A
natureza
da educação
em
saúde
no
ensino
fundamental
e
os professores
de
ciências
I
Tese
apresentada
ao
.Programa
de
Pós-Graduação
em
Educação,
centro
ae
ciência;aa
Educaçäo aa
Universidade Federal
de
Santa Catarina
i para'
obtenção
do
titulode
»
Doutor
em
Educação
-
Ensino
de
Ciências Naturais.Adriana
Mohr
Prof. Dr.
Mauricio
Pietrocola (Orientador)âisuøiêàcisãiâii
M"
( _
~
i.wøâcâ§i;c:AsrsucAçÀof
uN1vERs1DADE
FEDERAL DE
sAN1'A
cATAR1NA
_
cEN)1'Ro
DE
c1ÊNc1As
DA EDucAçÃo
^
PROGRAMA
DE
Pós-cRADuAçÃo EM
EDucAçÃo
D
cuRso
DE
DouToRADo
EM
EDucAçÃo
Õ
ff!É
~ - I
“A
NATUREZA
DA EDUCAÇAO
EM SAUDE
NO
ENSINO
FUNDAMENTAL
E
APROVADO
PELA
COMISSAO
EXAMINADORA
err!04/O4¡/2002
Dr. Dra.Dra
Dra. Dr. Dra. Dr.OS PROFESSORES
DE
CIÊNCIAS"
Tese submetida ao
Colegiado
do
Curso
de Pós-Graduação
em
Educação
do
Centro
de
Ciências
da Educação
em
cumprimento
parcial
para
a
obtenção
do
título
de Doutora
em
Educação.
...___ u 5.: ‹-›..“2Z¬_.. ». .-A -~ _. . ._....`fi,.._-... ._ . “E
'fr'
` ~¬*fi*f*'.zMaurício Pietrocola
de
Oliveira -CFM/UFSC
(Orientador) _ (ll/U~'“~/l{^.›ÊÉ JJ ¡"%“~ *
Q
Maria
Helena da
Silva Carneiro -MTC/U'nB
(E×aminadora)H/‹‹f‹'A4/éliíz.-.A ¿v~‹~Ó‹-‹~Virgínia Torres Schall -
FIOCRUZ/RJ
(Examinadora)
ij `.1"
-
z-»
Sylvia
Regina Pedrosa
Maestrelli -CCB/UFSC
(Examinadora)
`*Íi*"""'“¿*¿'*¿`/="-'-1)? `_ .z`_,_,z/
Demétrio
DelizoicovNeto
-CED/UFSC
(Examinador)
Wv-
Vivian Leyser
da Rosa
-CCB/UFSC
( Suplente) cJ¿¿¶¿¿(,.(im
Arden
Zylberstajn -CFM/UFSC
(Suplente)r. Luc|d|o Bianchetti
Coordenador do
PPGE
_Adriana
Mohr
zmzn-....,,zzaz=.v..\¬z.nwr...¬-z..sm¡¡~.. . _. -7 ›¬. _ ..._-.-.«. ' âlãiâüíšfiâ SEÍGMAL
came
DE câãmcââsÊWCAÇÃO
UHC
. 2 f'7 ¡¬r-5 É -et
pour
diresimplement
ce
qu
'onapprend
au
mi/ieudes
fléaux,
qu
'ilya dans
/eshommes
plus
des chose:
á
admirer
que
des
chase:
à
mépriser.SUMÁRIO
u_M___Ç_n *E7L;
BIIIITRIÇA IIIQRIAI.
E
câiiiiô IE â:IâIIcIIàs IBIIIMÇÃÓ
LISTA
DE
FIGURAS ó
“fe-^\í¡arzz z.-=--_-_.___. E..¡,.___._._ UFSC..;¿¡{¡¡ _ (7 erra É
RESUMO
7
ABSTRACT
s
IAGRADECIMENTOS
9
APRESENTAÇÃO
13
wINT
RODUÇAO:
CENAS
DO
COTIDIANO
E
O
PROBLEMA
DE
PESQUISA 20
CAPÍTULO
-I -O
SER
HUMANO
E
A
SAÚDE
24
z1 '
f
I.I.
CONHECIMENTOS
SOBRE
SAUDE
NA
VIDA
DIARIA
25
1.2.CONHECIMENTOS
SOBRE
SAÚDE
EA
ESCOLA
29
CAPÍTULO
2
-DEFINIÇÕES
E
ESTUDOS
PRÉVIOS
35
2. I.
EDUCAÇÃO
EM
SAUDE; DEFINIÇÕES NECESSÁRIAS
36.2.2.
ESTUDOS
SOBRE
OTEMA
DA
TESE;REVISÃO
BIBLIOGRAFICA 45
CAPÍTULO
3
-ASPECTOS
DO
TEMA
RELEVANTES
PARA
A
ANALISE
SI
3.1.
A EDUCACAO
EM
SAÚDENA
ESCOLA
BRASILEIRA
52
.3.1.1.
A
educação
em
Saúde
como
Programas
de Saúde 55
3. I .2.
A
educação
em
saúde
como Tema
Transversal62
_ 3.1.3.
A
educação
em
Saúde nasredes
de
ensino públicoem
Florianópolis76
3.2.
O
ENSINO
DE
CIÊNCIAS
EA EDUCAÇÃO
EM SAUDE
so
3.3.
O
PROFESSOR
EA
EDUCAÇÃO
EM
SAUDE-
92
3.3. I.
Formacao
92
3.3.2.
Conhecimentos
econcepções
100
3.3.3. Prática
pedagógica
'3.4.
ALFABETIZAÇAO
CIENTÍFICA
EILHOTAS
DE RACIONALIDADE
105
3.4.1.
Conhecimentos
relativos a saúde: quais e paraquê
?105
_ 3.4.2.
A
contribuiçãode Gérard
Fourez 110
3.4.3. Interdisciplinaridade 1 13
'
. 3.4.4. Alfabetização científica
115
3.4.5. ilhotas
de
racionalidade120
3.4.6. Etapas
de
construçaodas
ilhotasde
racionalidade124
CAPÍTULO
4
-EDUCAÇÃO EM
SAÚDE
NO'
ENSINO
FUNDAMENTAL
Esco|.As
PúB|.|cAs
DE
|=|.oR|ANÓPo|.|s
127
4.1.
AS
ENTREVISTAS
NO
CONTEXTO
DO
PROBLEMA
DE
PESQUISA 128
4.1.1. Técnica utilizada
no
estudoda
praticados
professores130
4.2.
COMO
FORAM
REALIZADAS
AS
ENTREVISTAS
134
H`
4.2.1. Etapa
de
pilotagem134
.4.2.2. Escolha. das escolas e
dos
professores para as entrevistas134
~ ~4.2.3. *Contato
com
as escolas ecom
os professores137
4.3.
coNTEúDo
DAS QUESTÕES DAS
ENTREv|sTAs 143
- -4.4.
PROCEDIMENTOS DE
TRANSCRICAO,
ORGANIZAÇÃO
ECATEGORIZAÇAO
DAS
RESPOSTAS
OBTIDAS
NAS
ENTREVISTAS 150
4.5.
ANÁLISE
DOS
RESULTADOS
DAS
ENTREVISTAS 162
4.5.1.
A
formação
do
professor '163
4.5.2.
O
professor e a realidadedos
alunos169
4.5.3.
O
professor e osconteúdos
177
A.
4.5.4.
A
educaçäoem
saúde
no
projetopedagógico da
escola182
4.5.5.
O
professor e os recursos didáticosna
educação
em
saúde
z189
-4.5.6.
O
professor e seus objetivos para aeducação
em
saúde 198
cAPiTu|.o
5
-PERsPEc1'|vAs
DA
EDUCAÇÃO EM
SAÚDE
NA-
Esco|.A
216
5. I. LIMITES E
POSSIBILIDADES
DA
EDUCAÇÃO
EM SAÚDE
NA
ESCOLA 217
5.2. Nici-io
DA EDUCAÇÃO
EM SAUDE
NA
Escoifx
220
5.2.1.
A
transversalidade eo
caráter interdisciplinarda educação
em
saúde
222
~5.2.2. Contribuição das ilhotas
de
racionalidade, ocasiõesde
aplicação eo
*papelrdas disciplinasescoiares
225
5.3. LIMITES E
CONTRIBUICOES
DOS
PROFESSORES
DE
CIÊNCIAS
PARA
A
EDUCACAO
EM SAÚDE
232
5.3. I. Professores
de
ciências paraquê
?232
5.3.2. Limite ético
236
z
cAPiTuLo
ó
-coNci.usõEs
239..LITERATURA
CITADA 244
ANEXOS
ANEXO
I. Roteiro das entrevistas255
ANEXO
2. Transcrições das entrevistas257
ANEXO
3. Fichas-resumo das entrevistas365
LISTA
DE
FIGURAS
Figura 1 - periódicos revisados
47
_Figura 2 -
número
de
escolas por redesde
ensino e regiõesde
Florianópolis135
Figura. 3 - bairros
de
Florianópolis136
. ~
Figura
4
-dados
sobre os professores entrevistados140
Figura 5 -local
de
formação dos
professores entrevistados 141 Figura 6 - habilitaçãodos
professores entrevistados141
Figura 7 -
pós-graduação
dos
professores entrevistados142
_Figura
8
-idadedos
professores 'entrevistados142
\
Figura 9 - relaçäo entre
conteúdos
de
ciências eeducação
em
saúde
178
»Figura 10 - niveis
dos
conceitos224
Figura 1 1 -
formas
da
educação
em
saúde
segundo o
conteúdo da
atividade243
RESUMO
A
educação
em
saúde
(ES)tem
sidouma
componente
importantenos
currículos
da
escolafundamental
brasileira.Em
1971foram
criados osProgramas
de Saúde
e, recentemente, os Parãmetros Curriculares Nacionais estabeleceram a figurada
EScomo
tema
transversal.Na
escola, a ESvem
sendo
tradicionalmente desenvolvida pelo professorda
disciplinade
ciências,mas
não
existeuma
analiseadequada
da
pertinência desta atribuição. .V
.
O
trabalho teve por objetivo analisar a atividade didáticana
áreada
ESde
professoresde
ciênciasnos
3° e 4° ciclos das redesde
ensino públicodo
municípiode
Florianópolis, SC, Brasil.O
estudo
foi realizado atravésde
entrevistas semi-estruturadascom
vinte docentes.A
práticapedagógica dos
professores foianalisada
quanto
aos objetivos propostos,conteúdos
desenvolvidos e estratégias didáticas utilizadas.O
resultado das entrevistas foi discutido a partirde
aspectos desenvolvidos e analisadosna
tese: a presençada
ESnos
currículos brasileiros,sua
relação
com
o
ensinode
ciências, aformação
de
professoresem-
ES, aalfabetização científica, os conceitos
de
ilhotasde
racionalidade e ocasiõesde
aplicação,
além
de
aspectos éticos envolvidos. . AA- análise das entrevistas e
da
literatura permite afirmarque
a ESna
escolatem
sido orientada para objetivos alheios e espúrios a instituição escolar. Sustentoque
é necessario reorientar a ESna
escola e fundamenta-lasegundo
trêseixos coerentes entre si: axiológico, epistemológico e metodológico.
O
primeirodeve
permitirque
a ES seja desenvolvidacomo
uma
integrantedo
objetivoda
alfabetização cientifica. Esta meta, necessita
de
um
curriculoorganizado
de
modo
a oportunizarenfoques
interdisciplinares, permitindo,ao
mesmo
tempo,
que
as disciplinastenham
significado para os alunos e a valorização delascomo
instrumentos privilegiadosde compreensão
do
mundo.
Por. fim, esses doisaspectos materializam-se
na
salade
aula- atravésda
construção das ilhotasde
racionalidade e
da
utilizaçãode
ocasiõesde
aplicação. . 4Palavras-chaves:
educação
em
.saúdeƒeducação
em
ciências, ensinode
ciências,formação
de
professores. `'
E `
ABSTRACT
Health education (ES) has
been an
importantcomponent
in' thecurriculum of Brazilian primary schools. ln l97l legislation
on
HealthPrograms
was
passed and, recently the National Curricular Parameters established health education as a transversal topic. Traditionally ES is a task ascribed to the scienceteacher, but there is
no
analysis of the pertinence of this allotment.-T
he aim
,of this project is the analysis of the -performance of scienceteachersofmiddle
public schools in Florianópolis, Santa Catarina State, Brazil. ltisbased
on
the results of semi-structured interviews withtwenty
teachers.Teaching
practices are analysed in- relation to objectives,program
contents,and
the teaching strategies used.Results of the interviews are discussed in relation to the-
themes
discussed in this thesis: ES presence in school curricula, its relations with scienceteachings, teachers
background
in ES, scientific literacy, Fourez'concept
ofrat/'ona/izy is/and
and
Astolfi' application occasions. - 'Analysis of the bibliography
and
of the interviews leads to the conclusion that ES in schools hasbeen
aimed
at objectiveswhich
are foreignand
extraneous to the school as a teaching institution.l sustain that it is
mandatory
to re-direct the ES in the school curriculumand
tofundament
itupon
axiologic,methodologic
and
epistemologic,coherent
axes.
The
first should define ES asan
integral part of scientific literacy. Thisobjective
demands
acoherent
curriculum., organized in away
as _to allowan
interdisciplinary
approach
which
will' express, at the»same
time, themeaningfulness
of the disciplines for the studentsand
theiracknowledgment
as privileged instruments for the understaing of the universe.These
two
aspects materialize themselves in the classroomrthrough the construction of the rationa/izy is/and:and
application occasions. `.
'
›
_ _
`
Key-words:
health education, science education, science teaching, teacher'strainning programs. _
- ~
'
.- ` E
‹ agrêêdecšrrzeéaãtos
`
AGRADECIMENTOS
. .Permitome
sugerir aos leitores avessos a longas listasde
agradecimentos
que
saltem estas quatro próximas páginas. Éinteiramente impossível para
mim
iniciar este trabalho escritosem
deixar registradomeus
agradecimentos
asinúmeras
'e diversas colaboraçõesda
qual atese é tributária.
Durante
estes seis últimosanos
(tão longos, tão curtos...)foram
pessoas e
momentos
que,juntamente
com
o
trabalhoárduo
de
análise e síntese1,.
de
longas horasde
entrevistas (para realizar e para transcrever), muita leitura eredação, fizeram possível a existência deste
amontoado
de
folhas que,aos mais
otimistas e a
mim,
parece seruma
tese. ›Mauricio Pietrocola foi
o
melhor dosorientadores
esempre
um
sábio:desde cedo soube
incentivar idéias tímidas (o projetode
bo/sa-sandu/'chena
França, porexemplo)
e apoiar,de
forma
irrestrita, decisões importantestomadas
ao
longo
do
percursode doutoramento (como
a
de
prestarconcurso
para aUFSC,
quando
isto teria influência diretano tempo
destinadoao
trabalhode
tese).Soube
escutar, sugerir, ensinar, orientar, incentivar,
compreender
e valorizar.Sua
serenidade, inteligência e
uma
competência
profissionalmuito
grande
transformaram
minhas
dúvidas e incertezasem
caminhos
promissores.Jean-Pierre Astolfi é hors-concours
na
categoria orientação exp//'c/'tae
oculta. Foi a partir
de
seus semináriosno Programa de
Pós-Graduação
em
Educaçäo/UFSC,
em
l995
e19%,
que
a teoria explicou a experiência (e vice-versa)e
quando
tudo
começou
a fazer sentido. Suas obras sobre didáticadas
ciências descortinaramum
mundo
novo
paramim.
Sua. orientação durante a bolsa-sanduíche
e seumerecido
prestígio abriram portasincomuns
ao estudante
estrangeiro
em
solo francês. _`
Professores
de
ciênciasde
52 a 82 sérieda
rede estadual e municipalde
ensino,
em
Florianópolis,pacientemente suportaram
minhas
perguntasnas
entrevistas e,
em
horas a fio,me
relataram suas atividades pedagógicas. Espero,um
dia, estar a altura para retribuir a confiança depositada. A* `
As
professoras MariaAparecida Lehmkuhl, da
Secretariade
Estadoda
'. , `
' ~ -›
Educaçäo
eMônica da
Luz Moreira,da
Secretaria Municipalde Educaçäo de
agrzadetiinentos
Florianópolis,
prestaram-me
informaçõesou
empreenderam
açõesfundamentais
que
permitiramo
trabalhode
entrevistas.Carlos
Eduardo
Pires GraultVianna de Lima
eAdauto
JoséGonçalves
de
Araújo, colegas eamigos da Fundação Oswaldo
Cruz, apoiaram,de
forma
constante e concreta, a realização
do
doutorado
em
Florianópolis ena
França.Os
professoresdo Doutorado
em
Educação:
Ensinode
Ciências Naturais,da
Universidade Federalde
Santa Catarina criaramum
curso pioneirono
Brasil e possibilitam- a seus alunos
aprendizagens
e convivênciasde
inestimávelvalor. ~
.
Os
professoresdo Departamento de
Metodologia
de
Ensinoda
Universidade Federalde
Santa Catarina e,em
especial, os colegasda equipe
de
Didática -
Demétrio
Delizoicov,Jane
Bittencourt, Maria HermíniaLage Fernandes
Laffin e
Vânia
BeatrizMonteiro
da
Silva -tornaram
possivel a conclusão destetrabalho
ao
me
concederem
um
ano
de
afastamento
de
minhas
atividadesacadêmicas
para finalizaçãoda
tese. Estes colegas fizeramo
impossivel para solucionar aequação
cada
vez mais perversaem
nossas Instituições Federaisde
Ensino Superior:o
número
crescentede
alunos aatender
nas disciplinasde
graduação
epós-graduação
e a escassezde
quadro
docente
para tal tarefa.A
equipe
do
Dépa/tement
des
Sciences Expér/'menta/esdo
InstitutNational
de
Recherche
Pédagogique
em
Paris, especialmenteAnne
Vérin, BrigittePeterfalvi, Claudine Larcher e
Guy
Rumelhard
e MarylineCoquidé
da
Éco/eNorma/e
Supérieure,Cachan
me
permitiuuma
convivênciamuito
proveitosa eimensos ensinamentos
de' didática das ciências e vida acadêmica, durante a estadana
França. ~`
A
CAPES
concedeu
(epagou
com
absoluta pontualidade)uma
bo/sa-'sanduiche
que
me
permitiunove
meses de
trabalho junto a equipesde
didática das ciênciasna
França.Eliane
Nunes
Silva(COMUT/BU/UFSC)
e aequipe
que
edita osSumários
Correntes (MAST/RJ)
desempenham
um
trabalhodedicado
e eficiente 'que fezparecer-menor
a lamentável realidadeda
faltade
atualidade edo
desfalquede
titulos e
volumes
de
periódicos importantes, nas bibliotecasda
UFSC. Jussara Long,agradeciêweflltos
chefe
da
bibliotecada
Escola Nacionalde Saúde
Pública (FIOCRUZ/RJ),mesmo
de
longe, colaborou
quando
foi precisocom
relação a separatas. _Os
comentários e sugestões proferidos por ocasiãodo
exame
de
qualificação pelos professores
Demétrio
Delizoicov, Sylvia Regina PedrosaMaestrelli e Vivian
Leyserda
Rosame
ajudaram
a ver,mais
claramente, osrumos
do
trabalho. '~
r
ç
.
Oscolegas
eamigos
Nadir Castilho Delizoicov, Vivian Leyserda
Rosa
eArden
Zylberstajn discutiramcomigo,
de
maneira
formal e informal, ametodologia
de
entrevistas,aportando
diversoselementos
de
sua experiênciamuito
mais sólidae
sedimentada
do que
a minha,o
que
permitiuum
trabalhode
campo
mais
profícuo.
-'
Com
Carlos Daniel Ofugi Rodrigues, IsauraGonçalves Simões
Angotti e Terezinhade
Fatima Pinheiro, colegasde
Pós-graduação, passei agradáveis horasde
leitura, discussões eaprendizagem
das idéias e conceitosde
Fourez,em
um
grupo
de
estudoque
perdurou
portodo o
segundo
semestrede
1999.A
A
amiga
Mariados
Santos foi paramim
aembaixadora
do
Brasilem
Paris,
fornecendo
apoioem
diversas situações duranteo
períodode
bolsa- sanduíche. _-
-_
Minha
mãe
Cléia investiumuito
_de seutempo
e talentosperseguindo
separatas
em
_ varias bibliotecasde
Porto Alegre. Realisou,também,
uma
insubstituível correção
do
texto final. _Meu'
irmão Fabio éum
especialistaem
mapas
digitais: graças a ele a representaçãoda
Ilhade
Santa Catarina ficou linda.Além
disso, auxiliou aformatação
do
trabalho emuito
da
estética final deve-se a ele.Toda
minha
familia, os presentes e osque
ja tãocedo
se foram,de
Porto Alegre edo
Riode
Janeiro,me
cercaram
sempre
de
muito
carinho,amor,
compreensão
e estímulo. ParaAnna,
Carlos Henrique, Christóvão, Cláudia, Cléia,Daniela, En/vino, Fabio, Felipe (que está
chegando),
llma, Leonardo, Lourdes,Lurdinha, Luísa, Luiz Felipe,
Manoela,
Martina, Murilo,Oswaldemar,
Udo
eVilma
minha
maisprofunda
gratidão. ''_
_
_
'
agradecimentos
E, por fim,
meu
imenso
e especialagradecimento
ao Fernando
que
trabalhou
muito
discutindo textos, clareando idéias, redações eme
ajudando
com
as traduções
de
lingua inglesa-_ Elesoube
sero
critico rigorosode algumas
horas eo
desata-nósde
outras. Ésempre
e, sobretudo,o
dulcíssimocompanheiro de
todosOS lTIOl'Tl€'l`lÍOS. ` K
'l
. a.preseni:aç«ão
APRESENTAÇÃO;
A
educaçãoem
saude assentada sobre prescrições e proscrições ê condenada sem que nenhum outro enfoque seja proposto.Nos só podemos deplorar tal fatoe encorajar os pesquisadores a
r
preencher esta lacuna.
Dressen, C. W294.
.
A
tesede
Doutoramento
em
Educação:
Ensinode
Ciênciasque
ora_ apresento reflete,
como
não
poderia deixar .de ser,minha
trajetóriaprofissional,
com
as suas diversas vivências, experiências,indagações
epreocupações.
-~
i
,
Como
agrande
maioriados
que
ingressamno
Curso
de
CiênciasBiológicas,
meu
objetivode
vidanaquela
época
de
estudantede graduação
eraa
pesquisa biológica. Foi nesta perspectiva
que
trabalheicomo
bolsistade
iniciaçãocientífica
na
areade
entomologia
(Universidade Federaldo
RioGrande
do
Sul) e,mais
tarde,como
Auxiliarde
Pesquisano
laboratóriode
paleoparasitologiana
Fundação
Oswaldo
Cruz (FIOCRUZ),quando
me
transferi parao
Riode
Janeiro.Ainda graduanda,
ecom
enormes
dúvidas sobre a qualidadeda
formação pedagógica
recebidadurante
o
curso, inicieiminha
experiênciapedagógica
como
professorado
ensino fundamental. Trabalheicomo
responsávelpelo laboratório
de
ciências ecomo
professorade
52 série.Em
seguida, atuei capacitando professorasde
Ia a 42' sériesda
escola para realizarem aulas práticas eas auxiliei
em
suas atividadescom
os alunosno
laboratórioda
escola.'
Naqueles
meados
da década
de
1980, exceto livrosde
Oswaldo
Frota- Pessoa,Myriam
Krasilchik eGeorg
Hennig,pouco
conhecia sobre textos e pesquisas especificosde ensinode
ciências,mas
fascinou-me a leiturade
um
texto (hojenão
consigo identifica-lo)que mencionava
um
conceitoentão
novo
paramim:
cienciadas
crianças. .O
Dois
anos
'foram suficientes para mostrar ecomprovar
as limitaçõespedagógicas
de
um
enfoque
tradicionalno
ensino,como
eu
vinha realizando, e a necessidade inadiávelde
estudar maisprofundamente
aspectosdo
ensino'de
TÃ-apresentação
ciências para ser
capaz
de
propor transformaçõesbem
fundamentadas.
Minhas
aulasnão
maisme
satisfaziam. Deixei a escolano
finaldo
terceiroano
de
atividades docentes, jácomo
alunado
Curso
de Mestrado
em
Educação
do
institutode
EstudosAvançados
em
Educação
da
Fundação
GetúlioVargas
(IES/-\E),
também
no
Riode
Janeiro. ›Embora o
IESAEnão
oferecesseuma
áreade
concentração
específicaem
ensino .de ciênciasou
saúde, as atividades profissionais desenvolvidasna
FIOCRUZ
fo maior
centro latinoamericanode
pesquisana
áreada
saúde
-dirigiram-me a
um
trabalhode
Dissertaçãoque
abordasse
o tema
da
saúde. Desenvolvi, assim,um
estudo sobreo
conceitode
saúde
veiculadonos
livrosdidáticos
de
la a 43 sériesdo
ensinofundamental
mais distribuídos pelo Ministérioda Educação no
Riode
Janeiro (Mohr, l 994).Os
erros conceituais, a qualidadedos
textos, exercicios e ilustrações já os havia vivido e sofrido
como
professora. Queria, então, estudá-los epropor formas
de
superação
do
problema. ~Na
Escola Nacionalde
Saúde
Pública eem
outrasunidades
da
FIOCRUZ,
convivicom
profissionais oriundosde
diversas áreasde
formação
(veterinária, medicina, biologia, engenharia, dentre outras)
que atuavam
em
projetos
de
saúde.Chamou-me
aatenção
a visãoque
muitos delestinham
sobreo
que
era ecomo
deveria ser realizada aeducação
em
saúde
(ES)z nasações
realizadas dentro
de
seus projetosde
pesquisa junto acomunidades
que
enfrentavam problemas
de
saúde. Explicitadaem
conversasou
em
pu.blicações, a visãode educação
erasinônimo
de
informação:sendo
apopulação corretamente
orientada sobre ols) problemals) e
devidamente
instruída sobre asformas
corretasde
agir, aconseqüência
séria necessariamente a resolução ou,no
mínimo,
adiminuição
do
problema.Assim,
uma
comunidade
onde
a esquistossomose éendêmica
deveria ser alertada e instruída sobre aorigem
do
problema
lacontaminação
do
açude
adjacente por
Sch/stosoma
mansoni
eo
ciclo biológico deste parasita,que tem
caramujos
do
gênero
Biompha/ana
como
hospedeiros intermediários) e os.meiosde
evitá-lo. Estes incluemde
forma
obrigatória (alémdo
tratamento clinicodos
individuos e
da
aplicaçãode
moluscicidano
açude)não
ter contatocom
aágua
do
açude
enão
defecar forade
fossas sépticas.Com
tal convicção, organizava-se,com
maior
ou
menor
grau
de
sofisticação, palestras nas quaiseram
exibidosapresentação
exemplares
de
caramujos e parasitas,esquemas
com
o
cicloda doença
e cartazescom
oscomportamentos
aserem
seguidos paraque o
problema
deixassede
existirna comunidade.
Esta rotina aconteciacom
afinco ededicação
dos
profissionais e era realizada orareunindo
toda acomunidade;
oraelegendo
grupos-alvo:donas
de
casa, lavradores ou, ainda, os-alunos daescola. Neste ambiente, a professoralocal,
com
enorme
entusiasmo
de
fazero
melhor
por seus alunos, cedia suas aulas6 €SCutaVa maravilhada OS doutores que vinham ensinar coisas tão importantes.
OS
alunos,após escutarem
as preleções,eram
instados a fazer cartazes e a apresentar seus trabalhos sobre aspectosda
esquistossomose' e, mais importantede
tudo,relacionar as
formas de
prevenção.Os
trabalhos concluídos - podia-se ministrartambém
pré epós
testes -eram o
resultadode
uma
missãobem
cumprida.Evidentemente,
uma
vezque
aequipe
se retiravada comunidade,
a vida voltavaao
seu normal, asmulheres
continuavam
a reunir-seno
açude,não
só para lavar 'a roupa,mas
paraconversarem
sobre asnovidades
do
dia; as criançasvoltavam
a utilizar-sedo
açude
para recreação e os lavradores,no
meio
do
campo,
a defecarno
chão. Posteriormente, aequipe
de
saúde
retornavaao
local para fazernovas medições da
taxade
infecçãoda população
e verificava, frustrada,que
tudo
estavacomo
antes.O
comportamento
humano
- a mais insolúvel dasequações
- era, assim,tratado
como
algo linear e lógico.O
conhecimento
e a relação delecom
o
serhumano
eraencarado
como
uma
coisaque
é incorporadode
forma
automatica,uma
vezdevidamente
apresentado.Talvez
fossem ações
como
a relatadaacima
(e seuscorrespondentes
parcos resultados) a
origem da
pouca
confiança e até ceticismocom
que
era encarada, por muitos profissionaisda
áreada
saúde, a atividade educativanos
projetos e
ações
de
saúde.Não
raro, ouvi preleções sobre a inexeqüibilidadeda
ES eo
desperdíciode
tempo,
dinheiro e esforçoao
se tentar realiza-la."
E
tinham
razão, até certo ponto, estes críticos. Tratar aES'como
déficitde
informação
é condena-laao
fracasso, antesmesmo
de
seu início.De
fato, a ESnão
seresume
a prover informações corretas a indivíduos carentes dela. Infelizmente, os responsaveis pela capacitação,dos
profissionaisda
áreada
saúde
não
possuem,
viade
regra,uma
qualificaçãopedagógica
que
lhes permita 'acompreensão
destes problemas. _1
õpreseê¬itação
A
situação descritaacima
não
foi inspiradaem
nenhuma
ação
de
saúde
em
particular,mas
em
um
pouco
de cada
uma
delas. Desta generalizaçãoescapam
honrosas,
mas
poucas, exceções. Eengana-se
quem
vê» nessasimagens
epersonagens
situações passadas, restritas a áreas ruraisremotas
e carentes. Murat/'5 mutand/j éexatamente
esteo
panorama que
se encontraatualmente
em
campanhas
na
midia,no
consultóriodo
médico
da grande metrópole
eem
escolasurbanas
de
classemédia
e altacom
relação atemas
como
o
controlede
vetores,doenças sexualmente
transmissíveis, alimentaçãoou
lixo emeio
ambiente, só paracitar quatro exemplos.
'Já
em
Florianópolis, tive aoportunidade
de
atuar juntoao
Grupo
de
Estudos e Pesquisas
em
Ensinode
Ciências (GEPECISC)do
Centro
de
Ciênciasda
Educação
da
Universidade Federalde
Santa Catarina (UFSC),que
desenvolve
projetos
de
formação continuada
de
professores, dentre outras atividades. Nesta ocasião,pude novamente
constatar as dificuldadescom
as quaiso
professor defrontava-se: por exemplo,o
enorme
rolde
conteúdos
a cumprirou
a faltade
outros materiais para
serem
utilizadosem
salade
aulaalém
do
livro didático.Fruto das reflexões e
indagações
acumuladas
até então, o ingressono
cursode Doutorado
em
Educação
deu-secom
o
projeto inicialde estudo
da
aprendizagem
de
conceitos relativos ãsaúde
no
ensino fundamental.Meu
objetivo era
avançar
eaprofundar o
diagnóstico eo
estudo, iniciadocom
a avaliaçãodos
livros didáticos econtinuados
com
a participaçãoem
ações
de
formação
de
professores, sobrecomo
ocorria e quais os fatores envolvidosna
aprendizagem
escolarde
conhecimentos
relacionadasao tema
saúde. Esta pesquisa se daria a partirdo
estudo dasconcepções
alternativas edos
obstáculos subjacentes a elas,tendo
porpano de fundo
a perspectivada
alfabetizaçãocientifica
'como
objetivodo
ensinode
ciências eda
ES. Nesta trajetória,importantíssimo e insubstituível foi
o
períodode
estudona
França,sob
orientaçãodo
Professor Jean-Pierre Astolfino
Institut Nationalde
Recherche Pédagogique,
em
Paris, possibilitadopor
uma
bo/sa-sanduícheconcedida
pelaCAPES.
Esta ocasiãoofereceu-me
a possibilidadede
sedimentarinúmeros
conceitosda
áreada
didática das ciências e
formação
de
professores,não
só atravésde
um
intensivo efrutifero trabalho
de
análise bibliográfica, mas, sobretudo,da
convivênciacom
ospróprios pesquisadores e equipes
que
os elaboraram. ~êàprefseritésçâo
Meu
ingresso, por concurso,como
professorana
UFSC
e a atividadecomo
responsável pela disciplinade
Didática Geral junto a diversos cursosde
licenciatura fizeram-me girar
o
prisma pelo qual abordaria aquestão
inicialde
pesquisa:
ao
invésde
centrar-mena aprendizagem,
o enfoque
passou
a sercolocado
no
ensino. Propus-me, então, a estudar aspectosda
atividadepedagógica
do
professorque
desenvolve a ESna
escola eem
que
medida
este processode
ensino-aprendizagem
é responsável pelopanorama
- bastantegrave
-que
se verificaatualmente na
área,conforme veremos
adiante.A
tese possuiuma
introdução, seis capítulos e quatro anexos.A
INTRODUÇÃO
tem
como
objetivo permitirque o
leitor identifiquecomo
próximos, cotidianos ecomuns*
osproblemas
que
sãoabordados
na
tese.Através
do
esboço de
cinco situações,convido
'o leitor a refletir sobre osconhecimentos
necessáriosao
enfrentamento
de
questões relacionadasà
saúde
presentes
em-nosso
dia-a-dia:desde
pequenas
dúvidas banais e inconseqüentes, até questões maioresque
podem
envolver, inclusive,o
equilibrioemocional
do
indivíduo. '_
~
' -
O
capitulo l -O
SER
HUMANO
EA
SAÚDE
- propõe-se a identificar,apresentar e delimitar
o
problema
em
estudo.Apresento
algumas
reflexöes sobreo
papeldos conhecimentos
sobresaúde
na
vida diáriados
indivíduos e, após,focalizo mais especificamente
o problema
abordado
no
trabalho, a relaçäoda
«escola
com
osconhecimentos
sobre a saúde.O
capitulo 2 intituladoDEFlNlÇÕES
EESTUDOS
PRÉVIOS
apresenta e discute as definições utilizadas,bem
como
a revisão bibliográfica realizada.NO
Capítulo 3 -ASPECTOS
DO
TEMA
RELEVANTES
PARA
A
ANALISE
-säo apresentados
e discutidos conceitos teóricosque formaram o arcabouço
dentro
do
qualo problema
propostona
tese foi enfocado.Uma
breve trajetóriada
ES
na educação
brasileira, a propostados
Parâmetros Curriculares Nacionais para a areada
ES e a estrutura curricular das redes públicasde
ensinoem
Florianopolis são apresentados.Em
seguida, analisoaspectosdo
ensinode
ciências importantes para a,compreensão
do
problema da
ES,bem
como
as relaçõesque
seestabelecem
entre estas duas' áreasna
escola.Seguem-se
uma
discussao sobreapresentação
formação
de
professores para aatuação na
ES e considerações sobreo tema da
alfabetização científica e sua pertinência
na
conceituaçãoda
ESna
escola. Por fim,apresento e discuto
o
conceitode
ilhotasde
racionalidade e seu potencialcomo
ferramenta didática paraabordar
temas
interdisciplinares'na
escola.O
Capítulo 4 -EDUCAÇAO
EM SAUDE
NO
ENSINO
FUNDAMENTAL
EM
Escc>LAs
PúBucAs DE
l=LoRlANÓPoLls aborda
as entrevistas realizadascom
professores
que
desenvolvem
atividadesde
ESna
escola. Neste capitulo, discuto os objetivosdas
entrevistas para acompreensão do
problema
propostona
tese,justifico a escolha
metodológica
de
entrevistas semi-estruturadas, aopção
por
uma
abordagem
qualitativa e quaisforam
as ,informações-objetodo
trabalhode
pesquisacom
entrevistas,-bem como
a estruturação destasem
um
roteirode
entrevista.
Apresento
a seleçãode
escolas e professores escolhidos para a pesquisa e descrevoo
contatocom
as escolas e professores. Segue-se aapresentação dos
procedimentos
de
transcrição, organização e categorização das respostas obtidasnas entrevistas e, por fim, a análise
dos
resultados das entrevistas,com
diversas citaçõesdos
professores entrevistados. ~' '
O
capitulo 5 -PERSPECFIVAS
DA EDUCAÇÃO
EM SAÚDE
NA
ESCOLA
-constitui-se
na
discussãodos
resultados das entrevistasem
função de elementos
apresentados
no
capítulo 3. Discutoo
locus, função, limites e possibilidadesda
ESna
escola,bem
como
o
papeldos
professoresde
ciências nesta atividade.Concluindo
este capitulo, apresento a problemática das fronteiras éticas envolvidasno
desenvolvimento
de
atividadesde
ESna
escola.O
capitulo ó apresenta asCONCLUSÕES
do
trabalho.Encerram
o
trabalho alistada
literatura citada e* os .seguintesdocumentos anexados
para eventual consulta: (I)o
roteiro das entrevistas, (2) astranscrições das entrevistas, (3) as fichas-resumo
de
cada
uma
das entrevistas e (4)a tabela-síntese das entrevistas.
'
Nesta tese utilizo o conceito de interdisciplinaridade no sentido adotado por Fourez ( l 994a).
|NTRoDuÇÀo
-CENAS
Do%coT|D|ANo
in'tšoc1u‹;ä~<a:renas
do
cotidiano e io problema de pesqtišsaCENAS
DO
COTIDIANO
E
O
PROBLEMA DE
PESQUISA.
Em
nossa vida cotidiana questões relacionadasde
forma
diretaou
indireta asaúde
ou
adoença requerem
nossacompreensão,
escolhas, decisões, ações. .
- '
Consideremos
os seguintes cenários imaginários.Imaginários ?
CENA
I. Roberto,45
anos, vai consultarum
ortopedistapor
causade
uma
dor
no
joelho. Estador
jao incomoda
ha
pelomenos
quatro meses, mas,no
inicio, ele
achou que
eraapenas
um
mau-jeito.O
tempo» foipassando,mas
ador
era
quase
diária: as vezes mais forte, às vezesquase sumindo,
chegando
até a passar desapercebida.Com
o
passardo
tempo,
Robertocomeçou
a ficarpreocupado,
pois ador
localizada, freqüentemente, se espalhava, e ele sentiaum
grande incômodo
orana
coxa, orana
barrigada
perna.Algumas
vezes até as Costaseram
atingidas pelomal
estar. Que coisa pode estar se passando dentro da minha pernapara se espalhar desse jeito... Eu deveria ir. consultar
um
medico... l\/las por causa deuma
dor que logodeve passar ? Ah! Nao e preciso; eles sÓ sabem achar coisas ruins. isto vai passar...
Após
inúmeras
postergaçöes, Roberto decidiu
que
era melhor, afinal, tirar a situaçao a limpo.Encheu-se
de
coragem
eagendou
uma
consulta. Saiudo
consultóriosem
entender muito
bem
algumas
das possibilidadesde
lesõesenumeradas
pelomédico,
que
solicitouum
exame
tomografico parao
diagnóstico definitivo.Roberto submeteu-se
ao
exame
e,após
alguns dias, foi retirar asimagens
eo
laudo.
Decepcionado,
constatouque näo
entendia a significaçãodo
texto redigido.Alguns
dias depois,Roberto
voltouao
consultóriocom
o
exame. Escutou
do
médico,sem
compreender,
uma
explicaçãoda
causado
problema
eseu
nome
técnico,
mas
ouviu claramenteo
veredictode
que
a única soluçao era a cirurgia:Coisinha simples, rapida e corriqueira, que requer no maximo três dias de internação hospitalar, disse
O
médico.
Nesse
momento,
inúmeros
pensamentos
e dúvidas surgiramna cabeça
de
Roberto
sem
que
ele se sintissecapaz
de
verbaliza-las: Sera que nâo ha' outra possibilidadede tratamento? Talvez tenha deixado passar tempo demais e agora sÓ operando mesmo... l\/las o que vai
mesmo
ser feito na minha perna? Simples e facil se sào três dias no hospital ? Sera” que a cirurgia e lOO%garantida ? E depois dela, o que acontece ? Roberto Voltou a escutar a
VOZ
do
médico
quando
este lheindagou
pelo seu planode saúde
e vaticinouque
_a cirurgia ja'deveria ser
agendada.
.A ''
introdução: cenas
do
Çntiolianra e io prdãrsiema ci-e pe~s«:§¡.§šsa~
CENA
2.
Outono,
duas amigas conversando
à portada
padaria.Suzana
pergunta-a
Odete
se ela já levou suamae,
dona
Clara, para vacinar-se contra a gripe. Sim,mamae
foi com suas vizinhas ao posto no primeiro dia de vacinação. ESuzana Comentai
Pois eu nao sei o que faco: eu nao sei se esta vacina, afinal, funciona ou nao. ECOmeÇOu
aenumerar
pessoas conhecidas que,no
inverno anterior,haviam
tomado
a vacina e aCiOeCidOmesmo
assim: /-\ maioria do pessoal se resfriou e teve tosse. Eu acho que a vacina só serve para propaganda cio governo.Em
seguida,Suzana
argumentou que
seus paistomavam
bastantecuidado
com
o
frio seagasalhando
emantendo
bem
fechados
Os
ambientes nos
quais estavam. Eles nao estao querendo tomar a vacina e eu acho que os dois estao certos. Tanta gente teveum
resfriado após tomar a vacina... Este ano até eu poderia tomar a vacinade graca, mas para que tomar uma especie de sopa de virus mortos, como mostrou aquele programa na
televisao?
CENA'
3. Paula e José estaoextremamente
perturbados.Não
sabem
como
agir e quais serao asconseqüências
atuais e futurasdo
quadro
com
o
qualse
deparam.
Têm
em
maos
o
laudo neurológico, solicitado pelo pediatrade
suafilha:
Prezado colega: Examinei ha' poucos dias a menina [nome do paciente omitidol.
Nascimento dificil e, pelas informacoes da mae, ela fez
um
hematoma extra-craneano[s/cj, depois evoluiu satisfatoriamente. Caminhou dentro do prazo normal, mas só
falou perto dos 2 anos.
Com um
ano e pouco de idade, teve a primeira criseconvulsiva intensa porem de breve duracao. Atualmente , a crianca apresenta-se
em
constante inquietude, agitando-se continuamente. li-la poucos dias fez
um
pequenotraumatismo craneano [s/ti sem perda de consciencia e desde entao vem se
queixando de dores de cabeça. -O exame neurológico foi satisfatório tanto na parte
motora como mental.
O
eletroencefalograma acusouuma
disritmia cerebral lenta, difusa, evidente, mas sem sinais paroxisticos ou focais. Provavelmente esta disritmia seja sequela deum
traumatismo obstetrico, ja' tendo se manifestado atraves dainquietude da criança.
O
traumatismo atual podera eventualmente ter aumentado adisritmia, trazendo consigo o quadro de cefaléia.
Como
tratamento sugiro o uso deEpelim l/z medida pela manha, Alepsal - infantil 2 comp. a noite e l-laloperidol de
img. l comp. por dia. Atenciosamente [nome do medico omitidol.
CENA
4.Candida
eManoel
estavam
felizesao
voltaremdo
Postode
Saúde
para casacom
Joao, seu filho caçula. Esta já era a 'quarta vezque
iam
ao
posto paraque o menino
fosseexaminado.
Nas
três tentativas anteriores - todasem
horariode
atendimento
-não
haviam
logrado conversarcom
o
médico: orahavia
uma'
enorme
fila,que
era mais longaque
o
horariodo
expediente, orao
médico
simplesmente
não
estava presenteno
consultório. Mas, d/esta vez, ait:tâ"c›cíâ.iâ'ác«“ cenas
da
cotšdšarêo e ‹;:‹z problema de oesqušsa. ... ._..__..__..;L ... .§_._...-...-__ ...A Ê .... _..
consulta foi realizada.
Apesar de
ajulgarem
rapida demais, os pais aflitosdo
pequeno
João, desta- vez, sairamdo
postocom
o
papelque
os permitiria,agora
sim,
marcar
uma
consulta especializadacom
o
neurologistano
hospital.Disseram
ao médico do
postinno,como chamavam
o
local,que no
dia anteriorJoão
tinha tidonovamente
outra crisede
tremores,quando
então
ficavadesacordado
esuando
muito. lsto já vinha se repetindo a intervalos variaveis ha' seis meses. informaram,
também, ao médico que
osatendeu
no
postoque
a professorana
escola já tinhareclamado
da
agitação do menino e da sua incapacidade de aprender as coisas.`
_
CENA
5. Gabriela está realizando seu estágiode
praticade
ensino.Uma
das atividades mais importantes,
segundo
sua professora, éconhecer
a realidadena
qualvivem
as criançasque
serão seus alunos dentrode algumas
semanas.
Para tentar seaproximar
desta realidade,em
seu primeiro diade observação
na
escola,passou
grande
parteda
tardena
sala das orientadorasque,
entre suas diversas atividades,fazem
alguns relatos agraduanda.
É muitocomum
nesta epoca de estiagem,quando então falta agua nas casas no alto do morro, as criancas virem muito sujas a escola.
Ou
entao,muitas mães simplesmente não *mandam o filho para a aula porque ele justamente não pode tomar
banho e ela, então, tem vergonha de mandar a crianca sem banho tomado.
A
realidade laem
cima ebastante dura, mas se vê muito contraste tambem.
A
maioria do pessoal 'vem do interior. l-la familias queconseguiram ligar seus esgotos a rede, que finalmente foi instalada até
um
certo ponto do morro. Outras,por falta de recursos ou desinteresse, simplesmente jogam seus esgotos a ceu aberto. Isto causa muita
reclamação por parte daqueles que canalizaram o esgoto. Cano tem; chegar agua e outra coisa... Nesta
epoca, geralmente quando ha' abastecimento e das duas as quatro da madrugada.
Como nem
todomundo
tem caixa d'agua... Da ultima vez que estive na Associação de Moradores, vi muitos porcos ecachorros
em
péssimo estado e andando livres por entre as casas. Alguns moradores participam daAssociação, tentam se mobilizar
em
torno de algumas causas importantespara a comunidade, mas o queeu noto nos poucos pais que frequetam a escola e' uma passividade e
um
fatalismo extremo...O
que diradaqueles que
nem
na escola do filho comparecem...-e
4
cAPí'ru|.o
1 -o
SER
HUMANO
E
A
SAÚDE
caâvãzecšmentâss sobre saúde vida diária
I.I.
CONHECIMENTOS
SOBRE
SAÚDE'
NA
VIDA
DIÁRIA
Minha
experiência cotidiana pessoal,como
professora ecomo
indivíduo,vem
me
mostrando
aenorme
dificuldadeque
as pessoastêm
em
lidarcom
grande
número
de
situações presentesna
nossa vidadiária
que
envolvem,de forma
diretaou
indireta,conhecimentos
e decisõesrelacionados à saúde.
Questões
como
aquelasque surgem
nas cenas descritas anteriormente, e tantas outras,nos assolam
diariamentesem
que
consigamos,
na
maior
partedos
casos, lidar satisfatoriamentecom
elas. Por exemplo, as vezespercebemos que
faltamconhecimentos
importantes paraque
a análisedo
problema
possa ser mais completa, outras vezesdesconfiamos
que
estamos
sendo
manipulados
ou
dirigidos poralguém que
se julga autoridadeem
determinado
assunto,
sem
que possamos
avaliar sua real competência.Freqüentemente,
contudo,
o quadro
é ainda pior, pois os individuossequer
seperguntam algumas
questões
enunciadas
nas cenasda
INTRODUÇÃO
ou
sedão
contade que ha
algum
déficit importante.Ou,
ainda, seo
individuo é consciente desta limitação,acha
que
elaé normal
e naturalcomo
o
nascerdo
dia; porque, afinai de contas, ha osque sabem e os que não sabem e, assim, quem comanda e quem obedece
em
cada area... Por Certoque não podemos,
nem
de
longe, almejar ser especialistasem
cada
uma
das
areasque
nos
solicitam, cotidianamente, ações e decisões. Por outro lado,o
altograu
de
ignorância relativo aos
conhecimentos
envolvidoscom
que
enfrentamos
algumas
situações importantes
da
vida,também
não
é aceitável. É entre estes doisextremos
~
o
da
especialização eo
da
incompetência,que
a escoladeve
exercer seu papel.Esta é a missão
de
cidadaniaque
a escolatem
a cumprir, permitindoaos
indivíduos se apropriarem,
compreenderem
eagirem
no
mundo
em
que
vivem.Quando
consideramos
o
nosso tempo,
verificamoso
quanto cabe
àescola
no
ensinode
conhecimentos
basilares eno
preparo paraque
abusca
de
novos conhecimentos
possa ser feitaquando
o
indivíduo assimo
desejar.Quais
elementos
seriam obrigaçãoda
escola fornecer paraque o
individuo conseguisse analisar
com
maisprofundidade
ecomplexidade
(enão
apenas
superficialmentecomo
faz, via'de regra, a mídia) osacontecimentos
do
l lde
setembro
de
2001
-o ataque
as TorresGêmeas
de
Nova
York eao
Pentágono,
nos
EstadosUnidos da América
?Certamente
uma
compreensãoppor
menor
que
fosse,
do
processo históricode
constituiçãodos povos
antigos,bem como
doses
L
conhecimentos sobre saúde na vida diária
de conhecimento
de
históriamundial
pós- llGuerra
Mundial, eGuerra
Fria,somados
aum
aprendizado
da
tolerância edo
conviviocom
a diferença,ajudariam
auma
reação maisponderada
emenos
brutalizada.Na
mesma
linhade
raciocínio,
o
que
seria importante e necessário ser desenvolvido pela escola, paraque
um
indivíduo,ao
se depararcom
as notícias recentesde
modificação genéticade
organismos,pudesse
compreender
e analisar,com
maisautonomia,
aspectos (económicos, biológicos, sociais) envolvidosna questão
?O
quanto
estesconhecimentos
lhepoupariam
de
ficar ãmercê
da
propaganda que
se mostrassemais
eficiente, seja elada
Monsanto ou
do
Greenpeace
?_
Como
conseqüência
do quadro de
desinformação
edesarme
cognitivoque
esbocei até aqui, temos,em
um
processode
saúde-doença
no
nível individual, pessoasatormentadas
por problemas, situações e informaçõescom
as quaisnao
conseguem
lidarde
maneira
satisfatória.O
mesmo
.ocorreno
nivel coletivo: a insegurança, a negligência, a ignorância e a faltade
consciência sobreproblemas
e fatores relacionados à
saúde
pública e aelementos
do
ambiente
físico e social condicionantesdo
processo saúde-doença,são
a regra. `Um
outro aspecto bastante visível eagudo
da questão
em
discussão diz respeito à influênciada
mídia,sobretudo (mas
não
sÓ)da
televisão.Quantos de
nós
jánão
nos depararamos,
em
uma
aulade
segunda-feira (especialmente),com
aãrdua
tarefade comentar
algoque
apareceu no Fantastico.O
difícil, nestes casos,não
é a
abordagem
do
problema
em
si,mas
conseguir externarum
ponto
de
vistaou
apresentar informações diferentes daquilo
que
foi expostoou
defendido,com
maior
ou
menor
explicitação,no programa
televisivo.Como
é dificil sustentar parauma
turma de
.alunosque
aquela autoridade no assunto,,entrevistadano
programa,
não
entende
tanto assim sobreo
que
falouou
convencê-losque
ela está tratandouma
questão
ainda controversa e discutívelde
forma
taxativa e inquestionável. Assim,quantos
indivíduostêm
seu cotidianoguiado
de forma
majoritária peloque
aparece
nas seçõesdo
tipo sua saudeem
diversosprogramas
de
televisão, radioou
matériasda
imprensa
escrita.Medicamentos,
dietas, alimentação, sintomas-alerta(reais e imaginários), higiene (pessoal e domiciliar), tratamentos,
formas
de
prevenção
eum
sem-número de
indicações,com
as quaissomos bombardeados'
todos os dias,
têm o
statusde
verdade
inquestionável pelo simples fatode
terem
tidoespaço
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