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Os impasses da estratégia: os comunistas e os dilemas da União Nacional na revolução (im)possível - 1936-1948

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA. Carlos Zacarias F. de Sena Júnior. OS IMPASSES DA ESTRATÉGIA: os comunistas e os dilemas da União Nacional na revolução (im)possível. 1936-1948.. Recife - Pernambuco 2007.

(2) Carlos Zacarias F. de Sena Júnior. OS IMPASSES DA ESTRATÉGIA: os comunistas e os dilemas da União Nacional na revolução (im)possível. 1936-1948.. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em História do Norte e Nordeste do Brasil. Orientador: Profª Drª Maria do Socorro Ferraz Barbosa Co-orientador: Prof. Dr. Muniz Gonçalves Ferreira. Recife – Pernambuco 2007.

(3) Sena Júnior, Carlos Zacarias Figueirôa de. Os impasses da estratégia: os comunistas e os dilemas da União Nacional na revolução (im)possível – 1936-1948. – Recife: O Autor, 2007. 463 folhas : il., fotos, quadros. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. CFCH. História. Recife, 2007. Inclui bibliografia e anexos. 1. História social - Política – Brasil. 2. Partidos políticos Partidos de esquerda – Comunismo - Brasil. 3. Antifascismo. 4. Governo – Brasil - Luiz Carlos Prestes. I. Título. 981 981. CDU (2. ed.) CDD (22. ed.). UFPE BCFCH2007/12.

(4) ~. ~~. ~~~~f mAaO fMHI~Ó~IA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. ATA DA DEFESA DA TESE DO ALUNO CARLOS ZACARIAS FIGUEIRÔA DE SENA JÚNIOR.. Às 14:00 h do dia 24 (vinte e quatro) de abril de 2007 (dois mil e sete), no Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pemambuco, a Comissão Examinadora da Tese para obtenção do grau de Doutor apresentada pelo aluno Carlos Zacarias Figueirôa de Se na. Júnior intitulada "Os impasses da estratégia: os comunistas e os dilemas da União Nacional na Revolução (im)possível 1936-1948", em ato público, após argüição feita de acordo com o Regimento do referido Curso, decidiu conceder ao mesmo o conceito "APROVADO ", em resultado à atribuição dos conceitos dos professores doutores: Maria do Socorro Ferraz Barbosa (orientadora), Muniz Gonçalves Ferreira, Valério Arcary, Paulo Santos Silva e Maria do Socorro de Abreu e Lima. Assinam, também, a presente ata o Coordenador, Prof. Dr. Antônio Torres Montenegro e a Secretária do DeptOde História, Rogéria Feitosa de Sá, para os devidos efeitos legais. Recife, 24 de abril de 2007.. MiCí0'Ct tw Prol".DI".Maria.do~1!erraz ~a.. ~. Prof. Dr. Mun~nç'alves. W. Ferreira.. ~v~ Prol. Dr.,/:alérjrcary.,. I c~ d. /~ C4-t;~C:::::-:{) Prof. Dr. Paulo Sa;4;;Silva. r. .. ~. {) ). ~~~ Prof1. Dra. Maria do Socorro de Abreu e Lima.. Pro~~~~~=e~~ \~S~~U~c0-~-. RogérJia Feitosa de Sã.. 1. ..

(5) Aos meus pais, exemplos de dignidade e perseverança. Para Paty, que com muito amor tem me ajudado a seguir em frente, sempre. A todos aqueles que lutam e seguem acreditando que a revolução socialista, além de um imperativo da humanidade, é absolutamente possível..

(6) AGRADECIMENTOS Esta tese foi escrita no Brasil e em Portugal, nas belas cidades do Salvador, do Recife e do Porto. Em virtude disto, e também pelas inúmeras viagens que precisei fazer para realizar pesquisas, a lista de agradecimentos é extensa, entretanto, absolutamente necessária, tendo em vista que este trabalho não teria sido possível sem o precioso auxílio das inúmeras pessoas que, de muitas maneiras, contribuíram para a sua realização. A começar pelas instituições que financiaram este trabalho, a CAPES e a UNEB. A primeira me concedeu uma bolsa vinculada ao Programa de Qualificação Institucional (PQI), que durou enquanto estive fora da Bahia cursando os créditos na UFPE. Depois disto, fui ainda contemplado pela CAPES com uma “bolsa sanduíche” de oito meses em Portugal. A UNEB, instituição em que ocupo uma cadeira de História do Brasil desde 1994, dispensou-me de minhas atividades ordinárias no Departamento de Educação do Campus II, Alagoinhas, e ainda me concedeu um auxílio do PAC entre janeiro de 2004 e janeiro de 2006, e logo em seguida ao meu retorno de Portugal, entre setembro de 2006 e fevereiro de 2007. Durante as minhas viagens, no Brasil e no exterior, inúmeras pessoas me acolheram nas diversas cidades por onde passei, onde visitei arquivos, freqüentei eventos e fui sempre muito bem recebido pelo carinho dos melhores amigos e colegas das universidades estaduais baianas e das novas amizades que fiz no percurso. Em vista disso, sou grato a Jânio & Suzi, Gildásio & Tina e Miguel & Conceição, que reservaram um cantinho de suas casas para a minha estadia e comigo estreitaram relações de amizade e confiança, que certamente num futuro próximo haverão de nos colocar, novamente, ombro-ombro nas lutas em defesa da Universidade Pública e de um País mais justo. Nas pesquisas, contei com a valiosa colaboração de vários jovens estudantes que me emprestaram seu tempo e criatividade em muitos arquivos pelo Brasil. Em Campinas, Gilson de Almeida pesquisou com esmero e entregou-me com pontualidade “britânica” a documentação que lhe encomendei do Arquivo Edgard Leuenroth. Branno Costa foi meu bom colaborador nos arquivos do Rio de Janeiro, enquanto que David Rhenn foi um investigador competente dos jornais A Tarde, disponíveis na Biblioteca Pública do Estado da Bahia (BPEB). Também pesquisando nos jornais da BPEB, Rogério Fiscina demonstrou grande responsabilidade no trato com o tema e permaneceu comigo durante quase um ano de pesquisas, emprestando seu jovem talento para abrilhantar esta tese..

(7) 5 Aos funcionários das bibliotecas e arquivos do Brasil e de Portugal, sou grato pela paciência com que me serviram sempre. A Luciane, Carmem, Karem e Aluízio, do PPGH da UFPE, meus agradecimentos pelos favores que me prestaram e pela delicadeza com que sempre me trataram. Aos funcionários da UNEB, gentis e solidários, eu devo um agradecimento todo especial, pela presteza com que atenderam meus pleitos e ouviram minhas queixas. Agradeço aos colegas da Pró-Reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-Graduação da UNEB pelo apoio que me dedicaram, especialmente ao Pró-Reitor, o professor Wilson Roberto de Mattos, e ao professor Edgar Lira e Lima, que sempre procurou atender às minhas solicitações com rapidez. A Luiz Zimbarg, jovem pesquisador, doutorando na USP e um dos responsáveis pela organização do acervo CEDEM/UNESP, meu muito obrigado pelo auxílio na consulta à documentação daquele importante arquivo e pela ótima dissertação que me disponibilizou. Aos funcionários da BPEB, onde estive por muitos meses investigando a história do PCB, e também aos servidores do Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), sou grato pela gentileza com que atenderam as minhas solicitações. Em Portugal, devo um agradecimento todo especial a Maria Goretti Matias e Rita Carvalho, que se colocaram à minha disposição junto ao acervo do Arquivo de História Social do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, esclarecendo inúmeras dúvidas e indicando fontes. Ao professor Daniel Francisco dos Santos, que idealizou o PQI UNEB/UFPE, aos diretores do Departamento de Educação, Marilécia Santos e Milton Pinheiro e aos professores do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE, especialmente a Antonio Torres Montenegro e a Isabel Cristina Guillen, devo gratidão pelos ensinamentos, apoio e incentivo. Aos colegas da turma do doutorado no PPGH da UFPE, Wagner, Manuel, Flávio, Antônia, Agenor, Noêmia e Alcileide meu muito obrigado pelas divertidas e estimulantes aulas que compartilhamos. Ana Maria, Sara e Fátima, colegas da UNEB na turma do doutorado em História na UFPE, foram excelentes companheiras nesta jornada pernambucana. A amiga Solange, colega de turma e vizinha de porta, meu agradecimento sincero pelo apoio e companheirismo demonstrado em tantas ocasiões. Agradeço aos muitos colegas e amigos que me disponibilizaram fontes, sugeriram bibliografia e dirimiram dúvidas. No Brasil, Marcelo Lins, Jacira Primo, Eurelino Coelho, Clóvis Oliveira, Frederico Falcão, Edmundo Dias, Dainis Karepovs e Marcos Del Roio. Álvaro Bianchi e Valério Arcary, foram sempre grandes incentivadores e fontes de inspiração intelectual para o meu trabalho. Em Portugal, sou grato aos amigos e colegas Raquel Varella, Antonio Paço, Renato Guedes Jr., Francisco Martins Rodrigues, João Arsênio Nunes, João Paulo Monteiro e Rodrigo Ozório, que foram cordiais e prestativos em diversos momentos..

(8) 6 João Aguiar, meu bom amigo português e jovem militante marxista, facilitou imensamente minha ambientação na linda cidade do Porto, e ainda leu meus textos e debateu comigo inúmeras questões sobre os comunistas no Brasil e no mundo. Aos vários comunistas ou ex-comunistas baianos, que tive a honra e o prazer de entrevistar, meus mais profundos agradecimentos. O ex-deputado Fernando Sant’Anna me recebeu para uma conversa em seu apartamento, em Salvador. Jacob Gorender e Armênio Guedes, residentes em São Paulo, abriram espaço em suas atribuladas agendas para me concederem algumas horas de importantes entrevistas em suas residências na paulicéia. O professor Luís Henrique Dias Tavares me recebeu por duas vezes em Salvador e ainda fez sugestões e deu diversas dicas quanto ao tratamento histórico que eu poderia empregar nas fontes orais. João Falcão compartilhou comigo seu vasto conhecimento de ex-militante e profundo conhecedor da história do PCB e também me disponibilizou o seu rico acervo da revista Seiva, composto de 17, dos 18 números publicados pelo periódico antifascista baiano, entre 1938 e 1943. A combativa advogada e militante Ana Montenegro, dedicou uma poesia a mim e a minha companheira, que guardamos com carinho daquela tarde passada em sua companhia no bairro de Itapoan, em Salvador. Aristeu Nogueira, também advogado e militante do PPS, compartilhou conosco, em sua casa, na cidade de Irará, uma pequena parte de suas memórias dos momentos importantes de sua longa vida de comunista perseguido e inúmeras vezes preso. Aristeu Nogueira e Ana Montenegro, não obstante, não estão mais entre nós, motivo pelo qual agradeço in memorian seus depoimentos. A professora Socorro Ferraz, minha orientadora, foi sempre uma gentil e cordial parceira intelectual, sabendo ouvir as minhas inquietações de onde extraiu suas várias conclusões para indicar o melhor caminho. Muniz Gonçalves Ferreira, professor da UFBA, foi quem de mais perto acompanhou todo o desenvolvimento do trabalho, corrigindo, sugerindo, concordando e discordando em diversas ocasiões, sempre com muita lealdade e fraternal amizade, dando inúmeras sugestões, quase sempre incorporadas ao trabalho. Da Universidade do Porto, em Portugal, o professor Manuel Loff foi um ótimo “associado” (nas suas próprias palavras) às minhas investigações e ao meu trabalho intelectual. Enquanto estive naquela cidade, o professor Loff não apenas discutiu comigo várias questões metodológicas quanto aos regimes autoritários e à resistência comunista durante os anos do antifascismo na Europa, como me sugeriu fontes e arquivos, indicando os melhores locais onde eu poderia encontrar documentação em Portugal. Manuel Loff me honrou, também, com sua fraternal amizade durante todo o tempo de minha permanência no Porto, acolhendo a mim e a minha.

(9) 7 companheira como um velho amigo, introduzindo-nos no seio de suas amizades, que também foram nossas por um breve, porém, intenso momento. Além dos meus orientadores, pude contar com os comentários preciosos do professor Paulo Santos Silva, colega do Departamento de Educação e membro do Programa de PósGraduação em Estudos de Linguagens, da UNEB. Paulo Silva funcionou, também, como um excelente orientador do meu trabalho, tendo lido todo o texto e procedido a inúmeros comentários, sempre muito bem recebidos por mim, que o reconheço como um dos maiores conhecedores da história da Bahia da primeira metade do século XX. Também a professora Rosa Godoy Silveira, que tendo sido membro da banca de qualificação da tese, ocasião em que fez comentários sérios e absolutamente pertinentes, permaneceu interessada nos desdobramentos do meu trabalho, ainda um ano depois da qualificação, o que em muito acrescentou na minha vontade de seguir adiante, e a Solange Fonseca, que fez uma criteriosa revisão ortográfica da tese. Agradeço, finalmente, a todos os membros da banca, que me honraram com suas presenças e dedicaram excelentes comentários ao meu trabalho, todos eles já nomeados nestas páginas, com exceção da professora Maria do Socorro de Abreu Lima, a quem sou grato pela qualidade da avaliação e por aceitar o convite de última hora. Não poderia finalizar esta imensa lista de agradecimentos sem lembrar daqueles involuntariamente tanto contribuíram para a efetivação deste trabalho. Os meus amigos de quase 20 anos, Iuri, Aldrin, Cláudio e Alexandre, cujos exemplos e amizades me são muito caros, são cúmplices e responsáveis por boa parte da minha vontade de ser historiador. Com eles tenho aprendido sempre o melhor sentido da amizade, compartilhando as alegrias, as incertezas do presente e as certezas do futuro. Aos meus pais (Carlos e Hilda), irmãos mais próximos (Ló, Alan e Xande), e minha família de há dez anos (Regi, Binha e Aline), sou imensamente grato por fazerem a retaguarda afetiva e material desta empreitada que me fez ausente em diversas ocasiões. Hilda Eloysa, minha mãe, leu, também, alguns capítulos desta tese e transcreveu, corajosamente, duas fitas de entrevistados. O seu exemplo e carinho serão sempre insubstituíveis. Patrícia de Sena, que também leu boa parte do trabalho e transcreveu fitas, foi aquela que mais de perto compartilhou das horas intermináveis de inquietações, tristezas e alegrias. À Paty, aquela com quem divido um delicioso cotidiano há dez anos, credito o ponto de partida e o ponto de chegada deste trabalho. Sem seu incentivo, amor e confiança, estas páginas muito dificilmente existiriam..

(10) Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há quem garanta que nem todas, somente as de verão. Mas no fundo isso não tem importância. O que interessa mesmo não são as noites em si, são os sonhos. Sonhos que os homens sonham sempre. Em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. Shakespeare, O sonho de uma noite de verão.. Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da História é agitado. As ameaças e as guerras, havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas. Maiakóviski.

(11) RESUMO. Este trabalho pretende analisar a trajetória do Partido Comunista do Brasil (PCB), entre os anos de 1936 e 1948, tendo como foco a linha política de União Nacional e a estratégia de revolução democrático-burguesa e de libertação nacional defendida pelos pecebistas na conjuntura da luta antifascista e da Segunda Guerra Mundial. Tomando como base os documentos que orientavam a linha do Partido, a discussão situa-se entre a teoria e a prática dos comunistas ante as sucessivas fases da macro-conjuntura política, desde o período filofascista do governo Vargas, especialmente o Estado Novo, até a sua deposição em 1945, a legalização do PCB, as eleições de 1945 e 1947 e, novamente, a cassação da legenda do Partido, passando pela ascensão dos movimentos de massas antifascistas, a declaração de guerra do Brasil ao Eixo, a aproximação dos pecebistas e Getúlio Vargas, o golpe de 29 de outubro de 1945, a ascesão do movimento grevista de 1945/46, o anticomunismo e a Guerra Fria. Como cenário principal deste trabalho, está o Brasil, não obstante se tenha privilegiado as informações coligidas na Bahia, o que ressalta a importância do esforço historiográfico sobre experiências diversas fora do Centro-Sul do País, valorizando a atuação dos pecebistas em outras situações que não as mais conhecidas, considerando-se a importância dos comunistas baianos como parte fundamental do Partido Comunista do Brasil, um partido supostamente nacional e centralizado.. Palavras-chaves: Comunismo; PCB; União Nacional; antifascismo; Luiz Carlos Prestes; história social e política do Brasil..

(12) ABSTRACT. This thesis intends to analyze the political activities of the Communist Party of Brazil (PCB), during the years 1936 and 1948, focusing the policy of national unity, the strategic line of bourgeois-democratic revolution and national liberation, supported by the communists through the anti-fascistic struggle conjuncture and World War II. Taking the party documents as sources, I discuss the theory and practice waged by PCB in different moments of that political period, from Vargas pro-fascistic Estado Novo regime, until his deposition in 1945, passing through the legalization of the Communist Party, its participation in 1945 and 1947 elections, its illegalization in 1947, the rising of anti-fascistic mass movements, the declaration of war against the axis, the approximation between the communists and Vargas, the October 29th coup d’ état, the spreading of the workers strikes in the years 1945/1946, the anti-communism and Cold War. Brazil is the main scene in this work, nevertheless I privileged the information obtained in Bahia in order to stress the relevance of the contribution that communists of that state gave to the history of PCB, a supposedly national and centralized party and by this way to strength the historioghaphic effort that aims to valorize the study of historic experiences lived beyond the southern regions of Brazil.. Keywords: Communism; PCB; National Unity; anti-fascistic; Luiz Carlos Prestes; social history and Brazilian politics..

(13) LISTA DE ABRAVIATURAS UTILIZADAS AEL/UNICAMP. Arquivo Edgard Leuenroth da Universidade Estadual de Campinas. AESB. Associação dos Estudantes Secundários da Bahia. AHS/ICS/UL. Arquivo de História Social do Instituto de Ciências Sociais da. Universidade de Lisboa ANL. Aliança Nacional Libertadora. AN. Arquivo Nacional. APEB. Arquivo Público do Estado da Bahia. APERJ. Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. APJF. Acervo Pessoal de João Falcão. AUB. Associação Universitária da Bahia. BOC. Bloco Operário e Camponês. BP. Bureau Político. BPEB. Biblioteca Pública do Estado da Bahia. BSAIC. Bureau Sul-Americano da Internacional Comunista. CC. Comitê Central do Partido Comunista do Brasil. CCP. Comitê Central Provisório do Partido Comunista do Brasil. CDP. Comitê Democrático Popular. CE. Comitê Estadual; Comissão Executiva. CEDEM/UNESP. Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista. CEIC. Comitê Executivo da Internacional Comunista. CEMAP. Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa. CGTB. Confederação Geral dos Trabalhadores Brasileiros. CL. Comitê Local. CLC. Companhia Linha Circular. CLT. Consolidação das Leis do Trabalho. CM. Comitê Municipal. CN. Comitê Nacional. CNOP. Comissão Nacional de Organização Provisória. CTB. Confederação dos Trabalhadores Brasileiros. CPDOC/FGV. Centro de Pesquisa e Documentação em História Contemporânea da. Fundação Getúlio Vargas CR. Comitê Regional.

(14) CZ. Comitê Zonal. DEIP. Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda. DIP. Departamento de Imprensa e Propaganda. DNT. Departamento Nacional do Trabalho. ED. Esquerda Democrática. FHS. Fundo Hermínio Sacchetta. FJCB. Federação da Juventude Comunista do Brasil. FN. Frente Nacional. FND. Frente Nacional Democrática. FP. Frente Popular. FU. Frente Única. FUP. Frente Única Proletária. FUA. Frente Única Antifascista. GCL. Grupo Comunista Lenin. GV. Getúlio Vargas (Arquivo). IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IC. Internacional Comunista (Terceira Internacional ou Komintern). LASP. Liga de Ação Social e Política. LBA. Legião Brasileira de Assistência. LSN. Lei de Segurança Nacional. LDN. Liga de Defesa Nacional. MUT. Movimento Unificador dos Trabalhadores (Movimento de Unificação. dos Trabalhadores) PAN. Partido Agrário Nacional. PCB. Partido Comunista do Brasil (até 1961). PC do B. Partido Comunista do Brasil (a partir de 1962). PCUS. Partido Comunista da União Soviética. PDC. Partido Democrata Cristão. PL. Partido Liberal. POL. Partido Operário Leninista. POSDR. Partido Operário Social Democrata Russo. PPS. Partido Popular Socialista. PSB. Partido Socialista Brasieiro. PSD. Partido Social Democrático.

(15) PSR. Partido Socialista Revolucionário. PSP. Partido Social Progressista. PR. Partido Republicano. PRP. Partido Republicano Paulista. PTB. Partido Trabalhista Brasileiro. RM. Região Militar. SAA. Sociedade Amigos da América. SFIO. Seção Francesa da Internacional Operária. SN. Secretariado Nacional. SSAIC. Secretariado Sul-Americano da Internacional Comunista. STE. Superior Tribunal Eleitoral (Tribunal Superior Eleitoral). STF. Supremo Tribunal Federal. TSN. Tribunal de Segurança Nacional. UDE. União Democrática Estudantil. UDN. União Democrática Nacional. UEB. União dos Estudantes da Bahia. UJC. União da Juventude Comunista Brasileira. UNE. União Nacional dos Estudantes. USTB. União Sindical dos Trabalhadores Baianos. UTD. União Trabalhista Democrática (dos Carris Urbanos de São Paulo).

(16) SUMÁRIO Agradecimentos.........................................................................................................................04. Lista de abreviaturas utilizadas………………..………….........……….............….............…11. Introdução……………………………………………....……………………..........................16. 1. SOB O SIGNO DA DERROTA...........................................................................................44 1.1 Depois da tempestade........................................................................................................................44 1.2 A marcha da revolução brasileira.....................................................................................................56 1.3 “Ganhemos as municipalidades para a democracia”........................................................................66 1.4 “União Nacional pela democracia e pela paz”..................................................................................82 1.5 Mensagem aos povos da América.....................................................................................................96. 2. NO CAMINHO DAS RUAS..............................................................................................107 2.1 Frente única, frente popular e frente nacional no movimento comunista.......................................107 2.2 Os comunistas em busca de uma direção: o Comitê Regional da Bahia e a reorganização partidária...............................................................................................................................................120 2.3 Entre o antifascismo e a guerra imperialista: o Pacto Germano-Soviético....................................132 2.4 “Reconstruamos nosso Partido”......................................................................................................147 2.5 “Esta guerra também é nossa”.........................................................................................................160. 3. NAS FRONTEIRAS DA LEGALIDADE..........................................................................172 3.1 “A unidade nacional é o milagre da vitória”...................................................................................172 3.2 O destemido “exército de Pará”, a CNOP e a Conferência da Mantiqueira...................................185 3.3 A unidade e a democracia em marcha na consecução das tarefas de libertação nacional..............196 3.4 O PCB apresenta suas armas, a reação mostra suas garras: sinais de fogo.....................................206 3.5 A “pacificação da família brasileira”..............................................................................................220. 4. A UTOPIA POSSÍVEL.......................................................................................................232 4.1 Os estertores da guerra e o espectro do comunismo.......................................................................232 4.2 Anistia sem ressentimentos.............................................................................................................243 4.3 Ordem e tranqüilidade: as estratégias do limite .............................................................................256.

(17) 4.4 Apertar os cintos: os limites da estratégia (as mediações)..............................................................270 4.5 Interregno: o golpe de 29 de outubro de 1945................................................................................283. 5. SOB O DOMÍNIO DO MEDO...........................................................................................299 5.1 “O Partido Comunista quer, precisa, deseja ser compreendido”....................................................299 5.2 “Um comunista vale pela massa que arrasta”.................................................................................312 5.3 “Um Partido de novo tipo”..............................................................................................................327 5.4 A classe operária não foi convidada: a burguesia rompe o acordo.................................................337 5.5 Não há mais ordem possível: os trabalhadores rompem o acordo..................................................350. 6. A ESTRATÉGIA NO IMPASSE........................................................................................359 6.1 A ameaça comunista.......................................................................................................................359 6.2 O “perigo iminente”........................................................................................................................370 6.3 “Em marcha para um grande Partido”............................................................................................385 6.4 O “pedaço da Rússia na Bahia”......................................................................................................396 6.5 A fratura entre dois mundos ou o fim da doce ilusão.....................................................................405. Comentário final à guisa de conclusão....................................................................................424. Fontes Primárias......................................................................................................................429. Bibliografia..............................................................................................................................431. Anexos.....................................................................................................................................441.

(18) INTRODUÇÃO Buscar a real identidade na aparente diferença e contradição, e procurar a substancial diversidade sob a aparente identidade é a mais delicada, incompreendida e contudo essencial virtude do crítico das idéias e do historiador do desenvolvimento histórico. Gramsci, Cadernos do cárcere.. O PCB é o mais antigo partido do Brasil. Fundado em 1922, sua mística sobrevive ainda hoje, posto que sua memória e o seu legado seguem sendo disputados por diversas agremiações que nasceram do velho Partido Comunista do Brasil. Sua enorme longevidade e sua presença sempre marcante na vida política brasileira mereceram, sempre, o respeito e o olhar atento de centenas de estudos que resultaram em diversos livros, artigos e teses acadêmicas, além de inúmeras memórias, acertos de contas e centenas, senão milhares de folhetos, que ajudaram a compor a memória e informar a história do mais antigo partido brasileiro, formando uma gama diversa de material que procurou entrever a trajetória e as razões das suas lutas, vitórias e derrotas, ao longo de mais de 80 anos de atuação. Em que pese o respeito que os historiadores e memorialistas dedicaram a este “sujeito político”, os inúmeros estudos sobre o PCB, especialmente os memorialísticos, por vezes apologéticos, por vezes demasiadamente críticos (ou autocríticos), ora exaltavam os grandes feitos do Partido e de suas lideranças, que viveram, quase sempre, em condições absolutamente adversas, ora não perdoaram o que seria a conduta “vacilante” e as freqüentes mudanças de rumo promovidas pela direção do Partido entre um período e outro. Principalmente sob olhar retrospectivo dos egressos do PCB, publicados em variados momentos e sob diversos formatos, o que se percebe é que boa parte destes textos se apresentou, quase que invariavelmente, como uma mea culpa pelos “erros cometidos” ou pela revolução que não veio. Por este motivo, o que se encontra em boa parte das memórias dos velhos militantes é a idéia persistente acerca dos “equívocos”, sejam eles de “esquerda”, ou de “direita”, e a pergunta que sempre fazem é sobre o que os teria levado ao fracasso. Mesmo nos estudos historiográficos propriamente ditos, de ilibada reputação acadêmica, não são raras as “condenações” ou “louvações”, por esta ou aquela atitude ou formulação, que aparecem as vezes por um ligeiro deslize de quem tinha por obrigação a objetividade histórica. Não obstante, em se tratando do Partido Comunista do Brasil, muito dificilmente se poderá compor.

(19) 17 uma história totalmente desapaixonada, de modo que ainda são poucos os trabalhos que procuram combinar, com apuro e esforço de isenção, as análises objetivas e as subjetividades da prática política dos comunistas diante dos temas da revolução, da democracia e do socialismo. De qualquer forma, esse acerto de contas que demonstra um certo sentimento voluntarista retrospectivo, tanto dos membros do Partido, como, de certa forma, dos historiadores, que informou boa parte da historiografia ao longo de muitos anos, embora tenha sido deveras importante para a construção de uma memória do PCB, vem cedendo espaço a análises mais rigorosas, muito embora, não despidas de paixões, como vem ao caso nos debates e no trabalho com objetos desta natureza.1 Recentemente muitas das novas investigações sobre o PCB têm procurado situar a questão dentro dos limites do “campo de possibilidades” da História, “devolvendo ao passado as incertezas do futuro”.2 Não obstante, algumas formas de julgamento sobre este passado, são perceptíveis e perfeitamente cabíveis, visto que “o historiador examina vidas e escolhas individuais e não apenas acontecimentos históricos”.3 De todo modo, a revalorização das pesquisas sobre o Partido Comunista do Brasil (ou Partido Comunista Brasileiro, como passou a se chamar depois de 1961), além de representarem uma tendência dos próprios estudos historiográficos recentes, estudos estes que buscam revalorizar a dimensão política dos sujeitos do passado, trazem, em seu bojo, uma reavaliação criteriosa dos limites e possibilidades da prática dos comunistas brasileiros durante o último século no Brasil. Ao mesmo tempo, expressam, também, os caminhos e fronteiras de uma parte da historiografia que se acostumou a aprender com seus próprios erros. De fato, foi o PCB o principal partido da República brasileira e não são poucos os momentos da nossa história que têm a importante presença dos comunistas. Mas antes que se produza, aqui, despropositadamente uma visão idílica da atividade do Partido Comunista do Brasil, é preciso ressaltar que foi da clandestinidade que esta organização logrou fazer a história. Durante toda a década de 30, do século XX, e boa parte da década de 40, o PCB foi uma organização duramente reprimida e submetida a longos anos de ilegalidade, que faziam. 1. A questão da “memória” do Partido Comunista no Brasil foi estudada por PANDOLFI, Dulce. Camaradas e companheiros. História e memória do PCB. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995. 2 A expressão, cunhada pelo sociólogo conservador Raymond Aaron, foi resgatada por BRANDÃO, Gildo Marçal, no seu estudo sobre o PCB. A esquerda positiva: as duas almas do Partido Comunista – 1920/1964. São Paulo: HUCITEC, 1997, p. 126. 3 THOMPSON, E. P. A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981, p. 52..

(20) 18 dos comunistas os principais inimigos dos ditadores e dos “democratas” que sobre eles investiram pesado, prendendo, torturando e, por vezes, assassinando, muitos dos seus quadros políticos e militantes mais importantes. O fato é que depois da chamada “intentona comunista” de 1935, os principais dirigentes do PCB encontravam-se presos ou na clandestinidade, e as tentativas de recompor uma Direção Nacional consistente, constituíramse no grande desafio para o que havia restado do Partido depois da derrota do levante de 1935. Se muito se tem dito sobre trajetória do PCB ao longo da sua história, ainda pouco se conhece sobre a especificidade de sua atuação no âmbito dos vários Estados brasileiros. Também são escassos os trabalhos a se debruçarem mais detidamente sobre os significados e as implicações das formulações políticas, e as mediações existentes, entre cada linha efetivamente adotada pelos comunistas e a sua implementação cotidiana ante os trabalhadores. Com efeito, não se pode compreender como uma formulação tática como a União Nacional, enunciada na segunda metade dos anos 30, e vigente até 1947/48, e o papel que ela desempenhou no processo de reorganização do Partido no Brasil, teve tão pouca atenção da historiografia nacional. Da mesma forma, sem que se conheçam as experiências e as práticas que a engendraram a União Nacional, e que foram por elas informadas, dificilmente se poderá compreender os sucessos e reveses do PCB durante o século XX. Outrossim, não se pode desconhecer que o Partido Comunista do Brasil, entre os anos 30 e 40, floresceu mais firmemente a partir da Bahia e de outras regiões do País pouco valorizadas pelos estudos historiográficos que se debruçaram sobre o tema. Quanto a isto, não se pode desconhecer o papel cumprido pelo Comitê Regional da Bahia (CR-BA) na recomposição do Partido bastante atingido pela repressão do Estado Novo, quando do reagrupamento nacional das hostes comunistas sob a bandeira de União Nacional. Da mesma forma, não é incomum encontrar análises apressadas sobre o período de reorganização do PCB depois de 1935, especialmente sobre o momento em que a direção que sucedeu aquela que comandara o Partido durante o levante, trouxe o PCB até a linha política de União Nacional, sendo a peça fundamental na reorganização dos comunistas, haja vista que foi justamente esta direção que realizou um amplo balanço sobre o que seriam os “erros políticos” de 1935, integrando, ainda que precariamente, os CRs de diversos Estados nesse esforço de reconstrução e afirmação da nova linha. Numa palavra, ainda são raros os estudos sobre o PCB na Bahia e o papel que este assumiu na reorganização partidária entre os anos 1930 e 1940, assim como são bem poucos os trabalhos sobre o Partido Comunista durante a época da União Nacional..

(21) 19 Por este motivo, um dos objetivos principais deste trabalho é analisar a atuação dos comunistas, na Bahia e no Brasil, na conjuntura da Segunda Guerra Mundial e de ascensão do movimento de massas antifascistas, período em que vicejou a linha política de frente nacional (União Nacional, a partir de 1937/38) e que perdurou entre os anos de 1936 e 1948. Buscamos, nesta empreitada, compreender a função que o Comitê Regional baiano desempenhou na própria elaboração da linha política adotada pelo Partido e na reconstrução partidária, ainda sob a ditadura do Estado Novo, até o restabelecimento da democracia, a legalidade do PCB e, mais uma vez, a cassação do seu registro e dos seus parlamentares, em 1947/48.4 Da mesma forma, procuramos identificar o grau de organização do Partido em cada micro-conjuntura política, tentando analisar os significados que uma tal linha política, a União Nacional, tinha frente as possíveis vitórias e derrotas do PCB. Em que peso o fato de que o PCB tenha sido tema de inúmeros estudos acadêmicos e extra-acadêmicos, como foi dito alguns elementos de originalidade no estudo aqui proposto podem ser apontados pelo no fato de que ele se refere exclusivamente sobre o período em que vigeu a linha política de União Nacional. Sobre o assunto, são muito poucos os estudos que se dedicaram a descortinar os significados de uma tal formulação na política do PCB que, de perseguido pelo Estado Novo, ganhou a legalidade em 1945 para ser novamente cassado em 1947/48. Da mesma forma, o fato de situarmos seu estudo no Nordeste do Brasil, em particular no Estado da Bahia, entre os anos de 1936 e 1948, constitui opção poucas vezes observada na historiografia brasileira. A despeito desta pesquisa ter um lócus regional, seria impossível, contudo, não admiti-la como uma investigação de abrangência nacional sobre o comunismo brasileiro, visto que em alguns momentos foi o CR baiano um dos únicos organismos em efetivo funcionamento do Partido Comunista no Brasil. Com efeito, em nenhum momento, o olhar aqui lançado sobre o PCB se restringiu a uma ambição localista ou regionalista, haja vista que as informações produzidas sobre o Partido estiveram acessíveis e se tornaram disponíveis, ao menos durante alguns momentos da conjuntura estudada, através dos órgãos da imprensa baiana que dava ampla cobertura ao fenômeno nacional, e mesmo internacional, do comunismo. Sendo assim, as investigações sobre uma organização política de caráter nacional, sendo uma seção da Internacional Comunista, não poderia resistir caso se ativesse, somente, ao âmbito de um Estado, de maneira que foi sempre necessário que as pretensões se elevassem ao plano mais geral das ramificações e influências recíprocas 4. O PCB baiano formou quadros do porte de Maurício Grabois, Diógenes de Arruda Câmara, Giocondo Dias, Mário Alves, Jacob Gorender, Carlos Marighella, entre muitos outros..

(22) 20 ocorridas entre alguns Comitês Regionais do Partido no Brasil, entre estes e a Direção Nacional do Partido, e mesmo entre as interfaces da política comunista brasileira frente a alguns países no âmbito do Komintern. Isto tudo pensado como parte de um movimento internacional mais amplo e “democraticamente centralizado”, como pretendiam os comunistas. Ao lado dessas questões, apontamos para as demandas que têm surgido nos recentes estudos acadêmicos em termos de se reinterpretar a República no Brasil a partir do enfoque de outras regiões e de outros sujeitos históricos, sem que se despreze o tradicional sujeito consagrado nos estudos políticos sobre a República, qual seja, o próprio Estado Nacional.5 Nesta medida, buscamos compreender as pontes entre o individual e o coletivo, o local e o nacional, levantando elementos que indiquem as múltiplas determinações que possibilitaram aos indivíduos e aos agrupamentos políticos de regiões periféricas do Brasil lograrem uma ascensão político-militante no interior de um Partido de contestação da ordem e de âmbito nacional. Neste caminho, não desprezamos o cotidiano, embora não almejemos fazer uma história do cotidiano; não descartamos a cultura e o comportamento, embora uma história comportamental estivesse longe dos nossos propósitos; nem buscamos as representações como mote da nossa empreitada, não obstante os simbolismos sejam também legitimadores do poder político. Analisamos os sujeitos históricos e suas vontades, dialeticamente relacionados às conjunturas e estruturas que são informantes do seu ser social, pois compreendemos que os condicionamentos exteriores à ação desses sujeitos são “determinantes”, ao menos em última instância, do seu ser social. Coadunamos, assim, com a afirmação de Marx, que diz: “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, mas sob aquelas circunstâncias com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”.6 Por conseguinte, convém discutir um pouco acerca do que compreendemos quanto aos fatores “determinantes”, à dialética da temporalidade histórica e da luta de classes, bem como à noção de “necessidade” e “vontade”, que usamos largamente neste estudo, para que não pairem dúvidas sobre as intenções antideterministas desta abordagem que, não obstante, pretende ser também antisubjetivista. Decerto que há na vontade política transformadora elementos de teleologia típicos dos sujeitos que buscam “fazer a história” conscientemente. Entretanto tais elementos, por vezes, terminam por transcender os sujeitos históricos do passado e alcançam o estudioso do tema, 5. Para uma problematização necessária sobre os estudos regionais e locais, veja-se SILVA, Marcos (Coord.). Repúblicas em migalhas. História regional e local. São Paulo: Marco Zero, 1990. 6 MARX, Karl. O dezoito brumário de Louis Bonaparte. São Paulo: Moraes, 1987, p. 15..

(23) 21 tornando-o, também, supostamente portador da “linha da história” que liga o passado ao futuro. Não por acaso, muitas das memórias e reflexões sobre o Partido Comunista do Brasil trazem a indisfarçável marca de uma necessária autocrítica, conforme dito acima. Também os textos acadêmicos, revestidos de rigor metodológico insuspeito, não raro, abordam a questão de maneira teleológica ou mesmo com pesar pelos “erros políticos” que teriam sido cometidos pelos protagonistas do passado. Isto quando não são também espécies de autocríticas de militantes ou de ex-militantes do PCB. Não desconhecemos a importância de todos estes elementos, e seríamos ingênuos se negássemos as possibilidades de que os “erros” e as “traições” ante os momentos de oportunidades históricas tão raras no tempo de vida de um indivíduo tivessem ocorrido e fossem mesmo determinantes em algumas situações. Com efeito, enquanto abordamos uma conjuntura de profundas e intensas transformações políticas e sociais, a dialética e a temporalidade da luta de classes assume uma peculiaridade que é impulsionadora do o tempo histórico, tendo em vista o fator sobre-determinante do político na conjuntura da Segunda Guerra Mundial.7 Neste sentido, transformações que em outras circunstâncias levariam anos ou décadas para se concretizar, realizam-se em semanas a partir dos progressos das consciências de uma parcela das massas trabalhadoras que passam a decidir sobre os seus próprios destinos interferindo decisivamente na transformação histórca, ainda que devidamente informados pelos elementos condicionantes da necessidade. Nestas condições, parece ficar claro que em situações absolutamente atípicas, como as politicamente sobre-determinadas, parcela significativa das massas trabalhadoras, conservadoras e pacientes em tempos normais, chegando a adquirir a experiência de muitos anos em algumas semanas ou meses, podem decidir o futuro em poucos dais. Como aludiu Trotsky, analisando as condições de oportunidade que se produziram na revolução russa de outubro:. É impossível dispor, à vontade, de uma situação revolucionária. Caso os bolcheviques não tivessem tomado o poder em outubro-novembro, por certo, jamais o teriam tomado. Ao invés de uma direção firme, as massas teriam encontrado, entre os bolcheviques, sempre as mesmas divergências fastidiosas entre a palavra e a ação, e afastar-se-iam do partido que iludira suas esperanças durante dois ou três meses, assim com se afastaram dos socialistas-revolucionários e dos mencheviques.8. 7. Cf. WEFFORT, Francisco. “Democracia e movimento operário: algumas questões para a história do período 1945/1964”, Revista de Cultura Contemporânea, nº 1, p. 10, jul. 1978. 8 TROTSKY, Leon. História da Revolução Russa. O triunfo dos soviets. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977, p. 831-832..

(24) 22 Por conseguinte, sob o ponto de vista da dialética, a medida do tempo histórico é sempre múltipla e multifacetada, de modo que se deve atentar para as situações em que, sob o capitalismo, a aceleração da cronologia está submetida à lógica das batalhas fundamentais travadas pela classe trabalhadora e a burguesia, tanto uma como outra, representadas por suas expressões políticas e organizativas sintetizadas, ou não, na forma dos partidos e de suas lideranças. Portanto, a hipótese de Trotsky quanto à inversão das causalidades em determinadas circunstâncias históricas, considerada em sua inteireza e nas situações em que o fator político ganha autonomia e condiciona o futuro, sobre-valoriza a dimensão consciente da ação humana, ou o elemento de vontade, de maneira que no caso de estudos sobre os partidos políticos das classes trabalhadoras, o estudo sobre as suas direções, lideranças, táticas e estratégias, ganha em relevância.9 Ao investigarmos um período da história cuja conjuntura se situa na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, o principal fator da necessidade, as condições objetivas legadas pelo passado, fica quase que subsumido aos elementos da vontade, em função da primazia relativa do político sobre os outros condicionantes, potencializado pela entrada em cena de massas humanas ordinariamente distanciadas da política. Nestas condições deve-se considerar que os elementos da agência, atividade e ação humanas dão a medida exata do tempo conjuntural em que as oportunidades e acontecimentos passam a ser os principais fatores da mudança histórica, de maneira que é através desta dialética que o fator político chega a alcançar, atipicamente, um grau de autonomia relativa, haja vista que é somente em certos momentos que a eficiência dos homens sobre a história se transforma na força motriz da própria mudança, no sentido atribuído por Marx, quando disse que “os homens fazem a história”, e resgatado por Trotsky, que afirmou: “Aquele que for incapaz de admitir a iniciativa, o talento, a energia e o heroísmo no marco da necessidade histórica, não aprendeu o segredo filosófico do marxismo”.10 Todavia, entre ser o sujeito da história ou ser o seu intérprete, vai uma grande diferença, de forma que o historiador, imbuído da vontade de narrar a história dos comunistas e analisar as condições que lhe foram legadas pelo passado, deve tentar evitar discursos panfletários e voluntaristas, que terminam por produzir um passado fundado na vontade 9. Sobre a hipótese de Trotsky sobre a “inversão das causalidades”, veja-se ARCARY, Valério. As esquinas perigosas da história: situações revolucionárias em perspectiva marxista. São Paulo: Xamã, 2004, p. 169-187. Para uma discussão sobre as causalidades no marxismo, SENA JR., Carlos Zacarias F. de. “A dialética em questão: considerações teórico-metodológicas sobre a historiografia contemporânea”. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 24, nº 48, p. 39-72, 2004. 10 TRTOSKY, Leon. A Revolução de 1905. São Paulo: Global, s/d, p. 55..

(25) 23 política do presente. Buscando identificar os aspectos estruturantes de uma realidade pretérita que tanto resultou de condicionantes objetivas, engendradas pelas leis ou tendências da necessidade histórica, quanto por elementos, erros e acertos, das subjetividades que se dispuseram a “fazer a história”, o historiador deve buscar a objetividade que é o critério primeiro do bom texto historiográfico. Em que pese que o nosso olhar não esteja isento de julgamentos sobre os eventuais erros e traições do PCB, ou aquilo que poderia ter significado a perda de uma oportunidade histórica que, não obstante, também atingiu quase todos os PCs do Ocidente, e ainda que não desprezemos a sobre-determinação do político na conjuntura em tela, tentamos sempre evitar qualquer tipo de presentismo, anacronismo ou juízos de valor que poderiam diminuir o valor científico do texto. Em todo caso, considere-se, como já foi dito, a impossibilidade de uma isenção absoluta no tratamento de materiais desta natureza, já que tão próximos do nosso próprio presente, continuam influenciando nas nossas próprias escolhas. Tendo em vista que junto aos elementos de vontade, atinentes às escolhas de um partido político como o PCB, estiveram sempre presentes os fatores condicionantes da necessidade histórica, que informaram a complexa conjuntura e que entraram nos cálculos políticos dos sujeitos históricos abordados nesse estudo, seguimos Gramsci, quando este sugere que a necessidade histórica está vinculada ao conceito de “regularidade” e de “racionalidade”:. Existe necessidade quando existe uma premissa eficiente e ativa, cujo conhecimento nos homens se tenha tornado operante, ao colocar fins concretos à consciência coletiva e ao construir um complexo de convicções e de crenças que atua poderosamente como ‘as crenças populares’. Na premissa devem estar contidas, já desenvolvidas, as condições materiais necessárias e suficientes para a realização do impulso da vontade coletiva; mas é evidente que desta premissa ‘material’, quantitativamente calculável, não pode ser destacado um certo nível de cultura, isto é um conjunto de atos intelectuais, e destes (como seu produto e conseqüência), um certo complexo de paixões e de sentimentos imperiosos, isto é, que tenham a força de induzir a ação ‘a 11 todo custo’.. Ou seja, para que haja necessidade histórica, é imprescindível uma “premissa eficiente”, com condições “suficientemente desenvolvidas” para a realização do ato histórico, que é um ato “intelectual”, de “cultura”, portanto, de “vontade”. Se de um lado as condições materiais da premissa devem ser “necessárias e suficientes”, de outro, no que se refere às. 11. GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Introdução ao estudo da filosofia. A filosofia de Benedetto Croce. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, v. 1, p. 196-197 (grifos no original)..

(26) 24 condições subjetivas, é imperioso um “complexo de paixões e sentimentos”, sem os quais a “necessidade” não se efetiva. Dessa forma, ao analisarmos o processo de reorganização política do PCB em meio ao cataclismo da Segunda Grande Guerra e à conseqüente movimentação antifascista no Brasil, consideramos as circunstâncias excepcionais em que a abertura da uma nova vaga revolucionária mundial, a partir de 1943, permitiu a amplos setores das massas a superação da sua letargia de décadas, de maneira que puderam caminhar buscando a transformação mais radical e profunda da realidade.12 E mesmo que no Brasil tal movimento tenha se dado de maneira desigual e combinada quanto à conjuntura internacional, não há como desconhecer que o significativo ascenso das lutas do período da guerra conduziu os comunistas ao primeiro plano da cena política nacional, ainda na primeira metade da década de 1940, de maneira semelhante à alguns países. Por conseguinte, procuramos analisar em que condições a abertura desta nova etapa da luta de classes e os seus antecedentes afetaram o Brasil e possibilitaram a recomposição das expressões políticas mais avançadas da classe trabalhadora na época, como o Partido Comunista, por exemplo. Nesse estudo buscamos, portanto, analisar a atuação do PCB num contexto histórico determinado, entre 1936 e 1948, tomando a noção de necessidade histórica submetida às condições em que os atores políticos expressam sua vontade de transformar o mundo e agiram sobre este, modificando-o de diversos modos, e sendo modificados por este, ainda que nem sempre com a radicalidade que pretendiam ou que seria necessária num momento de oportunidade histórica. Pretendemos, também, identificar o lastro sobre o qual se ergueu o Partido Comunista do Brasil na conjuntura supracitada, assim como analisar as escolhas que os militantes e dirigentes comunistas fizeram a partir de condições que encontraram, seja sob os aspectos estruturantes mais diretamente identificáveis da realidade, como a situação econômica do País, ou sob os aspectos mais subjetivos referidos a intervenção real dos comunistas na vida política do Brasil após o levante de 1935 e na luta de classes na circunstância em que uma guerra estava em curso e os pecebistas definiram a luta antifascista, pela legalidade e pela democracia como as suas prioridades no quadro da União Nacional. Com efeito, perguntas absolutamente imprescindíveis surgiram ao longo do texto, de maneira que algumas puderam ser respondidas, e outras, pela impossibilidade de aprofundamento que 12. Alguns autores identificam o início dos anos 1940 como de abertura de uma nova vaga revolucionária planetária, tendo como epicentro a Europa, depois da vitória de contra-revolução mundial, entre 1921/23, e em 1942/43. Cf. HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos. O breve século XX: 1914-1991. 2 ed. São Paulo, Companhia das Letras, 1995, p. 445-446..

(27) 25 nos levaria a fugir dos nossos objetivos principais, deverão servir como estímulo para novas empreitadas e investigações. Neste sentido, questões absolutamente relevantes para a análise da atuação dos comunistas sob o período da União Nacional, podem ser apontadas nas seguintes perguntas: de que maneira os comunistas superaram o isolamento das massas e a clandestinidade a que foram submetidos depois do levante de 1935? Como e com que instrumentos realizaram o balanço sobre o levante de 1935 e quais conclusões tiraram? Qual a linha política adotada a partir de 1936 e qual a eficácia desta nos enfrentamentos da luta de classes no Brasil? Como buscaram a direção dos movimentos antifascistas que eclodiram no País no curso do cataclismo mundial? De que maneiras os pecebistas trataram com as outras organizações políticas e demais dirigentes, classes ou frações de classes que pretendiam como aliados? Como dialogaram com as forças políticas e as lideranças conservadoras ligadas ao governo central ou de oposição a este? Com superaram as adversidades surgindo como um grande partido de massas? Em que medida mantiveram ou modificaram os principais elementos de sua tática e estratégia? Como compreenderam a democracia nos marcos da luta antifascista e da ascensão da classe trabalhadora me meados da década de 40? De que maneira os pecebistas reivindicaram as lutas dos trabalhadores frente aos desafios políticos das classes subalternas e aos compromissos táticos e estratégicos assumidos diante da legalidade? São estas e outras questões que procuramos responder ao longo deste trabalho, onde se busca analisar o processo histórico, privilegiando a narrativa, de maneira a evitar as excessivas conceituações, muito embora, em diversos momentos, os conceitos fossem indispensáveis. Observando o aspecto “fragmentário” e “episódico” da história dos grupos sociais subalternos foi, novamente, Gramsci quem chamou a atenção para o fato de que, apesar de tais grupos buscarem permanentemente a unificação na sua atividade histórica concreta, a iniciativa desagregadora dos grupos dominantes tendeu, quase sempre, a romper com toda unidade possível dos “de baixo”. Concluía este autor, à maneira de um outro marxista, o alemão Walter Benjamin, que “só a vitória ‘permanente’ rompe, e não imediatamente, a subordinação” em sua totalidade.13 Do ponto de vista gramsciano, “subordinação” e “desagregação” seriam finalidades correlatas referidas à relação dos “grupos sociais subalternos” com os setores dominantes de uma dada sociedade. Sob este aspecto, o 13. Na sua terceira tese sobre a filosofia história, Walter Benjamin preconizou algo parecido: “O cronista que se põe a contar os acontecimentos sem distinguir pequenos e grandes presta tributo à verdade de que nada que alguma vez tenha acontecido pode ser considerado perdido para a história. Certamente só a humanidade redimida há de assumir todo o seu passado. Isso quer dizer: tão somente à humanidade redimida o passado se torna citável em cada um de seus momentos”. KHOTE, Flavio R., Walter Benjamin. São Paulo: Ática, 1991, p. 155, (coleção Grandes Cientistas Sociais, n. 50)..

(28) 26 comunista italiano fez questão de destacar que não apenas as vitórias parciais, eventualmente conquistadas pelos “de baixo”, no confronto permanente entre os “grupos sociais” (ou classes, bem entendido), permitem a superação da subordinação, senão somente com a vitória definitiva, “permanente”, é que se poderia romper com esta submissão e, por conseguinte, com a fragmentação e a desagregação, tendo em vista que mesmo quando vitoriosos por algum tempo, as classes subalternas estão “apenas em estado de defesa, sob alerta”. Neste sentido, segundo o italiano “todo traço de iniciativa autônoma por parte dos grupos subalternos deve ser de valor inestimável para o historiador integral; daí decorre que uma tal história só pode ser tratada através de monografias e que cada monografia demanda um acúmulo muito grande de materiais freqüentemente difíceis de recolher”.14 E quais seriam os traços de “iniciativa autônoma” que poderíamos encontrar na atividade das classes subalternas no Brasil? Em que medida o Partido Comunista do Brasil se vincula estreitamente à existência e a atividade destes “grupos subalternos?” De que maneira poder-se-ão produzir monografias bem sucedidas neste campo de investigação, dada a parcialidade das eventuais “vitórias” e a permanência do estado de vigilância e alerta perante os grupos dominantes a que estão submetidos os “de baixo”? Antes de tentarmos responder a estas questões, é necessário, entretanto, apresentar um outro problema relacionado à primeira premissa de Gramsci exposta neste texto, qual seja, em que medida a atividade dos comunistas no Brasil esteve sujeita à desagregação e em função de que podemos reconstituir as suas trajetórias num período tão tortuoso da nossa história? Como foi dito, é o Partido Comunista do Brasil a organização política mais estudada do País. Disto não se deve deduzir, entretanto, que os aspectos apontados por Gramsci não caibam na realidade brasileira. Pelo contrário, mesmo os Partidos Comunistas de outras partes do mundo, inclusive o Partido Comunista da Itália, do qual Gramsci foi fundador e um dos principais dirigentes, foram também muito mais estudados do que os seus correlatos nacionais de outros matizes ideológicos. A questão então diz respeito muito mais à estrutura e ao funcionamento de tais Partidos que permitiram aos historiadores reconhecer seus objetivos, identificar suas lideranças e analisar suas linhas de intervenção na política dos seus países e mesmo no âmbito da luta internacional. Também os objetivos e a longevidade dos Partidos Comunistas, favoreceu a um sem número de estudiosos (historiadores, sociólogos, cientistas políticos etc) se debruçarem sobre suas histórias para reconstituírem não apenas sua trajetória, 14. GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Risorgimento. Notas sobre a história da Itália. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, v. 5, p. 135-136..

(29) 27 mas a história social e política dos seus próprios Países. De outro lado, o aspecto desagregador (e de subordinação) dos grupos dominantes, ao qual se referia Gramsci, possibilitou também a preservação de inúmeras fontes históricas vinculadas às atividades dos Partidos Comunistas, haja vista que tais organizações foram profundamente investigadas e reprimidas ao longo de sua existência, o que legou aos historiadores vasto e rico material fruto de relatórios policiais, apreensões de material proibido, processos-crime etc. No Brasil, estes três elementos combinados tornaram-se ainda mais relevantes, muito em função da fragilidade de outras agremiações partidárias, mesmo as de esquerda, quase sempre de vida efêmera (no caso das organizações marxistas) ou sem coloração ideológica definida (no caso de boa parte das organizações burguesas), ou então orientada quase que exclusivamente em função dos grupos dirigentes de plantão (a maior parte dos grupos partidários que existiram no Brasil contém esses três elementos). O PCB, ao contrário, tornou-se então o Partido mais antigo da República brasileira e, por conseguinte, o mais representativo dos últimos cem anos, de maneira que se pode, mais uma vez, afirmar com Gramsci:. Evidentemente, será necessário levar em conta o grupo social do qual o partido é a expressão e a parte mais avançada: ou seja, a história de um partido não poderá deixar de ser a história de um determinado grupo social. Mas este grupo não é isolado; têm amigos, afins, adversários, inimigos. Somente de um quadro global de todo o conjunto social e estatal (e, freqüentemente, também com interferências internacionais) é que resultará a história de um determinado partido; por isso, pode-se dizer que escrever a história de um partido significa nada mais do que escrever a história geral de um país a partir de um ponto de vista monográfico, pondo em destaque um seu aspecto característico. Um partido terá maior ou menor significado e peso precisamente na medida em que sua atividade particular tiver maior ou menor peso na determinação da história de um país.15. Sendo assim, na tentativa de articular os conhecimentos específicos sobre a temática em tela, com elementos de originalidade, também, quanto à abordagem, buscamos, neste trabalho, compreender a ação dos comunistas a partir de sua inserção na luta de classes, entre um período de derrota (1936-1941), outro de recomposição (1941-1943), um terceiro de ascenso (1943-1947), que precederia a uma nova derrota (1947-1948). Com efeito, a linha política de União Nacional dos comunistas, uma tática por excelência que veio sendo gestada desde 1936, é o elemento unificador de todos os períodos. Porquanto os pecebistas tenham tomado, em diversos momentos da conjuntura em estudo, a tática de União Nacional pela estratégia de revolução democrático-burguesa e de libertação nacional, esta entendida como 15. GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere..., Op. cit., v. 1, p. 87..

(30) 28 etapa necessária à países como o Brasil, fizeram-no sempre em função dos significados da luta antifascista e de uma certa euforia democrática que fazia com que o movimento comunista acreditasse na possibilidade de coexistência pacífica. De todo modo, a longevidade da consigna de União Nacional, que atravessou todas as micro-conjunturas do período, parece ter gerado um “impasse”, especialmente no momento em que o PCB se viu diante de inúmeras demandas que tinham sido reprimidas entre os trabalhadores brasileiros. No tratamento deste sujeito/objeto, em que pese a anunciada opção pela abordagem fincada nos pressupostos do materialismo histórico, também recorreremos às sugestões metodológicas da chamada nova história política, que reivindica a pluridisciplinaridade daquilo que seria uma “ciência-encruzilhada”, capaz de promover aproximações com diversos ramos do saber, em especial, com a Ciência Política e a Sociologia, entre outras.16 Assim, o método de análise privilegiado para esta pesquisa será a compreensão de que o âmbito do político extrapola os limites da compreensão de que o Estado é o único detentor do poder, embora seja este o elemento síntese de outras tantas formas de poder da sociedade; de que os sujeitos do político não são apenas os notáveis, mas uma gama infinita de anônimos que dão conformação ao projeto político representado pelos notáveis; ou de que o espaço do político é sempre o nacional, mas articula-se e constrói-se a partir de leituras que são também regionais, em conformidade com a pretensão nacional mais ampla.. ***. Para que se possa estudar o Partido Comunista do Brasil o primeiro material que o pesquisador deve recorrer é ao conjunto de obras que reuniram tanto documentos do próprio Partido (informes, resoluções, discursos, projetos etc), quanto da repressão. Tais publicações, por si só, já ensejaram um sem número de trabalhos específicos tanto sobre o PCB, quanto sobre as demais organizações de esquerda.17 Grosso modo, podemos afirmar acerca da historiografia sobre o Partido Comunista do Brasil, que os estudos sobre o assunto se iniciam com os textos memorialísticos, avançam com textos históricos de estudiosos estrangeiros e, posteriormente, ganha espaço nas produções acadêmicas nacionais.18 Na vertente das 16. REMOND, René. “Uma História Presente”. In: REMOND, René (Org.). Por uma nova história política. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, Editora FGV, 1996, p. 29. 17 A este respeito, vejam-se os trabalhos de VINHAS, Moisés. O Partidão: a luta por um partido de massas. São Paulo, HUCITEC, 1982; CARONE, Edgar. O PCB, São Paulo, Difel, 1982, 3 vols.; entre outros. 18 De certa forma, o padrão identificado por Hobsbawm, que se repete nos estudos sobre o movimento operário no Brasil, também ocorre nos trabalhos sobre o PCB. Vejam-se, a este respeito: HOBSBAWM, Eric. “História.

Referências

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