• Nenhum resultado encontrado

Diálogos, interseções e consciência histórica na formação dos estudantes de Graduação do Curso de História

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Diálogos, interseções e consciência histórica na formação dos estudantes de Graduação do Curso de História"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

DIÁLOGOS, INTERSEÇÕES E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA NA

FORMAÇÃO DOS ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO DO CURSO

DE HISTÓRIA

RAISSA RODRIGUES BRUNO FIGUEIREDO∗ O Núcleo de Documentação Cultural (NUDOC) foi criado pela resolução n.º 04/ CONSUNI em 09 de março de 1983 e é um órgão vinculado ao Departamento de História da Universidade Federal do Ceará- UFC. Tem como objetivos principais: 1) preservar, conservar e divulgar a memória da história cearense; 2) produzir, apoiar e divulgar projetos de pesquisa, ensino e extensão na área de História.

O órgão compreende os Setores de História Oral e de Documentação. O Setor de

História Oral tem por função elaborar e desenvolver projeto de pesquisa de História

Oral, além de articular grupos de estudos sobre História Oral. Este Setor dispõe de laboratório de gravação de entrevistas, correspondendo estúdio de gravação, mesa de som e 5 cabines de transcrições de fitas. Já o Setor de Documentação objetiva organizar, preservar e conservar o acervo documental doado, adquirido ou produzido pelo NUDOC, constituído por arquivos dos projetos de História Oral, acervos audiovisual, iconográfico e bibliográfico.

O presente trabalho é um esforço de partilha e reflexão acerca das nossas experiências de ensino-aprendizagem, vivenciadas como graduanda em História na Universidade Federal do Ceará. Ele surge a partir de problematizações provocadas pela nossa imersão mais profunda no cotidiano dos cursos de graduação em história, Licenciatura e Bacharelado, existentes na Universidade.

Essa imersão foi propiciada por duas bolsas de iniciação ao ensino-pesquisa. Primeiramente, o impulso detonador do trabalho foi uma bolsa de monitoria do PID (Programa de Iniciação à Docência). Nessa ocasião, como monitora da disciplina

Graduanda em História pela Universidade Federal do Ceará. Orientador: Professor Dr. Jailson Pereira da

Silva. Agência financiadora: Universidade Federal do Ceará (UFC).

(2)

“Introdução aos Estudos Históricos”, tivemos a oportunidade de refletir mais de forma mais cuidadosa sobre a relação que os historiadores estabelecem com os documentos, com as fontes históricas.

Sendo uma disciplina vivenciada ainda no primeiro semestre do curso e tendo, de forma destacada a responsabilidade de acender a chama da curiosidade histórica,

“Introdução...” acaba sendo fundamental para a formação dos novos

professores-pesquisadores em História, pois promove o levantamento de inúmeras questões inerentes à pesquisa e ao ensino da História. É ela, por exemplo, que proporciona os primeiro contato dos discentes com as fontes.

Passada a primeira experiência com a bolsa PID, nosso trabalho de reflexão acerca das interfaces entre o ensinar e o pesquisar história não foi interrompido. Ao contrário, com uma nova bolsa, desta feita diretamente vinculada ao NUDOC, pretendemos ampliar nosso leque de observações, analisando não apenas o contato dos profissionais da História com as fontes, mas a maneira como são “fabricados”, para usar uma expressão do Lucien Febvre, os documentos históricos. Nessa nova modalidade de bolsa, estamos trabalhando no projeto “Experiência de ensino-pesquisa: Trabalho com documentos históricos a partir do acervo do Núcleo de Documentação Cultural

(NUDOC) da UFC”, que visa aliar o saber acadêmico à prática da pesquisa a partir do

acervo histórico do núcleo. Dentre suas atuações são previstas oficinas para que, principalmente, mas não só, os novos alunos tenham esse contato com a “teoria da prática”.

O que podemos perceber até aqui é que, para um(a) graduando(a) recém-ingresso na Universidade, torna-se um desafio a superação da visão da História como a mestra da vida ou como a obsessão pelo passado. Na maioria das vezes, estudantes do primeiro semestre trazem em suas cabeças modelos de compreensão da história tributários do Ensino Médio e de seus, muitas vezes utilitário, usos da disciplina histórica.

Assim, esses estudantes muitas vezes cristalizam o conhecimento histórico e não percebem que a história sempre esteve imbricada nas relações entre os indivíduos ao longo do tempo. Sua compreensão e formas de ser contadas, porém, sofreu diversas mudanças ao longo do tempo.

(3)

Tanto em seu campo de pesquisa quanto no âmbito da disciplina escolar, a História reestruturou-se nas ultimas décadas. Surgiram diversas problematizações e com isso novas concepções acerca do que é ensinar história, para quê ensinar história, bem como do papel do docente perante essas novas acepções.

No germe dessas novas discussões historiográficas vemos a importância do movimento dos Annales. Devemos perceber que o conceito de História não pode ser dissociado do momento em que se situa. Assim, a Escola dos Annales surgiu num momento de grande agitação social e econômica, não só pelos avanços tecnológicos, mas pela deflagração das duas guerras mundiais e o estabelecimento de sistemas ditatoriais na Europa e nas Américas. Nada mais nos faz questionar o que está em voga do que um período de crise. Talvez por isso, Marc Bloch, um dos fundadores dos annales, tanto indagou acerca da razão de ser da História. Em sua obra Apologia da História, nos leva a pensar sobre “Para que serve a história” e qual o papel do historiador na construção do conhecimento.

As questões se repetem porque as respostas não dão conta das inquietações que cada interrogação provoca. A pergunta do Bloch é um dos primeiros dilemas que os estudantes da UFC enfrentam. Não por acaso o livro de Bloch é o principal título trabalhado na disciplina de “Introdução aos Estudos Históricos”, que como o próprio nome diz é responsável por esse primeiro contato com a historiografia a ser trabalhada durante a graduação do curso de História.

Com as experiências proporcionada tanto pelo PID quanto pelo NUDOC, pudemos aprofundar nossas acepções a respeito da disciplina de História, que em geral, era vista como uma disciplina pronta, em que alunos apenas decoram datas e fatos. Esta concepção traz em si o entendimento de que História não teria uma utilidade, uma razão de ser, para além do aspecto de ser um receptáculo onde se guardam as curiosidades humanas. E mais uma vez nos questionamos: “Para quê serve a História?” Porém, esta tarefa de pensar o ensino de história não é fácil.

Apesar de inúmeros avanços, ainda se observa no presente momento, a separação do professor, responsável pelo ensino, e do pesquisador, que produz o conhecimento. Nesse sentido, o projeto em desenvolvimento parte da percepção de uma necessidade de criação de espaços de reflexão e mediação que articulassem ensino, pesquisa e extensão,

(4)

e que se busca ser a semente de um curso de graduação em História. A partir do projeto, com o presente trabalho pretendemos expor questões e problemáticas, inerentes ao ensino de História, que visam a discussão sobre o ensino de história e do processo de construção dos saberes a partir da conexão entre as discussões acadêmicas relacionadas ao “pensar historicamente”.

A historiadora Ivone Cordeiro explicita um ponto fundamental para a formação de novos historiadores:

“Entendemos ser necessário que sejam propostas para o aluno de graduação em história, desde a sua iniciação, na disciplina Introdução aos Estudos Históricos, por exemplo, situações de investigação que apresentem possibilidade de incorporação sistemática de pressupostos, métodos e técnicas de pesquisa, interpretação e apresentação de resultados.”

(BARBOSA, 2008:393)

É necessário que o aluno não apenas receba o conteúdo pronto, mas que tenha o contato com a produção desse conhecimento. Ivone Cordeiro afirma que “não é possível desvincular os conteúdos dos procedimentos que foram necessários à sua produção.” (BARBOSA, 2008: 392)

Aprendizagem histórica e possibilidades de intervenção

Diante disso, importa também expor algumas concepções historiográficas a respeito de como pensamos a aprendizagem histórica e o desenvolvimento da consciência histórica. Compreender os significados relacionados às três dimensões do tempo – passado, presente e futuro – nos parece ser um dos passos essenciais para entendermos a sociedade a partir das novas concepções historiográficas. Cerne do conhecimento histórico, as percepções sobre as relações humanas ao longo do tempo configuram-se como chaves que acionam o pensar e a consciência histórica.

Dentre os muitos pesquisadores que se debruçam sobre a questão atualmente, um dos que possui maior ressonância no campo do ensino de História é Jorn Rusen. O historiador e filósofo alemão entende a aprendizagem histórica como a “consciência humana relativa ao tempo, experimentando o tempo para ser significativa, adquirindo e

(5)

Rusen (2010) levanta questões sobre os porquês do estudo – O que se ganha em insight quando se considera o que está acontecendo na consciência histórica humana como um processo de aprendizagem? O que se ganha em insight quando se considera o processo de dar sentido à experiência do tempo através da memória como processo de aprendizagem? Questões relevantes, pois, é preciso salientar que nem todo conhecimento sobre o passado trata-se de conhecimento histórico. Assim, a justificativa para a mediação do saber histórico a partir das relações entre discussões acadêmicas e práticas de pesquisa no acervo do NUDOC impõe-se como instrumentos para o desenvolvimento mais profícuo da aprendizagem. Tal circunstância se contrapõe a outros tipos de aprendizagem que não promovem um conhecimento rebuscado sobre os métodos da História. Jorn Rusen nos elucida com um exemplo sobre o exposto:

pode-se adquirir novos conhecimentos na maneira como alguém vê televisão passivamente, adquirindo algumas informações históricas e uma nova informação pertencente à história. Isto pode ser identificado como aprendizagem, mas na verdade é apenas a repetição daquilo que já se base e, portanto, não abrange o desenvolvimento real da aprendizagem (Rusen, 2010: 81).

É neste sentido que o historiador JornRusen aponta três dimensões para a aprendizagem histórica. São elas: Experiência, a interpretação e a orientação, e suas articulações se dão dessa forma:

a ocupação da consciência histórica enquanto aprendizagem histórica pode ser abordada quando traz à tona um aumento da experiência do passado humano, tanto como um aumento da competência histórica que dá significado a esta experiência, e na capacidade de aplicar estes significados históricos aos quadros de orientação da vida prática (Rusen, 2010: 84)

Para finalizar, ressaltamos que esses apontamentos são alguns dos princípios que orientam nossa atividade de interseção e mediação do saber histórico entre teoria e prática com os graduandos do curso de História. A prática de pesquisa no acervo do NUDOC, nesse caso, figura como espaço propício ao desenvolvimento dessas questões

(6)

de ordem teórica e metodológica na construção dos saberes sobre o conhecimento histórico. Saberes esses que atinem ao aprendizado dos conteúdos específicos, pedagógicos e integradores em cada formação, mas que apontem também para uma conduta pautada por princípios éticos e pela valorização da sensibilidade, do compromisso e do diálogo. Unindo o saber acadêmico das discussões teóricas às práticas de pesquisa no acervo do NUDOC desejamos que o estudante da graduação do curso de história seja instrumentalizado a teorizar sobre prática de pesquisar sem deixar de praticar a teoria e, a partir daí, cultivar horizontes de transformação e melhoria de sua própria formação e propor a construção de soluções derivadas de uma atuação crítica e criativa.

BIBLIOGRAFIA

BARBOSA, Ivone Cordeiro. Artes de Fazer, Artes de Aprender: o ensino e a

pesquisa em história. In: RIOS, Kênia Sousa; FURTADO FILHO, João Ernani (org.) Em Tempo: história, memória, educação. – Fortaleza: Imprensa Universitária, 2008.

BLOCH, Marc. Apologia da História, ou O Ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

FEBVRE, Lucien. Contra a história historizante. In: Mota, Carlos Guilherme (org.).

Lucien Febvre. São Paulo: Ática, 1978. (coleção grandes cientistas sociais; 2).

RÜSEN, Jörn. Experiência, Interpretação, Orientação: as três dimensões da

aprendizagem histórica. In: SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel;

MARTINS, Estevão de Rezende (org.) Jörn Rüsen e o Ensino de História. Curitiba: Ed. UFPR, 2010.

RÜSEN, Jörn. História Viva: teoria da história: formas e funções do conhecimento

histórico. Trad. Estevão Rezende Martins – Brasília: Editora Universidade de Brasília,

Referências

Documentos relacionados

2 Utilize os botões apontadores  para seleccionar o item pretendido e, em seguida, prima o botão SELECT para visualizar a caixa de diálogo de ajuste.. Utilize os

No final, os EUA viram a maioria das questões que tinham de ser resolvidas no sentido da criação de um tribunal que lhe fosse aceitável serem estabelecidas em sentido oposto, pelo

Taking into account the theoretical framework we have presented as relevant for understanding the organization, expression and social impact of these civic movements, grounded on

É importante esclarecer que, com a divulgação dos resultados do desempenho educacional do estado do Rio de Janeiro em 2010, referente ao ano de 2009, no IDEB, no qual

O Processo Seletivo Interno (PSI) mostra-se como uma das várias ações e medidas que vêm sendo implementadas pela atual gestão da Secretaria de Estado.. Importante

O fortalecimento da escola pública requer a criação de uma cultura de participação para todos os seus segmentos, e a melhoria das condições efetivas para

Deste modo, na busca de indicadores que permitam um planejamento escolar visando contribuir com um crescimento saudável de nossos escolares, é que este estudo foi

Entre as estratégias de enfrentamento analisadas, os dados indicam maior frequência das Práticas Religiosas e Pensamentos Fantasiosos entre os participantes, seguida de