Corpos silicosos de gramíneas dos Cerrados. III

SeÇSo: Botânica

CORPOS SILICOSOS DE GRAMINEAS DOS CERRADOS. 1111

SRCIO TEIXEIRA DA SILVA2 e LUIZ COUVÉA LABOURIAU

Sinopse

São estudadas as formas de corpos silicoses de dez espécies de gramineas que ocorrera nos Cerra-dos: Andropogon carinatus Nees, A. condensatusll.B.K., A. semiberbis (Nees) Kunth, A. vifiosus

(Nees) Ekman, Panicum campestre Nees, Panicum (Mesosetum) eryochrysoides N & E., P. me-crarithurrt Trin., P. petrosum Trin, Sporobolus aeneus (Trio.) Kuntli. e Trachypogon polymorphus Hack.

Amostras de material de herbário identificado foram lavadas, carbonizadas a 200°C por 2 horas em cadinho de barro poroso, extraídas, com IICI 5N aq. por fervura, novamente lavadas até elimi-nação completa dos cloretos e incineradas a 800°C (2 horas) em cadinho de barro poroso. O resíduo silicoso foi montado em lámina, em bálsamo do Canadá e as formas ocorrentes desenhadas câmara-clara. Os artefatos provenientes de partículas silicosas dos cadinhos e de outras fontes são fácilmente identificáveis pela birrefringência, que está inteiramente ausente nos corpos silicosos de origem vegetal. Descrevem-se e comparam-se as formas de corpos silicosos dessas espécies, como contribuição para a identificação de um sitio de Cerrado pelos fitolitos produzidos por sua flora.

INTRODUÇÃO

Continua-se, neste trabalho, o levantamento de fornias de corpos silicosos de Gramíneas dos Cerrados (Sendulsky & Labouriau 1966, Campos & Labouriau

1969), que faz parte de um projeto cia pesquisas vi-sando a obtenção de informações qualitativas para a análise de fronteiras entre tipos de vegetação con-frontantes dos Cerrados, mediante prospecção de fito-litos do solo (Labouriau 1963, 1966).

MATERIAL E MÉTODOS

O Quadro 1 resume os dados pertinentes às dez espécies estudadas e aos espécimes de herbário que lastreiam e documentam a nomenclatura adotada.

Das amostras de material de Iserbário foram reti-radas algumas fôlitas para obtenção de corpos sili-cosos, manipulando-se unia espécie de cada vez como precaução contra possíveis misturas de material, que difleilmente podem ser detectadas pelo exame das preparações, dadas as semelhanças naturais de formas de corpos silicosos eiss espécies diferentes, já verifica-das em trabalhos anteriores (Campos & Labouriau

1969, Netolitzky 1920, Prat 1060, Sendulsky & La- 1 Recebido 1 aio. 1969, aceito 14 ago. 1960. 2 _{Bolsista da Fundaç5o de Amparo à Pesquisa do stado} de SIo Paulo, na ocasiâo da feitura dâste trabalho. Enderôço atual Depailameoto de Botânica, Instituto de Biocifoclas, Ijuiversidade de Silo Paulo, Caisa Postal 8.105, SSo Paulo, SP. Biologista do Depto. (J. Biologia Vegetal, Instituto de Ciêociat Bio16gica, Universidade de Brasilia, Brasilia, D.F. Ex-Chefe da Seçlo dc Ceobotânica, Iustitut de Botâ-nica, da Sectetaria da Agricultura de Silo Paulo, S.P. e Fesquisador-conferercista do CNPp.

bouriau 1966). As fêlhas foram lavadas em água destilada, a fim de reduzir ao mínimo possível a opor-tunidade de contaminação das preparações por par-tfeilas aderentes ao material herborizado. De fato, um trabalho recente sôbre os corpos silicosos de gra-alíneas amazônicas revela uma curiosa contaminação, felizmente fàcilmente identificável, por uma Diato-mácea (Cavalcante 1068). Cortadas em pequenos pedaços e colocadas no fundo de um cadinho de barro poroso coberto por uma cápsula de porcelana, também cuidadosamente lavados em água destilada, foram postas a secar em estufa a 100°C.

A seguir transferiu-se o conjunto para uma mui la elétrica e procedeu-se à carbonização do material a 200°C por 2 horas, nunca ultrapassando aquela tem-peratura, a fins de evitar a fusão alcalina de silica-tos, que poderia mascarar, soldar ou destruir os cor-pos silicosos.

O material carbonizado foi fervido por 10 minutos em 100 ml de IICI 5Naq, para solubilização dos componentes alcalinos e alcalino-terrosos sob a forma de cloretos, sendo depois filtrado por sucção em fu-nil de BucIsner forrado com papel de filtro analítico. Seguiram-se lavagens com água destilada, para re-moção dos cloretos, o que se verificou testando a água de lavagem com AgNO3 1% aq até obter resul-tado negativo.

O material lavado, reunido ao papeI de filtro, foi colocado em nêvo cadinho de barro poroso, limpo e marcado, e coberto com nutro idêntico, e submetido à incineração na muf la, a 800°C, por 2 horas.

Pesq. ogropec. brag. 5:167-182. 1970 J67

1010 SERGIO TE1XEIRA I)A SILVA e LWZ GOIJVÊA LABOURIAU

QUADRO 1. Infoi-maçõee sdbrc o material eatudado

Dados zlbre as cepéeies Dados zôbre o material de hezbário utilizado

'raxa Ocorrôncia Número

Dietribuiç90 geagróf lua conhecida em de Coletor Data localidade Determinador cerrados regiatro

Aodropen crinotoo Brasil AustraL (Nem, 1829) Warming, 1900 R.2095 F. C. Roehne X111015 Lagoa Santa, MC J.G. Iu1ilmann Nem

Andropogon eodenextoa M8xicoeAntilhaeatlArgentjns Werming, 1009 11-30188 Franclo 24Xf1035 Príximo ô Lagoa J.R. Swoílen ILB.K. (Lucro de Febre, 1901); Monte- Drouet Piauí, Macejene,

vide (Nem, 1820);Antilhnz de 2646 Fortaleza Barlavento e de Sotavento, Tri-

nidad e Tobago (Ritohrook, 1936)."Openratheedryground, eaatern Mdxico and the noutbern W'estlndiez,to Argentina origi- rialy deaecibed from Coldrnbia." (Ujtghcocic & Chase, 1017)

Andrspegcsn eemilerhie América Tropical (Luces de Te- Warmiog, 19011 11-19002 A.J.Sampais 31)1I11920 Cachoeiradofleo- A. Chae (Neee) Kuntb breo, 1963); Colombia. 5445 plendor, Rio Cu-

Bahamas, Cuba, Haiti, S00 DO- mmd, Pozi.

mingue, POrto Rico, Virgin Ixalande (Hitchcock, 1038). "Grasoy bula and eavannas. Florida,through Went [adies to Brasli' (ilituhc&rk and Chane 1917)

Andeepogcco rumou5 Brasil Austral (Nem, 6820) Warming, 1009; 11-18033 P. Dusén 7/111904 Rio Tibegi, Para- Hitchcock

(Nem) Ekenan MagalhOez, 1950 e/o ad

Hei cropeQan niilosuz

(Neez)

Pnniuum campestre Toubati, Pindamonliangaba Warmirg, 1019; 11-31301 Vem Mexia S1IV/1931 Fazenda do Dia- A. Chore Nem (nus Trizi.) (SIo Paulo,Braoih)(Nees, 1829) MagaLhlez, 1986; 6567 amole, (trilha pa-

Eiten, 1063 rafletjro)Czirinto,

MC

Pssicum (Mesooelam) Brasil Meridival (Sehlow), Mi- Warcaing, 1009; 11-2125 KC.Eouhne Xtm101S Lagoa Santa, Mli J.O. Kuhhniana eriochrpso$dcs N. & E. nas Cerais (Langsdorff) izi Neen 6000

(1820)

Puniram rerecznlhum Lagoa Santa (Houhne 8011-itt) Warruiug, 1000 11-18870 A.J. Sumpaio 23/X(1028 CaehoejradoTau- A. Chace

Trin (Kuhlmann, 1048) 6124 rins (via Rio Cc-

mmd), Serra do Tamucumue

PauiuzempefresvmTriu. "Sabanes,deade Panamá hasta Warmiug, 11109 11-40130 J.R. Swallrn 20-25111112934 CarolinaparaSan- J.R.Swallen

Trospapelrozn (Trin) !'sraguay" (Lure de Febres, 3973 te Antonio de Sal-

Cliase 1863) sue. Maranhilo

Tpkitraeea prfrsea

Dc1l

Spsrobolue cercas Chapada do Paraxia (entre Mi- Warasing, 1909 11-2083 P.C. Enches XI/1915 Lagoa Santa, MB J.G. Kul/maan (Trin) Kenth nasGeraieeGoidu)(Nees,1829), Kublncann,1940 8021

Yüfs accra Triu. "SsndyBarrenz,Brasll, VI hence ciriginally dezeribed, and Seu-via"(Hiteheok, 1927)

Trachippepon paignior- Cuba. Brasil (Hitchcock, 1938; arInisg, 1909 11-49078 A.C. Brade X1J/1032

pôua Hack 1936; Hitehcck & Cliazie, 1917) 12240 = Trocôgpoguu

cones-cenz Nees

TrnriIppo950 1 lijsiiue

(Hack) Hitch,

Feoq. agropec. breu. 5:167-182. 1970

Vila Ema, 580 A.C.Brade(?) Pau1, 0?.

CORS'OS SII,JCOSOS DE GRAMÍNEAS DOS CERRADOS. lii 169

Ao fim da incineração o resíduo foi transferido para um pequeno frasco limpo e rotulado.

O cuidado de se cobrirem os cadinhos, quer na carbonização, quer. na incineração, elimina a possi-bilidade de se contaminar a mufla por partículas de material (que contêm corpos silicosos) arrastadas por correntes de convecção; Os cadinhos, uma só vez utilizados, foram quebrados e postos fora, para evitar mais uma fonte de contaminações.

De cada preparação retiraram-se amostras, que fo-ram espa]hadas em bálsamo do Canadá natural pré-viamente colocado sôbre lamínulas, depois montadas• em lâminas, que foram lutadas com esmalte

cosmé-ticO incolor e rotuladas por inscrição de marcas ine-quívocas sôbre inducto leve e sêco do mesmo esmalte. Foram preparadas seis lâminas para cada - espécie.

Procedeu-se a seguir ao exame microscópíco exaus-tivo (microscópio Leitz, Ortholux) das lâminas e ao desenho à câmara-clara das formas ocorrentes. Na confecção dos desenhos procurou-se evidenciar o ca-ráter .tri-dimensional dos corpos silicoses já que, em

muitos casos, formas diferentes no espaço são seme-lhantes em contârno, dentro da mesma espécie ou, mesmo, em espécies diferentes.

Para verificar o aparecimento de artefatos, causa-dos por eventuais contaminações provenientes causa-dos materiais de laboratório ' utilizados na confecção das preparaçôes (como cadinhos, papel, água, reagentes, vidraria) e das próprias poeiras do ar, realizou-se um ensaio em branco. A técnica empregada neste ensaio foi exatamente a mesma descrita acima, excluindo-se, porém, o material de herbário e aumentando-se para 30 o número de discos de papel de filtro utilizados nas 'fases de lavagem e de incineração. As. prepara-ções provenientes, dêste ensaio, montadas em bálsa-. mo, foram observadas ao micros6pio, sendo desenha-dos à câmara-clara todos . os tipos' de formas nelas ocorrentes (Fig. 1).

Uma propriedade muito característica das partícu-las encontradas nas preparações do ensaio em branco é a de' que tôdas elas (com exceção' de um úiico caso individual) . apresentam forte birrefringência quando observadas ao microscópio em nicóis cru-zados

As formas discoidais de artefatos (1.a linha

bori-z1ontal na Fig. 1). apresentam, ainda, figura de'

inter-ferôncia em forma de "cruz de malta", muito ca-racterística.

'Por Outro lado, o exame microscópico das prepa-rações de corpos silicosos das dez espécies de Gra-míneas aqui estudadas revelou que nelas aparecem, em forte desproporção, dois tipos de partículas: a) partículas . nitidamente birrefringentes; b) , partículas

sem nenhuma birrefringência. As partículas do pri- meiro tipo são raras nas preparações, embora sempre ocorram. Suas formas coincidem invariàvelmente com aquelas das partículas observadas nas preparações do ensaio em 'branco (Fig. 1), pelo que é lícito iden-tificá-las como artefatos. As partículas do segundo tipo ocorrem em proporção imensamente ' maior do que êsses artefatos, constituindo, pois, os corpos , sili-cosas atribuíveis às respectivas, espécies de Gramí-neas, que,, como é sabido (Balcer 1961, Netolitzky 1929, Smithson 1958) são de sílica opalina, inteira-n'lente amorfa. Dêsse modo foi empregada, como cri-tério de descriminação entre corpos silicoses e arte-fatos,' a propriedade de birrefringância, característica dêsses últimos. Adotou-se, assim, a precaução de, antes de desenhar' cada forma, examiná-la em nicóis cruzados.

BESULTADOS

As Fig. 2 a 11 contém os desenhos dos corpos silicosos, agrupados por afinidade de forma dentro do conjunto de cada espécie.

1) Caracteres gerais observados

a) Tôdas as espécies estudadas apresentam tipos de corpos silicosos cuja forma' é bastante próxima da de alguns artefatos (diferindo dêstes, porém,' pela au-sência de birrefringência). Este fato evidencia a ne-cessidade da utilização ininterrupta do critério dedis-tinção por 'luz polarizada.

b) Tanto, formas isoladas,' como formas associadas (grupos de corpos silicosos contíguos), ocorrem em tôdas as espécies.

c) Estômatos silicificados são também fácilmente reconhecíveis ,nas preparações de tôdas às 'espécies estudadas, sendo, contudo, mais abundantes em algu-mas do que em outras -

.d) À exceção de Andropogon semiberbis', tôdas as demais espécies apresentam pêlos silicificados (de vários tipos. e tamanhos) em suas respectivas prepa-rações. Tais formas são especialmente 'abundantes e variadas em Andropogon eondensatwg e em Andro-pogon villosus. '

e)' Corpos silicosos em forma de halteres (o tipo clássico entre os fitolitos de Gramíneas) são de ocor-rência bastante geral (com pequenas variações de forma e tamanho), só não tendo sido observados para Panicum. (Afesosetum) eriocln-ysoz'des.

f) 'Igualmente freqilentes são as células epidér-micas "longas" silicificadas, que só não foram segu-ramente identificadas em Andropogo-n' carinatus. 2) Caracteres que não ocorrem em tôdas as espécies

estudadas

a) A . sílica, preparada pela técnica descrita, apre-senta-se, em geral, com o aspecto de um pó branco

Para esta esp&eie há particulas cuja Ídenttlicao como pIos silicffkadc,s dei,os margem a di!ivida.

C0]U'OS SILICOSOS DE GRAMINEAS DOS CERRAI)OS. III 169

Ao um da incineração o resíduo foi transferido para um pequeno frasco limpo e rotulado.

O cuidado de se cobrirem os cadinhos, quer sia carbonização, quer na incineração, elimina a possi-bilidade do se contaminar a mufla por partículas de material (que contêm corpos silicoses) arrastadas por correntes de convecção. Os cadinhos, uma só vez utilizados, foram quebrados e postos fora, para evitar mais urna fonte de contaminações.

De cada preparação retiraram-se amostras que fo-ram espalhadas em bálsamo do Canadá natural prè-viamente colocado sôbre lamínulas, depois montadas em lâminas, que foram lutadas com esmalte cosmé-tico incolor e rotuladas por inscrição de marcas ine-quívocas sôbie inducto leve e sêco do mesmo esmalte. Foram preparadas seis lâminas para cada espécie.

Procedeu-se a seguir ao exame microscópico exaus-tivo (microscópio Leitz, Ortholux) das lâminas e ao desenho à câmara-clara das formas ocorrentes Na confecção dos desenhos procurou-se evidenciar o ca-ráter tri-dirnensional dos corpos sihicosos fá que, em muitos casos, formas diferentes no espaço são seme-lhantes em contôrno, dentro da mesma espécie ou, mesmo, em espécies diferentes.

Para verificar o aparecimento de artefatos, causa-dos por eventuais contaminações provenientes causa-dos materiais de laboratório utilizados na confecção das preparações (como cadinhos, papel, água, reagentes, vidraria) e das próprias poeiras cIo ar, realizou-se um ensaio em branco. A técnica empregada neste ensaio foi exatamente a mesma descrita acima, excluindo-se, porém, o material de herbário e aumentando-se para 30 o ndmero de discos de papel de filtro utilizados nas fases de lavagem e dc incineração. As prepara-ções provenientes dâste ensaio, montadas em bálsa-mo, foram observadas ao microscópio, sendo desenha-dos à câmara-clara todesenha-dos os tipos de formas nelas ocorrentes (Fig. 1).

Uma propriedade muito caracteristica das partícu-las encontradas nas preparações do ensaio em branco é a de que tôdas elas (com exceção de um imnico caso individual) apresentam forte birrefringência quando observadas ao microscópio em nicóis cru-zados.

As formas discoiclajs de artefatos (J,5 linha hori-zontal na Fíg. 1) apresentam, ainda, figura de inter-ferência em forma da "cruz de malta", muito ca-racterística.

Por Outro lado, o exame microscópico das prepa-rações de corpos silicosos das dez espécies de Gra-míneas aqui estudadas revelou que nelas aparecem, em forte desproporção, dois tipos de partículas: a) partículas nitidamente birrefringentes; b) partículas

sem nenhuma birrefringéncia. As particulas do pri- meiro tipo são raras nas preparações, embora sempre ocorram. Suas formas coincidem invariávelmente com aquelas das partículas observadas nas preparações do ensaio em branco (Fig. 1), pelo que é lícito iden- tificá-las como artefatos. As partículas do segundo tipo ocorrem em proporção imensamente maior do que êsses artefatos, constituindo, pois, os corpos sili-cosos atribuíveis às respectivas, espécies de Gramí-neas, que, como é sabido (Baker 1961, Netolitzky 1929, Smithson 1958) são de sílica opalina, inteira-mente amorfa. Désse modo foi empregada, corno cri-tério de descriminação entre corpos silicosos e arte-[atos, a propriedade de birrefringência, característica dêsses últimos. Adotou-se, assim, a precaução de, antes de desenhar cada forma, examiná-la em uicóis cruzados

EESULTADOS

As Fig. 2 a 11 contém os desenhos dos corpos silicosos, agrupados por afinidade de forma dentro do conjunto de cada espécie.

1) Caracteres gerais observados

a) Tôdas as espécies estudadas apresentam tipos de corpos silicosos cuja forma é bastante próxima da de alguns artefatos (diferindo dêstes, porém, pela au-sência de birrefringéncia). Ëste fato evidencia a ne-cessidade da utilização ininterrupta do critério de dis-tinção por luz polarizada.

b) Tanto formas isoladas, como formas associadas (grupos de corpos silicosos contíguos), ocorrem em tôdas as espécies.

e) Estômatos silicificados são também fàcilmente reconhecíveis nas preparações de tôdas as espécies estudadas, sendo, contudo, mais abundantes em algu-mas do que em outras.

d) À exceção de Andropogon semiberbis, tódas as demais espécies apresentam pêlos silicificados (de vários tipos e tamanhos) em suas respectivas prepa-rações. Tais formas são especialmente abundantes e variadas em Andropogon condensatns e em Andro-pogou viliosus.

e) Corpos sihicosos em forma de halteres (o tipo clássico entre os fitolitos de Gramíneas) são de ocor-rência bastante geral (com pequenas variações de forma e tamanho), só não tendo sido observados para Panicum (Mesosetuns) eriochrysoides.

f) Igualmente freqüentes são as células epidér-micas "longas" silicificadas, que só não foram segu-ramente identificadas em Andropogon carinatus. 2) Caracteres que fluo ocorrem em tôdas as espécies

estudadas

a) A sílica, preparada pela técnica descrita, apre-senta-se, em geral, com o aspecto de um pó branco

4 _{Para esta espee Imã partictilas cus identtlicaçáo como}

pêlos silicifkadns debia margem a di!ividas.

COBPOS SILICOSOS DE GRAMINEAS DOS CERRADOS. HZ 171 FORM4S ASSOCIADAS

cK*p

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ANDROPOGON CARiNTuS .NEES

FIG. 2. Corp" silicosos dc Andropgon carinatus Nce.i.

172 SERGIO TEIXEIRA DA SILVA e LWZ GOUVA LABOURIAt FORMAS ASSOCIADAS

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R-FORMAs RARAS SCÉLULAS SL'EROSAS SIUCFICADAS P- FORMAS PECLUAPES

INDROPOGON CONDENSMUS HB,K

FIG. 13. Corpos silicmos de Andropogon condensstus H.B.K.

CORPOS. SILICOSOS DE CRAMINEAS DOS CERRADOS. III ₁₇₃ FORMAS ASSOCIADAS

Lv

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R-PORMAS RARAS P-EORMAS PECULIARES

ANDROP000N. SMIBERBIS (NEES) KUNTH STS t

FIG. 4 Corpos siI.caos de Andropogon sembebi (Nee3) Kunth.

174 SERGIO TEIXEIRA DA SILVA e LUIZ COUVA LABOURIAU FORMAS ASSOCIADAS FORMAS ISOLADAS P

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R-FORMAS RARAS P-FCRMAS PECULIARES

ANDROPOCON VLLQJS .(NES) EKMAN

FIC. 5. Corpos silicososde Andropogcrn vilIcu (Ne) Ekman.

CORPOS SILICOSOS DE GRAMINEAS DOS CERRADOS. ir FORMAS ASSOOADAS

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R-FORMAS RARAS P-FORMAS PECULIÂR9

PANICIJM CAMPESTRE NECS sf5 d.L

FIG. 6. Corpos sUcoos de Paoicuin eampestr5 Nees.

FORMAS SOLA DAS

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176 SERGIO TEIXEIRA DA SILVA e LUIZ GOUVÉA LABOURIAU

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R - FORMAS RARAS P-FORMAS PCULIARS

PANCUM (MESÕSETUM) ERIOCHRYSOIDES

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FIG. 7. Corpos .ilicjeay de Panicim (Mesot.tum) erioehrysoides N, &E.

CORPOS SILICOSOS DE GBAMINEAS DOS CERRADOS. III 171 FORMAS ASSOCIADAS FORMAS ISOADAS

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PANICUM MACRANTHUM IRIN

FIG. S. Corpos silicosos de Patïcun macranthum Trin.

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178 SERGIO TEIXEIRA DA SILVA e LUIZ COIJVËA LABOIJRIAU

50 _u FORMAS ISOLADAS P pi

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PANCUM PETROSUM TRu'

FIG Y. Corpos sos de Penictim retrosum Trin.

CORPOS SILICOSOS DE GRAMINEAS DOS CERRADOS, III 179 rORMAS ASSOCIADAS FORMAS ISOLADAS 101

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R- FORMAS RARAS SCÉLULAS SLJBEROSAS SILICIFICADAS 1'- PORMS PECULIARES

SPOROSQLUS A ENEUS (TRIN) KÚNTH STS M. 10. CorPog sílicosos de Sorobo1us aeneus (Trin) Kuth.

180 SERGIO TEIXF.IRA DA SILVA e LIJIZ COtJVÈA LAI3OURIAU FORMSS 4SSOCÍ5DS o SOP FCAS ISOLaDAS

8~~ 9

₈₈

3ccc

5-FORMAS RARAS P•FORMAS PECIJL1ARES

TRÂCHYPOGQN OLYMORPHVS HACK.

FIG. 11. Cop03 siIiroo & Trac.hypoaou pe1yniorphu Hack.

d) Papilas epidérmicas "cônicas", tipo "stegma-ta" (Netolitzky 1929), presentes em Trachypogon polynwrphus.

e) Corpos silicosos em forma de "telefone", pre-sentes em Fanicum Mesosetum) eriochrsoides e Pa-nicum rrzacranghum.

f) Corpos silicosos de forma singular, com bordos profundamente lobados, presentes em Andropogon condensatus, Andropogon viliosus e Panicum petro-. sem.

g) Corpos silicosos em forma de "cabeço náuti-co", presentes em Panicum campestre, Panicum pe-trosum e Sporobolus aeneus.

Pq. egropec. braA. 5:167-182. 1970

h) Corpos silicosos bulbosos, com três dilatações, presentes em Andropogon semiberbis,. Panicum ina-cranthuns e Panicsnn petrosum.

DISCUSSÃO

O uso de informações do tipo das que se levan-tam no presente trabalho, para o fim de identificar fitolitos em amostras de solo, apresenta diversas limi-tações evidentes.

No nível fitogeográfico á de se notar (Quadro 1) que os limites de distribuição areal de espécies de

CORPOS SILICOSOS DE GRAMINEAS DOS CERRADOS. Ii! FORM5 ASSOCIADAS FORMAS S0LADAS 'P

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R- FORMAS RARAS S-CÊLULAS SUBEROSAO SILICIFICADAS P- FORMAS PCULIARES

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FIC, 10. Corpor siIicoos de Sporobohis 1encu. (Tiin) Knnth.

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180 SERGIO TEIXEIRA DA SILVA e LUIZ GOUVÊA LABOURIAU FORMAS ASSOCPADS Jou _J

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9-FORMAS RARAS P-FoRMs PECULIARES

YRACHYP000N P0LYMORPU5 HACK.

FIG. 11. CoypoA silicc's Trichypogon poyrnorpIiu Hak.

d) Papilas epidérmicas "cônicas", tipo "stegma-ta" (Netolitzky 1929), presentes em Trachypogon polyrrmrphus.

e) Corpos siicosos em forma de "telefone", pre-sentes em Panicum (Mesosetum) criochryoides e Pa-nicuns macranthum.

f) Corpos silicosos de forma singular, com bordos profundamente lobados, presentes em Andropogon condensatus, Andropogon vWosus e Panicum petro-som.

g) Corpos silicoses em forma de "cabeço náuti-co", presentes em Panicum campestre, Panicum pe-trosum e Sporobolus aeneu.s.

re,q. o5ropec bra,. $167-182. 1970

h) Corpos silicosos bulbosos, com trés dilatações, presentes em Andropogon semiberbis, Panicum ma cranthum e Panicum petrosum.

DISCUSSÃo

O uso de informações do tipo das que se levan-tam no presente trabalho, para o fim de identificar fítolitos em amostras de solo, apresenta diversas limi-tações evidentes.

No nível fitogeográfico é de se notar (Quadro 1) qm os limites de distribuição areal de espécies de

CORPOS. SILICOSOS DE GRAMINEAS DOS CERRADOS. III 181

Gramíneas freqüentemente excedem as fronteiras dos Cerrados As conseqüências dêste tipo de ]imitação são aliviadas se considerarmos que o valor diagnós-tico da presença de certos fitolitos é significativo pela concordância mi'iltipla e não pela ocorrência isolada. Essa perspectiva existe porque não só as Gramíneas produzem fitolitos (Netolitzky 1929). Além disso, as decisões sôbre oscilações de. fronteiras entre for-mações abertas (ricas em Gramíneas) e florestas são primàriamente dependentes de dados quantitativos, que independem da identificação das fontes de fito.. litos, funcionando esta como uma i'itil informação adicional,

No nivel taxonôrnico é claro que o julgamento do valor das peculiaridades de forma dos corpos silicosos para a identificação das Gramíneas depende de se estabelecer uma base de indução mais ampla (e even-tualmente exaustiva) para a distribuição de tais ca-racteres na flora dos Cerrados. Como em tôda taxo-nomia "artificial", centrada em poucos caracteres, não é de se esperar distinção completa de taxa em todos os níveis de precisão, mas apenas um dado a nais, a ser incluído e avaliado dentro de um con-texto mais amplo.

Alguns dados levantados apresentam interêsse de outro ponto de vista, ecológico e fisiológico. Assim, pode-se notar a silicificação bastante completa de grandes trechos da epiderme, . abrangendo totalmente estômatos, pêlos, etc. As "células curtas", chamadas "subersas" (Metcaife 1960), também às vêzes se silicificam completamente em Anciropogon conden-saus, Panicum' macranthwn e Sporobo1us aeneus

(marcadas nas respectivas pranchas com S). As "cé-lulas longas", apresentam-se, em geral, completamen-te silicificadas, nas espécies estudadas.• Embora em trabalhos recentes nem sempre esteja claramente ex-presso que tanto células longas, como células suberosas podem, também, silicifícar-se, esta diferenciação já havia sido observada por Fronmeyer (Netolitzky 1929) no século passado. Até mesmo elementos vas-culares do zilema não raro são silicificados. nestas Cramineas dos Cerrados. Além disso, a quantidade de sílica que se pode obter de pequenas amostras de fôlhas . é surpreendentemente elevada. Existe, pois, um traço metabólico comum, representado por inten-sa . e maciça deposição de sílica opalina nas células foliares dessas espécies.. O possível papel fisiológico e as conseqüências ecológicas dessa situação consti-tuem problemas inteiramente abertos.

A identificação histológica dos corpos silicosos aqui descritos só foi possível, sem investigações específicas detalhadas, nos casos evidentes,, como pêlos, estô-ntos, traquéias e células epidérmicas de vários tipos.

Logo, existe também a perspectiva de, se estudar a localização de todos aquóles tipos de formas e a sua ontogênese. Para ésse fim, o levantamento de dados sôbre várias espécies aumenta a possibilidade de uma escolha adequada como objeto inicial de investigação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Divisão de Botânica do Museu Na-cional do Rio de Janeiro, pelo fornecimento do material de herbilrio utilizado, ao Conselho Nacional de Pesquisas e . à Comissão Supesvisora dos Institutos (COSUPI), por auxilio para a aquisiçlo do equipamento utilizado neste trabalho, e à Fundação de Amparo à Pesquisa do EstaSo de S. Paulo, pala concessão de uma Bôlsa de Aperfeiçoamento ao primeiro autor.

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SILICA BODIES OF CRASSES FROM THE "CERRADO'. III Abtract

Sulca bodies rn ten species of grasses from the Brazilian "Cerrados" (Andropogon carinatus Nees, Andro-pogon condensatus H.B.K., Andropogon scmiberbis (Nees) Kunth, Andropogon viliosus (Nees) Ekman,

Panicum campestre Nees, Pardeum (Mesosetum) eriochrysoides N &E., Panícum inacranthum Trin, Pa-tUcum petrosum Trin, Sporoboius aeneus (Trin) Kunth and Trachypogon polymorphus 1 lack.) are studied. Herbarium samples of identified specimens were washed, charred at 200°C for 2 hours, digested with boiling 5N HC1, washed with water to absence of chiorides in the washings and ignited in porous clay crucibles at 800°C for 2 hours. Following this the sílica was mounted on microscope slides in Canada balsam and drawíngs made with a camera lucida. Artifacts coming from partieles imbeded in the crucibles were easily discriminated from opaline plant sílica by the presence of a strong birefringence (which is entirely absent in plani silica). Severa! types of silica bodies were described and compared, as a contribution towards building a catalogue for the identification of Cerrado" soil phytoliths.