 184-185): O subdesenvolvimento não constitui uma etapa necessária do processo de formação das economias capitalistas modernas. È, em si, um processo particular, resultante da penetração de empresas capitalistas modernas em estruturas arcaicas. O fenômeno do subdesenvolvimento apresenta-se sob várias formas e em diferentes. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229.

(5) Alessandro Gonçalves da Paixão, Cesar Augustus L. L. de Freitas. estágios [...] Como fenômeno específico que é, o subdesenvolvimento requer esforço de teorização autônomo. A falta desse esforço tem levado muitos economistas a explicar, por analogia à experiência das economias desenvolvidas, problemas que só podem ser bem equacionados a partir de uma adequada compreensão do fenômeno do subdesenvolvimento.. Além disso, estas análises partiam do pressuposto da importância da ação estatal no sentido de impulsionar e garantir a dinâmica do desenvolvimento, principalmente para equalizar as desigualdades que vão surgindo decorrentes deste processo de modernização estrutural. Isto não significa, porém, que os níveis de desenvolvimento serão iguais a todos. Na verdade, é o contrário, pois variará, de forma substancial, em decorrência da capacidade das nações de utilizarem para promover o desenvolvimento, de seus respectivos estados e de sua principal instituição econômica, o mercado. (BRESSER PEREIRA, 2007). Entretanto, o desenvolvimento do capitalismo nas últimas décadas apresentou algumas questões que forçaram uma reinterpretação do fenômeno. A explosão inflacionária e da dívida externa na década de 1980, bem como a expansão dos índices de miséria em todo o mundo, inclusive nos países de capitalismo avançado (decorrentes principalmente da falência do Welfare State) fizeram com que novas estratégias fossem adotadas no sentido de corrigir estas.. 3.. AS NOVAS REVOLUÇÕES, NOVOS PADRÕES E NOVOS PARADIGMAS: COMO CONSTRUIR MODELOS QUE RESPONDAM AS NOVAS DEMANDAS SOCIAIS É fato que a maior parte das estratégias de desenvolvimento adotadas no século XX, houve um predomínio dos paradigmas econômicos como formas quase únicas de medir as necessidades que foram sendo criadas e recriadas após a revolução industrial. Entretanto, a partir das últimas décadas do século XX, novos paradigmas foram criados e novos grupos e atores foram aparecendo. Diante disso, foi necessário repensar novas soluções que universalizassem os benefícios do desenvolvimento. As novas reividicações surgidas de grupos até então considerados excluídos do processo de desenvolvimento social: negros, mulheres, e todos os grupos minoritários socialmente que demandavam mais espaço de atuação dentro da sociedade. Com relação ao papel das minorias, as reivindicações femininas foram. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229. 219.

(6) 220. Desenvolvimento e distribuição de renda: novos elementos para o debate. muito importantes, haja visto que entrou em pauta assuntos até então não muito debatidos, como o aborto, liberdade de expressão e principalmente a tentativa de emancipação feminina a partir da inserção maior no mercado de trabalho. Foi criada assim uma nova forma cultural, que visava principalmente estimular uma maior participação de amplas camadas sociais e também estabelecer novos padrões que garantissem não só o crescimento efetivo da renda, mas também como isto poderia contribuir para ampliar a qualidade de vida de toda a sociedade. Todas as críticas apontam para as raízes da maioria dos conceitos sobre o Homem e seus aspectos, constituídas no século XV e consolidadas no século XVIII. A Modernidade surgida nesse período é criticada em seus pilares fundamentais, como a crença na verdade alcançável pela razão, e na linearidade histórica rumo ao progresso (HARVEY, 1992). Todas as melhorias ocorridas na sociedade não impediram também que ocorresse uma grande desilusão com os benefícios que, associados à tecnologia, ela alega ter trazido para a humanidade. O acontecimento de guerras mundiais aliadas aos diversos conflitos territoriais ocorridos, a invenção de armas de terrivelmente destrutivas, a crise ambiental global e outros desenvolvimentos do presente século poderiam esfriar o otimismo com relação ao progresso, com o desenvolvimento econômico fazendo com que a sociedade buscasse novos paradigmas no sentido de permitir um clima de sustentabilidade social. A partir de 1960 começa a surgir uma enorme variedade de documentos, pesquisas e estudos relativos à distância existentes entre o crescimento econômico e o desenvolvimento social. O chamado movimento dos indicadores sociais, antecedido por uma grande discussão, foi desenvolvido sob o escudo de diferentes Estados, a partir deste período, o que demonstrou a importância que se dava à busca de indicadores que expressassem mais amplamente as condições de vida das populações (FERREIRA, 2006). Segundo Ferreira (2006, online): A força desse movimento espalhou-se pelo mundo e, no final dos anos setenta, todos os países desenvolvidos haviam criado estatísticas e formas de mensurar o social. Afinal, considerava-se que não existia um mapeamento contínuo das mudanças sociais em assuntos como habitação ou educação, por exemplo, para determinar necessidades, estabelecer metas e avaliar o desempenho governamental.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229.

(7) Alessandro Gonçalves da Paixão, Cesar Augustus L. L. de Freitas. Na década de 1980, juntamente com a consolidação das estatísticas sociais, as autoridades da área econômica mundial e, em particular, as brasileiras, solidificaram a idéia de que era necessário e suficiente o crescimento econômico para a melhoria das condições de vida da população. (FERREIRA, 2006, online): Nos anos 1990, ocorreu a emergência de novos conceitos tais como cidadania, participação, gestão social, que passaram a ser vistos como elementos necessários para complementar as políticas de desenvolvimento. Foi neste período de passagem do século XX para o XXI, que um conceito mais amplo de desenvolvimento tomou força. Já não se podia, de forma alguma, aceitar que os índices atuais existentes, como PIB, indicadores do comércio exterior, taxa de inflação e outros, fossem responsáveis pela tradução das condições de vida do povo. Não se pode negar que hoje existe uma irreversível e forte tendência de se querer ampliar o conceito de desenvolvimento, juntando aos atuais indicadores, metas sociais e ambientais, possibilitando assim, a integração de vários tipos de informações. Hoje, qualquer conceito sobre desenvolvimento, deverá ter como base, um conjunto de elementos inter-relacionados, que visem formar um todo, integrado pelo meio ambiente, condições econômicas, culturais e sociais. Diante disso, deixa-se aqui de lado essa distinção e se considera desenvolvimento e crescimento como sinônimos. Ambos se opõem à estagnação, ou seja, desenvolvimento/crescimento ocorrem quando a economia cresce, expande-se a produção e a acumulação de capital; a sociedade, assim, se reproduz, criando mais bens e serviços para pôr à disposição de seus habitantes, segundo determinadas regras de distribuição. Como afirmar que uma sociedade numa fase ascendente do ciclo há estagnação, ou seja, que a economia não está se desenvolvendo? Não se pode conceber que alguém pode habitar um mundo ou uma localidade, de forma puramente econômica, voltada somente à comercialização. Mesmo sob o ponto de vista especificamente da economia, as decisões tomadas coletivamente têm como fundamento ações que danificam o ambiente, os relacionamentos sociais e culturais, como também as condições econômicas e climáticas. A enorme variedade de abordagens para se integrar informações ambientais, culturais e sociais, com os indicadores econômicos, para melhor embasar as decisões e avaliações, demonstra a importância e atualidade do tema. Segundo Rattner (2006, online):. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229. 221.

(8) 222. Desenvolvimento e distribuição de renda: novos elementos para o debate. O surgimento da crescente preocupação na elaboração de indicadores sociais em um momento crítico da história contemporânea, veio numa época em que o ceticismo e a falta de ilusão em relação ao crescimento econômico, definido e propagado a mais de três décadas, possibilitando assim, a sua rápida expansão nos meios acadêmicos, políticos e administrativos.. Por mais de vinte e cinco anos, o crescimento tinha sido apresentado para as sociedades do ocidente e oriente, consideradas desenvolvidas e subdesenvolvidas, como a principal meta e valor supremo. (GOMEZ, 2005; RATTNER, 2006, online). A adoção de objetivos muito ambiciosos, devido à crença na validade da tese e de suas premissas, levou os países em desenvolvimento, onde era acelerado o crescimento a considerar este o único caminho capaz de resolver os graves problemas relacionados à habitação, alimentação, saúde, emprego e educação, que afligiam de forma constante estas sociedades. Tomando conhecimento de que o acelerado crescimento, portanto, não levava de forma alguma, à maior igualdade e justiça social, tornou-se mister a avaliação da viabilidade de instrumentos e caminhos alternativos para a consecução de uma sociedade justa, democrática e equilibrada. Diante disso, o planejamento sem uma devida investigação e um detalhado diagnóstico das causas do subdesenvolvimento e da marginalização dos enormes contingentes da população é totalmente inviável, tendendo, de forma inevitável a piorar os problemas sociais. Desta forma, é necessário planejar instrumentos, motivações, instituições e normas que possibilitem a realização concreta dos objetivos elaborados e decididos de forma coletiva. Historicamente, segundo Rattner (2006), “a forma de planejamento está repleta de casos em que foram realizados pesquisas e levantamentos para confirmar ou negar hipóteses previamente formuladas pelos tecnocratas e seus auxiliares sobre o que a população quer”. Os indicadores pesquisados, a partir destas circunstâncias, normalmente tornam-se instrumentos de promoção e legitimação de objetivos, projetos específicos e programas, declarados e presumidos como desejados e necessários pelos planejadores. Segundo dados de Bauer (1966, p. 18-19) indicadores sociais são informações que nos permitem avaliar aonde vamos e onde estamos, com relação aos nossos objetivos e valores, servindo inclusive, para avaliar programas de ação e seu alcance.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229.

(9) Alessandro Gonçalves da Paixão, Cesar Augustus L. L. de Freitas. Assim sendo, os indicadores sociais, são, portanto, estatísticas aptas para a medição dos elementos inerentes à condição social e do bem-estar da maioria dos segmentos da sociedade, ao nível dos indivíduos e não de agregados, se possível. Com o tempo, a evolução desses elementos é uma informação que permite avaliar aonde iremos e onde estaremos em relação aos nossos objetivos e valores, possibilitando, inclusive, a avaliação de programas de ação e de seu alcance. Ao se comparar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que procura analisar não somente o desenvolvimento econômico de uma nação, mas, também, fatores ligados a esperança de vida, taxa de renda e de escolaridade. Entretanto não devemos nos esquecer também que esta forma de medida de desenvolvimento também apresenta suas limitações, pois as variáveis utilizadas (educação, renda e longevidade) criam uma homogeinidade artificializada que elimina algumas particularidades importantes como as formas culturais distintas que também podem ser elementos importantes para avaliar o grau de desenvolvimento social. Estes elementos podem ser utilizados inclusive como formas locais de se combater os elementos mais perversos do processo de globalização (SANTOS, 2001; HARVEY, 2004). No caso concreto do Brasil, país caracterizado por um possuir um brutal contraste entre seus indicadores econômicos, apesar do último relatório do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) apresentar o Brasil inserido no grupo de países com alto grau de desenvolvimento humano (PNUD, 2007), o que não significa que as grandes contradições desapareceram. A análise dos índices devem ser feitas de forma cuidadosa, porque por trás dos números apresentados temos de avaliar também o contexto em que foram criados e quais fenômenos pretendem explicar ou mesmo criar, pois “O aparelho estatístico é prisioneiro de uma noção geral que não está de acordo com a realidade” (SANTOS, 1978, p. 7).. 4.. A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA COMO ELEMENTO NECESSÁRIO PARA CONSTRUIR NOVOS PARADIGMAS DE INSERÇÃO SOCIAL Há várias maneiras pela qual a desigualdade da distribuição da renda pode afetar o crescimento, incluindo o fato de um perfil da demanda extremamente diferenciada impedir o aproveitamento das economias de escala.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229. 223.

(10) 224. Desenvolvimento e distribuição de renda: novos elementos para o debate. A desigualdade elevada causa instabilidade sócio-política, o que, por sua vez, dificulta o crescimento econômico. Embora haja efeitos econômicos diretos da forma da distribuição da renda sobre o crescimento econômico, a relação entre essas variáveis seria devida, pelo menos em parte, ao fato de maior desigualdade favorecer maior instabilidade político-social. (ALESINA; PEROTTI, 1994, p. 364 apud HOFFMANN, 1972) Segundo Hoffmann e Duarte (1972, p. 46-66): A diferença que caracteriza a justiça social de um país, esta no padrão de distribuição da Renda Nacional entre esses três setores principais. Infelizmente, de forma tradicional, o Brasil é intitulado como um dos países que pior distribui sua renda. Fato este que vem desde os tempos das sesmarias, onde as grandiosas regiões do país foram dadas à plutocracia familiar e aos escolhidos do rei. Do outro lado, a escravidão e os salários baixos.. Ao se comparar internacionalmente, os países da América Latina, de uma forma geral e particularmente o Brasil, se destacam pelo altíssimo grau de desigualdade em sua distribuição de renda e apropriação da riqueza social. Para se tentar explicar essa desigualdade, seria necessário analisar a formação e evolução econômico-social dessas antigas colônias de Portugal e Espanha. Fundamentalmente, um aspecto dessa desigualdade é, sem dúvida, a elevada concentração da posse de terra, numa época em que a economia dos países da América Latina tinha como base a produção e exportação de produtos primários (PRADO JR., 1961). No caso do Brasil, Furtado (1967) destaca a extrema concentração da renda e riqueza na economia açucareira colonial. O mesmo autor, ao analisar as conseqüências da abolição do trabalho escravo, afirma que "[...] praticamente em nenhuma parte houve modificações de real significação na forma de organização da produção e mesmo na distribuição da renda." (FURTADO, 1967, p. 149). Ainda hoje, essa estrutura ancestral está presente na sociedade brasileira, em que a pobreza nacional ocupa, infelizmente, a maior parte dos estratos sociais. A pobreza no Brasil torna o pobre prisioneiro de um duro e perverso círculo vicioso, onde o indivíduo ganha um salário baixo, porque não possui um nível intelectual satisfatório, sendo que este nível não foi alcançado devido à sua falta de condições de estudar. Esta situação se deu em decorrência de ter que escolher entre o trabalho e a escola, ou, na maioria das vezes, por falta de recursos financeiros para custear os estudos, fenômeno que Myrdal (1972) denominou de causação circular cumulativa.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229.

(11) Alessandro Gonçalves da Paixão, Cesar Augustus L. L. de Freitas. A diminuição da desigualdade como condição de grande importância para se promover o crescimento econômico, parece consenso, em termos de Brasil, cujos objetivos são indispensáveis na redução mais rápida da pobreza. As informações apresentadas no Figura 1 podem nos dar exemplos de como este processo vem ocorrendo no Brasil desde a década de 1990.. 20% 15% 15%. 14%. 15% 13%. 11%. 10%. Série1. 5% 0% 2001. 2002. 2003. 2004. 2005. Fonte: IPEADATA Figura 1. Pobreza - Pessoas indigentes.. Para compreender melhor o fenômeno de distribuição de renda e sua relação com o desenvolvimento, é de fundamental importância a análise das informações a seguir. O gráfico 1 demonstra que o número de pessoas indigentes (pessoas que vivem com renda individual média abaixo de um quarto do salário mínimo) obteve uma redução de quatro pontos percentuais que aliado as informações referentes a Figura 2 podem indicar que na transição do século XX para XXI houve uma pequena melhoria na distribuição de renda no país.. 30%. 27%. 25%. 25%. 24%. 23%. 22%. 20% 15%. Série1. 10% 5% 0% 2001. 2002. 2003. 2004. 2005. Fonte: IPEADATA. Figura 2: Percentual da renda apropriada pelos 1% mais ricos.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229. 225.

(12) 226. Desenvolvimento e distribuição de renda: novos elementos para o debate. Existe uma contradição neste processo, pois a leitura da Figura 3 demonstra que na década de 1990, aumentou o percentual da renda proveniente de transferências governamentais (políticas compensatórias de todo tipo) o que indica que esta melhora não é resultado de um processo que pode ser considerado como uma relativa estabilidade. As condições estabelecidas para esta pequena melhoria na distribuição de renda não são estruturais, ou seja, não é resultado de mudanças significativas na estrutura societária brasileira que possam dar uma sustentação por longo prazo deste processo. Isto ocorre principalmente como resultado de mudanças conjunturais que podem ou não se manter dependendo e muito de uma determinada correlação de forças que se estabelece em um momento específico da realidade brasileira.. 20% 15%. 15% 10% 10%. Série1. 5% 0% 1991. 2000. Fonte: IPEADATA. Figura 3. Percentual da renda proveniente de transferências governamentais.. Por outro lado também, podemos verificar na Figura 4 que a renda apropriada pelo trabalho reduziu enquanto a renda apropriada pelo capital e pelo governo aumentaram no período considerado, o que representa que apesar de algumas melhorias pontuais temos presenciado também um aumento na concentração de riquezas o que expressa uma grande contradição no desenvolvimento econômico nos últimos quinze anos.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229.

(13) Alessandro Gonçalves da Paixão, Cesar Augustus L. L. de Freitas. 50% 40%. 44% 32%. 43% 33% 23%25%. 30%. 1990 2002. 20% 10% 0% Trabalho. Capital. Governo. Fonte: Dedecca et alli, 2004.. Figura 4. Distribuição funcional da renda no Brasil com relação ao PIB.. Segundo Barros e Mendonça (1994, p. 471-490): Um movimento no sentido de diminuir a desigualdade da distribuição da renda no país certamente não pode se basear apenas em determinada política econômica. Na realidade, praticamente toda política econômica tem um impacto, maior ou menor, sobre a distribuição da renda: política fiscal, previdência social, política de crédito, política educacional, reforma agrária etc. Alterações na legislação também pode ter impacto importante. A dificuldade na análise de cada medida é levar em consideração seus diversos efeitos diretos e indiretos, [...]. Pode-se ter desenvolvimento com ou sem melhoria da distribuição de renda, com ou sem melhoria dos indicadores sociais, não havendo nenhuma “lei”, natural ou social, que obrigue um ou outro caminho em termos de economia. A distribuição de renda pode ocorrer, mas não como resultado automático do crescimento e até pode chocar-se com ela.. 5.. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de tudo que foi exposto até aqui, a tentativa constante de implementação de políticas voltadas para o desenvolvimento vem oferecer alternativas consideráveis para transformar a capacidade do Estado, inovando as formas de se buscar atingir as suas atividades, com eficiência. O significado disto é que o capitalismo apresenta como uma de suas características básicas uma tendência de apresentar um dinamismo tecnológico e organizacional (HARVEY, 2001) o conceito de desenvolvimento deve ser compreendido antes de tudo como resultado deste dinamismo (IANNI, 1965; FREITAS, 2006). Pode-se afirmar que o desenvolvimento econômico ou a melhoria dos padrões de vida é um dos quatro grandes objetivos políticos a que se propõem as sociedades. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229. 227.

(14) 228. Desenvolvimento e distribuição de renda: novos elementos para o debate. nacionais modernas, ao lado da segurança, da liberdade, e da justiça social. É um objetivo fundamental que não se opõe aos outros três no médio prazo, mas que terá que ser permanentemente submetido a compromissos em função dos conflitos de curto prazo. O desenvolvimento é um processo histórico que as sociedades nacionais modernas buscam levar adiante através de estratégias nacionais. Desenvolvimento significa, contraditoriamente, transformação e estudo. O estudo, muitas vezes, impede a transformação. Assim sendo, o conservadorismo das sociedades que alcançaram um elevado grau de desenvolvimento, são os modelos ideais de sociedade, as quais procuram combater o desejo de transformar, principalmente se considerarmos que o desenvolvimento tem acontecido historicamente de forma desigual. O grau de desenvolvimento de um país dificilmente será mensurado, porém os indicadores utilizados para mensurá-lo objetivam expressar uma aproximação das condições de desenvolvimento dos países. Em relação aos indicadores econômicos, segundo nossas observações, a partir do explicitado neste artigo, torna-se necessário à elaboração de novos indicadores, além dos tradicionais relacionados com o PIB ou os IGP. Novos indicadores refletirão a preocupação com a qualidade de vida e a conservação do capital natural, observando o estado da cobertura florestal; a qualidade da água potável, a qualidade do ar nas grandes concentrações urbano-industriais, as emissões de gases de efeito-estufa; e a extensão das áreas de manguezais e outros. Trata-se então de planejar instrumentos, motivações, normas e instituições que permitam a concretização de objetivos coletivamente elaborados e decididos. Mas, para suceder nessa política, não bastam os esforços e as boas intenções, nem os eventuais decretos do poder público. É mister mobilizar e organizar a participação ativa das populações locais, comunidades rurais, urbanas e indígenas, em todas as fases de definição das metas, dos parâmetros de planejamento e da execução das políticas, projetos e programas de desenvolvimento. E finalmente, expor que o sistema de organização administrativa, bem como seus serviços, estão voltados para parâmetros internos e externos; e no contexto de “uma sociedade complexa estas políticas devem desenvolver-se orientadas pelo planejamento, que disporá sobre a direção do desenvolvimento”.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229.

(15) Alessandro Gonçalves da Paixão, Cesar Augustus L. L. de Freitas. REFERÊNCIAS BARROS, Ricardo P. de; MENDONÇA, Rosane. Geração e reprodução da desigualdade de renda no Brasil. Perspectivas da economia brasileira 1994. Rio de Janeiro, IPEA, 1993. v. II, p. 471-490. BAUER, R.A. Indicadores Sociais. Editora Ática: São Paulo (SP), 2008. BIELSCHOWSKY, Ricardo. Cinqüenta anos de pensamento na CEPAL. Rio de Janeiro: Record, 2000. v. 1, 488 p. BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Conceito Histórico de Desenvolvimento Econômico. Editora Revan: Rio de Janeiro (RJ), 2007. CASTRO, Josué de. Fome: um tema proibido. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 239 p. DEDECCA, Cláudio Salvadori et al. Mudanças na distribuição de renda individual e familiar no Brasil. Trabalho apresentado no I congresso da associação Latino Americana de População. Caxambu: 18 a 20 de Setembro de 2004. p. 19. FERREIRA, Djalma N. Novos Indicadores de Desenvolvimento. Disponível em: <http://www.ccsd.ca.com.br>. Acesso em: 22 jan. 2008. FREITAS, Cesar Augustus L. L. de.; PASCHOAL, Júlio Alfredo Rosa. Estruturação produtiva e novos paradigmas para o desenvolvimento regional: Goiás e os caminhos para o desenvolvimento. In: CASTRO, Joana D’arc Bardella de (org). Economia goiana: cadeias produtivas, reestruturação, mineração, agricultura e industrialização. Anápolis: Ed. da UEG, 2006. FURTADO, Celso. Desenvolvimento e sudesenvolvimento. Rio de Janeiro Fundo de cultura, 1961. GOMEZ, Jorge Montenegro. O desenvolvimento como mecanismo de controle social: desdobramentos escalares. Revista Pegada, Presidente Pudente, v. 6, n. 1, junho de 2005. Disponível em: <http://www.prudente.unesp.br/ceget>. Acesso em: 12 mar. 2008. 5 p. HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola, 2001. 10. ed. 346 p. HARVEY, David. Espaços de esperança. São Paulo: Loyola, 2004. 382 p. HOFFMANN, Rodolfo; DUARTE, João Carlos. A distribuição da renda no Brasil. Revista de Administração de Empresas, v. 12, n. 2, jun. 1972, p. 46-66. IANNI, Octávio. Estado e capitalismo, estrutura social e industrialização no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1965. 270 p. MYRDAL, Gunnar. Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas. Rio de Janeiro, Saga, 1968. 239 p. PAULANI, M. P.; BRAGA, M. B. A Nova Contabilidade Social. São Paulo: Saraiva. 2004. 297 p. PNUD. Relatório de desenvolvimento humano 2007/2008 - combater as alterações climáticas: solidariedade humana num mundo dividido. Nova Iorque, 2007. 402 p. PRADO JR. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1961. 390 p. RATTNER, Henrique. Indicadores Sociais e Planificação do Desenvolvimento. Disponível em: <http://www.abdl.org.br/rattner>. Acesso em: 20 ago. 2006. ROSTOW, W. W. Etapas do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961. p. 227. SANTOS, Milton. Pobreza urbana. São Paulo: Hucitec, 1978. 118 p. ______. Por uma outra globalização. São Paulo: Hucitec, 2001. 174 p.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 215-229. 229.

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