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O PAPEL DOS SALÁRIOS NA COMPOSIÇÃO DA RENDA E NO CONSUMO DAS FAMÍLIAS NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

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Academic year: 2021

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DA RENDA E NO CONSUMO DAS FAMÍLIAS

NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

Luciana da Silva Ferreira

1

Flaviana Candido Oliveira

2 RESUMO: O presente artigo tem por objetivo analisar a composição da renda e das

despesas dos agentes e o comportamento do mercado de trabalho formal na região Nordeste do Brasil, para a década de 2000, mostrando a heterogeneidade na composição da renda, na distribuição das despesas e no comportamento dos salários dos agentes quando analisados de forma regionalizada. Essa análise permite uma melhor percepção da importância da renda oriunda do trabalho, principalmente o salário do indivíduo empregado que compõe a maior parte do rendimento familiar, evidenciando a grande influência exercida pelo mercado de trabalho na composição da renda e na estrutura do consumo dos agentes. Com isso, o presente trabalho busca compreender as características dos rendimentos e das despesas dos agentes que, em grande medida, é um reflexo da estrutura salarial existente no Nordeste em detrimento das demais regiões do país.

Palavras-chave: Renda; Consumo; Mercado de Trabalho; Nordeste;

THE ROLE OF WAGES IN THE COMPOSITION OF INCOME AND HOUSEHOLD CONSUMPTION IN NORTHEAST OF BRAZIL

ABSTRACT: This article aims to analyze the composition of the income and expenses of agents and the behavior of the formal labor market in northeastern Brazil for some years of the 2000s, showing the heterogeneity in income, the distribution of costs and wage behavior of agents when analyzed by region. This analysis allows a better understanding of the importance of the income f4rom work, especially the individual employee's salary that makes up most of the family income, showing the great influence exerted by the labor market in the composition of income and the consumption structure of agents. Thus, the present study attempts to understand the characteristics of the income and expenses of agents, largely reflects the existing salary structure in the northeast at the expense of the other regions of the country.

Keywords: Income; Consumption; Labour Market; Northeast.

1 Doutora em Economia pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Professora

Adjunta do Departamento de Ciências Econômicas do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da UFRRJ. E-mail:

ferreira_lucianarj@yahoo.com.br

2 Economista pela Universidade Federal do Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), mestranda em Economia pela

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INTRODUÇÃO

Historicamente no Brasil, conforme analisou Furtado (1959), o crescimento e o desenvolvimento econômico ocorreram de forma desigual e combinada. A extensão geográfica a qual é composto esse pais não foi igualmente beneficiada com o processo inicial de industrialização, que se concentrou na região Centro-Sul, promovendo o crescimento dos centros urbanos, a intensificação e o fortalecimento do mercado interno dessa região. Os planos e projetos de desenvolvimento eram voltados para fornecer infraestrutura básica para consolidação do processo industrial especificamente nessa região que passou a ter nesse contexto, um elevado grau de crescimento, desenvolvimento e concentração de riqueza frente às demais regiões. Furtado (1959) relata que enquanto o setor dinâmico econômico da região Centro sul passou a ser a produção industrial, as demais regiões continuaram tendo um processo produtivo voltado para a produção primária, se tornando fornecedoras de matéria prima para essa região e estabelecendo uma relação de dependência com a mesma3.

Nesse contexto, o processo de transformação da economia brasileira que passou de uma economia de produção primária para uma economia industrializada, e a diferença de tempo na disseminação desse processo entre as grandes regiões geográficas, provocou grandes desigualdades regionais que, embora amenizadas com o decorrer do tempo pela implementação de políticas econômicas especificas de desenvolvimento regional, no caso da criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), ainda existe nos dias atuais diferentes graus de infraestrutura, crescimento, desenvolvimento e distribuição de renda entre as regiões do país.

A região Nordeste é um exemplo dessa desigualdade persistente entre as regiões geográficas dado que, como analisou Furtado (1959), a demora em um diagnóstico das verdadeiras causas do problema do atraso econômico da região e da chegada do processo de industrialização prejudicou enormemente o crescimento e o desenvolvimento dessa região, tornando-se a região mais pobre do país. Diante do processo histórico em que se deu o processo de desenvolvimento econômico do Nordeste que gerou certos níveis de desigualdades regionais até hoje não superados totalmente (como mostrará em parte essa análise), é que surgiu o interesse, aqui presente, em desenvolver um estudo sobre a situação em que se encontra a região na primeira década de 2000. Estudo esse focado basicamente no comportamento do mercado de trabalho formal e na composição dos rendimentos e das despesas das famílias, mostrando através da análise empírica, que o Nordeste continua em situação inferior as demais regiões do Brasil, em termos de médias

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de rendimentos apropriado pelos agentes e despesas efetuadas pelos mesmos, assim como as desigualdades nos salários pagos aos trabalhadores formais empregados nessa região.

Em termos metodológicos, buscou-se capturar, apresentar e analisar os microdados da POF e da CEMPRE para a região Nordeste sob a luz do princípio da demanda efetiva de Keynes. O processo inicial dessa análise será a observação das duas Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na primeira década de 2000, que recolhem informações referentes à composição dos rendimentos e das despesas dos agentes econômicos. Essa análise nos permite observar a diferença do rendimento médio familiar do Nordeste com as demais regiões, assim como a heterogeneidade interna entre os Estados da região. A distribuição das despesas também apresentam diferentes resultados, principalmente quando se observa as classes extremas de renda. Os dados também mostram para o conjunto das regiões que a maior parcela dos rendimentos familiares provém do rendimento do trabalho, evidenciando o elevado grau de importância do mercado de trabalho no combate à desigualdade de renda, pois se houver reduções nas distorções dos rendimentos pagos aos trabalhadores essa desigualdade tende a ser amenizada4.

Tendo o mercado de trabalho grande importância na composição da renda, influenciando em certa medida na distribuição das despesas das famílias, a análise de seu comportamento para o mesmo período é de fundamental importância para melhor compreender os resultados obtidos com as POFs. Assim, focaremos na análise do mercado de trabalho formal, observando o volume de trabalhadores, o número de unidades empresariais e a média salarial paga pelos setores de atividades econômicas através dos dados do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

1. DETERMINAÇÃO DO EMPREGO E RENDA

A determinação do emprego e da renda é explicada pelo Princípio da Demanda Efetiva, cuja formulação ocorreu de forma independente por dois economistas na década de trinta: J. Keynes (1985) e M. Kalecki (1983). Em meio a um contexto de recessão e alto desemprego enfrentado pelas principais economias mundiais com a crise de 1929, os dois autores buscaram compreender e explicar a origem e as causas dos problemas. Apesar de percorrerem caminhos teóricos diferentes chegaram a conclusões semelhantes: A importância do volume de gastos autônomos na determinação do produto, da renda e do emprego numa economia capitalista de produção. É através desse princípio na abordagem de Keynes, que serão interpretados os dados apresentados neste trabalho.

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Supondo uma economia aberta e com governo e a validade do Princípio da Demanda Efetiva, os componentes da demanda agregada irão determinar a produção e, por consequência, a renda. De acordo com esse princípio, uma variação num componente autônomo da demanda agregada provoca um aumento mais que proporcional na renda agregada da economia5. Desta forma, cabe verificar cada componente da demanda agregada dessa economia que é composta por famílias, por empresas, pelo governo e pelo setor externo.

As famílias participam da demanda agregada através do consumo em bens e serviços finais (C). Sendo que, parte desse consumo é determinada endogenamente, isto é, depende da renda disponível (renda menos tributos mais transferências) e da propensão marginal a consumir; e parte desse consumo é autônomo. Desta forma, o consumo pode ser representado pela seguinte equação:

𝐶 = 𝐶0+ 𝑐𝑌𝑑 (1)

onde,

C0 = consumo autônomo

c = propensão marginal a consumir Yd = renda disponível

A presença das empresas na demanda agregada se dá com o consumo de bens de capital, ou seja, em investimento (I), que na formulação de Keynes é uma variável autônoma, dependente apenas da diferença entre a eficiência marginal do capital (taxa de desconto que igualaria a expectativa de venda futura com o custo de investir) e da taxa de juros.

O governo participa da demanda agregada através dos gastos em bens de consumo e bens de investimento (G). No entanto, por outro lado, o governo subtrai uma parte da renda do setor privado através dos tributos e transfere recursos para o mesmo setor, via transferências (inclusive os juros pagos da dívida pública) – T.

Ao considerar a participação do setor externo na demanda agregada, supõe-se que o país possui relações comerciais e financeiras com o resto do mundo. As transações comerciais compreendem as transações de bens e de serviços fatores e não-fatores. Os serviços fatores são aqueles prestados por fatores de produção e que, para isso, recebem uma remuneração (estão incluídos os juros pagos e as remessas de lucros, entre outros). Essa renda é enviada ao exterior, caso o país esteja utilizando fatores de não residentes,

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ou é recebida do exterior, caso o setor externo esteja utilizando os fatores do país. A diferença entre a renda enviada e a renda recebida é a renda líquida enviada ao exterior (RLEE).

Já os serviços não fatores incluem os serviços comercializados entre residentes e não residentes do país e que não representam a utilização de fatores de produção, por exemplo, frete e seguro pagos nas transações de bens. A soma dos serviços não-fatores realizados por residentes frente a não residentes e dos bens exportados é contabilizado como o total das exportações do país (X), por outro lado, a soma dos serviços prestados por não residentes e as importações de bens representam o total importado (M).

Tendo visto como cada setor participa da demanda agregada, pode-se, agora, demonstrá-la da seguinte forma:

A demanda agregada (DA) é dada por:

𝐷𝐴 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 + 𝑋 (2)

Por outro lado, a oferta agregada (OA) de bens e serviços na economia é dada da forma subsequente:

𝑂𝐴 = 𝑌 + 𝑀O (3)

Como em equilíbrio, OA = DA, tem-se:

𝑌 + 𝑀 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 + 𝑋 (4)

Considere que as importações dependem da renda interna, isto é, quando há um aumento da renda gerada no país, aumenta-se a possibilidade de importação de bens e serviços. Dessa forma, pode-se afirmar que o total das importações será uma proporção da renda agregada, logo:

𝑀 = 𝑚𝑌 (5)

(6)

O mesmo raciocínio pode ser utilizado para os tributos. Se ocorrer um aumento/queda da renda agregada, o total arrecadado com tributo também aumentará/diminuirá, visto que a economia estará com uma base de tributação maior/menor para ser tributada, por exemplo, com o imposto de renda. Sendo assim:

𝑇 = 𝑡𝑌 (6)

onde t = propensão marginal a tributar6

Substituindo a equação (6) em (1) e, depois, as equações (1) e (5) em (4), tem-se:

(

C I G X

)

m t c Y  + + +      + − − = 0 ) 1 ( 1 1 (7) A expressão m t c − + − (1 ) 1 1

é o multiplicador keynesiano, que possui valor maior que um.

Então, assumida uma variação dos gastos autônomos haverá um aumento da oferta agregada, via aumento da utilização da capacidade instalada, e, por consequência, da renda agregada. Como parte do consumo é função da renda, implicará também em aumento do consumo e mais uma vez aumento da oferta e da renda e, novamente, do consumo. Esse processo ocorrerá até que todo o efeito da variação da demanda seja absorvido. Assim, a variação final da renda agregada será mais que proporcional à variação inicial dos gastos autônomos (via multiplicador apresentado na equação 7).

Dessa forma, é a demanda agregada que determina a oferta agregada de curto prazo, ou seja, a quantidade produzida de bens e serviços da economia se adapta a demanda agregada. Isso ocorre, pois, há uma parte da capacidade produtiva que está ociosa. Logo, dado um aumento na demanda agregada, as unidades produtivas intensificam a utilização da capacidade produtiva e aumentam a oferta de bens e serviços, respondendo, assim, ao impulso dado pela demanda.

Com esse mecanismo, percebe-se que a demanda agregada determina a utilização da capacidade produtiva, isto é, determina a oferta agregada de curto prazo. Porém, pelo

6 É interessante lembrar que T representa a diferença entre os tributos e as transferências, entretanto, para facilitar a

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mesmo mecanismo pode-se chegar à teoria na qual a demanda determina a própria capacidade produtiva (oferta agregada de longo prazo), para tanto, é necessário considerar o caráter dual do investimento, qual seja: no primeiro momento ele é demanda agregada e, por isso, determina a utilização da capacidade (efeito multiplicador); no segundo momento ele será parte da própria capacidade produtiva instalada (efeito acelerador)7. Uma vez apresentada a abordagem teórica que balizará a análise dos dados, o passo seguinte é avaliar o comportamento do rendimento do trabalho e as despesas.

2. COMPORTAMENTO DO RENDIMENTO DO TRABALHO E DA

COMPOSIÇÃO DAS DESPESAS PARA REGIÃO NORDESTE

A observação dos dados das POF 2002-2003 e 2008-2009 que revela informações sobre orçamentos familiares é a primeira fonte utilizada neste trabalho para analisar o comportamento do conjunto de variáveis de interesses. Essa pesquisa fornece informações importantes sobre a composição dos rendimentos apropriados pelos agentes, como são distribuídas as despesas, mostrando os principais tipos de consumo, assim como aspectos de condição de vida, entre outros. A utilização da renda e do consumo visa conhecer o grau de importância de cada componente da renda na composição dos rendimentos apropriados pelos agentes, e identificar quais os itens de consumo tem maior peso no orçamento das famílias.

De acordo com o IBGE (2010), os rendimentos das famílias captados na POF são compostos por rendimentos monetários e não monetários. Os rendimentos monetários são compostos pela renda do trabalho, das transferências, dos rendimentos de aluguel e outros rendimentos. Os rendimentos não monetários são aqueles provenientes de produção, coleta ou recebimento de bens consumidos sem ter passado pelo mercado. No que tange às despesas, essas também são classificadas como monetárias e não monetárias ambas compostas por despesas de consumo e outras despesas correntes, aumentos do ativo e diminuição do passivo.

Observando os componentes da renda dos agentes para as POFs de 2002-2003 e 2008-2009, verifica-se para o conjunto das grandes regiões geográficas que ela é composta principalmente pelos rendimentos do trabalho e transferências ao longo de toda a década. Quando se analisa a região Nordeste internamente, segue-se essa mesma tendência para o conjunto dos nove Estados nordestinos. O rendimento oriundo do trabalho responde por aproximadamente dois terços do rendimento total.

Como podemos perceber pelos dados da tabela 1, o rendimento oriundo do trabalho é a principal fonte de renda das famílias no período de realização da pesquisa, apesar de ter

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ocorrido uma leve queda de percentual em 2008-2009, o que pode ser associado ao aumento do percentual de transferências - principalmente no que tange a transferências com aposentadorias e pensões e as referentes a programas sociais do governo - e ao elevado crescimento do número de famílias que cresceu aproximadamente 19% a nível nacional em comparação com o período de 2002-2003 e no Nordeste 23%. A região Centro Oeste apresentou um crescimento de 4,3 pontos percentuais no volume de transferências, seguido pelo Nordeste com 4,1 pontos percentuais em relação a POF de 2002-2003. A parcela de rendimentos não monetários apresentou queda em todas as regiões geográficas.

Tabela 1 – Distribuição dos rendimentos monetário e não monetário médio mensal familiar por Regiões Geográficas, período 2002-2003 e 2008-2009, em %.

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 e 2008-2009. Elaboração própria.

Analisando a distribuição do rendimento do trabalho (que é composto pelo rendimento do empregado, do empregador e do trabalhador por conta própria) para os Estados nordestinos, conforme gráfico 1, os Estados de Sergipe, Maranhão e Paraíba apresentaram na POF de 2008–2009 variações positivas na distribuição de rendimento do trabalho de 1,8, 1,0 e 0,4 pontos percentuais respectivamente em comparação com a POF de 2002-2003. Os demais Estados tiveram variações negativas, tendo Ceará e Piauí atingido queda de 4,3 e 4 pontos percentuais, respectivamente. Observa-se que Alagoas era unidade federativa que apresentava em 2002-2003 o maior percentual de rendimento proveniente do trabalho na composição de renda das famílias com 62,7% e que, em 2008-2009 esse posto é assumido pelo Maranhão. Esse resultado pode estar associado ao elevado crescimento do volume de trabalhadores formais ocorrido neste Estado em 2008, como será apresentado no decorrer do desenvolvimento do artigo, evidenciando o impacto do mercado de trabalho nos rendimentos das famílias, pela elevação da participação do salário do empregado na renda familiar.

Var. patrimonial 2002/03 2008/09 2002/03 2008/09 2002/03 2008/09 2002/03 2008/09 2002/03 2008/09 2008-2009 Brasil 62,0 61,1 15,0 18,5 1,8 1,7 6,6 1,6 14,6 12,6 4,4 Norte 65,7 65,6 10,8 13,3 1,0 1,1 5,9 1,7 16,6 14,5 3,9 Nordeste 59,4 57,8 18,4 22,5 1,4 1,2 5,2 2,0 15,5 13,6 2,9 Sudeste 62,3 61,2 15,0 18,5 2,0 1,9 6,8 1,2 13,8 12,5 4,6 Sul 60,8 60,3 14,4 17,1 2,0 1,7 7,5 2,3 15,4 12,9 5,8 Centro Oeste 0,655 0,664 0,118 0,161 0,015 0,016 0,062 0,013 0,150 0,112 0,033 Regiões

Distribuição dos Rendimentos Monetarias e Não Monetarias

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Gráfico 1 – Distribuição e Variação do Rendimento Médio Mensal do Trabalho por Estados da Região Nordeste POF 2002-2003 e 2008-2009

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, POF 2002-2003 e 2008-2009. Elaboração Própria.

É importante ressaltar que essas variações negativas do rendimento do trabalho na distribuição da renda total não foram transferidas para a participação da remuneração do agente empregado, pois quando se observa a composição do rendimento do trabalho, que é subdividida pelo IBGE em empregado, conta própria e empregador, o rendimento do empregado registrou um resultado positivo bastante expressivo na POF de 2008-2009 quando comparado a POF do período de 2002-2003. Pelo gráfico 2, observa-se que no Brasil, em 2003, o rendimento do empregado respondia por 68,5% do total de rendimento do trabalho (analisado com base 100), e que em 2009 houve aumento de 2,2 pontos percentuais. No Nordeste, o grau de participação do empregado no rendimento do trabalho foi ainda maior, de 63,9% foi para 70%, elevando-se 6,1 pontos percentuais. Por outro lado, o rendimento do empregador caiu 5,7 pontos percentuais no Nordeste, apresentando queda também a nível nacional para o mesmo período. No entanto, quando se observa os valores absolutos, o Nordeste continua em situação inferior às demais regiões, a média mensal de rendimento das famílias na POF de 2008-2009 foi 36,14% inferior à média nacional. No período 2002-2003 a região apresentou rendimento médio familiar inferior ao nacional na proporção de 39,32%, havendo apenas uma pequena queda no período de seis anos, revelando a desigualdade ainda persistente no Nordeste

50,0% 52,0% 54,0% 56,0% 58,0% 60,0% 62,0% 64,0% 2002-2003 2008-2009

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frente às demais regiões, evidenciando a necessidade de políticas de desenvolvimento que visem amenizar essa desigualdade.

Gráfico 2 – Composição do rendimento do trabalho Brasil e Nordeste – POF 2002-2003 e 2008-2009

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, POF 2002-2003 e 2008-2009. Elaboração própria.

Sendo a composição da renda dos agentes oriunda principalmente dos rendimentos do trabalho e das transferências (composta por aposentadoria pela previdência pública e privada, bolsa de estudo, pensão alimentícia, mesada e doação e transferências transitórias) é interessante observar como ocorreu a distribuição entre cada item e qual deles tem maior relevância no rendimento das famílias.

Conforme valores da POF de 2002-2003, a transferência respondeu por 18,4% dos rendimentos totais das famílias do Nordeste, com valor absoluto nominal 25,5% inferior à média nacional. Do total das transferências 76% corresponde a aposentadorias pela previdência pública e 12% à pensão alimentícia, mesada e doação, sendo pequeno o percentual de transferência com bolsa de estudo e previdência privada.

68,5% 70,7% 63,9% 70% 19,9% 20,2% 23,4% 23% 11,7% 9,1% 12,7% 7% 2002-2003 2008-2009 2002-2003 2008-2009 Bras il N o rd es te

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Gráfico 3 – Composição das transferências na região Nordeste – POF 2002-2003 (%)

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, POF 2002-2003. Elaboração própria.

Pelos dados da POF de 2008-2009, os rendimentos oriundos do trabalho e de transferência continuaram a ter maior participação na composição da renda dos agentes, respondendo conjuntamente por 76% da renda total nacional e 80,3% do total da renda do Nordeste. Vale ressaltar que ocorreu no período crescimento percentual da participação das transferências em todas as regiões do país, tendo o Nordeste um aumento de 4,1 pontos percentuais, aumento superior ao nacional. Em grande medida, no Nordeste, esse crescimento da participação das transferências na composição da renda está atrelado aos programas sociais federais como bolsa família, benefício da prestação continuada e programa de erradicação do trabalho infantil (PETI), que responderam juntamente por 11% do total das transferências nesse período na região. Nas demais regiões os programas sociais federais apresentaram variação positiva, mas em percentuais bem menores, evidenciando mais uma vez a posição de desigualdade social da região, que apresentou um volume elevado de famílias carentes aptas a serem beneficiadas por esses programas do governo. 76% 2% 2% 12% 8% Aposentadoria Previdência Pública Aposentadoria Previdência Privada Bolsa de estudo

Pensão alimentícia, mesada e doação

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Gráfico 4 – Composição das transferências na região Nordeste – POF 2008-2009

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, POF 2002-2003. Elaboração própria.

Apresentada a estrutura dos rendimentos das famílias, seguiremos com a análise da composição das despesas ocorridas no período. As tabelas 02 e 03 apresentam dados das despesas médias familiares por classe de rendimentos, segundo regiões geográficas para as POFs de 2002-2003 e 2008-2009. Esses dados nos permitem observar as heterogeneidades das despesas entre o Nordeste e as demais regiões, e as variações ocorridas no período.

Na POF de 2002-2003 a despesa total média mensal familiar nacional foi de R$ 1.778,03 e a região Nordeste apresentou o menor valor de despesa total média mensal familiar, com valor inferior ao nacional em 36,2% enquanto a região sudeste superou a média nacional em 21,66%. Quando se observa a média de despesas das classes de rendimento por região geográfica, na classe de menor rendimento a região Nordeste também apresenta a menor média de despesa familiar, se situando abaixo da média nacional.

Estendendo a análise para a distribuição dos tipos de despesa total, a despesa monetária média mensal familiar, no Nordeste, corresponde a 84,04% e a não monetária a 15,96%. Desse total, 86,26% são despesas correntes de consumo de bens e serviços

77% 2% 7% 11% 3% Aposentadoria previdência pública Aposentadoria previdência privada

Pensão alimenticia, mesada e doação

programas sociais federais Outras transferências

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(agrupados pelo IBGE em alimentação, habitação, vestuário, transporte, higiene e cuidados pessoais, assistência a saúde, educação, recreação e cultura, fumo, serviços pessoais e outras despesas diversas). Esse percentual é superior à média nacional, que tem uma média de despesa corrente em consumo de 82,41%. A POF do período também apresentou dados da distribuição por tipo de despesa para as unidades da federação, e todos os estados do Nordeste apresentaram médias de despesas correntes em consumo superiores a nacional. No Maranhão, o percentual de despesa corrente em consumo chegou a 90,9%.

Tabela 2 – Despesa Média Mensal por Classe de Rendimento Médio Mensal Familiar Segundo Grandes Regiões Geográficas Período 2002-2003, em R$

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003. (1) Inclusive sem rendimento

Analisando as mesmas variáveis pelos dados da POF 2008-2009, houve aumentos absolutos significativos nas médias de despesas de um modo geral, pois no intervalo de seis anos, os valores nominais dos rendimentos se alteraram, e as divisões das classes por rendimentos assumiram novos valores. No entanto, mantiveram-se para o Nordeste as mesmas tendências observadas na pesquisa anterior. A região continua em valor absoluto com a menor média de despesa total mensal familiar frente as demais regiões, se situando abaixo da média nacional em todas as classes de rendimento, exceto na classe de maior rendimento. As despesas correntes de consumo, em valores percentuais em relação à média da região, se mantiveram acima da média nacional; e todos os Estados nordestinos mantiveram suas médias de despesas correntes em consumo acima da média nacional. Ou seja, a região, por continuar apresentando a menor média de rendimento, gerando a menor média de despesa (apesar da existência de créditos, em que o agente pode ampliar seu consumo por meio de endividamento, recorrendo a empréstimos, a compras parceladas no cartão entre outras), consequentemente destinará maior parcela das

total

até 400 (1) Mais de 2000 a 3000 mais de 6000

Brasil

1 778,03

454,7

2 450,03

8 721,91

Norte

1 292,13

484,47

2 217,97

6 882,24

Nordeste

1 134,44

393,19

2 414,18

8 778,69

Sudeste

2 163,09

525,51

2 455,08

8 846,75

Sul

1 912,48

533,91

2 483,12

8 488,15

Centro Oeste

1 756,68

506,51

2 545,67

8 876,47

Despesa média mensal segundo classe de rendimento

Grandes regiões

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despesas para consumos correntes que são essenciais a existência do indivíduo, apresentando assim, percentuais nesse item acima do nacional.

Tabela 3 – Despesa Total média mensal por classe de rendimento nominal médio mensal familiar segundo grandes regiões geográficas período 2008-2009

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009.

(1) Inclui os rendimentos monetários e não monetário e a variação patrimonial. (2) inclusive sem rendimento

Dado o elevado percentual de despesas correntes em consumo a nível nacional e regional é interessante analisar a composição da despesa de consumo para os principais agrupamentos classificados pelo IBGE, pois esses dados revelam quais os principais gastos das famílias em cada região, evidenciando a relação desses gastos com os rendimentos das famílias, quando analisados por classe de rendimentos, sendo uma importante fonte de informações para possíveis implementações de políticas públicas que visem amenizar a desigualdade de distribuição de renda e melhorar o acesso aos diferentes tipos de bens e serviços entre as regiões e as de classe de menores rendimentos.

Pela tabela 4, que contém dados extraídos da POF de 2002-2003 verificamos que alimentação, habitação e transporte representam os principais gastos das famílias, somando os três itens 74,69% dos gastos totais em consumo a nível nacional e 75,07% na região Nordeste. Os gastos com alimentação têm um grande peso nas despesas em consumo das famílias no Nordeste, se situando acima da média nacional em 6,04 pontos percentuais, por outro lado as regiões Sudeste, Sul e Centro Oeste apresentaram percentuais de gastos com alimentação inferiores à média nacional, apesar de terem apresentado as maiores despesas totais médias mensais, se situando acima da nacional, como foi apresentado anteriormente. Os gastos das famílias do Nordeste com vestuário se situa acima dos percentuais dessas regiões, por outro lado os gastos com educação e assistência à saúde assumem valores inferiores.

total ate 830 (2) mais de 4 150 a 6 225 mais de 10 375

Brasil 2 626,31 744,98 4 778,06 14 098,40 Norte 2 006,80 809,97 4 530,53 12 005,98 Nordeste 1 700,26 641,55 4 547,21 14 312,77 Sudeste 3 135,80 831,67 4 780,13 14 245,06 Sul 3 030,44 929,75 4 971,14 14 008,74 Centro Oeste 2 591,14 780,75 4 758,94 13 770,33

Despesa média mensal segundo classe de rendimento (1) Grandes regiões

(15)

Tabela 4 – Distribuição das despesas de consumo monetária e não monetária média por tipos de despesa, segundo Grandes Regiões - POF 2002-2003 (%)

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003.

Observando as mesmas variáveis pelos dados da POF de 2008-2009, conforme apresentado na tabela 5, o percentual de gastos com alimentação caiu em todas as regiões, os gastos destinados à educação, que já apresentavam pequenos percentuais, caíram ainda mais para o conjunto das regiões, tendo à região norte a única a apesentar um leve aumento. Por outro lado os gastos com habitação e transporte se elevaram. A composição dos gastos no Nordeste frente às demais regiões manteve-se com a mesma tendência do período anterior.

Quando se observa internamente os agrupamentos por classe extrema de rendimentos, a heterogeneidade no percentual de gastos para os itens de maior relevância fica bastante explícita. Conforme dados da POF 2002-2003 Para classe com menor rendimento, a média nacional dos gastos feitos com alimentação é de 34,55% em relação às despesas com consumo, para esse grupo do total gasto com alimentação, 88,19% ocorrem no domicílio, enquanto na classe de maior rendimento a média de gasto com esse item é de 14,89%, sendo apenas 62,95% do total gasto no domicilio. No Nordeste, a classe com menor rendimento tem média de gasto com alimentação de 40% e desse total 89,72% são destinados a gastos com alimentos no próprio domicílio. Já a classe de maior rendimento tem média de gasto com alimentação de 14,46%, destinando desse total 65,22% para alimentação no domicilio.

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste

Total 100 100 100 100 100 100

Alimentação 20,8 27,2 26.8 18,9 20,0 18,9

Habitação 35,5 33,4 32,3 36,7 35,5 35,9

Vestuario 5,7 7,3 6,8 5,1 5,7 5,9

Transporte 18,4 15,7 16,0 18,4 20,7 20,8

Higiene e cuidados pessoais 2,2 3,0 3,0 1,9 1,9 2,1

Assistencia à saúde 6,5 4,9 6,0 6,9 6,2 6,4 Educação 4,1 2,3 3,3 4,7 3,5 4,1 Recreação e cultura 2,4 2,2 2,1 2,6 2,3 2,3 Fumo 0,7 0,7 0,6 0,7 0,7 0,7 Serviços pessoais 1,0 0,8 1,0 1,1 0,8 1,1 Despesas diversas 2,8 2,6 2,3 2,9 2,9 2,8

Despesa em consumo média mensal familiar (%) Tipos de Consumo

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Tabela 5 – Composição das despesas em consumo média por tipos de despesa, segundo Grandes Regiões - POF 2008-2009, em %

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 e 2008-2009

No gasto com habitação e transporte, temos que na classe de menor rendimento as médias desses itens em relação ao gasto em consumo foram de 39,27% e 8,62 % respectivamente para o Brasil e de 34,28% e 8,88% para o Nordeste. No que tange ao gasto com habitação, o maior percentual é destinado a gasto com aluguel e os referentes a transporte com utilização de transporte urbano. Para a classe de maiores rendimentos as médias de despesas com habitação e transporte foram de 31,51% e 24,61% respectivamente para o Nordeste e de 33,83% e 22,82% para o Brasil. Para essa classe os maiores gasto com habitação também são destinados para aluguel, porém com percentuais menores do que os da classe de menor rendimento. Dos gastos com transporte, mais de 40% são destinados à aquisição de veículos, sendo baixo o percentual gasto com transporte urbano. Os demais gastos selecionados também apresentaram elevados graus de diferença entre os tipos de itens consumidos pelas classes extremas de renda, como pode ser verificado na tabela que segue, entre eles o elevado percentual de gastos com remédios da classe de menor rendimento, no item de assistência a saúde e a diferença de gastos com cursos regulares e superiores entre as classes no quesito educação. Vale ressaltar que a análise feita anteriormente refere-se aos valores relativos das duas classes (uma vez que apresentam valores absolutos extremamente distintos), para revelar qual o peso de cada item dentro do orçamento familiar de cada classe (que nesse trabalho se limitou as classes extremas), e como esse peso vai se reduzindo à medida que se aumenta os rendimentos das famílias, diversificando os itens de consumo e

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste

Total 100 100 100 100 100 100

Alimentação 19,8 25,8 24,2 18,3 18,5 17,7

Habitação 35,9 33,6 32,8 37,2 35 37,9

Vestuario 5,5 7,4 6,5 4,9 5,9 5,2

Transporte 19,6 16,5 18,2 19,5 21,9 21,2

Higiene e cuidados pessoais 2,4 3,6 3,1 2,1 2,2 2,5

Assistencia à saúde 7,2 4,9 6,5 7,9 7 6,4 Educação 3 2,4 2,8 3,4 2,5 2,8 Recreação e cultura 2 1,9 1,8 2,1 2 1,7 Fumo 0,5 0,4 0,4 0,6 0,6 0,5 Serviços pessoais 1,1 1,1 1,1 1,2 0,9 1,2 Despesas diversas 2,9 2,5 2,4 2,9 3,4 3

Distribuição da Despesa de consumo média mensal familiar (%) Tipos de despesas

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consequentemente aquecendo o mercado de outros bens e serviços, que não obtém tanta demanda quando os rendimentos são baixos.

Assim, dado o peso do rendimento do trabalho no orçamento familiar, uma elevação contínua e permanente do salário mínimo real tende a melhorar e ampliar o consumo das famílias, amenizando a desigualdade entre as classes econômicas, melhorando o padrão de vida das famílias menos favorecida e aumentando a renda, o emprego e produto do país, conforme pode ser percebido pelo princípio da demanda efetiva. A tendência de que à medida que se eleva o rendimento a estrutura do consumo vai se modificando pode ser observada na POF de 2008-2009, que será analisada em seguida, apesar de apresentar apenas as classes extremas de rendimento, e os percentuais de apenas alguns itens. Esses itens são alguns dos principais produtos que compõe a cesta de consumo dos indivíduos e que apresentam diferenças significativas à medida que vai se elevando o rendimento das famílias.

Tabela 6 – Distribuição dos Principais Tipos de Consumo por Classe Extrema de Rendimento Mensal Familiar Brasil e Nordeste - POF 2002-2003, em %

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003.Elaboração própria.

(1) Inclusive sem rendimento

ate 400 (1) mais de 4000 ate 400 (1) mais de 4000

Alimentação 100 100 100 100 No domicilio 88,19 62,95 89.72 65,22 Fora do domicilio 11,81 37,05 10,28 34,78 Habitação 100 100 100 100 Aluguel 46,49 42,83 44,27 40,26 sevirços e taxas 24,04 28,51 21,32 26,21 Outros 29,47 28,66 34,41 33,53 Transporte 100 100 100 100 Urbano 48,34 9,64 54,45 7,67 Aquisição de veículo 20,37 42,77 19,2 43,54 Outros 31,29 47,59 26,35 48,79 Assistencia a saúde 100 100 100 100 remedios 75,74 30,78 81,18 29,35 plano de saúde 6,86 40,95 1,47 49,22 Outros 17,4 28,27 82,65 21,43 educação 100 100 100 100 Cursos regulares 10 31,21 14,12 40,09 Cursos superiores 6,25 38,73 1,18 29,42 outros 83,75 30,06 84,7 30,49

Despesas em consumo por classe extrema de rendimento (%)

Brasil Nordeste

Distribuição (%)

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Na POF de 2008-2009, os valores absolutos das médias de rendimento mensais das famílias se ampliaram a nível nacional e regional, embora o Nordeste continue a ter a média mais baixa. Ampliando o rendimento, ampliou-se também as médias de despesas (pois conforme a teoria de Keynes, uma ampliação na renda dos agentes leva a um aumento no consumo, por causa da propensão marginal a consumir), e se modificou os percentuais dos tipos de consumo entre as famílias. Nesse período, o percentual de gasto com alimentação fora do domicilio cresceu tanto para as classes de rendimentos menores, quanto para as de maiores rendimentos, no Brasil e Nordeste. O gasto com transporte urbano se reduziu para as duas classes, mas, a aquisição de veículos se ampliou para os dois espaços geográficos analisados. Dessa forma, percebe-se que com rendas mais elevadas, a aquisição de bens e serviços vai se modificando, permitindo as famílias destinarem maiores parcelas de suas rendas para outros tipos de bens, além de alimentação, utilização de transporte público e pagamento de aluguel. Assim, o crescimento da renda das famílias de classe menos favorecida, garante a essas a acessibilidade a itens diversos que também são importantes para proporcionar qualidade de vida aos agentes. Políticas que visem melhor distribuição de renda, precisam também partir de uma análise da distribuição da despesa dos agentes, a fim de verificar a estrutura do consumo das famílias de baixa renda, identificando os itens que consomem maior parte de seus rendimentos e, possibilitado a elas acesso aos bens e serviços que são indispensáveis a existência em quantidades e qualidades suficientes para que essas famílias vivam dignamente e se reduza a distância entre as classes econômicas.

(19)

Tabela 7 – Distribuição Percentual dos Principais Tipos de Consumo por Classe Extrema de Rendimento Mensal Familiar Brasil e Nordeste - POF 2008-2009, em %

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009. Elaboração própria.

Inclusive sem rendimento

Pela composição da renda e das despesas dos agentes, verificou-se que o rendimento do trabalho é principal fonte de rendimento dos agentes, influenciando em grande medida a composição das cestas de consumo das famílias e que, aproximadamente 70% do total do rendimento do trabalho são oriundos do salário do trabalhador empregado. Dessa forma, se faz necessário analisar como se deu o comportamento do mercado de trabalho para o mesmo período, para melhor compreender os resultados obtidos nos rendimentos e despesas das famílias, uma vez que o rendimento do empregado exerce grande influência no comportamento dessas variáveis. Assim, seguiremos com a análise do comportamento do mercado de trabalho formal, a fim de verificar a variação no volume de mão de obra empregada e as faixas salariais pagas aos trabalhadores, que influenciou a composição da renda e das despesas analisadas anteriormente.

ate 830 (1) mais de10 375 até 830 (1) Mais de 10 375

Alimentação 100 100 100 100 No domicilio 82,8 50,7 85,5 54,8 Fora do domicilio 17,2 49,3 14,5 45,2 Habitação 100 100 100 100 Aluguel 47,04 38,6 44,02 30,43 sevirços e taxas 23,92 19,74 23,03 23,34 Outros 29.04 41,66 32,95 46,23 Transporte 100 100 100 100 Urbano 39,18 3,39 40,9 2,42 Aquisição de veículo 24,74 53,11 26,86 66,67 Outros 36,08 43,5 33,05 30,91 Assistência à saúde 100 100 100 100 remedios 76,36 33,93 78,72 26,67 plano de saúde 5,45 42,86 2,13 53,33 Outros 18,19 23,21 19,15 20 educação 100 100 100 100 Cursos regulares 11,11 31,03 20 33,33 Cursos superiores 11,11 31,03 10 33,33 outros 77,78 37,94 70 33,34 Tipos de despesa

Despesas em consumo por classe extrema de rendimento (%)

Brasil Nordeste

(20)

3. COMPORTAMENTO DO MERCADO DE TRABALHO

A análise sobre o mercado de trabalho formal terá como ponto de partida o ano de 2002, pois foi o ano que deu origem a primeira POF da década seguindo pelo de 2008, origem da segunda POF.

Em 2002, segundo dados coletados pelo CEMPRE, o volume de empresas em funcionamento no país superou os 5 milhões, empregando formalmente aproximadamente 28 milhões de trabalhadores, dentre os quais a região sudeste absorveu mais de 52% do volume total de assalariados, enquanto a região Nordeste, a segunda região mais populosa do país, respondeu por apenas 17% do total de trabalhadores formais. Voltando-se para a região Nordeste e observando a classificação dos setores de atividades, temos que os setores que mais se destacaram em números de unidades locais são os ligados ao comércio, atividades imobiliárias e indústria de transformação, apresentando em números de unidades aproximadamente 444,4 mil, 72 mil e 60,8 mil respectivamente. Os que apresentaram participação menos expressiva foram eletricidade, gás e água com aproximadamente 1,3 mil unidades, indústria extrativa com aproximadamente 2 mil unidades e a administração pública com 4,1 mil. Apesar de apresentar um pequeno número de unidades locais, a administração pública é o setor que apresenta o maior volume de trabalhadores formais com mais de 1,7 milhão de empregados, alcançando 36% do total de assalariados da região, seguido pelo comércio com 14,4% e a indústria de transformação com 13,8%. Quando se observa a classificação dos setores de atividades para o conjunto dos nove estados da região, o setor ligado a administração pública tem maior representatividade no emprego de mão de obra, mostrando a importância da atuação dos órgãos públicos para geração de emprego na região. A média salarial do Nordeste é mais baixa entre as regiões, os números de unidades locais e mão de obra contratada foram mais elevados nos municípios do interior a nível nacional e regional. Esse fator contribui para intensificar o mercado interno em cada estado, promovendo crescimento das cidades de menor porte e contribuindo fortemente para amenizar o problema da emigração de pessoas para os grandes centros urbanos.

(21)

Tabela 8 – Unidades local e pessoal assalariado por setores de atividades segundo região Nordeste - CEMPRE 2002

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Cadastro Central de Empresas 2002. Elaboração própria

No ano de 2008, no Nordeste, o volume de unidades locais empresariais caiu 5%, no entanto essa queda não representou queda no volume de trabalhador formal, pois para o mesmo período houve crescimento positivo no volume de assalariados de 40% em relação a 2002, mostrando que nem sempre o número de unidades empresariais tem relação direta com o número de trabalhadores contratados. Entre os estados do Nordeste, o que apresentou maior crescimento percentual no volume de trabalhadores formais foi o estado do Maranhão, tendo um aumento de 52%, seguido pelo estado do Rio Grande do Norte com crescimento de 42%. Paraíba e Sergipe apresentaram o menor crescimento relativo, ambos com 33%, resultados também expressivos. A estrutura dos setores de atividades manteve a mesma tendência do período de 2002, os setores que tinham maior representatividade no emprego de trabalhadores formais permaneceram os mesmos, não havendo muitas modificações nas médias salariais.

Unidades Assalariados

Brasil 5.339.639 27.854.902

Nordeste 817.604 4.818.086

Agricultura, pecuária, silvicultura, Pesca e exploração florestal 8.258 93.014

Indústrias Extrativas 1.941 19.093

Indústrias de Transformação 60.836 668.036

Produção e distribuição de eletricidade, gás e água 1.275 40.857

Construção 21.608 194.475

Comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos 444.363 696.596

Alojamento e alimentação 36.353 130.366

Transporte, armazenagem e comunicações 22.577 192.361

Intermediação financeira, seguros, previdência complementar e serviços relacionados17.223 65.954

Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas 71.903 412.845

Administração pública, defesa e seguridade social 4.106 1.735.421

Educação 21.509 197.439

Saúde e serviços sociais 19.680 182.386

Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 85.969 189.234

Organismos Internacionais e outras instituições extraordinárias 3 9

2002 Setores de Atividades Econômicas

(22)

Tabela 9 – Unidades local e pessoal assalariado por Estados Nordestinos, 2002 e 2008

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Cadastro Central de Empresas 2002 e 2008. Elaboração própria

Em relação aos rendimentos dos trabalhadores formais, a média salarial nominal no Nordeste foi de 2,6 salários mínimos mensais, tendo as atividades das indústrias extrativas e eletricidade e gás apresentado a maior média salarial, com 9,1 e 8,5 salários mínimo mensal respectivamente. Por outro lado, o grupo de atividades com a pior média foi alojamento e alimentação com 1,3 salários mínimos mensais. Quanto aos estados, Sergipe e Bahia tem as maiores médias salariais com 2, 9 e 2,8 respectivamente, situando-se acima da média regional, porém abaixo da média nacional que é de 3, 4 salários mínimos mensais. Ceará e Piauí apresentaram as piores médias, 2,3 cada um. O Nordeste é a região que paga média salarial mais baixa do país e o Centro Oeste é que tem a melhor média do país, se destacando a unidade federativa do Distrito Federal, onde se situa a capital do país, ofertando empregos em ocupações que tem altos valores salariais nominais frente às demais unidade da federação. Quando se observa o volume de trabalhadores por faixas salariais, percebe-se grandes diferenciais entre as regiões, tendo o Nordeste mais uma vez se situando em posição inferior frente as demais regiões geográficas, tendo um maior número de trabalhadores ganhando entre 1 a 2 salários mínimos mensais e o menor percentual com faixas salariais acima de 4 salários mínimos. Essa desigualdade na estrutura salarial paga aos trabalhadores da região explica em grande medida o porquê de os valores absolutos das médias de rendimentos familiares no Nordeste serem inferiores as das demais regiões, uma vez que o rendimento do trabalhador empregado é a principal fonte de rendimento na composição da renda dos agentes familiares e que estes, por sua vez, recebem uma média salarial inferior aos trabalhadores das demais regiões geográficas do país.

Unidades locais Assalariados Unidades locais Assalariados

Nordeste 817.604 4.818.086 779.578 6.758.955

Maranhão 60.017 350.375 60.528 532.131

Piauí 44.827 238.506 42.158 332.094

Ceará 155.949 798.158 141.416 1.109.253

Rio Grande do Norte 52.999 360.699 52.287 510.716

Paraíba 57.571 366.090 55.327 487.558 Pernambuco 133.326 903.919 123.903 1.278.014 Alagoas 38.380 299.788 34.985 415.794 Sergipe 25.735 232.166 27.984 308.536 Bahia 248.800 1.268.385 246.990 1.784.859 Estados 2002 2008

(23)

Gráfico 3 – Média salarial em salários mínimos por Região Geográfica, ano de 2008

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Cadastro Central de Empresas 2002 e 2008. Elaboração própria

Por outro lado, o mercado de trabalho apresentou elevado crescimento no volume de trabalhadores formais para o período de 2008 frente ao período de 2002. Esse fator positivo também explica o crescimento na participação do rendimento do empregado na composição da renda das famílias para o mesmo período (como já foi analisado anteriormente). Assim, verifica-se pelo comportamento do mercado de trabalho a relação direta existente entre este e a composição da renda das famílias e, em certa medida, a influência exercida na composição das despesas.

4. CONCLUSÃO

Este trabalho buscou apresentar a composição da renda e das despesas dos agentes e o comportamento do mercado de trabalho na economia da região Nordeste para os anos correspondentes às duas POFs realizadas na primeira década de 2000. Foi possível através dessa análise mostrar que a heterogeneidade existente entre as regiões do país também se reflete no mercado de trabalho, bem como na composição da renda e despesa dos agentes. Através dos dados, foi possível verificar a variação do volume de trabalhadores e unidades empresariais no Nordeste, conhecer a remuneração média do trabalho por setores de atividade econômica e por unidade federativa da região, assim como as principais fontes de rendimentos e os itens de consumo de maior peso na renda familiar.

3,4 3,1 2,6 3,8 3,1 4,2 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

(24)

Os resultados apontam para a importância da renda do trabalho e da atuação governamental na criação de emprego para a região, como alternativa de aquecimento da economia regional e da garantia de renda a diversas famílias. Além disso, aponta para necessidade de implementação de políticas que visem não apenas ampliar o nível de emprego, mas também de valorização do salário mínimo de modo a influenciar a média salarial da região que se encontra em níveis bastante inferiores em detrimento às demais regiões do país.

Enfim, os dados empíricos retratam que a desigualdade de renda existente no país ainda é bastante acentuada, porém com uma atuação mais efetiva do Estado com políticas que estimulem o emprego através da ampliação dos gastos e incentivos a demanda agregada tende a melhorar o cenário econômico, uma vez que o nível de renda, de produto e emprego é determinado pela demanda agregada.

REFERÊNCIAS

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KEYNES, J. M. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo, Editora Nova Cultural, 1985.

(25)

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SERRANO, F.L.P. The Sraffian Supermultiplier. PhD Dissertation Submitted to the Faculty of Economics and Politics at the University of Cambridge, England, 1996.

Enviado em: 10/05/2016 Aceito para publicação em: 17/07/2016

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